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Parasitologia INTRODUÇÃO e CONCEITOS Parasitologia é muitas vezes definida como o estudo dos parasitos, seres vivos que vivem em dependência metabólica com os seus hospedeiros, causando-lhes algum tipo de dano. Causar dano a seus hospedeiros não é, entretanto, uma consequência inevitável da infecção por organismos classicamente definidos como parasitos. Seria mais lógico, portanto, definir a Parasitologia como o estudo de um tipo particular de associação entre seres vivos, conhecido como parasitismo, em que alguns organismos podem estar engajados de modo ocasional ou permanente. Parasitismo O termo, que significa literalmente alimentar-se ao lado de, refere-se à associação em que um dos parceiros, o parasito, em geral de pequeno porte, obtém benefício em detrimento do outro, de maior porte, conhecido como hospedeiro. Vida livre os seres vivos capazes de sobreviver sem uma associação estreita e duradoura com outros seres vivos de espécies diferentes. Essa associação envolve certo grau de dependência para a obtenção, por exemplo, de abrigo e alimento. Simbiose, que significa literalmente viver junto, engloba um conjunto de associações duradouras entre seres vivos, que podem ser benéficas para ambos ou para somente um dos organismos envolvidos. Mutualismo a associação benéfica para ambos os parceiros. Comensalismo aquela em que somente um dos parceiros obtém benefício, sem que o outro seja propriamente prejudicado. Parasito tradicionalmente, distinguem-se endoparasitas e ectoparasitas. Os primeiros habitam células e tecidos (parasitos teciduais) ou o lúmen de vísceras ocas (parasitos cavitários) dos hospedeiros, enquanto os ectoparasitas se nutrem de elementos da superfície do hospedeiro, como pulgas, piolhos e carrapatos, geralmente sem penetrar profundamente seu organismo. Hospedeiro considera-se que o hospedeiro definitivo é aquele em que transcorre a maior parte do ciclo de vida do parasito, e que geralmente alberga as formas adultas do parasito, capazes de reprodução sexual. O hospedeiro intermediário seria aquele em que se passa uma fase curta, porém essencial, do ciclo do parasito, que às vezes inclui uma ou mais etapas de reprodução assexuada. Em geral, é o hospedeiro que alberga as formas larvárias do parasito. O vetor é geralmente um hospedeiro intermediário de pequeno porte e de alta mobilidade, responsável pela circulação do parasito entre os hospedeiros vertebrados. Pode ser um vetor biológico, caso haja desenvolvimento do parasito em seu interior, ou meramente um vetor mecânico, pelo qual o parasito passa sem sofrer modificações significativas. Os vetores mecânicos constituem um exemplo particular de hospedeiro paratênico ou de transporte e podem auxiliar na disseminação de parasitos, mas não são necessários para seu pleno desenvolvimento. Infecção termo utilizado para a doença devido a presença de parasitos internos. Infestação termo utilizado para a doença ocasionada por parasitos externos. Agente etiológico é o agente causador ou responsável pela doença Forma infectante é a forma evolutiva do parasito que se instala no hospedeiro Parasitemia – reflete a carga parasitária no hospedeiro. Patogenia é o mecanismoo com que um agente provoca lesões no organismo hospedeir Patogenicidade é capacidade de determinar o aparecimento da doença. Profilaxia é o conjunto de medidas que visam a prevenção, erradicação ou controle de doenças ou fatos prejudiciais aos seres vivos NUMERO DE HOSPEDEIROS e tipo de ciclo Monóxeno: Parasitos monóxenos são aqueles cujo ciclo vital se processa em apenas um hospedeiro, como as amebas. Heteróxeno: os parasitos heteróxenos desenvolvem-se sucessivamente em dois ou mais hospedeiros de espécies diferentes, como os parasitos da malária e da esquistossomose. Autoxeno: parasito que no mesmo hospedeiro desenvolve sua fase larval e adulta em locais diferentes. TIPOS DE PERMANENCIA NO HOSPEDEIRO Periódico ou temporário Permanente ESPECIFICIDADE PARASITARIA Estenoxeno parasito estenoxeno, que infecta exclusivamente seres humanos. Eurixeno Os parasitos eurixenos são capazes de infectar uma ampla gama de hospedeiros distintos. O exemplo mais marcante é Toxoplasma gondii, que tem somente os felídeos como hospedeiros definitivos, mas se desenvolve em mais de 300 espécies distintas de hospedeiros intermediários vertebrados, incluindo mamíferos e aves. Oligoxeno GRAU DE EXISTENCIA PARASITARIA Obrigatório Parasito que não é capaz de sobreviver sem um hospedeiro Periódico Parasito que é capaz de existir independentemente de um hospedeiro PERIODOS CLINICOS Período de incubação compreendido desde a penetração no hospedeiro até o aparecimento dos sintomas. Período pré-patente compreendido desde a penetração no hospedeiro até a sua maturidade. Período patente da fase adulta até o fim da vida do parasito TIPOS DE PARASITISMO Acidental Hospedeiro, diferente do normal, que alberga um parasito Errático – Quando o parasita se encontra fora do seu habitat natura Obrigatório Tipo básico de parasitismo – parasito não sobrevive fora do hospedeir Proteliano – Parasitismo exclusivo de formas larvares TIPOS DE HOSPEDEIROS Definitivo Hospedeiro no qual ocorre a fase de desenvolvimento adulta ou sexuada do parasito Intermediário Hospedeiro no qual ocorre a fase de desenvolvimento larvária ou assexuada do parasito Paratênico ou de transporte Hospedeiro responsável por transportar um parasito de um local para outro Reservatório Hospedeiro albergando parasitos que infectam seres humanos e dos quais os seres humanos podem-se infectar HELMINTOS Cestoda Teniose e cisticercose, Taenia solium, Taenia saginata Taenia solium, Taenia saginata, Características gerais • As espécies T. solium e T. saginata são os principais agentes etiológicos das teníases, doenças causadas pelo estágio adulto (tênia) de parasitos cestoides do gênero Taenia. • Os ciclos vitais de ambas as espécies têm o ser humano como hospedeiro definitivo, ao abrigar os vermes adultos. • Os hospedeiros intermediários habituais de T. solium e T. saginata, que abrigam as suas formas larvárias, são, respectivamente, os suínos e os bovinos. • O ser humano também pode ser um hospedeiro intermediário acidental de T. solium, mas não de T. saginata, condição conhecida como cisticercose. • Taenia solium e T. saginata são espécies de distribuição cosmopolita. Ocorrem em quase todos os continentes, onde houver criação e consumo de suínos e bovinos. Morfologia • Os vermes adultos de T. solium e T. saginata são similares, mas diferem em alguns aspectos morfológicos. • O adulto de T. solium contém 800 a 1.000 proglotes e mede de 1,5 a 4 m, podendo chegar até 8 a 9 m. • O adulto de T. saginata é ainda maior, carregando de 1.000 a 2.000 proglotes e atingindo um comprimento total de 4 a 12 m, mas podendo chegar a 25 m. • O escólex de T. solium contém quatro ventosas e um rostelo típico, circundado por uma fileira de acúleos. Por ter esses acúleos, ele é chamado de escólex armado. • O escólex de T. saginata, por sua vez, também conta com quatro ventosas, mas não apresenta um rostro nem os acúleos. Por esse motivo, é chamado de escólex desarmado. • As proglotes grávidas em T. solium, o útero grávido tem de 7 a 12 ramificações principais de cada lado da haste uterina, que se ramificam distalmente em um padrão dendrítico. • Já em T. saginata, há de 15 a 30 ramificações uterinas de cada lado da haste uterina, que se ramificam distalmente de modo dicotômico Ciclo Transmissão • Os ovos, eliminados nas fezes de indivíduos infectados, encontram-se no solo e na vegetação. • Uma vez ingeridos pelos hospedeiros intermediários, os ovos eclodem no tubo digestório e as oncosferas liberadas penetram na parede intestinal e chegam a pequenos vasos sanguíneos ou linfáticos do intestino delgado.• Pela circulação sanguínea ou linfática, as oncosferas chegam à musculatura esquelética ou ao sistema nervoso central, que são os sítios mais comuns para o desenvolvimento das formas larvárias, os cisticercos. • Em 8 a 15 semanas, os cisticercos de T. solium (também conhecidos como Cysticercus cellulosae ou C. solium) e de T. saginata (também denominados C. bovis) tornam-se infectantes. • Os cisticercos têm aproximadamente 5 mm de diâmetro e permanecem viáveis por aproximadamente 2 anos (20 a 30 meses), quando degeneram e dão origem a pequenos nódulos calcificados. • Os cisticercos infectantes, cheios de fluido, contêm no seu interior um único escólex. Se ingerido pelo hospedeiro definitivo humano, o escólex dará origem a um verme adulto. • O suco gástrico e os sais biliares estimulam a evaginação do escólex existente no interior do cisticerco, que se fixa na mucosa do jejuno. O verme adulto desenvolve-se em 5 a 12 semanas (T. solium) ou 10 a 12 semanas (T. saginata). Forma infectante os cisticercos – teníase ( taenia solium e Taenia saginata) forma lavaria – cisticercose (apenas para Taenia solium) Manifestação clinica A maioria dos indivíduos infectados é assintomática ou apresenta queixas pouco significativas e inespecíficas, como dor abdominal (mais intensa nas primeiras horas do dia), náuseas, fraqueza, perda ou aumento de apetite etc. As crianças continuamente expostas à infecção tendem a ter menos sintomas quando infectadas, o que sugere a aquisição de certa imunidade clínica. Sinais indefinidos, como diarreia, dor abdominal, alteração de apetite e leve perda de peso, podem ser relatados por pacientes infectados por Taenia. Além disso, eles também podem apresentar tontura, vômitos e náusea. Diagnostico Fezes é a amostra de eleição para a detecção de ovos e proglótides grávidos de Taenia. O escólice pode ser visualizado, raramente, após o paciente ser tratado com medicação antiparasitária. Além disso, amostras coletadas ao redor da área perianal usando uma preparação com fita adesiva podem recuperar de ovos de Taenia.1 É importante reforçar que os ovos de Taenia são idênticos. Para determinar a espécie no laboratório, a proglótide grávida ou o escólice deve ser recuperado e examinado. Tratamento Os aspectos mais importantes e, em alguns casos, difíceis, no tratamento das infecções por Taenia, consistem na erradicação total do escólice. Felizmente, o praziquantel provou ser eficaz contra o verme adulto; entretanto, não é utilizado quando há suspeita de cisticercose concomitante. A paromomicina e o hidrocloreto de quinacrina também podem ser utilizados como tratamentos alternativos. Nematodeos Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis, Ancylostoma duodenale, Strongyloides stercoralis A estrutura básica de um nematódeo adulto pode ser descrita como um tubo que contém outro tubo em seu interior. O tubo externo corresponde à membrana externa do verme, recoberta por um tegumento ou cutícula elástica, acelular, com estrutura relativamente complexa. Completam a parede uma hipoderme delgada e a musculatura somática, composta por uma única camada de células musculares lisas que são inervadas por extensões de troncos nervosos originados de células ganglionares localizadas em torno da porção média do esôfago. O tubo interno corresponde ao trato digestório, que nos nematódeos compreende uma cavidade bucal, seguida do esôfago e de um longo intestino, estrutura tubular revestida por uma única camada de epitélio colunar com microvilos proeminentes, que termina em uma cloaca. Entre os tubos há um pseudoceloma, cavidade geral que não é revestida por uma camada mesotelial. No pseudoceloma, preenchido por líquido, encontram-se o trato reprodutivo e outras estruturas. Os nematódeos intestinais de interesse médico, com exceção das formas parasitárias de Strongyloides stercoralis, são dioicos – ou seja, apresentam sexos separados. Em geral, os machos são menores que as fêmeas. Durante a copulação, o esperma penetra no ovo e uma membrana de fertilização é secretada pelo zigoto. Essa membrana espessa-se gradualmente para formar a casca quitinosa do ovo eliminado por fêmeas fertilizadas. Uma segunda membrana, abaixo da casca, assegura a impermeabilidade do ovo a praticamente todas as substâncias, exceto o dióxido de carbono e o oxigênio. Os ovos podem eclodir no próprio trato digestório do hospedeiro ou no meio externo, liberando larvas de primeiro estágio (L1). Os ovos são as formas infectantes de Ascaris, Trichuris e Enterobius. As larvas L1 são conhecidas como larvas rabditoides, em função do aspecto de seu esôfago, que apresenta uma constrição no ponto de junção com o bulbo terminal. As larvas L3, na maioria dos nematódeos parasitas, correspondem ao estágio de transição entre a fase de vida livre e a fase parasitária de seu ciclo biológico. Entre os principais nematódeos do trato digestório humano, as larvas L3 são as formas infectantes dos ancilostomídeos e de Strongyloides stercoralis, capazes de penetrar ativamente na pele do hospedeiro. Ascaris lumbricoides Características gerais: • É o maior nematódeo do trato digestório humano. • Habitam o lúmen do intestino delgado humano, onde se alimentam e copulam. Morfologia • Os vermes adultos são cilíndricos, afilando-se gradualmente nas extremidades anterior e posterior • As fêmeas adultas podem ter 40 cm de comprimento (porém, geralmente têm 20 a 35 cm) e 3 a 6 mm de diâmetro; os machos maduros medem 15 a 31 cm de comprimento e 2 a 4 mm de diâmetro Tipos de larvas (ovo, larva e forma adulta) • Os ovos férteis recém-eliminados são ovoides e medem 45 a 75 μm por 35 a 50 μm. o São geralmente recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, o uma camada intermediária também espessa. o uma membrana vitelina interna, muito pouco permeável. o Esse revestimento complexo torna os ovos extremamente resistentes no meio externo. Os ovos recém-eliminados ainda não são infectantes Morfologia de exemplares adultos de Ascaris lumbricoides. A fêmea (A) apresenta extremidade posterior retilínea, enquanto o macho (B), um pouco menor, apresenta extremidade posterior curva, com uma espícula. Ciclo Transmissão Quando encontram condições favoráveis de temperatura (em torno de 25°C, variando de 22 a 30°C), umidade e oxigenação no solo, os ovos férteis tornam-se infectantes em cerca de 3 semanas, após duas mudas das larvas contidas em seu interior. Acredita-se que a segunda muda, ainda que iniciada no interior do ovo, possa completar-se no hospedeiro. Forma infectante • Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L3 de 200 a 300 μm (média, 260 μm) de comprimento e 14 μm de diâmetro. • As larvas penetram ativamente na parede intestinal, atingindo vênulas ou vasos linfáticos, para realizarem seu ciclo pulmonar. • Por meio da circulação portal, acometem o fígado, o coração direito e os pulmões, aonde chegam entre 1 e 7 dias após a infecção. • Essas larvas rompem os capilares pulmonares e caem no lúmen alveolar. Nesse estágio, medem 1.200 a 1.600 μm de comprimento e 36 a 39 μm de diâmetro. • Através dos bronquíolos e brônquios, ascendem até a traqueia e a glote. • Ao serem deglutidas, chegam ao esôfago, ao estômago e ao intestino delgado. Nesse trajeto, alcançam 1.700 μm de comprimento e 60 μm de diâmetro. • A terceira muda ocorre na mucosa intestinal, originando larvas L4 com 2 mm ou mais de comprimento. • Liberadas no lúmen intestinal, essas larvas alcançam o comprimento de 1 cm até o momento da muda final, 3 a 4 semanas após a infecção. • No lúmen intestinal, transformam-se em adultos com sexos separados. Os primeiros ovos são detectados nas fezes cerca de 8 a 9 semanas após a infecção. Manifestação clinica As infecções maciças, especialmente em crianças, podem causar distensão e dor abdominais,levando eventualmente ao bloqueio mecânico do intestino delgado (especialmente do íleo) por uma grande quantidade de vermes. Nesses casos, podem ocorrer vólvulo (torção) ou intussuscepção intestinal e obstrução parcial ou completa do intestino delgado, levando à isquemia e à necrose da parede intestinal. Embora a fase de migração pulmonar das larvas seja assintomática na maioria dos pacientes, alguns (especialmente crianças) apresentam uma pneumonite clinicamente caracterizada pela tosse não produtiva, febre e dispneia, eventualmente com reação de hipersensibilidade levando à obstrução brônquica e sibilância. Uma resposta inflamatória intensa, com infiltrado eosinofílico, produz alterações radiológicas evidentes Diagnostico A amostra de eleição para a detecção de ovos de A. lumbricoides é a de fezes. Vermes adultos podem ser encontrados em diversos tipos de amostras, como intestino delgado, vesícula biliar, fígado e apêndice cecal, dependendo da gravidade da infecção. Além disso, os vermes adultos podem estar presentes nas fezes, vômitos ou removidos da narina, em casos de hiperinfecção. Um ensaio enzimático imunossorvente ligado à enzima (ELISA) também está disponível. Tratamento O tratamento indicado consiste na eliminação dos vermes por meio de terapia medicamentosa, sendo albendazol e mebendazol os fármacos mais indicados para isso. Ancylostoma duodenale Características gerais • Os principais ancilostomídeos que infectam o tubo digestório humano são Ancylostoma duodenale e Necator americanus, que se desenvolvem no trato digestório humano, produzindo a ancilostomíase. • atualmente coexistem em áreas tropicais e subtropicais, mas A. duodenale pode sobreviver em áreas de clima seco e frio. • A. duodenale é geralmente maior que N. americanus Morfologia • duodenale é geralmente maior que N. americanos. • A bolsa copuladora de A. duodenale é mais alargada. Tipos de larvas (ovo, larva e forma adulta) • Os ovos fertilizados estão geralmente em seus estágios iniciais de clivagem; têm casca fina e hialina e formato ovoide. • Os ovos maturam em 1 a 10 dias, quando encontram condições favoráveis no solo (temperatura entre 23°C e 33°C, umidade elevada e oxigenação), produzindo larvas rabditoides (L1) em seu interior. • 12 a 24 horas, a eclosão dos ovos libera larvas L1 de cerca de 275 μm de comprimento e 17 μm de diâmetro. No solo, as larvas alimentam-se de bactérias e material orgânico em decomposição. Sofrem mais duas mudas para transformar-se em larvas filarioides (L3) infectantes, cerca de 1 semana depois. • As larvas filarioides, com cerca de 600 μm de comprimento, permanecem no solo por até 6 semanas, em ambientes com umidade elevada e temperatura entre 25°C e 30°C, sem incidência direta de luz solar. Forma infectante • A infecção humana se dá pela penetração de larvas filarioides (L3) na pele, geralmente dos pés e das mãos, que entram em contato direto com o solo contaminado com fezes humanas. • O processo de penetração na pele leva cerca de 30 minutos e pode produzir prurido intenso. • As larvas atingem as vênulas ou capilares ou ainda vasos linfáticos, iniciando um percurso pelo pulmão (ciclo pulmonar) semelhante ao de Ascaris • A migração larvária leva cerca de 1 semana, período em que ocorre a terceira muda. • As larvas de quarto estágio (L4) chegam ao intestino delgado e fixam sua cápsula bucal na mucosa, iniciando a hematofagia, que caracteriza esse grupo de nematódeos. • A quarta muda ocorre no fim da segunda semana de infecção, no intestino delgado, originando os vermes adultos. Detectam-se ovos de ancilostomídeos nas fezes 4 a 8 semanas após a infecção. • Acredita-se que A. duodenale também possa ser transmitido, ainda que mais raramente, por via oral, mediante a ingestão de larvas em água ou alimentos contaminados, incluindo o leite materno ou o colostro, ou pela passagem transplacentária de larvas infectantes, resultando em infecções congênitas, ainda que as evidências a favor dessas vias alternativas de transmissão permaneçam escassas. Os vermes adultos ficam aderidos à mucosa do intestino delgado, com auxílio dos dentes ou lâminas presentes na cápsula bucal. Alimentam-se de sangue Ciclo Transmissão • Andar descalço em locais contaminados com larva L3 ou por ventura comer alimentos infectados com as larvas. Manifestação clinica • As manifestações clínicas da ancilostomíase devem-se essencialmente à anemia ferropriva • As crianças intensamente infectadas podem também apresentar retardo de crescimento, decorrente de diarreia crônica com redução da absorção de nutrientes, bem como certo prejuízo do desenvolvimento cognitivo (Stephenson et al., 2000). Adultos têm grande perda de sua capacidade de trabalho. Diagnostico O principal mecanismo para o diagnóstico laboratorial de ancilostomídeos é a detecção de ovos em amostras de fezes. Se uma amostra de fezes for deixada em temperatura ambiente, sem a adição de um conservante, as larvas podem maturar e eclodir dos ovos. Nestes casos, a diferenciação das larvas de S. stercoralis é fundamental para assegurar um diagnóstico correto e subsequente tratamento (ver a seguir). A determinação da espécie de ancilostomídeo (i. e., se é A. duodenale ou N. americanus) só será possível se vermes adultos forem encontrados na amostra fecal; nestes casos, a diferenciação é feita pela morfologia da cápsula bucal. Tratamento As drogas de eleição para o tratamento da ancilostomíase são o mebendazol e o pamoato de pirantel. Quando indicada, a reposição de ferro e/ou outra terapia nutricional (incluindo proteínas e vitaminas) pode ser administrada. Necator americanus O termo ancilostomídeo se refere a dois vermes, Necator americanus e Ancylostoma duodenale. Existem duas diferenças principais entre estes dois organismos. • Primeiro, a distribuição geográfica varia levemente para cada organismo. • Segundo, e mais importante para propósitos de identificação, os vermes adultos de cada um possuem pequenas diferenças morfológicas. Os estádios de ovo e larvas, entretanto, são basicamente indistinguíveis. Strongyloides stercoralis Características gerais • É o único nematódeo intestinal cujos ovos eclodem no próprio trato digestório humano, tornando possível ao parasito multiplicar-se no interior do hospedeiro pela autoinfecção. • Infecta seres humanos, primatas não humanos e cães, principalmente em regiões tropicais e subtropicais, mas também há alguns focos em regiões temperadas. • No trato digestório humano encontram-se apenas exemplares adultos de S. stercoralis do sexo feminino, com 2 mm de comprimento. Esses vermes penetram no epitélio do intestino delgado, principalmente no duodeno e jejuno, e alojam-se na lâmina própria, camada de tecido conjuntivo frouxo subjacente ao epitélio. • A partenogênese é um modo de reprodução mitótico, sem segregação de alelos. Consequentemente, a progênie de uma reprodução partenogenética é geneticamente idêntica à mãe. Morfologia Ovos; larvas rabditoides ; larvas filaroides respectivamente Ciclo • As condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento de larvas L1 até L3 no solo são semelhantes àquelas descritas para os ancilostomídeos: temperatura entre 25°C e 30°C, umidade elevada e ausência de luz solar direta. • Estas se desenvolvem em larvas filaroides infectantes que penetram na pele e fazem o ciclo pulmonar, chegando ao intestino. • No trato digestório humano encontram-se apenas exemplares adultos de S. stercoralis do sexo feminino, com 2 mm de comprimento. Esses vermes penetram no epitélio do intestino delgado, principalmente no duodeno e jejuno, e alojam-se na lâmina própria, camada de tecido conjuntivo frouxo subjacente ao epitélio. • Por se tratar de femea paternogenica, essas produzem ovos sozinhas, que eclodem ainda na mucosa intestinalliberando larvas rabditoides que podem ser eliminadas nas fezes. • Novas infecções são contraídas por penetração, na pele, dessas larvas filarioides infectantes, de modo análogo ao descrito para os ancilostomídeos. • Alternativamente, as larvas rabditoides podem transformar-se em larvas filarioides infectantes ainda no trato digestório humano e penetrar na mucosa do intestino grosso ou na pele na região perianal, sem cair no meio externo. • Esse é o modo pelo qual ocorre a autoinfecção interna, que resulta na multiplicação do número de vermes no hospedeiro e na perpetuação da infecção por vários anos ou décadas sem necessidade de reexposição ao parasito. • O chamado ciclo indireto ou heterogônico requer algumas etapas adicionais durante o desenvolvimento do verme no meio externo. • As larvas rabditoides eliminadas nas fezes sofrem as quatro mudas no solo e, em cerca de 24 horas, originam adultos de vida livre, com dimorfismo sexual e morfologia bastante distinta daquela da fêmea partenogenética presente no hospedeiro. • Os vermes machos, que medem 0,7 mm de comprimento, são X0, em consequência da perda de um de seus cromossomos sexuais durante os estágios iniciais de desenvolvimento. • Quando fertilizada por um verme macho, a fêmea de vida livre (XX), também conhecida como estercoral, produz milhares de ovos. • Os ovos eclodem no solo e liberam novas larvas rabditoides, todas XX, com um cromossomo X de origem paterna e um de origem materna. Estas desenvolvem-se até larvas filarioides infectantes, que penetram na pele do hospedeiro. • Independentemente do tipo de ciclo que as origina, as larvas filarioides que atravessam a pele ou a mucosa do cólon caem em vasos linfáticos e sanguíneos e realizam uma migração pulmonar análoga à descrita para Ascaris e ancilostomídeos. • Durante a migração, algumas larvas podem, pela circulação pulmonar, alcançar a circulação arterial e disseminar-se para vários órgãos, fenômeno que não é raro nos casos de hiperinfecção em pacientes com comprometimento imunitário. • As fêmeas partenogenéticas, alojadas na submucosa das vilosidades intestinais, eliminam ovos 25 a 30 dias após o início da infecção. Transmissão Contato direto com solo infectado Forma infectante • Larva filaroide Manifestação clinica • Na infecção aguda, a penetração das larvas na pele pode produzir uma resposta inflamatória local no sítio de entrada, com duração de algumas semanas. • Suas manifestações dermatológicas são uma lesão linear, eritematosa e pruriginosa, conhecida como larva currens. • A migração pulmonar das larvas pode produzir síndrome de Loeffler, com tosse, broncospasmo e irritação traqueal. • Alguns pacientes com infecção crônica relatam dor epigástrica acompanhada de náuseas e vômitos ocasionais, que podem ocorrer alternadamente com diarreia ou constipação intestinal. • As infecções de maior intensidade produzem eventualmente disenteria crônica, com má absorção e perda de peso. • A hiperinfecção acomete o trato respiratório e gastrintestinal e manifesta-se geralmente com febre alta, pneumonia e, muitas vezes, bacteriemias por bactérias gram-negativas. • sintomas inespecíficos, como fraqueza, fadiga e dores disseminadas pelo corpo, são comuns. • O quadro digestivo compreende dor abdominal (em geral, cólicas), diarreia ou constipação intestinal, náuseas, vômito, anorexia e perda de peso, com eventual hemorragia gastrintestinal. Pode haver peritonite. • Os principais sinais e sintomas respiratórios são sibilância, tosse, hemoptise e dispneia. Como consequência de sua disseminação pela circulação sistêmica, podem encontrar- se larvas em amostras de escarro e outros fluidos corporais. • No sistema nervoso central, as larvas produzem meningite com características liquóricas de meningite asséptica. Diagnostico O diagnóstico laboratorial de estrongiloides pode ser feito de diversas maneiras. A larva é o estádio de diagnóstico que é recuperado em amostras de fezes frescas e aspirados duodenais.8 É importante salientar que uma cuidadosa avaliação das fezes é necessária para distinguir entre as larvas rabditoides de ancilostomídeo e as de S. stercoralis. O diagnóstico laboratorial de estrongiloidíase é difícil, pois, frequentemente, a carga parasitária é baixa e a eliminação de larvas é irregular. É recomendada a coleta múltipla de amostras de fezes. Os procedimentos mais indicados são os métodos específicos de recuperação de larvas; no Brasil, os mais utilizados para este fim são o método de Baermann e o método de Rugai. A sedimentação espontânea pode apresentar bom resultado, quando o tempo de sedimentação é prolongado. As técnicas de concentração por flutuação não apresentam bons resultados. Tratamento O tratamento contra as infecções por estrongiloides é a ivermectina, com o albendazol como alternativa. Enterobius vermicularis Características gerais • Enterobius vermicularis é um verme cosmopolita, particularmente comum em países de clima frio, cuja transmissão ocorre frequentemente no interior de unidades familiares e de instituições como creches, asilos etc. • O hábitat de exemplares adultos de E. vermicularis é o ceco, bem como os segmentos adjacentes do intestino delgado e grosso, incluindo o apêndice ileocecal. • Os seres humanos são seus únicos hospedeiros conhecidos. • Quando grávida, migra para a região perianal ou perineal dos hospedeiros • A fêmea morre após a oviposição. • A cópula entre os vermes adultos ocorre no ceco. Morfologia • A fêmea adulta mede 8 a 13 mm de comprimento e 0,3 a 0,5 mm de diâmetro • Os machos são bem menores que as fêmeas (2 a 5 mm de comprimento e 0,1 a 0,2 mm de diâmetro), e raramente são vistos Tipos de larvas • Medem cerca de 50 a 60 μm por 20 a 30 μm; um lado de sua casca é achatado assimetricamente • A casca é relativamente espessa e incolor • Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L1 no duodeno, de 150 a 154 μm de comprimento. • A larva rabditoide sofre duas mudas, provavelmente nas criptas da mucosa, antes de chegar ao jejuno e ao íleo superior Ciclo Todo o ciclo ocorre no lúmen intestinal, sem migração visceral. • Os seres humanos são os únicos hospedeiros conhecidos de E. vermicularis. • A infecção por oxiúros, a qual é normalmente autolimitante, se inicia após a ingestão de ovos larvados infectantes. • Os ovos passam pelo trato digestivo e chegam ao intestino delgado, onde eclodem e liberam a larva jovem. A larva resultante continua a crescer e sofrer maturação, finalmente se transformando em verme adulto. • Os vermes adultos habitam o cólon. Após o acasalamento entre vermes machos e fêmeas (cópula), a fêmea fecundada (grávida) migra para a região perianal e na pele circundante podem depositar até 15.000 ovos. • Após 4 a 6 horas de exposição ao ambiente, as larvas dentro dos ovos atingem o estádio infectante. Estes ovos podem ser parcialmente removidos pela pessoa infectada durante o ato de coçar intensamente a região perianal. • Os ovos infectantes podem sobreviver de alguns dias até diversas semanas em condições ambientais adequadas. As condições ideais para a sobrevivência dos ovos infectantes consistem em uma temperatura moderada, acompanhada de alta umidade. A ingestão desses ovos infectantes inicia um novo ciclo. Transmissão • os ovos podem-se alojar em diversos locais, incluindo poeira, caixas de areia, lençóis e roupas. Além disso, os ovos podem ser carreados pelo ar. • Indivíduos infectados podem-se reinfectar quando levam à boca as mãos sujas com os ovos que estavam presentes na região perianal; este mecanismo é conhecido como autorreinfecção Forma infectante • ovos larvados infectantes. • Os ovos recém-eliminados tornam-se infectantes em 6 horas. Manifestação clinica • A maior parte das infecções é assintomática e autolimitada;os sintomas mais comuns são pruridos e irritação da região perianal, perineal e eventualmente do vestíbulo vaginal, decorrentes da migração das fêmeas grávidas. • Os sintomas são mais intensos à noite, momento em que geralmente ocorre a migração. • O prurido induz o ato de coçar, que aumenta o risco de autoinfecção externa pela contaminação dos dedos, especialmente do leito subungueal. Excepcionalmente, é possível encontrar vermes adultos na cavidade uterina, nas trompas, na cavidade peritoneal e na bexiga urinária. Diagnostico A amostra de escolha para a detecção de E. vermicularis é a coletada com fita adesiva na região perianal da pessoa suspeita de estar infectada. Apesar de os ovos serem a principal forma morfológica observada, as fêmeas adultas também podem estar presentes, caso a amostra seja coletada quando as fêmeas estão na região perianal para realizar oviposição. Tratamento O tratamento de eleição para a eliminação de E. vermicularis consiste no uso de albendazol, mebendazol ou pamoato de pirantel. É importante ressaltar que o tratamento é preconizado para todos os membros da família do indivíduo infectado, pois os ovos de oxiúros se disseminam facilmente no ambiente domiciliar. Trematódeos Schistosoma mansoni • São helmintos muitos abundantes, geralmente visíveis a olho nu, que parasitam todos os grupos de vertebrados. • Os trematódeos da infraclasse Digenea são endoparasitas obrigatórios, com ciclos de vida complexos, que envolvem pelo menos dois hospedeiros distintos • Encontram-se na infraclasse Digenea cerca de 18.000 espécies de helmintos parasitas distribuídos em mais de 140 famílias. • Os trematódeos digenéticos desenvolvem-se em dois ou mais hospedeiros distintos. A reprodução sexuada ocorre no hospedeiro vertebrado; a maioria dos digenéticos, com exceção dos membros da família Schistosomatidae, é hermafrodita. • Schistosoma mansoni, bem como os demais membros desse gênero, difere dos digenéticos típicos por seu formato, mais longo do que largo, e pela presença de dimorfismo sexual. Schistosoma mansoni Características gerais • O principal hospedeiro vertebrado no ciclo de vida de S. mansoni é o homem. Morfologia • Os organismos apresentam corpo não segmentado, caracterizado por um par de ventosas, uma oral e outra ventral (esta última também conhecida como acetábulo), que desempenham o papel de fixação do verme adulto. • Os esquistossomos são, portanto, vermes dioicos; o macho adulto é maior do que a fêmea. Seu corpo dobra-se, formando o chamado canal ginecóforo, onde a fêmea, de corpo cilíndrico, se aloja durante a cópula. • Os miracídios medem 160 a 180 μm por 60 μm. Tipos de larvas • A cada dia, cerca de 300 ovos medindo 110 a 180 μm por 45 a 70 μm são eliminados pela fêmea no interior das vênulas. • Esses ovos exibem caracteristicamente uma espícula lateral grande. • A casca do ovo, bastante rígida, é também porosa, o que possibilita a liberação de substâncias produzidas pelo embrião em formação em seu interior e a entrada de nutrientes. • Os ovos eliminados são viáveis por 2 a 5 dias em fezes formadas. • No ambiente externo, com boa luminosidade, a eclosão dos ovos depende do contato com água doce. • a baixa concentração de cloreto de sódio é um fator crítico para desencadear o processo de eclosão. • A temperatura da água deve situar-se entre 10°C e 37°C. Ciclo No interior dos ovos forma-se uma larva ciliada, conhecida como miracídio, que pode estar completamente desenvolvida no momento em que os ovos são eliminados ou completar seu desenvolvimento no meio externo. Após a eclosão, o miracídio infecta um caramujo ou caracol aquático como primeiro hospedeiro intermediário. No molusco, o parasito sofre reprodução mitótica por poliembrionia, passando por estágios chamados de esporocisto e, em algumas espécies, pelo estágio de rédia, até originar numerosas formas infectantes móveis, conhecidas como cercárias. As cercárias podem infectar diretamente o hospedeiro vertebrado ou, em algumas espécies, infectar um segundo hospedeiro intermediário. Podem ainda encistar-se na superfície de plantas aquáticas. As cercárias encistadas no segundo hospedeiro intermediário ou em plantas aquáticas chamam-se metacercárias. As cercarias penetram na pele, caem nos canais linfaticos ou sanguineos e são levados ao pulmão e coração esão lançados na corrente sanguinea e param no figado onde vão procriar e a femea se desloca para o intestino para depositar os ovos esão expulsos nas fezes Transmissão Forma infectante • Cercária Manifestação clinica • Dermatite cercariana • Esquistossomose aguda sintomática (febre de Katayama) • Esquistossomose crônica o Forma intestinal o Forma hepatointestinal o Forma hepatoesplênica Complicações • Hipertensão pulmonar e cor pulmonale • Lesão renal (glomerulopatia) • Neuroesquistossomose • Forma pseudoneoplásica • Infecções associadas Diagnostico O diagnóstico laboratorial de S. mansoni e S. japonicum é feito por meio da detecção de ovos em amostras de fezes ou biopsia retal. A amostra de eleição para a detecção de ovos de S. haematobium é a de urina concentrada. Além disso, técnicas imunodiagnósticas, incluindo ELISA, também estão disponíveis. Tratamento O praziquantel é o fármaco de eleição no tratamento das infecções esquistossômicas. Oxamniquina apenas é utilizada nos casos de S. mansoni. Os antimaláricos artemisininas, artemeter e artesunato provaram ser eficazes nas infecções esquistossômicas, mas em áreas endêmicas para malária as preocupações com a resistência pelo Plasmodium podem limitar sua utilidade. Cirurgia pode ser necessária em pacientes nos quais ocorreu obstrução. Larvas migrans visceral e ocular • O termo larva migrans visceral descreve a persistência, por longos períodos de tempo, de larvas de helmintos em hospedeiros acidentais e sua migração por diferentes órgãos. Morfologia • O macho adulto de T. canis mede entre 4 e 6 cm de comprimento; a fêmea, geralmente maior, chega a 6 a 10 cm. • Toxocara canis e T. cati podem ser diferenciados pelas asas cefálicas na extremidade anterior do verme adulto, estreitas em T. canis e largas em T. cati. • As larvas L3 (larvas filarioides) têm diâmetro entre 0,015 e 0,021 mm, com comprimento aproximado de 0,4 mm. • Os ovos têm 85 μm de diâmetro Forma infectante • Na toxocaríase humana, uma zoonose de ampla distribuição mundial, a infecção decorre da ingestão de ovos embrionados contendo larvas de terceiro estágio (L3) de Toxocara canis ou Toxocara cati, parasitos de cães e gatos, respectivamente. Ciclo vital • Quando o ser humano ingere ovos embrionados de T. canis, as larvas L3 presentes em seu interior são liberadas, penetram pela mucosa intestinal e caem na corrente sanguínea. • São transportadas para diferentes órgãos, como fígado, rins, pulmões, coração, medula óssea, músculos estriados, olhos e cérebro. • O homem e outros hospedeiros são hospedeiros paratênicos ou de transporte, que albergam larvas encistadas durante meses ou anos. Nesses hospedeiros, T. canis não se desenvolve até alcançar a forma adulta e, portanto, não produz ovos. Transmissão • A toxocaríase humana é primariamente uma zoonose transmitida pelo solo. • A ingestão de ovos infectantes, presentes no solo e em fômites, é a principal forma de aquisição da infecção. • Outros modos de transmissão menos frequentes são a ingestão de vísceras cruas ou malcozidas de hospedeiros paratênicos e a ingestão de ovos presentes no pelo de cães. Manifestação clinica • A toxocaríase visceral clássica acomete principalmente crianças entre 2 e 7 anos de idade. • As manifestações clínicas mais comuns compreendem febre, hepatomegalia, dor abdominal, perda de apetite e manifestações pulmonares, como tosse crônica e sibilos.• Manifestações neurológicas (meningite eosinofílica, encefalite, mielite, vasculite cerebral e neurite óptica) e cutâneas (prurido, urticária, eczema e vasculites), bem como miocardites e abscessos hepáticos piogênicos, são ocasionalmente observados. • O fígado é o órgão mais frequentemente acometido. Os granulomas hepáticos típicos apresentam células gigantes multinucleadas e células epitelioides em torno de material necrótico amorfo, com eosinófilos e células mononucleares nas camadas externas da lesão. • A toxocaríase oculta, essa forma clínica da toxocaríase, descrita em crianças, compreende manifestações clínicas relativamente inespecíficas, como febre, cefaleia, distúrbios comportamentais e do sono, tosse, anorexia, hepatomegalia, dor abdominal recorrente, náuseas e vômito, fraqueza generalizada e dor em membros inferiores. Pode ou não haver eosinofilia. • Em adultos soropositivos, descreve-se uma forma clínica semelhante, a toxocaríase comum, que compreende dispneia crônica, fraqueza, eritema cutâneo, prurido e dor abdominal, frequentemente acompanhados de eosinofilia • A toxocaríase ocular acomete principalmente crianças, com idade média de 7 anos, e na maioria das vezes é unilateral. • Os sinais e sintomas mais comuns são estrabismo, diminuição da visão unilateral e leucocoria. Granulomas retinianos periféricos, no polo anterior, e endoftalmite são as apresentações mais comuns ao exame ocular. Diagnostico • O achado de larvas em biopsias ou necropsias torna possível o diagnóstico de certeza, mas é raramente factível; as técnicas imuno-istoquímicas de detecção de antígenos do parasito em granuloma podem auxiliar no diagnóstico • No diagnóstico da toxocaríase ocular, utiliza-se a tomografia de coerência óptica, a angiografia com fluoresceína e a ultrassonografia ou tomografia computadorizada ocular. Tratamento • O tratamento da toxocaríase é geralmente recomendado quando a infecção produz manifestações clínicas e eosinofilia acentuada. O tratamento sintomático visa atenuar o processo inflamatório decorrente da presença da larva e seus metabólitos, com o uso de corticosteroides, anti-histamínicos e broncodilatadores. • As substâncias mais utilizadas são dietilcarbamazina, tiabendazol, alguns compostos benzimidazólicos, como albendazol, fenbendazol, oxifenbendazol e mebendazol, e ivermectina Larvas migrans cutânea • Ancylostoma braziliense, parasito de cães e gatos, e A. caninum, parasitos de cães, eventualmente causam uma doença humana conhecida como larva migrans cutânea. • pode desenvolver-se até tornar-se um verme adulto em seres humanos, passando a habitar o intestino delgado. • As larvas filarioides das demais espécies, entretanto, são capazes de penetrar na pele, mas não completam seu ciclo no organismo humano. • A penetração na pele, com a subsequente migração pelo tecido subcutâneo, de larvas filarioides de A. braziliense e A. caninum, bem como de alguns outros nematódeos não humanos, pode produzir as lesões cutâneas conhecidas com os nomes populares de bicho geográfico e bicho da areia. • As infecções humanas são frequentemente contraídas em praias e outros ambientes contaminados com fezes de cães e gatos infectados. • As larvas avançam 2 a 5 cm por dia, pelo tecido subcutâneo, deixando atrás de si um cordão eritematoso saliente, de contorno linear ou sinuoso, e altamente pruriginoso. Esse padrão, frequentemente descrito como uma dermatite serpiginosa, é tipicamente observado 10 a 15 dias depois da infecção, embora haja descrições de casos com período de incubação de alguns meses. • Pode haver a formação de vesículas que lembram herpes-zóster, raramente com foliculite e miosite. • O aspecto das lesões é típico, facilitando o diagnóstico. As larvas, que geralmente se encontram entre 1 e 2 cm à frente do cordão eritematoso, morrem e degeneram-se em algumas semanas ou meses, mantendo-se quase sempre restritas ao subcutâneo, incapazes de alcançar vasos sanguíneos e linfáticos e realizar a migração pulmonar. • Entretanto, há raros casos documentados de enterite eosinofílica causada por exemplares adultos de A. caninum. Vermes adultos de A. caninum podem ser facilmente diferenciados daqueles das demais espécies de ancilostomídeos encontrados no ser humano com base nas características da cápsula bucal, que contém três pares de dentes pontiagudos. A cápsula bucal de A. braziliense tem somente um par de dentes ventrais pontiagudos. Parasitologia contemporânea / Marcelo Urbano Ferreira. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021. Parasitologia clínica : uma abordagem clínico-laboratorial / Elizabeth A. Zeibig; tradução Adriana Pittella Sudré. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.
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