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Sintaxe e discurso Apresentação Seja bem-vindo! O discurso é uma crença, prática ou conhecimento que constrói a realidade e fornece uma maneira comum de compreender o mundo pelos indivíduos. Pragmaticamente, é a linguagem em uso e seus efeitos em diferentes contextos sociais. Os atos de falar ou escrever são formas de ação da linguagem, orientadas para algum fim dentro de um contexto, que interagem de maneira linguística, cognitiva e sociocultural. Assim, essas ações da linguagem são o que se admite como as formas de comunicação e de representação do mundo, sejam reais ou imaginárias. Portanto, analisar os atos de fala corresponde a fazer uma análise do discurso. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre os conceitos de atos de fala e de discurso para relacioná-los à sintaxe do espanhol e a seu uso coloquial. Além disso, você poderá ver que a língua perpassa o texto escrito e é fundamental para um estudioso da linguagem. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir fala e discurso.• Relacionar a análise do discurso com a sintaxe. • Analisar a sintaxe coloquial no discurso.• Infográfico Searle (1990) recomeçou e aperfeiçoou a classificação dos atos de fala de Austin (1962), estabelecendo uma classificação de cinco categorias gerais baseadas nos atos ilocutórios de fala. O que caracteriza essas categorias são os verbos performativos, os quais você deve reconhecer. Veja o seguinte Infográfico, com o qual será mais fácil entender as classificações dos atos ilocutórios de fala. Conteúdo do livro Sabe-se que a linguagem tem um significado poderoso nas relações sociais e representa, em grande parte, os fundamentos do comportamento social e da interação humana. Por essa razão, as perspectivas do conhecimento pós-moderno, da teoria crítica e do construtivismo social abordaram a linguagem a partir de sua perspectiva pragmática e seu papel na constituição do mundo social. O discurso constrói a realidade e fornece uma maneira comum de compreender o mundo pelos indivíduos, e pragmaticamente é a linguagem em uso e seus efeitos em diferentes contextos sociais. Os atos de falar ou escrever são formas de ação da linguagem orientadas para algum fim dentro de um contexto. Assim, essas ações da linguagem são admitidas como formas de comunicação e de representação do mundo. No capítulo Sintaxe e discurso, da obra Sintaxe da língua espanhola, você verá inicialmente uma abordagem dos conceitos de atos de fala e de discurso. Numa segunda etapa, você entenderá a relação desses atos com a abordagem sintática. SINTAXE DA LÍNGUA ESPANHOLA Roberta Spessato Revisão técnica: Marina Leivas Waquil Doutora e Mestra em Letras – Teorias Linguísticas do Léxico Bacharel em Letras – Português/Espanhol Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147 S749s Spessatto, Roberta. Sintaxe da língua espanhola / Roberta Spessatto, Aline Bizello; [revisão técnica: Marina Leivas Waquil] . – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 249 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-495-3 1. Língua espanhola – Sintaxe. I. Bizello, Aline. II.Título. CDU 811.134.3’367 Sintaxe_lingua_espanhola_Book.indb 2 20/07/2018 11:28:59 Sintaxe e discurso Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir fala e discurso. Relacionar a análise do discurso com a sintaxe. Analisar a sintaxe coloquial no discurso. Introdução O discurso é uma crença, prática ou conhecimento que constrói a rea- lidade e fornece uma maneira comum de compreender o mundo. Do ponto de vista pragmático, é a linguagem em uso e seus efeitos em diferentes contextos sociais. Os atos de falar ou escrever são formas de ação da linguagem orientadas para algum fim dentro de um contexto, e que interagem de maneira linguística, cognitiva e sociocultural. Assim, essas ações da linguagem são o que admitimos como as formas de comunicação e de representação do mundo, sejam reais ou imaginárias. Portanto, analisar os atos de fala corresponde a fazer uma análise do discurso. Da mesma forma, compreender que a língua perpassa o texto escrito é fundamental para um estudioso da linguagem. Neste capítulo, você aprenderá sobre os conceitos de atos de fala e de discurso. Em seguida, estudará sobre como relacioná-los à sintaxe do espanhol e ao seu uso coloquial. Atos de fala e discurso: uma breve análise Sabe-se que a linguagem tem um signifi cado poderoso nas relações sociais e representa, em grande parte, os fundamentos do comportamento social e da in- teração humana. Por essa razão, as perspectivas do conhecimento pós-moderno, U N I D A D E 2 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 1 10/07/2018 14:47:06 da teoria crítica e do construtivismo social abordaram a linguagem a partir do ponto de vista pragmático e do seu papel na constituição do mundo social. Discurso Os atos de falar ou escrever são formas de ação da linguagem orientadas para algum fi m dentro de um contexto, e que interagem de maneira linguís- tica, cognitiva e sociocultural. Assim, essas ações da linguagem são o que admitimos como as formas de comunicação e de representação do mundo, sejam reais ou imaginárias. Segundo Calsamaglia e Tuson (2008), falar de discurso é, acima de tudo, falar de uma prática social, uma forma de ação entre as pessoas, que é articulada a partir do uso linguístico contextualizado, oral ou escrito. Trata-se de uma representação do mundo real ou imaginário. Em outras palavras, o mundo é compreendido linguisticamente por meio de processos de intersubjetividade localizados em contextos sociais específi cos. Desse modo, segundo Calsamaglia e Tuson (2008), o mundo pode ser entendido de maneira contextual e situacional dos sujeitos como geradores de realidades — e a linguagem revela as suas mensagens. Agora, se a linguagem e a forma de comunicação e representação do mundo são canalizadas em pedaços textuais, então as suas declarações não são apenas uma combinação de palavras. O discurso é uma interação entre o falante e o ouvinte, ou o originador de uma mensagem e os seus destinatários. Além disso, todo texto deve ser entendido como um evento comunicativo — que ocorre em um tempo e espaço com interação que integra aspectos verbais e não verbais — em uma dada situação sociocultural. Portanto, para que um evento comunicativo seja transmitido e compreendido, é necessário um contexto; nessa contextualização de cenário, estão emanando os conceitos de discurso e de análise do discurso. Em linhas gerais, de acordo com Jaworski e Coupland (2006), um discurso refere-se ao uso da linguagem relacionado à formação cultural, social e política dos indivíduos, determinado por suas interações na sociedade. Desse modo, discursos emanam de interações sociais compartilhadas entre grupos sociais e estruturas complexas da sociedade nas quais eles são capturados, e vão além da própria linguagem para incluir as ações e os comportamentos das pessoas. Mais especificamente, de acordo com Parker (1990), o discurso faz diferença na concepção de linguagem, uma vez que os seus efeitos só podem ser compreendidos no contexto em que são formados. Portanto, o discurso não se refere a textos em si, mas implica padrões e comunidades de conhecimento e de estruturas, nas quais um texto é uma realização única de um discurso. Sintaxe e discurso2 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 2 10/07/2018 14:47:06 O discurso é uma crença, prática ou um conhecimento que constrói a realidade e fornece uma maneira comum de compreender o mundo. Pragmati- camente, é a linguagem em uso e seus efeitos em diferentes contextos sociais. Vários autores que buscam a sua compreensão: Iñiguez (2003) refere-se ao discurso como um conjunto de práticas linguísticas que mantêm e promovem certas relações sociais; Mills (2007) analisa os significados do discurso em várias definições existentes (linguística, teoria culturale psicologia social), sintetizando o discurso como um idioma do sistema para a comunicação e afirmando que certas declarações causam algum efeito no mundo real; Wodak e Krzizanowski (2008) descreve o discurso como uma ação linguística de comunicação escrita, visual ou oral, assumida pelos atores sociais em um lugar específico, determinado por regras, normas e convenções sociais. Consequentemente, o discurso fornece um quadro de referência para o debate de valores na forma de conversas sobre a realidade de outros. Portanto, não apenas descreve o mundo social, mas também o categoriza, pois captura o fenômeno em sua revelação. Por um lado, as práticas habituais de conversação e escrita são entendidas na forma de textos que estão inter-relacionados; por outro lado, referem-se à prática de sua produção, disseminação e recepção ou consumo, que envolve a inclusão de objetos dentro delas. Atos de fala A teoria dos atos de fala é uma teoria pragmática que se originou a partir da hipótese de que a unidade mínima de linguagem não tem apenas como função ser uma afi rmação ou uma expressão, mas também realizar determinados atos ou ações, como enunciar, fazer perguntas, dar ordens, descrever, explicar, desculpar, agradecer, parabenizar. O primeiro pesquisador a apresentar essa hipótese e propor uma teoria dos atos de fala, de acordo com Geis (1995), foi Austin (1962). Com seu livro How to do things with words, tornou-se o pai da teoria dos atos de fala, pois foi o primeiro a estabelecer que, ao se dizer uma coisa, também se fazia outra (além do simples ato de dizer), como perguntar ou prometer. Isso signifi ca que, por trás de cada transmissão, há uma intenção. Em outras palavras, quando um falante pronuncia uma sentença, ela não apenas descreve ou informa algo, mas representa uma ação por conta própria. Em sua teoria, Austin (1962) identifi cou que três atos diferentes são realizados no momento da emissão de uma sentença. 1. Ato locutório: é a ideia ou o conceito da frase — o que é dito. Corres- ponde ao conteúdo da declaração, ou seja, ao significado do que foi dito ou ainda à informação que a declaração entrega. Por exemplo, ao dizer 3Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 3 10/07/2018 14:47:06 “dame tu bolígrafo”, o ato de sucesso corresponde aos significados das palavras que compõem a frase. Em resumo, é o simples ato de dizer alguma coisa. 2. Ato ilocutório: é a intenção ou o propósito concreto do ato de falar. Refere-se à intenção do emissor e à ação realizada por meio do extrato, por exemplo, pedir desculpas, aconselhar, repreender. É a parte da ação realizada pelo orador por meio de sua declaração. No exemplo “dame tu bolígrafo”, o que o remetente faz é um pedido: dar a caneta. Em resumo, é a intenção do que foi dito. 3. Ato perlocutório: é o efeito que a declaração produz no receptor em determinada circunstância. É o efeito que o ato ilocutório produz no mundo, a consequência que tem sobre quem o recebe. Esse ato perlocu- tório pode ser mais ou menos ativo: por exemplo, se um padre abençoa uma pessoa, o ato perlocutório deve ser abençoado, o que não implica nenhuma ação por parte do receptor. Por outro lado, se o ato ilocutório é uma petição, o ato perlocutório será o cumprimento desse pedido. Mais tarde, Searle (1990) retomou e aperfeiçoou a teoria dos atos de fala de Austin, fazendo uma extensão da análise. Nela, ele propõe atos de fala, atos linguísticos ou atos de linguagem para estudar alguns problemas da filosofia da linguagem. Com isso, estabelece que é importante estudá-los, pois falar uma língua consiste em realizar atos de fala, como fazer declarações, dar ordens, fazer perguntas. Segundo Searle (1990), os atos de fala são divididos em três: 1. ato de emissão — a emissão de palavras, morfemas ou sentenças; 2. ato proposicional — o ato de referir e pregar; 3. ato ilocutório — o ato de perguntar, enviar, prometer, entre outros. Vale ressaltar que, para Searle (1990), esses atos não são realizados sepa- radamente: ao realizar atos ilocutórios, os atos proposicionais e de emissão também são realizados. O autor também se refere à forma gramatical desses atos. A esse respeito, aponta que a forma gramatical característica do ato ilo- cutório é a sentença completa (pode ser uma frase que consiste em uma única palavra), e as formas gramaticais características dos atos proposicionais são partes de sentenças — predicados gramaticais para o ato de pregar, e nomes próprios, pronomes e certas frases para referência. Sintaxe e discurso4 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 4 10/07/2018 14:47:06 Atos ilocutórios Primeiramente, devemos estabelecer que os atos ilocutórios, como Searle (1990) aponta, não são feitos por palavras, mas por falantes, ao emitir palavras. O falante é aquele que determina a força ilocutória, isto é, a força comunicativa da afi rmação. Os dispositivos de força ilocutória são importantes, pois, para o autor, mostram como a proposição deve ser tomada ou, em outras palavras, qual a força ilocutória que a emissão deve ter — que ato ilocutório o orador está fazendo ao emitir a sentença. Segundo Searle (1990), alguns dispositivos da força ilocutória, em espanhol, são o contexto, a ordem das palavras, a ênfase, a curva de entonação, a pontuação, o modo verbal e os chamados verbos realizadores (aqueles que explicitam o ato de falar que é realizado). Searle (1990) divide atos ilocutórios em diretos e indiretos. Os atos ilocutórios diretos são aqueles em que o falante emite uma oração, e a oração significa explícita e literalmente o que ela expressa em si mesma. Nesses casos, o falante pretende produzir um efeito ilocutório, que consiste simplesmente no receptor compreender a expressão do falante. Esse efeito é alcançado quando o receptor, a partir de seu conhecimento das regras que governam a emissão da sentença, reconhece a intenção do falante. Os atos ilocutórios indiretos são aqueles em que o orador emite uma sentença que significa o que é dito, mas também significa outra coisa. Se- gundo Searle (1990), a maioria das sentenças é emitida como atos ilocutórios indiretos, que consistem em atos primários e secundários. Os primários são o significado não literal da expressão vocal, enquanto os secundários são a emissão da sentença em seu sentido literal. Um falante realiza atos ilocutórios indiretos confiando no contexto ou no conhecimento que ele compartilha com o seu receptor (seja linguístico ou extralinguístico), bem como na capacidade de inferência do seu receptor. Categorias de atos ilocutórios Searle recomeçou e aperfeiçoou a classifi cação de Austin (1962). Para ele, a classifi cação austiniana não era uma classifi cação de atos ilocutórios, mas de verbos ilocutórios. Assim, sete anos após a publicação do pai dos atos de fala, Searle (1979) estabeleceu uma classifi cação de cinco categorias gerais baseadas nos atos ilocutórios de fala. Veja a seguir a classifi cação proposta pela Searle (1979). 5Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 5 10/07/2018 14:47:06 1. Atos afirmativos: a intenção do falante é expressar ao receptor como as coisas são. Mostram a crença do locutor em relação à verdade de uma proposição, como afirmar, dizer, etc., isto é, expressam o estado psicológico do falante na realização do ato de fala, acreditando que a proposição é verdadeira. Hoy hace sol. 2. Atos diretivos: a intenção do falante é fazer com que o receptor faça alguma coisa. O endereço de correspondência é do mundo para as pa- lavras; a condição de sinceridade é o desejo. Tentam levar o alocutário a fazer algo, como ordenar, pedir, mandar. Haz las tareas de español. 3. Atos comissivos: a intenção do orador é comprometer-se a realizar um ato futuro. O endereço de correspondência é do mundo para as palavras, e a condição de sinceridade é a intenção. Comprometem o locutor com uma ação futura, como prometer, garantir. Prometo que estudiaré más. 4.Atos expressivos: a intenção do falante é expressar os seus sentimentos e atitudes. Não há endereço de correspondência, uma vez que, ao realizar um ato desse tipo, o falante tentará fazer o endereço de correspondência do mundo para as palavras, ou vice-versa. Expressam sentimentos como desculpar, agradecer, dar boas-vindas. Te felicito por tu éxito como actor. 5. Atos declarativos: a intenção do falante é provocar uma mudança no mundo por meio de suas declarações. Esses atos criam um novo estado de coisas no mundo por meio da palavra, por exemplo, quando os sacerdotes abençoam ou casam duas pessoas, e quando os juízes sentenciam. Requer certo nível de autoridade por parte daquele que as emite, por exemplo, o de um professor, ao expulsar um aluno da classe. Estás suspendido de esta clase. Sintaxe e discurso6 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 6 10/07/2018 14:47:06 A partir do panorama geral da teoria dos atos de fala que foi estabelecido aqui, pode-se concluir que falar uma língua consiste em realizar atos de fala. Consequentemente, por trás de cada transmissão, há sempre uma intenção que se reflete na força ilocutória. Portanto, o significado de uma frase ou um discurso não é completo se apenas o significado proposicional é interpretado e a força ilocutória que o acompanha é ignorada. Da mesma forma, os atos de fala, quando são emitidos, não são feitos por palavras, mas por falantes. Logo, é necessário que o receptor considere a ordem das palavras, as pausas, a ênfase, a entonação, o modo verbal e os verbos executados, entre outros elementos, para transmitir a força ilocutória da mensagem. A omissão de qualquer um desses elementos pode fazer com que a inten- cionalidade da fala não ocorra. Por exemplo, ao se tratar de um trabalho de tradução simultânea, é importante que o intérprete conheça a teoria dos atos de fala e os conceitos nela contemplados. Assim, ao interpretar, poderá iden- tificar mais facilmente o ato do orador, já que é possível levar a interpretação para além das palavras. A reflexão e a teorização sobre atos de fala permitem melhorar a qualidade da interpretação: conhecer os tipos de atos de fala que são mencionados na classificação possibilita identificar as suas características, que se referem à intenção, à condição de sinceridade do falante e à fala. Dessa forma, o intérprete pode facilmente concentrar-se nesses elementos e, assim, evitar alterar a intencionalidade do discurso. Em determinado texto, de acordo com Fairclough (1989), o vocabulário pode ser ideologicamente significativo em relação aos itens lexicais em si ou à colocação das palavras — pode até ser que algumas palavras sejam marcadas ideologicamente. Para o autor, as palavras possuem um valor experimental correspondente à relação com o conhecimento e/ou com as crenças que carregam o seu conteúdo. A escolha de palavras em um texto depende das relações sociais entre os participan- tes, ajudando a criar esses relacionamentos. Isso significa que as palavras tendem a ter valores relacionais simultâneos a outros valores. Dois tipos discursivos semelhantes, mas com palavras diferentes, não conterão necessariamente o mesmo valor ideológico, porque um orador expressa as suas avaliações individuais de acordo com o vocabulário e a entonação decididos para as suas crenças. 7Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 7 10/07/2018 14:47:06 A interface da análise do discurso com a sintaxe O discurso é a expressão formal de um ato comunicativo, que é apresentado sob diversas manifestações (oral e escrita, por exemplo). Do ponto de vista formal, o discurso geralmente consiste em uma série de sentenças; do ponto de vista da signifi cação, tem uma natureza dinâmica. Portanto, não é possível descrevê-lo em termos de regras (como no caso da oração), mas de regulari- dades. Em essência, o discurso não é um produto, mas sim um processo, cujo aspecto mais proeminente é o seu propósito comunicativo. Já a sintaxe lida com a estrutura interna das sentenças, isto é, a combinação das palavras que as compõem. A oração é a sua unidade máxima; portanto, é necessária uma definição geral dessa noção fundamental. Com efeito, existem centenas de definições, com base em critérios variados, nos quais a semântica predomina. Lembre-se de algumas das definições propostas pelos gramáticos: “La oración es la unidad más pequeña de sentido completo en sí misma en que se divide el habla real.” (REAL ACADE MIA ESPAÑOLA, 1973, p. 351-352) “Expresión verbal de un juicio.” (GILI Y GAYA, 1964, p. 22) “Una oración expresa la unidad en la intención del hablante.” (ALONSO Y UREÑA, 1938, p. 10) Tais definições receberam diversas críticas, visando à vinculação da gra- mática tradicional a noções intuitivas e não estritamente gramaticais. Embora seja correto destacar o fator intuitivamente mais relevante, é bastante complexo estabelecer o seu conceito. Como definir o que é o “sentido completo”? Por exemplo, para a expressão “¡Hola!”, falta significado completo para além do contexto apropriado? De acordo com os gramáticos Alonso e Ureña (1938), o que se entende por tal exigência é que as intenções dos falantes se manifestam a partir dos atos de fala que eles realizam. Assim concebido, o significado completo está relacionado aos atos de fala, que podem ser realizados por meio de sentenças. A partir dessa perspectiva, a oração seria uma unidade comunicativa, ou seja, um ponto de vista compartilhado pela terceira definição. O problema é que os limites de um ato de fala nem sempre coincidem com os da oração. A segunda definição apela, por sua vez, a um critério lógico. Enquanto orações declarativas costumam expressar um julgamento, esse Sintaxe e discurso8 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 8 10/07/2018 14:47:07 critério não se aplica em frases interrogativas, imperativas e exclamativas. Como outras noções, Bloomfield (1964) propôs uma definição de oração em termos distributivos, em que a oração é um termo linguístico independente; sendo que as sentenças são caracterizadas pela sua autonomia gramatical. O que todas as definições examinadas têm em comum é que consideram a oração como uma unidade de comunicação, isto é, como a unidade na qual um texto pode ser dividido. Como tal, é definida em termos extragramaticais: semântico, pragmático e fonológico. Nesse sentido, a oração é uma unidade que corresponde à análise do discurso, e não à própria gramática. Assim consideradas, as orações podem ser perfeitamente compreensíveis e eficazes como partes de um texto (uma conversa, uma música ou uma letra), mas não permitem antecipadamente uma definição em termos dos componentes necessários de oração em seu sentido gramatical. Assim, cabe afirmar que a oração constitui o limite entre o gramatical e o discursivo. Entendemos o termo discurso em seu sentido mais amplo (oral ou escrito), como uma sequência coerente de sentenças. Nessa perspectiva, mesmo sendo unidades da mesma natureza, a oração e o discurso se diferenciam nas suas respectivas dimensões. Inclusive, tentou-se aplicar procedimentos distribucionais ao domínio do discurso. Analise os exemplos abaixo: Martín ha salido temprano de la tienda. Sin embargo, todavía no ha regresado a su casa. Marta se pasó el día preparando las pruebas. La pobre todavía no las ha terminado. É possível perceber que as segundas orações dos exemplos citados acima não poderiam iniciar o discurso, pois elas são dependentes do contexto prece- dente. Em “Martín ha salido temprano de la tienda. Sin embargo, todavía no ha regresado a su casa”, a presença da conjunção sin embargo não representa apenas a oposição, manifestada pelo seu sentido, mas também carrega a omis- são do sujeito e faz com que exista uma dependência dessa oração à anterior. Em “Marta se pasó el día preparando las pruebas. La pobre todavía no las ha terminado”, há duas expressões que se referem aos respectivos registros presentes na frase anterior:La pobre, ou seja, Marta; no las ha terminado, ou seja, o pronome de objeto direto las se refere a las pruebas. Ao discutirmos a relação entre sintaxe e discurso, devemos pensar na ora- ção como uma unidade gramatical idealizada, muito distante dos enunciados 9Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 9 10/07/2018 14:47:07 efetivos dos falantes. Se pensarmos apenas numa palavra (falada ou escrita), esta geralmente vai desencadear uma interpretação na pessoa que a escuta ou lê, em um processo muitas vezes inconsciente e automático. Nesse sentido, há muito tempo pensava-se que a linguagem era transparente, no sentido de que não havia opacidade entre o signo e o seu conteúdo, e que, portanto, era possível decifrar o que significava. Da mesma forma, o valor representativo das línguas estava enraizado em sua capacidade de analisar, duplicar, compor e ordenar as coisas representadas. De fato, de acordo com Foucault (1969), também se acreditava que as ca- tegorias de linguagem coincidiam com as categorias de pensamento — razão pela qual todas as línguas expressam diferentemente o desenho perfeito de uma linguagem comum e universal. No entanto, quando a palavra não responde à ordem de quem a escuta ou lê, a sua transparência se perde. A linguagem se torna opaca, e se manifesta uma diferença que afeta a interpretação não só do que é dito, mas também do que pode ser falado. As diferenças no discurso entre interlocutores e processos interpretativos que são acionados nos levam a considerar, em primeiro lugar, que a estrutura linguística não é tão perfeita ou padronizada. Além disso, a relação entre pensamento e linguagem nem sempre é harmoniosa, pois, segundo Vygotsky (1995), o pensamento e a palavra nem sempre seguem o mesmo padrão. Em essência, nem sempre se pode pensar que a língua que falamos é a mesma estrutura organizada do pensamento. De acordo com Milner (1998), é impossível distinguir diferentes níveis de fala que a linguística tem estabelecido para estudar a língua. Esse objeto, por outro lado, tem sido recortado da linguagem em uma operação que se estabeleceu como ciência. Dessa forma, devemos considerar que o significado de uma palavra tem implicações para o estabelecimento da frase e do sentido de toda a construção discursiva. Ao mesmo tempo, o significante, uma vez conformado às afirmações em uso, não pode mais ser estudado na abstração de uma estrutura, mas em outra dimensão. Em outras palavras, ele apenas poderá ser analisado em uma estrutura de superfície da língua, e a relação com o significado será gerada em determinado campo discursivo, no qual o enunciado foi escrito ou proferido. Portanto, sintaxe e análise do discurso não se opõem, mas se complemen- tam. Há aspectos do discurso que dependem da organização das orações, e elementos dessa frase que transcendem as suas fronteiras. No entanto, não devemos esquecer que a oração (no sentido gramatical) e o discurso são dife- rentes objetos de análise. Somente no contexto da frase podem ser formuladas regras que estabelecem a gramaticalidade. A presença de mecanismos formais Sintaxe e discurso10 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 10 10/07/2018 14:47:07 coesos não garante a coerência de um discurso. Por outro lado, para que uma sentença seja gramatical, é suficiente que as regras da gramática sejam cum- pridas. Assim, por exemplo, a concordância entre sujeito e verbo em número e pessoa é uma condição necessária para que uma sentença seja gramatical; se a regra for violada, a sequência inevitavelmente será malformada. A análise crítica do discurso (ACD), de acordo com Van Dijk (2016), é um tipo de pesquisa que enfoca a análise discursiva e estuda, principalmente, a maneira como o abuso de poder e a desigualdade social são representados, reproduzidos, legitimados e resistidos no texto. Essa análise apresenta contextos sociais e políticos. Com essa pesquisa, os analistas críticos do discurso tomam uma posição explícita e, assim, procuram com- preender, expor e desafiar o abuso de poder e a desigualdade social. Essa é também a razão pela qual essa análise pode ser caracterizada como um movimento social de analistas discursivos politicamente engajados. Como prática analítica, os estudos sobre essa análise — conhecidos como estudos críticos do discurso — seguem uma perspectiva crítica, que pode ser encontrada em todas as áreas dos estudos do discurso, incluindo a gramática discursiva, a análise conversacional, a pragmática do discurso, a retórica, a estilística, a análise narrativa, a análise de argumentação, a análise da semiótica social, a sociolinguística e a etnografia da comunicação ou a psicologia do processamento do discurso, entre outros. Em outras palavras, esses estudos representam o estudo do discurso com uma atitude. A pesquisa crítica do discurso tem, entre outras, as seguintes propriedades gerais. Concentra-se, principalmente, nos problemas sociais e nas questões políticas, em vez de apenas estudar as estruturas discursivas fora de seus contextos sociais e políticos. É geralmente uma análise crítica multidisciplinar dos problemas sociais. Em vez de meramente descrever estruturas discursivas, tenta explicá-las em termos de suas propriedades de interação social e, especialmente, de estrutura social. Mais especificamente, enfoca os modos pelos quais as estruturas discursivas re- presentam, confirmam, legitimam, reproduzem ou desafiam as relações de abuso de poder (dominação) na sociedade. Fairclough e Wodak (1997 apud DIJK, 2016) resumiram as principais características da ACD da seguinte forma. A ACD aborda problemas sociais. Relações de poder são discursivas. O discurso constitui sociedade e cultura. O discurso tem implicações ideológicas. O discurso é histórico. A relação entre texto e sociedade é mediada. A análise discursiva é interpretativa e explicativa. O discurso é uma forma de ação social. 11Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 11 10/07/2018 14:47:07 A sintaxe coloquial e a sua função discursiva A análise do discurso se preocupa em relacionar a linguagem e o contexto em que ela é usada, ou seja, o discurso é um fenômeno linguístico e social. Um dos pontos a ser estudado na análise do discurso é a “ideologia”, que Gee (1990) defi ne como uma teoria tácita do que é visto como normal e das formas corretas de pensar, sentir e agir em uma sociedade. Contudo, por mais que existam muitos estudos acerca dessa disciplina, segundo Charaudeau (2000), a palavra “discurso” ainda mantém um caráter polissêmico e uma ambiguidade referencial, já que não é unânime a sua noção em relação aos limites desse tema — denominado análise do discurso ou linguística discursiva. No entanto, mesmo que haja diversas abordagens sobre o caráter discursivo da linguagem, um ponto é convergente: existem atos de fala que podem ser tanto formais quanto informais, os quais devem ser expostos e analisados nos estudos linguísticos. As línguas naturais Por mais que tentemos descrever o espanhol linguisticamente, não podemos visualizá-lo como parte de uma ciência intacta, que segue um modelo espe- cífi co. Segundo Franchi (1977), a linguagem natural permanece um instru- mento de uma prática primitiva, que se estrutura a partir de experiências e de reformulação constante. Em outras palavras, estudar uma língua natural representa estudar as constantes modifi cações que ela sofre e estar apto a concebê-las não como erros, mas como reestruturações que representam a sociedade na qual ela se insere. Sabendo que a língua é viva e que o seu uso não necessariamente corres- ponde à norma culta, imposta (principalmente) pelas gramáticas escolares, cabe ressaltar que o uso cotidiano da língua espanhola é conhecido como “espanhol coloquial”, o qual varia muito de acordo com a comunidade linguística em questão. Temos, assim, características específicas do espanhol rio-platense (localizado no Uruguaie na Argentina), do espanhol chileno, do colombiano, do mexicano, do madrileno, etc., de acordo com os países e as regiões em que o idioma é falado. O espanhol coloquial O espanhol coloquial é uma variante diafásica da língua, isto é, não depende da educação ou do nível sociocultural do falante, mas deriva das circunstân- Sintaxe e discurso12 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 12 10/07/2018 14:47:07 cias que favorecem a aparência do seu uso. Em resumo, ele é uma variedade fundamentalmente oral, embora o surgimento de mídias como chat ou e-mail tenha favorecido o desenvolvimento de uma comunicação coloquial escrita. Segundo Briz (1998), a linguagem varia no tempo (variedade diacrônica), no espaço (variedade diatópica), de acordo com as características dos usuários (variedade diastrática) e com as diferentes situações comunicativas (variedade diafásica). Essas variedades são, respectivamente, diferentes estados sincrô- nicos ao longo da história da língua, dialetos, socioletos e registros. Estes últimos são, portanto, modos de uso determinados pelo contexto comunicativo. Para Briz (1998), a gramática coloquial do espanhol é uma “gramática de interação”: estudar o discurso representa uma relação de produção e recepção em uma situação comunicativa, a qual reflete planos e metas entre os falantes e os ouvintes. Assim, podemos nos referir à mesma pessoa ou pensar em nós mesmos: nosso comportamento linguístico depende principalmente da situação em que estamos inseridos. A forma como falamos com os nossos amigos em um parque, por exemplo, é muito diferente da maneira como falaremos com os pais de nossos alunos. De acordo com Briz (1998), é o contexto de comunicação que regula os comportamentos linguísticos e extralinguísticos dos falantes, que geralmente se esforçam para acomodar os seus atos cotidianos de comunicação à situação em que ocorrem. Assim, o espanhol coloquial não representa apenas o estudo do espanhol informal, mas também o estudo da língua espanhola em uso. Segundo Briz (1998, p. 36), o espanhol coloquial sistematicamente é a: [...] manifestação de uso da linguagem em que a situação conversacional é um objeto — mesmo que dinâmico e heterogêneo — sistematizado de acordo com o contexto situacional (e social) e se caracteriza de acordo com o tipo de discurso que condiciona o seu emprego. Não podemos negar que existem construções frequentemente utilizadas de forma coloquial e que representam esse espanhol, mas cabe reafirmar que falar um idioma representa ter inúmeras possibilidades de expressões, falas, jargões ou pensamentos inusitados à nossa disposição. O falante opta por uma maneira que melhor se adapta às necessidades expressivas do momento e às características especiais do espanhol coloquial (imediatismo em tempo e espaço, igualdade entre os parceiros, situação pouco institucionalizada, questões cotidianas, etc.). O discurso coloquial representa as possibilidades gramaticais de que se dispõe para expressar em todos os momentos a mani- festação da interação entre o transmissor e o receptor. 13Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 13 10/07/2018 14:47:07 Sabendo que o discurso se insere não só na fala, mas também na escrita, Briz (1998) afirma que o indivíduo na fala pode usar um registro coloquial ou um registro formal, ou se adequar à situação discursiva necessária. Da mesma forma, ao escrever, adapta-se às necessidades em questão: pode ser tanto um e-mail formal quanto um recado em uma rede social. Portanto, quando estudamos o espanhol, devemos nos dedicar ao máximo às suas diferentes abordagens. Nesse sentido, é legítimo ensinar de forma consciente em relação à diversidade no espanhol coloquial, como as variedades que podem ser analisadas nas seguintes conversas: — ¿Cómo ha estado? — Pues ahí la llevo, con mucha chamba, ¿y tú pendejo? — Pues dos que tres de chamba, no me quejo, la neta. (México) — Parce, estás muy jincho. No sea concha y levántese. Necesito que traiga ese televisor que aguanta muy bien en mi habitación. (Colômbia) — ¡Habla pe causa! Bienvenido. ¡Asu madre!, que buena mica. Tú sí que te has vuelto pituco desde que vives en Europa. (Peru) Nos exemplos anteriores, encontramos conversas pertencentes ao espanhol coloquial de diferentes áreas de língua espanhola. Essas estruturas, por mais que se tratem do mesmo idioma, provavelmente criariam confusão e falta de compreensão, caso fossem reproduzidas fora de suas zonas específicas. No entanto, se ensinarmos aos alunos a existência dessa complexidade, impedi- remos que pensem que o espanhol coloquial que aprenderam em sala de aula é único, uma vez que, se mudarem de país, mesmo que seja falante de língua espanhola, terão de se adaptar à nova forma discursiva. O espanhol coloquial e o ensino Quando o professor de espanhol assume o papel de ensinar a língua tanto na escola quanto num curso de idiomas, ele assume o papel de demonstrar que, ainda que exista um espanhol padrão, a língua espanhola é constituída por 21 países hispano-falantes. Portanto, isso indica que o ensino da língua espanhola não deve permanecer apenas dentro da gramática normativa, pois estudar o idioma representa compreender novas culturas. Sintaxe e discurso14 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 14 10/07/2018 14:47:08 Sem dúvida, ensinar espanhol coloquial aos alunos de espanhol como segunda língua (EL2) é importante. A apresentação desse registo da língua deve ser feita tendo em conta que, em espanhol, não existe uma separação nítida entre a variedade formal e a coloquial. Não devemos esquecer a complexidade do espanhol coloquial, cujas particularidades se misturam com características marcadas geográfica, social e culturalmente, e que refletem convenções sociais e culturais específicas em diferentes contextos comunicativos. Em primeiro lugar, a influência da pragmática na metodologia de ensino de segundas línguas levou a estruturar as unidades de aprendizagem em torno das funções comunicativas. Por exemplo, livros de EL2 são organizados a partir de falas cotidianas, como cumprimentar, apresentar-se, pedir informações ou fazer convites, enquanto o conteúdo das gramáticas escolares aparece em segundo plano. Assim, a preparação se dá, antes de tudo, na consciência linguística do aluno em relação ao espanhol como uma língua pluri: plurilinguística, pluricultural e pluridiscursiva. Em segundo lugar, a abordagem escolar, mesmo que se detenha a modelos normativos, é obrigada a acompanhar os modelos avaliativos do Brasil. O Enem, por exemplo, aborda a gramática de forma instrumental: o candidato não apenas decora a gramática em si, mas a utiliza como mecanismo de leitura e de comunicação, abordando principalmente aspectos sociolinguísticos. Como exemplo, veja o texto a seguir, do Enem 2013, o qual abordou a diversidade da língua espanhola. Pensar la lengua del siglo XXI Aceptada la dicotomía entre “español general” académico y “español periférico” americano, la capacidad financiera de la Real Academia, apoyada por la corona y las grandes empresas transnacionales españolas, no promueve la conservación de la unidad, sino la unificación del español, dirigida e impuesta desde España (la Fundación Español Urgente: Fundeu). Unidad y unificación no son lo mismo: la unidad ha existido siempre y con ella la variedad de la lengua, riqueza suprema de nuestras culturas nacionales; la unificación lleva a la pérdida de las diferencias culturales, que nutren al ser humano y son tan importantes como la diversidad biológica de la Tierra. Culturas nacionales: desde que nacieron los primeros criollos, mestizos y mulatos en el continente hispanoamericano, las diferencias de colonización, las improntas que dejaron en las nacientes sociedades americanas los pueblos aborígenes, la explotación de las riquezas naturales, las redes comerciales coloniales fueron creando culturas propias, diferentes entre sí, aunque con el fondo común dela tradición española. 15Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 15 10/07/2018 14:47:08 O modelo teórico subjacente aos métodos de ensino da língua espanhola, segundo Gutiérrez Ordóñez (1996), obriga-se a relacionar a pragmática, juntamente à análise do discurso, à análise de conversação e à linguística cognitiva. Podemos chamar este de modelo de linguística de comunicação, em comparação com os modelos tradicionais e a estrutura gerativista, os quais também abordam a variação linguística, refletindo-se no registro coloquial. A proposta de aprendizagem consciente das formas linguísticas colo- quiais que devem ser explicadas de acordo com o seu valor no sistema não deve ignorar a gramática. Pelo contrário, ela deve se basear nas normas cultas, para que se estabeleça a concepção de que de fato existem variantes que não são incorretas para a comunicação, mas que também existe uma gramática normativa, a qual consegue unificar todas as variantes desse idioma, composto por 21 países diferentes, com características específicas e culturas únicas. Acesse o link a seguir para conhecer a Asociación Lingüística del Discurso na Espanha. https://goo.gl/tKQnih Después de las independencias, cuando se instituyeron nuestras naciones, bajo di- ferentes influencias, ya francesas, ya inglesas; cuando los inmigrantes italianos, sobre todo, dieron su pauta a Argentina, Uruguay o Venezuela, esas culturas nacionales se consolidaron y con ellas su español, pues la lengua es, ante todo, constituyente. Así, el español actual de España no es sino una más de las lenguas nacionales del mundo hispánico. El español actual es el conjunto de veintidós españoles nacionales, que tienen sus propias características; ninguno vale más que otro. La lengua del siglo XXI es, por eso, una lengua pluricéntrica (LARA, 2013). O texto aborda a questão da língua espanhola no século XXI e tem como função apontar que: as especificidades culturais rompem com a unidade hispânica; as variedades do espanhol têm igual relevância linguística e cultural; a unidade linguística do espanhol fortalece a identidade cultural hispânica; a consolidação das diferenças da língua prejudica a sua projeção mundial; a unificação da língua enriquece a competência linguística dos falantes. Sintaxe e discurso16 C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 16 10/07/2018 14:47:08 1. Sobre a teoria dos atos de fala, assinale a alternativa correta. a) Trata-se de uma teoria textual que se originou com a hipótese de que a unidade mínima de linguagem realiza determinados atos ou ações, como enunciar e perguntar. b) Os atos de fala correspondem a falácias, normalmente sem uma intenção específica. c) Quando um falante pronuncia uma sentença, ela simplesmente descreve ou informa algo, pois o papel da intencionalidade é determinado apenas pela análise do discurso. d) Ela vai além do simples ato de dizer, pois, ao se dizer uma coisa, também pode-se estar fazendo outra. e) Trata-se da ideia ou do conceito da frase antes de proferida, isto é, representa o pensamento. 2. Searle recomeçou e aperfeiçoou a classificação de Austin (1962), estabelecendo uma classificação de cinco categorias gerais baseadas nos atos ilocutórios de fala. De acordo com a sua análise, o único exemplo que não corresponde ao ato ilocutório é: a) os atos afirmativos: Llueve mucho. b) os atos diretivos: María, trae mis ropas. c) os atos comissivos: Te lo juro que te visitaré mañana. d) os atos expressivos: ¡Bienvenido! e) os atos declarativos: Tengo hambre. 3. A análise crítica do discurso tem algumas características específicas. A única característica que não compete a essa teoria é que: a) a relação entre texto e sociedade é mediada. b) a análise discursiva é impositiva. c) relações de poder são discursivas. d) o discurso é histórico. e) o discurso possui implicações ideológicas. 4. Existe uma relação entre a sintaxe e a análise do discurso. Sobre essa afirmação, assinale a alternativa correta. a) A sintaxe e a análise do discurso se opõem e, com isso, complementam-se. b) Há aspectos do discurso que dependem da organização das orações e dos elementos da frase que transcendem as suas fronteiras. c) A oração (no sentido gramatical) e o discurso são os mesmos objetos de análise no parâmetro linguístico. d) A presença de mecanismos formais coesos garante a coerência de um discurso. e) A concordância entre sujeito e verbo em número e pessoa é uma condição necessária para que o discurso seja gramatical. 5. Segundo Vygotsky (1995), o pensamento e a palavra nem sempre seguem o mesmo padrão. Em relação ao assunto abordado, essa afirmação relata que: a) as semelhanças no discurso entre interlocutores e processos interpretativos 17Sintaxe e discurso C04_Sintaxe_da_Lingua_Espanhola.indd 17 10/07/2018 14:47:08 ALONSO, A.; UREÑA, P. H. Gramática castellana. Buenos Aires: Losada, 1938. AUSTIN, J. L. How to do things with words. 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Análisis de discurso: manual para las ciencias sociales. Barcelona: DUOC, 2003. JAWORSKI, A; COUPLAND, N. Introduction: perspectives in discourse analysis. In: JA- WORSKI, A; COUPLAND, N. (Ed.). The discourse reader. 2. ed. London: Routledge, 2006. LARA, L. F. Pensar la lengua del siglo XXI. 2013. Disponível em: <http://educacao.globo. com/provas/enem-2013/questoes/95-espanhol.html>. Acesso em: 28 jun. 2013. MILLS, S. Discourse. London: Routledge, 2007. MILNER, J.–C. El amor por la lengua. Madrid: Visor, 1998. PARKER, I. Discourse: definitions and contradictions. Philosophical Psychology, v. 3, 1990. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/09515089008572998? needAccess=true>. Acesso em: 28 jun. 2018. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Esbozo de una nueva gramática de la lengua española. Madrid: Espasa, 1973. SEARLE, J. Actos de habla: ensayo de filosofía del lenguaje. Madrid: Cátedra, 1990. SEARLE, J. Expression and meaning. 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Veja, na Dica do Professor, os principais conceitos que envolvem a comunicação e fatores que podem interferir nesse processo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/4e2e1755254b06b6a4e4dc357b51fd6e Exercícios 1) Sobre a teoria dos atos de fala, é correto afirmar que: A) se trata de uma teoria textual que se originou com a hipótese de que a unidade mínima de linguagem realiza determinados atos ou ações, como enunciar e perguntar. B) os atos de fala correspondem a falácias, normalmente, sem uma intenção específica. C) quando um falante pronuncia uma sentença, ela simplesmente descreve ou informa algo, pois o papel da intencionalidade é determinado apenas pela análise do discurso. D) vai além do simples ato de dizer, pois, ao se dizer uma coisa, também se pode estar fazendo outra. E) é a ideia ou conceito da frase antes de proferida, isto é, representa o pensamento. 2) Searle recomeçou e aperfeiçoou a classificação de Austin (1962), estabelecendo uma classificação de cinco categorias gerais baseadas nos atos ilocutórios de fala. De acordo com a sua análise, o único exemplo correto correspondente ao seu respectivo ato ilocutório é: A) Atos afirmativos: María, trae mis ropas . B) Atos diretivos: Llueve mucho. C) Atos comissivos: Te lo juro que te visitaré mañana. D) Atos expressivos: Te bautizo. E) Atos declarativos: ¡Bienvenido! 3) A Análise Crítica do Discurso tem algumas características específicas. Marque a alternativa com a única característica que compete a essa teoria. A) A relação entre texto e sociedade é mediada. B) A análise discursiva é impositiva. C) Relações de poder não são discursivas. D) O discurso é pérfido. E) O discurso possui implicações ideológicas utópicas. 4) Existe uma relação entre a sintaxe e a análise do discurso. Sobre essa afirmação, é coerente afirmar que: A) a sintaxe e a análise do discurso se opõem e, com isso, se complementam. B) há aspectos do discurso que dependem de organizar orações e elementos da frase que transcendem as fronteiras. C) a oração (no sentido gramatical) e o discurso são os mesmos objetos de análise no parâmetro linguístico. D) a presença de mecanismos formais coesos garante a coerência de um discurso. E) a concordância entre sujeito e verbo em número e pessoa é uma condição necessária para que o discurso seja gramatical. 5) Segundo Vygotsky (1995), o pensamento e a palavra nem sempre seguem o mesmo padrão. Em relação ao assunto abordado, essa afirmação relata que: A) as semelhanças no discurso entre interlocutores e processos interpretativos organizam a língua de forma aleatória e convicta. B) a relação entre pensamento e linguagem é imperfeita, pois se trata de funções da linguagem. C) a língua falada é organizada na mente humana antes de ser proferida. D) a estrutura linguística é caótica, sem regras e baseada apenas na intuição dos seus falantes. E) a estrutura linguística não é tão perfeita, pois a relação entre pensamento e linguagem nem sempre é harmoniosa. Na prática Um discurso não é, necessariamente, falado. Um discurso pode ser também escrito, ou um simples desenho. O importante é que ele seja compreendido. Você precisa explicar aos alunos que um discurso sempre transmite alguma informação, a qual é proporcional ao conhecimento de mundo e àquilo que o indivíduo acredita. Veja a seguir como uma professora preparou sua aula sobre Análise do Discurso. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sintaxis y el discurso Neste artigo, “Sintaxis y el discurso”, você se aprofundará nos problemas sintáticos que ocorrem em relação à variação linguística. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Sintaxis del español coloquial Assista a uma entrevista com o autor do livro “Sintaxis y análisis del discurso hablado en español”: Antonio Narbona. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Análisis del discurso Neste vídeo, você terá uma visão geral sobre a análise do discurso, com sua definição e tipos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Análisis del discurso - Resumo Visite o site indicado e leia um breve resumo sobre análise do discurso. http://www.bibliodigitalcaroycuervo.gov.co/806/1/TH_51_002_050_0.pdf https://www.youtube.com/embed/EdAe1uWkfZs https://www.youtube.com/embed/spnKfjA3I5Y Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/analisisdiscurso.htm
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