Prévia do material em texto
Wilma Pereira Tinoco Vilaça Elisangela Menezes Ética e Responsabilidade social nas Empresas 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Wilma Pereira Tinoco Vilaça Elisangela Menezes ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS Belo Horizonte Junho de 2015 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 COPYRIGHT © 2015 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Conheça a Autora Wilma Pereira Tinoco Vilaça, Doutora em Comunicação, com ênfase em Interfaces Sociais da Comunicação, pela ECA/USP; Mestre em Administração, com ênfase em Inovação e Tecnologia, pela PUC-MG/ Fundação Dom Cabral; especialista em Comunicação e Gestão Empresarial, pelo IEC/PUC-MG; Bacharel em Comunicação Social, habilitação Relações Públicas pela FAFI-BH (atual UNIBH). Atualmente leciona Técnicas e Métodos de Pesquisa, no curso de Administração; Planejamento Estratégico, no curso de Gestão de Recursos Humanos; Gestão da Comunicação, no curso de Publicidade e Propaganda, todos do UNIBH. Atuou como coordenadora do curso de Relações Públicas da UNA, em 2005. Professora convidada no MBA da Ciências Médicas, com a disciplina Metodologia Científica. Sócia-diretora da WV Comunicação Empresarial Ltda. Tem interesse nas áreas de Ética, Comunicação Interna, Comunicação Organizacional, Sustentabilidade, Planejamento e Pesquisa. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Conheça a Autora Elisângela Dias Menezes é jornalista, advogada e perita judicial especializada em propriedade intelectual. Mestre em Direito Privado pela PUC Minas e Doutoranda em Ciências Jurídico- civis pela Universidade de Lisboa. Professora de graduação e pós-graduação dos centros universitários UniBH e UNA. Membro da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB- MG. Autora do livro “Curso de Direito Autoral”, da Editora Del Rey, e coautora de outros três livros sobre direitos autorais. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Ética e responsabilidade social são temas atuais e relevantes na formação de todo profissional, mas principalmente daqueles que almejam cargos de gestão nas empresas. Na condição de disciplina, assume como fundamentais as discussões que tratam o desenvolvimento, nos últimos anos, da responsabilidade social corporativa e seus impactos nas empresas que aderiram a modelos de gestão com vistas à sustentabilidade. Nesse sentido, Ética é tema central e traz como temas transversais as questões dos valores empresariais, da disseminação de boas práticas e também da importância de uma reflexão sobre as relações de trabalho e os conflitos que lhes são inerentes. Apresentação da disciplina 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 UNIDADE 1 003 Introdução à ética 004 Conceitos fundamentais e problemas éticos 006 Hábitos, condutas, atitudes e determinação social da ética 010 O lugar do ser humano e as virtudes 012 A intenção ética e a norma 014 Modos de filiação ética 016 Revisão 019 UNIDADE 2 021 Ética e o panorama social, ambiental econômico 022 Papel, presença e efeito das organizações na sociedade 023 Os seres humanos e os processos produtivos 025 As empresas e as carências sociais e ambientais 027 Revisão 032 UNIDADE 3 034 As relações de trabalho e os principais dilemas contemporâneos 035 Valores sociais e a vida humana 036 Projetos sociais 039 A diversidade humana: discutindo relações étnico-raciais e direitos humanos 040 A diversidade social e cultural brasileira. 044 A noção de raça como noção política e histórica 046 Os direitos humanos como estratégia social de igualdade 048 Revisão 054 UNIDADE 4 056 Ética empresarial 057 Ética empresarial 059 Questões éticas no mundo dos negócios 062 Importância e efeitos da ética nos negócios 070 Revisão 073 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 REFERÊNCIAS 163 UNIDADE 5 076 Códigos de ética 077 A introdução e o sentido do código de ética 079 Valores e objetivos empresariais 086 Experiências empresariais com o código de ética 089 Revisão 096 UNIDADE 6 098 Responsabilidade social empresarial 099 Conceitos e histórico do movimento de responsabilidade social 101 A responsabilidade social e as esferas pública e privada das sociedades 106 O desenvolvimento sustentável e as empresas 110 Ações exemplares de responsabilidade social 114 Revisão 119 UNIDADE 7 121 Balanço social 122 Os grupos de interesse a responsabilidade social 124 Indicadores de responsabilidade social e ambiental 130 A constituição dos indicadores internos e externos 132 Cidadania corporativa 140 Revisão 142 UNIDADE 8 144 Normas e certificações em RSE 145 A certificação SA 8000 146 A perspectiva europeia de controle social 150 As certificações na América Latina 153 A certificação NBR 16001 156 Revisão 160 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Introdução à ética • Conceitos fundamentais e problema éticos • Hábitos, condutas, atitudes e determinaçnao social da ética • O lugar do ser humano e as virtudes • A intenção ética e a norma • Modos de filiação ética • Revisão Introdução Em nosso dia a dia, nos deparamos com situações profissionais e pessoais difíceis,e sempre vêm à mente as mesmas perguntas: o que fazer? Qual a melhor saída? Será que estou sendo justo, correto, ético? O termo “ética” é hoje amplamente utilizado pelos meios de comunicação e na rotina das organizações, especialmente nas empresas. Fala-se muito em “crise de valores”, ao mesmo tempo em que se discutem caminhos e condutas adequados para solucionar problemas sociais, econômicos e políticos. Estudar ética é estudar os hábitos, costumes e valores que regem o nosso comportamento em sociedade. Trata-se de um conhecimento que ajuda-nos na construção da nossa própria identidade, como membros que somos de uma comunidade que possui regras de convívio e de crescimento coletivo. A noção de ética empresarial está cada vez mais incorporada ao chamado “mundo dos negócios”, e as condutas ético-profissionais têm sido vistas como respostas cada vez mais eficazes contra as más práticas empresariais. Para que sejamos bons profissionais, precisamos compreender quais são as condutas e atitudes esperadas de nós pelas organizações sociais, e precisamos também refletir sobre essas práticas para avaliar se as mesmas são condizentes com o que realmente sentimos e pensamos. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Por isso, você está sendo convidado a conhecer um pouco mais sobre esta ciência chamada “ética” e a refletir sobre como ela é aplicada na prática, delimitando o lugar de todos nós seres humanos, a partir de nossos costumes e também de nossos valores e virtudes. Ao longo da unidade, refletiremos sobre o conceito de ética, vamos falar sobre moral e ainda abordaremos as ideias de norma, virtude e costumes. Tudo isso objetivando iniciar seus estudos no campo da ética aplicada ao ambiente empresarial e à responsabilidade social. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 006 A ética não é uma preocupação recente da humanidade. Esforços para refletir sobre dilemas éticos de modo sistemático remontam ao tempo dos gregos antigos e, desde então, não paramos de pensar nisso, ainda que de formas e por motivos muito diferentes, como se pode ver na linha do tempo abaixo. Conceitos fundamentais e problemas éticos FIGURA 1 - Evolução do pensamento ético Séc. V a.C. Séc. XIV d.C. Séc. XIX Séc. XX Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Anima, 2014 Como se vê, os gregos antigos, cinco séculos antes de Cristo, já salientavam em seus textos escritos a preocupação com os dilemas éticos. Como parte de seus estudos de filosofia, este povo, precursor da ética para a humanidade, já acreditava que a sensação de proteção e conforto nas nossas relações com os outros seres humanos vinha não do contato físico, mas sim de um significado atribuído por nós a esta convivência. Isto significa que eles 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 007 reconheciam um fato importante: que a vida em comunidade e o conjunto de padrões culturais (hábitos, comportamentos, costumes, valores, etc.) servem de abrigo, do qual retiramos sinais de proteção e conforto, isto é, as relações com os outros seres humanos formam nossa “morada protetora” e o nosso “lugar no mundo”. O conceito de ethos como lugar simbólico Para indicar esse “lugar” de conforto do homem, havia entre os gregos antigos um nome: ethos, para o qual o uso comum da época reservava dois sentidos, ambos importantes para a reflexão ética. Num primeiro sentido, ethos era o termo usado para designar o ninho ou abrigo dos animais. A transposição desse sentido para indicar o “mundo humano dos costumes” mostra que, para os gregos, estava claro que são os costumes, como laço entre os seres humanos e como regulação das ações humanas, que constituem a “morada” protetora do ser humano. Isso significa dizer que se destruíssemos todos os costumes já selecionados como importantes pelas gerações humanas, isso seria o fim de todo sentido para a vida propriamente humana. Desse modo, no primeiro sentido dado ao termo ethos, ele significa o lugar desse animal social, o ser humano, que sobrevive a partir do conjunto de costumes normativos da sua vida como um grupo social. É a partir do ethos que o espaço do mundo se torna habitável para os seres humanos. No segundo sentido, ethos era usado para designar aqueles comportamentos que se repetiam na comunidade, não apenas por necessidade, mas principalmente por escolha das pessoas. Sendo assim, podemos dizer que ethos, nesse segundo sentido, designa os hábitos que uma comunidade preserva ao longo de sua Num primeiro sentido, ethos era o termo usado para designar o ninho ou abrigo dos animais. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 008 história, deixando de lado outros que se perdem no tempo. Essa interpretação de ethos salienta ainda que os comportamentos humanos não são ditados pela natureza, e sim pela liberdade e pela inteligência humanas. Veja então que o termo ethos reúne dois aspectos que explicam as nossas sensações e percepções de conforto e proteção na convivência com aquelas pessoas que constituem nossa comunidade. Primeiro, ao partilhar conosco de nossos hábitos, costumes, valores e comportamentos, as outras pessoas nos ajudam a preservá-los e fazer deles nossas fontes de segurança e essa fonte, então, é o próprio ethos. Segundo, nas relações com as pessoas, na perspectiva histórica, inventa-se e reinventa-se constantemente um “abrigo simbólico” que nos protege das dificuldades da existência humana. Esse abrigo é também o que os gregos antigos chamavam de ethos. Deste modo, ethos como o “lugar do ser humano na vida” é um conceito que vai muito além de saber que moramos em uma rua que conhecemos bem, ou que passamos diante das casas cujas cores estamos acostumados a ver. “Lugar”, nesse caso, depende muito mais das relações que alguém mantém com as demais pessoas, dos valores, hábitos e costumes que partilha com elas e que dão a sensação de proteção e conforto. Conservando esse sentido e estendendo-o a todas as pessoas com as quais partilhamos essa sensação, dizermos que estamos no “nosso lugar”, tem uma significação ampla: a de que sentimos proteção na familiaridade dos hábitos, costumes e comportamentos nossos e de nossos pares. Por isso, podemos dizer que o termo ethos resume a ideia de conservação de um “lugar para o ser humano”, e a ideia de constante reinvenção desse lugar. Por “ethos humano”, então, podemos entender aquilo que cada um de nós, cada grupo social, cada equipe de trabalho, acaba por sedimentar nas suas relações e que procura contrastar com valores, hábitos, costumes e comportamentos que queremos deixar de lado. O termo ethos reúne dois aspectos que explicam as nossas sensações e percepções de conforto e proteção na convivência com aquelas pessoas que constituemnossa comunidade. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 009 Esse movimento constante é o que caracteriza o ethos como o lugar dos seres humanos na existência. Ética como exercício de invenção e reinvenção das relações humanas A partir do conceito de ethos surge a noção de ética, que se refere à construção efetiva do lugar do ser humano (o ethos), enquanto resultado do conjunto das suas ações. Então, ética é o próprio trabalho diário de localização do ethos como lugar do ser humano na existência. Este trabalho, de eliminação de referências e constituição de outras, é dinâmico e constante, e faz da atitude avaliativa dos rumos do ethos a atividade ética por excelência. Assim, a construção do lugar do ser humano (seu ethos) pode ocorrer sem nos darmos conta, mas pode também ser feita com um nível bastante elevado de consciência a respeito do efeito de nossas ações, individuais e coletivas. Nesse segundo caso, estaríamos no próprio campo da ética. Ao longo do tempo, as reflexões e análises relacionados à ética foram ganhando o status de uma ciência social, ou seja, de um estudo sistematizado das condutas humanas e da elaboração e transformação do ethos do homem em suas relações sociais. Hoje, de forma simplificada, a ética pode ser conceituada como uma ciência social que lança um olhar específico sobre o homem, um olhar diferenciado das demais ciências sociais, tais como a filosofia e a sociologia. No caso da ética, o objeto de estudo é a conduta do homem em sociedade e a localização de seu ethos (lugar do ser humano). A ética passa a ser assim a ciência da conduta do homem em busca de seu lugar no mundo e nas relações sociais em que se vê inserido. Neste sentido, falar de ética é refletir sobre essas condutas sociais do homem e também sobre os valores que pautam suas diversas relações sociais. Essa reflexão a respeito do sentido de nossas A partir do conceito de ethos surge a noção de ética, que se refere à construção efetiva do lugar do ser humano (o ethos), enquanto resultado do conjunto das suas ações. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 010 ações tem gerado muitas discussões, que são importantes para compreendermos as questões éticas nas organizações. É também nesse sentido, de um cálculo possível dos efeitos de nossas ações sobre o futuro da vida humana, que a ética empresarial procura inserir as empresas no campo da construção do ethos humano. As sociedades antigas, como a dos gregos, tinham a ideia de que “formar” os cidadãos desde cedo para toda sua vida garantiria uma posição responsável ou ética. Nesse sentido, essa formação recaía sobre a aquisição de hábitos, condutas e atitudes que serviam para todas as situações, desde a família, passando pelos outros grupos até o trabalho, as relações sociais, etc. Nesse sentido, tais hábitos, condutas e atitudes se tornavam requisitos para inserção dos indivíduos naqueles grupos sociais que eles gostariam ou precisavam, por algum motivo, fazer parte. Ainda hoje, o estudo da ética parte dessa noção da divisão de nossa sociedade em grupos sociais que se formam por afinidade de valores, condutas e atitudes. Neste contexto, a lição dos gregos continua sendo válida, ou seja, a aquisição de certos hábitos, costumes e atitudes possibilita a entrada e permanência dos indivíduos nos diversos grupos sociais, ajudando-os na construção de seus próprios ethos. A entrada dos indivíduos nesses grupos sociais geralmente constitui ritos de passagem, comuns em todas as sociedades. Exemplos desses ritos de passagem são a alfabetização e a Hábitos, condutas, atitudes e determinação social da ética As sociedades antigas, como a dos gregos, tinham a ideia de que “formar” os cidadãos desde cedo para toda sua vida garantiria uma posição responsável ou ética. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 011 formatura nos sistemas escolares, bem como o namoro e o casamento na vida afetiva ou a aquisição do primeiro ou de um novo emprego, na vida profissional. Com efeito, é bastante marcante na vida adulta a escolha profissional, como uma porta para a diversidade de conhecimentos e de visões do mundo, das relações humanas, e das relações sociais nas organizações produtivas. A que visão do ethos humano inclina a formação em administração? E em engenharia de produção? E em direito? Em psicologia? Em medicina? Sem dúvida, a escolha profissional leva a uma reflexão ética que inclui as organizações produtivas. Como se vê, as organizações produtivas, tais como empresas, cooperativas, associações, dentre outras, são espaços legítimos de discussões éticas. Isso porque a atividade produtiva, da qual as empresas são protagonistas, é uma prática social e não um emaranhado de ações individuais. Essa prática é condicionada pelos determinantes históricos e sociais de cada momento. Isto quer dizer também que, para além das funções comerciais e financeiras, as organizações produtivas são responsáveis, também, pela constituição de referências éticas. É nesse sentido que elas passaram a considerar diretamente, e não como tema secundário, as relações com as pessoas que, como colaboradores, ou de fora, como clientes e outros grupos de interesse, são o seu sentido e sua condição de sobrevivência. Assim, não podemos esperar dos administradores e dos líderes das empresas que eles tenham posições éticas, isto é, atitudes responsáveis em suas decisões e na condução dos grupos sociais da empresa, se isso não se sustentar em condutas éticas socialmente constituídas. Também não podemos esperar das pessoas que ingressam nas empresas que elas estejam alheias à influência cultural da qual fazem parte. As organizações produtivas, tais como empresas, cooperativas, associações, dentre outras, são espaços legítimos de discussões éticas. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 012 Um conceito fundamental para a reflexão ética é o conceito de virtude. As virtudes são atributos dos indivíduos, identificáveis em suas ações, como fruto de um longo processo de aprendizado nos vários domínios, mas principalmente por ação de sua vontade. A prova da vontade está na base do desenvolvimento das virtudes, sempre enunciadas no plural, pela interligação entre elas. No entendimento de Aristóteles, filósofo do período grego clássico, as virtudes, tais como a justiça, a temperança e a coragem, dentre outras, se desenvolvem pelo exercício das ações virtuosas. Isto é, mais do que uma teoria das virtudes, interessa-nos saber o que nelas garantiria a ação “reta” que possibilitaria a vontade firme na ação ética. Para o filósofo, virtude não é um atributo subjetivo, inalcançável à observação. É entendidacomo algo que se revela na ação, nas situações reais para as quais seria necessária uma virtude específica. A virtude da “temperança”, por exemplo, que poderia ser definida como a habilidade de julgar de forma justa para tomar decisões, é um meio termo entre a “atitude apressada” e a “lentidão nas decisões”. Note-se que a virtude da temperança se define em relação a dois vícios opostos: de um lado o afobamento e, de outro lado, a lentidão, e ela, a virtude, seria exatamente o meio termo (a justa medida) entre esses dois vícios. Outro exemplo, mais significativo na época de Aristóteles do que na nossa mas que nos mostra a estrutura da sua noção de virtude é o exemplo da coragem. Essa virtude é entendida como o meio termo entre os dois vícios opostos que são a “covardia” e a “temeridade (precipitação)”. O lugar do ser humano e as virtudes As virtudes são atributos dos indivíduos, identificáveis em suas ações, como fruto de um longo processo de aprendizado nos vários domínios, mas principalmente por ação de sua vontade. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 013 Observe o seguinte esquema: FIGURA 2 - Justa medida (metron) Covardia Temeridade Fugir correndo ao ver a força do inimigo, ou ao compreender a magnitude do perigo. Jogar-se contra o inimigo sem considerar sua força ou desconsiderando a magnitude do perigo. Enfrentar o inimigo, ou o perigo, sem se deixar dominar pelo medo e pela possibilidade de subestimar sua força. Coragem Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Anima, 2014. Como se vê, a ação corajosa (virtuosa) não significa a eliminação do medo, mas a sua adoção na medida certa. O excesso do medo produz o vício da covardia, ponto de produzir a fuga. Por outro lado, a falta do medo gera o vício da temeridade levando à precipitação e à exposição desnecessária ao golpe fatal. Se em nossa época soa estranho pensarmos na coragem como uma virtude, podemos, por outro lado, estender essa lógica da tensão entre virtudes e vícios a qualquer outra virtude que queiramos analisar. A justiça, por exemplo, era entendida por Aristóteles como a virtude máxima a ser desenvolvida nos seres humanos e primordial nas atividades de liderança e de governo. A justiça é a virtude desenvolvida como meio termo entre, de um lado, o vício da supremacia do indivíduo (vício que chamaríamos hoje de individualismo) e, de outro lado, o vício da supremacia da comunidade. Como meio termo entre essas duas esferas, chamadas contemporaneamente de esfera do público e do privado, a justiça se destaca como virtude, garantido inclusive o equilíbrio e o dinamismo de todas as demais. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 014 Observemos, ainda, que nessa concepção algumas ações não são passíveis de meio-termo. São as que nelas mesmas já encerram algum mal: o despeito, a impudência, a inveja, o roubo, o assassinato. Todos os hábitos que levem a essas ações ou que essas ações impliquem não são desejáveis em sistema social nenhum e, portanto, seriam hábitos a eliminar do ethos humano. A ética grega nos ensina que a ação virtuosa é aquela que permite o encontro do melhor resultado, naquela época chamado de bem supremo ou simplesmente de felicidade. O bem supremo era entendido como a vida feliz, pautada pela razão. As virtudes, enquanto capacidades dos indivíduos de chegar, em suas ações, a um meio-termo entre dois possíveis vícios, garantiam que essas ações produzissem o bem, por eliminar os extremos representados pelos vícios. Assim, a intenção ética seria sempre a de alcançar o bem supremo ou a felicidade. Para falar sobre a aplicação da ética na prática precisamos recorrer ao sentido de moral. Em sua origem, a palavra moral surgiu na sociedade romana (latina), também na antiguidade clássica, e era usada com o mesmo significado que a palavra ética tinha para os gregos. Assim, moral vem do radical mores, que assim como ethos, representava a busca pelo “lugar dos seres humanos” enquanto localização, “morada” para os mesmos. Isso significa que os termos da discussão moral, entre os latinos, seguia a lógica dos gregos antigos, sistematizada na ideia de ética. Todavia, ao longo do desenvolvimento da ética como ciência, os autores começaram a diferenciar os dois termos, atribuindo à moral um caráter mais prático e aplicado, restando à ética o campo do A intenção ética e a norma A ética grega nos ensina que a ação virtuosa é aquela que permite o encontro do melhor resultado, naquela época chamado de bem supremo ou simplesmente de felicidade. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 015 estudo teórico das condutas do homem. Esta diferenciação foi o resultado da interpretação do próprio pensamento dos gregos e dos romanos. Os gregos, por sua cultura, acreditavam que toda ação humana tende para o bem e que a soma de todos as intenções de chegar a esse bem seria garantida pela educação dos mais jovens. Já os romanos (latinos), logo depois, acentuam a necessidade de uma punição (coerção social) para garantir que as ações humanas sigam esse objetivo de buscar o bem. Dessa diferença de pensamento entre gregos e romanos teria surgido a diferença entre ética e moral, sendo a primeira o estudo do conjunto de valores que regem a ação humana num determinado contexto social e histórico, enquanto que a segunda seria a aplicação prática desses valores pelos homens, dentro de um sistema social coercitivo (punitivo, obrigatório). Esse sistema coercitivo pode ser chamado de sistema normativo, pois ele transforma os valores em normas, como regras de condutas expressamente estabelecidas, de caráter obrigatório, sob pena de gerarem algum tipo de repreensão ou punição para quem as descumpre. Assim, as normas morais seriam essas máximas com as quais lidamos no seio de uma sociedade, às vezes sem nos darmos conta. Você já percebeu que em uma empresa, no dia a dia do trabalho, seria absurdo um indivíduo ir trabalhar de calça e sapato muito finos e sem camisa, nem casaco? Por que os indivíduos não o fazem? Porque estão seguindo a norma moral que proíbe a exposição do corpo e que exerce sobre nós um poder de coerção. Pois bem, são várias as normas morais de uma sociedade específica. Algumas delas se tornam difundidas em várias culturas. “Não matarás”, “não furtarás”, são normas morais decisivas, de grande relevância para a permanência da estrutura social. É bom notar que o ato de matar não é algo descartado por si só. É a norma moral que lhe dá um sentido negativo ou positivo. Basta você lembrar que numa guerra, matar é a regra, ou seja, há normas morais que legitimam o ato de matar. Que todos nós queiramos que Os gregos, por sua cultura, acreditavam que toda ação humana tende para o bem e que a soma de todos as intenções de chegar a esse bem seria garantida pela educação dos mais jovens. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 1781 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 016 a norma moral “não matarás” seja seguida por todos, inclusive por quem tem o poder de fazer a guerra, é uma escolha a ser defendida dentre os demais. A partir das normas, ou seja, de tudo o que se sedimenta como direito e dever de todos em uma sociedade, passa-se à legislação. O teor das normas é objeto da legislação, ou seja, as normas morais mais sedimentadas são transformadas em leis. Nesse sentido, todas as leis são normas morais ou, dito de outra forma, a lei tem origem nas normas morais. Para nos filiarmos aos padrões éticos praticados em nosso meio social e construirmos nosso próprio ethos, utilizamos não apenas a ética das virtudes na busca do bem, mas também lançamos mão das normas morais impostas pela própria sociedade. Como vimos anteriormente, as normas morais são condutas práticas, comuns em determinadas comunidades, enquanto que a ética das virtudes nos convida a assumir as responsabilidades de maneira consciente e, portanto, teórica, antes mesmo que haja alguma norma moral determinada para aquela conduta. Assim, podemos dizer que quanto aos modos de filiação éticas estão em jogo tanto a “intenção ética”, enquanto atitude consciente baseada em valores teóricos, quanto a “norma moral”, como regra de conduta praticada e, de certa forma, imposta pela sociedade. Isso porque, se por um lado há transformações sociais e culturais que revelam mudanças na intenção das pessoas que compõem o meio, há também outros casos em que tais transformações são o Modos de filiação ética Para nos filiarmos aos padrões éticos praticados em nosso meio social e construirmos nosso próprio ethos, utilizamos não apenas a ética das virtudes na busca do bem, mas também lançamos mão das normas morais impostas pela própria sociedade. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 017 resultado da adoção de normas, num sistema de hierarquia e poder, principalmente nas organizações sociais. Interessante notar que as “intenções éticas” e as “normas morais” não se complementam, mas normalmente se contrapõem, uma vez que enquanto as primeiras são teóricas, as segundas são de ordem prática e nem sempre a teoria e a prática coincidem. De toda forma, é exatamente essa contradição que define um modo único e amplo de filiação ética, que leve em conta os dois aspectos ao mesmo tempo. A “intenção ética” e a “norma moral” são modos diferentes e contrapostos, mas igualmente legítimos de filiação e exercício ético. Nessa unidade você conheceu a origem e importância da definição da ética, podendo compreender de forma clara que o lugar, a morada simbólica (ethos) do ser humano, não está nunca pronta, acabada. E que a ação humana, sedimentando valores, hábitos e costumes, constitui o ethos humano. Considerando o que foi discutido nesta unidade, leia o artigo a seguir e avalie os argumentos da autora de modo a indicar onde reside o seu pessimismo ou o seu realismo. A quem podemos dizer que ela atribui a responsabilidade pela crise atual de autoridade? A CRISE QUE ESTAMOS ESQUECENDO Por Lya Luft O tema do momento é a crise financeira global. Eu aqui falo de outra, que atinge a todos nós, mas especialmente jovens e crianças: a violência contra professores e a grosseria no convívio em casa. Duas pontas da nossa sociedade se unem para produzir isso: falta de autoridade amorosa dos pais (e professores) e péssimo exemplo de autoridades e figuras públicas. Pais não sabem como resolver a má-criação dos pequenos e a insolência dos maiores. Crianças xingam os adultos, chutam a babá, a psicóloga, a pediatra. Adolescentes chegam de tromba junto do 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 018 carro em que os aguardam pai ou mãe: entram sem olhar aquele que nem vira o rosto para eles. Cumprimento, sorriso, beijo? Nem pensar. Como será esse convívio na intimidade? Como funciona a comunicação entre pais e filhos? Nunca será idílica, isso é normal: crescer é também contestar. Mas poderíamos mudar as regras desse jogo: junto com afeto, deveriam vir regras, punições e recompensas. Que tal um pouco de carinho e respeito, de parte a parte? Para serem respeitados, pai e mãe devem impor alguma autoridade, fundamento da segurança dos filhos neste mundo difícil, marcando seus futuros relacionamentos pessoais e profissionais. Mal-amados, mal ensinados, jovens abrem caminho às cotoveladas e aos pontapés. Mal pagos e pouco valorizados, professores se encolhem, permitindo abusos inimagináveis alguns anos atrás. Uma adolescente empurra a professora, que bate a cabeça na parede e sofre uma concussão. Um menininho chama a professora de “vadia”, em aula. Professores levam xingações de pais e alunos, além de agressões físicas, cuspidas, facadas, empurrões. Cresce o número de mestres que desistem da profissão: pudera. Em escolas e universidades, estudantes falam alto, usam o celular, entram e saem da sala enquanto alguém trabalha para o bem desses que o tratam como um funcionário subalterno. Onde aprenderam isso, se não, em primeira instância, em casa? O que aconteceu conosco? Que trogloditas somos – e produzimos –, que maltrapilhos emocionais estamos nos tornando, como preparamos a nova geração para a vida real, que não é benevolente nem dobra sua espinha aos nossos gritos? Obviamente não é assim por toda parte, nem os pais e mestres são responsáveis por tudo isso, mas é urgente parar para pensar. Na outra ponta, temos o espetáculo deprimente dos escândalos públicos e da impunidade reinante. Um Senado que não tem lugar para seus milhares de funcionários usarem computador ao mesmo tempo, e nem sabia quantos diretores tinha: 180 ou 30? Autoridades que incitam ao preconceito racial e ao ódio de classes? Governos bons são caluniados, os piores são prestigiados. Não cedemos ao adversário nem o bem que ele faz: que importa o bem, se queremos o poder? Guerra civil nas ruas, escolas e hospitais precários, instituições 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 019 moralmente falidas, famílias desorientadas, moradias sub-humanas, prisões onde não criaríamos porcos. Que profunda e triste impressão, sobretudo nos mais simples e desinformados e naqueles que ainda estão em formação. Jovens e adultos reagem a isso com agressividade ou alienação em todos os níveis de relacionamento. O tema “violência em casa e na escola” começa a ser tratado em congressos, seminários, entre psicólogos e educadores. Não vi ainda ações eficazes. Sem moralismo (diferente de moralidade) nem discursos pomposos ou populistas, pode-se mudar uma situação que se alastra – ou vamos adoecer disso que nos enoja. Quase todos os países foram responsáveis pela gravíssima crise financeira mundial. Todos os indivíduos, não importa a conta bancária, profissão ou cor dos olhos, podemreverter esta outra crise: a do desrespeito geral que provoca violência física ou grosseria verbal em casa, no trabalho, no trânsito. Cada um de nós pode escolher entre ignorar e transformar. Melhor promover a sério e urgentemente uma nova moralidade, ou fingimos nada ver, e nos abancamos em definitivo na pocilga. Fonte: LUFT, Lya. A crise que estamos esquecendo. In: “Revista Veja”, 08 abril 2009, p. 24. Nos usos que fazemos hoje da palavra ética, praticamente esquecemos a abrangência do termo ethos. O conceito de ethos traduz a ideia de um “lugar para o ser humano” e a constante reinvenção desse lugar. Por “ethos humano”, então, podemos entender que cada um de nós, cada grupo social, cada equipe de trabalho, somente existe no contraste entre valores que queremos que sejam duradouros e os motivos que a vida nos apresenta para mudarmos esses valores. Revisão 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 1 020 Nesse contexto, a ética se refere ao nível de consciência que temos do efeito de nossas ações em conjunto sobre nosso lugar futuro no mundo. Assim, a ética pode ser definida como a “ciência da conduta do homem em sociedade, sendo objeto de reflexões do homem desde os filósofos gregos até os nossos tempos.” Sobre a importância dos hábitos, condutas e atitudes você leu que é deles que se constituem os alicerces daquilo que somos, como grupos sociais, e aprendeu que nossas ações são determinadas socialmente, o que é tema central da reflexão ética. Nesse sentido, sempre podemos desenvolver virtudes, como a justiça, a temperança e outras, ora optando por atribuir uma intenção ética em nossos atos, ora buscando conhecer e seguir as normas moral que regem as condutas em nosso meio social. Para saber mais sobre os conceitos básicos de ética e moral, vale a pena conhecer duas importantes obras de pensadores da atualidade: BOFF, Leonardo. Ética e Moral. Petrópolis: Vozes, 2003 VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999 Há também na internet, um site bastante interessante, com indicações de leituras, de links, de palestras e entrevistas sobre ética. Site “Espaço Ética”. Apresenta informações sobre Clóvis de Barros Filho e suas palestras. Disponível em: <http://www.espacoetica.com.br/>. Acesso em: 03 ago. 2016. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 Ética e o panorama social, ambiental e econômico • Papel, presença e efeito das organizações na sociedade • Os seres humanos e os processos produtivos • As empresas e as carências sociais e ambientais • Revisão Introdução A construção da ética tem sido influenciada pelas transformações sociais, econômicas e ambientais de nossa sociedade. Nesse contexto, as empresas se destacam como verdadeiros agentes de transformação social. Nessa unidade, vamos falar sobre os diversos desafios éticos enfrentados hoje pelas organizações produtivas, tais como os avanços tecnológicos, a exclusão social e a escassez de recursos ambientais. Pretendemos, com isso, facilitar sua compreensão sobre a inserção necessária das organizações produtivas na realidade social da qual elas são sempre importantes agentes. Além disso, ao abordar as relações que as empresas têm mantido com os problemas sociais e com as questões ambientais, veremos que, para a tarefa de inserir a empresa no âmbito da ética empresarial, a implicação de todos os integrantes é fundamental. Por fim, vamos apontar algumas posturas éticas a serem adotadas diante desses desafios, como o desenvolvimento de uma visão global, de um senso crítico humanizado e do constante aprimoramento de técnicas e conhecimentos. Leia atentamente as propostas de discussão, acrescente suas próprias observações sobre a realidade atual e procure refletir a respeito dos desafios que as condições sociais, econômicas e políticas, já criadas há bastante tempo, representam para a nossa participação nas organizações produtivas. Bons Estudos! 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 023 O avanço das tecnologias digitais conferiu ao mundo um sentido de unidade jamais experimentado em períodos históricos anteriores. Romperam-se limites e fronteiras aparentemente intransponíveis, colocando-se em contato culturas diferentes, credos, etnias e tipos humanos, que passam a ter acesso a informações e notícias instantaneamente. Recentemente, as redes sociais via internet têm definido laços sociais que se constituem com grande rapidez e muita efetividade, chegando à instantaneidade na troca de informações entre as pessoas. Neste contexto, as organizações produtivas aparecem como agentes diretos das transformações. Ao se delinearem novos modos de relacionamento entre as pessoas, principalmente por meios eletrônicos e digitais que exigem maior qualificação e agilidade dos interlocutores, modifica-se o compromisso das empresas com seus colaboradores, seus clientes e as comunidades. Os modos do trabalho e os modos dos negócios devem considerar os efeitos diretos da modernização, iniciada desde os séculos anteriores e que em nossos dias toma uma velocidade assombrosa. Mas, alguns aspectos da realidade das relações sociais vividas nas empresas não se modificam por efeito das formas tecnológicas de comunicação. Ao contrário, elementos como valores, cultura e relações pessoais são somente facilitadas pela inserção das novas tecnologias. A responsabilidade das empresas em relação aos efeitos das mudanças sobre seus processos, estrutura e cultura, em relação aos efeitos de suas atividades sobre as pessoas, internas e externas e sobre o meio ambiente, continuam sendo foco de reflexões importantes que servem para pensarmos o papel das empresas rumo à contemporaneidade. Papel, presença e efeito das organizações na sociedade A responsabilidade das empresas em relação aos efeitos das mudanças sobre seus processos, estrutura e cultura, em relação aos efeitos de suas atividades sobre as pessoas, internas e externas e sobre o meio ambiente, continuam sendo foco de reflexões importantes que servem para pensarmos o papel das empresas rumo à contemporaneidade. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 024 As organizações empresariais têm a liberdade de investimento nos setores que julgarem melhor, entretanto, esses investimentos podem esbarrar no direito das comunidades (e da sociedade em geral) e das demais pessoas envolvidas. No Estado de Direito, como é o caso de nossas sociedades, as leis estabelecemos limites entre as liberdades e os deveres de todos os integrantes do sistema social. Um exemplo disso são as leis trabalhistas, que visam equilibrar as relações entre os donos das empresas e os trabalhadores. Assim, a lei garante direitos aos empregados como forma de garantir a justiça nas relações de trabalho. Do mesmo modo, as leis de defesa do consumidor visam regular a relação das organizações produtivas com seu público. Todas essas regulações partem do suposto de que, no processo histórico, paralelamente aos benefícios do avanço das nossas formas de vida, há um risco social nas relações entre empresas e pessoas. Como apontam as análises estruturais, o avanço do capitalismo ao longo dos últimos séculos criou uma inegável disparidade social referida nos meios de comunicação, ora como diferença entre “pobres” e “ricos”, ora entre “países desenvolvidos” e “países atrasados” ou “primeiro mundo” e “terceiro mundo”. Essa discrepância, que em resumo não é entre “países” ou “pessoas” individuais e sim entre classes sociais (capital e trabalho), encerra historicamente uma acumulação irrevogável dos meios de produção (matéria-prima, prédios, dinheiro, máquinas, equipamentos, mobiliário) sob a propriedade privada de uma das classes sociais (a classe do capital). Assim, tem crescido a ideia de que, junto ao avanço tecnológico e junto ao acompanhamento da modernização, as organizações produtivas precisariam se haver também com a construção de uma justiça social. Elas estarão inseridas na medida em que adotam posturas de responsabilidade, isto é, posições éticas. Todas essas regulações partem do suposto de que, no processo histórico, paralelamente aos benefícios do avanço das nossas formas de vida, há um risco social nas relações entre empresas e pessoas. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 025 Tais posições éticas referem-se não somente ao futuro, mas também à necessidade de um resgate ou amenização da disparidade histórica entre as condições sociais, que fazem a base da produção de bens e serviços no capitalismo contemporâneo. Neste sentido, a justiça social, como resultado de uma economia sustentável, é sempre uma proposição ideal a ser perseguida a médio e a longo prazos, sendo o esforço da ética empresarial a materialização desse ideal. Os seres humanos e os processos produtivos A tendência de se considerar as empresas como agentes de uma postura ética levou, nos últimos anos, à adoção de uma denominação específica para os vários grupos de pessoas e instituições ligadas ao processo produtivo. É nessa direção que se adota a noção de “grupos de interesse” da empresa, tradução do termo stakeholders, uma expressão inglesa que designa as partes interessadas em um negócio ou empreendimento. Estão incluídos neste conceito de “grupos de interesse” quaisquer indivíduos ou grupos cuja ação, opinião ou atitude possa afetar o negócio ou ser por ele afetado. Como se vê, os stakeholders (grupos de interesse) são os colaboradores, os fornecedores, os consumidores, a comunidade, o governo, os acionistas, etc. É comum nas empresas inseridas na preocupação com a ética empresarial a dedicação e o mapeamento dos stakeholders a elas atrelados. Nessa noção, são importantes desde as questões trabalhistas (que interessam aos funcionários), até as preocupações com o meio ambiente (que interessam à vida no planeta), o que define a ética Os stakeholders (grupos de interesse) são os colaboradores, os fornecedores, os consumidores, a comunidade, o governo, os acionistas, etc. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 026 empresarial como ética voltada para o outro, em detrimento da ética do interesse próprio. A ética orientada para os outros visa, exatamente como ponto de referência da empresa, a valorização do benefício do todo. Em uma analogia às relações pessoais, podemos dizer que a ética voltada para o outro tem por princípio a ideia de que “é fazendo o outro feliz que eu vou me realizar e me sentir feliz”. No crescimento dos outros, pela implicação deles com o negócio da empresa, a organização pode crescer, por meio de suas equipes. Assim, pode-se dizer que o respeito aos stakeholders é mais do que um meio para a realização dos objetivos da empresa, representando um fim em si mesmo, que se atrela socialmente a esses objetivos. Na perspectiva dos negócios, o valor agregado pelos serviços é, em primeiro lugar, a referência da posição da empresa. Assim pode-se esperar a obtenção de ganhos financeiros, que ocorrerão a médio e longo prazos, como efeito do posicionamento ético da empresa. Como se vê, essa “riqueza simbólica” da empresa não se resume ao seu objetivo de obter resultados econômicos. A empresa dispõe de muitos recursos para gerir seu conjunto de valores, fundamentos de sua ética empresarial, tais como os códigos de ética, as cartas de valores e as políticas de gestão. A cada realidade pode-se encontrar mais vantagens do entrelaçamento entre esses documentos, mas o importante é que em todos eles a empresa seja vista como um conjunto de pessoas. Isso implica admitir que as tomadas de decisão sejam de pessoas sobre pessoas, visando os objetivos da empresa; que os instrumentos de regulação sejam instrumentos de ordenamento da ação de pessoas, com todas suas características de falibilidade; que as políticas de gestão não sejam somente gestão das pessoas, sejam políticas para gestão com as pessoas, feitas por sujeitos com capacidade de analisar e criticar a realidade à sua volta. A ética orientada para os outros visa, exatamente como ponto de referência da empresa, a valorização do benefício do todo. Em uma analogia às relações pessoais, podemos dizer que a ética voltada para o outro tem por princípio a ideia de que “é fazendo o outro feliz que eu vou me realizar e me sentir feliz”. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 027 Para que essa humanização das relações de trabalho aconteça é necessário admitir as diferenças internas entre as pessoas como diferenças que tocam a liberdade de cada um. Assim, o empresário não terá o mesmo interesse no lucro do que o funcionário que dele participa somente em pequena parcela. O esforço voluntário de inserção dos funcionários nos objetivos da empresa, a automotivação e as resistências a determinados aspectos da cultura da empresa dependem da absorção ou não dos diversos objetivos de vida das pessoas. Note que na ética empresarial, a dimensão humana, tanto na instância interna como externa à empresa, é o fator primordial. Em síntese, é das pessoas em suas relações dinâmicas entre si que se sedimentam os elementos (hábitos, costumes, interditos) que formam o ethos humano, do qual a empresa participa. As empresas e as carências sociais e ambientais O efeito mais direto do debate sobre a ética empresarial nas empresas é a correção da projeção pessimista quanto aos rumos do capitalismo. Se na infraestrutura, como definia Marx, nadase modificou quanto à divisão de classes, na discussão ideológica, a emergência nos últimos anos de relatórios mais severos sobre o esgotamento dos recursos ambientais e as notícias diárias sobre as mazelas da exclusão social, têm sido sinais de alerta importantes. A chamada “economia pura”, entendida como economia dissociada de seu caráter social, é invadida por uma preocupação que pretende enfrentar os desafios do capitalismo, ao menos exigindo daqueles que antes somente pensavam em maximizar a riqueza, que se A chamada “economia pura”, entendida como economia dissociada de seu caráter social, é invadida por uma preocupação que pretende enfrentar os desafios do capitalismo, ao menos exigindo daqueles que antes somente pensavam em maximizar a riqueza, que se justifiquem do ponto de vista de sua contribuição para a invenção de um ethos humano do futuro. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 028 justifiquem do ponto de vista de sua contribuição para a invenção de um ethos humano do futuro. O que a ética empresarial preconiza é a reflexão levada a efeito em formas objetivas de inserir a empresa em seu ethos, levando em conta o bem a ser garantido como abrigo protetor (como é o sentido do termo ethos para os gregos) a todos, o que implica também a conservação dos recursos naturais. As empresas, principalmente as de grande porte, têm grande responsabilidade na comunidade global justamente por serem elas a instância local que pode permitir uma resistência ao aniquilamento dos valores humanos e o descaso com a natureza. É necessário reconhecer que a pressão exercida pelos vários mercados que compõem a globalização força as empresas e suas equipes a se autoanalisarem continuamente. E é exatamente esse autoexame, principalmente se ele for baseado em padrões de crítica racional, a exemplo daquela que os filósofos gregos fizeram de seu tempo, que cria a consciência necessária de que no movimento global contemporâneo se constrói um novo ethos. Para essa construção contribui imensamente a maneira como as empresas, em todo o mundo, propiciam a suas equipes o acesso a um nível de compreensão mais profundo do lugar da empresa. As empresas, assim como o Estado, tiveram seu papel alterado nos últimos anos. Hoje, é bem mais amplo o papel das empresas na sociedade, enquanto o próprio Estado, como garantidor da ordem social, tem sido forçado a redimensionar o seu papel. A administração superior de uma empresa, ao definir os campos de formação continuada de seus colaboradores, pode ter um papel fundamental se inserir as questões sociais e ambientais como objetivos de construção de saber para a empresa. Os funcionários da organização podem focalizar seus esforços educativos não somente na clarificação da estratégia empresarial As empresas, principalmente as de grande porte, têm grande responsabilidade na comunidade global justamente por serem elas a instância local que pode permitir uma resistência ao aniquilamento dos valores humanos e o descaso com a natureza. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 029 e na definição de metas financeiras desafiadoras e motivantes. A isso, pode-se acrescentar a investigação a respeito das formas de tornar a empresa também competitiva na responsabilidade social e ambiental. Essa operação somente terá efeitos sobre o desenvolvimento da cultura organizacional se junto aos objetivos de inovação, experimentação, aprendizado contínuo e comprometido com os resultados de longo prazo, forem inseridos os esforços por desenvolver um saber ético. Em síntese, se o saber é o grande elemento da nova era das empresas, o saber sobre a otimização de todas as áreas da empresa deve incluir suas relações com as pessoas, como responsabilidade social, e as relações dos seus processos produtivos sobre a natureza, como responsabilidade ambiental. Essa deve ser uma das preocupações fundamentais da alta administração. No mundo globalizado, a organização empresarial ganha um intenso papel de instância de transformação (ou de estagnação) das sociedades. Aquilo que as empresas lançam aos mercados do qual participam têm efeitos não somente financeiros. Se elas disponibilizam ao mercado negociantes com capacidade limitada de análise da realidade, isso se reverterá em um conjunto de relações sociais alienantes. Se, por outro lado, elas estruturam sua produção, seu gerenciamento e a relação com a sociedade de maneira mais consciente, o efeito é um aumento da consciência em geral sobre a realidade. A diversidade dos mercados e a diversidade de soluções que eles exigem não podem obscurecer a unidade do papel das empresas na instituição do ethos contemporâneo. Em resumo, teríamos que acrescentar a esse objetivo a consciência do efeito e responsabilidade da empresa pela efetivação criativa de novos elementos do ethos humano para os próximos séculos. A diversidade dos mercados e a diversidade de soluções que eles exigem não podem obscurecer a unidade do papel das empresas na instituição do ethos contemporâneo. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 030 A empresa, mais do que o papel defensivo de não causar prejuízo, como era a preocupação no início do movimento pela responsabilidade ambiental, deverá fornecer em sua cultura e seus objetivos condições deliberadas para a invenção desse novo ethos. A influência desse novo papel da empresa sobre os sujeitos humanos nas organizações empresariais e sobre os efeitos da produção sobre o meio ambiente é notória. As habilidades e competências que capacitam os profissionais para o contexto globalizado vão depender da inserção das pessoas nas exigências sociais e ambientais feitas à empresa. As seguintes características ou habilidades são necessárias ao novo administrador: formação humanística e visão global; formação técnica e científica; internalização de valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional; competência para empreender ações e para analisar criticamente as organizações e seus efeitos sociais e ambientais; compreensão da necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento de autoconfiança; atuação de forma interdisciplinar. Mais do que lideranças técnicas ou de referências operacionais, esse perfil indica a necessidade das empresas, em obter em seus quadros funcionais lideranças éticas. Isto é, líderes com percepção suficiente do lugar da empresa na construção do ethos e com capacidade de traduzir essas exigências para os negócios da empresa. Esse novo líder, com apurado senso crítico quanto aos processos produtivos, deve primar pela capacidade de agir sobre a cultura da empresa influenciando-a na direção da atualização. Dados científicos muitas vezes nos ajudam a compreender melhor a realidade. A chamada “Pesquisa Ação Social das Empresas”, realizada pelo Ipea pela segunda vez em todo o Brasil, aponta um crescimento As habilidades e competências que capacitam osprofissionais para o contexto globalizado vão depender da inserção das pessoas nas exigências sociais e ambientais feitas à empresa. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 031 significativo, entre 2000 e 2004, na proporção de empresas privadas brasileiras que realizaram ações sociais em benefício das comunidades. Neste período, a participação empresarial na área social aumentou dez pontos percentuais, passando de 59% para 69%. São aproximadamente 600 mil empresas que atuam voluntariamente. Em 2004, elas aplicaram cerca de R$ 4,7 bilhões, o que correspondia a 0,27% do PIB brasileiro naquele ano. A partir da realização desta segunda edição da pesquisa, tornou-se possível iniciar a construção, de maneira inédita de uma série histórica que permite o acompanhamento da evolução do comportamento da iniciativa privada na área social desde finais da década de 1990. A pesquisa ouviu, também, a percepção dos empresários sobre o seu papel na realização de ações voluntárias em benefício das comunidades. A grande maioria (78%) acredita que é obrigação do Estado cuidar do social e que a necessidade de atuar para as comunidades é maior hoje do que há alguns anos (65%). Há, portanto, uma compreensão, no mundo empresarial, de que a atuação privada não deve substituir o poder público, tendo um caráter muito maior de complementaridade da ação estatal. Embora a pesquisa não pretenda estabelecer um ranking dos estados que têm ações voluntárias para a comunidade, apresenta a seguinte ordem: Minas Gerais (81%) continua em primeiro lugar, sendo seguido por Santa Catarina (78%), Bahia (76%), Ceará (74%), Pernambuco (73%) e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (72%). Se estes dados já eram significativos na década passada, imagine agora. Quais serão as novas posições no ranking? Coloque sua curiosidade em dia e procure na internet novas informações sobre isso. Fonte: BRASIL – RESULTADOS FINAIS – SEGUNDA EDIÇÃO (2006). In: “Site IPEA”. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/acaosocial/articledcd2. html?id_article=244>. Acesso em: 06 de jan. 2015. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 032 Revisão Para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, a ética empresarial deverá envolver toda a organização, desde os objetivos estratégicos da alta administração até a mais simples das funções, não devendo se restringir à adoção de normas de comportamento. Em sentido amplo, a ética empresarial implica na participação das pessoas e é de suma importante a presença, nas empresas, de lideranças éticas. É preciso também que a comunicação com as equipes privilegie o modo singular de cada integrante da empresa, para a construção de um ethos organizacional próprio, condizente com os desafios contemporâneos. Dentre esses desafios, se destacam a exclusão social e a escassez de recursos ambientais, além do uso exagerado das tecnologias em detrimento do valor humano das relações. Nesse contexto, é preciso pensar em lideranças que busquem o desenvolvimento de uma visão global de mundo e que, por meio de um senso crítico humanizado, sejam capazes de promover o constante aprimoramento de técnicas e conhecimentos. Em artigo publicado no site do Sebrae, o professor Alfredo Passos destaca que leveza, rapidez e exatidão são alguns dos hábitos do líder contemporâneo. O autor analisa o livro “Seis Propostas para o próximo milênio”, de Ítalo Calvino, e faz uma comparação entre os valores literários destacados por Calvino e as características do líder do futuro. Resumidamente, conheça os seis valores. 1 – Leveza Líder que sabe agir de forma leve e sutil, sem impor poder e sem pesar na estrutura organizacional da empresa. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 2 033 2 – Rapidez Líder que reconhece a necessidade de treinamento e reciclagem constantes, pois produtos, mercados e consumidores também estão em constante mudança. 3 – Exatidão Líder que é preciso no atendimento às reais necessidades e expectativas dos seus clientes. Estruturas menores tendem a personalizar os serviços e deixar os clientes mais satisfeitos. 4 – Visibilidade Líder que se faz ouvir dentro da empresa e que desenvolve comunicação eficaz com o cliente. 5 – Multiplicidade Líder com capacidade de desenvolver análises econômicas para fazer o empreendimento crescer e ter lucro. 6 – Consistência Infelizmente, aos 62 anos Ítalo Calvino faleceu e não desenvolveu este tema. Fica então para a nossa imaginação esta conclusão, a partir das informações anteriores. Fonte: PASSOS, Alfredo. Os hábitos do empreendedor eficaz. In: “BIS – Biblioteca Interativa SEBRAE.” Disponível em: <http://www. bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds. nsf/44D9BEDE2E0DFB7003256D520059C0A7/$File/NT00001F6A.pdf> Acesso em: 25 Jul. 2016. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 As relações de trabalho e os principais dilemas contemporâneos • Valores sociais e a vida humana • Projetos sociais • A diversidade humana: discutindo relações étnico- raciais e direitos humanos • A diversidade social e cultural brasileira • A noção de raça como noção política e histórica • Os direitos humanos como estratégia social de igualdade • Revisão Introdução As empresas estão cada vez mais preocupadas com os dilemas éticos e as ações de responsabilidade social. Parece haver uma preocupação em não esvaziar o conteúdo ético desta discussão, mantendo-se seu elemento essencial: o questionamento sobre a responsabilidade real das empresas e não somente o seu uso como mera estratégia de comunicação. Essa tensão entre o discurso de marketing e a responsabilidade real das empresas está na pauta das discussões éticas, mas felizmente, percebe-se na atualidade um grande esforço das organizações produtivas rumo à verdadeira prática de valores éticos. Esta busca passa pela reflexão empresarial sobre os novos valores sociais brasileiros. Elementos como a diversidade sociocultural de nosso povo e a defesa dos direitos humanos hoje são encarados com seriedade no debate sobre as relações humanas nos ambientes de trabalho, tendo em vista o desenvolvimento de práticas empresariais mais éticas e sustentáveis. Nesta unidade, vamos examinar os elementos e dilemas desse novo cenário social e cultural contemporâneo, e vamos perceber como tem se desenhado a ética empresarial dentro neste novo paradigma. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 812 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 3 036 As empresas contemporâneas são, essencialmente, espaços nos quais as relações humanas ocorrem com grande intensidade e nos quais se definem a maior parte dos elementos constitutivos da qualidade da vida humana. Essa máxima se estende a todos os grupos de interesse da empresa, isto é, a empresa está implicada com a vida humana ao longo de todo o processo produtivo. Este processo nada mais é do que um conjunto de relações sociais de produção. Assim, desde os fornecedores, passando pelos trabalhadores e chegando aos clientes, ao governo e aos demais grupos de interesse, trata-se sempre e fundamentalmente de efeitos sobre os seres humanos. Mesmo os efeitos ambientais da produção se revertem em efeitos sobre a vida humana (presente e futura). A centralidade da vida humana nos sistemas de produção fica em segundo plano somente quando se torna prioritário o pensamento técnico, reflexo da chamada racionalidade instrumental. A razão humana é capaz de pensar soluções técnicas para os principais problemas humanos e a especialização trazida pelas ciências modernas (a física, a química e a biologia) ajuda a aprofundar essas soluções e garantir a correção teórica e prática dessas soluções. Mas a razão humana também é capaz de pensar os sentidos da existência humana. Nesse sentido, ela é mais ampla do que a racionalidade técnica ou instrumental. As reflexões das ciências humanas e sociais como a sociologia, a antropologia, a psicologia e a economia, que se ocupam diretamente da dimensão do sentido a ser dado à vida humana, têm nos alertado para a perda cada vez maior das referências efetivamente humanas para a vida. Valores sociais e a vida humana As empresas contemporâneas são, essencialmente, espaços nos quais as relações humanas ocorrem com grande intensidade e nos quais se definem a maior parte dos elementos constitutivos da qualidade da vida humana. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 3 037 Essas referências, como estudado anteriormente (quando discutimos o ethos humano), são essencialmente “valores” atribuídos às coisas e às relações humanas no próprio movimento de construção dessas relações. Assim, é por uma escolha socialmente determinada que nas relações humanas de produção, damos valor maior aos problemas técnicos do trabalho, incentivando a racionalidade instrumental. É uma escolha, socialmente determinada (e não determinada por alguma “natureza oculta”), o fato de colocarmos o esforço da racionalidade das empresas somente na tentativa de resolver os problemas técnicos: que metodologia de trabalho, que tecnologia, que distribuição do trabalho, que estrutura organizacional, que relações mecânicas entre as partes que a compõem? Dentro desta perspectiva, será que também não seria possível escolhermos outra forma de pensar que ultrapassasse a racionalidade instrumental? Sim. Também pode ser uma escolha colocarmos os esforços da racionalidade das empresas (de seu capital intelectual) para pensá-las como sistemas sociais que geram essencialmente “valores humanos”; como relações entre seres humanos e não entre “mãos de obra”, como ainda se costuma dizer no ambiente empresarial, reduzindo a vida dos colaboradores ao fato mecânico de que é com a mão que alguém opera os instrumentos de trabalho. Sendo relações entre seres humanos, as relações de produção implicam escolhas coletivas, e implicam conflitos e negociações entre partes com interesses diversos, como é o caso dos conflitos entre os vendedores da força de trabalho (os colaboradores) e os donos dos meios de produção (os proprietários do capital, sejam eles pessoas individuais ou acionistas). A ideia de grupos de interesse (stakeholders) tenta resumir as complexas relações sociais que se dão em torno da produção social da vida humana. Ainda que com uma certa dose de É por uma escolha socialmente determinada que nas relações humanas de produção, damos valor maior aos problemas técnicos do trabalho, incentivando a racionalidade instrumental. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 3 038 simplificação, essa noção nos ajuda a pensar de modo mais objetivo essa complexidade e tem a vantagem de sempre se referir a um componente essencial das relações de produção: a de serem sempre relações entre grupos sociais. Na verdade, no modo de produção capitalista contemporâneo, estruturado em mercados globalmente expandidos, não há relações com “um cliente ou um consumidor”, e sim com o grupo social dos clientes-consumidores; não há relações com “um colaborador”, e sim com o grupo social de colaboradores; não há relações com “um fornecedor”, e sim relações sociais muito complexas com todos os grupos sociais que constituem as cadeias de relações com esse fornecedor. Dessa forma, para percebermos a essência das relações das empresas com seus grupos de interesse, temos que reconhecer que, primordialmente, as relações sociais de produção geram “valores humanos” que determinarão as decisões e os arranjos que caracterizam o trabalho. Como estudado na unidade 2, as empresas são por natureza responsáveis pelos efeitos de suas atividades. Mas não se chega ao sentido profundo dessa máxima refletindo somente sobre o momento presente. Não se pode pensar com coerência em atribuir somente às empresas, por exemplo, a responsabilidade pelo efeito social devastador do avanço capitalista: a exclusão social determinada pela acumulação de capital. Ainda nessa direção, não tem sentido pensar a “dívida social” como dívida financeiramente resgatável pela doação voluntária das empresas, mantendo-se elas como centro produtor dos valores do individualismo, do hiperconsumo e da racionalidade instrumental. Isto é, não se poderia confiar na “filantropia” como ação que pudesse resolver a grande cisão social entre pobres e ricos, incluídos e excluídos das classes de consumo e das facilidades da vida moderna. Não se pode pensar com coerência em atribuir somente às empresas, por exemplo, a responsabilidade pelo efeito social devastador do avanço capitalista: a exclusão social determinada pela acumulação de capital. 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 44 62 63 17 81 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS unidade 3 039 Por isso, ganha importância nas empresas a questão da ética empresarial tanto em sua dimensão da construção e divulgação de valores empresariais de responsabilização, quanto em suas ações mais visíveis e conhecidas como ações de responsabilidade social. As empresas, em sua postura de construção de uma ética empresarial e de adoção de políticas de responsabilidade social, têm desenvolvido projetos sociais como foco de sua contribuição para a superação da dívida social. As instituições que mais se dedicam ao desenvolvimento de projetos sociais são as do chamado
Compartilhar