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Ética e Responsabilidade Social das Empresas

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os limites entre as liberdades e os deveres de todos 
os integrantes do sistema social. Um exemplo disso são as leis 
trabalhistas, que visam equilibrar as relações entre os donos das 
empresas e os trabalhadores. Assim, a lei garante direitos aos 
empregados como forma de garantir a justiça nas relações de 
trabalho. Do mesmo modo, as leis de defesa do consumidor visam 
regular a relação das organizações produtivas com seu público. 
Todas essas regulações partem do suposto de que, no processo 
histórico, paralelamente aos benefícios do avanço das nossas formas 
de vida, há um risco social nas relações entre empresas e pessoas.
Como apontam as análises estruturais, o avanço do capitalismo 
ao longo dos últimos séculos criou uma inegável disparidade 
social referida nos meios de comunicação, ora como diferença 
entre “pobres” e “ricos”, ora entre “países desenvolvidos” e “países 
atrasados” ou “primeiro mundo” e “terceiro mundo”. 
Essa discrepância, que em resumo não é entre “países” ou 
“pessoas” individuais e sim entre classes sociais (capital e 
trabalho), encerra historicamente uma acumulação irrevogável dos 
meios de produção (matéria-prima, prédios, dinheiro, máquinas, 
equipamentos, mobiliário) sob a propriedade privada de uma das 
classes sociais (a classe do capital). 
Assim, tem crescido a ideia de que, junto ao avanço tecnológico 
e junto ao acompanhamento da modernização, as organizações 
produtivas precisariam se haver também com a construção de uma 
justiça social. Elas estarão inseridas na medida em que adotam 
posturas de responsabilidade, isto é, posições éticas. 
Todas essas 
regulações partem do 
suposto de que, no 
processo histórico, 
paralelamente aos 
benefícios do avanço 
das nossas formas 
de vida, há um risco 
social nas relações 
entre empresas e 
pessoas.
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
unidade 2
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Tais posições éticas referem-se não somente ao futuro, mas 
também à necessidade de um resgate ou amenização da 
disparidade histórica entre as condições sociais, que fazem a base 
da produção de bens e serviços no capitalismo contemporâneo. 
Neste sentido, a justiça social, como resultado de uma economia 
sustentável, é sempre uma proposição ideal a ser perseguida a 
médio e a longo prazos, sendo o esforço da ética empresarial a 
materialização desse ideal.
Os seres humanos e os 
processos produtivos
A tendência de se considerar as empresas como agentes de 
uma postura ética levou, nos últimos anos, à adoção de uma 
denominação específica para os vários grupos de pessoas e 
instituições ligadas ao processo produtivo. É nessa direção que se 
adota a noção de “grupos de interesse” da empresa, tradução do 
termo stakeholders, uma expressão inglesa que designa as partes 
interessadas em um negócio ou empreendimento. Estão incluídos 
neste conceito de “grupos de interesse” quaisquer indivíduos ou 
grupos cuja ação, opinião ou atitude possa afetar o negócio ou ser 
por ele afetado. 
Como se vê, os stakeholders (grupos de interesse) são os 
colaboradores, os fornecedores, os consumidores, a comunidade, 
o governo, os acionistas, etc. É comum nas empresas inseridas na 
preocupação com a ética empresarial a dedicação e o mapeamento 
dos stakeholders a elas atrelados.
Nessa noção, são importantes desde as questões trabalhistas (que 
interessam aos funcionários), até as preocupações com o meio 
ambiente (que interessam à vida no planeta), o que define a ética 
Os stakeholders 
(grupos de 
interesse) são os 
colaboradores, 
os fornecedores, 
os consumidores, 
a comunidade, 
o governo, os 
acionistas, etc. 
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
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empresarial como ética voltada para o outro, em detrimento da 
ética do interesse próprio. 
A ética orientada para os outros visa, exatamente como ponto de 
referência da empresa, a valorização do benefício do todo. Em uma 
analogia às relações pessoais, podemos dizer que a ética voltada 
para o outro tem por princípio a ideia de que “é fazendo o outro feliz 
que eu vou me realizar e me sentir feliz”.
No crescimento dos outros, pela implicação deles com o negócio 
da empresa, a organização pode crescer, por meio de suas equipes. 
Assim, pode-se dizer que o respeito aos stakeholders é mais do que 
um meio para a realização dos objetivos da empresa, representando 
um fim em si mesmo, que se atrela socialmente a esses objetivos. 
Na perspectiva dos negócios, o valor agregado pelos serviços é, em 
primeiro lugar, a referência da posição da empresa. Assim pode-se 
esperar a obtenção de ganhos financeiros, que ocorrerão a médio 
e longo prazos, como efeito do posicionamento ético da empresa. 
Como se vê, essa “riqueza simbólica” da empresa não se resume ao 
seu objetivo de obter resultados econômicos. 
A empresa dispõe de muitos recursos para gerir seu conjunto 
de valores, fundamentos de sua ética empresarial, tais como os 
códigos de ética, as cartas de valores e as políticas de gestão. A cada 
realidade pode-se encontrar mais vantagens do entrelaçamento 
entre esses documentos, mas o importante é que em todos eles a 
empresa seja vista como um conjunto de pessoas. 
Isso implica admitir que as tomadas de decisão sejam de 
pessoas sobre pessoas, visando os objetivos da empresa; que os 
instrumentos de regulação sejam instrumentos de ordenamento 
da ação de pessoas, com todas suas características de falibilidade; 
que as políticas de gestão não sejam somente gestão das pessoas, 
sejam políticas para gestão com as pessoas, feitas por sujeitos com 
capacidade de analisar e criticar a realidade à sua volta. 
A ética orientada 
para os outros visa, 
exatamente como 
ponto de referência 
da empresa, a 
valorização do 
benefício do todo. 
Em uma analogia às 
relações pessoais, 
podemos dizer que 
a ética voltada para 
o outro tem por 
princípio a ideia de 
que “é fazendo o 
outro feliz que eu 
vou me realizar e me 
sentir feliz”.
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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS
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Para que essa humanização das relações de trabalho aconteça é 
necessário admitir as diferenças internas entre as pessoas como 
diferenças que tocam a liberdade de cada um. Assim, o empresário 
não terá o mesmo interesse no lucro do que o funcionário que 
dele participa somente em pequena parcela. O esforço voluntário 
de inserção dos funcionários nos objetivos da empresa, a 
automotivação e as resistências a determinados aspectos da 
cultura da empresa dependem da absorção ou não dos diversos 
objetivos de vida das pessoas.
Note que na ética empresarial, a dimensão humana, tanto na 
instância interna como externa à empresa, é o fator primordial. Em 
síntese, é das pessoas em suas relações dinâmicas entre si que 
se sedimentam os elementos (hábitos, costumes, interditos) que 
formam o ethos humano, do qual a empresa participa.
As empresas e as 
carências sociais e 
ambientais
O efeito mais direto do debate sobre a ética empresarial nas 
empresas é a correção da projeção pessimista quanto aos 
rumos do capitalismo. Se na infraestrutura, como definia Marx, 
nada
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