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Beatriz O. Baena Espondilite Anquilosante Grupo de artrite com sobreposição Clínica e Genética: - Espondilite anquilosante; - Artrite reativa; - Artrite psoriásica; - Artrite enteropática; Espondilite Anquilosante: - Espondiloartrite axial; - Causa desconhecida/ esqueleto axial inicialmente; - Fusão dos corpos vertebrais - coluna em bambu; - Restrição dos movimentos - coluna/ quadril/ ombros; Critérios diagnósticos (ASAS): - Dor lombar maior ou igual a 3 meses; - Menos de 45 anos de idade; Tratamento: - Exercícios físicos; - AINE/ ANTI-TNF alfa; DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA O termo espondiloartrite (EpA) é utilizado para descrever um grupo de doenças inflamatórias que apresentam características clínicas comuns, como comprometimento inflamatório axial (espondilite e sacroiliíte), artrite periférica oligoarticular, dactilite, entesite e manifestações extra-articulares (uveíte, doença inflamatória intestinal e psoríase). Podemos classificar as EpA em axiais (EpAax) e periféricas, a depender do comprometimento articular predominante. O termo EpA axial é utilizado para descrever a fase inicial da doença, em que ainda não existem alterações na radiografia simples de sacroilíacas (EpA não radiográfica). Quando estas ocorrem, a doença passa a ser chamada de EpA radiográfica, também conhecida como espondilite anquilosante (EA). A espondilite anquilosante (EA) é uma artrite inflamatória do esqueleto axial, considerada o protótipo das EpA, que tipicamente afeta homens com idade inferior a 40 anos (3 homens : 1 mulher), mais frequente na população caucasiana (0,5 a 0,8/100.000 habitantes), sendo reflexo direto a prevalência do HLA-B27. FISIOPATOLOGIA Embora a etiologia das EA ainda não seja totalmente conhecida, acredita-se que seja o resultado da associação entre fatores genéticos, imunológicos e ambientais. A associação entre o HLA-B27 e as EA foi descrita pela primeira vez em 1973 e desde então é considerada um exemplo clássico e comprovado de associação entre uma doença humana e um gene HLA. O HLA-B27 é o fator genético mais importante nas EA, sendo observado em mais dos 90% dos pacientes. No entanto, menos de 5% dos indivíduos com HLA-B27 positivo na população geral desenvolvem EpA. No entanto, a concordância em gêmeos monozigóticos é de 63%, e nos dizigóticos, de 27%. Esses dados indicam que a predisposição para EA não é apenas determinada geneticamente, havendo a influência de fatores ambientais (como uma infecção bacteriana) ou de respostas imunes específicas. A distribuição geográfica da EA reflete claramente a associação do HLA-B27 com a doença. Populações com um percentual elevado de pessoas com HLA-B27 positivo, como no Alasca ou Noruega, apresentam a prevalência mais elevada da doença, diferentemente do que ocorre na África ou Japão, onde a prevalência do HLA-B27 é baixa. Diversas hipóteses foram levantadas na tentativa de explicar o papel do HLA-B27 no desenvolvimento das EpA: a) teoria do peptídeo artritogênico; b) dimerização não canônica do HLA; c) resposta ao HLA-B27 mal dobrado. A via da IL-23 tem sido implicada na psoríase e na doença inflamatória intestinal (DII), duas condições que apresentam grande associação com EA. Múltiplas interações (hits) genéticas da via IL-23 (IL-23R, STAT3, JAK2, TYK2, IL12B, IL12RB2, IL23 e IL7R) apresentam variabilidades semelhantes na EA, psoríase e doenças intestinais inflamatórias, demonstrando a relevância patológica desses polimorfismos nessas doenças. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As principais manifestações musculoesqueléticas da EpA axial/EA são sacroiliíte, entesite e sinovite, associadas ou não à espondilite/espondilodiscite. ➔ Manifestações axiais Dor lombar inflamatória é o sintoma mais frequente. No Quadro 1 podem ser observados os critérios do grupo Assessment of SpondyloArthritis International Society (ASAS) para dor lombar inflamatória. No início, pode ser de forte intensidade, localizada profundamente na região glútea (dor alternante nas nádegas), em geral unilateral ou intermitente, mas pode se tornar persistente e bilateral com a evolução. Classicamente piora durante à noite, acordando o paciente, que necessita se levantar da cama para obter alguma melhora. A rigidez matinal é outra característica importante, podendo durar até 3 horas. Tanto a rigidez como a dor lombar melhoram após um banho quente, alguns exercícios ou atividade física, mas não melhoram com o repouso. A fadiga, resultado da dor lombar e da rigidez, pode ser um problema importante e ser acentuada pelo distúrbio do sono decorrente desses sintomas. Outras manifestações axiais são espondilite, espondilodiscite, artrite das articulações facetárias, artrite costoclavicular e osteíte do esterno. ➔ Manifestações periféricas Artrite periférica geralmente assume padrão oligoarticular assimétrico, predominante em membros inferiores; entesite, mais frequentemente na região da inserção da fáscia plantar e do tendão do calcâneo, muitas vezes incapacitante, podendo também ocorrer em outros locais. ➔ Sistêmicas - Uveíte anterior (para uveíte é usado corticóide tópico), - psoríase, - doença inflamatória intestinal (doença de crohn; retocolite), - dactilite, - entesite calcânea, - artrite DIAGNÓSTICO O diagnóstico das EpA axiais e da EA deve ser realizado levando-se em consideração aspectos epidemiológicos (idade e sexo), manifestações clínicas típicas articulares e extra-articulares e história familiar. Os critérios de classificação existentes não devem ser utilizados de forma compulsória na prática clínica, devendo ser assumida uma postura mais flexível, se necessário. Em alguns casos, mesmo não sendo preenchidos os critérios de classificação, o paciente pode ter o diagnóstico de EpA axial ou EA, a depender da apresentação clínica. Uma proposta de algoritmo que pode ser utilizado na prática clínica em pacientes com dor lombar de início antes dos 45 anos pode ser visualizada na Figura 2. Os critérios de Nova York (1984 – Quadro 2) são os mais utilizados para classificar um paciente com EA. No entanto, a presença de sacroiliíte na radiografia simples é mandatória, o que pode retardar o diagnóstico. Uma vez que o dano estrutural é consequência de um processo inflamatório prévio e este não pode ser visualizado na radiografia simples, em 2009 o grupo ASAS propôs um grupo de critérios de classificação de EpA axial, que incluía os achados da ressonância magnética de sacroilíacas e o HLA-B27. EXAMES COMPLEMENTARES Radiogra�ia simples É o primeiro exame a ser solicitado diante da suspeita clínica de EpA axial. Deve ser avaliado de acordo com os critérios de Nova York modificados. ( No raio-x faz esclerose) Ressonância magnética Deve ser solicitada apenas nos casos em que o RX apresenta-se normal e existe uma forte suspeita clínica de EpA axial (características de EpA). A alteração que permite classificar o paciente com EpA é o edema ósseo subcondral, embora outras alterações, como erosões, esclerose subcondral e lesões gordurosas, possam estar presentes. - Sindesmófitos (coluna em bambu): é a calcificação do ligamento longitudinal da coluna decorrente de patologia, enquanto osteófito decorre da sobrecarga mecânica gerando reação óssea Laboratório Reagentes de fase aguda (proteína C-reativa e velocidade de hemossedimentação) e o HLA-B27. AVALIAÇÃO CLÍNICA, DE ATIVIDADE DA DOENÇA E CAPACIDADE FUNCIONAL Exame �ísico Importante realizar a metrologia na avaliação inicial, a cada seis meses ou diante de uma piora clínica. Devem ser incluídos o teste de Schober, distância tragus-parede, flexão lateral lombar, abertura das pernas e rotaçã o do pescoço. Também devem ser palpados os pontos de entesite e avaliação de artrite periférica. Para maiores informações sobre a realização desses testes, consultar o ASAS handbook (www.asas-group.org/education/asas-handbook/) . Teste de Schober http://www.asas-group.org/education/asas-handbook/ Exame físico: - Teste Patrick-Fabere (articulaçãosacroilíaca): avaliar as articulações sacroilíaca e do quadril de pacientes que possuem dor lombar. - Lasegue Índices compostos Permitem a avaliação de várias manifestações clínicas em um mesmo momento, fornecendo informações mais completas e confiáveis sobre o estado da doença. BASDAI (Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity Index): seis questões que abordam domínios relacionados à fadiga, dor na coluna, dor e sintomas articulares, dor causada pelo acometimento das enteses e duas questões relacionadas à intensidade e duração da rigidez matinal; atribui-se uma avaliação que varia de 0 a 10, em que 0 é a melhor nota e 10, a pior. Em seguida é feita a média das duas avaliações da rigidez matinal, que é somada aos outros quatro domínios, e novamente retirada a média aritmética simples, resultado final do escore. ASDAS (Ankylosing Spondylitis Disease Activity Score): vantagem de ser menos subjetivo em relação ao BASDAI, pois utiliza em seu cálculo um marcador de atividade inflamatória: a proteína C-reativa (fórmula preferencial) ou da velocidade de sedimentação (fórmula alternativa). A partir do escore final do ASDAS, são definidos pontos de corte que indicam o grau de atividade da doença e resposta ao tratamento. BASFI (Bath Ankylosing Spondylitis Functional Index): 10 escalas numéricas (0-10) ou escalas visuais analógicas (0-10 mm), autoaplicáveis, ancoradas pelos descritores “fácil” e “impossível”. Escore final é a média aritmética dos escores individuais. Um escore final de zero significa ausência de comprometimento funcional, e 10 reflete máximo comprometimento. TRATAMENTO O tratamento das EpA axiais deve ser realizado de forma individualizada, de acordo com sinais e sintomas da doença e características dos pacientes, incluindo comorbidades e fatores psicossociais. O objetivo primário deve ser melhorar a dor, rigidez e fadiga, além de manter (ou melhorar) a flexibilidade e a mobilidade, prevenir dano estrutural e preservar a função e participação sociais, o que impacta diretamente a qualidade de vida. O manejo adequado desses pacientes deve ser por meio da combinação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas. Tratamento não farmacológico Educação de paciente, atividade �ísica e �isioterapia são de extrema importância e devem estar presentes em todas as fases do tratamento. Tratamento farmacológico Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE): medicações de primeira linha no tratamento das EpA axiais. Cerca de 70 a 80% dos pacientes com EA apresentam melhora dos sintomas, incluindo melhora da dor e da rigidez axial, apenas com AINE. A decisão entre o uso contínuo ou sob demanda depende da gravidade e intermitência dos sintomas, comorbidades e preferência do paciente. Sulfassalazina (SSZ): os consensos do American College of Rheumatology (ACR) e do European League Against Rheumatism (EULAR) recomendam a sulfassalazina apenas para pacientes com predominância de comprometimento periférico. A experiência brasileira demonstra que pode haver benefício do uso da sulfassalazina em pacientes com comprometimento axial. A dose recomendada é de 2 a 3 g/dia. Metotrexato: recomendado apenas para as formas periféricas, na dose de 15 a 25 mg/semana. Medicamentos modi�icadores de doença biológicos (MMCDb): estão indicados os inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF – infliximabe, etanercepte, adalimumabe ou golimumabe) diante de doença ativa e grave, definida clinicamente como BASDAI ≥ 4 e dor na coluna > 4 pela Escala Visual Analógica (EVA) de dor, além de falha terapêutica com o uso de pelo menos dois AINE ou, no caso de artrite periférica, falha com sulfassalazina (ou metotrexato). Os inibidores de IL-17, secuquinumabe e exizequizumabe, podem ser utilizados quando da falha de um anti-TNF ou ainda como primeira opção em caso de contraindicação ou intolerância ao uso dos anti-TNFs. - Antes de iniciar o tratamento com esse medicamento, investigar casos de tuberculose, hepatite, etc. Caso possua tratar antes de começar utilizar esse medicamento. Referências: Reumatologia – Diagnóstico e Tratamento. CARVALHO, Marco Antonio P Reumatologia. HOCHBERG, Marc C; SILMAN, Alan J; SMOLEN, Josef S; WEINBLATT, Michael E.; WEISMAN, Michael Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. VASCONCELOS, José Tupinambá Sousa Beatriz O. Baena
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