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MASTITE BOVINA 1. O QUE É E QUAIS SÃO OS SEUS IMPACTOS PARA A PECUÁRIA LEITEIRA? A mastite bovina, ou mamite, consiste na inflamação do tecido da glândula mamária. Essa inflamação pode ocorrer devido a traumas, lesões no úbere e até mesmo devido a alguma agressão química. No entanto, a ocorrência deste quadro está ligada, na maioria das vezes, a contaminações por microrganismos de um ou mais quartos mamários via ducto do teto. A mastite geralmente é causada por bactérias, mas também pode ocorrer devido a fungos, algas ou leveduras. REAÇÃO DO SISTEMA IMUNE À MASTITE Em resposta a infecção pela mastite, o sistema imune envia células de defesa ao local acometido para combater a invasão no tecido. O estímulo lesivo da infecção e a ação das células de defesa levam ao aumento da resposta inflamatória tecidual que, além de eliminar o microrganismo invasor, visa também neutralizar toxinas produzidas pelos agentes infecciosos e restaurar o mais rápido possível o tecido mamário. A associação das células de defesa (leucócitos) com as células de descamação do epitélio da própria glândula mamária representa as células somáticas. A resposta do organismo da vaca frente a um estímulo lesivo no úbere ocasiona aumento da contagem de células somáticas (CCS) no leite. CÉLULAS SOMÁTICAS Como dito anteriormente, as células somáticas são compostas pelas células de descamação do epitélio da glândula mamária e pelas células de defesa do sistema imune que passam da corrente sanguínea para o leite. O aumento da CCS ocorre em casos de infecção/inflamação na glândula mamária. Nem sempre as alterações na CCS são apresentadas de forma clara. Nos casos de mastite subclínica, conforme o próprio nome já diz, não são vistas alterações clínicas relevantes. Por outro lado, nos casos de mastite clínica as alterações são perceptíveis, caracterizadas principalmente pela presença de grumos no leite e modificações no úbere da vaca, como dor, inchaço, vermelhidão e aumento de temperatura. MASTITE SUBCLÍNICA Conforme já dito, na mastite subclínica não é possível observar alterações no leite e no úbere do animal. No entanto, por ser uma infecção/inflamação da glândula mamária ela causa redução na produção de leite dos animais e pode acometer grande parte dos rebanhos. Além disso, podem ocorrer alterações na composição do leite, como nos níveis de gordura, proteína e lactose. O aumento significativo na contagem de células somáticas afeta diretamente a qualidade do leite e a bonificação paga por grande parte dos laticínios, causando queda no valor do litro de leite recebido pelo produtor. A mastite subclínica geralmente é causada por agentes contagiosos como o Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis, dentre outros. Na maioria dos casos é transmitida dos quartos mamários contaminados para os sadios durante o processo de ordenha, seja pelas mãos dos ordenhadores ou pelo uso compartilhado de toalhas e teteiras contaminadas. COMO DIAGNOSTICAR A MASTITE SUBCLÍNICA? Algumas ferramentas têm sido utilizadas para mensurar os valores da CCS e identificar os animais portadores de mastite subclínica. Atualmente, a contagem eletrônica individual da CSS é o exame mais utilizado para o diagnóstico da mastite subclínica, sendo que valores acima de 200 mil células/mL indicam um comprometimento da saúde do úbere (método quantitativo). Exames como o CMT (California Mastitis Test) permitem identificar de maneira mais subjetiva a doença subclínica, devido ser baseado em uma análise visual da reação que ocorre entre o leite e o reagente no momento do exame (método qualitativo). Uma vez identificada a mastite subclínica, torna-se interessante conhecermos o perfil do agente que está ocasionando a infecção. Nesse sentido, a cultura microbiológica do leite representa uma importante ferramenta para identificação dos patógenos e direcionamento dos tratamentos. Por ser uma doença subclínica e necessitar de ferramentas específicas de diagnóstico, a mastite subclínica é muitas vezes negligenciada pelo produtor, acarretando em importantes prejuízos ao sistema de produção. MASTITE CLÍNICA Consiste na forma da doença em que é possível observar alterações nas características do leite, na glândula mamária e até mesmo no comportamento do animal. Nas vacas com mastite clínica é possível observar a presença de grumos no leite e alterações no úbere como inchaço, aumento de temperatura local, vermelhidão, aumento da sensibilidade dolorosa e até endurecimento dos quartos mamários acometidos. Nos casos mais graves os animais podem apresentar um comprometimento geral do estado clínico, ocorrendo alguns sintomas como apatia, prostração, febre, desidratação e redução do apetite. Os animais com mastite clínica grave podem vir a óbito em situações onde os casos não são atendidos de forma rápida e adequada. PERDAS ECONÔMICAS CAUSADAS PELA MASTITE A mastite é uma doença que ocasiona grandes impactos negativos no sistema de produção de leite com perdas econômicas importantes. Dentre os gastos estão os custos com medicamentos para o tratamento de casos clínicos, descarte e morte de animais precocemente, custos com mão de obra, descarte do leite acometido e redução de produção dos animais doentes. Devemos ter a consciência de que a redução da produção de leite dos animais doentes é o principal prejuízo da doença, sendo que muitas vezes não vemos essa redução que pode ir de 10 a 30%! De forma específica, os prejuízos devido a mastite clínica envolvem descarte de leite, redução da produção a curto e longo prazo, custos com medicamentos e risco de antibiótico no leite. Já os prejuízos decorrentes da mastite subclínica são referentes a redução na produção de leite, sendo que esta forma de manifestação da doença representa cerca de 90 a 95% dos casos. Nos Estados Unidos estima-se que o custo por caso de mastite seja de aproximadamente U$ 185/vaca/ano. Já na Europa a estimativa é de que este custo esteja por volta de € 190/vaca/ano. Em um estudo realizado no Brasil observou-se que a mastite subclínica foi responsável por uma redução de 17% no volume de produção de leite, representando uma perda de 2,4 bilhões de litros de leite/ano. CONTROLE DA MASTITE Para se alcançar sucesso no programa de controle da mastite é muito importante que os envolvidos na melhoria da qualidade do leite entendam cada etapa do processo, estejam abertos a receber treinamentos e percebam os benefícios que as ferramentas fornecem para o dia-a-dia no manejo dos animais. É essencial que durante o programa de controle exista um monitoramento periódico dos resultados obtidos. O programa de 6 pontos de controle da mastite retrata ações fundamentais a serem realizadas para reduzir a ocorrência da doença. São eles: Higiene e conforto dos animais; Rotina de ordenha adequada; Tratamento dos casos clínicos de mastite com antimicrobianos (de preferência orientado pelo patógeno envolvido); Terapia de vaca seca; Limpeza e manutenção dos equipamentos de ordenha; Segregação e descarte dos casos crônicos. Todas as medidas de controle visam reduzir o impacto econômico e os custos e, consequentemente, aumentar o lucro do produtor. O foco fica em prevenir novos casos de mastite e reduzir a duração dos casos existentes. 2. PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE MASTITE: SAIBA QUAIS SÃO E COMO PREVENI-LOS Assim como ocorre com outras doenças, definir o tratamento assertivo para a mastite depende de alguns fatores, como: O conhecimento do agente; Histórico de mastite da vaca; Dados de contagem de células somáticas (CCS); Produção de leite; Status reprodutivo; DEL. Um estudo publicado em 2018 identificou que apenas 20% a 30% dos casos de mastiteclínica leve (presença de alterações visíveis no leite) se beneficiaram com o uso de antimicrobiano, reforçando a importância de conhecermos os dados de cada caso para as tomadas de decisão. Ainda mais importante que definir as estratégias com as vacas doentes, é atuar de forma preventiva para reduzir os riscos de mastite e contaminação das vacas sadias. Sendo assim, conhecer os patógenos presentes no rebanho e suas principais características são partes fundamentais nesse controle. Dentre os agentes causadores de mastite, em média, 95% são bactérias, enquanto os demais casos são causados por fungos, leveduras e algas. Vamos conhecê-los um pouco mais! Existem várias formas de classificar esses patógenos, sendo a estratificação com base no comportamento etiológico dos agentes a mais comum. AGENTES CONTAGIOSOS Os agentes contagiosos são aqueles cujo reservatório principal é a vaca (pele dos tetos e úbere). A transmissão desses agentes ocorre durante a ordenha, tanto pelas mãos dos ordenhadores quanto pelo equipamento de ordenha. Sendo assim, manter o equipamento de ordenha em bom funcionamento, com manutenções preventivas e corretivas em dia, além de garantir uma boa rotina de ordenha, são pontos fundamentais no controle e prevenção desses agentes no rebanho. Dentre os principais agentes contagiosos temos o Corynebacterium bovis, Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Mycoplasma spp. Corynebacterium bovis Bactéria gram positiva; Habitante do canal do teto; De característica contagiosa, porém pouco patogênica; Alta taxa de cura na terapia da vaca seca. Staphylococcus aureus Bactéria gram positiva; Formação de fibrose e micro abscessos, com eliminação intermitente no leite, sendo necessárias coletas seriadas para identificação do agente; Capaz de formar biofilme, sendo baixa a taxa de cura espontânea e de tratamentos durante a lactação; Taxa de cura é maior para casos de novilhas e vacas em início de lactação, sendo usual a terapia estendida; Moscas, peles e mãos dos ordenhadores podem atuar como fonte de transmissão. Streptococcus agalactiae Bactéria gram positiva; Maioria dos casos são subclínicos com aumento de CCS acima de 1 milhão de células/ml; Sensível a penicilina e cefalosporinas, com taxas de cura próximas a 100% em protocolos de 3 dias; Agente altamente contagioso e de rápida disseminação no rebanho, sendo recomendada realização de tratamento para os casos clínicos e subclínicos; Agente possível de ser erradicado do rebanho ao seguir protocolos de tratamento, biosseguridade e segregação das vacas positivas. Mycoplasma spp. Bactéria sem parede celular; Não crescem em meio de cultura tradicional, sendo recomendada técnicas como PCR para seu diagnóstico; Não respondem a tratamentos com antimicrobianos; Agente capaz de migrar via hematógena para outros órgãos e ser transmitido via aerossol, podendo causar quadros de otite, artrite e pneumonia em vacas e bezerros; Seu controle está relacionado a identificação e ações de biosseguridade como o descarte de animais positivos. AGENTES AMBIENTAIS Os patógenos ambientais são aqueles cujo reservatório principal é o ambiente. A transmissão desses agentes ocorre principalmente entre ordenhas e seu controle está relacionado a reduzir a exposição dos tetos a esses agentes, através dos manejos no ambiente de permanência das vacas e rotina de ordenha, garantindo tetos limpos e desinfetados. Dentre os principais agentes ambientais temos a Escherichia coli, Klebsiella spp. e Streptococcus uberis. Escherichia coli Bactéria gram negativa; Associada a mastites severas – maior patogenicidade e resposta imunológica intensa; Alta taxa de cura espontânea, podendo chegar a mais de 80%; Frequentemente isolado em mastites no período seco e início de lactação; Apresenta-se na forma clínica com curta duração, na maioria dos casos sem necessidade de tratamento antimicrobiano. Klebsiella spp. Bactéria gram negativa; Fatores de risco para o agente incluem sujidade do úbere, manejo inadequado do ambiente de permanência das vacas e tetos com hiperqueratose; Geralmente associada a casos crônicos e aumento de CCS; Pouco responsiva a tratamento com antimicrobianos, sendo recomendada a terapia no momento da secagem; Terapias utilizando cefalosporinas possuem taxa de cura próxima a 60%. Streptococcus uberis Bactéria gram positiva; Frequentemente isolado em mastites no período seco e início de lactação; Caracterizado como agente ambiental, podendo ser transmitido vaca-a-vaca na ordenha; Sensíveis a penicilinas e cefalosporinas; Terapia estendida (5 a 8 dias) para os casos clínicos aumentam a taxa de cura. OUTROS AGENTES CAUSADORES Além dos agentes descritos acima, outros agentes comumente associados a casos de mastite são os considerados “Staphylococcus não aureus”. São bactérias gram positivas e oportunistas. Habitam a pele e canal dos tetos, sendo pouco patogênicas e com altas taxas de cura espontânea e em terapias durante a secagem e lactação. Outros agentes preocupantes no controle da mastite são agentes refratários. São patógenos não responsivos a tratamentos e que estão presentes na água e matéria orgânica. Alguns exemplos desses agentes incluem Serratia (bactéria gram negativa), Pseudomonas (bactéria gram negativa), Prototheca (alga) e leveduras. PRINCIPAIS PONTOS DE CONTROLE DOS AGENTES Agentes contagiosos Rotina de ordenha com foco em uso de luvas e desinfecção dos tetos após a ordenha; Bom funcionamento do equipamento de ordenha; Diagnóstico de CCS ou CMT; Segregação de vacas crônicas e com agentes contagiosos; Estratégias no tratamento de casos clínicos e subclínicos; Terapia da vaca seca; Descarte de animais; Biosseguridade. Agentes ambientais Manejo do ambiente para reduzir acúmulo de matéria orgânica e umidade; Rotina de ordenha com foco em limpeza e desinfecção dos tetos antes da ordenha; Diagnóstico de CCS ou CMT; Estratégias no tratamento de casos clínicos e subclínicos; Terapia da vaca seca. CONCLUSÃO Ao conhecer um pouco mais sobre os principais agentes relacionados aos casos de mastite, notamos a importância do diagnóstico para a decisão de tratamento e como medidas simples que podem ser feitas diariamente na propriedade podem contribuir para a redução da transmissão dos agentes e contaminação das vacas. Para isso, é indispensável a definição das rotinas e padronização dos processos junto aos funcionários do setor, além de trabalhar nos pontos de controle da mastite. 3. USO DA CULTURA MICROBIOLÓGICA DO LEITE NO CONTROLE DA MASTITE Dentre os pontos de controle da mastite, a cultura microbiológica do leite é uma ferramenta fundamental pois permite a identificação dos microrganismos responsáveis pelos casos de mastite clínica e subclínica no rebanho, auxiliando nas tomadas de decisões de maneira assertiva. A técnica consiste em coletar amostras de leite e semear em placas com meio de cultura seletivo que favorecem o crescimento dos micro-organismos para a correta identificação, seja em laboratórios, seja na própria fazenda. Para que essa ferramenta possa auxiliar na rotina das propriedades leiteiras é muito importante que a coleta seja feita corretamente, reduzindo assim os riscos de contaminação das amostras. PASSO A PASSO PARA A COLETA DE AMOSTRAS DE LEITE 1. Os cuidados com a coleta se iniciam na preparação dos tetos através dos procedimentos de rotina de ordenha. 2. É fundamental o uso de luvas limpas, além de realizar o teste da caneca, a imersão dos tetos com solução pré- dipping com ação de 30 segundos e a secagem da lateral e ponta dos tetos utilizandopapel toalha, garantindo tetos limpos para a coleta. 3. Após a preparação dos tetos, é necessário desinfetar a ponta do teto utilizando gaze ou algodão com álcool 70%. Caso a coleta seja feita em mais de um teto, cada teto deve ser desinfetado com uma gaze ou algodão, iniciando o procedimento dos tetos mais distantes para os tetos mais próximos, reduzindo os riscos de contaminação. 4. A coleta deve ser feita utilizando tubos estéreis. Nesse momento é importante evitar o contato da tampa do tubo com sujidades, além de evitar o contato dos tetos com o tubo de coleta. Realizar a coleta com o frasco inclinado, como mostra a figura abaixo, reduz o risco de contato da amostra com sujidades do úbere. 5. Caso a coleta seja feita em mais de um teto (amostra composta), é recomendada que a coleta seja realizada primeiramente nos tetos mais próximos e posteriormente nos tetos mais distantes. Vale ressaltar que para os casos de mastite clínica, a recomendação é realizar uma coleta para cada teto. 6. Após a coleta, deve-se identificar o tubo (vaca e quarto mamário) e manter a amostra refrigerada até o processamento. CASOS DE MASTITE CLÍNICA A utilização da cultura microbiológica para os casos de mastite clínica, ou seja, quando há presença de alterações visíveis no leite, tem se tornado cada vez mais usual na rotina das fazendas leiteiras. Isso porque, com a identificação do agente causador da mastite dentro de 24 horas, é possível definir a necessidade ou não de tratamento antimicrobiano e a duração do tratamento, reduzindo assim o uso de antimicrobianos e dos custos relacionados aos medicamentos e descarte de leite. Outro ponto importante é que a cultura dos casos de mastite clínica auxilia na identificação do perfil de patógenos do rebanho para tomadas de decisão, se tornando uma ferramenta ainda mais relevante no controle da mastite e qualidade do leite. Resultados de pesquisa mostram que em média 30% dos casos de mastite clínica apresentam resultado de cultura negativa, ou seja, sem crescimento de patógenos e consequentemente, sem necessidade de tratamento antimicrobiano. Além disso, alguns agentes ambientais como os coliformes, apresentam alta taxa de cura espontânea, contribuindo para a redução dos tratamentos, sendo comum encontrar propriedades cujo uso de medicamentos para mastite clínica reduziu em 50%. Para os resultados de cultura positiva, a decisão do tratamento e sua duração variam conforme o patógeno. Sabe-se que a terapia prolongada (5 a 8 dias) pode auxiliar na taxa de cura de mastites causadas por Streptococcus ambientais, por exemplo, enquanto outros agentes como o S. agalactiae possui boa taxa de cura com terapia de 3 dias. Vale lembrar que a decisão de tratamento dos casos de mastite clínica envolve outros aspectos além do resultado da cultura microbiológica, como: A severidade do caso de mastite (grau 1, grau 2 e grau 3); O histórico da vaca; Casos de mastite anterior; Contagem de Células Somáticas (CCS); DEL; Produção de leite. CASOS DE MASTITE SUBCLÍNICA Outra finalidade da cultura microbiológica é realizar a coleta de amostras compostas (quatro quartos) de todas as vacas em lactação ou de vacas ou quartos de alta CCS, para identificação dos patógenos prevalentes no rebanho e definição de plano de ação de acordo com os agentes identificados. Essas coletas podem ser realizadas seguindo o histórico de CCS ou CMT do rebanho. Podemos realizar a cultura microbiológica para definir o perfil de patógenos que estão causando novas infecções, ou seja, vacas com CCS menor que 200 mil células/ml no mês anterior e CCS maior que 200 mil células/ml no mês atual. Outra possibilidade é identificar vacas crônicas, ou seja, com CCS maior que 200 mil células/ml por 2 a 3 meses consecutivos, e realizar a cultura microbiológica para identificar os patógenos causadores de infecções de longa duração. OUTROS CASOS A ferramenta da cultura microbiológica pode ser uma excelente aliada da sanidade e biosseguridade do rebanho, através da identificação dos patógenos em vacas de compra, evitando a entrada de patógenos como o S. aureus e S. agalactiae, cuja transmissão acontece de forma rápida no rebanho. A realização de coleta de amostras em vacas no pós parto também é uma opção bastante interessante, uma vez que podemos identificar pontos de melhoria nos manejos de secagem e ambiente do pré parto, identificar a presença de agentes contagiosos e casos de primíparas com S. aureus. CONSIDERAÇÕES Identificar os patógenos presentes no rebanho e definir as estratégias de acordo com os desafios encontrados na propriedade são passos fundamentais para o controle da mastite, melhoria na saúde da glândula mamária e qualidade do leite. Esses patógenos podem trazer grandes prejuízos financeiros ao produtor. Quer saber como preveni-los? Conheça as principais estratégias com o artigo: “Patógenos causadores de mastite: quem são eles e como preveni-los“. 4. CONTROLE DE MASTITE E QUALIDADE DO LEITE: PRINCIPAIS PONTOS DE ATUAÇÃO A infecção da glândula mamária, órgão diretamente responsável pela produção do leite, reduz a capacidade produtiva e a qualidade do leite produzido. Não é à toa, portanto, que a mastite é geralmente a doença que ocasiona os maiores prejuízos na atividade. Vários são os agentes que podem causar mastite, mas o Staphylococcus aureus é, sem dúvida alguma, o principal deles, demandando grandes esforços e conhecimento para o seu controle. O S. aureus tem a capacidade de colonizar o epitélio dos tetos, principalmente se a pele se encontra lesada ou ressecada. Uma vez dentro da glândula mamária, o S. aureus segue um padrão longo de infecção, levando a um aumento significativo da contagem de células somáticas (CCS) e causando graves lesões, que irão reduzir a qualidade do leite e o potencial produtivo da glândula mamária. Figura 1 – Esquema ilustrativo da infecção intramamária por Staphylococcus aureus Na Figura 1, é possível identificar os diferentes estágios da infecção dentro da glândula mamária. O início ocorre com a adesão da bactéria aos tecidos da glândula (A), migração de glóbulos brancos (células somáticas) para dentro da glândula (C), obstrução das vias de drenagem por coágulos de leite e destruição do tecido que fica incapaz de produzir leite (F). Figura 2 – Visualização macroscópica das lesões da glândula mamária em casos crônicos de mastite A Figura 2 demonstra, macroscopicamente, a capacidade destruidora desse agente e o enorme prejuízo que pode causar deixando glândulas mamárias improdutivas. DIAGNÓSTICO DA MASTITE O S. aureus se comporta de forma contagiosa, passando de animal para animal no momento da ordenha. Como em qualquer doença de comportamento contagioso, a identificação dos animais infectados é fundamental para o seu controle. O S. aureus causa, na maioria das vezes, mastite subclínica de longa duração com ocorrência de casos clínicos esporádicos. Portanto, o monitoramento mensal da contagem de células somáticas das vacas em lactação é de grande importância. Pode sugerir a presença e o comportamento do agente no rebanho, como por exemplo, sua introdução, disseminação ou controle. No entanto, em vista da existência de outros agentes que se comportam da mesma forma, o isolamento através do cultivo microbiológico do leite é fundamental. Para isso, amostras de leite devem ser coletadas de maneira asséptica, congeladas e enviadas para laboratório de microbiologia. Uma parcela considerável das amostras enviadas geram resultados falso-negativos, já que S. aureus muitas vezes são eliminados de forma cíclica ou em baixo número na glândula mamária. Portanto, 3 amostras semanais de cada animal são necessárias para identificação eficiente de todasas vacas infectadas por S. aureus. CONTROLE DA MASTITE Os pontos fundamentais de atuação para o controle da mastite contagiosa são: Rotina higiênica de ordenha, focando na desinfecção dos tetos após a ordenha (pós- dipping); Funcionamento adequado do equipamento de ordenha; Terapia de vaca seca (TVS) em todos os quartos mamários; Segregação e/ou linha de ordenha; Tratamento de casos clínicos e alguns subclínicos; Descarte de animais com infecção crônica; Melhoria do “status” imunológico dos animais via redução de estresse, suplementação adequada de vitaminas e minerais ou mesmo vacinações. Para um eficiente controle do S. aureus em rebanhos leiteiros é fundamental que todos esses pontos sejam implementados e gerenciados rotineiramente nas propriedades leiteiras, além da orientação técnica de um profissional competente, levando a um comprometimento de toda a equipe vinculada ao sistema produtivo. PÓS-DIPPING A imersão dos tetos com produto germicida logo após a ordenha é fundamental para evitar que microrganismos contagiosos como o S.aureus se instalem na superfície dos tetos ou no canal do teto. Portanto, toda a superfície dos tetos deve ser coberta pelo produto a fim de reduzir a população de S. aureus no rebanho e, por consequência, reduzir a ocorrência de novas infecções. SEGREGAÇÃO / LINHA DE ORDENHA Identificar os animais infectados e ordenhá-los após os animais sadios é fundamental para o controle do S.aureus. A glândula mamária infectada é o principal reservatório deste agente no sistema e sua disseminação ocorre no momento da ordenha. Portanto, separar os animais doentes para o final da ordenha evita a ocorrência de novas infecções. TERAPIA COM ANTIBIÓTICOS O S. aureus é um agente invasivo, que se aloja em áreas profundas da glândula, geralmente com formação de microabscessos. Nessas áreas, a penetração do antibiótico é geralmente reduzida, o que dificulta a eliminação desse agente via antibioticoterapia. Além disso, o S. aureus é, geralmente, resistentes a alguns antimicrobianos (especialmente β-lactâmicos). Portanto, a eliminação de infecções intramamárias de S. aureus pelo tratamento com antibióticos durante a lactação, normalmente, é antieconômica e de baixa eficácia. Por outro lado, o tratamento com antibióticos na secagem do animal (terapia de vaca seca -TVS) permite a infusão de um produto de maior duração na glândula, o que aumenta a eficiência do tratamento. Taxas de cura giram em torno de 20 a 85% e, portanto, a infusão de todos os quartos de todas as vacas na secagem é um método essencial para o controle do S. aureus. Uma estratégia interessante e comprovada por nossa equipe recentemente se refere à associação de uma vacina contra S. aureus à terapia de vaca seca. Essa associação aumentou a taxa de cura em 48% se comparada à TVS sozinha (Figura 3). Figura 3 – Taxa de cura pós-parto de quartos mamários de vacas submetidas ou não à vacinação na secagem em associação à terapia de vaca seca (TVS) Em resumo, diagnosticar e controlar a mastite por S. aureus são tarefas difíceis e que exigem orientação e dedicação. Não raramente, temos encontrado propriedades que revelaram o controle desse agente durante os anos, chegando, em certos casos, a prevalências superiores a 50% no rebanho. Em um cenário futuro, onde a qualidade do leite estará interferindo cada vez mais na remuneração do produtor, relevar o controle desse agente hoje pode trazer perdas econômicas irreparáveis e até mesmo inviabilizar muitas propriedades. 5. USO CONSCIENTE DE ANTIMICROBIANOS NO CONTROLE DA MASTITE BOVINA O controle da mastite é fundamental para que o produtor tenha boa lucratividade na produção de leite. Ela é considerada a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo, proporcionando as maiores perdas econômicas na pecuária de leite. Além disso, a mastite clínica foi reconhecida como a razão mais frequente para o uso de antibióticos em gado leiteiro, sendo responsável por até 62% do uso total de antimicrobianos. Os antimicrobianos são compostos químicos capazes de matar ou inibir o crescimento de microrganismos. O primeiro relato do uso de antimicrobianos na medicina veterinária foi para o tratamento de mastite em vacas leiteiras. Essas drogas podem ser usadas de formas diferentes. O uso de antimicrobianos para o tratamento de casos já existentes de mastite, por exemplo, é considerado como uso terapêutico. Em casos específicos, essas drogas podem ser usadas para mais de uma finalidade, como no caso da terapia de vacas secas, cujo objetivo é curar infecções intramamárias existentes (terapêutico) e prevenir novas infecções (profilático). O uso irracional de antimicrobianos tende a influenciar a geração ou seleção de patógenos resistentes, sendo que a resistência bacteriana atualmente é uma das maiores preocupações globais. Diante deste cenário e da crescente pressão do mercado consumidor, medidas devem ser adotadas a fim do uso racional dos antimicrobianos. IMPACTOS ECONÔMICOS GERADOS PELA MASTITE NA PECUÁRIA LEITEIRA A mastite bovina consiste na inflamação da glândula mamária, sendo causada por uma grande variedade de agentes, incluindo bactérias, leveduras, fungos e algas. Os impactos negativos dessa doença são vistos principalmente na produção de leite, reduzindo o volume produzido e aumentando o custo de produção devido ao uso de medicamentos, como antibióticos e anti- inflamatórios, para prevenção e tratamento. Além disso, é comum que os prejuízos relacionados ao descarte de leite, descarte precoce de animais e morte, por exemplo, não sejam computados no real impacto econômico gerado pela mastite. A falta de orientação técnica e a carência de profissional qualificado são as principais causas desta falha de gestão. Os prejuízos com descarte de leite por alteração e/ou presença de resíduos após tratamento, bem como os gastos com a compra de medicamentos somam 16% dos custos totais relacionados à mastite. Estudos mostram que os custos da mastite nos Estados Unidos para prevenção e tratamento somaram aproximadamente US$185/vaca/ano. Recentemente, estimou-se as perdas financeiras para mastite clínica durante os primeiros 30 dias de lactação em US$444 por caso, contabilizando diagnósticos, custos com antimicrobianos, leite não comercializável, custos veterinários, redução na produção de leite e perdas reprodutivas, além dos custos com reposição. CULTURA MICROBIOLÓGICA NA FAZENDA O uso consciente de antimicrobianos para o controle da mastite requer a participação de todas as partes envolvidas na atividade, incluindo proprietários, colaboradores e médicos veterinários. Pensando nisso, conduzir os tratamentos dos casos de mastite baseando-se na cultura microbiológica do leite possui a capacidade de reduzir o uso de antimicrobianos, levando a menores riscos de resíduos, custos de tratamento e descarte de leite. Por meio da cultura microbiológica é possível avaliar qual agente está causando a mastite e, dessa forma, atuar de forma rápida e precisa sobre qual antibiótico usar para cada caso e até mesmo decidir pelo não tratamento, dependendo do agente etiológico. Alguns estudos relatam que entre 30 e 50% das culturas de mastite clínica não apresentam crescimento de bactérias, não justificando assim o tratamento com antimicrobianos. Além disso, grande proporção das infecções causadas por patógenos gram negativos são rapidamente eliminadas pelo próprio sistema imunológico da vaca. TERAPIA SELETIVA DE VACAS SECAS A terapia de vaca seca é um método bastante utilizado pelos produtores de leite durante a secagem das vacas para o tratamento de infecções intramamárias existentes e prevenção de novos casos de mastite. Neste método, utiliza-se bisnagasde antimicrobiano de amplo espectro em cada quarto mamário, geralmente associado à posterior aplicação de selante de teto. Nos últimos tempos, a terapia seletiva de vaca seca tem ganhado forças como uma alternativa que visa a redução do uso de antimicrobianos, promovendo a avaliação da necessidade de tratamento durante a secagem de cada vaca em específico. Os principais critérios considerados na terapia seletiva de vaca seca são o histórico da contagem de células somáticas (CCS) e mastite clínica durante a lactação e o resultado da cultura microbiológica durante a secagem. Atualmente, poucos rebanhos conseguem preencher estes critérios e implementar este tipo de terapia, o que faz com que poucos produtores a adotem. No Brasil, estima-se que a média de CCS seja de aproximadamente 550 mil células/mL e que 45% das vacas apresentam mastite subclínica no momento da secagem. Portanto, nesta realidade, o uso de antimicrobianos configura uma prática indispensável dentro de um conceito de controle de mastite. CONCLUSÃO Frente à realidade de resistência bacteriana aos antimicrobianos em uso e da pressão atual do mercado consumidor, a racionalização do uso desses medicamentos torna-se uma questão urgente na pecuária leiteira. A mastite é um dos principais eventos nos quais os antibióticos são mais utilizados. Analisar de forma segura e detalhada cada situação permite que a melhor decisão seja tomada, podendo reduzir sua utilização e os custos com tratamento por animal na propriedade. Alternativas como cultura microbiológica do leite e terapia seletiva de vacas secas auxiliam no tratamento direcionado dos casos e uso consciente dos antimicrobianos. 6. MASTITE SUBCLÍNICA: O QUE FAZER E COMO TRATAR “Após identificar a mastite subclínica através do teste de CMT ou CCS eletrônica, devo realizar análise microbiológica do leite? Em qual cenário é necessário entrar com tratamento para essa mastite clínica com a vaca ainda em lactação?” IDENTIFICAÇÃO DA MASTITE SUBCLÍNICA Com os testes de CMT (California Mastitis Test) ou CCS (Contagem de Células Somáticas) eletrônica, podemos identificar as vacas que têm mastite subclínica. A partir da identificação desses animais, podemos tomar algumas medidas, como: Segregação do animal; Fazer uma linha de ordenha; Destinar o leite desse animal para consumo dos bezerros. Essas ações vão fazer com que o leite da vaca com mastite subclínica não vá direto para o tanque ou que isolemos esses animais em um grupo de vacas que também têm a mastite subclínica. E O QUE MAIS PODE SER FEITO? “Além disso, esse animal que tem mastite subclínica, principalmente as vacas que têm mastite subclínica em mais de uma coleta, ou seja, que na coleta passada e na coleta atual têm uma CCS acima de 200.000 e, portanto, é considerada uma vaca crônica, são animais que possivelmente irão apresentar um resultado positivo quando eu fizer uma cultura microbiológica do leite. São animais que são economicamente mais viáveis da gente separar o leite, mandar para um laboratório ou fazer a cultura dentro da própria fazenda e, assim, identificar quais bactérias estão causando a mastite subclínica.”, explica o especialista Nathan Fontoura. Se for identificada uma bactéria Gram-positiva, como um Streptococcus agalactiae ou um Streptococcus dysgalactiae, que tem um comportamento de contagioso, temos visto resultados em trabalhos científicos, e também na prática, que comprovam a viabilidade econômica do tratamento desse animal ainda na lactação. Porém, algumas outras bactérias com Staphylococcus aureus, Pseudomonas e inúmeros outros microrganismos como algas e leveduras, não vão responder ou vão responder muito pouco ao tratamento durante a lactação e também no período seco, não sendo economicamente viável o tratamento desses animais. Resumindo, a CCS eletrônica e o CMT podem ser uma pré-informação para selecionar as vacas nas quais iremos realizar a cultura microbiológica para termos uma correta tomada de decisão de tratar ou não aquele animal durante a lactação. Porém, só podemos tomar essa decisão de maneira assertiva após o resultado da cultura microbiológica, para saber se o tratamento daquele animal é economicamente viável ou não. 7. POSSO DEIXAR DE TRATAR A MASTITE BOVINA? SAIBA EM QUAIS CASOS ISSO É POSSÍVEL Quais mastites eu poderia deixar de tratar, esperando que haja uma cura do animal? A cultura microbiológica consiste em uma ferramenta na qual coletamos uma amostra do leite do animal e levamos para uma estufa, que fica na própria fazenda. Em menos de 24 horas, temos o resultado do cultivo dessa amostra, identificando os microrganismos presentes ali. Com as placas mais modernas, chamadas placas cromogênicas, no resultado dessa cultura, podemos identificar até mesmo a espécie bacteriana que temos no leite analisado. Com esse resultado em mãos, podemos decidir com segurança como devemos proceder: Se devemos tratar; Se devemos não tratar; Se devemos direcionar um tratamento mais específico para os micro-organismos identificados na amostra. E em quais casos poderíamos deixar de tratar a mastite, contando que o animal tenha uma cura clínica, bacteriológica e, consequentemente, uma redução da CCS (contagem de células somáticas) no teto acometido? 1. Principalmente e obrigatoriamente casos de mastite nos quais não há mais crescimento bacteriano ou microbiológico, ou seja, naqueles em que não há mais envolvimento daquela bactéria ou microrganismo no caso clínico. O que estamos vendo ali são resquícios da reação inflamatória provocada pelo agente microbiológico. Mas lembre-se! Esse leite ainda tem uma alta contagem de CCS e, portanto, mesmo não tratando a vaca, ele deve ser destinado ao descarte. Caso contrário, ele irá contaminar o leite do tanque. 2. Quando identificamos na cultura microbiológica bactérias Gram-negativas. No entanto, algumas bactérias Gram-negativas, como a Klebsiella, têm uma resposta razoável ao tratamento e é economicamente viável tratá-las. Portanto, se pudermos identificar a espécie presente na amostra, deixaríamos de tratar principalmente as mastites causadas por Escherichia coli. CONSIDERAÇÕES FINAIS Deixando de tratar as mastite causadas pela E. coli e as mastites nas quais não houve crescimento microbiológico na cultura em uma fazenda em que as bactérias do grupo contagioso estão controladas, podemos deixar de tratar até 50% dos casos de mastite que acometem o rebanho, conclui o Prof. Nathan Fontoura. 8. COMO TRATAR UMA VACA COM MASTITE? Devo fazer o tratamento com antibiótico imediatamente quando for diagnosticada a mastite? Pois o período de carência é grande e provavelmente esse leite vai ser descartado e o produtor vai ficar no prejuízo. Como minimizar esse prejuízo? “A vaca deu mastite? Algo tem que ser feito.”, afirma o especialista Prof. Nathan Fontoura. Primeiramente, o leite dessa vaca não pode mais ser jogado para o tanque e ser misturado com o leite saudável das demais vacas. Por quê? 1. Porque esse leite não é próprio para consumo humano 2. Porque esse leite tem altíssima CCS e alterações em sua composição, o que também afetaria a média do leite bom da fazenda. Sobre o tratamento ou não, o correto hoje é que a gente tenha uma ferramenta que se chama cultura microbiológica na fazenda. O ideal é que realizemos a cultura do leite do animal na própria fazenda. 24 horas após a realização dessa cultura, fazemos a leitura do resultado e aí sim, tenho a resposta correta se o animal deve ser tratado ou não. Hoje em dia, cerca de 50% a 60% dos casos de mastite que temos encontrado nas fazendas no Brasil não precisam ser tratados. Porém, se eu não tenho a ferramenta de cultura microbiológica disponível na fazenda,ou se eu não tenho acesso a esse tipo de ferramenta, aí preciso tratar 100% dos casos, e de maneira mais rápida. PREJUÍZO PARA O PRODUTOR O maior prejuízo é se ele não tratar esse animal que precisa de tratamento e o animal diminuir sua produção. Para cada caso clínico que o animal tem na lactação, o animal perde, em média, 200 litros de leite no restante da lactação caso tenhamos uma cura clínica e microbiológica perfeita, dentro do desejado. Caso não tenhamos essa cura da maneira correta, provavelmente, a perda de produção de leite nesse animal vai ser ainda maior. Então, ao invés de perder 150, 200 litros, pode perder 250, 400, 500 litros de leite ou até mesmo o quarto mamário pode ser perdido como um todo. Portanto, se eu não tenho a ferramenta de cultura microbiológica na fazenda, eu devo iniciar imediatamente o tratamento desse animal com o protocolo mais recomendado, deixado pelo veterinário na fazenda. Caso eu tenha acesso à cultura microbiológica, em até 24 horas eu tenho a correta resposta se devo tratar ou não e qual é o tratamento mais adequado naquele caso clínico. 9. USO CONSCIENTE DE ANTIMICROBIANOS NO CONTROLE DA MASTITE BOVINA O controle da mastite é fundamental para que o produtor tenha boa lucratividade na produção de leite. Ela é considerada a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo, proporcionando as maiores perdas econômicas na pecuária de leite. Além disso, a mastite clínica foi reconhecida como a razão mais frequente para o uso de antibióticos em gado leiteiro, sendo responsável por até 62% do uso total de antimicrobianos. Os antimicrobianos são compostos químicos capazes de matar ou inibir o crescimento de microrganismos. O primeiro relato do uso de antimicrobianos na medicina veterinária foi para o tratamento de mastite em vacas leiteiras. Essas drogas podem ser usadas de formas diferentes. O uso de antimicrobianos para o tratamento de casos já existentes de mastite, por exemplo, é considerado como uso terapêutico. Em casos específicos, essas drogas podem ser usadas para mais de uma finalidade, como no caso da terapia de vacas secas, cujo objetivo é curar infecções intramamárias existentes (terapêutico) e prevenir novas infecções (profilático). O uso irracional de antimicrobianos tende a influenciar a geração ou seleção de patógenos resistentes, sendo que a resistência bacteriana atualmente é uma das maiores preocupações globais. Diante deste cenário e da crescente pressão do mercado consumidor, medidas devem ser adotadas a fim do uso racional dos antimicrobianos. IMPACTOS ECONÔMICOS GERADOS PELA MASTITE NA PECUÁRIA LEITEIRA A mastite bovina consiste na inflamação da glândula mamária, sendo causada por uma grande variedade de agentes, incluindo bactérias, leveduras, fungos e algas. Os impactos negativos dessa doença são vistos principalmente na produção de leite, reduzindo o volume produzido e aumentando o custo de produção devido ao uso de medicamentos, como antibióticos e anti- inflamatórios, para prevenção e tratamento. Além disso, é comum que os prejuízos relacionados ao descarte de leite, descarte precoce de animais e morte, por exemplo, não sejam computados no real impacto econômico gerado pela mastite. A falta de orientação técnica e a carência de profissional qualificado são as principais causas desta falha de gestão. Os prejuízos com descarte de leite por alteração e/ou presença de resíduos após tratamento, bem como os gastos com a compra de medicamentos somam 16% dos custos totais relacionados à mastite. Estudos mostram que os custos da mastite nos Estados Unidos para prevenção e tratamento somaram aproximadamente US$185/vaca/ano. Recentemente, estimou-se as perdas financeiras para mastite clínica durante os primeiros 30 dias de lactação em US$444 por caso, contabilizando diagnósticos, custos com antimicrobianos, leite não comercializável, custos veterinários, redução na produção de leite e perdas reprodutivas, além dos custos com reposição. CULTURA MICROBIOLÓGICA NA FAZENDA O uso consciente de antimicrobianos para o controle da mastite requer a participação de todas as partes envolvidas na atividade, incluindo proprietários, colaboradores e médicos veterinários. Pensando nisso, conduzir os tratamentos dos casos de mastite baseando-se na cultura microbiológica do leite possui a capacidade de reduzir o uso de antimicrobianos, levando a menores riscos de resíduos, custos de tratamento e descarte de leite. Por meio da cultura microbiológica é possível avaliar qual agente está causando a mastite e, dessa forma, atuar de forma rápida e precisa sobre qual antibiótico usar para cada caso e até mesmo decidir pelo não tratamento, dependendo do agente etiológico. Alguns estudos relatam que entre 30 e 50% das culturas de mastite clínica não apresentam crescimento de bactérias, não justificando assim o tratamento com antimicrobianos. Além disso, grande proporção das infecções causadas por patógenos gram negativos são rapidamente eliminadas pelo próprio sistema imunológico da vaca. TERAPIA SELETIVA DE VACAS SECAS A terapia de vaca seca é um método bastante utilizado pelos produtores de leite durante a secagem das vacas para o tratamento de infecções intramamárias existentes e prevenção de novos casos de mastite. Neste método, utiliza-se bisnagas de antimicrobiano de amplo espectro em cada quarto mamário, geralmente associado à posterior aplicação de selante de teto. Nos últimos tempos, a terapia seletiva de vaca seca tem ganhado forças como uma alternativa que visa a redução do uso de antimicrobianos, promovendo a avaliação da necessidade de tratamento durante a secagem de cada vaca em específico. Os principais critérios considerados na terapia seletiva de vaca seca são o histórico da contagem de células somáticas (CCS) e mastite clínica durante a lactação e o resultado da cultura microbiológica durante a secagem. Atualmente, poucos rebanhos conseguem preencher estes critérios e implementar este tipo de terapia, o que faz com que poucos produtores a adotem. No Brasil, estima-se que a média de CCS seja de aproximadamente 550 mil células/mL e que 45% das vacas apresentam mastite subclínica no momento da secagem. Portanto, nesta realidade, o uso de antimicrobianos configura uma prática indispensável dentro de um conceito de controle de mastite. CONCLUSÃO Frente à realidade de resistência bacteriana aos antimicrobianos em uso e da pressão atual do mercado consumidor, a racionalização do uso desses medicamentos torna-se uma questão urgente na pecuária leiteira. A mastite é um dos principais eventos nos quais os antibióticos são mais utilizados. Analisar de forma segura e detalhada cada situação permite que a melhor decisão seja tomada, podendo reduzir sua utilização e os custos com tratamento por animal na propriedade. Alternativas como cultura microbiológica do leite e terapia seletiva de vacas secas auxiliam no tratamento direcionado dos casos e uso consciente dos antimicrobianos.
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