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APOSTILA MASTITE BOVINA

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MASTITE BOVINA 
 
1. O QUE É E QUAIS SÃO OS SEUS IMPACTOS 
PARA A PECUÁRIA LEITEIRA? 
 
A mastite bovina, ou mamite, consiste na inflamação do 
tecido da glândula mamária. Essa inflamação pode 
ocorrer devido a traumas, lesões no úbere e até mesmo 
devido a alguma agressão química. 
No entanto, a ocorrência deste quadro está ligada, na 
maioria das vezes, a contaminações por 
microrganismos de um ou mais quartos mamários via 
ducto do teto. A mastite geralmente é causada por 
bactérias, mas também pode ocorrer devido a fungos, 
algas ou leveduras. 
REAÇÃO DO SISTEMA IMUNE À MASTITE 
Em resposta a infecção pela mastite, o sistema imune 
envia células de defesa ao local acometido para 
combater a invasão no tecido. O estímulo lesivo da 
infecção e a ação das células de defesa levam ao 
aumento da resposta inflamatória tecidual que, além de 
eliminar o microrganismo invasor, visa também 
neutralizar toxinas produzidas pelos agentes infecciosos 
e restaurar o mais rápido possível o tecido mamário. 
A associação das células de defesa (leucócitos) com as 
células de descamação do epitélio da própria glândula 
mamária representa as células somáticas. A resposta 
do organismo da vaca frente a um estímulo lesivo no 
úbere ocasiona aumento da contagem de células 
somáticas (CCS) no leite. 
CÉLULAS SOMÁTICAS 
Como dito anteriormente, as células somáticas são 
compostas pelas células de descamação do epitélio da 
glândula mamária e pelas células de defesa do sistema 
imune que passam da corrente sanguínea para o leite. O 
aumento da CCS ocorre em casos de 
infecção/inflamação na glândula mamária. 
Nem sempre as alterações na CCS são apresentadas de 
forma clara. Nos casos de mastite subclínica, conforme 
o próprio nome já diz, não são vistas alterações clínicas 
relevantes. 
Por outro lado, nos casos de mastite clínica as 
alterações são perceptíveis, caracterizadas 
principalmente pela presença de grumos no leite e 
modificações no úbere da vaca, como dor, inchaço, 
vermelhidão e aumento de temperatura. 
 
MASTITE SUBCLÍNICA 
Conforme já dito, na mastite subclínica não é possível 
observar alterações no leite e no úbere do animal. No 
entanto, por ser uma infecção/inflamação da glândula 
mamária ela causa redução na produção de leite dos 
animais e pode acometer grande parte dos rebanhos. 
Além disso, podem ocorrer alterações na composição do 
leite, como nos níveis de gordura, proteína e lactose. O 
aumento significativo na contagem de células somáticas 
afeta diretamente a qualidade do leite e a bonificação 
paga por grande parte dos laticínios, causando queda no 
valor do litro de leite recebido pelo produtor. 
A mastite subclínica geralmente é causada por agentes 
contagiosos como o Staphylococcus aureus, 
Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis, 
dentre outros. Na maioria dos casos é transmitida dos 
quartos mamários contaminados para os sadios durante 
o processo de ordenha, seja pelas mãos dos 
ordenhadores ou pelo uso compartilhado de toalhas e 
teteiras contaminadas. 
COMO DIAGNOSTICAR A MASTITE SUBCLÍNICA? 
Algumas ferramentas têm sido utilizadas para mensurar 
os valores da CCS e identificar os animais portadores de 
mastite subclínica. 
Atualmente, a contagem eletrônica individual da CSS é o 
exame mais utilizado para o diagnóstico da mastite 
subclínica, sendo que valores acima de 200 mil 
células/mL indicam um comprometimento da saúde do 
úbere (método quantitativo). 
Exames como o CMT (California Mastitis Test) permitem 
identificar de maneira mais subjetiva a doença 
subclínica, devido ser baseado em uma análise visual da 
reação que ocorre entre o leite e o reagente no 
momento do exame (método qualitativo). 
Uma vez identificada a mastite subclínica, torna-se 
interessante conhecermos o perfil do agente que está 
ocasionando a infecção. Nesse sentido, a cultura 
microbiológica do leite representa uma importante 
ferramenta para identificação dos patógenos e 
direcionamento dos tratamentos. 
Por ser uma doença subclínica e necessitar de 
ferramentas específicas de diagnóstico, a mastite 
subclínica é muitas vezes negligenciada pelo produtor, 
acarretando em importantes prejuízos ao sistema de 
produção. 
 
MASTITE CLÍNICA 
Consiste na forma da doença em que é possível 
observar alterações nas características do leite, na 
glândula mamária e até mesmo no comportamento do 
animal. 
Nas vacas com mastite clínica é possível observar a 
presença de grumos no leite e alterações no úbere como 
inchaço, aumento de temperatura local, vermelhidão, 
aumento da sensibilidade dolorosa e até endurecimento 
dos quartos mamários acometidos. 
Nos casos mais graves os animais podem apresentar 
um comprometimento geral do estado clínico, ocorrendo 
alguns sintomas como apatia, prostração, febre, 
desidratação e redução do apetite. Os animais com 
mastite clínica grave podem vir a óbito em situações 
onde os casos não são atendidos de forma rápida e 
adequada. 
PERDAS ECONÔMICAS CAUSADAS PELA MASTITE 
A mastite é uma doença que ocasiona grandes impactos 
negativos no sistema de produção de leite com perdas 
econômicas importantes. Dentre os gastos estão os 
custos com medicamentos para o tratamento de casos 
clínicos, descarte e morte de animais precocemente, 
custos com mão de obra, descarte do leite acometido e 
redução de produção dos animais doentes. 
Devemos ter a consciência de que a redução da 
produção de leite dos animais doentes é o principal 
prejuízo da doença, sendo que muitas vezes não vemos 
essa redução que pode ir de 10 a 30%! 
De forma específica, os prejuízos devido a mastite 
clínica envolvem descarte de leite, redução da produção 
a curto e longo prazo, custos com medicamentos e risco 
de antibiótico no leite. Já os prejuízos decorrentes da 
mastite subclínica são referentes a redução na 
produção de leite, sendo que esta forma de 
manifestação da doença representa cerca de 90 a 95% 
dos casos. 
Nos Estados Unidos estima-se que o custo por caso de 
mastite seja de aproximadamente U$ 185/vaca/ano. Já 
na Europa a estimativa é de que este custo esteja por 
volta de € 190/vaca/ano. Em um estudo realizado no 
Brasil observou-se que a mastite subclínica foi 
responsável por uma redução de 17% no volume de 
produção de leite, representando uma perda de 2,4 
bilhões de litros de leite/ano. 
CONTROLE DA MASTITE 
Para se alcançar sucesso no programa de controle da 
mastite é muito importante que os envolvidos na 
melhoria da qualidade do leite entendam cada etapa do 
processo, estejam abertos a receber treinamentos e 
percebam os benefícios que as ferramentas fornecem 
para o dia-a-dia no manejo dos animais. É essencial que 
durante o programa de controle exista um 
monitoramento periódico dos resultados obtidos. 
O programa de 6 pontos de controle da mastite retrata 
ações fundamentais a serem realizadas para reduzir a 
ocorrência da doença. São eles: 
 Higiene e conforto dos animais; 
 Rotina de ordenha adequada; 
 Tratamento dos casos clínicos de mastite com 
antimicrobianos (de preferência orientado pelo 
patógeno envolvido); 
 Terapia de vaca seca; 
 Limpeza e manutenção dos equipamentos de 
ordenha; 
 Segregação e descarte dos casos crônicos. 
Todas as medidas de controle visam reduzir o impacto 
econômico e os custos e, consequentemente, aumentar 
o lucro do produtor. O foco fica em prevenir novos casos 
de mastite e reduzir a duração dos casos existentes. 
 
2. PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE 
MASTITE: SAIBA QUAIS SÃO E COMO 
PREVENI-LOS 
 
Assim como ocorre com outras doenças, definir o 
tratamento assertivo para a mastite depende de alguns 
fatores, como: 
 O conhecimento do agente; 
 Histórico de mastite da vaca; 
 Dados de contagem de células somáticas (CCS); 
 Produção de leite; 
 Status reprodutivo; 
 DEL. 
Um estudo publicado em 2018 identificou que apenas 
20% a 30% dos casos de mastiteclínica leve (presença 
de alterações visíveis no leite) se beneficiaram com o 
uso de antimicrobiano, reforçando a importância de 
conhecermos os dados de cada caso para as tomadas de 
decisão. 
Ainda mais importante que definir as estratégias com as 
vacas doentes, é atuar de forma preventiva para reduzir 
os riscos de mastite e contaminação das vacas sadias. 
Sendo assim, conhecer os patógenos presentes no 
rebanho e suas principais características são partes 
fundamentais nesse controle. 
Dentre os agentes causadores de mastite, em média, 
95% são bactérias, enquanto os demais casos são 
causados por fungos, leveduras e algas. Vamos 
conhecê-los um pouco mais! 
Existem várias formas de classificar esses patógenos, 
sendo a estratificação com base no comportamento 
etiológico dos agentes a mais comum. 
AGENTES CONTAGIOSOS 
Os agentes contagiosos são aqueles cujo reservatório 
principal é a vaca (pele dos tetos e úbere). 
A transmissão desses agentes ocorre durante a 
ordenha, tanto pelas mãos dos ordenhadores quanto 
pelo equipamento de ordenha. 
Sendo assim, manter o equipamento de ordenha em bom 
funcionamento, com manutenções preventivas e 
corretivas em dia, além de garantir uma boa rotina de 
ordenha, são pontos fundamentais no controle e 
prevenção desses agentes no rebanho. 
Dentre os principais agentes contagiosos temos o 
Corynebacterium bovis, Staphylococcus aureus, 
Streptococcus agalactiae e Mycoplasma spp. 
Corynebacterium bovis 
 Bactéria gram positiva; 
 Habitante do canal do teto; 
 De característica contagiosa, porém pouco 
patogênica; 
 Alta taxa de cura na terapia da vaca seca. 
Staphylococcus aureus 
 Bactéria gram positiva; 
 Formação de fibrose e micro abscessos, com 
eliminação intermitente no leite, sendo 
necessárias coletas seriadas para identificação 
do agente; 
 Capaz de formar biofilme, sendo baixa a taxa de 
cura espontânea e de tratamentos durante a 
lactação; 
 Taxa de cura é maior para casos de novilhas e 
vacas em início de lactação, sendo usual a 
terapia estendida; 
 Moscas, peles e mãos dos ordenhadores podem 
atuar como fonte de transmissão. 
Streptococcus agalactiae 
 Bactéria gram positiva; 
 Maioria dos casos são subclínicos com aumento 
de CCS acima de 1 milhão de células/ml; 
 Sensível a penicilina e cefalosporinas, com 
taxas de cura próximas a 100% em protocolos 
de 3 dias; 
 Agente altamente contagioso e de rápida 
disseminação no rebanho, sendo recomendada 
realização de tratamento para os casos clínicos 
e subclínicos; 
 Agente possível de ser erradicado do rebanho 
ao seguir protocolos de tratamento, 
biosseguridade e segregação das vacas 
positivas. 
Mycoplasma spp. 
 Bactéria sem parede celular; 
 Não crescem em meio de cultura tradicional, 
sendo recomendada técnicas como PCR para 
seu diagnóstico; 
 Não respondem a tratamentos com 
antimicrobianos; 
 Agente capaz de migrar via hematógena para 
outros órgãos e ser transmitido via aerossol, 
podendo causar quadros de otite, artrite e 
pneumonia em vacas e bezerros; 
 Seu controle está relacionado a identificação e 
ações de biosseguridade como o descarte de 
animais positivos. 
AGENTES AMBIENTAIS 
Os patógenos ambientais são aqueles cujo reservatório 
principal é o ambiente. 
A transmissão desses agentes ocorre principalmente 
entre ordenhas e seu controle está relacionado a 
reduzir a exposição dos tetos a esses agentes, através 
dos manejos no ambiente de permanência das vacas e 
rotina de ordenha, garantindo tetos limpos e 
desinfetados. 
Dentre os principais agentes ambientais temos a 
Escherichia coli, Klebsiella spp. e Streptococcus uberis. 
Escherichia coli 
 Bactéria gram negativa; 
 Associada a mastites severas – maior 
patogenicidade e resposta imunológica intensa; 
 Alta taxa de cura espontânea, podendo chegar a 
mais de 80%; 
 Frequentemente isolado em mastites no período 
seco e início de lactação; 
 Apresenta-se na forma clínica com curta 
duração, na maioria dos casos sem necessidade 
de tratamento antimicrobiano. 
Klebsiella spp. 
 Bactéria gram negativa; 
 Fatores de risco para o agente incluem sujidade 
do úbere, manejo inadequado do ambiente de 
permanência das vacas e tetos com 
hiperqueratose; 
 Geralmente associada a casos crônicos e 
aumento de CCS; 
 Pouco responsiva a tratamento com 
antimicrobianos, sendo recomendada a terapia 
no momento da secagem; 
 Terapias utilizando cefalosporinas possuem 
taxa de cura próxima a 60%. 
Streptococcus uberis 
 Bactéria gram positiva; 
 Frequentemente isolado em mastites no período 
seco e início de lactação; 
 Caracterizado como agente ambiental, podendo 
ser transmitido vaca-a-vaca na ordenha; 
 Sensíveis a penicilinas e cefalosporinas; 
 Terapia estendida (5 a 8 dias) para os casos 
clínicos aumentam a taxa de cura. 
OUTROS AGENTES CAUSADORES 
Além dos agentes descritos acima, outros agentes 
comumente associados a casos de mastite são os 
considerados “Staphylococcus não aureus”. 
São bactérias gram positivas e oportunistas. Habitam a 
pele e canal dos tetos, sendo pouco patogênicas e com 
altas taxas de cura espontânea e em terapias durante a 
secagem e lactação. 
Outros agentes preocupantes no controle da mastite são 
agentes refratários. São patógenos não responsivos a 
tratamentos e que estão presentes na água e matéria 
orgânica. 
Alguns exemplos desses agentes incluem Serratia 
(bactéria gram negativa), Pseudomonas (bactéria gram 
negativa), Prototheca (alga) e leveduras. 
PRINCIPAIS PONTOS DE CONTROLE DOS AGENTES 
 Agentes contagiosos 
 Rotina de ordenha com foco em uso de luvas e 
desinfecção dos tetos após a ordenha; 
 Bom funcionamento do equipamento de 
ordenha; 
 Diagnóstico de CCS ou CMT; 
 Segregação de vacas crônicas e com agentes 
contagiosos; 
 Estratégias no tratamento de casos clínicos e 
subclínicos; 
 Terapia da vaca seca; 
 Descarte de animais; 
 Biosseguridade. 
Agentes ambientais 
 Manejo do ambiente para reduzir acúmulo de 
matéria orgânica e umidade; 
 Rotina de ordenha com foco em limpeza e 
desinfecção dos tetos antes da ordenha; 
 Diagnóstico de CCS ou CMT; 
 Estratégias no tratamento de casos clínicos e 
subclínicos; 
 Terapia da vaca seca. 
CONCLUSÃO 
Ao conhecer um pouco mais sobre os principais agentes 
relacionados aos casos de mastite, notamos a 
importância do diagnóstico para a decisão de 
tratamento e como medidas simples que podem ser 
feitas diariamente na propriedade podem contribuir para 
a redução da transmissão dos agentes e contaminação 
das vacas. 
Para isso, é indispensável a definição das rotinas e 
padronização dos processos junto aos funcionários do 
setor, além de trabalhar nos pontos de controle da 
mastite. 
 
3. USO DA CULTURA MICROBIOLÓGICA DO LEITE 
NO CONTROLE DA MASTITE 
 
Dentre os pontos de controle da mastite, a cultura 
microbiológica do leite é uma ferramenta fundamental 
pois permite a identificação dos microrganismos 
responsáveis pelos casos de mastite clínica e subclínica 
no rebanho, auxiliando nas tomadas de decisões de 
maneira assertiva. 
A técnica consiste em coletar amostras de leite e 
semear em placas com meio de cultura seletivo que 
favorecem o crescimento dos micro-organismos para a 
correta identificação, seja em laboratórios, seja na 
própria fazenda. 
Para que essa ferramenta possa auxiliar na rotina das 
propriedades leiteiras é muito importante que a coleta 
seja feita corretamente, reduzindo assim os riscos de 
contaminação das amostras. 
PASSO A PASSO PARA A COLETA DE AMOSTRAS DE LEITE 
1. Os cuidados com a coleta se iniciam na preparação 
dos tetos através dos procedimentos de rotina de 
ordenha. 
2. É fundamental o uso de luvas limpas, além de realizar 
o teste da caneca, a imersão dos tetos com solução pré-
dipping com ação de 30 segundos e a secagem da 
lateral e ponta dos tetos utilizandopapel toalha, 
garantindo tetos limpos para a coleta. 
 
3. Após a preparação dos tetos, é necessário desinfetar 
a ponta do teto utilizando gaze ou algodão com álcool 
70%. Caso a coleta seja feita em mais de um teto, cada 
teto deve ser desinfetado com uma gaze ou algodão, 
iniciando o procedimento dos tetos mais distantes para 
os tetos mais próximos, reduzindo os riscos de 
contaminação. 
4. A coleta deve ser feita utilizando tubos estéreis. 
Nesse momento é importante evitar o contato da tampa 
do tubo com sujidades, além de evitar o contato dos 
tetos com o tubo de coleta. Realizar a coleta com o 
frasco inclinado, como mostra a figura abaixo, reduz o 
risco de contato da amostra com sujidades do úbere. 
5. Caso a coleta seja feita em mais de um teto (amostra 
composta), é recomendada que a coleta seja realizada 
primeiramente nos tetos mais próximos e 
posteriormente nos tetos mais distantes. Vale ressaltar 
que para os casos de mastite clínica, a recomendação é 
realizar uma coleta para cada teto. 
6. Após a coleta, deve-se identificar o tubo (vaca e 
quarto mamário) e manter a amostra refrigerada até o 
processamento. 
 
CASOS DE MASTITE CLÍNICA 
A utilização da cultura microbiológica para os casos de 
mastite clínica, ou seja, quando há presença de 
alterações visíveis no leite, tem se tornado cada vez 
mais usual na rotina das fazendas leiteiras. 
Isso porque, com a identificação do agente causador da 
mastite dentro de 24 horas, é possível definir a 
necessidade ou não de tratamento antimicrobiano e a 
duração do tratamento, reduzindo assim o uso de 
antimicrobianos e dos custos relacionados aos 
medicamentos e descarte de leite. 
Outro ponto importante é que a cultura dos casos de 
mastite clínica auxilia na identificação do perfil de 
patógenos do rebanho para tomadas de decisão, se 
tornando uma ferramenta ainda mais relevante no 
controle da mastite e qualidade do leite. 
Resultados de pesquisa mostram que em média 30% dos 
casos de mastite clínica apresentam resultado de 
cultura negativa, ou seja, sem crescimento de patógenos 
e consequentemente, sem necessidade de tratamento 
antimicrobiano. 
Além disso, alguns agentes ambientais como os 
coliformes, apresentam alta taxa de cura espontânea, 
contribuindo para a redução dos tratamentos, sendo 
comum encontrar propriedades cujo uso de 
medicamentos para mastite clínica reduziu em 50%. 
Para os resultados de cultura positiva, a decisão do 
tratamento e sua duração variam conforme o patógeno. 
Sabe-se que a terapia prolongada (5 a 8 dias) pode 
auxiliar na taxa de cura de mastites causadas por 
Streptococcus ambientais, por exemplo, enquanto 
outros agentes como o S. agalactiae possui boa taxa de 
cura com terapia de 3 dias. 
Vale lembrar que a decisão de tratamento dos casos de 
mastite clínica envolve outros aspectos além do 
resultado da cultura microbiológica, como: 
A severidade do caso de mastite (grau 1, grau 2 e grau 
3); 
 O histórico da vaca; 
 Casos de mastite anterior; 
 Contagem de Células Somáticas (CCS); 
 DEL; 
 Produção de leite. 
CASOS DE MASTITE SUBCLÍNICA 
Outra finalidade da cultura microbiológica é realizar a 
coleta de amostras compostas (quatro quartos) de todas 
as vacas em lactação ou de vacas ou quartos de alta 
CCS, para identificação dos patógenos prevalentes no 
rebanho e definição de plano de ação de acordo com os 
agentes identificados. 
Essas coletas podem ser realizadas seguindo o histórico 
de CCS ou CMT do rebanho. 
Podemos realizar a cultura microbiológica para definir o 
perfil de patógenos que estão causando novas infecções, 
ou seja, vacas com CCS menor que 200 mil células/ml 
no mês anterior e CCS maior que 200 mil células/ml no 
mês atual. 
Outra possibilidade é identificar vacas crônicas, ou seja, 
com CCS maior que 200 mil células/ml por 2 a 3 meses 
consecutivos, e realizar a cultura microbiológica para 
identificar os patógenos causadores de infecções de 
longa duração. 
OUTROS CASOS 
A ferramenta da cultura microbiológica pode ser uma 
excelente aliada da sanidade e biosseguridade do 
rebanho, através da identificação dos patógenos em 
vacas de compra, evitando a entrada de patógenos como 
o S. aureus e S. agalactiae, cuja transmissão acontece 
de forma rápida no rebanho. 
A realização de coleta de amostras em vacas no pós 
parto também é uma opção bastante interessante, uma 
vez que podemos identificar pontos de melhoria nos 
manejos de secagem e ambiente do pré parto, identificar 
a presença de agentes contagiosos e casos de 
primíparas com S. aureus. 
CONSIDERAÇÕES 
Identificar os patógenos presentes no rebanho e definir 
as estratégias de acordo com os desafios encontrados 
na propriedade são passos fundamentais para o 
controle da mastite, melhoria na saúde da glândula 
mamária e qualidade do leite. 
Esses patógenos podem trazer grandes prejuízos 
financeiros ao produtor. Quer saber como preveni-los? 
Conheça as principais estratégias com o artigo: 
“Patógenos causadores de mastite: quem são eles e 
como preveni-los“. 
 
4. CONTROLE DE MASTITE E QUALIDADE DO 
LEITE: PRINCIPAIS PONTOS DE ATUAÇÃO 
 
A infecção da glândula mamária, órgão diretamente 
responsável pela produção do leite, reduz a capacidade 
produtiva e a qualidade do leite produzido. Não é à toa, 
portanto, que a mastite é geralmente a doença que 
ocasiona os maiores prejuízos na atividade. 
Vários são os agentes que podem causar mastite, mas o 
Staphylococcus aureus é, sem dúvida alguma, o 
principal deles, demandando grandes esforços e 
conhecimento para o seu controle. 
O S. aureus tem a capacidade de colonizar o epitélio dos 
tetos, principalmente se a pele se encontra lesada ou 
ressecada. Uma vez dentro da glândula mamária, o S. 
aureus segue um padrão longo de infecção, levando a 
um aumento significativo da contagem de células 
somáticas (CCS) e causando graves lesões, que irão 
reduzir a qualidade do leite e o potencial produtivo da 
glândula mamária. 
 
Figura 1 – Esquema ilustrativo da infecção intramamária 
por Staphylococcus aureus 
Na Figura 1, é possível identificar os diferentes estágios 
da infecção dentro da glândula mamária. O início ocorre 
com a adesão da bactéria aos tecidos da glândula (A), 
migração de glóbulos brancos (células somáticas) para 
dentro da glândula (C), obstrução das vias de drenagem 
por coágulos de leite e destruição do tecido que fica 
incapaz de produzir leite (F). 
 
Figura 2 – Visualização macroscópica das lesões da 
glândula mamária em casos crônicos de mastite 
A Figura 2 demonstra, macroscopicamente, a 
capacidade destruidora desse agente e o enorme 
prejuízo que pode causar deixando glândulas mamárias 
improdutivas. 
DIAGNÓSTICO DA MASTITE 
O S. aureus se comporta de forma contagiosa, passando 
de animal para animal no momento da ordenha. Como 
em qualquer doença de comportamento contagioso, a 
identificação dos animais infectados é fundamental para 
o seu controle. O S. aureus causa, na maioria das vezes, 
mastite subclínica de longa duração com ocorrência de 
casos clínicos esporádicos. 
Portanto, o monitoramento mensal da contagem de 
células somáticas das vacas em lactação é de grande 
importância. Pode sugerir a presença e o 
comportamento do agente no rebanho, como por 
exemplo, sua introdução, disseminação ou controle. 
No entanto, em vista da existência de outros agentes 
que se comportam da mesma forma, o isolamento 
através do cultivo microbiológico do leite é fundamental. 
Para isso, amostras de leite devem ser coletadas de 
maneira asséptica, congeladas e enviadas para 
laboratório de microbiologia. 
Uma parcela considerável das amostras enviadas geram 
resultados falso-negativos, já que S. aureus muitas 
vezes são eliminados de forma cíclica ou em baixo 
número na glândula mamária. Portanto, 3 amostras 
semanais de cada animal são necessárias para 
identificação eficiente de todasas vacas infectadas por 
S. aureus. 
CONTROLE DA MASTITE 
Os pontos fundamentais de atuação para o controle da 
mastite contagiosa são: 
 Rotina higiênica de ordenha, focando na 
desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-
dipping); 
 Funcionamento adequado do equipamento de 
ordenha; 
 Terapia de vaca seca (TVS) em todos os quartos 
mamários; 
 Segregação e/ou linha de ordenha; 
 Tratamento de casos clínicos e alguns 
subclínicos; 
 Descarte de animais com infecção crônica; 
 Melhoria do “status” imunológico dos animais 
via redução de estresse, suplementação 
adequada de vitaminas e minerais ou mesmo 
vacinações. 
Para um eficiente controle do S. aureus em rebanhos 
leiteiros é fundamental que todos esses pontos sejam 
implementados e gerenciados rotineiramente nas 
propriedades leiteiras, além da orientação técnica de 
um profissional competente, levando a um 
comprometimento de toda a equipe vinculada ao 
sistema produtivo. 
PÓS-DIPPING 
A imersão dos tetos com produto germicida logo após a 
ordenha é fundamental para evitar que microrganismos 
contagiosos como o S.aureus se instalem na superfície 
dos tetos ou no canal do teto. Portanto, toda a superfície 
dos tetos deve ser coberta pelo produto a fim de reduzir 
a população de S. aureus no rebanho e, por 
consequência, reduzir a ocorrência de novas infecções. 
SEGREGAÇÃO / LINHA DE ORDENHA 
Identificar os animais infectados e ordenhá-los após os 
animais sadios é fundamental para o controle do 
S.aureus. A glândula mamária infectada é o principal 
reservatório deste agente no sistema e sua 
disseminação ocorre no momento da ordenha. Portanto, 
separar os animais doentes para o final da ordenha 
evita a ocorrência de novas infecções. 
TERAPIA COM ANTIBIÓTICOS 
O S. aureus é um agente invasivo, que se aloja em áreas 
profundas da glândula, geralmente com formação de 
microabscessos. Nessas áreas, a penetração do 
antibiótico é geralmente reduzida, o que dificulta a 
eliminação desse agente via antibioticoterapia. 
Além disso, o S. aureus é, geralmente, resistentes a 
alguns antimicrobianos (especialmente β-lactâmicos). 
Portanto, a eliminação de infecções intramamárias de S. 
aureus pelo tratamento com antibióticos durante a 
lactação, normalmente, é antieconômica e de baixa 
eficácia. 
Por outro lado, o tratamento com antibióticos na 
secagem do animal (terapia de vaca seca -TVS) permite 
a infusão de um produto de maior duração na glândula, 
o que aumenta a eficiência do tratamento. Taxas de cura 
giram em torno de 20 a 85% e, portanto, a infusão de 
todos os quartos de todas as vacas na secagem é um 
método essencial para o controle do S. aureus. 
Uma estratégia interessante e comprovada por nossa 
equipe recentemente se refere à associação de uma 
vacina contra S. aureus à terapia de vaca seca. Essa 
associação aumentou a taxa de cura em 48% se 
comparada à TVS sozinha (Figura 3). 
 
Figura 3 – Taxa de cura pós-parto de quartos mamários 
de vacas submetidas ou não à vacinação na secagem 
em associação à terapia de vaca seca (TVS) 
Em resumo, diagnosticar e controlar a mastite por S. 
aureus são tarefas difíceis e que exigem orientação e 
dedicação. Não raramente, temos encontrado 
propriedades que revelaram o controle desse agente 
durante os anos, chegando, em certos casos, a 
prevalências superiores a 50% no rebanho. 
Em um cenário futuro, onde a qualidade do leite estará 
interferindo cada vez mais na remuneração do produtor, 
relevar o controle desse agente hoje pode trazer perdas 
econômicas irreparáveis e até mesmo inviabilizar 
muitas propriedades. 
 
5. USO CONSCIENTE DE ANTIMICROBIANOS NO 
CONTROLE DA MASTITE BOVINA 
 
O controle da mastite é fundamental para que o 
produtor tenha boa lucratividade na produção de leite. 
Ela é considerada a principal doença que afeta os 
rebanhos leiteiros no mundo, proporcionando as 
maiores perdas econômicas na pecuária de leite. 
Além disso, a mastite clínica foi reconhecida como a 
razão mais frequente para o uso de antibióticos em gado 
leiteiro, sendo responsável por até 62% do uso total de 
antimicrobianos. 
Os antimicrobianos são compostos químicos capazes de 
matar ou inibir o crescimento de microrganismos. O 
primeiro relato do uso de antimicrobianos na medicina 
veterinária foi para o tratamento de mastite em vacas 
leiteiras. 
Essas drogas podem ser usadas de formas diferentes. O 
uso de antimicrobianos para o tratamento de casos já 
existentes de mastite, por exemplo, é considerado como 
uso terapêutico. 
Em casos específicos, essas drogas podem ser usadas 
para mais de uma finalidade, como no caso da terapia de 
vacas secas, cujo objetivo é curar infecções 
intramamárias existentes (terapêutico) e prevenir novas 
infecções (profilático). 
O uso irracional de antimicrobianos tende a influenciar a 
geração ou seleção de patógenos resistentes, sendo que 
a resistência bacteriana atualmente é uma das maiores 
preocupações globais. Diante deste cenário e da 
crescente pressão do mercado consumidor, medidas 
devem ser adotadas a fim do uso racional dos 
antimicrobianos. 
IMPACTOS ECONÔMICOS GERADOS PELA MASTITE NA 
PECUÁRIA LEITEIRA 
A mastite bovina consiste na inflamação da glândula 
mamária, sendo causada por uma grande variedade de 
agentes, incluindo bactérias, leveduras, fungos e algas. 
Os impactos negativos dessa doença são vistos 
principalmente na produção de leite, reduzindo o volume 
produzido e aumentando o custo de produção devido ao 
uso de medicamentos, como antibióticos e anti-
inflamatórios, para prevenção e tratamento. 
Além disso, é comum que os prejuízos relacionados ao 
descarte de leite, descarte precoce de animais e morte, 
por exemplo, não sejam computados no real impacto 
econômico gerado pela mastite. A falta de orientação 
técnica e a carência de profissional qualificado são as 
principais causas desta falha de gestão. 
Os prejuízos com descarte de leite por alteração e/ou 
presença de resíduos após tratamento, bem como os 
gastos com a compra de medicamentos somam 16% dos 
custos totais relacionados à mastite. 
Estudos mostram que os custos da mastite nos Estados 
Unidos para prevenção e tratamento somaram 
aproximadamente US$185/vaca/ano. 
Recentemente, estimou-se as perdas financeiras para 
mastite clínica durante os primeiros 30 dias de lactação 
em US$444 por caso, contabilizando diagnósticos, 
custos com antimicrobianos, leite não comercializável, 
custos veterinários, redução na produção de leite e 
perdas reprodutivas, além dos custos com reposição. 
CULTURA MICROBIOLÓGICA NA FAZENDA 
O uso consciente de antimicrobianos para o controle da 
mastite requer a participação de todas as partes 
envolvidas na atividade, incluindo proprietários, 
colaboradores e médicos veterinários. 
Pensando nisso, conduzir os tratamentos dos casos de 
mastite baseando-se na cultura microbiológica do leite 
possui a capacidade de reduzir o uso de 
antimicrobianos, levando a menores riscos de resíduos, 
custos de tratamento e descarte de leite. 
Por meio da cultura microbiológica é possível avaliar 
qual agente está causando a mastite e, dessa forma, 
atuar de forma rápida e precisa sobre qual antibiótico 
usar para cada caso e até mesmo decidir pelo não 
tratamento, dependendo do agente etiológico. 
Alguns estudos relatam que entre 30 e 50% das culturas 
de mastite clínica não apresentam crescimento de 
bactérias, não justificando assim o tratamento com 
antimicrobianos. 
Além disso, grande proporção das infecções causadas 
por patógenos gram negativos são rapidamente 
eliminadas pelo próprio sistema imunológico da vaca. 
TERAPIA SELETIVA DE VACAS SECAS 
A terapia de vaca seca é um método bastante utilizado 
pelos produtores de leite durante a secagem das vacas 
para o tratamento de infecções intramamárias 
existentes e prevenção de novos casos de mastite. 
Neste método, utiliza-se bisnagasde antimicrobiano de 
amplo espectro em cada quarto mamário, geralmente 
associado à posterior aplicação de selante de teto. 
Nos últimos tempos, a terapia seletiva de vaca seca tem 
ganhado forças como uma alternativa que visa a 
redução do uso de antimicrobianos, promovendo a 
avaliação da necessidade de tratamento durante a 
secagem de cada vaca em específico. 
Os principais critérios considerados na terapia seletiva 
de vaca seca são o histórico da contagem de células 
somáticas (CCS) e mastite clínica durante a lactação e o 
resultado da cultura microbiológica durante a secagem. 
Atualmente, poucos rebanhos conseguem preencher 
estes critérios e implementar este tipo de terapia, o que 
faz com que poucos produtores a adotem. 
No Brasil, estima-se que a média de CCS seja de 
aproximadamente 550 mil células/mL e que 45% das 
vacas apresentam mastite subclínica no momento da 
secagem. 
Portanto, nesta realidade, o uso de antimicrobianos 
configura uma prática indispensável dentro de um 
conceito de controle de mastite. 
CONCLUSÃO 
Frente à realidade de resistência bacteriana aos 
antimicrobianos em uso e da pressão atual do mercado 
consumidor, a racionalização do uso desses 
medicamentos torna-se uma questão urgente na 
pecuária leiteira. 
A mastite é um dos principais eventos nos quais os 
antibióticos são mais utilizados. Analisar de forma 
segura e detalhada cada situação permite que a melhor 
decisão seja tomada, podendo reduzir sua utilização e os 
custos com tratamento por animal na propriedade. 
Alternativas como cultura microbiológica do leite e 
terapia seletiva de vacas secas auxiliam no tratamento 
direcionado dos casos e uso consciente dos 
antimicrobianos. 
 
6. MASTITE SUBCLÍNICA: O QUE FAZER E COMO 
TRATAR 
 
“Após identificar a mastite subclínica através do teste de 
CMT ou CCS eletrônica, devo realizar análise 
microbiológica do leite? Em qual cenário é necessário 
entrar com tratamento para essa mastite clínica com a 
vaca ainda em lactação?” 
IDENTIFICAÇÃO DA MASTITE SUBCLÍNICA 
Com os testes de CMT (California Mastitis Test) ou CCS 
(Contagem de Células Somáticas) eletrônica, podemos 
identificar as vacas que têm mastite subclínica. 
A partir da identificação desses animais, podemos tomar 
algumas medidas, como: 
 Segregação do animal; 
 Fazer uma linha de ordenha; 
 Destinar o leite desse animal para consumo dos 
bezerros. 
Essas ações vão fazer com que o leite da vaca com 
mastite subclínica não vá direto para o tanque ou que 
isolemos esses animais em um grupo de vacas que 
também têm a mastite subclínica. 
E O QUE MAIS PODE SER FEITO? 
“Além disso, esse animal que tem mastite subclínica, 
principalmente as vacas que têm mastite subclínica em 
mais de uma coleta, ou seja, que na coleta passada e na 
coleta atual têm uma CCS acima de 200.000 e, portanto, 
é considerada uma vaca crônica, são animais que 
possivelmente irão apresentar um resultado positivo 
quando eu fizer uma cultura microbiológica do leite. São 
animais que são economicamente mais viáveis da gente 
separar o leite, mandar para um laboratório ou fazer a 
cultura dentro da própria fazenda e, assim, identificar 
quais bactérias estão causando a mastite subclínica.”, 
explica o especialista Nathan Fontoura. 
Se for identificada uma bactéria Gram-positiva, como 
um Streptococcus agalactiae ou um Streptococcus 
dysgalactiae, que tem um comportamento de contagioso, 
temos visto resultados em trabalhos científicos, e 
também na prática, que comprovam a viabilidade 
econômica do tratamento desse animal ainda na 
lactação. 
Porém, algumas outras bactérias com Staphylococcus 
aureus, Pseudomonas e inúmeros outros 
microrganismos como algas e leveduras, não vão 
responder ou vão responder muito pouco ao tratamento 
durante a lactação e também no período seco, não 
sendo economicamente viável o tratamento desses 
animais. 
Resumindo, a CCS eletrônica e o CMT podem ser uma 
pré-informação para selecionar as vacas nas quais 
iremos realizar a cultura microbiológica para termos 
uma correta tomada de decisão de tratar ou não aquele 
animal durante a lactação. 
Porém, só podemos tomar essa decisão de maneira 
assertiva após o resultado da cultura microbiológica, 
para saber se o tratamento daquele animal é 
economicamente viável ou não. 
 
7. POSSO DEIXAR DE TRATAR A MASTITE 
BOVINA? SAIBA EM QUAIS CASOS ISSO É 
POSSÍVEL 
 
Quais mastites eu poderia deixar de tratar, esperando 
que haja uma cura do animal? 
A cultura microbiológica consiste em uma ferramenta 
na qual coletamos uma amostra do leite do animal e 
levamos para uma estufa, que fica na própria fazenda. 
Em menos de 24 horas, temos o resultado do cultivo 
dessa amostra, identificando os microrganismos 
presentes ali. 
Com as placas mais modernas, chamadas placas 
cromogênicas, no resultado dessa cultura, podemos 
identificar até mesmo a espécie bacteriana que temos 
no leite analisado. 
Com esse resultado em mãos, podemos decidir com 
segurança como devemos proceder: 
 Se devemos tratar; 
 Se devemos não tratar; 
 Se devemos direcionar um tratamento mais 
específico para os micro-organismos 
identificados na amostra. 
E em quais casos poderíamos deixar de tratar a mastite, 
contando que o animal tenha uma cura clínica, 
bacteriológica e, consequentemente, uma redução da 
CCS (contagem de células somáticas) no teto 
acometido? 
1. Principalmente e obrigatoriamente casos de mastite 
nos quais não há mais crescimento bacteriano ou 
microbiológico, ou seja, naqueles em que não há mais 
envolvimento daquela bactéria ou microrganismo no 
caso clínico. O que estamos vendo ali são resquícios da 
reação inflamatória provocada pelo agente 
microbiológico. 
Mas lembre-se! Esse leite ainda tem uma alta contagem 
de CCS e, portanto, mesmo não tratando a vaca, ele deve 
ser destinado ao descarte. Caso contrário, ele irá 
contaminar o leite do tanque. 
2. Quando identificamos na cultura microbiológica 
bactérias Gram-negativas. No entanto, algumas 
bactérias Gram-negativas, como a Klebsiella, têm uma 
resposta razoável ao tratamento e é economicamente 
viável tratá-las. 
Portanto, se pudermos identificar a espécie presente na 
amostra, deixaríamos de tratar principalmente as 
mastites causadas por Escherichia coli. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Deixando de tratar as mastite causadas pela E. coli e as 
mastites nas quais não houve crescimento 
microbiológico na cultura em uma fazenda em que as 
bactérias do grupo contagioso estão controladas, 
podemos deixar de tratar até 50% dos casos de mastite 
que acometem o rebanho, conclui o Prof. Nathan 
Fontoura. 
 
8. COMO TRATAR UMA VACA COM MASTITE? 
 
Devo fazer o tratamento com antibiótico imediatamente 
quando for diagnosticada a mastite? Pois o período de 
carência é grande e provavelmente esse leite vai ser 
descartado e o produtor vai ficar no prejuízo. Como 
minimizar esse prejuízo? 
“A vaca deu mastite? Algo tem que ser feito.”, afirma o 
especialista Prof. Nathan Fontoura. 
Primeiramente, o leite dessa vaca não pode mais ser 
jogado para o tanque e ser misturado com o leite 
saudável das demais vacas. Por quê? 
1. Porque esse leite não é próprio para 
consumo humano 
2. Porque esse leite tem altíssima CCS e 
alterações em sua composição, o que 
também afetaria a média do leite bom da 
fazenda. 
Sobre o tratamento ou não, o correto hoje é que a gente 
tenha uma ferramenta que se chama cultura 
microbiológica na fazenda. 
O ideal é que realizemos a cultura do leite do animal na 
própria fazenda. 24 horas após a realização dessa 
cultura, fazemos a leitura do resultado e aí sim, tenho a 
resposta correta se o animal deve ser tratado ou não. 
Hoje em dia, cerca de 50% a 60% dos casos de mastite 
que temos encontrado nas fazendas no Brasil não 
precisam ser tratados. 
Porém, se eu não tenho a ferramenta de cultura 
microbiológica disponível na fazenda,ou se eu não 
tenho acesso a esse tipo de ferramenta, aí preciso tratar 
100% dos casos, e de maneira mais rápida. 
PREJUÍZO PARA O PRODUTOR 
O maior prejuízo é se ele não tratar esse animal que 
precisa de tratamento e o animal diminuir sua produção. 
Para cada caso clínico que o animal tem na lactação, o 
animal perde, em média, 200 litros de leite no restante 
da lactação caso tenhamos uma cura clínica e 
microbiológica perfeita, dentro do desejado. 
Caso não tenhamos essa cura da maneira correta, 
provavelmente, a perda de produção de leite nesse 
animal vai ser ainda maior. Então, ao invés de perder 
150, 200 litros, pode perder 250, 400, 500 litros de leite 
ou até mesmo o quarto mamário pode ser perdido como 
um todo. 
Portanto, se eu não tenho a ferramenta de cultura 
microbiológica na fazenda, eu devo iniciar 
imediatamente o tratamento desse animal com o 
protocolo mais recomendado, deixado pelo veterinário 
na fazenda. 
Caso eu tenha acesso à cultura microbiológica, em até 
24 horas eu tenho a correta resposta se devo tratar ou 
não e qual é o tratamento mais adequado naquele caso 
clínico. 
 
9. USO CONSCIENTE DE ANTIMICROBIANOS NO 
CONTROLE DA MASTITE BOVINA 
 
O controle da mastite é fundamental para que o 
produtor tenha boa lucratividade na produção de leite. 
Ela é considerada a principal doença que afeta os 
rebanhos leiteiros no mundo, proporcionando as 
maiores perdas econômicas na pecuária de leite. 
Além disso, a mastite clínica foi reconhecida como a 
razão mais frequente para o uso de antibióticos em gado 
leiteiro, sendo responsável por até 62% do uso total de 
antimicrobianos. 
Os antimicrobianos são compostos químicos capazes de 
matar ou inibir o crescimento de microrganismos. O 
primeiro relato do uso de antimicrobianos na medicina 
veterinária foi para o tratamento de mastite em vacas 
leiteiras. 
Essas drogas podem ser usadas de formas diferentes. O 
uso de antimicrobianos para o tratamento de casos já 
existentes de mastite, por exemplo, é considerado como 
uso terapêutico. 
Em casos específicos, essas drogas podem ser usadas 
para mais de uma finalidade, como no caso da terapia de 
vacas secas, cujo objetivo é curar infecções 
intramamárias existentes (terapêutico) e prevenir novas 
infecções (profilático). 
O uso irracional de antimicrobianos tende a influenciar a 
geração ou seleção de patógenos resistentes, sendo que 
a resistência bacteriana atualmente é uma das maiores 
preocupações globais. Diante deste cenário e da 
crescente pressão do mercado consumidor, medidas 
devem ser adotadas a fim do uso racional dos 
antimicrobianos. 
IMPACTOS ECONÔMICOS GERADOS PELA MASTITE NA 
PECUÁRIA LEITEIRA 
A mastite bovina consiste na inflamação da glândula 
mamária, sendo causada por uma grande variedade de 
agentes, incluindo bactérias, leveduras, fungos e algas. 
Os impactos negativos dessa doença são vistos 
principalmente na produção de leite, reduzindo o volume 
produzido e aumentando o custo de produção devido ao 
uso de medicamentos, como antibióticos e anti-
inflamatórios, para prevenção e tratamento. 
Além disso, é comum que os prejuízos relacionados ao 
descarte de leite, descarte precoce de animais e morte, 
por exemplo, não sejam computados no real impacto 
econômico gerado pela mastite. A falta de orientação 
técnica e a carência de profissional qualificado são as 
principais causas desta falha de gestão. 
 
Os prejuízos com descarte de leite por alteração e/ou 
presença de resíduos após tratamento, bem como os 
gastos com a compra de medicamentos somam 16% dos 
custos totais relacionados à mastite. 
Estudos mostram que os custos da mastite nos Estados 
Unidos para prevenção e tratamento somaram 
aproximadamente US$185/vaca/ano. 
Recentemente, estimou-se as perdas financeiras para 
mastite clínica durante os primeiros 30 dias de lactação 
em US$444 por caso, contabilizando diagnósticos, 
custos com antimicrobianos, leite não comercializável, 
custos veterinários, redução na produção de leite e 
perdas reprodutivas, além dos custos com reposição. 
CULTURA MICROBIOLÓGICA NA FAZENDA 
O uso consciente de antimicrobianos para o controle da 
mastite requer a participação de todas as partes 
envolvidas na atividade, incluindo proprietários, 
colaboradores e médicos veterinários. 
Pensando nisso, conduzir os tratamentos dos casos de 
mastite baseando-se na cultura microbiológica do leite 
possui a capacidade de reduzir o uso de 
antimicrobianos, levando a menores riscos de resíduos, 
custos de tratamento e descarte de leite. 
Por meio da cultura microbiológica é possível avaliar 
qual agente está causando a mastite e, dessa forma, 
atuar de forma rápida e precisa sobre qual antibiótico 
usar para cada caso e até mesmo decidir pelo não 
tratamento, dependendo do agente etiológico. 
Alguns estudos relatam que entre 30 e 50% das culturas 
de mastite clínica não apresentam crescimento de 
bactérias, não justificando assim o tratamento com 
antimicrobianos. 
Além disso, grande proporção das infecções causadas 
por patógenos gram negativos são rapidamente 
eliminadas pelo próprio sistema imunológico da vaca. 
TERAPIA SELETIVA DE VACAS SECAS 
A terapia de vaca seca é um método bastante utilizado 
pelos produtores de leite durante a secagem das vacas 
para o tratamento de infecções intramamárias 
existentes e prevenção de novos casos de mastite. 
Neste método, utiliza-se bisnagas de antimicrobiano de 
amplo espectro em cada quarto mamário, geralmente 
associado à posterior aplicação de selante de teto. 
Nos últimos tempos, a terapia seletiva de vaca seca tem 
ganhado forças como uma alternativa que visa a 
redução do uso de antimicrobianos, promovendo a 
avaliação da necessidade de tratamento durante a 
secagem de cada vaca em específico. 
Os principais critérios considerados na terapia seletiva 
de vaca seca são o histórico da contagem de células 
somáticas (CCS) e mastite clínica durante a lactação e o 
resultado da cultura microbiológica durante a secagem. 
Atualmente, poucos rebanhos conseguem preencher 
estes critérios e implementar este tipo de terapia, o que 
faz com que poucos produtores a adotem. 
No Brasil, estima-se que a média de CCS seja de 
aproximadamente 550 mil células/mL e que 45% das 
vacas apresentam mastite subclínica no momento da 
secagem. 
Portanto, nesta realidade, o uso de antimicrobianos 
configura uma prática indispensável dentro de um 
conceito de controle de mastite. 
CONCLUSÃO 
Frente à realidade de resistência bacteriana aos 
antimicrobianos em uso e da pressão atual do mercado 
consumidor, a racionalização do uso desses 
medicamentos torna-se uma questão urgente na 
pecuária leiteira. 
A mastite é um dos principais eventos nos quais os 
antibióticos são mais utilizados. Analisar de forma 
segura e detalhada cada situação permite que a melhor 
decisão seja tomada, podendo reduzir sua utilização e os 
custos com tratamento por animal na propriedade. 
Alternativas como cultura microbiológica do leite e 
terapia seletiva de vacas secas auxiliam no tratamento 
direcionado dos casos e uso consciente dos 
antimicrobianos.

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