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PROCESSOS ORGÂNICOS INDUSTRIAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir indústria petroquímica. > Diferenciar os derivados combustíveis e não combustíveis do petróleo. > Listar aplicações dos subprodutos do petróleo. Introdução A petroquímica é a área da química que está relacionada ao petróleo, seus deriva- dos e sua utilização na indústria. Assim, a indústria petroquímica é uma subdivisão da indústria química, fazendo parte do ramo de química orgânica. A indústria petroquímica engloba uma grande diversidade de produtos, e todos eles são derivados do petróleo. Essa indústria tem como principal objetivo transformar o petróleo bruto na maior variedade de produtos possível, com o desenvolvimento de tecnologias de menor custo e produtos de alta qualidade. O petróleo, além de fornecer para a sociedade os combustíveis já muito co- nhecidos, também fornece matéria-prima para a obtenção de uma infinidade de outros produtos essenciais e de grande utilidade no mundo todo, como fibras, plásticos, borrachas, detergentes, fertilizantes, entre outros. Neste capítulo, você vai estudar a indústria petroquímica. Também vai conhecer os principais produtos e subprodutos derivados do petróleo obtidos por meio dessa indústria, além de suas devidas aplicações. Subprodutos do petróleo Julia Gascho Indústria petroquímica A indústria química é a base do processo de produção de inúmeras indústrias e é considerada o maior segmento da indústria de transformação do Brasil. Muitos produtos de uso diário têm componentes e/ou insumos que foram obtidos da indústria química, como alguns produtos finais da agroindústria, da indústria automobilística e da indústria eletroeletrônica. Além disso, há produtos alimentares, cosméticos, detergentes, fertilizantes, plásticos, fibras químicas, tintas, corantes, elastômeros, adesivos, solventes, tensoativos, gases industriais, inseticidas, fungicidas, herbicidas, bernicidas, pesticidas, explosivos, produtos farmacêuticos, etc. Essa transformação de produtos naturais em produtos que podem ser utilizados pelo homem exige um elevado grau de desenvolvimento científico e tecnológico (ABIQUIM, c2017; TORRES, 1997). A indústria petroquímica é uma subdivisão da indústria química que faz parte do ramo da química orgânica e que utiliza o petróleo e seus derivados como matéria-prima para a obtenção de muitos produtos considerados fundamentais em muitos aspectos para a sociedade moderna (MAIA, 2005). Plásticos e fertilizantes, por exemplo, são os dois maiores grupos de produtos do setor químico e são indispensáveis no cotidiano das pessoas. “O plástico é o grupo de materiais a granel que mais cresce no mundo, e os fertilizantes nitrogenados sintéticos sustentam quase a metade da produção de alimentos do mundo” (VIANA, 2019, p. 1). As principais matérias-primas utilizadas na indústria petroquímica são o gás natural, os gases liquefeitos de petróleo, os gases residuais de refinaria, as naftas, a querosene, as parafinas, os resíduos de refinação de petróleo e alguns tipos de óleo cru de petróleo. Essas matérias-primas vão ser transfor- madas quimicamente pela indústria petroquímica a fim de se obter produtos básicos, intermediários e finais utilizados na produção de fibras, plásticos, borrachas, detergentes, fertilizantes, etc. (MATAI, 2001). A denominada cadeia petroquímica é constituída de unidades, indústrias ou empresas que compreendem desde os produtores de derivados de petróleo até os transformadores de plásticos. Ela pode ser dividida em três segmentos principais: primeira geração, segunda geração e terceira geração, conforme o esquema da Figura 1. Subprodutos do petróleo2 Figura 1. Esquema simplificado da cadeia produtiva petroquímica. Fonte: Gomes, Dvorsak e Heil (2005, p. 81). Além dos citados, a cadeia produtiva compreende outros segmentos, direta ou indiretamente vinculados à produção, como siderúrgicas, empre- sas metalmecânicas e várias outras empresas que fornecem algum tipo de produto ou serviço destinado ao abastecimento dessa cadeia (CERQUEIRA; HEMAIS, 2001; GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005; MAIA, 2005). Primeira geração As empresas de primeira geração da cadeia petroquímica são as produ- toras de básicos petroquímicos, ou seja, produtoras de matérias-primas, resultantes da primeira transformação de correntes petrolíferas (nafta, gás natural, etano, etc.) por processos químicos (craqueamento a vapor, pirólise, reforma a vapor, reforma catalítica, etc.) (CERQUEIRA; HEMAIS, 2001; GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Subprodutos do petróleo 3 Os principais produtos petroquímicos primários são as olefinas (eteno, propeno e butadieno) e os aromáticos (benzeno, tolueno e xilenos). As três principais indústrias petroquímicas básicas no Brasil são a Copesul, a União e a Braskem, responsáveis principalmente pela produção de insumos como eteno, propeno, butadieno, entre outros (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005; MAIA, 2005). Segunda geração Na cadeia petroquímica, as empresas de segunda geração são as responsáveis pela produção de intermediários e resinas, que são materiais para transforma- ção. Para obter produtos petroquímicos finais, elas utilizam produtos básicos e usam processos de purificação e adição de outros materiais (CERQUEIRA; HEMAIS, 2001; MAIA, 2005). As principais resinas produzidas são as resinas termoplásticas de polie- tilenos e polipropilenos, e os intermediários são produtos resultantes do processamento dos produtos primários, como monocloreto de vinila (MVC), acetato de vinila, diisocianato de tolueno (TDI), óxido de propeno, fenol, caprolactama, acrilonitrila, óxido de eteno, estireno, ácido acrílico, etc. Esses intermediários são transformados em produtos finais petroquímicos, como PVC (policloreto de vinila), poliestireno, ABS (acrilonitrila butadieno estireno), resinas termoestáveis, polímeros para fibras sintéticas, elastômeros, po- liuretanas, bases para detergentes sintéticos e tintas, entre outros (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Terceira geração As empresas de terceira geração também são conhecidas por serem empresas de transformação plástica. São os clientes da indústria petroquímica que modificam, quimicamente ou fisicamente, os produtos da segunda geração e os intermediários em bens de consumo, materiais e artefatos utilizados por diversos segmentos, como o de embalagens, construção civil, elétrico, eletrônico, automotivo, entre outros (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005; MAIA, 2005). Para saber mais sobre a indústria petroquímica, leia o artigo “Indús- tria petroquímica”, de Fernando Luiz E. Viana (2019). Subprodutos do petróleo4 Derivados do petróleo: características e aplicações O petróleo bruto é uma mistura complexa de hidrocarbonetos e contaminantes como enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. A composição exata dessa mis- tura vai variar, e essa variação depende muito do reservatório de sua fonte. No estado bruto, o petróleo quase não tem aplicação e só pode ser usado como óleo combustível. Para aproveitar ao máximo o potencial energético do petróleo, ele deve passar por uma série de processos para se transformar em seus derivados, que realmente têm grande valor comercial (ALMEIDA, 2006). O petróleo e, principalmente, seus derivados, fornecem combustíveis como a gasolina e o diesel, que movimentam as frotas de automóveis em todo o mundo, e produzem a energia necessária para movimentar geradores elétricos por meio da queima do gás natural e do óleo combustível. No entanto, o petróleo não é só uma fonte de energia, mas também uma extraordinária fonte de matérias-primas, utilizadas pelas indústrias petroquímicas para a produção de uma enorme diversidade de produtos essenciais para a sociedade (GAUTO, 2016; GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Derivados combustíveis Nesta seção, vamos estudar os derivados de petróleo utilizados como com- bustíveis tanto para a geração de energia quanto para a colocação de corpos em movimento (GAUTO, 2016). Gás liquefeito do petróleo (GLP) O GLP,também chamado de gás de cozinha, é uma mistura formada quase to- talmente por moléculas de hidrocarbonetos saturados e insaturados contendo de três a quatro átomos de carbono. O GLP é gasoso nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP), mas pode ser liquefeito por resfriamento e/ou compressão. Nos botijões de gás, o GLP se encontra normalmente submetido a 7 kgf/cm² de pressão, estando líquido, o que possibilita o transporte ou armazenamento de uma quantidade de produto bem maior por metro cúbico de espaço (GAUTO, 2016; PETROBRAS, 2019a). Esse gás é incolor e inodoro. Portanto, é adicionado um composto à base de enxofre nele, conferindo um odor característico que serve para que vaza- mentos possam ser identificados (PETROBRAS, 2019a). Subprodutos do petróleo 5 Os principais componentes do GLP são: propano (C3H8), propeno (C3H6), isobutano (C4H10), n-butano (C4H10) e buteno (C4H8), que também podem ser comercializados separadamente. A queima do GLP é considerada limpa quando comparada aos combustíveis mais pesados, com reduzido nível de emissão de particulados, SOx e NOx. Também produz baixo nível de emissões de CO2 devido à alta proporção de hidrogênio/carbono em sua composição (PETROBRAS, 2019a). A principal aplicação do GLP, em nível mundial, é no cozimento de alimentos. Outras aplicações são na calefação da água, no aquecimento de ambientes e em atividades de lazer (PETROBRAS, 2019a). No Brasil, a Resolução da Agência Nacional do Petróleo (ANP) nº 18/2004 estabelece os tipos de gases liquefeitos de petróleo (ANP, ([2020]) (Quadro 1), com base na proporção entre moléculas de C3 e moléculas de C4. Quadro 1. Tipos de gases liquefeitos de petróleo Tipo Descrição Exemplos de uso Propano comercial Corrente contendo predominantemente propano e propeno a ser utilizada onde pressão de vapor e volatilidade altas são requisitos essenciais. Combustível para balão. Propano especial Corrente contendo no mínimo 90% de propano, em volume, a ser utilizada onde a porcentagem de propenos (olefinas/ insaturações) é limitada a, no máximo, 5% em volume. Reações químicas em que a instauração seja o ponto reacional indesejável. Butano comercial Corrente contendo predominantemente butanos e butenos a ser utilizada em sistemas de combustão que necessariamente contenham vaporizadores, evitando a chegada da fase líquida até o bico de queima. Queimas que necessitem de condições estáveis por um longo período. GLP Corrente que mistura percentuais variáveis de propano/propeno e de butanos/butenos que não se enquadram nas definições anteriores. Queima em fogões domésticos para a cocção de alimentos. Fonte: Adaptado de Gauto (2016). Subprodutos do petróleo6 A principal aplicação do GLP (85% dos usos) no Brasil é residencial, na cocção de alimentos e no aquecimento de água para calefação e banho. Os outros 15% são utilizados pela indústria como combustível industrial para segmentos específicos, pois o GLP apresenta poder calorífico acima das outras opções de combustíveis e oferece uma queima limpa, isenta de resíduos e extremamente controlada. Além disso, a mistura C3/C4 (antes de ser odorizada e, portanto, não sendo ainda GLP) também é utilizada como matéria-prima para a fabricação de polímeros, borrachas, álcoois e éteres. A mistura propano/butano também é utilizada como propelente em aerossóis (GAUTO, 2016). O GLP é produzido nas unidades de processamento de gás natural e nas re- finarias por destilação atmosférica, por craqueamento catalítico (responsável por 80% da produção de GLP no Brasil), entre outros métodos (GAUTO, 2016). Gasolina A gasolina é um combustível derivado do petróleo composto por uma mis- tura complexa de hidrocarbonetos relativamente voláteis que podem ter de 4 a 12 átomos de carbonos e que tem temperatura de ebulição entre 30 e 225°C (SILVA et al., 2009). A gasolina denominada A, a que sai das refinarias, é composta quase que 100% por hidrocarbonetos, podendo conter em sua composição a presença de pequenas quantidades de compostos com enxofre, oxigênio, benzeno, metais e nitrogênio, indesejáveis pelo impacto ambiental que alguns deles produzem, além da presença de outros elementos, como silício, fósforo e chumbo, compostos que têm origem no processamento do petróleo (CARVALHO; DANTAS FILHO, 2014; GAUTO, 2016). Os hidrocarbonetos presentes na gasolina, conforme a composição química, pertencem principalmente às classes das parafinas (normal e ra- mificadas), das olefinas, dos naftenos e dos hidrocarbonetos aromáticos (CARVALHO; DANTAS FILHO, 2014). A legislação brasileira limita a, no máximo, 25% de compostos olefínicos e 35% de compostos aromáticos, em volume, presentes na gasolina (ANP, 2018). Conforme mostra o Quadro 2, as gasolinas comum, aditivada e premium disponíveis em postos de combustíveis consistem na mistura da gasolina A com um percentual de etanol determinado pela autoridade federal. Gasolinas especiais, como a de aviação ou a de competição, podem ou não ter etanol em sua composição (GAUTO, 2016). Subprodutos do petróleo 7 Quadro 2. Tipos de gasolina Gasolina A Gasolina produzida pelas refinarias sem a adição de etanol e que não é comercializada ao público (no varejo), somente às distribuidoras. Não tem número de octanas definido, tendo em vista que não é utilizada pura, mas sua octanagem é menor do que a da gasolina misturada com etanol. Gasolina comum Mistura da gasolina A com etanol feita nas distribuidoras de combustíveis. O percentual da mistura é definido pelo governo federal. Em agosto de 2015, estava em 27%. Sua octanagem mínima é 87. Gasolina aditivada Obtida pela aditivação da gasolina comum, essa gasolina é formulada por algumas distribuidoras de combustíveis que realizam a adição de substâncias com propriedades detergentes, antioxidantes e redutoras de fuligem à gasolina comum. A aditivação tem como objetivo manter a limpeza do motor. Não necessariamente todos esses aditivos têm de estar presentes. Eles variam conforme a distribuidora fabricante do combustível, e não é obrigatório que a distribuidora forneça uma gasolina com essas características. Como a composição básica não muda em relação à gasolina comum, sua octanagem também é 87. Gasolina premium Gasolina em que se garante um número de octanas superior, na faixa de 95. Isso é possível pela seleção dos hidrocarbonetos que vão estar presentes na gasolina, como maior proporção de compostos naftênicos e aromáticos do que na gasolina comum. Nessa gasolina, o percentual de etanol é de 25%. Gasolina de aviação Gasolina com octanagem na faixa de 100 a 130, rica em nafta proveniente de reforma catalítica, com alto teor de compostos aromáticos e adição do chumbo tetraetila. Gasolinas especiais e de competição Gasolinas produzidas conforme necessidades específicas dos motores que a utilizarão, diferenciadas pela octanagem, densidade e composição. Fonte: Adaptado de Gauto (2016). A gasolina é uma mistura que pode ser obtida pela destilação fracio- nada do petróleo em refinaria ou via processos químicos complexos, como o craqueamento catalítico ou reforma, destinados a aumentar o rendimento volumétrico pela adição de diferentes correntes. Ela ainda pode ser obtida pela mistura mecânica de correntes de hidrocarbonetos líquidos, conhecida como formulação (ANP, 2018). Subprodutos do petróleo8 Dentre os produtos derivados do petróleo, a gasolina é um dos mais importantes e traz grande retorno financeiro às refinarias, por se tratar de um combustível amplamente utilizado na maioria dos veículos com motor de combustão interna. A função desses motores é produzir movimento (energia mecânica) a partir da energia térmica liberada na combustão da gasolina (GAUTO, 2016). A reação básica que ocorre no interior de um motor é a quebra dos hidro- carbonetos que compõem o combustível para produzir dióxido de carbono, água e, o mais importante, calor (energia). Nos motores decombustão, a gasolina é vaporizada e recebe uma certa quantidade de ar. Essa mistura é comprimida e explode sob a ação de uma faísca elétrica produzida pela vela do motor, deslocando o pistão e produzindo trabalho. Os parâmetros de qualidade da gasolina mais críticos referem-se justamente às suas ca- racterísticas antidetonantes, para que ela não detone espontaneamente ao ser comprimida. O índice de octano, ou octanagem, é uma medida da capacidade do combustível de resistir à detonação espontânea, que deve ser maior do que 90% (SOARES, 2003). Querosene O querosene é constituído por hidrocarbonetos, e os principais tipos en- contrados nesse composto são as parafinas, os naftênicos, os aromáticos e as olefinas, além de, em concentrações baixas, alguns compostos com enxofre, nitrogênio e oxigênio. A concentração de compostos de enxofre e de nitrogênio vai depender do tipo de petróleo e dos processos de refino utilizados (CAMOLESI, 2009). Os compostos de nitrogênio tendem a provocar instabilidade no combustível por reações de degradação indesejáveis. Os compostos de enxofre, além de terem o odor desagradável característico, podem causar corrosão nas câmeras de combustão (GAUTO, 2016). O querosene é extraído em temperaturas entre a gasolina e o óleo diesel, tendo uma faixa de destilação entre 130 e 300°C. Ele é obtido pelo processo de destilação atmosférica seguido de tratamentos para a retirada de possíveis contaminantes (CAMOLESI, 2009; GAUTO, 2016). Após realizada a extração do querosene, ele pode passar por outros processos físico-químicos e, assim, produzir diferentes tipos de querosene comercial: o básico, o industrial e o de aviação (QAV) (MONTEIRO et al., 2019). O querosene básico é o mais comum e tem inúmeras utilidades no dia a dia, sendo a principal delas o uso como solvente. As características que podem identificar esse tipo de querosene são seu odor forte e desagradável, a sua Subprodutos do petróleo 9 insolubilidade em água e sua menor densidade do que a água. O querosene industrial ou de iluminação tem cor clara, baixo teor de enxofre e produz queima sem cheiro ou fumaça. Além disso, seu ponto de fulgor (temperatura mínima em que o produto deve estar para produzir vapor suficiente para se tornar inflamável) é de 40°C (MONTEIRO et al., 2019). O QAV é utilizado como combustível de aviões com motores a turbinas. Contudo, para isso, o QAV deve ter alto poder de combustão e calorífico, baixa formação de resíduos, ausência de corrosividade, baixa pressão de vapor e baixo ponto de congelamento. Assim, vai oferecer o máximo de energia e eficiência durante os voos (MONTEIRO et al., 2019). Por isso, existe uma restrição quanto ao teor de compostos aromáticos para o querosene de aviação: estão limitados a 26,5% em massa, sendo que o restante da composição é de parafínicos, entre 35 e 60%, e de naftênicos, entre 25 e 50% (GAUTO, 2016). Óleo diesel O óleo diesel é um composto formado por hidrocarbonetos, podendo conter, em baixas concentrações, contaminantes como enxofre, nitrogênio e oxigênio. É um combustível derivado do petróleo, obtido nas refinarias nos processos de destilação (atmosférica e a vácuo) (GAUTO, 2016). O diesel que sai diretamente das refinarias é denominado diesel tipo A, e o diesel comercializado nos postos de combustíveis é o óleo diesel do tipo B, que contém a adição de cerca de 7% em volume de biodiesel (biocombustível com as mesmas características do diesel de petróleo) (GAUTO, 2016). Os compostos que formam o diesel podem ser parafínicos, naftênicos ou aromáticos, e a proporção desses compostos define a qualidade do óleo. Contudo, não há limitação em relação a esses compostos para a comerciali- zação do óleo diesel (GAUTO; ROSA, 2013). A principal aplicação do óleo diesel é em motores de combustão interna e ignição por compressão (motores do ciclo diesel) de automóveis, furgões, ônibus, caminhões, trens e máquinas agrícolas. Ele também pode ser utilizado em embarcações marítimas, como combustível industrial e para a geração de energia elétrica (GAUTO, 2016; PETROBRAS, 2014). Óleo combustível O óleo combustível é obtido a partir das frações mais pesadas do petróleo bruto, após a destilação atmosférica e a destilação a vácuo. A maior utilização desse óleo é em indústrias. Os óleos combustíveis são classificados pela Subprodutos do petróleo10 viscosidade e pelo teor de enxofre, sendo que suas principais aplicações são (GAUTO, 2016): � aquecimento industrial em fornalhas; � geração de energia por meio de vapor em caldeiras e termoelétricas; � combustíveis para navios. Para saber mais sobre combustíveis derivados do petróleo, acesse o site da Petrobras. Derivados não combustíveis Além dos derivados de petróleo utilizados como combustíveis, existem vá- rios derivados do petróleo com aplicações diferentes e específicas. Vamos estudá-los a seguir. Gases propelentes Os gases propelentes de substâncias aerossóis utilizados atualmente são o propano e o butano, podendo ser utilizado o butano puro ou misturas de propano e butano. Esses gases são obtidos a partir do GLP, após processos de filtração catalítica dos gases presentes no GLP, a fim de eliminar seu odor. Essa aplicação é de grande utilidade, afinal o gás propelente utilizado anti- gamente era o CFC (clorofluorocarboneto), considerado uma grande ameaça à camada de ozônio (GAUTO, 2016). Nafta petroquímica A nafta petroquímica faz parte da corrente que compreende a gasolina, tendo ponto de ebulição entre 30 e 200°C, próximo ao da gasolina. Assim, é obtida principalmente da destilação atmosférica do óleo bruto de petróleo. Esse derivado do petróleo tem em sua composição hidrocarbonetos que podem variar de 5 a 10 átomos de carbono, com pequenas quantidades de enxofre e nitrogênio (GAUTO, 2016; MEIRELLES; SILVA; RAJAGOPAL, 2014). A nafta é um dos derivados do petróleo mais importantes, sendo uma das principais matérias- -primas da indústria petroquímica brasileira (MEIRELLES, 2014). Subprodutos do petróleo 11 Por meio do craqueamento da nafta é possível obter eteno e propeno, matérias-primas utilizadas para a obtenção de polímeros (polietileno e po- lipropileno) de grande utilização e inúmeras aplicações. A nafta também pode ser utilizada para a produção de borrachas e solventes. Dependendo da composição da nafta, é possível obter pelo seu craqueamento compostos como benzeno, tolueno e xileno, que também são compostos aromáticos de grande importância para a indústria petroquímica (GAUTO, 2016; GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Solventes Os solventes derivados do petróleo são misturas de hidrocarbonetos utilizadas para solvatar substâncias apolares. Esses solventes podem ser classificados em alifáticos e aromáticos. Os solventes alifáticos são saturados, contendo apenas ligações simples, e têm cadeias carbônicas variando de 5 a 14 átomos de carbono. Eles são obtidos a partir da destilação atmosférica do petróleo com posterior tratamento para a retirada do benzeno. Os solventes aromá- ticos são derivados do benzeno e só são obtidos diretamente do petróleo em quantidades pequenas. A indústria petroquímica utiliza a nafta como matéria-prima para a produção desses solventes em grande escala, por meio de processos de reforma catalítica ou pirólise (GAUTO, 2016). Os Quadros 3 e 4 mostram os principais solventes alifáticos e aromáticos e suas principais aplicações. Quadro 3. Principais solventes alifáticos Pentano Expansão de poliestireno (produção de isopor). Hexano comercial � Extração de óleos vegetais � Solvente para adesivos de secagem rápida à base de borrachas (indústria química) Solvente leve de petróleo � Solvente para limpeza, diluição de resinas, adesivos e polímeros � Produção de fluido para isqueiro Aguarrás mineral � Lavagem a seco � Solvente para resinas alquídicas � Formulação de tintas em geral Fonte: Adaptado de Gauto (2016). Subprodutos do petróleo12 Quadro 4. Principais solventes aromáticosBenzeno Fabricação de detergentes biodegradáveis e poliestireno (indústria química) Tolueno ou metil-benzeno � Solvente para adesivos e tintas � Produção de explosivos Xilenos mistos Fabricação de defensivos agrícolas, medicamentos, garrafas PET e tintas AB-9, AB-10 e AB-11 Aplicações específicas na formulação de defensivos agrícolas, resinas e tintas para pintura de chapas metálicas (linha branca) Fonte: Adaptado de Gauto (2016). Parafinas e lubrificantes Os lubrificantes e as parafinas são obtidos na mesma rota de produção e podem ser produzidos por hidrorrefino ou por rota solvente, sendo que esta última é a mais comum e presente no Brasil (GAUTO, 2016). Os óleos lubrificantes estão divididos em parafínicos e naftênicos, e as aplicações variam de acordo com as características físico-químicas de cada um deles. Entre as principais aplicações dos lubrificantes estão: reduzir o atrito entre partes móveis, proteger contra desgaste e corrosão, remover calor (máquinas de combustão) e atuar como meio hidráulico ou isolante elétrico (GAUTO, 2016). As parafinas são subprodutos da fabricação de óleos básicos lubrifican- tes. São misturas de hidrocarbonetos de alto ponto de fusão que, portanto, são sólidos à temperatura ambiente. As parafinas podem ser classificadas em macrocristalinas e microcristalinas, conforme sua faixa de fusão, e suas principais aplicações estão descritas no Quadro 5. Quadro 5. Principais aplicações das parafinas Macrocristalinas � Recobrimento de palitos de fósforo � Velas e emulsão para MDF � Películas hot melt � Moldes dentários Microcristalinas Utilizações específicas onde houver a necessidade de uma resistência térmica maior Fonte: Adaptado de Gauto (2016). Subprodutos do petróleo 13 Asfalto O asfalto é um material aglutinante, de cor escura, constituído por misturas complexas de hidrocarbonetos não voláteis de elevada massa molecular como asfaltenos, resinas e hidrocarbonetos de natureza aromática. Originam-se dos resíduos do petróleo, que não passam por outras unidades de conversão. Para superfícies asfálticas, costuma-se adicionar ao composto areia, pó de pedra e gravilha (GAUTO, 2016; PETROBRAS, 2019b). Neste capítulo, vimos a indústria petroquímica e seus segmentos e os principais produtos obtidos por meio desse ramo da indústria química. Além disso, estudamos os produtos derivados combustíveis e não combustíveis do petróleo e suas principais aplicações. Esse tema é muito importante, pois muitas vezes a sociedade não compreende as inúmeras aplicações dos derivados de petróleo além dos combustíveis produzidos. Referências AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO (ANP). Informações sobre a gasolina vendida no Brasil. Nota Técnica, fev. 2018. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Subprodutos do petróleo16
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