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PROCESSOS ORGÂNICOS INDUSTRIAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir composição, propriedades e qualidade do petróleo. > Diferenciar os processos de refino de petróleo. > Reconhecer os principais produtos obtidos após o refino de petróleo. Introdução Estudar o petróleo é muito importante, pois trata-se de uma matéria-prima que fornece produtos essenciais à vida moderna. Desse modo, é um dos recursos naturais mais cobiçados da atualidade, por dar origem a produtos como gás natural, gasolina automotiva, gás liquefeito de petróleo (GLP, ou gás de cozinha), querosene, óleo diesel, solventes, asfalto, plásticos, entre muitos outros. Porém, para obter esses derivados, são necessários alguns processos químicos abrangidos no chamado refino de petróleo. Nas refinarias, o petróleo bruto é transformado nos produtos derivados que utilizamos. Existem muitos profissionais de diversas áreas envolvidos em cada etapa da indústria do petróleo, e o trabalho do engenheiro químico pode ser envolvido em todas elas, desde o processo de perfuração de poços até as etapas finais nas refinarias. Neste capítulo, você vai aprender sobre a composição e as principais proprie- dades do petróleo, vai entender seus diferentes processos de refino e vai conhecer os principais produtos obtidos nos processos de destilação e craqueamento do petróleo. Refino de petróleo Julia Gascho Petróleo Origem A região da crosta terrestre onde o petróleo está armazenado é comumente chamada de jazida de petróleo e pode ter entre 10 e 400 milhões de anos. Exis- tem muitas teorias sobre a origem do petróleo, mas a mais aceita atualmente sustenta que a formação do petróleo se dá pela ação da própria natureza, devido à decomposição de matéria orgânica resultante de restos de animais e vegetais depositados há milhões de anos sob mares e lagos. A decomposição dessa matéria orgânica, juntamente com a de rochas sedimentares, após longo tempo sofrendo ações bacterianas e químicas ativadas pelo aumento de temperatura e pressão, dá origem ao óleo e ao gás de petróleo (GAUTO; ROSA, 2013; ALMEIDA, 2006). A maioria dos compostos identificados na composição do petróleo são de origem orgânica, mas são necessárias condições especiais para que essa matéria orgânica decomposta se transforme em petróleo, e o ambiente marinho reúne tais condições. Assim, o petróleo ocorre normalmente em rochas sedimentares depositadas sob condições marinhas, onde a matéria orgânica é originada principalmente de microrganismos e algas que formam o fitoplâncton, que, por sua vez, não pode sofrer processos de oxidação. A interação entre os fatores matéria orgânica, sedimentos de rochas e condi- ções termoquímicas apropriadas é essencial para dar início ao processo de formação do petróleo (TRIGGIA et al., 2001). A rocha onde o petróleo é formado é chamada de rocha geradora, uma rocha mineral formada principalmente pelo acúmulo de fragmentos de outros minerais e detritos orgânicos. Quando se encontra num ambiente de pouca permeabilidade, que inibe a ação da água circulante e diminui a quantidade de oxigênio existente, cria as condições necessárias para a formação do petróleo (ALMEIDA, 2006). Após esse processo de formação do petróleo, ele migra através de rochas permeáveis e porosas em direção a áreas de menor pressão, até que encontra obstáculos naturais, chamados de armadilhas, que impedem sua migração para zonas de pressões ainda mais baixas (ALMEIDA, 2006). A rocha onde o petróleo fica armazenado é chamada de rocha reservatório. Localizadas desde formações próximas à superfície até profundidades acima de 5 mil metros, essas rochas costumam armazenar o petróleo nos seus poros ou fraturas (GAUTO; ROSA, 2013). Refino de petróleo2 A conversão de matéria orgânica em petróleo é chamada de maturação, um processo que pode ser dividido nas etapas evolutivas ilustradas na Figura 1 e explicadas logo em seguida (TRIGGIA et al., 2001). Figura 1. Transformação termoquímica da matéria orgânica e a geração do petróleo. Fonte: Triggia et al. (2001, p. 16). � Diagênese: logo após a deposição, tem início a decomposição bioquí- mica da matéria orgânica, gerando metano biogênico. Com o aumento da pressão e da temperatura, predomina a atividade bacteriana que provoca a reorganização celular, e a matéria orgânica é convertida em querogênio — matéria orgânica amorfa com C, H e O. Esse processo ocorre em temperaturas mais baixas, de até 65°C. � Catagênese: com o aumento da pressão e incremento da temperatura a até 165°C, o querogênio é quebrado, resultando em hidrocarbonetos líquidos e gás. � Metagênese: com mais um aumento da temperatura, até 210°C, as mo- léculas de hidrocarbonetos líquidos são quebradas, formando gás leve. � Metamorfismo: se a temperatura aumentar ainda mais, ocorre a degra- dação dos hidrocarbonetos gerados anteriormente, formando grafite, gás carbônico e resíduo de gás metano. Refino de petróleo 3 Portanto, a formação de petróleo e de gás natural depende da compo- sição da matéria orgânica original e também do aumento de temperatura, chamado de gradiente geotérmico, que é a taxa de elevação de temperatura por unidade de profundidade no sentido ao centro da Terra. Constituintes do petróleo O nome petróleo vem do latim: petra = pedra e oleum = óleo. Em estado líquido, o petróleo é um óleo inflamável, menos denso que a água, com um cheiro característico e uma cor que pode variar entre o negro e o castanho escuro (ALMEIDA, 2006; GAUTO; ROSA, 2013). Essas duas últimas características variam em função dos diferentes reservatórios em que os óleos são obtidos; alguns podem ser escuros, densos e viscosos, com pouco gás, enquanto outros podem apresentar tonalidades mais claras, baixa densidade e viscosidade, com quantidade expressiva de gás (ALMEIDA, 2006). Porém todos eles produzem análises elementares semelhantes às apresentadas no Quadro 1. Quadro 1. Frações típicas do petróleo Fração Temperatura de ebulição (°C) Composição aproximada Usos Gás residual Até 40 C1 a C2 Gás combustível GLP C3 a C4 Gás combustível engarrafado, uso doméstico e industrial Gasolina 40 a 175 C5 a C10 Combustível de automóveis, solvente Querosene 175 a 235 C11 a C12 Iluminação, combustível de aviões a jato Gasóleo leve 235 a 305 C13 a C17 Diesel, fornos Gasóleo pesado 305 a 400 C18 a C25 Combustível, matéria- prima para lubrificantes Lubrificantes 400 a 510 C26 a C38 Óleos lubrificantes Resíduo Acima de 510 C38+ Asfalto, piche, impermeabilizantes Fonte: Adaptado de Triggia et al. (2001). Refino de petróleo4 O petróleo é composto principalmente por uma mistura complexa de hidrocarbonetos, conforme pode ser visto no Quadro 2, que mostra os re- sultados de uma análise elementar de óleo cru de petróleo, em que pode ser observada uma maior quantidade de hidrogênio e carbono do que de outros componentes. Em condições normais de temperatura e pressão, quando essa mistura contém um maior percentual de moléculas pequenas, seu estado físico é gasoso; já quando a mistura contém moléculas maiores, seu estado físico é líquido (TRIGGIA et al., 2001). Quadro 2. Análise elementar do óleo cru típico (% em peso) Hidrogênio 11–14% Carbono 83–87% Enxofre 0,06–8% Nitrogênio 0,11–1,7% Oxigênio 0,1–2% Metais até 0,3% Fonte: Adaptado de Triggia et al. (2001). Os hidrocarbonetos são compostos orgânicos de moléculas apolares, homogêneas e formadas apenas por átomos de carbono e hidrogênio. Nessas moléculas, os átomos estão unidos por ligações covalentes e, de acordo com a estrutura desses compostos, eles podem ser classificados como saturados, insaturados e aromáticos. Os hidrocarbonetos saturados, chamados de alcanos ou parafinas, são aqueles que apresentam apenas ligações simples e o maior número possível de átomos de hidrogênio em sua estrutura, podendo ter ca- deias lineares, ramificadas ou cíclicas, interligadas ou não. Hidrocarbonetos insaturados são aqueles que têm pelo menos uma ligação duplaou tripla em sua estrutura, e também são chamados de olefinas. Por fim, os hidrocarbonetos aromáticos, conhecidos como arenos, são aqueles que apresentam em sua estrutura ao menos um anel benzênico (TRIGGIA et al., 2001). Os óleos de petróleo têm como principais componentes os hidrocarbonetos saturados e aromáticos, bem como resinas e naftalenos, que, por sua vez, são compostos não hidrocarbonetos, formados por moléculas grandes, com alta Refino de petróleo 5 relação carbono/hidrogênio, mas que também possuem em sua composição enxofre, oxigênio e nitrogênio (~7%). Já o gás natural é constituído basicamente por uma mistura de hidrocarbonetos, indo do metano até o hexano, e podendo conter pequenas quantidades de diluentes e contaminantes (TRIGGIA et al., 2001). Classificação do petróleo O petróleo pode ser classificado de acordo com seus constituintes, e essa clas- sificação interessa tanto geoquímicos, que caracterizam o óleo para relacioná-lo à rocha-mãe e para medir seu grau de degradação, quanto os refinadores, que buscam conhecer as quantidades de cada uma das diversas frações que podem ser obtidas, assim como sua composição e propriedades físicas. Os óleos parafínicos, por exemplo, são excelentes para a produção de querosene, utilizado como combustível de aviões (QAV), diesel, lubrificantes e parafinas. Já os óleos naftênicos produzem frações significativas de gasolina, nafta petroquímica, QAV e lubrificantes, enquanto os óleos aromáticos são mais indicados para a produção de gasolina, solventes e asfalto. A seguir, são listadas as principais classes de petróleo (ALMEIDA, 2006; TRIGGIA et al., 2001). � Classe parafínica: com composição de 75% ou mais de cera de parafina, esta classe inclui óleos leves, fluidos de alto ponto de fluidez, com uma densidade inferior a 0,85, teor de resina e asfalteno inferior a 10%, baixa viscosidade, a não ser em casos de um elevado grau de n-parafinas de alto peso molecular (alto ponto de fluidez). Os hidrocarbonetos aromáticos presentes nesta classe são monocíclicos ou bicíclicos e têm baixo teor de enxofre. A maior parte do óleo produzido no nordeste do Brasil recai nesta classe de petróleo. � Classe parafínico-naftênica: tem composição de 50 a 70% de parafina e mais de 20% de hidrocarbonetos naftênicos. Os óleos encontrados nesta classe apresentam teor de 5 a 15% de resinas e asfaltenos, baixo teor de enxofre (menos de 1%) e teor de hidrocarboneto naftênico entre 25 e 40%. A densidade e a viscosidade apresentam valores moderados e superiores aos da classe parafínica. A maior parte do petróleo pro- duzido na Bacia de Campos do Rio de Janeiro é desta classe. � Classe naftênica: com composição de mais de 70% de hidrocarbonetos naftênicos, esta classe inclui um número muito pequeno de óleos. Têm baixo teor de enxofre e são derivados de mudanças bioquímicas no óleo parafínico e parafínico-naftênico. Parte do petróleo da América do Sul, Rússia e Mar do Norte se enquadra nesta categoria. Refino de petróleo6 � Classe aromática intermediária: esta classe tem hidrocarbonetos aro- máticos acima de 50% e geralmente contém óleo pesado com cerca de 10 a 30% de asfaltenos e resinas e mais de 1% de teor de enxofre. Nos óleos desta classe, o teor de monoaromáticos é baixo, ao passo que o teor de tiofenos e dibenzotiofenos é alto, e sua densidade geralmente é maior que 0,85. Parte do petróleo do Oriente Médio (Arábia Saudita, Catar, Kuwait, Iraque, Síria e Turquia), África Ocidental, Venezuela, Califórnia e Mediterrâneo (Sicília, Espanha e Grécia) se enquadra nesta classe. � Classe aromático-naftênica: é a classe de petróleo cuja composição tem teor de naftenos acima de 35%. Os óleos neste grupo, derivados dos óleos parafínicos e parafínicos-naftênicos, passam por um processo inicial de biodegradação, em que a cera de parafina é removida. Estes óleos podem conter mais de 25% de resinas e asfaltenos e ter um teor de enxofre entre 0,4 e 1%. Alguns óleos da África Ocidental se enquadram nesta classe. � Classe aromático-asfáltica: esta classe tem em sua composição mais de 35% de asfaltenos e resinas. Seus óleos vêm de um processo de biodegradação avançado, em que ocorre a união e oxidação das olefinas monocíclicas. Esta classe também pode incluir alguns óleos originalmente aromáticos da Vene- zuela e da África Ocidental. No entanto, inclui principalmente óleos pesados e viscosos resultantes da alteração dos óleos aromáticos intermediários. O teor de asfaltenos e resinas é alto, havendo equilíbrio entre os dois. O teor de enxofre varia entre 1 e 9%, e os óleos desta classe são encontrados principalmente no oeste do Canadá, na Venezuela e no sul da França. Processos de refino do petróleo O petróleo bruto é uma mistura complexa de hidrocarbonetos e contaminan- tes como enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. A composição exata dessa mistura varia, e essa variação depende muito do reservatório de sua fonte. Em estado bruto, o petróleo quase não tem aplicação e só poderia ser usado como óleo combustível. Para aproveitar ao máximo seu potencial energético, o petróleo deve passar por uma série de processos para se transformar em seus derivados, que realmente apresentam grande valor comercial (ALMEIDA, 2006). Nas refinarias, esse beneficiamento do petróleo inclui etapas de separação física e química, que produzem grandes frações de destilação que, por sua vez, são processadas por meio de outra série de etapas de separação e conversão para fornecer o derivado de petróleo final. Refinar petróleo trata-se então de separar as frações desejadas, processá-las e dar-lhes acabamento, de modo a obter os produtos utilizados na sociedade. Assim, o refino de petróleo constitui a Refino de petróleo 7 separação deste insumo via processos físico-químicos em frações de derivados, que são processados em unidades de separação e conversão até os produtos finais. As parcelas dos derivados produzidos em cada refinaria dependem do tipo de petróleo processado (GAUTO; ROSA, 2013; ALMEIDA, 2006). Destilação O processo utilizado para fracionar e separar os constituintes do óleo cru de petróleo é a destilação. Essa técnica baseia-se na diferença de pontos de ebulição entre as substâncias que compõem a mistura que se deseja separar, ou seja, na diferença de volatilidade dessas substâncias. No caso do petróleo, a destilação pode ser realizada em pressão atmosférica ou sob vácuo. Vale ressaltar ainda que, antes de entrar na torre de destilação, o óleo cru de petróleo deve passar por um equipamento chamado dessalgador, que tem a finalidade de remover sais inorgânicos, água e sedimentos, que podem estar dissolvidos no petróleo e que podem causar danos aos equipamentos utilizados durante o processamento do petróleo. Normalmente, a etapa inicial do processamento de petróleo é chamada de destilação atmosférica, que ocorre após a dessalgação e o pré-aquecimento do óleo. Essa etapa é seguida por uma destilação a vácuo, conforme pode ser visto na Figura 2 (GAUTO; ROSA, 2013). Figura 2. Destilação do petróleo: primeira (atmosférica) e segunda (a vácuo). Fonte: Coelho (2012, documento on-line). Refino de petróleo8 Na torre de destilação atmosférica, é mantido o sistema de aquecimento, e o petróleo bruto começa a desprender vapores, que se elevam para o alto da torre. O tipo de destilação mais usado nesses casos é a destilação fracionada, que contém uma coluna de fracionamento em que o vapor é parcialmente condensado em determinada altura da torre. A torre de destilação em questão também é conhecida como torre de pratos, porque em seu interior existe uma série de pratos com borbulhadores dispostos horizontalmente por toda sua extensão. Conforme os vapores se elevam, condensam-se nos pratos correspondentes à temperatura de condensação da substância. Os pratos mais próximos à base da torre são mais quentes e os do alto são mais frios, e assim são obtidas as frações de derivados. Nas partes mais altas, ficamdepositados frações de gás, nafta e gasolina; nas intermediárias, querosene e óleo diesel; e no fundo da torre, as frações de ponto de ebulição mais elevado, como óleo combustível ou cru reduzido (GAUTO; ROSA, 2013; ALMEIDA, 2006). O resíduo da destilação atmosférica é utilizado como carga para a unidade de destilação a vácuo, em que a torre é submetida a uma pressão negativa. O objetivo desse processo é produzir, a partir do resíduo, frações de diesel e gasóleo. O gasóleo é uma fração do petróleo destinado à produção de lubrificantes, podendo ser direcionado para processos mais complexos de beneficiamento, como o craqueamento, em que é transformado em óleo diesel, gasolina e GLP. Já o produto residual da destilação a vácuo pode ser utilizado como asfalto ou para a produção de óleo combustível (ALMEIDA, 2006). Craqueamento Após a destilação atmosférica e a destilação a vácuo, o processo de refino do petróleo passa pela etapa de craqueamento, que pode ser térmico ou catalítico, mas sempre com o mesmo princípio de quebrar moléculas de hi- drocarbonetos longas e pesadas em moléculas menores e mais leves (GAUTO; ROSA, 2013). O processo de craqueamento térmico envolve a aplicação de pressão e temperatura elevadas para quebrar as moléculas. No craqueamento do querosene, do óleo diesel e do óleo lubrificante em gasolina, por exemplo, são aplicadas temperaturas que vão de 450 a 700°C. A única vantagem desse processo em relação ao craqueamento catalítico é a inexistência do problema de contaminação do catalisador, que pode ocorrer no processo catalítico. Aqui, a carga pode conter maiores quantidades de contami- nantes, metais e compostos sulfurados. Porém, o craqueamento térmico Refino de petróleo 9 apresenta desvantagens, como a necessidade de aplicação de temperatura e pressão muito elevadas e a geração de produtos de qualidade inferior, se comparados aos obtidos pelo craqueamento catalítico (GAUTO; ROSA, 2013; ALMEIDA, 2006). Já o craqueamento catalítico depende de calor, pressão e um catali- sador, o qual aumenta a velocidade de uma reação química sem parti- cipar efetivamente dela. O craqueamento catalítico vem substituindo o craqueamento térmico, pois requer condições de temperatura e pressão mais brandas. Além disso, tende a produzir menores quantidades de óleos combustíveis pesados e de gases leves e mais gasolina de alta octana- gem, que é uma gasolina de maior qualidade, com uma resistência maior a aumentos de temperatura e pressão no interior dos motores (GAUTO; ROSA, 2013; ALMEIDA, 2006). O craqueamento catalítico mais utilizado em refinarias é o denominado craqueamento catalítico fluido, cuja alimentação normalmente vem de ga- sóleo pesado do vácuo. O gasóleo se mistura ao catalisador, geralmente um composto à base de alumina ou zeólitos, e a corrente de alimentação mantém o catalisador suspenso. Essa mistura de carga e catalisador é então aquecida a altas temperaturas, sendo vaporizada e craqueada. Em seguida, os produtos são separados do catalisador e enviados para uma outra torre de destilação fracionada, a fim de serem separados entre si. Além disso, muitos dos subprodutos do craqueamento do petróleo são usados como matéria-prima para produção de plásticos, borrachas e novos materiais (GAUTO; ROSA, 2013). Sendo assim, o craqueamento catalítico fluido é amplamente utilizado em todo o mundo, uma vez que a demanda de gasolina em vários países é superior à dos óleos combustíveis. O craqueamento catalítico corrige o déficit da produção de gasolina e GLP, suplementando a diferença entre a quantidade obtida diretamente do petróleo e a requerida pelo mercado mundial crescente (PEREIRA NETO; ALVES, 2018). Produtos derivados do petróleo A Figura 3 apresenta alguns dos principais produtos obtidos a partir do óleo cru de petróleo. Logo em seguida, você verá uma descrição mais detalhada de alguns um deles. Refino de petróleo10 Figura 3. Principais derivados do petróleo. Fonte: Adaptada de Portal Laboratórios Virtuais de Processos Químicos ([2008]). Gases Dentre os gases obtidos em refinarias, temos o gás combustível, o gás natural e o GLP. O gás combustível é composto por gases residuais de refinaria e normalmente utilizados como combustíveis na própria unidade. Um exemplo é o gás de xisto, de características semelhantes ao gás metano. Outro gás que se pode dizer proveniente do petróleo é o gás natural, que é uma mistura de hidrocarbonetos leves e gasosos (metano e etano, principalmente), obtida da extração de jazidas. É utilizado como combustível industrial, automotivo e doméstico (GAUTO; ROSA, 2013). Refino de petróleo 11 Porém, o gás que realmente é extraído no processo de refino do petróleo é o GLP, ou gás de cozinha, que é uma mistura formada quase totalmente por moléculas de hidrocarbonetos contendo de três a quatro átomos de carbono. O GLP é gasoso nas condições normais de temperatura e pressão, mas pode ser liquefeito por resfriamento e/ou compressão. Como esse gás é incolor e inodoro e, adiciona-se a ele um composto à base de enxofre, conferindo certo odor característico, para que vazamentos possam ser identificados. Os principais componentes do GLP são: propano (C3H8), propeno (C3H6), isobutano (C4H10), n-butano (C4H10) e buteno (C4H8), que também podem ser comercializados separadamente. A queima do GLP é considerada limpa quando comparada aos combustíveis mais pesados, com reduzido nível de emissão de particulados, SOx e NOx. Produz também baixo nível de emissões de CO2 devido à alta proporção hidrogênio/carbono em sua composição. Em âmbito mundial, a principal aplicação do GLP é no cozimento de ali- mentos, seguido de calefação hídrica, aquecimento de ambientes e atividades de lazer. Nafta petroquímica A nafta é uma fração do óleo cru com ponto de ebulição entre 30 e 200°C, constituindo tipicamente 15 a 30 % de massa do petróleo. Inclui hidrocarbo- netos que podem variar de 5 a 12 carbonos, pequenas quantidades de enxofre e nitrogênio. As especificações da nafta costumam variar de acordo com o local onde é comercializada. No Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) regulamenta os parâmetros que devem ser determinados e qual método deve ser utilizado. Vale ressaltar que a nafta ainda é uma das principais matérias- -primas da indústria petroquímica brasileira (MEIRELLES, 2014). A nafta petroquímica é um líquido incolor, com faixa de destilação próxima à da gasolina. Este derivado é utilizado como matéria-prima pelas três cen- trais petroquímicas existentes no brasil, que o processam para obter como produtos principais eteno, propeno e butadieno (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Nafta é um termo que podemos utilizar para nomear as formas mais vo- láteis de petróleo. Existem duas formas: a nafta leve, que contém compostos de hidrocarbonetos com 6 ou menos átomos de carbono, e a pesada, que contém hidrocarbonetos com 6 ou mais átomos de carbono. Além disso, a nafta é útil como solvente, como combustível e para outros fins industriais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA, 2007). Refino de petróleo12 Além disso, a nafta é muito utilizada como matéria-prima na produção de diversos produtos químicos. Um exemplo são os polímeros, vulgarmente chamados de plásticos, além de borrachas e solventes (GOMES; DVORSAK; HEIL, 2005). Gasolina A gasolina é um combustível derivado do petróleo, composto por uma mistura complexa de hidrocarbonetos relativamente voláteis que podem ter de 4 a 12 átomos de carbonos e que cuja temperatura de ebulição fica entre 30 e 225°C (SILVA et al., 2009). Os hidrocarbonetos presentes na gasolina, conforme a composição química, pertencem principalmente às classes das parafinas (normal e ramificadas), das olefinas, dos naftenos e dos hidrocarbonetos aromáti- cos. Ademais, a gasolina também pode conter, em menores quantidades, compostos oxigenados. Além dos hidrocarbonetos, a gasolina também possui contaminantes tóxicos naturais em baixas concentrações,formados por compostos contendo enxofre, oxigênio, benzeno, metais e nitrogênio (CARVALHO; DANTAS FILHO, 2014). Geralmente, a gasolina é formada por centenas desses compostos quí- micos (hidrocarbonetos), independentemente de sua origem. É uma mistura que pode ser obtida pela destilação fracionada do petróleo em refinaria ou via processos químicos complexos, tal como o craqueamento catalítico ou a reforma, destinados a aumentar o rendimento volumétrico pela adição de diferentes correntes, e ainda pela mistura mecânica de correntes de hidro- carbonetos líquidos, conhecida como formulação (BRASIL, 2018). Dentre os produtos derivados do petróleo, a gasolina é um dos mais importantes e que traz grande retorno financeiro às refinarias, por se tratar de um combustível amplamente utilizado na maioria dos veículos com motor de combustão interna. A reação básica que ocorre no interior de um motor é a quebra dos hidrocarbonetos que compõem o combustível para produzir dióxido de carbono, água e, o mais importante, calor (energia). Nos motores de combustão, a gasolina é vaporizada e recebe certa quantidade de ar. Essa mistura é então comprimida e explode sob a ação de uma faísca elétrica produzida pela vela do motor, deslocando o pistão e produzindo trabalho. Os parâmetros de qualidade da gasolina mais críticos referem-se justamente às suas características antidetonantes, para que ela não Refino de petróleo 13 detone espontaneamente ao ser comprimida. O índice de octano, ou octanagem, é uma medida da capacidade do combustível de resistir à detonação espontânea, que deve ser superior a 90% (SOARES, 2003). Querosene O querosene é constituído por hidrocarbonetos, sobretudo parafinas, naf- tênicos, aromáticos e olefinas, além de, em concentrações baixas, alguns compostos com enxofre, nitrogênio e oxigênio. A concentração de compostos de enxofre e de nitrogênio vai depender do tipo de petróleo e dos processos de refino utilizados. As faixas de participação média dos hidrocarbonetos no querosene estão descritas no Quadro 3 (CAMOLESI, 2009). Quadro 3. Tipos De hidrocarbonetos no querosene (% em volume) Parafinas (alcanos) 33–61% Naftênicos (cicloalcanos) 33–45% Aromáticos 12–25% Olefinas (alcenos) 0,5–5% Fonte: Adaptado de Camolesi (2009). Cada molécula de hidrocarboneto presente no querosene tem entre 9 e 16 átomos de carbono. Esse derivado do petróleo é extraído entre as tempe- raturas de extração da gasolina e do óleo diesel, apresentando uma faixa de destilação entre 130 e 300°C alto poder de solvência (CAMOLESI, 2009). Uma vez extraído, o querosene pode passar por outros processos físico-químicos e assim produzir diferentes tipos de querosene comercial: o básico, o de aviação e o de iluminação. O querosene básico é o mais comum e tem inúmeras utilidades no dia a dia, com destaque para seu uso como solvente. As características que podem identificar esse tipo de querosene são seu odor forte e desagradável, sua insolubilidade em água e sua menor densidade que a água. Já o querosene de aviação é utilizado como combustível de aeronaves dotadas de motores a turbinas. Para esse uso, porém, deve apresentar alto poder de combustão e calorífico, baixa formação de resíduos, ausência de corrosividade, baixa pressão de vapor e baixo ponto de congelamento, oferecendo o máximo de energia e eficiência durante os voos. Temos ainda o querosene industrial, Refino de petróleo14 ou de iluminação, que apresenta cor clara e baixo teor de enxofre e produz queima sem cheiro ou fumaça. Seu ponto de fulgor (temperatura mínima em que o produto deve estar para produzir vapor suficiente para se tornar inflamável) deve ser no mínimo de 40°C (MONTEIRO et al., 2019). Óleo diesel (gasóleo) O óleo diesel, também conhecido como gasóleo, é um composto formado principalmente por átomos de carbono e hidrogênio e, em baixas concen- trações, por enxofre, nitrogênio e oxigênio. É um combustível derivado do petróleo, inflamável, medianamente tóxico, volátil, límpido, isento de material em suspensão e com odor forte e característico. É utilizado em motores de combustão interna e ignição por compressão (motores do ciclo diesel) de automóveis, furgões, ônibus e caminhões, podendo também ser utilizado em embarcações marítimas, como combustível industrial e para geração de energia elétrica. Esse óleo é composto por uma mistura de centenas de hidrocarbonetos, com número de carbonos variando entre 10 e 22 átomos, mas composto majoritariamente por hidrocarbonetos com cadeias de 8 a 16 carbonos. Uma das características desse óleo é a facilidade de inflamação em contato com o ar superaquecido. Os compostos que formam o diesel podem ser parafínicos, naftênicos ou aromáticos, e a proporção desses compostos é que define a qualidade do óleo (GAUTO; ROSA, 2013). É formulado pela mistura de diversas correntes como gasóleos, nafta pesada, diesel leve e diesel pesado, provenientes das diversas etapas de processamento do petróleo bruto. Óleos lubrificantes Os óleos básicos minerais usados na formulação dos lubrificantes comerciais são constituídos de uma mistura complexa de hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos, classificados conforme a natureza dos hidrocarbonetos predo- minantes na sua composição, o que lhes confere diferentes características e aplicações. Esses óleos apresentam menor teor de hidrocarbonetos aro- máticos, contendo 15 ou mais átomos de carbono, e são produzidos a partir de gasóleos da destilação a vácuo ou de óleos desasfaltados. São utilizados na formulação dos mais diversos tipos de lubrificantes, em mistura com um pacote de aditivos, dentre os quais se destacam: detergentes, dispersantes, inibidores de corrosão, melhorador de índice de viscosidade, antioxidantes Refino de petróleo 15 e produtos antidesgaste. Os óleos básicos são os componentes mais impor- tantes de qualquer fluido lubrificante, representando em geral mais de 90% do seu volume. Asfalto Outro derivado do petróleo bastante utilizado é o asfalto. Trata-se de um betume espesso de elevada viscosidade, propriedades impermeabilizantes e adesivas, não volátil, de cor preta ou marrom. Esse composto é constituído por hidrocarbonetos de elevada massa molecular, como asfaltenos, resinas e hidrocarbonetos de natureza aromática, solúveis em tricloroetileno e bissul- feto de carbono e que amolecem a temperaturas entre 150 e 200°C, obtidos por refinação de petróleo. O termo asfalto é utilizado popularmente para denominar o conjunto de materiais aplicados na pavimentação, ou seja, a mistura constituída por um ligante asfáltico para esse fim (cimento asfáltico de petróleo, asfaltos diluídos, asfalto modificado ou emulsões asfálticas) com agregados compostos por material mineral. O asfalto designa tanto o pavimento quanto o betume em si, mas para superfícies asfálticas costuma-se adicionar ao composto areia, pó de pedra e gravilha. Você pode saber mais sobre o mercado de refino de petróleo no Brasil consultando o artigo “Mercado de refino de petróleo no Brasil” (MENDES et al., 2018), que aborda temas como o posicionamento e a capacidade das refinarias instaladas, a necessidade de investimentos para atender à de- manda de derivados na próxima década; e a política de preços de derivados praticada no Brasil nos últimos 15 anos. Ficam claras, portanto, a importância e a riqueza dos processos adotados na indústria química para refino do petróleo, que resultam em diversos deri- vados aproveitados numa ampla gama de aplicações na sociedade. Esse tema é crucial, pois ajuda o engenheiro químico a identificar os principais processos que ocorrem numa refinaria de petróleo e seus respectivos objetivos. Referências ALMEIDA, J. Introdução à indústria do petróleo. Rio Grande: FURG — CTI, 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. Demanda de matérias primas petro- químicas e provável origem até 2020. São Paulo: ABIQUIM, 2007. Refino de petróleo16 BRASIL. Agência Nacional do Petróleo.Informações sobre a gasolina vendida no Brasil. Nota Técnica, 2018. Disponível em: http://www.anp.gov.br/images/central-de-conteudo/ notas-estudos-tecnicos/notas-tecnicas/nota-tecnica-gasolina-formulada-fev2018. pdf. Acesso em: 24 ago. 2021. CAMOLESI, V. J. 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