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OFICINA 3 - POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL E ARTICULAÇÃO DA RAPS COM ENFOQUE NA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO (RAPS, LEI 10.216 E SEUS PRINCIPIOS E DIRETRIZES, NOTA TÉCNICA 11/2019 (A NOVA SAÚDE MENTAL) E SEUS RETROCESSOS E CONSEQUÊNCIAS)

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OFICINA 3 - POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL E ARTICULAÇÃO DA RAPS COM ENFOQUE NA 
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
1. ESTUDAR AS RAPS (ORGANIZAÇÃO, PONTOS DE 
ATENÇÃO, PRINCÍPIOS, PROGRAMAS OFERECIDOS). 
A Rede de Atenção Psicossocial é destinada às 
pessoas em sofrimento psíquico ou transtorno 
mental e com necessidades decorrentes do uso de 
crack, álcool e outras drogas no âmbito do Sistema 
Único de Saúde. 
A Rede de Atenção Psicossocial foi disposta 
anteriormente pelo Decreto nº 7.508, de 28 de junho 
de 2011, que regulamenta a Lei nº 8.080 a fim de 
reorganizar o Sistema Único de Saúde, visto o seu 
planejamento em saúde, assistência à saúde e à 
articulação interfederativa. 
A finalidade da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) 
é a criação, ampliação e articulação de pontos de 
atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou 
transtorno mental e com necessidades decorrentes 
do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito 
do Sistema Único de Saúde. 
A RAPS tem como objetivos gerais: 
 A ampliação do acesso à atenção psicossocial 
da população em geral. 
 A promoção do acesso das pessoas com 
sofrimento ou transtorno mental e com 
necessidades decorrentes do uso de crack, 
álcool e outras drogas e suas famílias aos 
pontos de atenção. 
 A garantia da articulação e integração dos 
pontos de atenção das redes de saúde no 
território, qualificando o cuidado por meio do 
acolhimento, do acompanhamento contínuo 
e da atenção às urgências. 
Segundo a Portaria de Consolidação nº 3/2017, são 
objetivos específicos da RAPS (BRASIL, 2017): 
 Promover cuidados em saúde especialmente 
para grupos mais vulneráveis (crianças, 
adolescentes, jovens, pessoas em situação de 
rua e populações indígenas). 
 Prevenir o consumo e a dependência de 
crack, álcool e outras drogas. 
 Reduzir danos provocados pelo consumo de 
crack, álcool e outras drogas. 
 Promover a reabilitação e a reinserção das 
pessoas com transtorno mental e com 
necessidades decorrentes do uso de crack, 
álcool e outras drogas na sociedade, por meio 
do acesso ao trabalho, renda e moradia 
solidária. 
 Promover mecanismos de formação 
permanente aos profissionais de saúde. 
 Desenvolver ações intersetoriais de 
prevenção e redução de danos em parceria 
com organizações governamentais e da 
sociedade civil. 
 Produzir e ofertar informações sobre direitos 
das pessoas, medidas de prevenção e 
cuidado e os serviços disponíveis na rede. 
 Regular e organizar as demandas e os fluxos 
assistenciais da Rede de Atenção Psicossocial. 
 Monitorar e avaliar a qualidade dos serviços 
por meio de indicadores de efetividade e 
resolutividade da atenção. 
Além disso, a RAPS constitui-se de algumas diretrizes 
para o seu funcionamento, são elas: 
 Respeito aos direitos humanos, garantindo a 
autonomia e a liberdade das pessoas. 
 Promoção da equidade, reconhecendo os 
determinantes sociais da saúde. 
 Combate a estigmas e preconceitos. 
 Garantia do acesso e da qualidade dos 
serviços, ofertando cuidado integral e 
assistência multiprofissional, sob a lógica 
interdisciplinar. 
 Atenção humanizada e centrada nas 
necessidades das pessoas. 
 Desenvolvimento de atividades no território, 
que favoreça a inclusão social com vistas à 
promoção de autonomia e ao exercício da 
cidadania. 
 Diversificação das estratégias de cuidado. 
 Organização dos serviços em rede de atenção 
à saúde regionalizada, com estabelecimento 
de ações intersetoriais para garantir a 
integralidade do cuidado. 
 Desenvolvimento de estratégias de Redução 
de Danos. 
 Ênfase em serviços de base territorial e 
comunitária, com participação e controle 
social dos usuários e de seus familiares. 
 Promoção de estratégias de educação 
permanente. 
 Desenvolvimento da lógica do cuidado para 
pessoas com sofrimento ou transtorno 
mental e usuários de crack, álcool e outras 
drogas, tendo como eixo central a construção 
do projeto terapêutico singular. 
A RAPS é dividida por diferentes componentes. Veja 
no quadro 1 os componentes e pontos de atenção da 
RAPS: 
 
Para melhorar sua compreensão sobre cada um dos 
componentes da RAPS, vamos apresentar cada um 
detalhadamente: 
 Atenção Básica em Saúde 
 Atenção Psicossocial 
 Atenção de Urgência e Emergência 
 Atenção Residencial de Caráter Transitório 
 Atenção hospitalar 
 
Atenção Básica em Saúde 
Existem referenciais em Saúde Mental que vão se 
construindo ao longo da história e se concretizam na 
prática cotidiana. Entre estes referenciais, estão 
alguns fundamentos da Psiquiatria Preventiva que 
veremos a seguir. Segundo Amarante (2007), a 
Psiquiatria Preventiva proposta por Gerald Caplan foi 
transposta da medicina preventiva para a psiquiatria 
e considerava-se poder ser realizada em três níveis: 
Prevenção Primária: intervenção nas condições 
possíveis de formação da doença mental, condições 
etiológicas, que podem ser de origem individual e/ou 
do meio. 
Prevenção Secundária: intervenção em busca da 
realização do diagnóstico e tratamento precoces da 
doença mental. 
Prevenção Terciária: definida pela busca da 
readaptação do paciente à vida social, após a sua 
melhoria. 
Para o melhor manejo da saúde mental na Atenção 
Básica, propõe-se um trabalho compartilhado de 
suporte às equipes de Saúde da Família (SF) por meio 
do desenvolvimento do apoio matricial em saúde 
mental pelos profissionais dos Núcleos de Apoio à 
Saúde da Família (NASF). O apoio matricial é um 
arranjo técnico-assistencial que visa à ampliação da 
clínica das equipes de Saúde da Família, superando a 
lógica de encaminhamentos indiscriminados para 
uma lógica de corresponsabilização entre as equipes 
de SF e Saúde Mental, com a construção de vínculos 
entre profissionais e usuários. 
Dito isso, é possível afirmar que as práticas de saúde 
mental na Atenção Básica devem se configurar como 
práticas substitutivas ao modelo hegemônico e 
medicalizante, assim como às práticas produtoras da 
psiquiatrização e psicologização do sujeito e de suas 
necessidades. Assim, a Política Nacional de Saúde 
Mental propõe uma mudança do modelo de Atenção 
à Saúde Mental dentro do SUS e está direcionada 
para a ampliação e qualificação do cuidado nos 
serviços comunitários, com base no território. 
O trabalho articulado dos profissionais da Saúde 
Mental com a equipe da Estratégia Saúde da Família 
revela-se fundamental para o estabelecimento e 
fortalecimento de vínculos entre a Atenção 
Estratégica (CAPS) e a Atenção Básica, possibilitando 
a corresponsabilidade dos casos, ampliando a 
capacidade resolutiva de problemas de saúde pela 
equipe local e favorecendo a atenção territorializada. 
A operacionalização das ações de Saúde Mental na 
Atenção Básica necessita que os princípios 
fundamentais da Atenção Psicossocial sejam 
assimilados na prática cotidiana dos profissionais. 
Entre estes principais fundamentos estão: a 
promoção da saúde, a noção de território, 
acolhimento, vínculo e responsabilização, 
integralidade, intersetorialidade, 
multiprofissionalidade, organização da atenção à 
saúde em rede, desinstitucionalização, reabilitação 
psicossocial, participação da comunidade e 
promoção da cidadania dos usuários. Veja no quadro 
2 as diretrizes gerais para a atuação das equipes na 
Saúde Mental: 
 
Portanto, nesse contexto são considerados pontos de 
atenção do componente da Atenção Básica em Saúde 
na RAPS as unidades básicas de saúde, as equipes de 
Atenção Básica para populações em situações 
específicas, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família e os 
Centros de Convivência e Cultura. 
 
Unidade Básica de Saúde: A unidade básica de saúde 
é um serviço constituído por equipe multiprofissional 
responsável por um conjunto de ações, de âmbito 
individual e coletivo, que abrange a promoção e a 
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o 
diagnóstico,o tratamento, a reabilitação, a redução 
de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de 
desenvolver a atenção integral que impacte na 
situação de saúde e autonomia das pessoas e nos 
determinantes e condicionantes de saúde das 
coletividades. 
 
Equipes de Atenção Básica para populações em 
situações específicas: Entres as equipes de Atenção 
Básica para populações em situações específicas que 
apresentam atuação na RAPS, destacam-se as 
equipes de consultório na Rua e as equipes de Apoio 
aos Serviços do Componente Atenção Residencial de 
Caráter Transitório. 
Essas equipes devem atuar de maneira integrada com 
as equipes de Saúde da Família e o Núcleo de Apoio à 
Saúde da Família, ampliando, desta forma, a 
abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica. 
↳ Equipe de Consultório na Rua: A equipe de 
Consultório de Rua é constituída por profissionais que 
atuam de forma itinerante, ofertando ações e 
cuidados de saúde para a população em situação de 
rua, considerando suas diferentes necessidades de 
saúde, sendo responsabilidade dessa equipe, no 
âmbito da Rede de Atenção Psicossocial, ofertar 
cuidados em saúde mental para pessoas em situação 
de rua em geral. Pessoas com transtornos mentais. 
Usuários de crack, álcool e outras drogas. 
Entre as ações dessas equipes, incluem-se ações de 
redução de danos, em parceria com equipes de 
outros pontos de atenção da rede de saúde, como 
unidades básicas de saúde, centros de Atenção 
Psicossocial, prontos-socorros, entre outros. 
A implantação dos Consultórios na Rua destinados à 
atenção à saúde da população em situação de rua traz 
impactante e positiva perspectiva colaborativa entre 
as áreas de Atenção Básica e Saúde Mental, com 
vistas a uma cogestão e acompanhamento da 
transição de modelos e os complexos 
desdobramentos desse processo. 
De acordo com o Ministério da Saúde, o Consultório 
na Rua é parte de uma estratégia maior denominada 
“Programa Crack, é possível vencer”, criada pelos 
ministérios da Saúde, Justiça, Educação e 
Desenvolvimento Social e Combate à Fome e 
Secretaria de Direitos Humanos, e que tem as ações 
desenvolvidas em três eixos (prevenção, cuidado e 
autoridade), sendo o eixo cuidado desenvolvido por 
alguns pontos da Rede de Atenção Psicossocial, entre 
as quais estão: o CAPS AD III, as unidades de 
acolhimento, os leitos de saúde mental, o Consultório 
na Rua e a formação técnica para profissionais de 
nível médio e superior. 
 
Centro de Convivência e Cultura: O Centro de 
Convivência e Cultura é uma unidade pública, 
articulada às Redes de Atenção à Saúde, em especial 
à RAPS, onde são oferecidos à população em geral 
espaços de sociabilidade, produção e intervenção na 
cultura e na cidade. 
Esses centros são estratégicos para a inclusão social 
das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, 
incluindo aquelas com necessidades decorrentes do 
uso de crack, álcool e outras drogas, por meio da 
construção de espaços de convívio e sustentação das 
diferenças na comunidade e em variados espaço da 
cidade. 
 
Atenção Psicossocial  ENTENDER O 
FUNCIONAMENTO DO CAPS 
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e suas 
modalidades compõem a Atenção Psicossocial 
Estratégica. O CAPS é um serviço de referência para 
casos graves, que necessitem de cuidados mais 
intensivos, e/ou de reinserção psicossocial, e 
ultrapassem as possibilidades de intervenção 
conjunta das equipes de NASF e SF. 
Pessoas que buscam o CAPS por demanda 
espontânea devem ser acolhidas e avaliadas pela 
equipe, e os casos que não tiverem necessidade de 
acompanhamento nesse serviço devem ser 
redirecionados para as equipes de Saúde da Família 
de referência, preferencialmente por meio de 
contato telefônico do profissional do CAPS com o 
profissional da UBS ou do NASF. 
O CAPS é constituído por equipe multiprofissional 
que atua sob a ótica interdisciplinar e realiza 
atendimento às pessoas com transtornos mentais 
graves e persistentes e às pessoas com necessidades 
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, 
seja em situações de crise ou nos processos de 
reabilitação psicossocial. 
Os usuários egressos de internação psiquiátrica 
também podem ser atendidos diretamente pelo 
CAPS, visando reinserção psicossocial e organização 
do retorno da pessoa para tratamento no plano 
comunitário. Os casos de usuários acompanhados 
pelo CAPS que, após estabilização, receberem alta do 
serviço também podem ser discutidos entre CAPS, 
ESF e NASF, em vez de serem encaminhados 
diretamente para as ESF. 
Segundo o Ministério da Saúde, os Centros de 
Atenção Psicossocial estão organizados nas seguintes 
modalidades: 
CAPS I: Atende pessoas de todas as faixas etárias que 
apresentam prioritariamente intenso sofrimento 
psíquico decorrente de transtornos mentais graves e 
persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso 
de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas 
que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar 
projetos de vida. 
É indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 15 mil habitantes. 
CAPS II: Atende prioritariamente pessoas em intenso 
sofrimento psíquico decorrente de transtornos 
mentais graves e persistentes, incluindo aqueles 
relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e 
outras situações clínicas que impossibilitem 
estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. 
Indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 70 mil habitantes. 
CAPS III: Atende prioritariamente pessoas em intenso 
sofrimento psíquico decorrente de transtornos 
mentais graves e persistentes, incluindo aqueles 
relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e 
outras situações clínicas que impossibilitem 
estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. 
Proporciona serviços de atenção contínua, com 
funcionamento 24 horas, incluindo feriados e fins de 
semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento 
noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive 
CAPS AD. 
Indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 150 mil habitantes. 
CAPS AD: Atende pessoas de todas as faixas etárias, 
que apresentam intenso sofrimento psíquico 
decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. 
Indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 70 mil habitantes. 
CAPS AD III: Atende pessoas de todas as faixas etárias 
que apresentam intenso sofrimento psíquico 
decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. 
Proporciona serviços de atenção contínua, com 
funcionamento 24 horas, incluindo feriados e fins de 
semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento 
noturno. 
Indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 150 mil habitantes. 
CAPSi: Atende crianças e adolescentes que 
apresentam prioritariamente intenso sofrimento 
psíquico decorrente de transtornos mentais graves e 
persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso 
de substâncias psicoativas e outras situações clínicas 
que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar 
projetos de vida. 
Indicado para municípios ou regiões com população 
acima de 70 mil habitantes. 
As atividades nos CAPS são realizadas 
prioritariamente em espaços coletivos (grupos, 
assembleias de usuários, reunião diária de equipe), 
de forma articulada com os outros pontos de atenção 
da rede de saúde e das demais redes. Sendo o 
cuidado desenvolvido por intermédio de Projeto 
Terapêutico Singular, envolvendo em sua construção 
a equipe, o usuário e sua família. 
 
Atenção de Urgência e Emergência 
Os pontos de atenção de urgência e emergência são 
responsáveis, em seu âmbito de atuação, pelo 
acolhimento, classificação de risco e cuidado nas 
situações de urgência e emergência das pessoas com 
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades 
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.Entre eles destacam-se o Samu, a sala de 
estabilização, as portas hospitalares de atenção à 
urgência/pronto-socorro, a UPA e as unidades básicas 
de saúde. 
Além disso, os pontos de atenção da Rede de Atenção 
Psicossocial na Atenção de Urgência e Emergência 
deverão se articular com os CAPS, devendo, nas 
situações que necessitem de internação ou de 
serviços residenciais de caráter transitório, articular e 
coordenar o cuidado. 
Atenção Residencial de Caráter Transitório 
As Unidades de Acolhimento e o Serviço de Atenção 
em Regime Residencial são pontos de atenção do 
componente de Atenção Residencial de Caráter 
Transitório. 
As Unidades de Acolhimento oferecem cuidados 
contínuos de saúde, com funcionamento 24 horas, 
em ambiente residencial, para pessoas com 
necessidade decorrentes do uso de crack, álcool e 
outras drogas, de ambos os sexos, que apresentem 
acentuada vulnerabilidade social e/ou familiar e 
demandem acompanhamento terapêutico e 
protetivo de caráter transitório cujo tempo de 
permanência é de até seis meses. 
Essas unidades estão organizadas em duas 
modalidades, são elas: 
 
 
Já os serviços de Atenção em Regime Residencial, 
entre eles as comunidades terapêuticas, destinam-se 
a oferecer cuidados contínuos de saúde, de caráter 
residencial transitório por até nove meses para 
adultos com necessidades clínicas estáveis 
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. 
 
Atenção hospitalar 
Entre os pontos de atenção do componente atenção 
hospitalar destacam-se os leitos de saúde mental em 
hospital geral e o serviço hospitalar de referência 
para atenção às pessoas com sofrimento ou 
transtorno mental e com necessidades decorrentes 
do uso de crack, álcool e outras drogas no hospital 
geral. 
Os leitos de saúde mental em hospital geral oferecem 
tratamento hospitalar para casos graves relacionados 
aos transtornos mentais e ao uso de álcool, crack e 
outras drogas, em especial de abstinências e 
intoxicações severas. 
Já o serviço hospitalar de referência para Atenção às 
pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com 
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e 
outras drogas oferece suporte hospitalar, por meio de 
internações de curta duração, com equipe 
multiprofissional e sempre acolhendo os pacientes 
em articulação com os CAPS e outros serviços da Rede 
de Atenção Psicossocial para construção do Projeto 
Terapêutico Singular. Esse serviço deve funcionar em 
regime integral, durante 24 horas diárias, nos sete 
dias da semana, sem interrupção da continuidade 
entre os turnos. 
 
2. DISCUTIR A LEI 10.216 (PRINCIPIOS, DIRETRIZES, 
OBJETIVOS). 
A lei 10.216, chamada de lei Paulo delgado ou lei da 
reforma psiquiátrica, iniciou como um projeto do 
então deputado, paulo delgado. Só que esse projeto 
fiou por muito tempo sendo debatido, ficando por 12 
anos em tramitação no Congresso sendo debatido, 
revisto e modificando, chegando à lei 10.216, 
sancionada em 2001 pelo então presidente FHC 
Essa lei redireciona a assistência em saúde mental, 
tirando os paciente dos manicômios e trazendo eles 
de volta para a comunidade, fala também sobre a 
proteção e os direitos das pessoas com transtornos 
mentais, mas não institui mecanismos claros para a 
progressiva extinção dos manicômios. Mas, apesar 
disso, ela funcionou como um novo impulso e novo 
ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no 
Brasil. 
E assim, a partir dessa lei, legal, a internação só pode 
ser justificada quando as técnicas e os recursos 
terapêuticos não se mostrarem adequados ao 
tratamento do doente mental e, quando necessário, 
deve se dar em leitos de hospitais gerais, entre os 
leitos de pacientes com doenças orgânicas, para que 
não se prive o doente mental do convívio social. 
Além disso, é indispensável a fiscalização do 
Ministério Público nos casos de internação 
compulsória, inclusive do doente mental em conflito 
com a lei penal. 
Com isso, houve redução de hospitais psiquiátricos 
privados em favor do tratamento territorial e o 
Ministério da Saúde passou a articular ações no 
âmbito de saúde mental, como a redução de leitos 
nos hospitais psiquiátricos e a implantação e 
reformulação de vários projetos governamentais. As 
articulações tinham por objetivo evitar o 
internamento, já que havia uma política de 
eliminação social do doente mental por meio da 
internação indiscriminada. Projetos para trazer de 
volta os pacientes para a comunidade: programa “de 
volta para casa”; residências terapêuticas; centros de 
atenção psicossocial e hospital-dia. 
 
Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas 
acometidas de transtorno mental, de que trata esta 
Lei, são assegurados sem qualquer forma de 
discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação 
sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, 
família, recursos econômicos e ao grau de gravidade 
ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer 
outra. 
Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de 
qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou 
responsáveis serão formalmente cientificados dos 
direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. 
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de 
transtorno mental: 
I. Ter acesso ao melhor tratamento do 
sistema de saúde, consentâneo às suas 
necessidades; 
II. Ser tratada com humanidade e respeito e 
no interesse exclusivo de beneficiar sua 
saúde, visando alcançar sua recuperação 
pela inserção na família, no trabalho e na 
comunidade; 
III. Ser protegida contra qualquer forma de 
abuso e exploração; 
IV. Ter garantia de sigilo nas informações 
prestadas; 
V. Ter direito à presença médica, em qualquer 
tempo, para esclarecer a necessidade ou 
não de sua hospitalização involuntária; 
VI. Ter livre acesso aos meios de comunicação 
disponíveis; 
VII. Receber o maior número de informações a 
respeito de sua doença e de seu 
tratamento; 
VIII. Ser tratada em ambiente terapêutico pelos 
meios menos invasivos possíveis; 
IX. Ser tratada, preferencialmente, em serviços 
comunitários de saúde mental. 
A lei 10.216 foi um projeto do então deputado federal 
pelo estado de Minas Gerais em 2001, Paulo Delgado, 
a respeito dos direitos das pessoas com transtornos 
mentais, que acabaria ficando conhecida 
popularmente como lei da reforma psiquiátrica ou lei 
antimanicomial. 
A lei foi sancionada pelo então Presidente na época, 
Fernando Henrique Cardoso, em 6 de abril de 2001, 
após 12 anos de tramitação e debates dentro do 
Congresso Nacional. 
Ela representa um grande avanço jurídico no que 
concerne aos direitos dos usuários e de seus 
familiares em saúde mental. Tem como foco a saúde 
mental de base comunitária e dispõe, 
fundamentalmente, sobre a proteção e os direitos 
das pessoas com transtornos mentais. 
 
A lei prevê três modalidades de internação: 
Internação Voluntária: Em relação à internação 
voluntária, a lei 10.216 de 2001 dispõe que somente 
será voluntária se o paciente declarar por escrito que 
a aceita. Para isso, ele deve ser maior, não ser 
civilmente interditado e deve estar psiquicamente 
orientado. 
Nos serviços de saúde mental também se exige a 
presença de um responsável, contudo, é importante 
advertir que legalmente não há a exigência de um 
responsável quando se trata de internação voluntária 
de pessoa com transtorno mental não civilmente 
interditada. 
Quanto à capacidade psíquica, “o critério legal para 
definir capacidade tem como foco o entendimento do 
paciente sobre sua doença e suas consequências, os 
vários tratamentos disponíveis e seus riscos e 
benefícios, e a credibilidade das informações para 
que seja tomada uma decisão por parte do indivíduo 
afetado pela doença que, obviamente, requer alguma 
habilidade intelectual”. 
Portanto, na internação voluntária, a pessoa com 
transtorno mental não tem sua capacidade de tomar 
decisões afetadaspelo transtorno mental, não 
necessitando de um responsável. 
Em contraposição, se ele não estiver apto para decidir 
sobre sua saúde, a internação será involuntária, 
havendo a exigência do responsável que tomará “em 
suas mãos as deliberações sobre a vida dele, 
analogamente ao caso das pessoas interditadas”. 
 
Internação Involuntária: Essa modalidade de 
internação, prevista na Lei 10.216, ocorre sem o 
consentimento do usuário e em situações de 
emergência ou a pedido de familiar ou responsável 
legal, pois as condições clínicas do paciente não 
permitem seu consentimento. 
Vale ressaltar que o pedido do familiar ou 
responsável não é suficiente para que ocorra a 
internação, sendo necessário que um médico, 
devidamente registrado no Conselho Regional de 
Medicina do estado onde se localiza o 
estabelecimento, a autorize. 
A internação involuntária poderá ocorrer em 
situações ordinárias ou de emergência. 
No primeiro caso, deve ser solicitada uma autorização 
judicial prévia. Nas internações de emergência, deve-
se, no prazo de 72 horas, comunicar o caso ao 
Ministério Público Estadual. 
O responsável pela comunicação ao Ministério 
Público é o Diretor Clínico. A Portaria GM n. 2.391/02 
elaborou um modelo de formulário próprio, o Termo 
de Comunicação de Internação Involuntária. 
Das informações que devem estar contidas neste 
documento, destacam-se: o tipo de internação 
(voluntária ou involuntária), o motivo e justificativa 
da internação e a descrição dos motivos de 
discordância do usuário que está sendo internado. 
Internação Compulsória: A Lei 10.216/2001 define 
a internação compulsória como“aquela determinada 
pela justiça”. E que nesse tipo de internação, os juízes 
devem levar “em conta as condições de segurança do 
estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, 
dos demais internados e funcionários”. 
Um dos tipos de internação compulsória é a medida 
de segurança, que representa a forma legal 
encontrada pela justiça para tratar de pessoas com 
transtornos mentais que transgrediram as leis penais, 
ou seja, cometeram crimes. 
Essas pessoas não podem ser consideradas 
criminosas legalmente, pois devido ao transtorno 
mental eram, ao tempo da ação criminosa, incapazes 
de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Como consequência, a elas é aplicada, em detrimento 
da pena, a medida de segurança que pode ser: 
internação em hospital de custódia e tratamento 
psiquiátrico ou, quando da ausência desse, em outro 
estabelecimento adequado; ou sujeição a tratamento 
ambulatorial. 
 
A lei antimanicomial 
O maior legado do Movimento de Luta 
Antimanicomial brasileiro foi a Lei 10.216/2001, a 
qual deu alicerce ao sistema antimanicomial, 
direcionando a política nacional de saúde mental às 
normativas do direito sanitário. Entretanto, assim 
como o movimento antimanicomial arrostou o 
interesse mercantil de hospitais privados, mantidos 
pelos recursos do Estado, essa lei também enfrentou 
o mesmo obstáculo para sua completa efetividade, 
embora atualmente assevere sinais de superação. 
A partir desse diploma legal, a internação só pode ser 
justificada quando as técnicas e os recursos 
terapêuticos não se mostrarem adequados ao 
tratamento do doente mental. Além disso, é 
indispensável a fiscalização do Ministério Público nos 
casos de internação compulsória, inclusive do doente 
mental em conflito com a lei penal. Há, portanto, uma 
excepcionalidade no que se refere ao internamento, 
que, quando necessário, deve se dar em leitos de 
hospitais gerais, entre os leitos de pacientes com 
doenças orgânicas, para que não se prive o doente 
mental do convívio social. 
Com isso, houve redução de hospitais psiquiátricos 
privados em favor do tratamento territorial e o 
Ministério da Saúde passou a articular ações no 
âmbito de saúde mental, como a redução de leitos 
nos hospitais psiquiátricos e a implantação e 
reformulação de vários projetos governamentais. As 
articulações tinham por objetivo evitar o 
internamento, já que havia uma política de 
eliminação social do doente mental por meio da 
internação indiscriminada. Tais ações relevaram-se 
pelos programas: “de volta para casa”; residências 
terapêuticas; centros de atenção psicossocial e 
hospital-dia. 
Essas mudanças devem, por consequência, ser 
extensivas à medida de segurança, e podem ser 
alcançadas a partir da retirada do rótulo social de 
“louco” ou “louco infrator” atribuído àquele que, 
simplesmente, tem características que o diferem do 
padrão social. Dessa forma será possível excluir o 
eugenismo e higienismo sociais que representam um 
freio ao avanço na concessão da cidadania ao 
nominado “louco” e, assim, adjudicar sua 
responsabilidade. 
Insta afirmar, contudo, que parte dos reformistas não 
descarta a medicalização contínua da loucura, em 
virtude da forte influência da indústria farmacêutica. 
Sua bandeira não é pela exclusão da 
medicamentalização, é pela abertura dos ambientes 
manicomiais e pelo consequente tratamento 
psiquiátrico da loucura em outros espaços, também, 
estigmatizados. Ora, a meta da psiquiatria não deve 
ser pela “loucura aberta”, mas sim pela “desloucura”. 
Em suma, o êxito da reforma manicomial depende 
ainda de uma mudança social e legislativa. A primeira 
revelada pela necessidade de eliminar o preconceito 
em relação às pessoas com comportamentos diversos 
do padrão social; e a segunda, pelo urgente mister de 
técnica legislativa capaz de dispor uma adequada 
terminologia a essas pessoas, que não lhes 
impulsione à exclusão social, pois as terminologias 
adotadas atualmente – tais como deficientes, 
usuários, pessoas acometidas de transtornos mentais 
e loucos – não corroboram o processo de aceitação 
social. No entanto, o fato é que essa atitude não é 
simples, principalmente em um país 
economicamente subdesenvolvido como o Brasil, 
com fortes traços eugenistas que obstam a 
independência da psiquiatria. 
 
3. OS REFLEXOS DA LEI 10.216/2001 EM MEDIDAS DE 
SEGURANÇA 
Em matéria penal, sob o ângulo dos três critérios de 
solução das antinomias, a Lei 10.216/2001 revogou 
tacitamente o Título VI do Código Penal, que 
disciplina as medidas de segurança, bem como o 
Título VI da Lei 7.210/1984, que dispõe sobre a 
execução das medidas de segurança. Por 
consequência, a Lei 10.216/2001 passa a reger a 
matéria. 
Sob esta ótica, a primeira alteração a ser registrada, 
promovida pela Lei 10.216/2001, foi a substituição do 
termo medida de segurança por internação 
compulsória, conforme art. 6º, inciso III, quando 
determinada pela justiça penal ou cível, pois tal lei 
não faz referência à distinção entre a internação civil 
e a penal. Assim, o nomen juris “medida de 
segurança” passa a ser substituído por “internação 
compulsória”, que deve, portanto, ser empregado 
pelos juízes das varas de execuções penais. 
Embora a Lei 10.216/2001 não proíba o internamento 
de pessoas acometidas por transtorno mental, a 
interpretação que se extrai de seu art. 4º, caput, é 
que o internamento deve ser realizado em casos 
excepcionais. A regra, nos termos da lei, é que a 
“internação, em qualquer de suas modalidades, só 
será indicada quando os recursos extra-hospitalares 
se mostrarem insuficientes”. Isso significa, no escólio 
do art. 2º, incisos VIII e IX, que o doente mental deve 
ser tratado em ambiente terapêutico pelos meios 
menos invasivos possíveis, preferencialmente em 
serviços comunitários de saúde mental ligados à 
administração pública e, por consequência, ao direito 
sanitário. 
No entanto, nos termos do citado dispositivo, 
constata-se que ele não defendeu a eliminação do 
internamento, mas sim, o inseriu numa terapêutica 
acessória, pois será adotado quando não houver 
outro recurso médico-psiquiátrico para conter o 
transtorno mental. Isso implica considerar que a lutaantimanicomial não defende a eliminação do 
internamento, mas dos ambientes manicomiais, 
razão pela qual os internamentos seriam realizados 
por hospitais gerais. 
Observa-se, assim, que o art. 97, caput, do Código 
Penal, no qual se determina a espécie de medida de 
segurança aplicável ao doente mental de acordo com 
a gravidade, em abstrato, do delito (internamento 
para quem comete crime apenado com reclusão e 
tratamento ambulatorial para quem comete crime 
apenado com detenção), não foi recepcionado pelo 
art. 4º, da Lei 10.216/2001. Isso porque a escolha de 
tratamento, pela nova normativa, não fica adstrita à 
vontade da lei penal, mas sim aos critérios de 
profissionais que cuidam de pessoas com doenças da 
mente. Apenas quando os recursos extra-
hospitalares forem insuficientes ao tratamento é que 
poderá, pela lei, haver internação compulsória. 
Igualmente abalada pela Lei 10.216/2001 é a regra de 
que a internação do louco infrator seja feita em 
hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, isto 
é, em manicômios judiciais, como rezam os arts. 96, 
inciso I e IX, ambos do Código Penal, os quais também 
foram revogados por essa lei. O art. 4º, § 3º, da Lei 
10.216/2001, indica a obrigatoriedade do tratamento 
em unidades que ofereçam assistência em saúde aos 
portadores de transtornos mentais, porém em 
ambientes que não tenham características asilares. 
Pelo regramento, os locais que receberão o doente 
mental em conflito com a lei penal, em regime de 
internamento, são os hospitais gerais e as residências 
terapêuticas, todos sob o ostensório do Sistema 
Único de Saúde, com a promoção de serviços 
médicos, psicológicos, ocupacionais e de assistência 
social. Entretanto, não se pode olvidar que o 
acompanhamento do tratamento será realizado sob 
a supervisão do juízo da execução penal, com rigorosa 
intervenção do Ministério Público, pois trata-se de 
resposta penal face violação de bem jurídico-penal. 
Uma das aspirações da lei foi evitar os internamentos 
nos antigos ambientes manicomiais, inclusive penais, 
como os hospitais de custódia e complexos médicos 
penais dirigidos por profissionais lotados nos 
departamentos penitenciários dos Estados. Também 
se buscou conter os internamentos em ambientes 
regidos por agentes penitenciários, os quais, pela 
diretriz antimanicomial, não têm qualquer formação 
ligada à área de saúde mental para acompanhar o 
tratamento dos internos. 
O § 1º do art. 97 do Código Penal, não impede a 
perpetuidade da medida de segurança, mas, 
igualmente, não foi recepcionado pela Lei 
10.216/2001. Consta em seu art. 5º: 
“O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o 
qual se caracterize situação de grave dependência 
institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de 
ausência de suporte social, será objeto de política 
específica de alta planejada e reabilitação 
psicossocial assistida, sob responsabilidade da 
autoridade sanitária competente e supervisão de 
instância a ser definida pelo Poder Executivo, 
assegurada a continuidade do tratamento, quando 
necessário.” 
De fato, seu intuito foi evitar a perpetuação da 
internação e a dependência institucional, como 
ocorre nos hospitais de custódia dos Estados, os quais 
são semelhantes aos antigos ambientes onde eram 
lançados leprosos, prostitutas, pobres, alcoólatras e 
loucos, enfim, aqueles que não eram recepcionados 
no âmbito social em virtude de forte preconceito e 
discriminação. A Lei 10.216/2001, em seu art. 5º, 
passou a compelir a criação de mecanismos de 
políticas de reabilitação psicossocial assistida e 
individuada, especialmente com intuito de promover 
a desinternação. 
Em razão dessa lei, o tratamento perpétuo 
fundamentado na periculosidade social não é 
permitido, visto que a disposição do art. 5º tem 
extensão aos loucos infratores, olvidados nos 
manicômios, de forma a lhes proporcionar um 
programa de alta planejada. Consequentemente, a 
Lei 10.216/2001 se coaduna ao art. 5º, inciso XLVII, da 
Carta da República, que veda a pena perpétua. Para 
essa missão deve ser criado, por meio de equipe 
multidisciplinar, um programa personalizado de alta 
planejada aos doentes mentais em conflito com a lei 
penal, cabendo ao Ministério Público o ônus de 
verificar a legalidade das internações em 
cumprimento há longo tempo e de velar para que se 
adequem às novas diretrizes apontadas pela Lei 
10.216/2001. 
Da mesma forma, a redação do art. 97, §2º, na qual 
se assevera que “a perícia médica realizar-se-á ao 
termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida 
de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar 
o juiz da execução”, não foi acolhida pela Lei 
10.216/2001. Com efeito, a proposta desse diploma 
legal é desburocratizar o tratamento ofertado ao 
doente mental, razão pela qual não há prazo mínimo 
de internamento imposto por lei, já que o tratamento 
de qualquer doença depende da reação do paciente 
face técnicas empregadas. Contudo, não há 
permissão, em hipótese alguma, para a perenidade 
do internamento. 
Afastar o tratamento manicomial penal é um desejo 
dos antimanicomialistas pensado no âmbito da 
ideologia, porém alcançá-lo indica uma travessia que 
importa, inicialmente, conceber a loucura como uma 
construção social que exige da psiquiatria sua 
legitimação. Essa conquista depende, destarte, de 
uma união de esforços que leve a romper os laços 
preconceituosos e discriminatórios em relação ao 
indivíduo com competências socialmente atípicas. 
Sem desprezar o conteúdo normativo da Lei 
10.216/2001, é preciso alinhá-la a uma política 
criminal, cuja resposta penal ao louco infrator seja 
híbrida. Em outras palavras, é necessário considerar 
os preceitos dessa lei aliados à concepção 
humanística da loucura, voltada ao reconhecimento 
da capacidade de muitos grupos de pessoas, que são 
atualmente classificados, pela psiquiatria, como 
doentes mentais. 
O desafio do Movimento de Luta Antimanicomial – 
cuja política se concentrou nas últimas décadas, 
exclusivamente, na busca de meios antiasilares de 
tratamento do louco (infrator ou não) – reside, agora, 
em migrar sua atenção às formas de diagnóstico da 
loucura, pela psiquiatria. Isso se faz necessário dada a 
influência marcante exercida pela indústria 
farmacêutica nessa subárea da medicina, que 
fomenta a inflação de doenças mentais com impactos 
penais, na medida em que qualquer comportamento 
em desalinho ao social é taxado, por ela, como 
doença mental, submetendo o indivíduo à invasiva 
medicalização com danosos efeitos colaterais. 
Dessa forma, a atuação desse movimento sob a 
vertente da contestação do “diagnóstico” 
promoverá, inevitavelmente, a migração de muitos 
indivíduos considerados pacientes psiquiátricos ao 
campo da normalidade, devolvendo a eles a 
imputabilidade penal. 
 
QUE SE PASSOU, NO PLANO DA POLÍTICA PÚBLICA, 
NESSES 10 ANOS DE VIGÊNCIA DA LEI 10.216? QUAL 
O IMPACTO DA LEI? QUE APRENDEMOS COM ESSA 
EXPERIÊNCIA? 
Tentando ser breve, farei uma rápida referência a 
alguns fatos que me parecem relevantes, começando 
pela ampliação da rede pública de atenção em saúde 
mental. Logo após a aprovação da lei, em abril de 
2001, seguiu-se, em dezembro do mesmo ano, a III 
Conferência Nacional de Saúde Mental, e, meses 
depois, uma medida da gestão pública do SUS que 
determinou recursos financeiros específicos para a 
rede territorial com base na sustentação legal da lei 
recém-aprovada. Refiro-me à portaria 336, de 
fevereiro de 2002, que criou as diversas modalidades 
de CAPS (de acordo com o porte: I, II e III, este último 
funcionando 24 horas, ou com a finalidade: álcool e 
outras drogas – CAPS-AD, e crianças e adolescentes – 
CAPS-i). Instituiu o CAPS infanto-juvenil, pois não 
havia uma política para crianças e adolescentes, que 
foi criada com amparo na lei e nas deliberações da III 
Conferência. 
A Organização Mundialde Saúde (OMS), nas suas 
avaliações quinquenais dos países em relação à saúde 
mental, toma como primeiro elemento para analisar 
o avanço do acesso da saúde mental nos países, a 
existência de uma lei nacional. Em 2001, ano da 
aprovação da lei, a Assembleia Mundial da OMS teve 
como tema central a saúde mental. Isso ajudou muito 
para que a lei brasileira fosse aprovada e sancionada 
naquele ano pelo Governo Federal. Semanas depois 
da sua aprovação, o Brasil levou à Organização 
Mundial da Saúde, como contribuição do país para o 
ano internacional da saúde mental, a sanção 
governamental da lei, o que foi extremamente 
relevante e reconhecido por todos os países como um 
fato positivo. Desde então, a OMS vem 
acompanhando o processo brasileiro, com todas as 
suas dificuldades e problemas. Esse é um dos 
processos nacionais que a entidade cita como 
exemplo de enfrentamento da iniquidade em saúde 
mental. Enfrentamento, não solução ou milagre e, 
sim, compromisso concreto do estado nacional com a 
questão da saúde mental. No mundo inteiro, são 10 
os países mencionados como exemplo, dos 190 
países do sistema das Nações Unidas, entre os quais 
o Brasil. 
Um segundo ponto que desejo mencionar, além da 
ampliação do acesso ao tratamento, é o fato de que 
houve uma mudança qualitativa do debate sobre a 
questão da cidadania. A lei foi criada com toda a 
efervescência dos anos 90, com a legitimidade 
construída pelo longo debate e pelos avanços obtidos 
na mudança do modelo de atenção. A partir de sua 
aprovação, ela passa a ser um polo orientador do 
próprio debate. Grupos que consideram que o Brasil 
tem uma Política de Saúde Mental equivocada, como 
os segmentos vinculados a hospitais psiquiátricos ou 
a algumas associações profissionais, todos defendem 
a lei 10.216. O que dizem é que ela poderia estar 
sendo mal aplicada, mas não há uma contestação 
explícita da própria lei. Claro, não sejamos ingênuos, 
nesses 10 anos, várias vezes por ano, propostas de 
mudança da lei foram apresentadas no Congresso 
brasileiro. O governo é sempre parte nessa questão, 
convocado através do Ministério da Saúde, e sempre 
se manifestou contrário às mudanças da Lei 10.216. 
Em sua maioria, as propostas de mudança 
manifestavam, explicitamente, a intenção de 
aperfeiçoar a lei, às vezes esclarecendo um termo, às 
vezes acrescentando alguma medida, às vezes 
atendendo à reivindicações legítimas que vinham de 
segmentos, por exemplo, pais de autistas, que 
desejavam incorporar também a referência a algum 
tema especifico. A posição do Ministério da Saúde, 
que representei como gestor nessas sessões no 
Congresso, sempre foi a seguinte: toda a 
regulamentação é possível e desejável, no nível infra-
legal, sem mudança do texto da Lei, pois a revisão do 
texto legal representa, de fato, a revisão dos 
preceitos fundamentais que a constituem e que 
continuam válidos para nós. Em algumas outras 
situações, apresentaram-se claramente propostas de 
revogação da lei. Portanto, 10 anos depois, se a lei se 
consolidou e se legitimou, através da implantação 
real de boa parte dos seus mandamentos, o embate 
ideológico e de modelos de atenção persiste e a 
agenda política de defesa dos princípios da lei 
permanece atual. 
 
4. ELUCIDAR A NOTA TÉCNICA 11/2019 (A NOVA 
SAÚDE MENTAL) E SEUS RETROCESSOS E 
CONSEQUÊNCIAS 
No período de dezembro de 2016 a maio de 2019, 
foram editados cerca de quinze documentos 
normativos, dentre portarias, resoluções, decretos e 
editais, que formam o que a nota técnica 11/2019-
CGMAD/DAPES/SAS/MS veio a chamar de “Nova 
Política Nacional de Saúde Mental”. Essa ‘nova 
política’ se caracteriza pelo incentivo à internação 
psiquiátrica e por sua separação da política sobre 
álcool e outras drogas, que passou a ser denominada 
“política nacional sobre drogas”, tendo esta grande 
ênfase no financiamento de comunidades 
terapêuticas e numa abordagem proibicionista e 
punitivista das questões advindas do uso de álcool e 
outras drogas. 
Conforme apontado pela Defensoria Pública da União 
(Brasil, 2019d), a ‘nova’ política nacional de saúde 
mental - PNSM contraria as leis 8.080/90, 8.142/90 e 
10.216/2001, a Constituição Federal e o Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos 
(promulgado no Brasil pelo Decreto n. 592/1992), 
além de recomendações específicas do Conselho 
Nacional de Saúde (CNS) e do Conselho Nacional de 
Direitos Humanos (CNDH), que indicam a revogação 
desta nova orientação governamental. 
No dia 4 de fevereiro de 2019, foi publicada a Nota 
Técnica n. 11/2019-CGMAD/DAPES/SAS/MS, que 
imediatamente gerou grande repercussão, com notas 
de repúdio e posicionamentos em contrário, 
divulgados em todo o país, inclusive com cobertura 
da mídia, pois ela deixava clara a intenção de 
transformar o modelo assistencial vigente, 
apresentando-se como uma “Nova Política Nacional 
de Saúde Mental”. 
A nota técnica 11 marca, então, a mudança de 
discurso, na qual o governo recém-empossado 
assume, de fato, que se trata de outro modelo, no 
qual “o Ministério da Saúde não considera mais 
serviços como sendo substitutos de outros, não 
fomentando mais fechamento de unidades de 
qualquer natureza” (Nota Técnica 11). O texto 
questiona frontalmente a efetividade do modelo em 
vigor até 2017 e a direção de uma política pautada no 
cuidado comunitário, afirma a necessidade de 
aumento do número de leitos psiquiátricos e repudia 
a ideia de fechar hospitais. Também afirma ser 
democrática ao se apoiar em discussões realizadas 
com mais de 70 entidades “conhecedoras da 
realidade da saúde mental no país” – o que é 
facilmente contestável, pois não cita quais seriam 
estas entidades e nem com qual critério foram 
escolhidas para participar da construção das 
mudanças, sendo que as instâncias oficiais do 
controle social, como o CNS e o CNDH, além dos 
conselhos profissionais (de psicologia, enfermagem, 
serviço social etc.), entidades como a Abrasco e a 
Abrasme e pesquisadores do campo foram 
completamente alijados de participar das discussões 
e tiveram seus posicionamentos (amplamente 
divulgados e/ou registrados em meios oficiais) 
ignorados. 
Um aspecto da nota que não havia sido estabelecido 
em normativas anteriores foi a apresentação da 
eletroconvulsoterapia como se fosse um exemplo de 
“disponibilização do melhor aparato terapêutico”, 
ignorando os registros históricos de que esta fora 
empregada corriqueiramente enquanto instrumento 
de tortura e punição nas instituições manicomiais 
anteriormente à Reforma Psiquiátrica. Ainda que 
existam indicações técnicas para o uso da 
eletroconvulsoterapia, estas se aplicam a uma 
parcela extremamente pequena dos casos de 
transtorno mental grave e estão longe de ser uma 
solução em larga escala, conforme a nota proclama. 
Também chama atenção o modo como é mencionada 
a atenção a crianças e adolescentes, com ênfase 
descabida na internação psiquiátrica. A Nota Técnica 
cita que “não há qualquer impedimento legal para a 
internação de pacientes menores de idade (sic) em 
Enfermarias Psiquiátricas de Hospitais Gerais ou de 
Hospitais Psiquiátricos. A melhor prática indica a 
necessidade de que tais internações ocorram em 
Enfermarias Especializadas em Infância e 
Adolescência”. 
A nota “vai na direção contrária das recomendações 
de entidades internacionais como a Organização das 
Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de 
Saúde (OMS)”. Além disso, oficializa a separação da, 
agora, “Política Nacional Sobre Drogas” da Política 
Nacional de Saúde Mental. “Esta separação entre as 
duas políticas tem também a clara intenção de 
impedir que os princípios que regem a atenção 
psicossocial, especialmente o cuidado realizado em 
liberdade (...) sejam igualmente aplicados aos 
usuários de álcool e outras drogas”.

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