OFICINA 1 - SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA 1. ESTUDAR A HISTÓRIA DA LOUCURA. (MUNDO E BRASIL, PRINCIPAIS MARCOS, CONCEPÇÃO DA LOUCURA). A humanidade convive com a loucura há séculos e, antes de se tornar um tema essencialmente médico, o louco habitou o imaginário popular de diversas formas. De motivo de chacota e escárnio a possuído pelo demônio, até marginalizado por não se enquadrar nos preceitos morais vigentes, o louco é um enigma que ameaça os saberes constituídos sobre o homem. Na Renascença: Banimento das cidades europeias Na Idade média: Os loucos são confinados em grandes asilos e hospitais destinados a toda sorte de indesejáveis Os mais violentos eram acorrentados; a alguns era permitido sair para mendigar. No século XVIII: Phillippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, propõe uma nova forma de tratamento aos loucos ↳ Transferindo-os aos manicômios, destinados somente aos doentes mentais. O tratamento defendido por Pinel, baseia-se principalmente na reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas inconvenientes. Para Pinel, a função disciplinadora do médico e do manicômio deve ser exercida com firmeza, porém com gentileza. No século XIX: O tratamento ao doente mental incluía medidas físicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Aos poucos, com o avanço das teorias organicistas, o que era considerado como doença moral passa a ser compreendido também como uma doença orgânica. A partir da segunda metade do século XX, impulsionada principalmente por Franco Basaglia, psiquiatra italiano, inicia-se uma radical crítica e transformação do saber, do tratamento e das instituições psiquiátricas. Esse movimento inicia-se na Itália, mas tem repercussões em todo o mundo e muito particularmente no Brasil. Nesse sentido é que se inicia o movimento da Luta Antimanicomial que nasce profundamente marcado pela ideia de defesa dos direitos humanos e de resgate da cidadania dos que carregam transtornos mentais. 2. A TRAJETÓRIA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA: INSPIRAÇÕES, AVANÇOS, RETROCESSOS E DESAFIOS Em 1830: Inicia-se o processo de medicalização da loucura, com a construção de hospícios. Entre as décadas de 30 e 50, Descoberta da eletroconvulsoterapia (ECT) e da Lobotomia, onde psiquiatras acreditavam ser a curada de transtornos mentais. No final do século XIX D. Pedro II cria o primeiro hospital psiquiátrico; onde os “loucos” viviam em condições insalubres e isolados da sociedade. Já no século XX A Lei nº 6.439/77 cria o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), abarcando institutos e fundações, dentre eles, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) (Lei nº 6.439, 1977). Associado a estas questões, inicia-se o processo de reforma psiquiátrica, propondo a desconstrução e desinstitucionalização das práticas manicomiais e a elaboração de um modelo de atenção psicossocial, caracterizado pelo conceito ampliado do processo saúde-doença, a qual remete à realidade biopsicossocial dos sujeitos. Na década de 70 O país enfrentava uma recessão econômica, com a crise do modelo previdenciário. A necessidade de diminuir os custos fez com que as altas despesas com os manicômios contribuíssem para a reforma psiquiátrica. Nesse período, inicia-se, também, o movimento sanitário em favor da mudança dos modelos de atenção em saúde, em defesa da saúde coletiva, pela equidade dos serviços e protagonismo dos profissionais de saúde e usuários A partir daí, a assistência ao usuário vem passando por importantes modificações, onde os sujeitos deixam de serem vistos como “loucos”, passando a serem reconhecidos como cidadãos, com direitos e aspirações, integrante de uma família e de uma comunidade. Em 1990 Promulgação das leis de implementação do Sistema Único de Saúde e do Estatuto da Criança e do Adolescente e divulgação da Declaração de Caracas Por meio da Carta Magna brasileira, normativas legais foram instituídas para que o Estado brasileiro pudesse assegurar os direitos da população, como o SUS (Sistema Único de Saúde), pela lei n. 8080/1990, e do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), lei n. 8.069/1990. No mesmo ano, a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgaram também um documento que oportunizou a reestruturação da atenção psiquiátrica na América Latina, com nova política para os serviços de saúde mental, conhecido como a Declaração de Caracas. Em 2001 Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma PsiquiátricaI impulsionou a transição do modelo de atenção à saúde mental no Brasil, permitindo a expansão da rede de serviços comunitários, com assistência integral e multidisciplinar aos usuários. Em 2003 Investimento no Serviço Residencial Terapêutico e criação do Programa De Volta Para Casa A criação do Programa PVC (“De Volta para Casa”), lei n.10.708/2003, através do SRT (Serviço Residencial Terapêutico) - instituído pela portaria n. 106/2000 - impulsionou o processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internadas. Os SRT são moradias para até dez pessoas, localizadas fora dos hospitais psiquiátricos, enquanto o PVC trata de pagamento de benefício financeiro para contribuir materialmente para a reconstrução de autonomia e reinserção na comunidade. Em 2005 Reforma Psiquiátrica Brasileira atestada como processo político e social Em um documento do governo brasileiro de 2005, elaborado 15 anos após a Declaração de Caracas, a Reforma Psiquiátrica Brasileira foi reconhecida como processo político e social. Tal documento indica ainda o papel dos vários segmentos da sociedade, como movimentos sociais, instâncias de governos, de formação de profissionais e de serviços de saúde, além da opinião pública e dos símbolos compartilhados pela comunidade. Em 2008 Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) A criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família buscou reforçar a atenção primária em saúde. Os núcleos incluíam profissionais de várias áreas, como psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e psiquiatras, no apoio às equipes de saúde da família no território. Em 2011 Instituição da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde A mudança na legislação foi acompanhada por experiências locais de fechamento de hospitais psiquiátricos e por ofertas de cuidado comunitário em saúde mental, que progressivamente foram sendo implementadas nas esferas municipais, estaduais e nacionais. Em 2011, essas diretrizes e recomendações foram consensuadas como política pública nacional por meio da portaria n. 3.088, que institui a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) do SUS - que busca criar, diversificar e articular serviços e ações para pessoas com sofrimento mental ou com demandas decorrentes do uso de drogas. Em 2015 - 2016 Interrupção do processo de extinção de hospitais psiquiátricos Desde o final de 2015 e início de 2016, a Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde sofreu grandes alterações de direcionamento. Ocorreram mudanças que implicaram o retorno de abordagens que haviam sido superadas no passado, com ênfase dada à institucionalização, moralização da família e da sexualidade, em vez de preconizar o cuidado baseado na comunidade. Foi o primeiro momento, desde a retomada da democracia, que o Estado brasileiro interrompeu o processo de extinção de seus hospitais psiquiátricos. Barbacena: um recorte do caso Barbacena situa-se na Serra da Mantiqueira, a 169 km da capital mineira e conta hoje cerca de 124.600 habitantes. Esse município recebeu a alcunha de “Cidade