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OFICINA 1 - SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA (A HISTÓRIA DA LOUCURA, PRINCIPAIS MARCOS, REFORMA PSIQUIÁTRICA, RETROCESSOS, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES, POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL DO BRASIL,

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OFICINA 1 - SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA 
 
1. ESTUDAR A HISTÓRIA DA LOUCURA. (MUNDO E 
BRASIL, PRINCIPAIS MARCOS, CONCEPÇÃO DA 
LOUCURA). 
A humanidade convive com a loucura há séculos e, 
antes de se tornar um tema essencialmente médico, 
o louco habitou o imaginário popular de diversas 
formas. De motivo de chacota e escárnio a possuído 
pelo demônio, até marginalizado por não se 
enquadrar nos preceitos morais vigentes, o louco é 
um enigma que ameaça os saberes constituídos sobre 
o homem. 
Na Renascença: 
 Banimento das cidades europeias 
Na Idade média: 
 Os loucos são confinados em grandes asilos e 
hospitais destinados a toda sorte de 
indesejáveis 
 Os mais violentos eram acorrentados; a 
alguns era permitido sair para mendigar. 
No século XVIII: 
 Phillippe Pinel, considerado o pai da 
psiquiatria, propõe uma nova forma de 
tratamento aos loucos 
↳ Transferindo-os aos manicômios, 
destinados somente aos doentes 
mentais. 
 O tratamento defendido por Pinel, baseia-se 
principalmente na reeducação dos alienados, 
no respeito às normas e no 
desencorajamento das condutas 
inconvenientes. 
Para Pinel, a função disciplinadora do médico e do 
manicômio deve ser exercida com firmeza, porém 
com gentileza. 
No século XIX: 
 O tratamento ao doente mental incluía 
medidas físicas como duchas, banhos frios, 
chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. 
 Aos poucos, com o avanço das teorias 
organicistas, o que era considerado como 
doença moral passa a ser compreendido 
também como uma doença orgânica. 
A partir da segunda metade do século XX, 
impulsionada principalmente por Franco Basaglia, 
psiquiatra italiano, inicia-se uma radical crítica e 
transformação do saber, do tratamento e das 
instituições psiquiátricas. Esse movimento inicia-se 
na Itália, mas tem repercussões em todo o mundo e 
muito particularmente no Brasil. 
Nesse sentido é que se inicia o movimento da Luta 
Antimanicomial que nasce profundamente marcado 
pela ideia de defesa dos direitos humanos e de 
resgate da cidadania dos que carregam transtornos 
mentais. 
 
2. A TRAJETÓRIA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA 
BRASILEIRA: INSPIRAÇÕES, AVANÇOS, 
RETROCESSOS E DESAFIOS 
Em 1830: 
 Inicia-se o processo de medicalização da 
loucura, com a construção de hospícios. 
Entre as décadas de 30 e 50, 
 Descoberta da eletroconvulsoterapia (ECT) e 
da Lobotomia, onde psiquiatras acreditavam 
ser a curada de transtornos mentais. 
No final do século XIX 
 D. Pedro II cria o primeiro hospital 
psiquiátrico; onde os “loucos” viviam em 
condições insalubres e isolados da sociedade. 
Já no século XX 
 A Lei nº 6.439/77 cria o Sistema Nacional de 
Previdência e Assistência Social (SINPAS), 
abarcando institutos e fundações, dentre 
eles, o Instituto Nacional de Assistência 
Médica da Previdência Social (INAMPS) (Lei 
nº 6.439, 1977). 
Associado a estas questões, inicia-se o processo de 
reforma psiquiátrica, propondo a desconstrução e 
desinstitucionalização das práticas manicomiais e a 
elaboração de um modelo de atenção psicossocial, 
caracterizado pelo conceito ampliado do processo 
saúde-doença, a qual remete à realidade 
biopsicossocial dos sujeitos. 
Na década de 70 
 O país enfrentava uma recessão econômica, 
com a crise do modelo previdenciário. 
 A necessidade de diminuir os custos fez com 
que as altas despesas com os manicômios 
contribuíssem para a reforma psiquiátrica. 
 Nesse período, inicia-se, também, o 
movimento sanitário em favor da mudança 
dos modelos de atenção em saúde, em 
defesa da saúde coletiva, pela equidade dos 
serviços e protagonismo dos profissionais de 
saúde e usuários 
A partir daí, a assistência ao usuário vem passando 
por importantes modificações, onde os sujeitos 
deixam de serem vistos como “loucos”, passando a 
serem reconhecidos como cidadãos, com direitos e 
aspirações, integrante de uma família e de uma 
comunidade. 
Em 1990 
 Promulgação das leis de implementação do 
Sistema Único de Saúde e do Estatuto da 
Criança e do Adolescente e divulgação da 
Declaração de Caracas 
Por meio da Carta Magna brasileira, normativas legais 
foram instituídas para que o Estado brasileiro 
pudesse assegurar os direitos da população, como o 
SUS (Sistema Único de Saúde), pela lei n. 8080/1990, 
e do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), lei 
n. 8.069/1990. No mesmo ano, a Opas (Organização 
Pan-Americana de Saúde) e a OMS (Organização 
Mundial da Saúde) divulgaram também um 
documento que oportunizou a reestruturação da 
atenção psiquiátrica na América Latina, com nova 
política para os serviços de saúde mental, conhecido 
como a Declaração de Caracas. 
Em 2001 
 Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma 
PsiquiátricaI impulsionou a transição do 
modelo de atenção à saúde mental no Brasil, 
permitindo a expansão da rede de serviços 
comunitários, com assistência integral e 
multidisciplinar aos usuários. 
Em 2003 
 Investimento no Serviço Residencial 
Terapêutico e criação do Programa De Volta 
Para Casa 
A criação do Programa PVC (“De Volta para Casa”), lei 
n.10.708/2003, através do SRT (Serviço Residencial 
Terapêutico) - instituído pela portaria n. 106/2000 - 
impulsionou o processo de desinstitucionalização de 
pessoas longamente internadas. Os SRT são moradias 
para até dez pessoas, localizadas fora dos hospitais 
psiquiátricos, enquanto o PVC trata de pagamento de 
benefício financeiro para contribuir materialmente 
para a reconstrução de autonomia e reinserção na 
comunidade. 
Em 2005 
 Reforma Psiquiátrica Brasileira atestada 
como processo político e social 
Em um documento do governo brasileiro de 2005, 
elaborado 15 anos após a Declaração de Caracas, a 
Reforma Psiquiátrica Brasileira foi reconhecida 
como processo político e social. Tal documento 
indica ainda o papel dos vários segmentos da 
sociedade, como movimentos sociais, instâncias de 
governos, de formação de profissionais e de serviços 
de saúde, além da opinião pública e dos símbolos 
compartilhados pela comunidade. 
 
Em 2008 
 Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da 
Família (NASF) 
A criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
buscou reforçar a atenção primária em saúde. Os 
núcleos incluíam profissionais de várias áreas, como 
psicólogos, assistentes sociais, terapeutas 
ocupacionais e psiquiatras, no apoio às equipes de 
saúde da família no território. 
 
Em 2011 
 Instituição da Rede de Atenção Psicossocial 
do Sistema Único de Saúde 
A mudança na legislação foi acompanhada por 
experiências locais de fechamento de hospitais 
psiquiátricos e por ofertas de cuidado comunitário 
em saúde mental, que progressivamente foram 
sendo implementadas nas esferas municipais, 
estaduais e nacionais. Em 2011, essas diretrizes e 
recomendações foram consensuadas como política 
pública nacional por meio da portaria n. 3.088, que 
institui a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) do SUS 
- que busca criar, diversificar e articular serviços e 
ações para pessoas com sofrimento mental ou com 
demandas decorrentes do uso de drogas. 
 
Em 2015 - 2016 
 Interrupção do processo de extinção de 
hospitais psiquiátricos 
Desde o final de 2015 e início de 2016, a Política 
Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde 
sofreu grandes alterações de direcionamento. 
Ocorreram mudanças que implicaram o retorno de 
abordagens que haviam sido superadas no passado, 
com ênfase dada à institucionalização, moralização 
da família e da sexualidade, em vez de preconizar o 
cuidado baseado na comunidade. Foi o primeiro 
momento, desde a retomada da democracia, que o 
Estado brasileiro interrompeu o processo de extinção 
de seus hospitais psiquiátricos. 
 
Barbacena: um recorte do caso 
Barbacena situa-se na Serra da Mantiqueira, a 169 km 
da capital mineira e conta hoje cerca de 124.600 
habitantes. Esse município recebeu a alcunha de 
“Cidadedos Loucos” durante longos anos. Esse título 
foi recebido em função dos sete hospitais 
psiquiátricos que abrigou. 
A justificativa técnica para a instalação de tantos 
manicômios no mesmo território deve-se à antiga 
crença, defendida por alguns médicos da época, de 
que o clima de montanha era salutar para os que 
carregavam doenças nervosas. Nesse clima, os loucos 
ficariam menos arredios e, supostamente, 
facilitariam o tratamento. Outra versão conta que, ao 
perder a disputa política para Belo Horizonte de 
sediar a capital mineira, ganha, como “prêmio de 
consolação” os tantos hospitais psiquiátricos, dos 
quais ainda restam três na cidade. 
O maior desses hospitais, hoje administrado pela 
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais 
(FHEMIG), começou a funcionar em 1903, numa 
imensa área rural, nas terras da Fazenda da Caveira. 
As instalações desse hospital abrigaram 
anteriormente uma clínica de repouso e clínica para 
os nervos e, posteriormente, um Sanatório para 
Tuberculosos. Era uma instituição para ricos. Com a 
falência do sanatório, o prédio foi ocupado por um 
hospital psiquiátrico, em que os pacientes se 
dividiam em pagantes e indigentes. 
Por meio do trabalho, retirava-se o louco de sua 
condição de criatura inútil, possibilitando a 
canalização da sua agressividade e, 
consequentemente, a cura. Dessa forma, os 
pacientes pobres e considerados indigentes eram 
forçados a trabalhos monótonos e repetitivos, sem 
remuneração, e faziam trabalhos pesados na lavoura, 
na área do hospital, e na confecção de tijolos, 
bonecos, tapetes e outros produtos que eram 
vendidos ou consumidos internamente. 
Em seu auge o hospital chegou a abrigar cerca de 
5.000 moradores, os quais chegavam de todos os 
cantos do Brasil, apinhados em um trem que parava 
na frente dos pavilhões. Esse sinistro e terrível veículo 
ficou conhecido como “Trem de Doido”. 
Do hospital, a maioria das pessoas não saía nunca 
mais. Muitos chegavam crianças e nunca mais viam 
suas famílias. Para lá, eram enviados meninos 
considerados pelos pais e professores como 
desobedientes; moças que, para a desgraça familiar, 
tinham perdido a virgindade ou que engravidavam 
sem estarem casadas; presos políticos e toda a sorte 
de “indesejáveis” na sociedade, dentre os quais 
também os sifilíticos e os tuberculosos. 
Os internos viviam no hospital em estado de absoluto 
abandono. Perambulavam pelos pavilhões nus e 
descalços e eram forçados a comer comida crua, 
servida em cochos e sem talheres. Para acomodar 
tanta gente nas instalações do hospital, as camas 
eram retiradas e feno era espalhado pelo chão. Tal 
estratégia chegou até mesmo a ser recomendada 
como medida em outros hospitais psiquiátricos da 
região. As pessoas dormiam todas juntas, 
amontoadas no piso do quarto sobre o feno. 
Conviviam com ratos, que lhes mordiam, com suas 
próprias fezes e urina e morriam às dezenas de 
diarreia, desnutrição, desidratação e de tantas 
outras doenças oportunistas. Estima-se que cerca de 
60 mil pessoas morreram nesse hospital. Eram 60 
óbitos por semana, 700 por ano. Vários ex-internos se 
referem a um chá que era frequentemente servido 
por volta da meia-noite e “estranhamente”, no dia 
seguinte, muitos amanheciam mortos e eram 
empilhados nos corredores e pátios do hospital. 
Os mais rebeldes ou aqueles que cometiam algum 
ato considerado pelos funcionários como 
insubmissão eram mantidos presos em celas 
gradeadas, algemados pelos pés e mãos, contidos por 
várias técnicas e métodos diferentes. Passavam por 
sessões de eletrochoque, das quais saiam mortos ou 
com dentes e ossos quebrados. 
O hospital possuía um centro cirúrgico no qual eram 
realizadas as psicocirurgias, como a lobotomia, mais 
apropriadamente chamada de leucotomia. Esse 
procedimento leva a um estado de sedação, com 
baixa reatividade emocional dos pacientes, 
considerado como eficaz para a melhoria dos 
sintomas externos da doença psiquiátrica. 
Em 1979, o conhecido psiquiatra italiano Franco 
Basaglia visitou o Hospital Colônia de Barbacena e o 
comparou aos campos de concentração nazistas de 
Adolf Hitler. 
As denúncias contra o tratamento desumano no 
interior dos manicômios, que se iniciam no final da 
década de 70 e tomam força nos anos 80 e 90, citam 
os hospitais de Barbacena e começam a mobilizar a 
sociedade. Na crença de que o paciente com 
transtorno mental pode e deve ser tratado sem ser 
retirado do seu meio familiar e social e sem ficar 
trancafiado, sem liberdade, no hospital psiquiátrico é 
que se sustenta toda a revolução na atenção à saúde 
mental. Em Barbacena, esse desafio é aceito e os 
hospitais psiquiátricos vão sofrendo intervenções do 
Ministério da Saúde, fechando suas portas e sendo 
descredenciados do Sistema Único de Saúde. 
Como contrapartida, são organizadas as chamadas 
Residências Terapêuticas as quais recebem os 
egressos dessas longas internações psiquiátricas e a 
assistência é oferecida nos Centros de Atenção 
Psicossocial. Barbacena, nesse sentido, pode ser 
tomada como um emblema da Reforma Psiquiátrica 
no Brasil. 
 
RESUMO: 
Os principais objetivos centraram-se, assim, na 
substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos 
por uma rede de serviços comunitários, tendo como 
núcleo os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 
que se inspiravam nos centros de saúde mental 
desenvolvidos na Itália e em outros países europeus. 
 
 
 
2. ENTENDER A REFORMA PSIQUIÁTRICA, 
ELUCIDANDO OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES NO 
BRASIL. (EVOLUÇÃO, IMPORTÂNCIA); 
Histórico da Reforma: (I) crítica do modelo 
hospitalocêntrico (1978-1991) 
O ano de 1978 costuma ser identificado como o de 
início efetivo do movimento social pelos direitos dos 
pacientes psiquiátricos em nosso país. 
 O Movimento dos Trabalhadores em Saúde 
Mental (MTSM): formado por trabalhadores 
integrantes do movimento sanitário, 
associações de familiares, sindicalistas, 
membros de associações de profissionais e 
pessoas com longo histórico de internações 
psiquiátricas, surge neste ano. 
 Este Movimento, através de variados campos 
de luta, que passa a protagonizar e a 
construir a partir deste período a denúncia 
da violência dos manicômios, da 
mercantilização da loucura, da hegemonia 
de uma rede privada de assistência e ao 
modelo hospitalocêntrico na assistência às 
pessoas com transtornos mentais. 
A experiência italiana de desinstitucionalização em 
psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é 
inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com 
os antigos paradigmas 
O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 
1987, adota o lema “Por uma sociedade sem 
manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada a I 
Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de 
Janeiro). 
Neste período, são de especial importância o 
surgimento do primeiro CAPS no Brasil, na cidade de 
São Paulo, em 1987, e o início de um processo de 
intervenção, 
 Em 1989, da Secretaria Municipal de Saúde 
de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a 
Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos 
e mortes de pacientes. É esta intervenção, 
com repercussão nacional, que demonstrou 
de forma inequívoca a possibilidade de 
construção de uma rede de cuidados 
efetivamente substitutiva ao hospital 
psiquiátrico. 
Neste período, são implantados no município de 
Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que 
funcionam 24 horas, são criadas cooperativas, 
residências para os egressos do hospital e 
associações. A experiência do município de Santos 
passa a ser um marco no processo de Reforma 
Psiquiátrica brasileira. 
Também no ano de 1989, dá entrada no Congresso 
Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado 
(PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos 
da pessoa com transtornos mentais e a extinção 
progressiva dos manicômios no país. 
 
Histórico da Reforma: (II) começa a implantação darede extra-hospitalar (1992-2000) 
A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, 
inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, 
conseguem aprovar em vários estados brasileiros as 
primeiras leis que determinam a substituição 
progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede 
integrada de atenção à saúde mental. 
É na década de 90, marcada pelo compromisso 
firmado pelo Brasil na assinatura da Declaração de 
Caracas e pela realização da II Conferência Nacional 
de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no 
país as primeiras normas federais regulamentando a 
implantação de serviços de atenção diária, fundadas 
nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e 
Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização 
e classificação dos hospitais psiquiátricos. 
Neste período, o processo de expansão dos CAPS e 
NAPS é descontínuo. Ao final deste período, o país 
tem em funcionamento 208 CAPS, mas cerca de 93% 
dos recursos do Ministério da Saúde para a Saúde 
Mental ainda são destinados aos hospitais 
psiquiátricos. 
 
A Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional (2001 
-2005) 
É somente no ano de 2001, após 12 anos de 
tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo 
Delgado é sancionada no país. A aprovação, no 
entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei 
original, que traz modificações importantes no texto 
normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a 
assistência em saúde mental, privilegiando o 
oferecimento de tratamento em serviços de base 
comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das 
pessoas com transtornos mentais, mas não institui 
mecanismos claros para a progressiva extinção dos 
manicômios. 
Em outras palavras, a Reforma formula, cria 
condições e institui novas práticas terapêuticas 
visando a inclusão do usuário em saúde mental na 
sociedade e na cultura. 
É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da 
realização da III Conferência Nacional de Saúde 
Mental, que a política de saúde mental do governo 
federal, alinhada com as diretrizes da Reforma 
Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior 
sustentação e visibilidade. 
Linhas específicas de financiamento são criadas pelo 
Ministério da Saúde para os serviços abertos e 
substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos 
mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e 
redução programada de leitos psiquiátricos no país. 
Neste mesmo período, o processo de 
desinstitucionalização de pessoas longamente 
internadas é impulsionado, com a criação do 
Programa “De Volta para Casa”. 
Uma política de recursos humanos para a Reforma 
Psiquiátrica é construída, e é traçada a política para a 
questão do álcool e de outras drogas, incorporando a 
estratégia de redução de danos. Realiza-se, em 2004, 
o primeiro Congresso Brasileiro de Centros de 
Atenção Psicossocial, em São Paulo, reunindo dois 
mil trabalhadores e usuários de CAPS. 
O período atual caracteriza-se assim por dois 
movimentos simultâneos: a construção de uma rede 
de atenção à saúde mental substitutiva ao modelo 
centrado na internação hospitalar, por um lado, e a 
fiscalização e redução progressiva e programada dos 
leitos psiquiátricos existentes, por outro. É neste 
período que a Reforma Psiquiátrica se consolida 
como política oficial do governo federal. Existem em 
funcionamento hoje no país 689 Centros de Atenção 
Psicossocial e, ao final de 2004, os recursos gastos 
com os hospitais psiquiátricos passam a representar 
cerca de 64% do total dos recursos do Ministério da 
Saúde para a saúde mental. 
 
3. COMPREENDER A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL 
DO BRASIL; 
A Política Nacional de Saúde Mental é uma ação do 
Governo Federal, coordenada pelo Ministério da 
Saúde, que compreende as estratégias e diretrizes 
adotadas pelo país para organizar a assistência às 
pessoas com necessidades de tratamento e cuidados 
específicos em saúde mental. 
Abrange a atenção a pessoas com necessidades 
relacionadas a transtornos mentais como depressão, 
ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, 
transtorno obsessivo-compulsivo etc, e pessoas com 
quadro de uso nocivo e dependência de substâncias 
psicoativas, como álcool, cocaína, crack e outras 
drogas. 
O acolhimento dessas pessoas e seus familiares é 
uma estratégia de atenção fundamental para a 
identificação das necessidades assistenciais, alívio do 
sofrimento e planejamento de intervenções 
medicamentosas e terapêuticas, se e quando 
necessárias, conforme cada caso. Os indivíduos em 
situações de crise podem ser atendidos em qualquer 
serviço da Rede de Atenção Psicossocial, formada 
por várias unidades com finalidades distintas, de 
forma integral e gratuita, pela rede pública de saúde. 
Além das ações assistenciais, o Ministério da Saúde 
também atua ativamente na prevenção de 
problemas relacionados a saúde mental e 
dependência química, implementando, por exemplo, 
iniciativas para prevenção do suicídio, por meio de 
convênio firmado com o Centro de Valorização da 
Vida (CVV), que permitiu a ligação gratuita em todo o 
país. 
 
No ano de 2017 ocorreu uma desconfiguração da 
RAPS (Rede de Atenção Psicossocial). Portarias do 
Ministério da Saúde, publicadas em 2017, criaram 
Unidades Ambulatoriais Especializada e permitiram 
serviços de internação para crianças e adolescentes, 
incluindo o hospital psiquiátrico como ponto de 
atenção da RAPS (e não como parte das Estratégias 
de Desinstitucionalização), entre outras questões que 
desconfiguraram as RAPS. Houve também a revisão 
da Política Nacional de Atenção Básica, com redução 
nos recursos humanos para acolher pessoas com 
desabilidades psicossociais, o que cortou o 
financiamento direto federal dos Núcleos de Apoio à 
Saúde da Família. 
A volta do investimento em hospitais psiquiátricos, 
em um contexto de limitação de recursos frente à 
austeridade orçamentária do SUS desde 2017, aliada 
a abordagens de restrição de direitos na área de 
álcool e drogas, foram compreendidas como um 
retorno à lógica de cuidado asilar e 
institucionalizado. Esse é o processo conhecido 
como “contrarreforma”, um movimento de 
desconfiguração da RAPS, marcado pela revisão da 
Política Nacional de Atenção Básica. Além da redução 
dos recursos financeiros, houve também uma 
redução nos recursos humanos para acolher pessoas 
com desabilidades psicossociais. 
 
Já em 2020, ocorreu o chamado "Revogaço" e mais 
retrocessos. O Governo Federal apresentou ao 
Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) 
um projeto para desativar cerca de 100 portarias em 
políticas de saúde mental, o chamado “revogaço”. 
Há ainda outras questões que têm sido 
negligenciadas nos últimos anos, como a necessidade 
de formação continuada de profissionais da área - 
que deve se estender para outros campos além de 
psicologia e psiquiatria, unindo saúde, educação e 
direito - e o foco das redes de saúde, que privilegia o 
atendimento a pessoas com questões de saúde 
mental agravadas, sem o olhar para a promoção e a 
prevenção da saúde mental. 
Em junho de 2021, o Instituto Cactus lançou o 
levantamento Caminhos em Saúde Mental, um 
relatório inédito sobre os caminhos de atuação em 
saúde mental no Brasil, que tem como objetivo 
promover um olhar mais amplo e, ao mesmo tempo, 
aprofundado sobre o tema, com as principais 
abordagens e soluções para os diversos desafios do 
campo no país. Desenvolvido entre os meses de 
março e dezembro de 2020, em parceria com o 
Instituto Veredas, o levantamento se propõe a 
oferecer um complexo entendimento a respeito do 
campo da saúde mental, incluindo histórico e 
estruturas no Brasil. 
Em julho, a CDHM (Comissão de Direitos Humanos e 
Minorias) da Câmara dos Deputados realizou uma 
audiência pública para discutir sobre a Política 
Nacional de Atenção à Saúde Mental no Brasil. Os 
principais posicionamentos foram: o consenso sobre 
a falta de dados acerca do tema nopaís, situação 
agravada em 2015 quando o relatório “Saúde Mental 
em Dados” do Ministério da Saúde deixou de ser 
publicado, e a revogação da resolução n. 3/2020, que 
prevê a internação de adolescentes em comunidades 
terapêuticas e a construção de espaços para a 
garantia e manutenção de direitos no âmbito da 
saúde mental. 
 
Os dados disponíveis sobre a atual política de saúde 
mental do Brasil são limitados e, em alguns casos, de 
difícil interpretação para um observador externo. A 
única descrição oficial das mudanças que o governo 
pretende introduzir na política de saúde mental a que 
tivemos acesso é uma nota técnica publicada em 
fevereiro de 2019, na qual se anuncia que as 
mudanças previstas têm o objetivo de “tornar a rede 
assistencial mais acessível, eficaz, resolutiva e 
humanizada”, por meio de uma reforma do “modelo 
de assistência em saúde mental, que necessitava de 
aprimoramentos, sem perder a essência de respeito à 
lei 10.216/01”. 
Dada a suspensão posterior dessa nota e a expressão 
pelo Ministro da Saúde de dúvidas sobre alguns de 
seus aspectos, não é claro até que ponto as mudanças 
propostas exprimirão a verdadeira posição do 
governo. 
No entanto, a simples publicação desse documento e 
as medidas de apoio aos hospitais psiquiátricos já 
tomadas parecem justificar as preocupações 
manifestadas por vários setores da saúde mental 
brasileira. 
Apesar das declarações de respeito à Lei de Saúde 
Mental, as mudanças propostas representam na 
verdade o abandono dos princípios legais, 
assistenciais e das várias estratégias de atenção 
psicossocial consolidados pela Reforma Psiquiátrica 
brasileira, com risco real de retrocessos das políticas 
de saúde mental no país. 
Existe hoje um largo consenso em nível internacional 
sobre a importância vital de assegurar a substituição 
dos hospitais psiquiátricos por uma rede integrada e 
territorial de serviços comunitários. Esse é um dos 
quatro objetivos fundamentais do Plano Global de 
Saúde Mental da OMS, e o relatório da Lancet 
Commission recomenda explicitamente que o 
encerramento de hospitais psiquiátricos deverá ser 
iniciado pelos países de renda baixa, consolidado nos 
de renda média e completado nos de renda alta. 
Interromper essa substituição e voltar a colocar o 
hospital psiquiátrico no centro do sistema de saúde 
mental, como estabelece a Nota Técnica, resultará 
inevitavelmente na diminuição do acesso à atenção 
de qualidade, no aumento das violações dos direitos 
humanos e no aumento da exclusão social das 
pessoas com transtornos mentais. Todos os esforços 
de redistribuição dos recursos financeiros serão 
anulados, e os recursos disponíveis para serviços na 
comunidade certamente se tornarão cada vez mais 
escassos. 
Por razões de outra ordem, a proposta de criação de 
Unidades Psiquiátricas Especializadas em hospitais 
gerais e Unidades Ambulatoriais Especializadas, tal 
como enunciada no documento, não pode também 
deixar de suscitar algumas reservas. Embora ambos 
os tipos de serviço possam ter um papel importante 
em um sistema de saúde mental, a sua criação, de 
forma desligada de um território específico e sem 
uma integração adequada com os CAPS e outros 
dispositivos da comunidade, levará inevitavelmente 
a uma fragmentação do sistema e a um 
desaparecimento da continuidade de cuidados. Por 
outro lado, a possibilidade de estabelecimento de 
unidades ambulatoriais especializadas destinadas ao 
tratamento de “pessoas com transtornos mentais 
mais comuns e prevalentes” em hospitais não parece 
fazer muito sentido. Essas unidades devem estar 
junto das pessoas e dos serviços de atenção primária, 
com que desejavelmente devem colaborar. 
A contradição é, aliás, um dos aspectos que mais 
chama a atenção na leitura desse documento. 
Apesar de uma constante proclamação de respeito à 
evidência científica, o texto em que se apresenta uma 
nova política de saúde mental não inclui uma única 
referência aos inúmeros contributos surgidos, nos 
últimos anos, da epidemiologia psiquiátrica, da 
investigação de políticas e de serviços de saúde 
mental e da ciência de implementação, que 
constituem, hoje em dia, o suporte conceptual e 
científico das políticas de saúde mental. As mudanças 
propostas ignoram totalmente as evidências que 
provam a necessidade de basear a promoção, a 
prevenção e o tratamento dos transtornos mentais 
em uma abordagem de saúde pública, sistêmica e 
intersetorial. Igualmente, partem da crença, hoje 
totalmente ultrapassada, de que se pode construir 
uma política de saúde mental apenas com base em 
uma perspectiva estritamente clínica, ignorando todo 
o debate atual à volta da saúde mental do futuro. 
 
O QUE TEMOS HOJE NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL 
NO PAÍS 
As diretrizes e estratégias de atuação na área de 
assistência à saúde mental no Brasil envolvem o 
Governo Federal, Estados e Municípios. Os principais 
atendimentos em saúde mental são realizados nos 
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que existem 
no país, onde o usuário recebe atendimento próximo 
da família com assistência multiprofissional e cuidado 
terapêutico conforme o quadro de saúde de cada 
paciente. Nesses locais também há possibilidade de 
acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em 
situações de maior complexidade. A Rede de Atenção 
Psicossocial (RAPS) é formada pelos seguintes pontos 
de atenção: 
 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 
São pontos de atenção estratégicos da Rede de 
Atenção Psicossocial (RAPS). Modalidades dos 
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): 
↳ CAPS I 
↳ CAPS II 
↳ CAPS i 
↳ CAPS ad (Álcool e Drogas) 
↳ CAPS III 
↳ CAPS ad III (Álcool e Drogas): 
Atendimento e 8 a 12 vagas de 
acolhimento noturno e observação; 
funcionamento 24h 
 
 Urgência e emergência: SAMU 192, sala de 
estabilização, UPA 24h e pronto socorro 
 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) 
 Unidades de Acolhimento (UA) que são 
divididas em: 
↳ Unidade de Acolhimento Adulto 
(UAA): destinada às pessoas maiores 
de 18 (dezoito) anos, de ambos os 
sexos; e 
↳ Unidade de Acolhimento Infanto-
Juvenil (UAI): destinada às crianças e 
aos adolescentes, entre 10 (dez) e 18 
(dezoito) anos incompletos, de 
ambos os sexos. 
 Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde 
Mental 
 Comunidades Terapêuticas 
 Enfermarias Especializadas em Hospital Geral 
 Hospital-Dia

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