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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NUCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE PÚBLICA LUANA FREITAS BEZERRA AS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMILIA MARANGUAPE 2021 AS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMILIA 1LUANA FREITAS BEZERRA Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). RESUMO - O presente trabalho tem como objetivo analisar as Condicionalidades do Programa Bolsa Família e a responsabilidade das famílias e do Estado sobre o cumprimento destas. Serão analisados os condicionantes do programa referente a educação e saúde bem como a assistência social. A pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo contemplou temas como: pobreza, políticas sociais, programas de transferência de renda, PBF, condicionalidades e política de assistência social. Conclui-se que o Programa de Transferência de Renda em questão tem contribuído na vida dessas famílias, como garantia mínima de acesso a alimentação e a outras formas de consumo. Contudo, reforça a questão contínua da desigualdade social, pois a garantia de renda mínima não consegue, em si, superar a extrema pobreza que essas famílias vivenciam. Palavras-chave: Condicionalidades. Políticas sociais. Bolsa Familia. 1 luaninhafreytas@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO Este estudo aborda a temática do programa de transferência de renda Bolsa Família que determina aos seus beneficiários condicionalidades a serem cumpridas para o recebimento mensal do recurso a ser repassado para elas. Estas condições são impostas nas questões relativas à saúde, educação, bem como a assistência social. As políticas sociais devem objetivar a promoção social, combatendo a miséria, buscando a equidade e garantindo a promoção dos direitos sociais e da cidadania. O Estado deve buscar mudanças setoriais e reformas estruturais para atender as necessidades, desempenhando o papel de priorizar ações de redistribuição de recursos e a proteção social do indivíduo que dela necessite. Percebemos que as políticas sociais são um desafio para o mundo contemporâneo, buscamos refletir sobre as questões que determinam as desigualdades sociais, e a implantação de programas de garantias de renda mínima que venham possibilitar a implementação de um sistema de proteção social que objetive garantir os direitos dos cidadãos. O objetivo geral desse trabalho é analisar as condicionalidades do Programa Bolsa Família e a responsabilidade das famílias e do Estado sobre o cumprimento destas. Os objetivos específicos referem-se: observar os diferentes pontos de vista de estudiosos e pesquisadores em relação às condicionalidades exigidas pelo PBF, analisar o perfil das famílias que se encontram em descumprimento de condicionalidade, compreender como as condicionalidades têm sido entendidas/administradas tanto pelas famílias beneficiárias do programa como pelos representantes das três políticas que as integram, quais sejam: saúde, educação e assistência social. O trabalho tem o propósito de contribuir para o debate acerca das políticas sociais na sociedade brasileira e como elas se configuram dentro do contexto político, social e econômico, bem como fomentar a discussão sobre o real sentido dos programas de transferência de renda que visam minimizar a pobreza. Diante desse cenário, o Serviço Social, deve inserir-se cotidianamente em suas ações, com elementos pautados na reflexão crítica sobre as diversas expressões da questão social e quais são os impactos que as políticas públicas tem na vida dos usuários. 2. DESENVOLVIMENTO As categorias centrais desse estudo são família, pobreza e política social. Servindo de embasamento teórico autores como Socorro Osterne, Maria do Carmo Brandt Carvalho, Maria Carmelita Yazbek, Pedro Demo, Regina Célia Mioto, Raquel Raichelis, Maria Ozanira da Silva e Silva, entre outros, para refletir sobre a realidade das famílias extremamente pobres beneficiadas pelo Bolsa Família. A organização do trabalho está dividida em quatro partes. A primeira delas compreende essa introdução. A segunda o desenvolvimento do tema, A terceira parte propõe uma analise sobre o PBF e suas condicionalidades, tendo como finalidade a apresentação do programa, seus critérios, objetivos e contrapartidas, estabelecendo-se apontamentos e reflexões sobre pesquisadores que trabalham e abordam a discussão sobre os programas condicionados que ganha destaque ao final do capítulo, como transferência de renda condicionada à saúde e à educação, devendo as famílias atender critérios de elegibilidade, acrescentando a isso diversas citações de estudiosos da temática. Por fim, nas considerações finais apresentaremos uma discussão sobre as condicionalidades e o desafiante processo dos municípios em atender as demandas sociais com oferta de bens e serviços públicos que contemplem todos os indivíduos que recebem programas de transferência de renda. 3. O PROGRAMA BOLSA FAMILIA E SUAS CONDICIONALIDADES Este capítulo propõe uma análise sobre o PBF enquanto programa focalizado de transferência de renda as famílias inseridas dentro dos critérios de elegibilidade preconizados pelo programa. Dessa forma, propõe-se uma reflexão a respeito dos conceitos, critérios, objetivos e condicionalidades. 3.1 O PROGRAMA BOLSA FAMILIA O Bolsa Família é um programa de transferência de renda direta que beneficia famílias pobres e extremamente pobres no Brasil. O Programa foi criado no governo Lula por meio da Medida Provisória nº 132, de 20 de outubro de 2003, e regulamentado em 2004, pelo Decreto nº 5.209. Nasceu da unificação de outros PTR Federais (Bolsa Escola, Auxílio Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação). O Programa Fome Zero foi incorporado a ele, após a constituição da Lei nº 10.836. O Decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004 esclarece que a finalidade do programa seria unificar os procedimentos de administração e execução de ações de transferência de renda, e cadastramento único do governo federal. (MDS, 2013). O PBF introduziu grandes avanços no que diz respeito ao direito à renda às famílias que se encontravam em situação de pobreza e extrema pobreza. Possui três eixos principais: a transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade. (MDS, 2013). O PBF é um programa focalizado para atender às famílias pobres, devendo as famílias beneficiadas assumir alguns compromissos nos campos: da educação, garantindo a frequência escolar de crianças a partir dos seis anos de idade e adolescentes até dezessete anos; na saúde, a vacinação de crianças até sete anos e o pré-natal de gestantes; e na assistência social, crianças e adolescentes com até quinze anos em risco ou retiradas do trabalho infantil pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), devem participar do Serviçode Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). Essas condicionalidades são acompanhadas pelo gestor municipal. Caso as famílias descumpram por algum motivo, para que não haja repercussão no benefício (bloqueio, suspensão ou cancelamento), podem procurar o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou o Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS), na tentativa de superação das dificuldades. São responsabilidades das famílias a relação ao cumprimento de uma agenda mínima na área da saúde e da educação que possam melhorar as condições para que as crianças e jovens de famílias beneficiárias desfrutem de maior bem-estar no futuro. (MDS; UNESCO, 2009) O MDS é o responsável por fazer o acompanhamento das condicionalidades de forma articulada com o Ministério da Saúde e da Educação. Os objetivos do acompanhamento são: monitorar o cumprimento dos compromissos pelas famílias beneficiárias; responsabilizar o poder público pela garantia de acesso aos serviços; identificar, nos casos de não cumprimento, as famílias em situação de maior vulnerabilidade e orientar as ações do poder público para o acompanhamento dessas famílias. (MDS, 2013) Silva aponta que: A obrigatoriedade de frequência à escola não é suficiente para alterar o quadro educacional das futuras gerações, e consequentemente alterar a pobreza. Essa exigência implica na expansão, na democratização e na melhoria dos sistemas educacionais estaduais e municipais. (SILVA, 2014, p.212) Ou seja, não basta a criança ou o adolescente estar frequentando a escola para receber o benefício, deve-se reforçar a importância da educação e essa ser de boa qualidade, com espaços adequados e profissionais capacitados. Quanto ao atendimento nas unidades de saúde, a autora afirma que a associação da transferência de renda às necessidades de saúde, também implicam numa melhoria, ampliação e democratização dos serviços de atendimento. A articulação com outras políticas e programas apresenta pontos a serem melhorados, pois ainda há muitas dificuldades no atendimento às famílias, principalmente no número insuficiente de profissionais para atender às demandas. Silva afirma (2012, p.212-213) a intencionalidade da relação dos PTR com a educação, a saúde e o trabalho, para que seja materializada, requer que priorizem e democratizem os programas e serviços sociais básicos, o que significa alterar o quadro conjuntural contemporâneo, dando lugar para que uma política de crescimento econômico, de geração de emprego e de distribuição de renda seja articulada à Política Social. Entendemos que a pobreza é um fenômeno multidimensional e deve ser compreendida não só como insuficiência monetária, mas também como a desigualdade na distribuição da renda, aprofundada pela exploração do trabalho e pelo processo excludente da sociedade capitalista, que concentra riquezas para uma parcela selecionada e mantém os pobres com políticas compensatórias, voltadas para amenizar a pobreza e não de fato superá-la, como propõe a implantação do PBF, que integra o Plano Brasil Sem Miséria, do Governo da Presidenta Dilma Rousseff, iniciado em 2011. Rocha (op. cit., p. 172) afirma que: Enquanto governo de continuidade do Partido dos Trabalhadores na Presidência da República, o Governo Rousseff tem como objetivo declarado prosseguir e aperfeiçoar as ações empreendidas no Governo Lula. Tem como meta específica para a área social, eliminar a pobreza extrema até o final do governo, em 2014. (ROCHA, 2014). Para a inclusão das famílias no PBF é necessária a inscrição no Cadastro Único (CADÚNICO), devendo atender aos critérios de elegibilidade. Caso as famílias não estejam no perfil de renda, elas podem fazer parte de outros programas e ações sociais através do Número de Identificação Social - NIS, como tarifa social de energia elétrica, Minha Casa Minha Vida, cursos do PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e emprego, isenção de taxas de concursos públicos, vestibular, entre outros. Em 2018, o MDS adotou o valor de até R$ 89 per capita como linha oficial para definir extrema pobreza. Esse valor é utilizado para critério de elegibilidade no Bolsa Família. As famílias que tem renda per capita entre R$ 89,01 até R$ 170, ingressam no programa se possuírem crianças ou adolescentes de 0 a 17 anos de idade, ou famílias com renda de até R$ 89, independente das idades dos membros da família, essa se encontra no perfil de extrema pobreza. O critério principal para inclusão é a renda, apesar de ser um indicador insuficiente para mensurar a pobreza, por esse motivo as famílias que ultrapassam a per capita estabelecida, ficam excluídas do programa, mas continuam dentro dos índices de pobreza. Silva (2012, p. 215) considera baixo o corte de renda per capita familiar para a inserção no PBF, considerando o número de famílias atendidas a partir dos critérios fixados, grandes contingentes de famílias brasileiras pobres ainda ficam de fora desses programas. Deveriam, de fato, ser considerados outros indicadores sociais, como as condições de saúde, saneamento básico, alimentação adequada, luz elétrica, afirmando as múltiplas expressões da pobreza. Vale ressaltar a questão sobre o valor dos benefícios. Para Rocha (op. cit., p.170), “embora as transferências de renda do Bolsa Família possam não alterar muito o valor da renda de parte das famílias beneficiárias, permitem em todos os casos a melhoria nas condições de vida devido à previsibilidade da receita num dado momento do mês.” Entendemos, portanto, que a transferência de renda é apenas uma pequena ação estatal para minimizar os impactos da desigualdade social, não desfazendo da reflexão sobre a articulação do desenvolvimento econômico e social. A estrutura da desigualdade permanece intacta, mas em compensação, os pobres estão um pouco menos pobres, um resultado típico do atual PBF: é adequado no plano da assistência, porque é devido por direito; é inadequado no plano de confronto político, porque o abafa. (DEMO, op. cit., p. 82) O PBF ao longo desses dez anos vem se aperfeiçoando na tentativa de retirar as famílias pobres e extremamente pobres dessa situação; contudo, a transferência de renda consegue reduzir os impactos negativos imediatos, mas não consegue retirá-las da pobreza. Os Programas de Transferência de Renda, quando não articulados a uma política macroeconômica de crescimento sustentável e de redistribuição de renda, podem significar melhorias imediatas das condições de vida, de famílias que vivem em extrema pobreza, o que já é importante, mas não superam a pobreza, ultrapassando, somente em caráter marginal, a denominada linha de pobreza. (SILVA, 2012, p. 221) O programa constitui a maior política pública de transferência de renda da América Latina, tanto em orçamento quanto em cobertura. Atualmente estima-se o total de 13,7 milhões de famílias pobres beneficiadas em todo Brasil, com gastos de mais de R$ 24 bilhões por ano (MDS/SENARC, 2013). As avaliações de impacto do PBF demonstram que ele contribui para a elevação da frequência escolar, a ampliação do atendimento à saúde e o combate à desnutrição. (CAVALCANTE E RIBEIRO, 2012, p.59) Em maio de 2012, o Governo Federal anunciou o Benefício para Superação da Extrema Pobreza (Brasil Carinhoso), que objetiva complementar a renda das famílias que recebem o BF e estão na linha de extrema pobreza, que tinham em sua composição familiar crianças de zero a seis anos. Em dezembro do mesmo ano, a faixa etária mudou abrangendo a faixa etária de crianças de zero a quinze anos. Esse acréscimo na renda das famílias extremamente pobres é irrisório, pois o benefício é temporário e irá variar conforme a composição familiar. O MDS é responsável pela gestão do PBF em âmbito federal, representado nacionalmente pela Secretaria Nacional de Renda e Cidadania – SENAC, a Caixa EconômicaFederal é quem opera e paga os benefícios. Para apoiar os municípios, o Governo Federal repassa recursos mensalmente conforme o desempenho da coordenação local, através de uma gestão descentralizada. Todos os financiamentos e ações do PBF aos governos locais são acompanhados pelo Índice de Gestão Descentralizada – IGD, baseados em dados como, a qualidade das informações do Cadastro Único, a atualização cadastral pelo menos a cada dois anos e o atendimento das famílias beneficiárias na área da saúde e da educação. Com esses recursos os municípios podem realizar a gestão de condicionalidades, acompanhamento das famílias beneficiárias, cadastramento de novas famílias, atualização e revisão de informações, bem como planejar ações complementares. 3.2 AS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMILIA É uma das dimensões do programa, deve ser compreendida como “compromissos assumidos pelas famílias e pelo poder público” ao acesso de serviços básicos, no intuito de romper com o ciclo Inter geracional da pobreza. O objetivo das condicionalidades é o de elevar o grau de efetivação de direitos socias por meio do acesso aos serviços sociais básicos de saúde, educação e assistência social. São objetivos das condicionalidades segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS): Materializar o direito de acesso das famílias vulneráveis aos serviços de saúde, educação e assistência social; mapear situações de maior vulnerabilidade para orientar as ações do poder público; identificar lacunas de oferta de serviços; contribuir para o alcance dos objetivos das áreas de saúde, educação, assistência social e segurança alimentar e nutricional; e propiciar a integralidade da atenção às famílias vulneráveis. (MDS, 2010) O papel do poder público é identificar e acompanhar os motivos do não cumprimento das condicionalidades e implementar ações de acompanhamento das famílias em descumprimento, consideradas em situação de maior vulnerabilidade social. O Guia para Acompanhamento das Condicionalidades (2010) as define da seguinte forma: As condicionalidades do Programa Bolsa Família foram formuladas como um mecanismo para reforçar o exercício, pelos brasileiros mais pobres, de direitos básicos como o acesso aos serviços de saúde, educação e assistência social, contribuindo para romper o ciclo Inter geracional da pobreza. O pressuposto é o de que filhos que têm acesso a melhores condições de saúde, educação e convivência familiar e comunitária do que seus pais tiveram, têm também aumentadas suas oportunidades de desenvolvimento social. Em outras palavras, as chances de terem uma vida melhor que a de seus pais são ampliadas. O principal objetivo das condicionalidades é, portanto, a elevação do grau de efetivação dos direitos sociais dos beneficiários por meio do acesso aos serviços básicos (MDS, 2010, p.09). O resultado do acompanhamento de condicionalidades possibilita identificar famílias potencialmente mais vulneráveis ou em risco social, como por exemplo: crianças sem vacinação e gestantes sem pré-natal, crianças com insegurança alimentar e nutricional, famílias, crianças, gestantes não acompanhadas, não visitadas e não localizadas na saúde, beneficiários não localizados no acompanhamento da frequência escolar, alunos com baixa frequência escolar ( e os motivos correspondentes), baixa frequência nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV/PETI, famílias em fase de suspensão pelo descumprimento de condicionalidades, famílias canceladas pelo descumprimento de condicionalidades. As condicionalidades do PBF são vistas como contrapartidas para o recebimento da bolsa pelas famílias beneficiárias e não têm a finalidade de punir ou controlar as famílias, mas responsabilizá-las de forma conjunta com o poder público. Assim no artigo 27 do Decreto 5.209 de 2004 que regulamenta a lei 10.836 de 2004, infere-se o seguinte: Art. 27. As condicionalidades do Programa Bolsa Família previstas no art. 3º da Lei nº 10.836, de 2004, representam as contrapartidas que devem ser cumpridas pelas famílias para a manutenção dos benefícios e se destinam a: I - Estimular as famílias beneficiárias a exercer seu direito de acesso às políticas públicas de saúde, educação e assistência social, promovendo a melhoria das condições de vida da população; e (Incluído pelo Decreto nº 7.332, de 2010); II - Identificar as vulnerabilidades sociais que afetam ou impedem o acesso das famílias beneficiárias aos serviços públicos a que têm direito, por meio do monitoramento de seu cumprimento. (Incluído pelo Decreto nº 7.332, de 2010). 3.3 O ACESSO A EDUCAÇÃO E SAÚDE O Programa Bolsa Família tem um papel fundamental em reforçar o acesso das famílias à educação e à saúde, por meio de alguns compromissos, chamados condicionalidades. Mas não são apenas os beneficiários que têm a responsabilidade de cumprir esses compromissos. O poder público também deve ter um foco nessas famílias ao garantir a elas a oferta e a qualidade dos serviços. (MDS, 2015). São condicionalidades do PBF, de acordo com o art. 3º e 4º da lei nº 10.836, de 2004 e com os artigos 27 e 28 do decreto nº 5.209, de 2004 (MDS, 2009). 3.3.1 Na área de educação Para as crianças ou adolescentes de 6 a 15 anos de idade, a matricula e a frequência de 85% da carga horária escolar mensal; e Para adolescentes e 16 e 17 anos de idade, cujas famílias recebam o Benefício Variável vinculado ao Adolescente – BVJ, a matrícula e a frequência mínima de 75% da carga horária escolar mensal; 3.3.2 Na área da saúde Para a gestantes e nutrizes no que couber, o comparecimento às consultas de pré-natal e a participação nas atividades educativas sobre aleitamento materno e cuidados gerais com a alimentação e saúde da criança; e Para crianças menores de 7 anos, o cumprimento do calendário da vacinação e o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil; Para as crianças e adolescentes de até 15 anos, em risco ou retiradas do trabalho infantil, a frequência mínima de 85% da carga horária relativa aos serviços socioeducativos e de convivência. As famílias beneficiárias do PBF com crianças ou adolescentes de até 15 anos de idade, nutrizes ou gestantes, que descumprirem as condicionalidades, ficam sujeitas aos seguintes efeitos, aplicados de forma sucessiva: I - Advertência, no primeiro registro de descumprimento II - Bloqueio do benefício por um mês, no segundo registro de descumprimento; III - Suspensão do benefício por dois meses, no terceiro registro de descumprimento; IV – Suspensão do benefício por dois meses, no quarto registro de descumprimento; V – Cancelamento do benefício, no quinto registro de descumprimento. As famílias beneficiárias do PBF, cujos adolescentes de 16 e 17 anos, que sejam beneficiários do BVJ, descumprirem as condicionalidades, ficam sujeitas, no que se refere a este benefício, aos seguintes efeitos, aplicados de forma sucessiva: I – Advertência, no primeiro registro de descumprimento do adolescente; II – Suspensão do BVJ por dois meses, no segundo registro de descumprimento do adolescente; e III – Cancelamento do BVJ, no terceiro registro de descumprimento do adolescente. (MDS, 2015). O PBF estabelece condicionantes na área da saúde e educação, ou seja, serviços básicos, se enquadrando no cenário latino-americano, em que outros programas de transferência de renda seguem a mesma lógica, com a exigência de condicionalidades que no caso brasileiro, são serviços que deveriam ser constitucionalmente garantidos a todos. Isso pode parecer contraditório em um primeiro momento, obrigar o cidadão a usufruir de seus direitos. O fato de muitos pobres não usufruírem desses direitos, mesmo estando aparentemente a disposição da maioria da população reside na sua incapacidade de planejamento de longo prazo, sua pauperização limita o acesso dos pobres e taisserviços, devido a sua imediata necessidade de sustentação. Isso surge como um foco de ineficácia dos programas. Segundo Cruz e Pessali (2007) isso pode levar a uma "armadilha de pobreza", onde o beneficiário pode permanecer na tentativa de maximizar resultados dentro das suas próprias condições de vida. A tentativa de maximização do seu bem-estar está apenas no curto prazo, não enxergando a possibilidade de um educacional de longo prazo. Essa tentativa de inclusão dos beneficiários em um sistema de proteção social pré-existente é feita através da imposição de condicionalidades associadas à transferência direta de renda. O aumento da renda associado às condicionalidades seria fundamental para viabilização do acesso dos beneficiários a esse sistema, que possibilitaria o incremento de capital humano necessário para que no longo prazo essa renda possa vir a ser criada independente da assistência por parte do estado (SANT'ANNA, 2007). A partir do segundo ano do governo Lula, surgem diversas críticas sobre essas condicionalidades, por não estarem sendo efetivamente cumpridas e nem sequer fiscalizadas, muitas vezes pela própria ineficácia do poder público na oferta de tais serviços, vindo a reforçar as críticas de que o programa seria um mero assistencialismo de caráter temporário, e segundo alguns críticos havia se transformado em um eleitoreiro de compra de votos (MARQUES E MENDES, 2007). O acompanhamento das condicionalidades nunca foi efetivo nos programas anteriores ao PBF, o Programa Bolsa Escola serve de exemplo para isso. Nesse programa apenas 19% das escolas informavam a frequência escolar dos alunos, sendo que no Programa Bolsa Alimentação nunca houve sequer fiscalização nos gastos das famílias beneficiárias (MDS,2009). Portanto o PBF teve o desafio de iniciar o processo de fiscalização das condicionalidades do programa que foi feito de acordo com a restrição orçamentária determinada pelo MDS, segundo o qual os gastos administrativos do programa não poderiam passar de 2% do valor total dos gastos do programa. Isso determinou que a fiscalização das condicionalidades não deveria se tornar um limitador da expansão do programa. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desconhecimento de princípios básicos de cidadania mantém o cidadão cada vez mais distante do acesso aos serviços do Estado, os fatores como indigência econômica, falta de acesso a serviços básicos (saneamento, saúde etc.) reforçam as desigualdades, sendo assim é necessária à superação da pobreza articulando os programas sociais de transferência de renda num caráter universalista de atendimento efetivo as famílias que encontram em situação de vulnerabilidade social. Um dos maiores desafios para os municípios brasileiros, é no campo social, ou seja, a necessidade de criação de novas habitações, diminuição da vulnerabilidade social, melhoria na infraestrutura da saúde e educação e postos de trabalho que incrementem a renda populacional, principalmente para os segmentos excluídos do processo de desenvolvimento, que não conseguem ter acesso aos bens e serviços públicos ofertados pelo município e cada vez mais são excluídos por não conseguirem cumprir o seu “dever” com os programas sociais que exigem condicionalidades para continuarem a usufruir dos recursos repassados pelo governo. As condicionalidades são instrumentos primordiais de controle social para acesso e manutenção das famílias pobres no Programa Bolsa Família, instituído pelo Estado brasileiro. O repasse de recursos, por parte do governo, pressupõe obrigações aos beneficiários, prevendo-se penalizações àquelas que não cumprem as instruções normativas. No entanto, famílias vulneráveis socialmente desenvolvem estratégias peculiares de sobrevivência e, assim, asseguraram acesso e permanência no Programa. Esta realidade do país e consequentemente do município é um fenômeno agravado pelo acúmulo histórico de taxas crescentes de desemprego e falta de moradia, fato que vem agravando o processo histórico-estrutural de concentração de renda. O desenvolvimento de projetos sociais para toda a comunidade vai ao encontro de um dos grandes desafios a serem enfrentados no tema de inclusão social, ou seja, a criação de oportunidades de acesso à habitação, a geração de trabalho e renda, em especial para os segmentos da população excluída do processo desenvolvimentista. A questão do cumprimento de condicionalidades pelas famílias nos programas de transferência de renda perpassa pela exclusão e, por consequência, a pobreza e a desigualdade que não são novas no Brasil, também são questões imensas a serem encaradas, tem distintas faces, perpetuaram-se pela sistemática omissão do Estado e da nação brasileira de enfrentá-las como questão social de enorme gravidade por meio de políticas públicas voltadas a proteção e ao desenvolvimento social, mediante isso cobrar das famílias a responsabilidade em cumprir contrapartidas para continuarem a receber benefícios sociais que lhes garantam direitos mínimos de cidadania é ferir os seus direitos constitucionais. As consolidações de esforços governamentais e da sociedade civil devem ser potencializadas, para que possamos enfrentar as causas do problema advindo das transformações econômicas e sociais do mundo capitalista, onde o elevadíssimo grau de concentração de renda e de riqueza são características marcantes nos países, principalmente nos subdesenvolvidos como o Brasil. O problema está na situação de desigualdade estrutural, na violação dos direitos, nas precárias condições de vida que tem origem na estrutura da nossa sociedade, que priva as famílias de construir uma identidade e se considerar parte de uma sociedade como um sujeito de direitos. As famílias mesmo em situação de vulnerabilidade social, não são agente passivos no contexto social. Reagem cotidianamente, à sua maneira, construindo elas próprias os seus modos de apropriação. No que pese a isso, as condicionalidades não asseguram, por si só, garantias de melhoria social, de acesso aos direitos básicos, da igualdade ou do reconhecimento do sujeito enquanto participante dos processos de mudanças sociais. REFERÊNCIAS _____. Transferências de renda no Brasil: o fim da pobreza? Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, 2013. Disponível em: <http://bolsafamilia10anos.mds.gov.br/> Acesso em 11 nov. 18 ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 e Norma Operacional Básica – NOB/SUAS. Brasília, DF: MDS e Secretaria Nacional de Assistência Social, 2012. ______. Presidência da República. Lei Orgânica da Assistência Social, Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. 2006/2004/lei/l10.836.htm>. Acesso em: 11 maio 2018. BRASIL. 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