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Análise a partir dos Teóricos Racistas, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre sobre os acontecimentos do documentário menino 23

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Gabriel Bruck Machado
Análise a partir dos Teóricos Racistas, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre sobre os acontecimentos do documentário menino 23
Cultura Brasileira
Prof Luísa Chaves de Melo
 Rio de Janeiro, 2021
Introdução
O documentário menino 23 começa com a descoberta em 1998, através de um comentário de uma aluna em sala de aula, de suásticas em tijolos antigos em sua fazenda. A partir desse evento o professor Sydney Aguilar começa sua pesquisa, descobrindo a fundo a história da influente família Rocha Miranda e sua relação com a adoção na década de 30 de 50 meninos negros entre 9 e 11 anos do Educandário Romão de Mattos Duarte no Rio de Janeiro. Levados para Campina do Monte Alegre em São Paulo, as crianças acreditavam que teriam acesso à educação, espaço maior para brincar no interior, mas o que encontraram lá foi ensino precarizado voltado exclusivamente para exercer as funções necessárias da fazenda, ou seja, uma condição de escravidão. O vídeo, disponível na plataforma da Globo Play, possui cerca de 1 hora de duração e conta com relatos dos meninos que foram adotados, suas experiências únicas e o sofrimento marcado pelo racismo e as políticas de eugenia e limpeza racial da época.
Teóricos Racistas e o documentário:
A ideia de eugenia aparece muito forte no documentário, os símbolos nazistas encontrados na fazenda dos Rocha Miranda mostram como a sociedade via a relação com os negros após o fim da escravidão. A família que adotou os meninos também fazia parte da ação integralista, grupo mais próximo no Brasil das ideologias nazifascistas. Na época em que se passa a história a constituição brasileira, segundo o documentário, colocava a pauta da eugenia e do branqueamento como dever do Estado. É nesse ponto que há uma conexão com um dos teóricos racistas Silvio Romero . O autor defendia a vinda de imigrantes para o embranquecimento da população. O negro, portanto, a raça seria o problema fundamental para o atraso brasileiro e para Silvio Romero o antídoto é a miscegenação. Diferente de Sílvio Romero, Nina Rodrigues acredita que raça superior vencia e que os mestiços seriam degenerados. O escritor apoia sua tese em estudos de medição de crânio, tentando a partir disso comprovar uma capacidade cognitiva menor nos negros com relação aos brancos. Em partes o apoio a essa ideia é constantemente reforçada pela história contada a partir dos entrevistados, um exemplo foi o episódio do dia da adoção. Ao escolher os meninos, o responsável dos Rocha Miranda teria arremessado balas no chão para testar quais tinham maior capacidade e destreza, analisando as crianças negras como Gado. O orfanato também pouco se preocupou de fato com o destino dos meninos, visto que somente um tutor pode se responsabilizar por 50 crianças de uma única vez, contrariando as normas e os critérios básicos de adoção.
A Família Rocha Miranda e os conceitos de Homem Cordial, Patrimonialismo em Sérgio Buarque de Holanda
A família Rocha Miranda detinha uma grande influência no país desde da época do Império, eram descendentes do Barão de Bananal um escravocrata. Dadas as suas doações e notoriedade política exerciam grande poder no Brasil, principalmente na cidade onde os meninos foram levados para trabalhar como escravos. Há inclusive a presença de escolas, ruas com nome dos Rocha Miranda. É a partir disso que podemos compreender como foi possível a adoção de 50 meninos por apenas um único tutor, com pouquíssima burocracia, analisando pela ótica de Sérgio Buarque de Holanda. Esse tratamento exclusivo, mostra como as instituições servem a interesses privados, ou seja, a política torna-se uma extensão da esfera da família. O comportamento do brasileiro no espaço público expressa mais emoções, não uma racionalidade, sendo assim os motivos para a autorização das crianças a único responsável remete uma escolha motivada muito mais pelo apreço a figura dos Rocha Miranda do que propriamente por uma lógica relacionada ao processo de adoção. Segundo Sérgio Buarque de Holanda:
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário “patrimonial” do puro burocrata conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurar garantias jurídicas aos cidadãos
Portanto, o legado do povo brasileiro seria o Homem Cordial, aquele que prioriza as emoções e ações pelo coração. Outro ponto a se levar em conta é o da aversão aos trabalhos manuais, a intelectualidade detém traços senhoriais, sendo o talento fruto de uma espontaneidade. Esse elemento corrobora para escolha dos meninos negros para realização das atividades do campo, consideradas menos importantes e desprezadas pela elite.
O 2 e as zonas de confraternização entre vencedores e vencidos Gilberto Freyre:
Durante o documentário, na parte final, um dos entrevistados reconheceu um menino na foto, o seu número de identificação era o 2. Diferente das outras crianças, não foi direto à fazenda e teve um período de educação maior. Além disso, não trabalhou propriamente no campo, mas sim dentro de casa onde era bem tratado, responsável por cuidar e acompanhar o herdeiro dos Rocha Miranda. Esse evento vai de encontro com as zonas de confraternização entre vencedores e vencidos proposta por Gilberto Freyre
Vencedores no sentido militar e técnico sobre as populações indígenas; dominadores absolutos dos negros importados da África para o duro trabalho da bagaceira, os europeus e seus descendentes tiveram entretanto que transigir com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais. A escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e escravos. Sem deixarem de ser relações — as dos brancos com as mulheres de cor — de ‘superiores’ com ‘inferiores’ e, no maior número de casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, adoçaram-se, entretanto, com a necessidade experimentada por muitos colonos de constituírem família dentro destas circunstâncias e sobre esta base. A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que doutro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura fundiária e escravocrata realizou no sentido da aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação.
(Gilberto Freyre. “Casa-Grande & Senzala”)
Dentro desse contexto, comparando a relação entre os meninos percebe-se que o 2 tinha maior influência e participação dentro da família dos Rocha Miranda, um acesso maior à educação e um acolhimento. Por viver no que se assemelhava a Casa Grande sua realidade foi inteiramente distinta das outras 49 crianças. Inclusive, é narrado que 2 tratava mal e considerava-se acima das outras crianças. Apesar de ter vivido nesse período um conforto e qualidade de vida diferente dos outros, ao final do documentário é revelado que ainda era tratado com indiferença pela família Rocha Miranda, não era vista como um deles segundo acreditava. Sendo assim, mesmo dentro dos espaços de maior diálogo o negro é visto como inferior em relação ao branco.
Conclusão:
O documentário Menino 23, infâncias perdidas, com o auxílio dos diferentes teóricos sobre o Brasil nos ajudam a entender a dimensãodos eventos, colocá-los dentro do seu contexto histórico e ampliar o entendimento sobre o ethos do país.
 
Referências bibliográficas:
Menino23 | Infâncias perdidas no Brasil. Menino23.com.br. Disponível em: <https://www.menino23.com.br/>. 
FREYRE, G. Casa-grande e senzala. 51ª edição. São Paulo: Editora Global, 2006.
HOLANDA, Sergio Buarque de. O homem cordial. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 141-151.
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