Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lara Lessa Araújo Medicina Nervos Cranianos (I ao VI) I – Nervo olfatório A função do nervo olfatório é o olfato, considerada como sensibilidade visceral especial. A mucosa olfatória, situada no epitélio olfativo da cavidade nasal, é formada por um conjunto de células nervosas ciliadas especializadas, denominadas receptores olfativos. Seus axônios juntam-se em diversos filetes ou fascículos que penetram na cavidade craniana através de pequenos orifícios do osso etmoide, denominado conjunto lâmina crivosa ou cribriforme, fazendo conexão com o bulbo olfatório, localizado na superfície inferior do lobo frontal. Nessa estrutura ocorre o processamento preliminar da informação olfativa, pois aí existem os prolongamentos centrais das células olfatórias, que constituem o glomérulo olfatório, bem como as grandes células mitrais, cujos axônios emergem do bulbo pelo trato olfatório. Este cursa posteriormente pela superfície basal do lobo frontal. Pouco antes de atingir o nível do quiasma óptico, a maioria de suas fibras é deslocada medialmente, formando a estria olfatória medial. As fibras componentes da estria olfatória lateral cruzam a profundidade do sulco ou fissura lateral e vão atingir o lobo temporal, terminando no córtex olfatório primário do uncus e do giro para-hipocampal. As fibras da estria olfatória medial incorporam- se à comissura anterior e terminam no lado oposto. II – Nervo óptico O nervo óptico é o conjunto dos axônios provenientes das células ganglionares da retina, estrutura localizada no olho, órgão receptor do sistema visual. O olho é composto por 1 lente autofocalizadora, o cristalino, 1 diafragma, a íris, e 1 estrutura sensível à luz, a retina, formada por, pelo menos, dez camadas de células. A estimulação pela luz ativa produz sinais eletroquímicos na camada Lara Lessa Araújo Medicina pigmentar, formada por células chamadas cones e bastonetes. Esses sinais são processados e integrados pelas células das outras camadas retinianas até os axônios das células ganglionares da retina. A partir daí, esses sinais elétricos, sob a forma de potenciais de ação, são transmitidos, por meio dos nervos e dos tratos ópticos, para os núcleos geniculados laterais, calículos superiores e córtex visual primário (córtex calcarino, córtex estriado ou área 17 de Brodmann). Para o campo visual de cada olho, existem dois hemi-campos: um temporal e outro nasal. Os raios luminosos convergem para a hemirretina contralateral do respectivo olho. As fibras provenientes da retina nasal cruzam para o outro lado no quiasma óptico, enquanto as fibras provenientes da retina temporal seguem pelo mesmo lado, sem cruzamentos. O conjunto das fibras que se dirigem ao corpo geniculado lateral, após o quiasma óptico, constitui o trato óptico. Os axônios dos neurônios do corpo geniculado lateral constituem as radiações ópticas, que se dirigem para área cortical visual. III – Nervo oculomotor O núcleo do nervo oculomotor localiza-se no nível do calículo superior e aparece nos cortes transversais com a forma de trigêmeo, estando intimamente relacionado com o fascículo longitudinal medial. É um núcleo bastante complexo, constituído de várias partes, razão pela qual alguns autores preferem o termo complexo nuclear oculomotor. O complexo nuclear oculomotor pode ser funcionalmente dividido em uma parte somática e outra visceral. A parte somática contém os neurônios motores responsáveis pela inervação dos músculos reto superior, reto inferior, reto medial, oblíquo inferior e levantador da pálpebra. A parte somática do complexo oculomotor é constituída por vários subnúcleos, cada um dos quais destina fibras motoras para inervação de um dos músculos anteriormente relacionados. Essas fibras, após um trajeto curvo em direção ventral, no qual muitas atravessam o núcleo rubro, emergem na fossa interpeduncular, constituindo o nervo oculomotor. A parte visceral do complexo oculomotor é chamada de núcleo de Edinger-Westphal. Os núcleos oculomotores acessórios consistem em 3 núcleos intimamente associados com o complexo nuclear oculomotor. São eles o núcleo intersticial de Cajal, o núcleo de Darkschewitsch e o núcleo da comissura posterior. O núcleo de Edinger-Westphal pertence ao complexo oculomotor situado no mesencéfalo, no nível do calículo superior. Os núcleos viscerais do complexo oculomotor consistem em 2 grupos nucleares distintos, que estão em continuidade rostralmente. O núcleo de Edinger-Westphal consiste em 2 delgadas colunas de pequenas células dorsais aos 3/5 rostrais das células da coluna somática. Em seções transversais no terço médio do complexo, cada uma dessas colunas pareadas divide-se em 2 colunas celulares menores, que vão diminuindo e gradativamente desaparecem. Lara Lessa Araújo Medicina Rostralmente, a coluna de células do núcleo de Edinger-Westphal junta-se, na linha média, dorsalmente, tornando-se contínua com as células viscerais do núcleo mediano anterior. Células desse núcleo situam-se sobre a rafe entre porções das colunas celulares somáticas laterais rostrais. Tanto o núcleo de Edinger-Westphal como o núcleo mediano anterior dão origem a fibras pré-ganglionares parassimpáticas não cruzadas, que emergem com as fibras das raízes somáticas, projetam-se para o gânglio ciliar e fazem sinapse por meio do núcleo oculomotor. Essas fibras pertencem ao parassimpático craniano, estão relacionadas com a inervação do músculo ciliar e músculo esfíncter da pupila e são muito importantes para o controle reflexo do diâmetro da pupila em resposta a diferentes intensidades de luz e controle do cristalino. Embora os núcleos viscerais tenham sido considerados supridores de fibras pré-ganglionares parassimpáticas para o gânglio ciliar, estudos mais recentes demonstram que esses neurônios viscerais também se projetam para a porção inferior do tronco do encéfalo e para a medula espinal. O nervo oculomotor é responsável pela inervação intrínseca, por meio de fibras motoras viscerais, e extrínseca, por meio de fibras motoras somíticas, do globo ocular, exceto dos músculos oblíquo superior e reto lateral. O núcleo oculomotor, situado na base da substância cinzenta periaqueductal do mesencéfalo, origina as fibras para os músculos extraoculares. As fibras pré- ganglionares parassimpáticas emergem do núcleo de Edinger-Westphal, cursando em conjunto com as do núcleo oculomotor pelo tegmento mesencefálico até a fossa interpeduncular, a origem aparente do nervo oculomotor. No seu trajeto em direção à órbita, o nervo oculomotor passa entre as artérias cerebelar superior e cerebral posterior, junto com o nervo troclear, e penetra no seio cavernoso, seguindo pela sua parede lateral. A saída do crânio para a cavidade orbitária se faz pela fissura orbital superior. Na órbita, o nervo oculomotor inerva os músculos (estriados) retos medial, superior e inferior, oblíquo inferior e elevador da pálpebra. Os músculos (lisos) esfíncter pupilar da íris, que faz a miose, ou fechamento da pupila, e ciliar, que controla o cristalino, são inervados pela parte parassimpática do nervo oculomotor. A abertura da pupila, pelo músculo dilatador da pupila, é controlada pelo sistema simpático. IV – Nervo troclear O núcleo do nervo troclear refere-se a grupos de pequenas células compactadas na borda ventral da substância cinzenta periaquedutal, nas proximidades do calículo inferior. O núcleo (eferente somático geral) é um pequeno apêndice do complexo oculomotor que se entremeia à margem dorsal do fascículo Lara Lessa Araújo Medicina longitudinal medial. Fibras radiculares do núcleo curvam-se dorsolateral e caudalmente próximo à margem da substância cinzenta central, decussam completamente no véu medular superior e emergem da superfície dorsal do tronco do encéfalo caudalmente ao calículo inferior. Perifericamente,a raiz nervosa curva-se ao redor da superfície lateral do mesencéfalo, passa entre a artéria cerebelar superior e a artéria cerebral posterior, assim como as fibras do nervo oculomotor, e entram no seio cavernoso. O nervo troclear, que inerva o músculo oblíquo superior, apresenta 2 particularidades: suas fibras são as únicas que saem da face dorsal do encéfalo e trata-se do único nervo cujas fibras decussam antes de emergirem do sistema nervoso central. As fibras motoras somíticas do nervo troclear são responsáveis pela inervação do músculo oblíquo superior, que desloca e gira o globo ocular medialmente para baixo. Os axônios originados do núcleo troclear, situados no mesencéfalo, emergem da face dorsal do tronco do encéfalo, ao nível do véu medular superior, abaixo dos colículos inferiores. Dessa forma, esse é o único nervo craniano com origem aparente posterior ou dorsal. O nervo troclear apresenta um trajeto lateral ao mesencéfalo, sob a borda livre do tentório, dirigindo-se anteriormente para passar pela parede lateral do seio cavernoso e pela fissura orbital superior até a órbita. V-Nervo trigêmeo O núcleo mastigatório é o núcleo motor do trigêmeo. Situado na ponte, ele forma uma coluna oval de típicos neurônios motores grandes medialmente à raiz motora e ao núcleo sensorial principal. Fibras eferentes branquiais desse núcleo emergem do tronco do encéfalo medialmente à entrada da raiz sensorial, passam sob o gânglio trigeminal e tornam-se incorporadas à divisão mandibular do nervo trigêmeo. Essas fibras inervam os músculos derivados do primeiro arco branquial, ou seja, os músculos mastigadores (temporal, masseter e pterigoideos lateral e medial), o músculo milo-hióideo e o ventre anterior do músculo digástrico, além do músculo tensor do tímpano do ouvido médio. O núcleo motor recebe colaterais vindas da raiz mesencefálica, a qual forma um arco reflexo de 2 neurônios. Fibras trigeminais secundárias, tanto cruzadas como não cruzadas, estabelecem conexões reflexas entre os músculos da mastigação e regiões cutâneas, assim como com as membranas mucosas orais e da língua. Algumas fibras corticobulbares terminam direta e bilateralmente sobre os neurônios motores trigeminais, enquanto outras passam para os neurônios da formação reticular, os quais vão projetar fibras para o núcleo motor. As 3 divisões do nervo trigêmeo projetam-se para o tronco do encéfalo. A função do tato epicrítico ou delicado é retransmitida pelo núcleo sensorial principal, a dor Lara Lessa Araújo Medicina e a temperatura são retransmitidas pelo núcleo do trato espinal do trigêmeo e as fibras proprioceptivas formam o núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo. O núcleo sensorial principal situa-se lateralmente à entrada das raízes das fibras trigeminais sensoriais na porção superior da ponte. As fibras radiculares, que levam pressão e impulsos para a sensibilidade tátil, entram no núcleo sensorial principal e são distribuídas de forma similar àquela descrita para o núcleo do trato espinal do trigêmeo. Fibras da divisão oftálmica terminam ventralmente, fibras da divisão maxilar são intermediárias e fibras da divisão mandibular são mais dorsais. Células do núcleo sensorial principal têm grandes campos receptores, mostram alta atividade espontânea e respondem a uma grande variação de estímulos pressóricos com pouca adaptação. O núcleo sensorial principal continua caudal- mente com o núcleo do trato espinal. O núcleo do trato espinal do trigêmeo estende-se desde a ponte, passando pelo bulbo até a parte alta da medula espinal, onde se continua com a substância gelatinosa. É um núcleo bastante longo. Grande parte das fibras que penetram pela raiz sensorial do trigêmeo tem um trajeto descendente longo, antes de terminar em sua porção caudal. Elas agrupam-se em um trato, o trato espinal do trigêmeo, o qual acompanha o núcleo em toda a sua extensão, tornando-se cada vez mais afilado em direção caudal, à medida que as fibras vão terminando. O mesmo ocorre com o núcleo do trato mesencefálico, o qual é acompanhado por fibras ascendentes que se reúnem no trato mesencefálico do trigêmeo. O núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo estende-se ao longo de todo o mesencéfalo e a parte mais cranial da ponte. Recebe impulsos proprioceptivos originados em receptores situados nos músculos da mastigação e, provavelmente, também dos músculos extrínsecos do bulbo ocular. No núcleo mesencefálico chegam fibras originadas em receptores dos dentes e do periodonto, que são importantes para a regulação reflexa da mordedura. Os neurônios do núcleo do trato mesencefálico são muito grandes e são na realidade neurônios sensoriais. Esse núcleo é uma exceção à regra de que os corpos dos neurônios sensoriais se localizam sempre fora do sistema nervoso central. O nervo trigêmeo tem sua origem aparente na face ventrolateral da ponte por meio de duas raízes adjacentes, sendo uma maior, sensorial, e uma menor, motora. Entre 1 e 2 cm da emergência das raízes na ponte, está o gânglio trigeminal (gânglio de Gasser, gânglio semilunar). As fibras que formam o gânglio trigeminal apresentam três divisões primárias: a) nervo oftálmico, que atravessa a fissura orbital superior e penetra no seio cavernoso, inerva parte superior da face; b) nervo maxilar, que passa pelo forame redondo e inerva a região facial média; Lara Lessa Araújo Medicina c) nervo mandibular, que atravessa o forame oval e inerva a porção inferior da face e os músculos da mastigação. Além da face, as fibras sensoriais gerais do nervo trigêmeo são responsáveis também pela sensibilidade da região anterior do couro cabeludo, da córnea, da mucosa das cavidades nasal, bucal e dos seios da face, das arcadas dentárias superior e inferior, dos 2/3 anteriores da língua e da maior parte da dura-máter craniana. Todas as formas de sensibilidade passam pelo gânglio trigeminal, pela raiz sensorial e pelo tronco do encéfalo, mas a seguir apresentam trajetos diferentes. As fibras táteis preferencialmente atingem o núcleo sensorial principal na ponte, decussam e se dirigem ao tálamo. As fibras de dor e temperatura seguem trajeto descendente pelo trato espinal do trigêmeo no bulbo, penetrando no núcleo progressivamente, de tal maneira que as fibras provenientes do ramo oftálmico são as que atingem nível mais inferior. A partir daí, todas as fibras cruzam a linha mediana e voltam a subir junto ao trato espinotalâmico. As fibras da propriocepção seguem ao núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo. Desse núcleo tomam direção ao tálamo do lado oposto. As fibras do nervo trigêmeo dirigem-se ao núcleo ventral posteromedial do tálamo contralateral, e alguns autores chamam esse conjunto de fibras com mesmo destino no tronco do encéfalo de lemnisco trigeminal. As fibras motoras branquiais inervam os músculos derivados do primeiro arco branquial: temporal, masseter, pterigoideos medial e lateral, e ventre anterior do músculo digástrico. VI – Nervo abducente O núcleo do nervo abducente situa-se na ponte no colículo facial. É o único núcleo de nervos cranianos que contém 2 populações de neurônios: (1) típicos neurônios motores que projetam fibras via raiz do nervo para inervar o músculo reto lateral; (2) neurônios internucleares cujos axônios (retidos no tronco do encéfalo) cruzam a linha média, sobem até o fascículo longitudinal medial e terminam sobre as células do complexo oculomotor que inerva o músculo reto medial do lado oposto. O núcleo do nervo abducente recebe fibras aferentes provenientes do núcleo vestibular medial, da formação reticular e do núcleo prepósito. Aferentes do núcleo vestibular medial são predominantemente ipsilaterais, e ambas as populações de neurônios abducentes recebem o mesmo tipo de excitação dissináptica e inibição do labirinto. Aferentes para o núcleo do abducente provenientesda formação reticular pontina paramediana e o núcleo prepósito do hipoglosso não cruzam. O nervo abducente emerge de uma coleção de células motoras no assoalho do IV ventrículo, as quais se encontram dentro de um complexo circuito formado por fibras do nervo facial. Esse nervo motor dá origem a fibras para o músculo reto lateral, que faz a abdução do olho. Ele será citado novamente quando for descrito o núcleo facial. Lara Lessa Araújo Medicina O nervo abducente é responsável pela inervação do músculo reto lateral, que produz a abdução do globo ocular. As fibras do nervo abducente têm origem aparente no sulco bulbopontino, próximo à pirâmide bulbar. A origem real localiza-se no núcleo abducente, situado caudalmente na ponte, no assoalho do quarto ventrículo. O nervo abducente penetra no seio cavernoso e passa junto à porção horizontal da artéria carótida interna, dirigindo-se à órbita pela fissura orbital superior.
Compartilhar