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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA VIDA CURSO DE MEDICINA Disciplina: Alterações Genéticas e Distúrbios do Ciclo Celular Aluna: Yahanna da Costa Anacleto Estrela ACONSELHAMENTO GENÉTICO 1. Qual a definição de aconselhamento genético? O aconselhamento genético consiste em um processo de comunicação com a finalidade de identificar a probabilidade de uma doença genética ocorrer em uma família. Com essa probabilidade, é possível orientar casais que pensam em ter filhos, mas apresentam grande probabilidade de transmitirem alguma patologia ou malformação. 2. Como é feito o aconselhamento genético? O aconselhamento genético é um processo que envolve uma primeira fase, que é de consulta, na qual é feito anamnese, incluindo história familiar, exame físico e solicitação de exames complementares. Depois, vem a fase na qual se fecha o diagnóstico com o resultado dos exames, quando é feita a orientação sobre o diagnóstico e o prognóstico. Há ainda uma fase de cálculo do risco, onde se estuda qual a chance de recorrência da doença, e também a fase da comunicação desse risco para o paciente. Depois, vem a fase de seguimento, com o acompanhamento do paciente em longo prazo, porque muitas das doenças e das síndromes genéticas podem ter riscos relacionados a outras comorbidades, que são outras coisas que podem acontecer com a pessoa ao longo da vida. Um exemplo são as pessoas com síndrome de Down, que têm 10 vezes mais risco de desenvolver leucemia. Dependendo do caso, o acompanhamento pode ser feito em consultas semestrais, anuais ou com algum outro intervalo de tempo. Nessas consultas, são reforçados os pontos do aconselhamento genético propriamente dito e das orientações sobre a doença. 3. Quando deve ser feito o aconselhamento genético? O AG é recomendado em qualquer situação que exista uma doença genética envolvida. Mesmo que a pessoa não tenha interesse em ter filhos, ela pode consultar um médico geneticista para ter mais informações a respeito da doença. Embora, geralmente, o aconselhamento genético seja mais procurado por casais que querem filhos e desejam orientação sobre o risco de ocorrência ou recorrência de alguma condição genética. Alguns casos específicos de recomendação: • Casais consanguíneos; • Histórico familiar de doenças genéticas; • Perda gestacional habitual ou de repetição; • Infertilidade; • Suspeita de câncer hereditário. 4. Qual o profissional, no Brasil, realiza o aconselhamento genético? Atualmente, no Brasil, embora se possa ter auxílio de uma equipe multiprofissional, o único profissional que pode realizar aconselhamento genético é o Médico Geneticista. 5. Quais os benefícios da realização do aconselhamento genético? Um dos principais benefícios do aconselhamento genético é a possibilidade das pessoas receberem informações e explicações confiáveis relacionadas à sua condição genética, e terem liberdade de escolha. Dessa maneira, além de informar o paciente sobre as opções de exames, diagnóstico e tratamentos, o aconselhamento genético também oferece suporte emocional e permite autonomia para decidir o que fazer. Outro ponto importante é lembrar que o diagnóstico precoce de algumas doenças impacta diretamente nas possibilidades de tratamento. Dessa forma, o aconselhamento serve, em muitos casos, como alerta para questões de saúde que podem ser evitadas ou melhoradas. 6. Quais as ferramentas podem ser utilizadas para realizar o aconselhamento genético? Além dos exames complementares, da anamnese e dos exames realizados durante as consultas, pode-se contar com ferramentas computacionais, como sites e programas, que auxiliam na realização do AG. O avanço das tecnologias para o diagnóstico genético vai além das ferramentas de sequenciamento de DNA. Atualmente, estão disponíveis aplicativos, softwares que simulam a fala humana (chatbots), portais digitais, entre outras tecnologias que auxiliam práticas clínicas de forma automatizada. Alguns exemplos de ferramentas são: site da SBGM, no qual é possível encontrar diversas informaçães sobre genética clínica; a ferramenta Intervar, que auxilia na interpretação de variantes utilizando como base o guideline da ACMG/AMP; a ferramenta Varsome, que busca genes e variantes, auxiliando na análise de impacto das variantes genéticas; o NCCN Guidelines, guidelines oferecidos pela NCCN de oncologia clínica, incluindo síndromes de predisposição hereditária ao cantes; entre outras ferramentas. 7. Quais cuidados éticos devem ser tomados na realização do aconselhamento genético? O campo do aconselhamento genético tomou para si a tarefa de compreender os desafios éticos da informação genética num contexto de avanço científico e de defesa dos direitos humanos. Como parte dessa reflexão ética, alguns compromissos foram assumidos como pano de fundo para a prática do aconselhamento genético. São eles: a neutralidade moral do aconselhador; a não-diretividade do aconselhamento; a privacidade e confidencialidade da informação genética. Segundo o princípio da neutralidade moral, os profissionais do aconselhamento genético devem fornecer a informação genética isenta de valores pessoais ou julgamentos que possam alterar ou direcionar sua compreensão. A não-diretividade tem como objetivo definir um marco ético de atuação para o aconselhador genético, cujo compromisso deve ser com a garantia da autonomia das pessoas que recebem a informação genética. O comprometimento com a não-diretividade redefine o lugar do aconselhador nas práticas de saúde: seu papel é de facilitador da informação, cabendo- lhe esclarecer sobre prognóstico, tratamentos e formas de prevenção relacionadas ao diagnóstico. Um aconselhador não deve impor suas preferências, mas, sim, cuidar que as escolhas de seus pacientes sejam informadas e esclarecidas. A cena do aconselhamento genético se estabelece entre ações de proteção e de informação. A garantia de privacidade sobre os resultados dos testes é uma das medidas protetivas. A informação genética diz respeito a aspectos centrais da vida de uma pessoa - desde suas relações de parentesco e filiação até mesmo sua inserção no mundo do trabalho ou adesão a seguros de saúde podem ser afetados pela indevida divulgação de testes genéticos. O principal risco da quebra de privacidade é o da discriminação genética, um neologismo que descreve atos de discriminação, opressão e preconceito sofridos em nome de valores sociais associados à genética. Assim como há valores ligados ao sexo e à raça, a genética também passa a ser objeto de julgamentos valorativos, com expressões de preferências e discriminações. 8. Quais as possíveis implicações éticas do avanço nas técnicas de seleção de embriões, a partir do rastreio genômico de genes “desfavoráveis”? A eugenia é a ciência que se aprofunda nos estudos das condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético da espécie humana. Esse termo técnico foi criado em 1883 por Francis Galton e significa “bem nascido”. Galton acreditava que o ser humano era marcado pelo determinismo biológico, ou seja, os indivíduos já nasciam prontos e seriam brilhantes ou estúpidos, geniais ou medíocres, saudáveis ou doentes, tendo em vista sua constituição física e orgânica. Na época, Galton definiu este termo como sendo o estudo de genes que podem aprimorar ou arruinar as qualidades de um ser humano, seja de forma física ou mental. A eugenia se tornou conhecida por ser um método utilizado para inibir o nascimento de crianças com deformidades físicas ou mentais. Seria, em suma, a possibilidade de seleção da espécie humana de forma assistida, podendo atuar também como uma possível solução para doenças genéticas. Diferentemente das práticas eugênicas tradicionais, que normalmente abrangiam grande quantidadede pessoas, as práticas neoeugênicas dizem respeito à esfera individual. São permeadas, muitas vezes, pela relação médico-paciente, uma vez que são quase sempre pertinentes à saúde de um indivíduo ou casal interessado, ao concepto (quando se trata de técnicas de reprodução assistida), seus familiares e às gerações futuras, mediante a possibilidade de não preservar o genoma humano, que é patrimônio da espécie. No terreno da reprodução, por exemplo, as práticas neoeugênicas têm lugar a partir dos diagnósticos pré-conceptivos, realizados no casal com o intuito de garantir filhos saudáveis. Exames realizados no feto in útero, objetivando constatar sua regularidade morfológica, como também o diagnóstico pré- implantatório que se efetua no zigoto de transferi-lo para o útero da mulher receptora, buscam afastar a existência de patologias genéticas. Esses procedimentos são passíveis de gerar uma ação eugênica negativa, quer por meio da proibição de gestações em casais portadores de genes carreadores de patologias hereditárias, da interrupção da gestação de fetos portadores de patologias graves, quer pelo descarte de embriões com carga genética indesejável Portanto, existe um tênue limite entre eugenia, ciência e ética. Pode-se citar como exemplos para explicar essa afirmação a terapia gênica somática, a qual trata o DNA a partir da substituição do gene deficiente e em outro aspecto a terapia gênica germinal, que por introdução de um novo gene nas células germinais (óvulos e espermatozóides), cria novo caráter hereditário, provocando a modificação do indivíduo e de sua descendência. Esta última tem como função a erradicação de qualquer má-formação congênita, melhorando assim, em tese, a espécie humana. O problema ético que se identifica nesta última situação é que, baseado nesta lógica de melhoria da espécie humana, poder-se-ia chegar a uma legitimação de esterilização de doentes mentais, criminosos, alcoólatras, pobres, entre outros, descartando-se deste modo, a possibilidade de procriação de indivíduos considerados inaptos aos padrões sociais de normalidade, ou seja, impedir a perpetuação de indivíduos que não se adequassem aos padrões considerados por normais socialmente, os quais devem ser entendidos como aqueles que se referem a seres capazes de corresponder a um ideal de atuação autônoma e de produtividade, adequando-se de forma aceitável no meio social em que vivem e o momento histórico em que se encontram. REFERÊNCIAS “Aconselhamento Genético”. Genoma USP. Disponível em: <https://genoma.ib.usp.br/aconselhamento-genetico/36>. Acessado em 23 de agosto de 2022. “Aconselhamento Genético”. GeneOne. Disponível em: <https://geneone.com.br/blog/aconselhamento-genetico/>. 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