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Sistema Digestório INTRODUÇÃO HISTOLOGIA Existem quatro camadas nos órgãos do sistema digestório: as túnicas mucosa, submucosa, muscular e adventícia (ou serosa). Adventícia: tecido conjuntivo (região cervical do esôfago, sendo que quando o esôfago adentra na cavidade torácica se torna serosa). Serosa: possui tecido mesotelial. A mucosa é composta por glândulas na maioria das porções do trato digestório. Abaixo da mucosa, mas fazendo parte dela há a camada muscular da mucosa. Abaixo da mucosa há a submucosa, sendo um tecido conjuntivo. Há glândula nesse local apenas no esôfago (glândula esofágica) e duodeno (glândulas de Brunner). Na submucosa estão os plexos de Meissner (submucoso). Na muscular está o plexo de Auerbach (mioentérico). Apenas o intestino delgado tem vilosidades. No íleo estão as placas de Peyer. CAVIDADE ORAL A mucosa oral é composta de um epitélio escamoso estratificado, variavelmente queratinizado. Pode ser pigmentada por melanose. ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento e o posicionamento anormal dos dentes podem afetar a função dentária. A maloclusão refere-se à falha dos incisivos superiores e inferiores de se oporem corretamente. Essa característica é “normal” para alguns cães, geralmente braquicefálicos. Em um extremo, as maloclusões podem levar à dificuldade na preensão e mastigação de alimentos. As maloclusões são denominadas de acordo com a posição da mandíbula. A protrusão da mandíbula inferior é denominada prognatismo (mandíbula longa), enquanto a mandíbula inferior curta com resultante protrusão da maxila é denominada braquignatismo (maxila longa) e, às vezes, hipognatia. No bragnatismo pode ocorrer lesão no palato em decorrência da projeção dos incisivos e caninos inferiores sobre o palato. A agnatia (ausência da mandíbula ou maxila ou muito rudimentar) é muito grave, sendo a ausência da maxila incompatível com a vida, pois há ausência das narinas. Anodontia é a ausência de dentes. Hipoplasia do esmalte A hipoplasia segmentar do esmalte ocorre antes da erupção dos dentes permanentes de cães, como resultado de hipertermia e infecção por vírus da cinomose canina. A infecção viral dos ameloblastos deve ocorrer durante a formação do esmalte, antes dos 6 meses de idade. Depois da erradicação do vírus, a estrutura do esmalte volta ao normal. Obs.: antibióticos como tetraciclina, podem causar descoloração permanente amarelada. GLÂNDULA SALIVAR Em todas as espécies, as glândulas salivares maiores são a parótida, a mandibular e a sublingual. Os carnívoros também apresentam a glândula zigomática. As glândulas salivares menores incluem as glândulas bucal, labial, lingual, palatina e outras. O aptialismo é a redução da produção de saliva, enquanto o ptialismo resulta do excesso de produção de saliva. Corpos estranhos que se fixam nos ductos excretores das glândulas salivares podem causar sialodenite devido a obstrução. Cálculos salivares (sialólitos) formados pela deposição de minerais em lâminas concêntricas em torno de um núcleo (pequeno corpo estranho), são frequentes em cavalos. As dilatações ou ectasias devem-se à estagnação do fluxo salivar e podem ser causadas por estenose congênita, obstrução dos ductos por corpos estranhos, sialólitos ou estreitamento do lúmen devido a inflamações. Os ductos dilatados podem resultar em mucocele ou nas rânulas. Mucocele ou Sialocele É um pseudocisto (não revestido por epitélio) adjacente aos ductos preenchidos com saliva. A macro do conteúdo tem coloração amarelada ou amarronzada e é bastante viscoso, pois é a saliva. Ocorre a ruptura da glândula salivar e/ou do seu ducto com consequente extravasamento e encapsulação da saliva por tecido conjuntivo. É causado por obstrução por sialólitos (cálculos na saliva, que podem obstruir o ducto, causando a distensão e ruptura da glândula), corpo estranho (ex. animal comendo osso e uma partícula desse osso pode obstruir a saída do ducto para a cavidade oral, causando obstrução e ruptura), trauma (a inflamação próxima ao ducto resulta em edema, obstruindo-o e rompendo-o) ou idiopática. Mucocele em cão. Dilatação sacular na porção ventral da mandíbula. Detalhe: conteúdo amarelado viscoso fluindo do interior da dilatação sacular. Há o extravasamento do conteúdo salivar e seu encapsulamento (pode ser confundido com aumento de linfonodo). Rânula É a distensão cística preenchida por saliva do ducto da glândula sublingual ou mandibular. Pode ser confundido por aumento de linfonodo. Seria um aumento de volume abaixo da língua (na glândula sublingual). Rânula, cão. Isso é a distensão cística do ducto da glândula salivar mandibular esquerda, ao longo da superfície ventrolateral da língua. A distensão cística é revestida por epitélio, sendo a causa desconhecida ou por sialólitos. Ao abrir o aumento de volume: conteúdo viscoso, que seria a saliva. O aumento de volume pode comprimir o esôfago e traqueia, causando dificuldade na deglutição e na respiração. Basicamente rânula é específica nas glândulas sublingual ou mandibular e mucocele ou sialocele seria nas outras glândulas. TONSILAS São estruturas linfoides faríngeas que podem ser lesadas por infecções primárias (ou diretas) ou hematogênicas (tonsilites), e neoplasias primárias de componentes linfoides (linfoma) ou epiteliais (carcinoma de células escamosas). INFLAMAÇÃO Estomatite (cavidade oral), faringite (faringe), glossite (língua), gengivite (gengiva), tonsilite (tonsila), angina (palato mole) e sialodenite (glândula salivar). Insultos na cavidade oral levam à perda da integridade da mucosa (erosões, ulcerações e necrose). Pode ser causada por agentes infecciosos, químicos ou tóxicos, trauma, doença autoimune ou doença sistêmica. A hipersalivação (ptialismo) é aparente. ESTOMATITES VESICULARES Referem-se às vesículas e bolhas orais. São oriundas da citólise epitelial induzida por vírus acompanhada por acúmulo de fluidos e subsequente ruptura da vesícula formada. Produzem grande perda econômica devido ao baixo ganho de peso e algumas vezes por abortamentos. O animal apresenta dolorosas lesões orais, cutâneas e podais (casco). Pode ocorrer invasão bacteriana secundária, resultando em endotoxemia. As doenças virais responsáveis são: ✓ Febre aftosa (família Picornavírus, gênero Aphtovírus), acometendo animais de casco fendido (ruminantes e suínos). ✓ Estomatite vesicular (família Rabdovírus, gênero Vesiculovírus), acometendo ruminantes, suínos e equinos (única doença vesicular à qual os cavalos são susceptíveis). Muito semelhante a febre aftosa. ✓ Exantema vesicular suína (família Calicivírus, gênero Calicivírus), acomete suínos. Indistinguível clínica e patologicamente da febre aftosa; ✓ Doença vesicular suína (família Picornavírus, gênero Enterovírus), acomete suínos. Também indistinguível de outras doenças vesiculares. Macro: vesículas preenchidas por fluido na cavidade oral, lábios, palato rostral e língua. Os vírus são citolíticos, e a liberação dos vírus de células infectadas resulta na infecção de vizinhas. As bolhas são resultado da coalescência e resultam em erosões e úlceras. Micro: edema intracelular induzido por vírus progride para tumefação das células da camada espinhosa, lise celular e edema intercelular, e em vesículas. O epitélio que cobre o fluido vesicular rico em vírus é ralo e uma leve fricção pode romper as vesículas e bolhas, criando uma úlcera. A cicatrização da úlcera progride de um estágio agudo rico em fibrina e/ou neutrófilos (casca) para um estágio crônico de tecido de granulação. Sinais clínico: vesículas, bolhas e desprendimento de pedaços de epitélio oral com a formação de úlceras, ptialismo, claudicação, febre e anorexia.Ocorrem também formações vesiculares na mucosa nasal (Exantema vesicular suíno) e no epitélio esofágico e ruminal (febre aftosa). Como também nas glândulas mamárias e banda coronária do asco. As estomatites vesiculares também podem ocorrer em pequenos animais por calicivirose felina e doenças autoimunes (pênfigo vulgar e penfigoide bolhoso). Febre aftosa A febre aftosa tem rápida disseminação, alta morbidade, baixa mortalidade e baixa letalidade, sendo de notificação obrigatória. É transmissível pelas secreções das lesões vesiculares que rompem por meio de aerossóis, por humanos de forma mecânica e por fômites também de forma mecânica. Ocorre em cavidade oral, esôfago, rúmen, casco, glândulas mamárias, sendo que as secreções provenientes do rompimento são a fonte de transmissão. O leite também é via de eliminação. É resistente, pois permanece quiescente na medula óssea. Animais são assintomáticos, mas há dor e pode ocorrer infecções bacterianas secundárias e miíases secundárias. Animal perde peso, produz menos leite, sendo ruim economicamente de forma direta para a produção animal e indireta por interferir nas relações comerciais entre países importadores de produtos animais e exportadores. Causa linfopenia e abaixa a resistência do animal. No que se refere a exportação, ela é muito afetada em propriedades com rebanhos positivos para febre aftosa, sendo uma preocupação para países livres da doença, principalmente por poder ocorrer infecção assintomática. Existem relatos em humanos (zoonose), onde causou aftas na boca e garganta. Patogenia: ✓ 24-72 horas: há inalação do vírus e infecção de células na cavidade nasal, faringe e esôfago, onde ocorre a replicação do vírus e disseminação às células adjacentes. Há a passagem do vírus aos vasos sanguíneos e linfáticos (viremia), infecção de nódulos linfáticos e outras glândulas e infecção das células da cavidade oral, patas, úbere e rúmen; ✓ 72-96 horas: inicia a febre e o aparecimento de vesícula na cavidade oral, patas, úbere e rúmen. Salivação excessiva, descarga nasal e claudicação; ✓ No quinto dia há ruptura de vesícula e intensificação dos sintomas e final da febre. Depois há final da viremia e começo da produção de anticorpos; ✓ No décimo dia começa a diminuição do título de vírus em vários tecidos e líquidos e aos 15 dias há cura das lesões e o animal recomeça a comer; ✓ Desde os 15 dias começa o desaparecimento gradual do vírus nos tecidos e líquidos; aumenta a produção de anticorpos; e há cura completa das lesões e persistência do vírus na faringe. Sinais clínicos: anorexia (diminui a ingestão de alimento e água), febre, emagrecimento, claudicação (decorrente das lesões nos cascos) e sialorreia. Macro: vesículas íntegras ou rompidas, formando erosões e úlceras na mucosa oral, língua, mucosa nasal, língua, úbere, rúmen, espaço interdigital e rodete coronário (porção inicial antes de entrar no casco). Micro: degeneração e necrose das células do estrato espinhoso da epiderme, sendo preenchido com edema e fibrina, o que forma a vesícula, a qual pode ser rompida. O vírus faz degeneração hidrópica do epitélio. Obs.: bovinos jovens morrem devido à infecção dos cardiomiócitos, que resulta em miocardite linfocítica. ESTOMATITES EROSIVAS E ULCERATIVAS As erosões ocorrem pela perda de parte da espessura do epitélio superficial, enquanto as úlceras são perdas de toda a espessura epitelial com exposição da membrana basal. Ocorrem pelo vírus da diarreia viral bovina, da peste bovina, da febre catarral maligna, do calicivírus felino e da doença da língua azul; em equídeos por AINEs; por uremia; por corpos estranhos. Também pela febre aftosa, pois abaixo da vesícula fica uma superfície ulcerada. As erosões reparam-se completamente, porém, as úlceras não se regeneram, apenas cicatrizam. ESTOMATITES POR PARAPOX-VÍRUS A estomatite papular bovina e ectima contagioso são zoonoses. A estomatite papular bovina é reconhecida por pápulas nas narinas, focinho, gengiva, cavidade oral, palato e língua. Lesões também podem ocorrer no esôfago, rúmen e omaso. Em humanos causa pápulas nas mãos e braços (“nódulos do ordenhador”). O ectima contagioso (“ferida da boca” ou “boqueira”) afeta ovelhas e cabras, se caracterizando por máculas, pápulas, vesículas, pústulas, crostas e cicatrizes em áreas de abrasões de pele, incluindo cantos da boca, boca, úbere, tetas, bandas coronárias, ânus e ocasionalmente esôfago e rúmen. ESTOMATITES NECROSANTES Em bovinos é referida como difteria dos terneiros, sendo o estágio final de todas as outras formas de estomatite quando elas são complicadas pela infecção por Fusobacterium necrophorum, bactéria anaeróbia Gram- negativa. Caracterizada por foco arredondado de cor amarelo-acinzentado (fibrina) circundado por halo hiperêmico, sendo então um exsudato fibrinonecrótico. Também corre após lesões induzidas em bezerros alimentos com volumoso de má qualidade. ESTOMATITES EOSINOFÍLICAS Em gatos é denominada de granulomas eosinofílicos orais, sendo causada provavelmente por mecanismo imunomediado (hipersensibilidade). Em gatos afeta qualquer local da cavidade oral. Em cães, são massas elevadas, ulceradas, necróticas e com odor ruim localizadas no epitélio ventral e lateral da língua e no palato. A lesão característica é a colagenólise. As lesões pertencentes ao complexo granuloma eosinofílico dos gatos incluem úlcera eosinofílica, granuloma linear (colagenolítico) e placa eosinofílica. As duas últimas lesões são estritamente cutâneas. ESTOMATITE LINFOPLASMOCÍTICA É uma condição idiopática do gato, caracterizada por gengivas vermelhas, inflamadas, hálito fétido e inapetência. A mucosa oral pode estar hiperplásica e ulcerada. DOENÇA PERIODONTAL Há uma placa dentária (massa dentária densa, firmemente aderida à superfície do dente e resistente à remoção pelo fluxo salivar) que frequentemente se torna mineralizada (formando o tártaro ou cálculo dentário). O material mineralizado contribui para a atrofia e inflamação da mucosa gengival e do estroma. A placa dentária forma-se pela aderência de bactérias à película do esmalte, sendo geralmente Gram-positivas (Staphylococcus spp., Actinomyces spp.). Bactérias podem danificar o substrato do esmalte (cavidades) e também destruir o tecido gengival subjacente e o ligamento periodontal (doença periodontal). Obs.: cárie dentária é uma descalcificação destrutiva dos tecidos duros do dente, acompanhada de degradação enzimática da matriz orgânica. ODONTODISTROFIAS As odontodistrofias afetam o desenvolvimento (hipoplasia) ou a mineralização (hipomineralização) dos tecidos mineralizados do dente e são consequências de uma interferência na amelogênese, odontogênese ou cementogênese. Na odontodistrofia de causas tóxicas, tem-se importância a fluorose dentária de bovinos. Ela ocorre pelo uso rotineiro e indiscriminado de fosfatos não elaborados (fosfatos de rocha) como fonte de fósforo suplementar. O flúor apresenta efeito cumulativo e passagem transplacentária, de modo que a fluorose (intoxicação crônica) só se manifesta após duas, três ou mais gerações. É tóxico para as células ósseas e dentárias ativas e, por sua ação sobre os ameloblastos e odontoblastos, provoca hipoplasia do esmalte e da dentina, respectivamente. As odontodistrofias de causas infecciosas são representadas pela infecção de filhotes de cães com o vírus da cinomose ou de bezerros com o vírus da BVD (diarreia viral bovina). Esses vírus podem produzir lesões, principalmente em ameloblastos, resultando em malformações no esmalte. As odontodistrofias metabólicas são representadas pelo hiperparatireoidismo primário ou secundário renal. HIPERPLASIAS E NEOPLASIAS No cão,70% dos tumores do sistema digestório se localizam na cavidade oral e na orofaringe. Os carcinomas de células escamosas da cavidade oral, correspondem a 60% das neoplasias de gatos velhos. Hiperplasia gengival É o crescimento excessivo da submucosa fibrosa da gengiva, sendo mais comum em cães braquicefalicos. Na macro é indistinguível de um épulis (crescimento da gengiva). Carcinoma de células escamosas Os carcinomas de células escamosas ocorrem na cavidade oral, mas podem ocorrer na língua (felídeos) e nas tonsilas (canídeos), sendo um tumor maligno de queratinócitos da camada espinhosa. São bastante agressivos localmente, invadindo tecidos subjacentes. Alguns apresentam células mais diferenciadas e queratina em formações concêntricas (pérolas córneas). Melanoma Cerca de 90% dos melanomas da cavidade oral de cães são malignos. Existe certa predileção por determinadas raças. A maioria apresenta pigmento intracelular abundante e visivelmente negro (melanoma melanótico), mas alguns não apresentam (melanomas amelanóticos). Papilomatose oral É uma condição transmissível induzida por papilomavírus (bovino e canino), geralmente em animais jovens. As lesões são papiliformes ou em forma de couve-flor. Toxicidade por samambaia em bovinos Em bovinos, ocorre por consumo espontâneo de samambaia (Pteridium arachnoideum). Geralmente a samambaia fica na margem de florestas. É tóxica, sendo que dependendo da dose e do tempo que ele ingere ela causa três síndromes: aplasia de medula (animal sangra facilmente), tumor do trato digestório superior e hematúria enzoótica (lesões proliferativas na bexiga fazem que o animal urine sangue). É palatável quando não há pastagem. Animal fica magro, pois a neoplasia (geralmente na base de língua) dificulta a alimentação. Conforme a neoplasia cresce pode ocorrer obstrução da orofaringe, dificultando a eructação e causando timpanismo. Ela pode estimular carcinoma de células escamosas em base de língua; pode causar lesão em esôfago. Neoplasias dentárias Os odontomas são hamarotmas que originam no órgão do esmalte, comumente em filhotes de cães e potros. Os ameloblastomas são neoplasias epiteliais que se originam no órgão do esmalte. O ameloblastoma acantomatoso é um tumor originário do epitélio odontogênico que ocorre apenas em cães. Outras Plasmocitomas e fibrossarcomas também podem ocorrer na cavidade oral. O fibrossarcoma tem a gengiva como o local mais acometido, sendo mais frequente em gatos. O plasmocitoma tem crescimento lento. Macro: massas lobuladas e avermelhadas, localizadas nos lábios ou gengiva, como também na língua. LÍNGUA A língua é um órgão muscular revestido por epitélio estratificado. ANOMALIAS DE DESENVOLVIMENTO Temos fissuras, epiteliogênese imperfeita, macroglossia e microglossia, língua bífida e crescimento de pelos na língua (coristoma). ACTINOBACILOSE O Actinobacillus lignieresii (bacilo Gram-negativo) é um habitante normal da cavidade oral, sendo um invasor oportunista de tecido lingual danificado, principalmente em bovídeos e ocasionalmente em equídeos e pequenos ruminantes. Ele causa granulomas eosinofílicos, sendo que a inflamação e a fibrose causam maior firmeza da língua e macroglossia, portanto, causam a “língua de pau”. Obs.: não confundir com actinomicose (Actinomyces bovis), o qual causa osteomielite na mandíbula do bovino (aumento de volume, dor e inapetência). CANDIDÍASE ORAL É a infecção da membrana mucosa intacta da língua e do esôfago por Candida albicans, ocorrendo em ungulados e carnívoros. A candidíase indica uma condição debilitante subjacente. Ela ocorre como resultado de antibioticoterapia que eliminou a microbiota normal, concentrações séricas elevadas de glicose (diabetes melito) ou por dieta rica em açúcares. Imunodeficiência também contribui. Todas essas situações fornecem condição tecidual favorável para a proliferação da levedura. Macro: pseudomembrana de coloração cinza-esverdeada que é facilmente removida da superfície mucosa intacta subjacente. NEOPLASIAS As neoplasias da língua são raras, mas quando ocorrem são geralmente de origem epitelial. Carcinomas de células escamosas são os mais comuns, mas papilomas, rabdomiomas, rabdomiossarcomas, fibrossarcomas, melanomas e tumores de células granulares foram relatados em animais domésticos. PARASITOS Parasitas da língua são incomuns, com exceção daqueles que residem nos músculos, como o Sarcocystis spp. ESÔFAGO O esôfago é revestido por epitélio estratificado escamoso não queratinizado nos carnívoros e queratinizado nos suínos, equinos e ruminantes. A camada muscular é completamente estriada em ruminantes e cães. Em equinos, o terço distal do esôfago apresenta músculo liso. Os suínos são semelhantes aos equinos, com exceção de que o terço médio do esôfago apresenta uma mistura de músculo estriado e liso. Nos gatos, os dois terços distais do esôfago são compostos por musculatura lisa. As glândulas mucosas mistas estão na camada submucosa. O esôfago é a única porção do TGI que não apresenta serosa, com exceção da porção abdominal. Isso significa que não há serosa para liberar plasma e fibrina para selar um ferimento. No lugar da serosa está a adventícia. ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO As desordens de motilidade do esôfago são denominadas acalasia, a qual resulta em dificuldade de deglutição e regurgitação. A duplicação congênita do esôfago é uma condição que normalmente não causa sinais clínicos, resultando em uma pequena distensão de um dos órgãos, que tenha fundo cego. MEGAESÔFAGO É uma dilatação do esôfago devido a peristaltismo insuficiente, ausente ou descoordenado no esôfago cervical e médio. As causas incluem desordens de inervação ou denervação, obstruções físicas parciais e estenose ou persistência do arco aórtico direito. O megaesôfago congênito ocorre pela persistência do arco aórtico direito, sendo o único no qual a obstrução e consequente dilatação ocorre cranialmente ao coração. O megaesôfago adquirido leva a dilatação na porção cranial ao estômago. As causas são idiopáticas ou secundárias à polimiosite, miastenia grave, hipotireoidismo, miopatia congênita, envenenamento por chumbo e tálio, neuropatias periféricas, etc. Sinais clínicos: regurgitação após ingestão de alimentos sólidos. Há dificuldades para que o bolo alimentar seja propulsionado para o estômago, resultando em acúmulo de ingesta no lúmen esofágico, propiciando esofagites, regurgitação de alimento não digerido, pneumonias aspirativas e perfuração esofágica. HÉRNIA DO HIATO A protrusão do esôfago abdominal e da cárdia do estômago através do diafragma na direção da cavidade torácica nesse local é denominada hérnia hiatal. ESOFAGITE As esofagites são quase sempre erosivas e ulcerativas. Geralmente acompanha infecções pelo vírus da BVD, FCM, peste bovina, estomatite papular, rinotraqueíte infecciosa, herpes-vírus e calicivírus. Cães: geralmente ocorre por corpos estranhos que ficam presos (geralmente em filhotes que são hiperativos e precisam mastigar na hora do nascimento dos dentes e em raças mais hiperativas); intubação incorreta (iatrogênico). A esofagite eosinofílica acomete cães, causando regurgitação, disfagia e tosse, acompanhadas por mucosa difusamente afetada, friável, hiperêmica e ulcerada. Cavalos: frutas (como manga, que causa obstrução); ração (ao comer muito rapidamente, a ração pode ficar presa e seca no esôfago); cápsulas medicamentosas (podem obstruir); Bovinos: frutas ou legumes (podem obstruir). Há incapacidade de deglutir, movimento cabeça e pescoço (animal tenta distender o pescoço), distensão do esôfago. Pode obstruir a traqueia, causando dificuldade respiratória e até asfixia.As vezes pode ocorrer lesão hemorrágicas no esôfago e estômago, causando fezes escuras (melena), pois o sangue é digerido no intestino. A asfixia se refere à obstrução esofágica subsequente à estenose ou obstrução. É resultado da ingestão de corpos estranhos grandes como batatas, maçãs, ossos, espigas de milho ou medicamentos, como cápsulas ou tabletes grandes preenchidos por gelatina (bolo seco). Se esses corpos forem alojados contra o epitélio por mais de dois dias, ocorre necrose, a qual forma estenose na cicatrização. Estas estenoses podem então causar regurgitação reflexa após a ingestão de alimentos. Lesões neoplásicas ou inflamatórias do esôfago ou tecido periesofágico (estenose compressiva) também causam obstrução. Erosões e úlceras São relativamente comuns, sendo uma das causas o refluxo de ácido estomacal, o qual causa queimadura química do esôfago distal (esofagite por refluxo ácido). Outras causas de úlceras incluem corpos estranhos (como ossos em cães) e doenças infecciosas (como diarreia viral bovina). Parasitos esofágicos O Gongylonema spp. afeta ruminantes, suínos e equinos sendo um nematoide delgado, vermelho e tortuoso que reside na mucosa esofágica. Os HI são baratas e besouros coprófagos. O Gasterophillus spp. ocorrem nos equídeos, sendo que as larvas dessa mosca penetram no esôfago distal e também no estômago, se fixando na mucosa. Hypoderma lineatum é a larva da mosca do berne dos ruminantes. Eles eventualmente migram para a adventícia do esôfago e depois para o tecido subcutâneo das costas. O Spirocerca lupi de canídeos é provavelmente o mais patogênico dos parasitas esofágicos, causando esofagite granulomatosa. Esses nematoides alcançam a submucosa esofágica após migrar do estômago. Eles penetram através da mucosa gástrica para chegar à adventícia de artérias e então migram pela adventícia para a Aorta. Nessas migrações causam disfagia, aneurismas aórticos, hemotórax e raramente fibrossarcomas ou osteossarcomas esofágicos. NEOPLASIAS Os tumores epiteliais incluem papilomas e carcinomas de células escamosas. Os tumores mesenquimais podem ser de musculatura lisa, fibrossarcomas e linfoma. Papilomas: papilomas da cavidade oral podem se distender no esôfago (geralmente quando há no esôfago há na cavidade oral). Papilomavírus induz essa proliferação neoplásica na epiderme. Geralmente bovinos. Carcinomas de células escamosas (samambaia): bovinos, onde a samambaia induz carcinoma na base da língua e esôfago. Osteossarcoma e fibrossarcoma (Spirocerca lupi): as lesões crônicas por esse parasito de esôfago pode induzir tumores. Leiomioma (tumor benigno de músculo liso): geralmente é pequeno, mas o leiomiossarcoma (maligno) pode ser maior. Linfoma: proliferações linfoides geralmente associada a outros aumentos linfoides. Samambaia O consumo crônico de Pteridium arachnoideum por bovinos, às vezes em associação com vírus papiloma, já foi associado a carcinomas de células escamosas em bovídeos. Os sinais clínicos incluem disfagia, regurgitação, perda de peso e dilatação do esôfago proximal à massa neoplásica. Além disso, ocorre hematúria enzoótica e hemagioma da bexiga. RÚMEN O rúmen é uma grande câmara de fermentação, onde microrganismos quebram os alimentos, através de ações mecânicas e químicas, em ácidos graxos de cadeia curta. TIMPANISMO É a distensão do rúmen e retículo por acúmulo excessivo de gás produzido durante a fermentação. Pode ser dividido em timpanismo primário e secundário. O timpanismo primário (alimentar ou espumoso; timpanismo em pastagem de leguminas, timpanismo dietético ou timpanismo espumoso) está relacionado com a alimentação do ruminante. O conteúdo ruminal fica mais espesso e o gás não é eliminado, sendo acumulado. Ocorre com alimentos ricos em proteínas ou carboidratos (alfafa, feno e trevo: leguminosas; grãos). Animal não pode ter a dieta de 100% desses alimentos, pois em excesso aumenta a fermentação, levando ao timpanismo. O primário é sempre pela ingestão de substrato que potencializa a fermentação. Certas leguminosas (alfafa, trevo) e concentrados promovem a formação de espuma estável. Os ácidos não voláteis de leguminosas e a fermentação ruminal reduzem o pH ruminal para 5-6, o qual é ótimo para a formação do timpanismo. A espuma misturada ao conteúdo ruminal bloqueia fisicamente o cárdia, impedindo a eructação e levando à distensão do rúmen pelos gases da fermentação. O timpanismo secundário ocorre quando o animal não consegue eliminar a quantidade normal de gás produzida. Portanto, é tudo que obstrui ou estenosa a entrada do cárdia do rúmen, como corpos estranhos (como resto de indústria cítrica), linfoma (na região do cárdia pro esôfago tanto na mucosa quanto na serosa), papiloma, linfonodos mesentéricos ou traqueobrônquicos aumentados e samambaia (que causa carcinoma de células escamosas no cárdia, resultando na obstrução). Patogenia: ocorre aumento da pressão abdominal, sendo que a dilatação do rúmen comprime o diafragma, movendo-o cranialmente dificultando a respiração (inspiração e expiração) do animal, podendo causar óbito. Somado a isso, há a compressão da veia cava e a Aorta (aumento da pressão intra- abdominal e na intratorácica), sendo a primeira a ser comprimida a veia (pois tem uma túnica média menor). Isso resulta em congestão e dificuldade de oxigenação do sangue, levando no final a uma acidose metabólica se você não reverter o processo. O aumento da pressão intrarruminal dificulta a abertura do esfíncter do cárdia a se abrir. O alimento rico em proteínas e carboidratos (timpanismo primário) fica denso, dificultando a saída do gás do alimento. Macro: rúmen dilatado, conteúdo ruminal viscoso (quando é rico em carboidratos e proteína o conteúdo fica mais denso e com isso o gás não se desprende). Nem sempre se encontra gás na necro. Necessário diferenciar o inchaço do animal após a morte com alteração post mortem. Linha de timpanismo, esôfago e traqueia na abertura torácica, bovino. Existe uma nítida demarcação entre a mucosa caudal (pálida) e a cranial (congesta) do esôfago (seta). Essa demarcação é causada pelo comprometimento do retorno venoso, resultado de rúmen distendido deslocando o diafragma cranialmente e causando aumento da pressão intratorácica, desse modo impedindo o fluxo de sangue venoso para o tórax. Nesta ilustração, demarcação semelhante pode ser vista na mucosa da traqueia. As lesões do timpanismo primário são frequentemente difíceis de detectar se houver um intervalo entre a morte e o exame após a morte, pois a espuma pode desaparecer. Contrariamente, a fermentação pode ocorrer após a morte em um animal sem timpanismo, resultando em produção abundante de gás. O indicador post mortem mais confiável de timpanismo é a linha do timpanismo, sendo uma linha que caudal a ela a mucosa do esôfago está pálida e cranial a ela está avermelhada. Isso ocorre porque quando o rúmen dilata a parte caudal do esôfago comprimida fica ausente de oxigenação e a cranial fica congesta, pois o fluxo não consegue retornar. CORPOS ESTRANHOS Corpos estranhos podem se acumular ou se alojar no rúmen, sendo eles tricobezoares (bolas de pelos) e fitobezoares). Os tricobezoares são sequelas da alimentação de bezerros no balde, que sugam pelo junto com o leite ou também podem se formar no útero devido ao pelo circulante no líquido amniótico. Os fitobezoares resultam do excesso de fibras. ACIDOSE LÁCTICA Outros nomes: sobrecarga de grãos, ruminite química, indigestão ácida. Pode ser aguda, subaguda e nem todos bovinos morrem. Ocorre queda do pH ruminal de 6-7 para 3-4 e leva a ruminite (lesão na mucosa ruminal). Ocorre no confinamento e em vacas de leite. A fisiopatologia normalmenteenvolve mudança brusca da dieta para alimentos de fácil fermentação ou a mudança na quantidade de alimento consumido. No confinamento ocorre porque de repente a dieta muda para mais concentrado que volumoso. Nesse período deve ocorrer a adaptação de pastagem para confinamento (aumento do concentrado de forma gradual), porém se houver um erro nesse fornecimento ocorre um aumento na degradação de amido na microbiota, aumentando a proliferação de bactérias amilolíticas, aumentando a produção de ácido láctico. Nas vacas de leite ocorrem após a parição ou no final da gestação, onde o produtor aumenta o fornecimento de concentrado para aumentar a produção de leite ou para auxiliar na gestação, respectivamente. Dessa forma, se não houver adaptação, o animal desenvolve a acidose. Portanto, tem como base uma oferta excessiva de carboidrato ou uma dieta com mais concentrada que volumoso. Também ocorre quando há mudança brusca na dieta ou aumento da ingestão. Também na dieta alto grão (apenas milho) sem haver adaptação do rúmen. Patogenia: o excesso de grão (carboidratos) aumenta a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) e tem-se uma seleção de bactéria amilolíticas, que são as bactérias Gram+ (Streptococcus bovis e Lactobacillus spp.), diminuindo as bactérias celulolíticas. Isso aumenta a produção de ácido láctico por essas bactérias (pH diminui para menos de 5, eliminando a microbiota ruminal normal e lesionando a mucosa) e a osmolaridade também aumenta (os líquidos saem dos vasos para o rúmen), ocasionando em desidratação e lesão da mucosa ruminal em decorrência do ambiente extremamente ácido. Há também uma acidose sistêmica proveniente da absorção de lactato do rúmen. Um rúmen com pH baixo também causa atonia do cárdia e rúmen, causando timpanismo. Macro: conteúdo ruminal e intestinal aquoso e ácidos, rúmen com abundância de grãos, mucosa avermelhada e desprendimento do epitélio (desprendimento das papilas ruminais). Animais que sobrevivem desenvolvem cicatrizes radiadas pálidas. Obs.: no post mortem pode ocorrer o desprendimento do epitélio, mas não há mucosa avermelhada! Necessário diferencial. Micro: epitélio ruminal com degeneração hidrópica, necrose de coagulação e infiltrado de polimorfonucleares. Uma das consequências (se o animal não morrer) é o desenvolvimento de ruminite micótica (Mucor, Rhizopus e Absidia), pois a exposição da mucosa sem epitélio permite a aderência dos fungos comensais. A ruminite micótica também resulta da administração de antibióticos, que reduzem a quantidade da flora normal e permitem a proliferação de fungos. Macro: lesões circulares e bem delineadas, decorrentes do infarto ocasionado pela trombose secundária à vasculite fúngica. Os fungos podem se disseminar para a placenta, levando ao abortamento. Ruminite micótica, bezerro. Note os inúmeros focos de necrose e hemorragia (infartos) bem demarcados na mucosa ruminal, que podem ser causados por fungos angioinvasivos. Outra consequência que pode ocorrer é que, com a lesão da mucosa, bactérias (como Trueperella pyogenes e Fusobacterium necrophorum) podem colonizar a parede ruminal lesionada e serem transportadas para a circulação portal, atingindo o fígado e ocasionando abscesso hepático. PAPILOMAS RUMINAIS Os papilomas ruminais são induzidos pelo papilomavírus e também pela ingestão crônica de samambaia. PARASITISMO A paranfistomíase é a infestação do rúmen por trematódeos, os quais pertencem aos gêneros Paramphistomum, Calicophoron e Cotylophoron. ESTÔMAGO E ABOMASO O estômago possui várias células epiteliais, sendo elas células epiteliais colunares mucosas, células epiteliais de superfície secretoras de bicarbonato, células mucosas do colo dispostas em glândulas tuboalveolares, células parietais secretoras de ácido, células principais secretoras de pepsinogênio e células neuroendócrinas (enterocromafins, argentafins) que secretam gastrina, enteroglucagon e somatostatina. DILATAÇÃO E TORÇÃO (VÓLVULO) GÁSTRICA Pode ocorrer dilatação sem torção. Torção = vólvulo. Mas a torção sempre ocorre após dilatação. A dilatação primária é de origem nutricional, estando relacionada a ingestão de alimentos facilmente fermentáveis. A secundária é causada por impedimento físico ou funcional do esvaziamento do estômago, como nas obstruções físicas (corpos estranhos, neoplasias, constrições, etc.) e funcionais e na obstrução do intestino delgado. As consequências da dilatação são atonia, congestão passiva ou isquemia dos órgãos próximos ao estômago dilatado (devido a compressão mecânica) e aumento da pressão intratorácica, que resulta em atelectasia pulmonar e congestão passiva. A dilatação gástrica ocorre em uma variedade de animais. Em cães, particularmente nas raças grandes e de peito profundo, como Pastor Alemão, Fila Brasileiro, ocorre a síndrome de dilatação gástrica aguda e vólvulo. Esses cães possuem uma caixa torácica maior e se comem uma maior quantidade de alimento rapidamente (deglutindo ar nesse processo) e se fazem atividade logo depois causa a dilatação gástrica. Por isso animais desse porte devem comer em várias porções e não de uma vez. Os fatores predisponentes incluem fonte de distensão por gás, fluido ou alimento, obstrução da cárdia que impede a eructação e a êmese; e obstrução do piloro, que impede a passagem de conteúdo gástrico para o intestino delgado. Repetidos episódios de dilatação causam a distensão e relaxamento ou laceração do ligamento gastro-hepático. A dilatação recorrente combinada à superalimentação, aerofagia, exercício pós-prandial, estresse e talvez predisposição hereditária resultam em torção gástrica. Nesses casos, o estômago gira ao redor do esôfago em sentido horário. A curvatura maior move-se ventrocaudalmente e, então, se desloca dorsalmente para a direita. Isso força o piloro e o duodeno cranialmente para a direita, em sentido horário, em torno do esôfago, fazendo com que fiquem à esquerda do plano médio, comprimidos entre o estômago dilatado e o esôfago. O baço, que segue o deslocamento do ligamento gastresplênico, fica na posição ventral direita, entre o estômago, o fígado e o diafragma. Também se dobra em forma de V e fica extremamente aumentado e congesto, podendo sofrer torção, infarto e ruptura. O esôfago fica completamente fechado nas torções de 270 a 360°. Ocorre infarto venoso da parede gástrica, que fica escura e edematosa, havendo extravasamento de sangue para o lúmen. A mucosa sofre necrose isquêmica e pode ocorrer ruptura ou perfuração do estômago. A torção gástrica é reconhecida por deslocamento esplênico e esôfago torcido, resultando em compressão vascular e redução da drenagem venosa e hipoxemia. O estômago geralmente está rotacionado no sentido horário no eixo ventrodorsal e a rotação é de 180-360º. A dilatação comprime o diafragma e vasos, causando dificuldade respiratória e congestão dos vasos. A torção comprime a vascularização do estômago, resultando em necrose da mucosa gástrica. A combinação de hipoxemia gástrica, desbalanço ácidobásico, obstrução do piloro e cárdia, e aumento da pressão intragástrica leva a ondas antiperistálticas seguidas de atonia, isquemia cardiovascular, arritmias e choque. A redução do retorno venoso portal leva a isquemia pancreática e a redução do retorno venoso pelas cavas e porta reduz o enchimento cardíaco, levando ao choque circulatório. Esquema ilustrativo, dilatação gástrica e vólvulo, estômago, cão. O estômago está distendido com gás e alimento (exemplo superior). Ele rotaciona (seta) no eixo mesentérico (exemplo inferior) no sentido horário (180, 270 ou 360º no eixo ventrodorsal, quando o abdome é visto da superfície ventral), resultando em vólvulo gástrico com obstruçãoesofágica que impede a eructação e, portanto, contribui ainda mais para a dilatação gástrica. O baço, ligado ao estômago pelo ligamento gastroesplênico, rotaciona com o estômago e, portanto, é dobrado para trás sobre si mesmo, localizado no abdome cranial direito contra o diafragma (exemplo inferior). A veia esplênica é comprimida, resultando em baço congesto, pois o suprimento sanguíneo arterial permanece patente por mais tempo que a drenagem venosa. Macro cão: abdome dilatado (nesse caso é difícil ser alteração post mortem). A rotação do estômago ocorre ao redor do esôfago em sentido horário e isso traz o baço junto (baço fica em forma de V se a rotação for de 360º). Além disso, há compressão da vascularização do estômago, causando congestão (sangue não sai) e necrose da mucosa gástrica. No final pode ocorrer ruptura do estômago. Baço fica do lado direito do estômago (o que é errado), com esplenomegalia e difusamente enegrecido. Há proliferação bacteriana. Equinos A dilatação gástrica também ocorre em cavalos por excesso de grãos e alimentos fermentáveis na dieta, aerofagia e obstrução/deslocamento intestinal (que ocasiona acúmulo de alimento no estômago, sua dilatação e ruptura). Obs.: em equinos não ocorre torção gástrica, mas pode haver ruptura gástrica. Macro equino: abdome dilatado, estômago dilatado. Se houver ruptura há presença de conteúdo alimentar na cavidade abdominal e hemorragia. Geralmente rompe na curvatura maior do estômago. Devido à dilatação e ruptura gástrica poderem ocorrer após a morte, o desafio diagnóstico é determinar se a ruptura ocorreu antes ou após a morte. O único indicador confiável do momento da ruptura é a presença de hemorragia e evidência de inflamação, como feixes de fibrina ao longo das margens da ruptura (normalmente na curvatura maior), pois a resposta inflamatória ocorre apenas em animais vivos. IMPACTAÇÃO A impactação do estômago monogástrico e do abomaso possui uma variedade de causas. Lesões intratorácicas, como pneumonia, pleurite, linfadenopatia, e linfoma mediastinal, podem infiltrar e danificar o nervo vago, resultando em problemas com motilidade abomasal/gástrica e esvaziamento. Fibras, bolas de pelo e outros materiais estranhos também podem causar impactação. INFLAMAÇÃO A inflamação do estômago simples ou do abomaso é denominada gastrite e abomasite, respectivamente. A gastrite tem como sinais clínicos, vômito, desidratação e acidose metabólica. Em cães e gatos, a gastrite pode ser de origem mecânica, pela ingestão de corpos estranhos ou pela formação de bola de pelo em gatos, ou de origem química, por utilização de drogas anti-inflamatórias (esteroidais e não esteroides). Gastrite típica, no que se refere à infiltração de células inflamatórias, ocorre comumente em cães e gatos com alergia alimentar ou de maneira idiopática. A gastrite causada por agentes infecciosos é pouco comum nos cães e gatos. O Clostridium septicum é uma causa da abomasite hemorrágica com enfisema de submucosa em ovinos e bovinos, uma doença conhecida como braxy. Gastrite granulomatosa pode ocorrer por Histoplasma capsulatum e raramente por Mycobacterium tuberculosis. Gastrite eosinofílica ocorre em carnívoros domésticos por Toxocara canis; hipersensibilidade; idiopática. ÚLCERAS GÁSTRICAS Uma úlcera é um defeito da mucosa na qual foi perdida toda a espessura epitelial, até ou através da membrana basal. A penetração pelas camadas teciduais restantes até a cavidade peritonial é denominada úlcera perfurada, podendo desencadear grave hemorragia e extravasamento de conteúdo gástrico. Elas são cavidades nitidamente delimitadas frequentemente recobertas por exsudato. As úlceras agudas geralmente estão associadas a hemorragia e as crônicas possuem tecido de granulação e borda endurecida, causada por fibrose. A patogenia das úlceras gástricas em humanos é pela Helicobacter pylori. Em animais pode ocorrer por Helicobacter (incomum), acidez, AINEs e de causa idiopática. As condições necessárias para o desenvolvimento são o desbalanço entre a secreção ácida (HCl e pepsina) e a proteção da mucosa (muco): ✓ No que se refere a acidez ocorre por mastocitoma/gastrinoma, pois essas neoplasias aumentam a liberação de histamina (mastocitoma), a qual aumenta a secreção de HCl (maior acidez) e de gastrina (gastrinoma), a qual aumenta a secreção ácida também. Esse resultado é conhecido como síndrome de Zollinger-Ellison; ✓ Corticoides e AINEs inibem a produção de prostaglandinas (PGE2) e esta é importante na produção de mucina e bicarbonato na mucosa gástrica, com isso há mais HCl que muco, causando a úlcera; ✓ Pelo estresse há aumento da produção de cortisol, o qual reduz a produção de prostaglandinas e com isso há a úlcera. Além disso, o estresse ativa o SN simpático, reduzindo a vascularização gástrica, resultando em isquemia e menor produção de muco; ✓ Ferimentos causados pelo refluxo de sais de bile do duodeno ou pela ingestão de solventes de lipídios (como álcool) podem lesar à barreira mucosa epitelial. Cães e gatos: idiopática, medicamentos (AINEs e glicocorticoides) e mastocitomas. Sinais clínicos em cães: anorexia, vômito, dor abdominal, hematêmese e melena (sangue digerido nas fezes). FIGURA 7-66 MCGAVIN Equinos: estresse (40-90%), idiopática (potros) e medicamento (AINE). Sinais clínicos: dor abdominal, bruxismo, ptialismo, refluxo gástrico e eles podem deitar em decúbito dorsal. Bovinos: estresse e acidose láctica (alimentação rica em grãos para gado de leite na época da parição: ocorre a passagem do ácido láctico do rúmen para o abomaso, causando a ulceração); em bezerro ocorre pela mudança da dieta ou irritação mecânica por fibras na substituição do leite por fibras. Sinais clínicos: anorexia parcial ou completa, redução da produção de leite, desconforto palpável à pressão aplicada na área xifoide direita e melena. Úlceras, abomaso, bovino. As úlceras consistem em uma área central de necrose circundada por característica margem hiperêmica vermelha externa e inflamação ativa. O contorno arredondado discreto dessas úlceras sugere que elas sejam infartos, possivelmente decorrentes de vasculite e trombose causadas por fungos angioinvasivos Suínos: estresse. Dependendo da extensão da úlcera ocorre comprometimento dos vasos da submucosa, causando extravasamento de sangue, o que leva a hematêmese e melena. Acima da úlcera pode estar um coágulo. A perda crônica de sangue pode levar a anemia e hipoproteinemia. Equinos: geralmente ocorre na região do margo plicatus. As úlceras podem romper, levando a extravasamento de conteúdo. Macro: úlcera tem área de depressão e mucosa avermelhada. PARASITOS Equinos Larvas de Gasterophilus podem colonizar a porção estratificada do estômago, causando úlceras. Draschia megastoma é encontrada em nódulos com cavidade cística na mucosa glandular adjacente ao margo plicatus, causando também úlceras gástricas. Ruminantes O Haemonchus contortus (“verme de mastro de barbearia”) acomete o abomaso de ruminantes, sendo hematófagos e podem causar anemia grave, hipoproteinemia e resultante edema (geralmente no espaço intermandibular). Somado a isso há palidez de membranas mucosas, letargia e diarreia. Em climas temperados, a ostertagiose é considerada a doença parasitária mais importante do gado (Ostertagia ostertagia) e pequenos ruminantes (Ostertagia circumcincta). Muito semelhante ao Haemonchus spp. Carnívoros Vários gêneros de nematoides, principalmente Ollulanus, Gnathostoma e Cylicospirura, causam gastrite em cães e gatos, mas estas infecções são raras. Physaloptera spp. são frequentemente implicados como sendo parasitas gástricos de carnívoros. Ocasionalmente causam vômitos.NEOPLASIAS Neoplasias de estômago são incomuns. Ordem de mais comum: ✓ Adenocarcinomas – cães; ✓ Leiomioma e fibroma – cães, cárdia ou piloro; ✓ Leiomiossarcoma; ✓ Linfoma – cães, gatos e bovinos (abomaso, átrio direito e útero, estando geralmente associado ao vírus da leucose bovina); ✓ CCE – equinos e suínos. O leiomioma e mais raramente o leiomiossarcoma surgem da camada muscular. O carcinoma de células escamosas da porção estratificada escamosa (esofágica) do estômago é relativamente comum no equino. INTESTINO INTRODUÇÃO A mucosa intestinal é composta por uma camada de células epiteliais, células mesenquimais da lâmina própria e a muscular da mucosa. Existem seis tipos de células epiteliais revestindo o intestino: ✓ Enterócitos: células colunares altas com microvilosidades responsáveis pela digestão e absorção; ✓ Células epiteliais indiferenciadas (ou da cripta): são células progenitoras responsáveis pela substituição de todos os outros tipos celulares epiteliais; ✓ Células caliciformes: secretam muco; ✓ Células de Paneth: apresentam função secretora, fagocítica e parácrina; ✓ Células enterocromafins: produzem serotonina, peptídeo glucoinsulotrópico, catecolaminas, gastrina, somatostatina, serotonina, colecistoquinina, secretina, bombesina, enteroglucoagon. Ação endócrina; ✓ Células M: formam o epitélio acima do GALT, tendo a função de captar proteínas e antígenos, mas também é porta de entrada de patógenos. DIARREIA É a eliminação de fezes anormalmente fluidas, acompanhada por aumento do volume fecal e da frequência de defecação. Patógenos que a causam podem causar por induzir a secreção intestinal; induzir a infamação; por serem invasivos. Diarreias não inflamatórias são produzidas por organismos que interrompem os mecanismos absortivos ou secretores dos enterócitos sem destruir as células. Geralmente, mas não sempre, afetam as porções mais proximais do intestino (ETEC, rotavírus, ou Cryptosporidium parvum). Diarreias inflamatórias são produzidas por organismos que produzem citotoxinas ou são invasivas e ativam citocinas que iniciam cascatas inflamatórias. As diarreias inflamatórias geralmente afetam o íleo, o ceco ou o cólon. Os mecanismos para que a diarreia ocorra são a combinação dos seguintes: ✓ Má absorção com ou sem fermentação bacteriana levando à diarreia osmótica; ✓ Hipersecreção de cloro: resulta em rede de efluxo de fluido e eletrólitos; ✓ Exsudação causada pelo aumento da permeabilidade capilar ou epitelial (enteropatia com perda proteica); ✓ Hipermotilidade, ou seja, aumento da taxa, frequência e intensidade do peristaltismo, que resulta em menor eficiência da digestão e absorção dos nutrientes e da água; ✓ Morte celular, pois a falta de enterócitos absortivos leva a má absorção de nutrientes e diarreia osmótica. Diarreia secretória (osmótica): secreção excede a absorção. Como a E. coli enterotoxigênica citada adiante. Diarreia mal absortiva: ocorre pela atrofia das vilosidades, onde não há enterócitos e, portanto, não ocorre absorção de soluto e água, que passam ao cólon, causando diarreia. Diarreia efusiva: ocorre por aumento da permeabilidade da mucosa, como por hipertensão porta, ICCD, hipoalbuminemia, hiper-hidratação e linfangiectasia (obstrução linfática). Como consequência do excesso de perda de fluido temos desidratação, resultando em hipovolemia e perfusão tecidual inadequada. Com isso a energia nos tecidos é gerada por glicólise anaeróbica, levando à cetoacidose, reduzindo o pH sanguíneo. A acidose é combinada à perda fecal de bicarbonato na diarreia e aos resultados da excreção renal inadequada de íons hidrogênio e absorção inadequada de bicarbonato. O resultante desbalanço eletrolítico leva ao aumento na concentração intracelular de íon hidrogênio e à redução na concentração intracelular de íon potássio. O desbalanço reduz o controle neuromuscular da contração miocárdica, culminando em choque hipovolêmico. ANOMALIAS DE DESENVOLVIMENTO Atresia Refere-se a oclusão do lúmen intestinal devido ao desenvolvimento anômalo da parede intestinal. É geralmente denominada em função da parte do intestino que é ocluída, como, por exemplo, atresia anal ou atresia colônica. As causas podem ser resultado de lesões mecânicas a vasos sanguíneos fetais em uma porção do intestino; células embrionárias que ocluem o lúmen falham em se separar; liberação do mecônio na cavidade abdominal no feto. Divertículo de Meckel O divertículo de Meckel é um remanescente do ducto onfalomesentérico. Em geral, desaparece após o primeiro trimestre de gestação, mas pode persistir em todas as espécies de mamíferos. É próximo da terminação do íleo, representa a haste do saco vitelino, e devido à sua localização e por ter uma extremidade cega pode ser confundido com o ceco. Megacólon É um cólon grande, normalmente repleto de fezes que pode ser congênito ou adquirido. A forma congênita ocorre em suínos, cães, gatos, potros overos e seres humanos a partir de uma deficiência de desenvolvimento dos plexos mioentéricos (doença de Hirschsprung) secundária à falha de migração de neuroblastos da crista neural. Os potros overos não eliminam mecônio; subsequentemente desenvolvem cólica e geralmente morrem em até 48 horas após o parto. Esses potros não apresentam peristaltismo devido à ausência do plexo mioentérico (Auerbach) ou plexo submucoso (Meissner), sendo chamado também de agangliose do cólon. O megacólon adquirido é secundário ao dano à inervação colônica, como por traumas, mais comumente em carnívoros atropelados. A atresia anal também pode resultar em megacólon. OBSTRUÇÃO INTESTINAL A obstrução mecânica intestinal ocorre em todas as espécies animais, possuindo diversas causas, podendo ser simples (impede o trânsito do alimento) ou estrangulada (ocorre também impedimento circulatório). A obstrução simples tem consequências na porção oral e aboral ao ponto da obstrução. No sentido oral ao ponto da obstrução, há acúmulo de líquido oriundo da ingesta e das secreções gástricas, biliar, pancreática e intrínseca do intestino e acúmulo de gás. Há estímulo ao vômito (nas espécies que o fazem), com desidratação e perda de soluto, causando desequilíbrio hidroeletrolítico e morte. Na porção aboral, pode haver distensão com desidratação, mas o desequilíbrio hidreletrolítico é menos grave. Há também supercrescimento bacteriano do conteúdo intestinal estagnado. Qualquer que seja o segmento afetado, a macro mostra distensão no segmento com localização oral em relação ao ponto obstruído; acúmulo de líquido e gás no lúmen. Com o aumento da distensão, há interferência com o retorno venoso, e a mucosa e submucosa tornam-se congestas e necróticas, sendo que a necrose pode levar à gangrena e perfuração. Na obstrução intestinal estrangulada, a consequência é a hipoxia, que advém da obstrução das veias artérias ou da redução do fluxo pela baixa pressão sanguínea. Ocorre perda da integridade da mucosa, o que resulta em cessação da absorção de água e eletrólitos, efusão de líquido e sangue para o lúmen e proliferação de anaeróbios (como Clostridium spp.), que produzem toxinas que são absorvidas, levando a toxemia. Tais toxinas deprimem a função cardiovascular, levando à insuficiência circulatória. A obstrução das veias é a principal causa de isquemia intestinal e leva ao infarto venoso. O intestino e o mesentério ficam intensamente edematosos, congestos e hemorrágicos. Enterólitos e Impactação Os enterólitos ocorrem mais comumente em equinos da raça Árabe, se alojando na flexura pélvica ou no cólon transverso. Dietas com alto teor de magnésio e fósforo são predisponentes. Além deles, temos os fecalólitos. A impactação ocorre quando hápresença de ingesta compactada que não pode se mover ao longo do trato intestinal. Geralmente ocorre em equinos em decorrência de ingesta muito fibrosa ou por ingestão de areia. Constrições As constrições são o resultado do estreitamento do lúmen do canal intestinal. Geralmente são o resultado da fibrose e cicatrização de alguma lesão intestinal. Intussuscepção Ocorre quando um segmento intestinal invagina para dentro do segmento imediatamente distal do intestino. A causa é associada à irritabilidade intestinal e hipermotilidade, as quais ocorrem secundárias à enterite, irritação por parasitos (como o verme nodular das ovelhas Oesophagostomum spp.), debilidade geral, corpos estranhos. Em cães é relacionada pelo manuseio do intestino delgado durante cirurgia, nódulos linfoides hipertrofiados, ascarídeos, corpos estranhos lineares (barbante) e granulomas. Macro: segmentos do intestino tumefeitos e friáveis. Assemelham-se às dobras de uma sanfona. Exsudação de fibrina, necrose isquêmica, congestão e edema podem ocorrer. Íleo paralítico É a hipomotilidade não mecânica resultando em obstrução funcional do intestino. Pode ser decorrente de paralisia da parede intestinal, peritonite, choque, dor intensa, estimulação anormal dos nervos esplâncnicos, toxemia, desbalanço eletrolítico, deficiência de vitaminas do complexo B, uremia, tétano, diabetes melito ou envenenamento por metais pesados. O intestino torna-se refratário à descarga nervosa contínua, sendo, portanto, uma obstrução nervosa. DESLOCAMENTOS INTESTINAIS Os deslocamentos intestinais incluem herniações que levam a encarcerações (fixação) do intestino deslocado e finalmente a estrangulações, podendo ser internos ou externos. As herniações internas são deslocamentos do intestino por um forame normal ou patológico na cavidade abdominal, como a herniação através do forame epiploico em equinos. As hérnias externas são formadas quando um saco herniário, formado por uma bolsa de peritônio parietal, penetra para fora da cavidade abdominal, podendo ser umbilical, ventral, diafragmática, hiatal, inguinal, escrotal e perineal. As hérnias diafragmática e perineal também podem ser denominadas de eventrações, pois ocorre protrusão do intestino através da parede abdominal ou diafragma por um forame adquirido. Se ocorrer exposição das alças intestinais fora a pele dá-se o nome de evisceração. O prolapso retal pode ocorrer secundário ao tenesmo ou esforço pós-parto excessivo. Vólvulo e Torção O vólvulo é a rotação do intestino em seu eixo mesentérico. Já a torção é a rotação de um órgão tubular ao longo de seu eixo longitudinal. Ambos resultam na compressão das veias e artérias mesentéricas, resultando em isquemia e infarto, além de edema, congestão, hemorragia e eventual necrose. Encarceramento Nefroesplênico Ocorre no cólon maior em equinos, devido ao deslocamento dorsal esquerdo do cólon dorsal esquerdo ou do cólon ventral esquerdo, entre o baço e a parede esquerda do corpo. A causa é desconhecida, mas sugere ser por rolagem dos equinos ou distensão por gás do cólon. Deslocamento Dorsal à Direita Nele os cólons dorsal esquerdo e ventral são deslocados para a direita do ceco, resultando em cólica. CONDIÇÕES DIVERSAS Hemomelasma ilei Ocorre na serosa do intestino delgado de equinos, sendo placas acinzentadas com bordas enegrecidas. É um achado de necropsia. Na histologia vemos serosa reativa com aumento de tecido conjuntivo e macrófagos repletos de hemácias e hemossiderina em seu interior. Sugere-se que seja passagem de Strogylus pela serosa, causando hemorragia, sendo então um resquício de hemorragia antiga. Listras tigroides São localizadas no cólon, sendo nos sulcos colônicos (dobras do cólon). Quando o animal tem tenesmo ou diarreia, há uma concentração maior de sangue nos sulcos colônicos, ficando essas listras longitudinais avermelhadas. Tecido linfoide reativo São pontos multifocais arredondados brancacentos no ceco, indicando tecido linfoide reativo. Ceroidose Intestinal Também denominada de intestino pardo canino e de leiomiometaplasia, ocorre pela deficiência de vitamina E + excesso de lipídeos na dieta. ENTERITES Rotavírus Os rotavírus estão no ambiente, incluindo ar e água, sendo que cada espécie possui o seu específico. A rota de infecção é oral, e as células-alvo são enterócitos das vilosidades. Leitões e bezerros infectados apresentam desidratação e diarreia aquosa amarelada e ficam fracos e deprimidos. Patogenia: os enterócitos são lesionados pelo rotavírus e se as membranas basais forem expostas ocorre encurtamento das vilosidades. Além disso, rotavírus produzem uma proteína não estrutural enterotoxina secretora (NSP4) que aumenta a secreção de cloro e bloqueia o cotransportador intestinal sódio/glicose. Tudo isso aumenta o fluido e a taxa de peristaltismo no lúmen intestinal. Coronavírus O mecanismo de produção de diarreia é muito semelhante ao do rotavírus, porém são mais virulentos. Clostridiose (Enterotoxemia) Ocasionada por Clostridium perfrigens, um bacilo Gram-positivo anaeróbico, sendo mais importante em ruminantes. O padrão é de enterite necrohemorrágica. Quando o animal nasce, ele entra em contato com o C. perfrigens e ele fica na flora intestinal. Porém, quando há troca de alimentação (geralmente animais jovens na desmama ou também na engorda), excesso de leite ou aumento de carboidrato ocorre mudança no equilíbrio da microbiota e ele tem substrato, esporulando e produzindo a doença (enterotoxemia). Possui os sorotipos A, B, C, D e E, variando na toxina produzida (alfa, beta, épsilon e iota). Sorotipo A = alfa; Sorotipo B = alfa, beta e épsilon; Sorotipo C = alfa e beta; Sorotipo D: alfa e épsilon; Sorotipo E: alfa e iota. Recentemente descobriu os sorotipos F (humanos) e G (aves). Sorotipos C e D são os mais comuns. Macro: serosas avermelhadas, infladas e líquido hemorrágico. Enterotoxemia, intestino delgado, suíno. Todo o intestino delgado está hemorrágico. A necrose pode se estender pela muscular da mucosa. Micro: necrose de praticamente todas as camadas, edema e hemorragia acentuadas, além de infiltrado inflamatório. Na borda da necrose se observa os bacilos. Enterite necrosante por clostrídios, intestino delgado, suíno. Coloração H&E. Sorotipo A: mamíferos e aves, causando doenças diarreicas brandas: diarreia hemorrágica em cães, colite X nos equinos e diarreia pastosa em leitões lactentes. Sorotipo B: causa a disenteria do cordeiro, tendo dor abdominal, com ou sem grave diarreia hemorrágica. Sorotipo C: causa a enterite necrohemorrágica enterotóxica, algumas vezes com presença de gás no lúmen, afetando bezerros cordeiros e potros. Sorotipo D: semelhante a doença do edema a E. coli, mas afeta ovelhas, cabras e bezerros. Ocorre morte súbita por dano à células endoteliais produzido pela angiotoxina. Pode ocorrer encefalomalacia e hemorragias multissistêmicas. Sorotipo E: raramente causa enterotoxemia em cordeiros, bezerros e coelhos. Colibaciloses Causada pela Escherichia coli, sendo ela uma bactéria comensal do intestino. Possui vários fatores de patogenicidade, como fímbrias e pili, que fazem com que a bactéria se fixe nas vilosidades. Há varias cepas. Geralmente acomete recém-nascidos ou animais muito jovens, especialmente leitões e bezerros. A ocorrência da doença depende da cepa, da transferência passiva de anticorpos, da contaminação ambiental da susceptibilidade do animal e a fatores externos estressantes (superlotação, falta de alimento, temperaturas extremas, imunossupressão, infecções por rotavírus, coronavírus e coccídeos). Animais extremamente susceptíveis são aqueles que nunca tiveram contato com E. coli (raramenteocorre). Existem quatro tipos de cepas: enterotoxigênica (ETEC), septicêmica (EIEC), êntero-hemorrágico (EHEC) e enteropatogênico (EPEC). Colibacilose ETEC É comum em leitões recém-nascido. Os animais apresentam diarreia sem lesão macro nem micro Essa E. coli produz as toxinas termolábeis (LT) e termoestáveis (ST) que possuem uma especificidade a determinado mensageiro celular. A LT é específica ao cAMP e a ST ao cGMP. Esses mensageiros são importantes para a abertura de canais de íons. Patogenia: a ETEC se adere por fímbrias e pili nos enterócitos e produz suas toxinas, mas não danifica os enterócitos. A toxina termolábel interfere no cAMP positivamente abrindo mais canais de cloreto (Cl-). A toxina termoestável interfere no cGMP, abrindo mais canais de Na+. Há uma grande saída de NaCl e, por efeito osmótico, há maior saída de água, causando a diarreia osmótica, pois o cólon não consegue absorver o fluido excedente. Como consequência os animais desidratam. Sinais clínicos: diarreia amarela a branca, abdome retraído, desidratação, olhos podem estar profundos (enoftalmia) e ausência de febre. Macro: intestino delgado dilatado, flácido e com conteúdo líquido e amarelo. Micro: sem alteração. Em um grande aumento se observa as bactérias aderidas a superfície luminal do enterócito. Colibacilose enterotóxica, jejuno, leitão. Tapetes (setas) de Escherichia coli estão aderidos à superfície luminal dos enterócitos. Coloração H&E. Colibacilose septicêmica É uma doença de bezerros, cordeiros e potros recém-nascidos, causando septicemia ou infecção localizada no intestino. Doença do edema É a colibacilose enterotoxêmica, acometendo suínos, geralmente associada a mudanças na dieta durante o desmame. A E. coli produz uma exotoxina termolábil (angiotoxina) que causa lesão endotelial vascular generalizada, resultando em perda de fluido e edema. Colibacilose EHEC É patogênica em bezerros, os quais morrem em poucos dias, mas pode existir recuperação. Macro: enterite fibrinosa ou fibrino-hemorrágica. Colibacilose EPEC ou AAEC Nela, a borda em escova dos enterócitos é rompida, resultando na perda de enzimas digestivas do glicocálix, provocando má digestão, mal absorção e diarreia. Também estimula a apoptose dos enterócitos, secreção de Cl− e de muco, e produção de toxinas. Salmonelose Agentes: Salmonella typhimurium, S. enterica, S. dublin, S. choleraesuis e S. typhosa. A de maior importância em animais e humanos (origem alimentar) é a S. typhimurium. Geralmente acomete bovinos, equinos e suínos, podendo ocorrer de forma septicêmica, entérica aguda ou entérica crônica, dependendo da dose e fatores de estresse. A via de entrada é fecal-oral. A lavagem das mãos é importante como prevenção em humanos. Não é comensal, mas está no ambiente, como alimentos, água e aerossóis, além de fômites e moscas (vetor mecânico). A infecção transplacentária também pode ocorrer. O animal pode ter a Salmonella no intestino, sem causar doença ou após recuperação, mas no momento de estresse ocorre sua liberação nas fezes, atuando como reservatório. Cerca de 10% dos cães e gatos possuem Salmonella na vesícula biliar, liberando-a ao ambiente com as fezes após estresse, atuando então como reservatórios. Patogenia: animal se infecta (por água ou alimento contaminado, etc.) e ela chega na luz intestinal, podendo adentrar: ✓ entre as células epiteliais (ela abre patologicamente as junções adesivas), sendo fagocitada, mas não digerida, sobrevivendo e se multiplicando no fagócito; ✓ ao ser captada por células M e captação depois por fagócito; ✓ ao ser captada por enterócitos e liberada para fagócitos; ✓ ao ser captada por células dendríticas e apresentação para fagócito. Depois, o macrófago com Salmonella em seu interior cai na circulação e carreia ela pelo organismo, lesando intestino delgado (pela penetração na lâmina própria, que causa enterite e diarreia), cólon, linfonodos mesentéricos, fígado e vesícula biliar. A doença ocorre pela produção de enterotoxinas, que bloqueiam o fechamento de canais de Cl- e pela lesão de enterócitos, causando então diarreia osmótica (canais de cloreto abertos) e mal absortiva (morte de enterócitos). Salmonelose septicêmica Acomete bezerros, potros e suínos, sendo que os potros apresentam fezes verdes. Geralmente ocorre por S. cholerasuis. As lesões macro são mínimas, ocorrendo petéquias disseminadas (por necrose fibrinoide) e cianose das extremidades e ventre em suínos brancos. A morte ocorre por CID. Salmonelose entérica aguda Acomete bezerros, suínos e equinos, sendo causada por S. typhimurium. A característica é enterite catarral difusa e conteúdo intestinal com odor desagradável, muco, fibrina e ocasionalmente sangue. Além disso, acomete o fígado, o qual apresenta pontos brancos multifocais de necrose e hiperplasia das células de Kupffer (nódulos paratifóides). Na micro vemos infiltrado de mononucleares com necrose ou apenas necrose. Salmonelose hepática. Focos aleatórios de necrose focal em bovino com septicemia por Salmonella. Múltiplos focos pálidos de necrose subcapsular estão evidentes. Na microscopia os focos necróticos são infiltrados por macrófagos e formam distintos granulomas chamados de nódulos paratifoides. Salmonelose entérica crônica Também acomete suínos, bovinos e equinos, causando lesão entérica. Macro: mucosa intestinal avermelhada, discreto foco de necrose e úlceras amareladas (úlceras em botão). Úlceras em botão, cólon, suíno. Múltiplos focos de necrose (infartos) devidos à salmonelose entérica crônica são denominadas úlceras em botão. A morfologia dessa lesão é atribuída à toxina bacteriana que ocasiona vasculite e trombose de vasos sanguíneos da lâmina própria e submucosa, resultando em infartos intestinais focais. Micro: edema, hemorragia, necrose e infiltrado mononuclear. Antraz Alimentar Ocorre pelo Bacillus anthracis, sendo importante causa de bioterrorismo e agroterrorismo. Os herbívoros entram em contato com a doença pela ingestão de vegetação contaminada por esporos, através de lesão cutânea ou pela inalação de esporos, enquanto os carnívoros são infectados pela ingestão de carcaças contaminadas. Na doença hiperaguda, geralmente em ruminantes, resultam a bacteremia e a septicemia e o sangue pode deixar de coagular devido à produção de toxinas das bactérias. O baço fica muito grande e sanguinolento (baço em “geleia de amora”). Também há, em bovinos, abomasite ulcerativa hemorrágica ou enterite necro- hemorrágica no intestino delgado. DISTÚRBIOS DOS ANIMAIS EQUINOS Rhodococcus equi A bactéria adentra por via oral e as bactérias entram nas células M do intestino, resultando em inflamação piogranulomatosa do GALT e linfonodos bem como enterotiflocolite piogranulomatosa ulcerativa. A infecção intestinal inicia-se nas placas de Peyer, as quais são substituídas por inflamação granulomatosa, formação de abscesso, tecido necrótico e ulceração das placas. Além disso, os linfonodos e o baço podem conter granulomas e abscessos. RUMINANTES Diarreia Viral Bovina (DVB) É mais comum em bovinos com 8 meses a 2 anos, sendo que o vírus causa várias lesões. Erosões multifocais bem delimitadas e úlceras na língua, gengiva, palato, esôfago, rúmen, abomaso e nas bandas coronárias dos cascos caracterizam a DVB. No intestino, as lesões características são focos de necrose bem delimitados no epitélio que recobre o GALT, como também erosões e ulcerações, podendo ser cobertas por exsudato pseudomembranoso ou também diftérico. O animal apresenta anorexia, depressão, diarreia aquosa profusa, sujando a região perineal e a cauda e descarga nasal mucopurulenta. Bezerros infectados ainda no útero podem apresentar hipoplasiacerebelar, catarata, microftalmia, ou displasia renal, entre outros defeitos congênitos. Peste bovina Lesões semelhantes às observadas na DVB ocorrem nos animais acometidos pela peste bovina. O morbilivírus associado a peste bovina infecta bovinos, ovinos, caprinos, suínos, búfalos de água e ruminantes selvagens. Ocorrem erosões e úlceras da cavidade oral e plano nasal e nas regiões de GALT. A lesão característica apresenta enterócitos multinucleados em tecidos epiteliais, incluindo as lesões intestinais. Próxima da erradicação por vacinação. Febre catarral maligna Causada pelo vírus Rhadinovírus (herpes-vírus), causando linfadenomegalia, arterite e flebite linfoplasmocítica necrosante da subcútis. Já a forma alimentar é caracterizada por estomatite ulcerativa multifocal (necessário diferencial com febre aftosa), glossite, esofagite, abomasite e enterotiflocolite associada à vasculite. Doença de Johne (Paratuberculose) Os ruminantes se infectam a partir de solos contaminados por fezes. No gado, a doença é caracterizada por diarreia intratável, emaciação e hipoproteinemia, já em pequenos ruminantes não há diarreia. É considerada uma doença caquetizante, sendo causada pelo Mycobacterium paratuberculosis. As lesões macroscópicas incluem espessamento segmentar crônico do íleo, ceco e cólon proximal e presença de granulomas caseosos ou não caseosos. CARNÍVOROS Parvovírus Em cão é causado pelo parvovírus canino tipo 2 (CPV2) e em felinos pelo vírus da panleucopenia felina (as lesões são semelhantes a parvovirose). Rottweilers possuem um elevado risco de desenvolver a doença, mesmo se corretamente vacinados. Patogenia: a transmissão ocorre por contato direto ou fômites, sendo que o vírus entra na via oral ou respiratória e se replica no tecido linfoide da orofaringe, linfonodos mesentéricos e timo. Após a viremia ele acomete células em proliferação (fase S do ciclo celular), portanto, linfonodo, timo, baço, medula óssea (células linfoides) e células da cripta do jejuno e íleo (as quais renovam o epitélio intestinal, portanto, é grave e frequentemente fatal). Se não há regeneração dos enterócitos, então ocorre degeneração e necrose das vilosidades, expondo os vasos das vilosidades (aumenta a permeabilidade), diminuindo a absorção. Agentes que têm como alvo a destruição das células da cripta são denominados radiomiméticos. Micro: degeneração e necrose de enterócitos e das células da cripta, infiltrado inflamatório, perda do padrão das vilosidades. Cães com menos de 2 semanas de idade apresentam doença generalizada, com necrose em tecidos com células em rápida divisão (fígado, rim, coração, vasos, medula óssea, intestino e pulmão). Pode ocorrer a forma cardíaca de 3-8 semanas de vida, causando miocardite linfocítica, podendo ou não estar associada a forma entérica. Micro: infiltrado mononuclear. Macro: áreas brancacentas focalmente extensas no miocárdio. Após 8 semanas ocorre a doença entérica. Se for transmitido via vertical (infecção intrauterina) pode ocorrer hipoplasia cerebelar congênita e hidrocefalia no animal. Sinais clínicos: anorexia, letargia, febre, vômito, diarreia mucoide ou sanguinolenta. Macro: serosa granular (não tem superfície lisa, decorrente de efusão fibrinosa discreta) com petéquias, dilatado, conteúdo líquido amarelado com exsudato fibrinoso e na maioria das vezes hemorrágico. Filamentos de fibrina ligando parede intestinal serosa. Linfadenomegalia mesentérica e medula óssea depletada. Enterite por parvovírus, intestino delgado, cão. A, Segmentos do intestino delgado estão difusamente avermelhados (hiperemia) e a superfície serosa está irregular, ligeiramente granular e com petéquias. B, A mucosa do intestino delgado está necrótica. Note a mucosa áspera, granular, com petéquias focais e focalmente descamada. Micro: atrofia e fusão das vilosidades, necrose das células epiteliais das criptas, criptas remanescentes dilatadas com restos celulares e leucócitos, hiperplasia do epitélio da cripta restante. Necrose linfoide em nódulos linfoides intestinais, placas de Peyer, timo e linfonodo. Pode haver aplasia de medula (mas geralmente o animal morre antes). Precocemente na infecção são observados corpúsculos de inclusão intranuleares basofílicos em enterócitos e linfócitos. Parvovírus. Vilosidades são desnudadas do epitélio e são atróficas. Note que devido à perda de células epiteliais nas criptas, elas entraram em colapso, obliterando seus lúmens. Algumas criptas estão dilatadas. Coloração H&E. No gato, é chamado de panleucopenia felina ou cinomose felina. As lesões iniciais incluem depleção linfoide e involução tímica, seguido por segmentos intestinais avermelhados e flácidos com serosite. Com a destruição das células da cripta ocorre a atrofia das vilosidades. A panleucopenia ocorre pelo vírus acometer a medula óssea, por ser um tecido de divisão rápida. Peritonite Infecciosa Felina (PIF) É uma doença felina causada por coronavírus. A replicação inicial do vírus ocorre no sistema linfoide, onde macrófagos são infectados, carreando o vírus e causando vasculite, a qual resulta em lesões multifocais em vários órgãos. A “forma úmida” da doença é caracterizada por polisserosite fibrinosa e a “forma seca” por não ter processo efusivo. Ocorre também a produção de imunocomplexos, que também induzem vasculite, levando a efusão proteica e esta caracteriza a caquexia progressiva da doença. Além disso, a deposição dos imunocomplexos resulta em piogranulomas em vários órgãos. A forma úmida tem uma efusão rica em proteínas, espessa e fibrinosa nas cavidades corpóreas. A forma seca é idêntica à úmida, mas apresenta apenas piogranulomas, sem exsudato. FÍGADO INTRODUÇÃO A subunidade funcional do fígado é o lóbulo hepático, uma estrutura hexagonal. No centro, ele possui uma veia centrolobular e nos ângulos do hexágono estão os espaços portais, que contêm ductos biliares e ramos da veia porta e artéria hepática. O sangue flui para os sinusoides vindo do espaço porta (veia porta e artéria hepática), sendo drenado para as veias centrolobulares. O tecido conjuntivo é mais abundante nos espaços-porta quem em outras regiões do fígado. Quando considerado uma glândula secretora de bile, o fígado é subdividido em ácinos, que possuem três zonas no fígado, sendo elas a zona 1 (periportal: mais próxima do sangue, ou seja, do espaço porta), zona 2 (mediozonal) e zona 3 (centrolobular, mais distante do espaço porta). Ao contrário do fluxo do sangue, o fluxo da bile flui da zona 3 para os ductos biliares do espaço porta. Os sinusoides hepáticos são revestidos por células endoteliais descontínuas (fenestrado) que não possuem uma membrana basal típica, permitindo a captação dos constituintes do plasma pelos hepatócitos. Um delicado suporte de membrana basal, que contém colágeno do tipo IV sustenta o endotélio e os hepatócitos, sendo ele a “reticulina” do fígado. Entre o sinusoide e os hepatócitos temos o espaço de Disse, dentro do qual os constituintes do plasma entram em contato com a superfície luminal dos hepatócitos. O lúmen dos sinusoides contém as células de Kupffer, que são macrófagos hepáticos, membros do sistema fagocítico mononuclear. As células estreladas do fígado (células de Ito) são encontradas no espaço de Disse, sendo responsáveis por estocar vitamina A em seus vacúolos citoplasmáticos característicos. Durante o dano hepático, as células de Ito têm sua morfologia e funcionamento alterados, pois perdem seu conteúdo de vitamina A e sintetizam colágeno e outros componentes da matriz extracelular que levam à fibrose hepática. Diagrama esquemático do sinusoide hepático. ALTERAÇÕES SEM SIGNIFICADO CLÍNICO E ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO
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