Farmacologia Amanda Maia – Med 104C Nitroimidazóis 5-nitroimidazol (Metronidazol – nome comercial Flagil) Produzido a partir de Estreptomicetos Metronidazol foi o primeiro representante deste grupo Introduzido em 1959 Antimicrobianos (principalmente para tratar infecções anaeróbicas) e Antiparasitários Tinidazol Secnidazol OBS: O tinidazol e o secnidazol são antiparasitários, principalmente para os parasitas micros (parasitas pequenos), que são os protozoários. São excelentes protozoaricidas. a) Metronidazol Introduzido em 1959, inicialmente no tratamento de doenças por protozoários Tratamento da tricomoníase, giardíase e amebíase, com eficácia para todas as formas de amebas, tanto na amebíase intestinal como na extraintestinal (abcesso amebiano hepático → é uma forma extraintestinal comum de ameba) Em 1962, foi descoberta sua propriedade bactericida contra bactérias anaeróbias. Mecanismo de ação do Metronidazol: Bactericida e protozoaricida: mata bactérias e protozoários Ligação de produtos intermediários (originários de sua redução intracelular) com o DNA, formando-se complexos que inibem a replicação e inativam o DNA, impedindo as sínteses enzimáticas e causando a morte celular. Sua ação é seletiva sobre microrganismos e parasitas anaeróbios, porque para sofrer esse metabolismo em metabólitos intermediários, o metronidazol precisa ser reduzido. Um sistema de proteínas com baixo potencial de oxirredução, semelhante à ferridoxina, que reduz o metronidazol a produtos intermediários, os quais têm ação tóxica e são responsáveis pela atividade antimicrobiana. Aeróbios não são capazes de reduzir a droga. OBS: Essa proteína está presente nos microrganismos que fazem oxirredução, portanto, são aqueles que não utilizam oxigênio no seu metabolismo (anaeróbicos). Então, quem usa oxigênio, não é capaz de reduzir o metronidazol a seus metabólitos intermediários, tornando a droga, naturalmente, ineficaz. Tornando os microrganismos aeróbios, naturalmente, resistentes ao metronidazol. - Essa via de oxirredução é a via do piruvato. Ela transforma piruvato em acetato. Para isso, ela precisa de uma enzima chamada PFO (piruvato- ferrodoxina). Essa enzima reduz o metronidazol, e esse metabólito intermediário (do metronidazol reduzido) + a formação de radicais livres citotóxicos, são responsáveis pela inibição da síntese do DNA e da síntese de enzimas pelos microrganismos. - Então, na presença do metronidazol, elétrons são gerados pela PFO, e esses elétrons são doados para o metronidazol, transformando-o em metronidazol reduzido. Com o metronidazol reduzido, ocorre a formação de um nitroânion (que é um radical livre citotóxico). Tanto a forma Farmacologia Amanda Maia – Med 104C intermediária do metronidazol, quanto o radical livre são citotóxicos e, são formados com produtos intermediários da oxirredução (ocorrida pela PFO). - A via da PFO, reduz o metronidazol, dando origem a nitronidazol reduzido + radicais livres. Esses radicais livres e o 5-nitromidazol reduzido, causam danos oxidativos, levando à morte celular. Recapitulando: Microrganismos anaeróbios tem uma via proteica de oxirredução, que levam uma enzima chamada PFO. Essa enzima doa elétrons para as moléculas de metronidazol, secnidazol e tinidazol, transformando esses nitromidazois em radicais tóxicos que são produtos intermediários do metabolismo dessas drogas. Dando origem a radicais livres e ao próprio nitromidazol reduzido, que vão causar dano oxidativo na célula, levando à morte celular (tanto de bactérias anaeróbias, quanto de protozoários). Mecanismos de resistência dos nitroimidazois: Raro Alteração na permeabilidade à droga, com isso a droga não consegue entrar. Modificação no metabolismo, com diminuição da sua nitrorredução Microrganismos aeróbios da flora vaginal, tais como E.coli, Enterococcus, Proteus e outros podem absorver o metronidazol, com isto, diminuindo sua concentração local. OBS: As infecções por anaeróbios são muitas vezes infecções polibacterianas, envolvendo gram+, gram- e anaeróbios. Quando isso acontece, o nitroimidazol vai para dentro do microrganismo aeróbio e diminui a quantidade de droga no meio para agir contra o anaeróbio. Por isso, quando vamos tratar uma infecção por anaeróbio, como ela é polibacteriana, o esquema antibiótico, também é de poliantibiótico. Exemplo: Um paciente com abcesso pélvico, pode ser uma infecção anaeróbia. Vamos fazer um esquema do tipo: ampicilina + amicacina ou gentamicina + metronidazol. Um para aeróbio gram+, outro para aeróbio gram – e outro para anaeróbio. Ou um esquema mais pesado, como: vancomicina + gentamicina + metronidazol ou vancomicina + meropenem + metronidazol. Espectro de ação: Bactérias anaeróbias de todos os gêneros: Peptococcus, Peptostreptococcus, Veillonella, Clostridium, Fusobacterium e Bacteroides, incluindo o Bacteroides fragilis e o Clostridium difficile. Pouco eficaz contra os anaeróbios dos gêneros Eubacterium, Propionibacterium, Lactobacillus e Actinomyces. Tem ação contra Helicobacter pylori (1ª opção claritromicina + amoxicilina), Gardnerella vaginalis (causa vulvovaginite) e Campylobacter fetus. Não atua contra os cocos e bacilos aeróbios. Potente ação contra protozoários anaeróbios, incluídos Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Trichomonas vaginalis e Balantidium coli. Farmacocinética: Vias: oral, IV, vaginal e tópica. Completamente absorvido por via oral Meia-vida plasmática de 8 horas < 20% ligação a proteínas Boa concentração no LCS Metabolismo hepático >75% eliminado na urina como metabólito, 10% como fármaco inalterado Indicações: Infecções genitais por Thricomonas Todas as formas de amebíase, incluindo colite (ameba intestinal) e abcesso hepático (ameba extraintestinal) Giardíase Infecções por bactérias anaeróbias susceptíveis Em associação a outros agentes para tratamento de infecções polibacterianas com aeróbios e anaeróbios Farmacologia Amanda Maia – Med 104C Vaginoses bacterianas: gardnerella, thricomonas. Profilaxia em cirurgia colorretal: é uma droga utilizada quando se invade o colón e o reto (que tem colonização por anaeróbios), e por isso, na cirurgia, precisamos prevenir a infecção por anaeróbios. Então, faz na indução anestésica, o metronidazol associado a uma cefalosporina (normalmente de 1ª ou 2ª geração). No esquema alternativo para H.pylori Colite pseudo-membranosa: colite pelo clostridium difficile (ele é feito em associação com vanco → metronidazol IV + vancomicina VO) Agudização da doença inflamatória intestinal: na Doença de Crohn por exemplo, em que ele vai servir tanto para diminuir a proliferação dos anaeróbios do colón, quanto como mediador inflamatório. Efeitos adversos: Cefaleia, náusea, boca seca, vômito, diarreia, dor abdominal Gosto metálico na boca Língua saburrosa, glossite, estomatite (candidíase): já que ele mata os anaeróbios da boca. Neutotoxicidade (raro): encefalite, convulsão, falta de coordenação, ataxia, parestesia Urticária, rubor, prurido → também são raros Interação com álcool Hepatotoxicidade OBS: Todas as drogas que acabam em “azol” são hepatotóxicas. Elas sofrem metabolismo pelo sistema citocromo P (CYP), e isso faz com que elas tenham interação com álcool. Ou seja, passou um metronidazol ou um secnidazol para um paciente, tem que avisa-lo que no ciclo do fármaco, não pode beber → dá hepatite! Teratogenicidade: não pode usar em nenhuma fase da gestação OBS: Alguns autores