Farmacologia Amanda Maia – Med 104C Anti-Herpesvírus O primeiro agente antiviral descoberto foi a Vidarabina → 1977 (é uma droga extremamente tóxica) O primeiro antiviral eficaz que nós temos é o Aciclovir, que entrou no mercado em 1982. O aciclovir é uma droga bastante eficaz para um grupo de vírus que causa comumente doença em humanos que são os vírus da família Herpes (HVS 1 e 2) e, também, o vírus varicela-zoster (VZV → causador da varicela, da catapora e da herpes zoster). São inibidores da síntese do DNA viral. Basicamente, eles são inibidores de uma enzima que replica o DNA viral, chamada de DNA-polimerase. a) ACICLOVIR (nome comercial: Zovirax) É um análogo acíclico de um nucleosídeo chamado guanina. Ele entra no núcleo da célula infectada fingindo que é um nucleosídeo, e acaba sendo incorporado por essa enzima viral (DNA-polimerase) e impede a replicação desse DNA viral. É uma droga com baixíssima biodisponibilidade, ou seja, pouco da droga administrada atinge a circulação. Isso acontece porque ele sofre metabolismo de primeira passagem, e quando ele é absorvido, ele passa no fígado e é rapidamente degradado. Para tentar vencer essa baixa biodisponibilidade pelo mecanismo de primeira passagem, usa-se uma estratégia que é chamada de pró-fármaco (pró-droga). Pró-fármaco: administração do fármaco em uma forma que ele precisa ser metabolizado; precisa sofrer um metabolismo de primeira passagem hepática para poder ser transformado na sua forma ativa. Com isso, o aciclovir pode ser administrado na forma de Valaciclovir, para poder aumentar a sua biodisponibilidade oral. Com isso, o valaciclovir é metabolizado em aciclovir + valina. Sendo assim, o aciclovir ganha a circulação numa concentração maior do que se fosse administrado sozinho. Existe o aciclovir próprio (oral, tópico, venoso), mas tem também o pró-fármaco do aciclovir (valaciclovir) que sofre metabolismo de primeira passagem, virando aciclovir + valina, usando-se disso numa estratégia para aumento da biodisponibilidade oral do fármaco. Mecanismo de ação Inibem a síntese do DNA viral Interação com duas proteínas virais: - HSV-timidinacinase - DNA-polimerase A timidinacinase do vírus tem uma afinidade pelo aciclovir, 200 vezes maior do que pela timidinacinase dos mamíferos. As enzimas celulares convertem (40-100 vezes maior nas células infectadas por HSV) o monofosfato em trifosfato de aciclovir competindo pelo trifosfato de desoxiguanosina (dGTP) endógeno. O trifosfato inibe competitivamente as DNA- polimerases O trifosfato também é incorporado ao DNA- viral – elemento de terminação da cadeia Inativação irreversível da DNA-polimerase OBS: Portanto, os locais de ação do aciclovir são essas 2 enzimas. Ele precisa primeiro se ligar a timidinacinase, para depois se ligar a DNA- polimerase. Essa primeira enzima (timidinacinase) precisa converter o aciclovir até a forma de trifosfato de aciclovir. Ela transforma o aciclovir em monofosfato, depois em difosfato, até chegar em trifosfato. Então ela doa 3 fosfatos para o aciclovir. Farmacologia Amanda Maia – Med 104C O aciclovir, quando está na forma de trifosfato, ganha capacidade de adentrar o núcleo da célula hospedeira do vírus. E quando ele adentra o núcleo, o trifosfato de aciclovir inibe competitivamente a DNA-polimerase do vírus. Então, esse trifosfato de aciclovir é incorporado ao DNA viral, como um elemento terminal da cadeia de DNA, inativando irreversivelmente a DNA-polimerase. Mecanismo de resistência: Ausência ou produção parcial de timidinacinase viral (mais comum): uma célula infectada que não produz timidinacinase ou produz pouca timidinacinase. Se eu tenho pouca timidinacinase ou nem tenho, eu não serei capaz de transformar o aciclovir em forma de trifosfato. E, se o aciclovir não é transformado na forma de trifosfato, ele não consegue agir e inibir o seu sítio de ação (DNApolimerase) Alteração da especificidade do substrato da timidinacinase (não fosforila o aciclovir): o vírus produz timidinacinase, porém, timidinacinase alterada (com pouca especificidade pelo aciclovir). Então essa timidinacinase não vai conseguir fosforilar o aciclovir. Alteração da DNA polimerase viral (raro): é um mecanismo de resistência por mutação/alteração da DNA-polimerase viral. Espectro de ação: HSV-1 HSV-2 (2 vezes menos ativo) VZV (10 vezes menos potente) - Aciclovir e valaciclovir também são ativos contra catapora e varicela. São menos potentes, mas servem. Tanto para catapora (doença cutânea, doença respiratória, SNC), quanto para o vírus varicela (herpes zoster). Epstein Barr (EBV) – (10 vezes menos potente) - eles são menos potentes e não se justifica. A doença causada pelo EBV é a mononucleose infecciosa. Apesar do aciclovir ter ação sobre esse vírus, ele não é indicado para mononucleose infecciosa. OBS: Mononucleose infecciosa → pus, linfonodomegalia cervical, hepatomegalia, esplenomegalia, febre. É uma doença autolimitada que não requer antiviral. Não muda o ciclo da doença, usar ou não antiviral. Citomegalovírus (CMV) – Menos ativo (um antiviral específico para o CMV, que é o ganciclovir.) Herpesvírus Humano 6 (HHV) - causa uma doença benigna, normalmente em crianças, chamada roséola. Então, não requer tratamento com aciclovir. OBS: Roséola → febre, exantema cutâneo. É uma doença bem auto-limitada de criança que não requer nenhum tipo de tratamento. Farmacocinética: Aciclovir: biodisponibilidade oral 10-30% Aciclovir IV, VO e tópico Valaciclovir (pró-droga - VO): biodisponibilidade 70% Distribui-se amplamente pelos líquidos corporais, LCS, feto, humor aquoso. Servindo, inclusive, para o tratamento empírico da meningite. OBS: Vanco + Ceftriaxone + Aciclovir → tratamento empírico para meningite (quando não se sabe o agente). Pois pode ser meningococo, haemophillus influenzae, pneumococo ou herpes. Absorção tópica baixa Meia vida 2,5 hrs OBS: Baixa disponibilidade + Meia-vida curta nos obriga a ciclar/administrar ele 5 vezes ao dia. Essa baixa disponibilidade e meia vida Farmacologia Amanda Maia – Med 104C curta, nos obriga a administrar o aciclovir de 4 em 4 horas. 15% metabolizado Eliminado por filtração glomerular Doses: Aciclovir de 200 a 400mg 5x ao dia Valaciclovir 1.000mg 2x ao dia IV – 5mg/kg 8/8h (O venoso é o aciclovir, mas como ele é venoso não sofre metabolismo de primeira passagem, o que vai aumentar a biodisponibilidade e nos permitir administração 3x ao dia, de 5mg/kg) Indicações: Infecções genitais por HSV Gengivoestomatites: estomatite herpética → afta oral e afta gengival Herpes orolabial (lesões da junção mucocutânea da pele) → aciclovir tem um menor benefício. Não adianta fazer oral (acaba fazendo aciclovir tópico, só para diminuir o incômodo/dor do paciente, e não para diminuir o ciclo da doença). Uso tópico (para diminuir a dor) Profilaxia no parto de mães com herpes genital OBS: Eles não são drogas teratogênicas. Servem para utilizar no parto. Se uma mãe tem herpes genital, pode usar o aciclovir, no momento do parto, para evitar a transmissão vertical do herpes. Lesões mucocutâneas (imunossuprimidos – dose dobrada 800mg): em pacientes imunossuprimidos e em pacientes com herpes zoster tem que dobrar a dose. Disseminação visceral da Herpes – IV: no imunossuprimido, na esofagite herpética, por exemplo, internamos o paciente e fazemos IV.