Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONFIBILIDADE DE SISTEMAS Aline Morais da Silveira Sistemas em série, paralelo e mistos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar sistemas em série e em paralelo. Exemplificar aplicações de sistemas em série e em paralelo em engenharia. Calcular a confiabilidade de sistemas em série, em paralelo e mistos. Introdução A confiabilidade de um sistema depende da forma como seus compo- nentes estão arranjados — quanto menor for a dependência entre os componentes, maior será a confiabilidade do sistema. Os sistemas podem ser em série, em paralelo ou mistos, sendo a escolha realizada conforme a necessidade, para que sejam utilizados nas mais diversas aplicações. Neste capítulo, você vai estudar os sistemas em série, em paralelo e mistos e suas principais aplicações no ramo da engenharia. Você também vai verificar como calcular a confiabilidade desses sistemas. Sistemas em série e em paralelo Segundo Fogliatto e Ribeiro (2009) sistema é o conjunto de componentes interconectados segundo um projeto determinado, de forma a realizar um conjunto de funções de maneira confi ável e com bom desempenho. A forma como os componentes são arranjados infl uencia diretamente na confi abilidade e no desempenho do sistema. Os sistemas, muitas vezes, são representados por meio de diagramas de blocos, em que cada bloco pode representar um componente ou um subsistema, descrevendo a função do sistema. Se o sistema possui mais de uma função, pro- vavelmente necessitará de mais de um diagrama de blocos, um para cada função. A análise de confiabilidade de um sistema normalmente é estática; ou seja, para obter o perfil de confiabilidade do sistema ao longo do tempo, é necessário repetir a análise para diferentes momentos no tempo. Além disso, para a análise de um sistema e a possibilidade de efetuar cálculos, o sistema pode ter dois diferentes status: operante ou não operante. A forma como os componentes do sistema estão interligados determina se o sistema é em série, em paralelo ou misto (série e paralelo). Sistemas em série Em um sistema em série, como ilustrado na Figura 1, os n componentes estão conectados de forma que, se um componente falhar, todo o sistema falha. Os sistemas em série também são chamados de sistemas de corrente, pois a falha do sistema é controlada pelo elo mais fraco. Figura 1. Diagrama de blocos de um sistema em série. Fonte: Adaptada de Fogliatto e Ribeiro (2009). Sistemas em paralelo Em um sistema em paralelo, a falha do sistema ocorrerá se, simultaneamente, todos os componentes apresentarem falha. Os sistemas em paralelo são sistemas redundantes, em que vários componentes dividem a mesma tarefa ao mesmo tempo — redundância ativa — ou, então, alguns componentes fi cam em estado de espera — redundância passiva —, para que, à medida que algum componente falhar, os componentes redundantes sejam colocados em operação. Sistemas em série, paralelo e mistos2 Os sistemas em paralelo podem ter diferentes configurações: 1. puro (Figura 2a); 2. com redundância em standby (Figura 2b); 3. com carga compartilhada (Figura 2c). Os dois últimos são mais comuns na prática, conforme lecionam Fogliatto e Ribeiro (2009). Figura 2. Sistemas em paralelo: (a) puro, (b) com redundância em standby e (c) com carga compartilhada. Fonte: Adaptada de (a) e (b) Beck (2019); (c) Fogliatto e Ribeiro (2009). O sistema em paralelo puro é o sistema no qual a redundância é ativa e todas as componentes estão em operação ao mesmo tempo. No sistema em paralelo com redundância em standby, o componente em standby está presente no sistema, mas fora de operação, para que seja ativado somente quando um dos componentes em operação falhar. A troca de um componente por outro pode ser feita por meio de algum dispositivo automático, ou então por um operador que executa a troca de forma manual. No sistema em paralelo com carga compartilhada, a taxa de falha dos componentes sobreviventes aumenta à medida que falhas ocorrem, pois quando um componente falha, os demais precisam suprir a sua carga. Sistemas mistos Em muitas aplicações reais, sistemas mistos, que são combinações de subsis- temas em série e em paralelo, são comuns. Para facilitar a análise, os sistemas são reduzidos a sistemas paralelo-série (Figura 3a) ou série-paralelo (Figura 3b). 3Sistemas em série, paralelo e mistos Figura 3. Diagramas de blocos de sistemas (a) em paralelo-série e (b) em série-paralelo. Fonte: Adaptada de Fogliatto e Ribeiro (2009). Conforme Fogliatto e Ribeiro (2009), os sistemas em paralelo-série apre- sentam redundância no nível do sistema, que também pode ser chamada de redundância de alto nível. Esses sistemas são compostos por m subsistemas em paralelo de n componentes em série. Já os sistemas em série-paralelo apresentam redundância no nível do com- ponente, também chamada de redundância de baixo nível. Eles são compostos por n subsistemas em série compostos por m componentes em paralelo. Para os sistemas apresentados na Figura 3, que apresentam a mesma quantidade de componentes, quando se deseja determinar qual arranjo resulta em um sistema com maior confiabilidade, é necessário avaliar a confiabilidade dos componentes. Segundo Fogliatto e Ribeiro (2009), a redundância de baixo nível resulta em sistemas com confiabilidade tão grande quanto a de sistemas com redundância de alto nível, mas, quando os componentes apresentam alta confiabilidade (R > 0,9), essa diferença não é tão significativa. Fogliatto e Ribeiro (2009) apontam que, sempre que possível, é melhor a opção com componentes sobressalentes (série-paralelo) do que com sistemas sobressalentes (paralelo-série), pois: R (série-paralelo) ≥ R (paralelo-série) Segundo Beck (2019), para trabalhar com sistemas mistos mais complexos, muitas vezes a melhor opção é identificar os caminhos de falha, ou seja, todas as possibilidades de falhas que podem ocorrer em determinado sistema. Na Figura 4 são ilustrados, por meio da linha pontilhada, os cinco caminhos de falha possíveis para essa configuração. Sistemas em série, paralelo e mistos4 Figura 4. Caminhos de falha para um sistema com associação mista de componentes. Fonte: Adaptada de Beck (2019). Por meio dessa separação em caminhos de falhas, é possível que os componentes afetados pelas falhas sejam analisados e que formas de evitar a ocorrência das falhas sejam estudadas, para que, pelo menos, seus efeitos sejam minimizados. A análise por meio de caminhos de falhas é bastante comum em sistemas estruturais da construção civil, em que diversos fatores podem causar falhas, como ferragens, areia, cimento, quantidade de água, etc. Sistemas k-em-n Sistemas em série, em paralelo ou mistos podem ser exemplos de sistemas k-em-n, ou seja, o sistema somente estará em funcionamento se k ou mais de seus n componentes estiverem operantes. Segundo Beck (2019), quando k = 1, temos um sistema em paralelo, pois a operação de um único componente garante a operação do sistema. Já quando k = n, temos um sistema em série, que só opera se todos os componentes estiverem operando. Para os casos em que 1 < k < n, temos sistemas mistos, cujo comporta- mento se aproxima de um sistema em paralelo quando k se aproxima de 1, e se aproxima de um sistema em série quando k se aproxima de n. 5Sistemas em série, paralelo e mistos Aplicações de sistemas em série e em paralelo Segundo Fogliatto e Ribeiro (2009), os sistemas em série são muito utilizados em projetos de produtos industriais, pois, como não possuem redundância de componentes, normalmente apresentam menor custo. Outros exemplos de aplicações do sistema em série, conforme aponta Fogliatto ([2019?]), são: as impressoras (Figura 5a), em que, para que uma cópia seja realizada, cada etapa depende da etapa anterior; o telefone sem fio (Figura 5b), cujo sistema é composto pela fonte, pela base e pelo telefone, e, se um deles apresentar algumafalha, nenhuma ligação pode ser realizada ou recebida; o motor elétrico-bomba (Figura 5c), segundo Stonner (2013), é um exemplo de sistema em série, pois, se o motor elétrico falha, o sistema para de funcionar, e, da mesma forma, se a bomba falhar, o sistema para de bombear; os enfeites de natal (Figura 5d), normalmente, são associações de lâm- padas em série, fazendo com que, se uma lâmpada queimar, todas as demais se apaguem. Figura 5. Sistemas em série: (a) impressora, (b) telefone sem fio, (c) motor elétrico- -bomba e (d) enfeites de natal. Fonte: Adaptada de (a) Giantomaso (2017), (b) Moreira (2011), (c) Motores... ([2018?]) e (d) Pisca-pisca... (2015). Sistemas em série, paralelo e mistos6 Painéis fotovoltaicos (Figura 6), responsáveis pela geração de energia elétrica a partir da energia solar, podem ser formados a partir da um sistema em série de módulos fotovoltaicos, sendo possível obter tensões mais eleva- das, mantendo a corrente estipulada do módulo, conforme leciona Carneiro (2010). Eles também podem ser formados a partir de um sistema em paralelo de módulos fotovoltaicos, quando se deseja obter correntes mais elevadas, mantendo a tensão estipulada para o módulo. Figura 6. Painéis fotovoltaicos. Fonte: Painéis... ([2018?], documento on-line). Outro exemplo de sistema em paralelo, segundo Stonner (2013), é uma sala iluminada por diversas lâmpadas (Figura 7a). Se uma lâmpada falhar, mesmo que a iluminação da sala diminua, as demais lâmpadas continuarão em funcionamento. Caso ocorra a falta de energia elétrica, nenhuma das lâmpadas vai funcionar, sendo necessário um sistema em paralelo, com redundância em standby, acendendo lâmpadas de emergência (Figura 7b). A geração de energia de um hospital é outro exemplo de sistema em paralelo com redundância em standby. O hospital é abastecido pela rede de distribuição de energia, mas, no caso de falta dela, geradores reservas (Figura 7c) estão disponíveis para serem acionados. 7Sistemas em série, paralelo e mistos Figura 7. Sistemas em paralelo: (a) lâmpadas, (b) lâmpada de emergência e (c) gerador de energia elétrica. Fonte: Adaptada de (a) Sistema Myway (2017), (b) Luminárias... ([2018?]) e (c) Gerador... ([2018?]). O arranjo em paralelo com carga compartilhada é bastante utilizado em turbinas de avião. Se uma das turbinas deixa de operar, as turbinas remanes- centes deverão sustentar uma carga de operação maior, o que acarretará em aumento na sua taxa de falha. Normalmente, o funcionamento dessas turbinas é no sistema k-em-n, em que pelo menos duas das quatro turbinas devem operar para que o avião opere corretamente. Outros exemplos de sistemas k-em-n, segundo Fogliatto ([2019?]), são: centrais de geração de energia elétrica, que, normalmente, operam com dois ou três geradores, mas apenas um é suficiente para atender a demanda; Sistemas em série, paralelo e mistos8 pontes suspensas, que são fabricadas com cabos compostos por milhares de fios de aço, sendo que apenas uma fração dos fios já é suficiente para suprir a necessidade; carros com cinco pneus, sendo um deles o estepe, em que pelo menos quatro precisam estar em condições de funcionamento. Cálculo da confiabilidade Sabendo a confi abilidade individual dos componentes de determinando produto ou sistema e a forma como eles operam, é possível calcular a confi abilidade total. Isso é de suma importância para que se saiba o impacto que uma falha pode trazer ao produto ou sistema. Para determinar a confiabilidade de um sistema em série, é necessário conhecer as confiabilidades individuais de todos os componentes no momento da análise. Dessa forma, a confiabilidade do sistema em série é: Para essa configuração, a confiabilidade do sistema decresce rapidamente à medida que o número de componentes aumenta. A confiabilidade de um sistema em série nunca será maior do que a confiabilidade do componente menos confiável. A confiabilidade de um sistema em série composto por n componentes idênticos é: onde P é a probabilidade de falha, também chamada de não confi abilidade. A confiabilidade do sistema em paralelo puro, em que as falhas não afetam a confiabilidade dos componentes “sobreviventes”, é: 9Sistemas em série, paralelo e mistos A confiabilidade de um sistema em paralelo com redundância em standby, com dois componentes que apresentam taxa de falhas (λ) constante e igual é: A confiabilidade de um sistema misto paralelo-série é: onde j representa o componente, i o subsistema, e Rij é a confi abilidade do j-ésimo ( j = 1, ..., n) componente localizado no i-ésimo (i = 1, ..., m) subsistema em série. Para o caso em que todos os componentes do sistema são idênticos, com confiabilidade R, a confiabilidade do sistema paralelo-série é: A confiabilidade de um sistema misto série-paralelo é: onde j representa o componente, i o subsistema, e Rij é a confi abilidade do j-ésimo ( j = 1, ..., m) componente localizado no i-ésimo (i = 1, ..., n) subsistema em série. Para o caso em que todos os componentes do sistema são idênticos, com confiabilidade R, a confiabilidade do sistema série-paralelo é: Sistemas em série, paralelo e mistos10 Todos os cálculos apresentados anteriormente são realizados considerando a inde- pendência entre os componentes do sistema, o que pode levar a resultados pouco realistas. Para considerar a dependência dos componentes, são utilizados outros métodos, que modelam situações distintas e são bem mais complexos. BECK, A. T. Confiabilidade e segurança de estruturas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. CARNEIRO, J. Eletromagnetismo B: módulos fotovoltaicos — características e asso- ciações. Material didático. Mestrado Integrado em Engenharia Civil. Guimarães: Uni- versidade do Minho, 2010. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/ bitstream/1822/16961/1/M%C3%B3dulos%20Fotovoltaicos_Caracteristicas%20e%20 Associa%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em: 8 mar. 2019. FOGLIATTO, F. S. Confiabilidade de sistemas série, paralelo e mistos. Lâminas de aula. Porto Alegre: UFRGS, [2019?]. Disponível em: http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/ disciplinas/397_laminas_da_aula_4.pdf. Acesso em: 8 mar. 2019. FOGLIATTO, F. S.; RIBEIRO, J. L. D. Confiabilidade e manutenção industrial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. GERADOR de energia 13,1 kva à gasolina trifásico 220V partida elétrica — TG12000CXNE. Dutra Máquinas, São Paulo, SP, [2018?]. Disponível em: http://www.dutramaquinas. com.br/p/gerador-de-energia-13-1-kva-a-gasolina-trifasico-220v-partida-eletrica- -tg12000cxne. Acesso em: 8 mar. 2019. GIANTOMASO, I. HP 3636: descubra se vale a pena comprar a impressora de baixo custo. Techtudo, [s.l.], 2017. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/ noticia/2017/03/hp-3636-descubra-se-vale-pena-comprar-impressora-de-baixo-custo. html. Acesso em: 8 mar. 2019. LUMINÁRIAS de emergência LED 2.200 lúmens e 2 faróis. Dutra Máquinas, São Paulo, SP, [2018?]. Disponível em: http://www.dutramaquinas.com.br/p/luminaria-de-emergencia- -led-2-200-lumens-e-2-farois. Acesso em: 8 mar. 2019. MOREIRA, E. Review Philips CD1702B. Techtudo, [s.l.], 2011. Disponível em: https://www. techtudo.com.br/review/philips-cd1702b.html. Acesso em: 8 mar. 2019. 11Sistemas em série, paralelo e mistos MOTORES elétricos. Bombas Horizonte, Belo Horizonte, MG, [2018?]. Disponível em: http://bombashorizonte.com.br/motores-eletricos.php. Acesso em: 8 mar. 2019. PAINÉIS fotovoltaicos. Fenstenergy, Salvaterra de Magos, Portugal, [2018?]. Disponível em: https://fenstenergy.com/obras-items/paineis-fotovoltaicos-fixos-rotativos/. Acesso em: 8 mar. 2019. PISCA-PISCA e decoração de natal exigem cuidados para evitar choques. Jornal Novo Hamburgo, Novo Hamburgo, RS, 2015. Disponível em: https://www.jornalnh.com. br/_conteudo/2015/12/noticias/regiao/248913-pisca-pisca-e-decoracao-de-natal- -exigem-cuidados-para-evitar-choques.html. Acesso em: 8 mar. 2019. SISTEMA MYWAY. Certificação do Inmetro para lâmpadas LED: 4 coisasque você precisa saber. MyWay, São Paulo, SP, 2017. Disponível em: https://sistemamyway.com. br/certificacao-do-inmetro-para-lampadas-led-4-coisas-que-voce-precisa-saber/. Acesso em: 8 mar. 2019. STONNER, R. Sistemas em série e em paralelo. BlogTek, [s.l.], 2013. Disponível em: https:// blogtek.com.br/sistemas-em-serie-e-em-paralelo/. Acesso em: 8 mar. 2019. Sistemas em série, paralelo e mistos12
Compartilhar