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Autores: Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Profa. Cláudia Maria Martins Prof. Fernando Pinto Ribeiro Tópicos de Atuação Profissional GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Professores conteudistas: Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez / Cláudia Maria Martins / Fernando Pinto Ribeiro Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez (Ivy Ramirez) é mestranda em Educação, pós‑graduada em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas – Labjor/ Unicamp, bacharela e licenciada em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. É autora de material didático do Ensino Médio do Sistema de Ensino Objetivo e realiza trabalho de assessoria de Coordenação do Ensino Médio no Departamento de Programação Geral (DPG) do Colégio Objetivo em São Paulo e em outros estados do Brasil. Coordena o curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade EaD na UNIP – Universidade Paulista. Cláudia Maria Martins é doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC‑SP, mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, licenciada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá, bacharela e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Realizou estágio de iniciação científica no Laboratório de Planejamento Urbano e Territorial da Geografia da USP. Trabalhou como geógrafa nas Centrais Elétricas de São Paulo e na Fundação de Desenvolvimento Administrativo – Fundap, ocupando‑se de questões ambientais e de políticas públicas de saneamento, recursos hídricos e educação ambiental. Fernando Pinto Ribeiro é graduado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina, fez mestrado em desenvolvimento urbano e regional pela mesma instituição e doutorado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade de São Paulo, com estágio de intercâmbio no Instituto de Urbanismo de Grenoble, na França. Atuou como pesquisador no Laboratório Cidade e Sociedade ligado ao programa de pós‑graduação em Geografia da UFSC e no Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAU‑USP. Bolsista Fapesp de doutorado, investigou as recentes transformações da cidade contemporânea a partir do discurso sustentável. Também leciona Geografia na Unip e no Colégio Objetivo de São Paulo. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R173t Ramirez, Ivete Maria Soares Ramirez. Tópicos de atuação profissional. / Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez, Claudia Maria Martins, Fernanda Pinto Ribeiro. – São Paulo: Editora Sol, 2016 80 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑128/16, ISSN 1517‑9230. 1. Atuação profissional. 2. Geografia. 3. Docência. I. Martins, Claudia Maria. II. Ribeiro, Fernanda Pinto. III. Título. CDU 91 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ana Luiza Marcilia Brito Vitor Andrade GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Sumário Tópicos de Atuação Profissional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 A GEOGRAFIA .......................................................................................................................................................9 1.1 O ofício do geógrafo ........................................................................................................................... 11 1.2 Áreas de atuação .................................................................................................................................. 13 2 LEGISLAÇÃO DO OFÍCIO DO GEÓGRAFO ................................................................................................ 15 3 GEÓGRAFOS CÉLEBRES DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO INTERNACIONAL ...................................................................................................................... 19 3.1 O Período Clássico e Idade Média .................................................................................................. 20 3.2 Filósofos modernos e contemporâneos ...................................................................................... 21 4 GEÓGRAFOS CÉLEBRES BRASILEIROS ..................................................................................................... 25 Unidade II 5 A GEOGRAFIA, A LINGUAGEM E O CONCEITO MODERNO DE GEOGRAFIA .............................. 36 5.1 Histórico da caracterização geográfica ....................................................................................... 36 6 O TRABALHO DA DOCÊNCIA – SER PROFESSOR DE GEOGRAFIA ................................................ 38 6.1 O conceito e os atributos de um professor reflexivo ............................................................. 39 6.1.1 Valorizar o patrimônio natural e cultural em âmbito local e mundial ............................. 44 7 EXEMPLOS DE ORGANIZAÇÃO DE AULAS ............................................................................................. 47 7.1 Uma aula inaugural ............................................................................................................................. 47 7.2 Aula instrucional .................................................................................................................................. 49 8 PLANEJAMENTO É TUDO (BEM COMO O PLANO DE AULA) PARA UM BOM DESEMPENHO DOCENTE .............................................................................................................. 54 8.1 Exemplo prático de estudo geográfico ....................................................................................... 58 8.2 Relatório de Monitoramento Global de Educação ................................................................. 66 7 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 APRESENTAÇÃO Para expressarmos os Tópicos de Atuação Profissional no campo da Geografia, voltamo‑nos ao passado e o comparamos com o momento contemporâneo. O geógrafo profissional enquanto pesquisador atuante ou como professor tem seuscódigos a serem cumpridos, uma ética de trabalho, como em qualquer outro campo profissional. Os tempos mudaram, vivemos em um mundo marcado por inovações técnicas, instrumentais. A Geografia também mudou, novos referenciais foram incorporados a ela, exigindo novas posturas ao ensinar. O ensino tradicional, em que os conteúdos eram predominantemente memorizados, já não mais prevalece, atualmente, buscamos uma nova abordagem para a Geografia escolar, agora de uma maneira mais dinâmica. O educador, como geógrafo, deve ter consciência do seu papel articulador do vasto universo de informações que devem ser transmitidas aos alunos de uma forma dinâmica, desde o seu espaço de vivência, até outros mais distantes. É mister evidenciar a importância da Geografia enquanto campo de conhecimento. O geógrafo, portanto, deve promover um resgate epistemológico, indicando soluções para qualificar o processo de aprendizagem ou a transmissão de conteúdos como consequência de uma metodologia e didática contemporâneas, apresentando a Geografia de maneira prazerosa e funcional. A ciência geográfica, assim como outras ciências, ao preocupar‑se com seu objeto de investigação, faz com que a atuação do profissional seja questionada. O geógrafo interessa‑se, muitas vezes, apenas por questões técnicas ou de caráter natural, ignorando os aspectos sociais que podem interferir em suas pesquisas. Por isso, devemos considerar que as questões sociais são muito importantes para a complementação dos estudos geográficos e para a formação do cidadão quando se transpõe a cientificidade ao conteúdo escolar. O que faz então o geógrafo? Ele elabora mapas, faz sua leitura e interpretação, analisa questões econômicas, sociais, planeja e organiza sistemas de circulação logística rural e urbana, trabalha com análise de imagens aéreas de aerofotos e de satélites, trabalha com estatísticas populacionais, com estratégias de ocupação do espaço para evitar impactos ambientais e quando professor(a) deve ensinar aos seus alunos os conceitos principais da disciplina e os itens anteriormente citados. O geógrafo tem um amplo campo de ação em planejamento urbano, assessoria na área rural, nas questões ambientais, na análise populacional, impactos ao meio ambiente, ações geopolíticas etc. Já o professor de Geografia deve compartilhar desse conhecimento a fim de mostrar aos seus alunos a realidade que o cerca e outras mais distantes. Existe uma característica inerente aos estudos geográficos, uma vez que eles se inserem em campos científicos afins, seja nas ciências naturais, seja nas ciências humanas. Tratam‑se de conteúdos geográficos, que nem sempre se inserem no âmbito das experimentações, dependendo, no entanto, do teor do tema a ser investigado. O laboratório da Geografia é a própria natureza, a biodiversidade que a compõe e os grupos humanos que se inserem no espaço geográfico, nos lugares. No entanto, quando ocorre uma especialização, estudamos geograficamente o solo, sua composição, seus problemas, as questões atmosféricas, problemas relativos à água, análise de imagens, sejam elas de satélites, sejam de aerofotos. 8 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 É possível recorrer ao laboratório, mas não é uma regra geral, os estudos geográficos fundamentam‑se na observação, comparação e interpretação de dados. Assim, observamos o mundo complexo no que se refere aos fenômenos humanos e naturais, relacionamo‑nos e localizamo‑nos. Contudo, para chegarmos até esse momento da Geografia, foram necessários os estudos realizados por diversas escolas, como a Escola Alemã, representada por Alexander Von Humboldt (1769‑1859), com sua obra Descrição física do mundo; e por Friedrich Ratzel (1844‑1904), autor de Antropogeografia e Geografia Política, considerado o precursor da Geografia humana, e a Escola Francesa, cujos representantes, já no século XIX, foram Paul Vidal de La Blache (1845‑1918), com a obra Atlas geral e princípios da Geografia Humana; e Jean Brunhes, nascido em Toulouse (1869‑1930), com sua tese inédita e inovadora em estudos de Geografia humana, intitulada: A irrigação, suas condições geográficas, seus métodos e organização na Península Ibérica e norte da África: estudo de Geografia Humana. Em 1910, publica os Princípios da Geografia Humana na França. Nesse cenário os alemães simbolizavam a Escola Determinista e os franceses, o Possibilismo. Assim, desejamos o aproveitamento desse conteúdo para sua vida profissional presente e futura. INTRODUÇÃO Ser geógrafo e ensinar ou praticar a Geografia atualmente é, acima de tudo, passar a mensagem de que ela é uma ciência ativa, em constante inovação em termos de conteúdo e de atuação. O geógrafo deve gostar muito da natureza e de suas características e mudanças, inteirar‑se dos aspectos humanos e de suas variações de aspectos econômicos e políticos. Também é preciso ter muita curiosidade sobre leituras e bibliografias variadas, e é um profissional sempre em busca de informações e sugestões para mudanças e melhorias em várias áreas. Neste livro‑texto, destacamos as funções do geógrafo, como pesquisador e como docente, a importância do seu trabalho e as contribuições para esse campo do conhecimento. Também priorizamos alguns renomados geógrafos internacionais e nacionais, cuja contribuição foi altamente significativa para a evolução dos trabalhos desse campo científico. A vocês futuros pesquisadores e professores de Geografia, bons estudos! 9 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Unidade I 1 A GEOGRAFIA Podemos dizer que a Geografia surgiu praticamente junto com os primeiros hominídeos no planeta Terra, quando o ser humano toma contato com a natureza e estabelece formas de sobreviver, ou seja, quando toma contato com o meio em que vive e transita, enquanto nômade ou sedentário praticante da agricultura ou ainda como pastor, pescador etc. Povos antigos como na região da Mesopotâmia (Oriente Médio) entre os rios Tigre e Eufrates, ou no Vale do Rio Nilo, no Egito, já praticavam estudos da natureza, como dos seus cursos fluviais ou das formas de praticar melhor a agricultura, com regadios, terraços, entre outros. Assim, os grupos humanos procuravam criar relações mais próximas com a natureza, para se organizarem melhor, assim como os impérios da Antiguidade Clássica para que através desses conhecimentos estabelecessem uma satisfatória organização política e econômica. Na Idade Média as discussões giravam em torno da visão que se atribuía ao planeta, inclusive com a ciência antagonizando os dogmas definidos pela igreja. Todavia, foi no período das Grandes Navegações que os conhecimentos geográficos foram ampliados devido às necessidades de se representar o espaço e os caminhos marítimos mediante a colaboração dos navegantes e a conceituação das informações adquiridas nas novas terras coloniais descobertas, com dados sobre a biodiversidade e as riquezas naturais, saberes estes que passariam a fazer parte dos estudos geográficos. Entretanto, foi no século XIX, com obras de cunho geográfico atribuídas a Friedrich Ratzel, da Escola Determinista Ambiental, instituindo o conceito de espaço vital e também com Paul Vidal de La Blache, da Escola Possibilista, aceitando as mudanças que poderiam ser empreendidas pelo homem mediante o uso de tecnologia, que os estudos geográficos passaram a ser sistematizados. No caso brasileiro, a década de 1930 marca a institucionalização da Geografia objetivando o nacionalismo da economia, tornando‑se uma ferramenta para uso do Estado Nacional. Durante as décadas de 1940 e 1950, a Geografia brasileira apresentava‑se através de duas vias:• a que produzia conhecimento para uso na estrutura de ensino, com a formação e aperfeiçoamento do corpo docente; • a que visava ao novo sistema para estruturação do planejamento territorial. 10 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I Esta última teve o IBGE como principal agente, tanto no que se refere às estatísticas, quanto pela geodésia e pela cartografia, tratando ainda de estabelecer a conexão entre as duas vias mencionadas. Foram criados dos anos 1930 até o início de 1940 cursos de Geografia, em São Paulo, e afirmaram‑se como líder Pierre Mombeig, no Rio de Janeiro, com Pierre Deffontaines e a fundação da Universidade do Distrito federal, entre 1935 e 1939, e foi Deffontaines quem criou a AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros). Destacou‑se também, nesse período, Cristóvão Leite de Castro, quem estruturou o núcleo inicial de geógrafos do futuro Conselho Brasileiro de Geografia. Entre 1940 e 1956, a aproximação entre os geógrafos cariocas e paulistas se intensificaram com a chegada de Francis Ruelan. Com as conturbações políticas verificadas nos anos 1960 a 1970, período militar, ocorreram mudanças na matriz curricular dos Ensinos Fundamental e Médio, adotando‑se o ensino dos Estudos Sociais, associando a Geografia e a História, que eram ministrados de maneira superficial. Em 1978, um evento importante marca a Geografia, o Encontro Nacional dos Geógrafos Brasileiros, reunião essa considerada um marco, destacando‑se o intelectual da geografia crítica, o professor Milton Santos. Observação O principal geógrafo crítico brasileiro foi Milton Santos, que apontava que a Geografia deveria dignificar‑se a pensar no futuro de maneira ampla, complexa e não segregada, assim caberia a ela dominar o futuro e o homem de modo generalizado e amplo. Nos anos 1980, houve uma nova alteração, agora a dinâmica da sociedade era o centro das discussões e estas preconizavam as distintas relações de espaço de vivência do ser humano. Pensamentos marxistas ditavam movimentos sociais, objetivando a luta de classes, além de analisar e quantificar, era necessário criticar e transformar. Nos livros didáticos, ocorre a introdução da geografia crítica, encontrando obstáculos devido às divergências entre docentes: uns compreendiam a necessidade de construir um pensamento crítico; outros ainda acreditavam na prática tradicional, pautada na quantificação e memorização. Dessa forma, Santos (1988) mostrava que a natureza modificada pela ação antrópica em seu trabalho seria cada vez menos uma natureza amiga e cada vez mais hostil, sendo usada muitas vezes a serviço da dominação. Na década de 1990, diante de tantas correntes geográficas existentes, evidencia‑se a geografia humanista, que valoriza a percepção das sociedades sobre as paisagens transformadas. 11 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 1.1 O ofício do geógrafo Historicamente, durante toda a Antiguidade e a Idade Média, não se fez distinções entre filosofia e ciência, uma vez que não existiam instrumentos adequados e as observações realizadas e medidas não tinham condições de ser investigadas cientificamente. Isso fazia com que as descobertas realizadas fossem construídas de forma exclusiva por meio do raciocínio, com uma tendência à imprecisão. Ao fazermos uma reconstituição histórica, chegamos a Galileu, quem, no século XVII, atuou como pioneiro cientista, demonstrando a importância da realização de experiências e da obtenção de dados mais precisos. Assim, os mestres e filósofos de sua época baseavam seus estudos em princípios da escolástica, definida como uma doutrina filosófica e religiosa característica da Idade Média, que integrava o conhecimento religioso com a filosofia da Antiguidade, negando as ideias propostas por Galileu. Contudo, o método proposto por Galileu, agora de forma científica, marcou um novo ponto para investigações e, ao mesmo tempo, para construir conhecimento sobre a sociedade. Podemos considerar que esse foi o momento em que se separam a filosofia e a ciência, o que origina as ciências particulares modernas. Podemos, até mesmo, afirmar que toda instrução deriva de um processo histórico evolutivo, e, para chegarmos a uma compreensão daquilo que se apresenta hoje, é preciso uma volta ao passado. A razão de nos reportarmos a essas formas de pensar torna‑se muito importante quando pensamos na Geografia e nas modalidades de atuação nesse campo do saber. O ensino da Geografia bem como dos demais componentes curriculares têm que considerar necessariamente a análise e a crítica que se faz atualmente à instituição escola situando‑a no contexto político‑social e econômico do mundo e em especial do Brasil. Tanto a escola como a Geografia devem ser consideradas no âmbito da sociedade da qual fazem parte (CALLAI, 2001, p. 134). Devemos levar em conta, portanto, quando avaliamos a ciência e seus pressupostos, o campo de atuação do profissional da Geografia, a importância de relacionar os planejamentos escolares e os planos de aula para que seja possível construir a aprendizagem atribuindo valores aos estudantes, tanto de seu lugar de vivência, quanto de lugares distantes, no sentido de compreensão do valor da Geografia na sua vida. Quanto ao pesquisador, este deve priorizar o conhecimento adquirido a fim de elucidar ou aprimorar o trabalho, oferecendo informações e conclusões significativas para o campo da ciência. Também relacionamos o profissional da Geografia, seja ele pesquisador ou docente, ao tempo que consome o seu trabalho, o tempo especializado que se manifesta de modos diferentes em termos sociais, como disciplina, regulação dos atos a serem executados, e o tempo devir, como mobilização da experiência passada e a antecipação do porvir. Mostra‑se, finalmente, 12 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I que, embora estejam necessariamente vinculados ao trabalho, sendo ambos produtos sociais efetivos, existe um desequilíbrio claro na manifestação dos dois tipos (ZARIFIAN, 2002, p. 1). O sociólogo francês Philippe Zarifian, aborda a temática relativa ao tempo do trabalho e investiga a questão da produtividade considerando a interioridade recíproca entre o tempo e o trabalho. Saiba mais Sobre a obra do sociólogo francês e a sua posição acerca da relação trabalho e tempo, leia: ZARIFIAN, P. O tempo do trabalho: o tempo‑devir frente ao tempo espacializado. Tempo Social Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 1‑18, out. 2002. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/ts/ article/download/12380/14157>. Acesso em: 10 out. 2016. No exercício do magistério, o geógrafo deve ter consciência da sua responsabilidade e preparar‑se para transmitir o conhecimento, manifestando, assim, a sua competência. Dentre as numerosas concepções filosóficas do tempo, duas perspectivas sobressaem na medida em que possuem um impacto social significativo. Elas já estavam presentes nos debates da Grécia antiga: o tempo Chronos frente ao Aiôn. Gilles Deleuze relembrou‑nos notavelmente a diferença entre eles: “Chronos é o presente que existe e que faz do passado e do futuro suas duas dimensões sempre dirigidas, tais que se vai do passado ao futuro, mas à medida que os presentes se sucedem nos mundos ou nos sistemas parciais. Aiôn é o passado‑futuro em uma subdivisão infinita do momento abstrato, que não cessa de decompor‑se nos dois sentidos de uma só vez, esquivando para sempre todo presente” (DELEUZE, 1997, p. 95) (ZARIFIAN, 2002, p. 2). ObservaçãoGiles Deleuze (1925‑1995) foi um filósofo francês vinculado ao movimento pós‑estruturalista, e suas teorias referiam‑se à diferença e à singularidade. Foi um estudioso de filósofos importantes como Foucault, Kant, Bergson, Nietzsche e Espinosa. Aristóteles já dizia: “o movimento é a medida do tempo; o tempo é a medida do movimento”. Esse aparente paradoxo desaparece quando compreendemos que o tempo é socialmente definido como uma relação que se estabelece entre dois movimentos: 13 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • um movimento referencial, potencialmente universal e dotado de características muito precisas; • e o conjunto dos outros movimentos possíveis, heterogêneos, descontínuos. Lembrete O movimento circular dos astros serviu de referencial para Aristóteles. A Geografia trabalha com noções de tempo e movimento quando estuda elementos da astronomia e também da cartografia. 1.2 Áreas de atuação O trabalho do geógrafo é de fundamental importância social. Além do exercício docente, o bacharel em Geografia pode atuar como geógrafo junto a empresas, universidades e fundações. A seguir discorreremos sobre as atividades e a legislação que regulamenta a vida do geógrafo que trabalha nas áreas técnicas. Na prática, as principais tarefas dos geógrafos relacionam‑se, em síntese, a quatro áreas: • meio ambiente — elaboração de EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e Rima (Relatório de Impacto Ambiental), além de avaliar, fornecer laudos técnicos e manejo dos recursos naturais; — projeto de recuperação de espaços degradados e gerenciamento ambiental; — controle do uso das bacias hidrográficas e das regiões de conservação ambiental; — criação de projetos preventivos contra processos erosivos, assoreamentos e também recuperação de áreas com presença de erosões. • planejamento urbano e gestão das cidades — elaboração de planos diretores para cidades, zonas rurais, entre outros; — organização territorial; — instituir e administrar sistemas de informações geográficas; — gerenciamento na implantação de redes de transportes que oferecem condições de fluxo de pessoas, mercadorias e serviços; — estudo de mercado em diferentes escalas (local, regional e internacional); 14 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I — análise de regiões e seus aspectos para realização do planejamento; — estudos diversos acerca das populações e suas relações econômicas, sociais, culturais, políticas e demais assuntos relacionados. • cartografia e geoprocessamento — realização de mapeamento direcionado a inúmeros temas de abordagem; — construção e elaboração de mapas e cartas que delimitam territórios municipais, estaduais, nacionais e internacionais; — criação e análise de cartas de declividade ou topográfica e o estudo do relevo; — interpretação de foto aérea, imagem de radar, imagem de satélite e sensoriamento remoto; — geoprocessamento, uso do GPS e de programas de computador direcionados à cartografia. • atividades ligadas ao turismo — parecer técnico de potencial turístico e gerenciamento; — implantação de projetos ligados aos serviços do ecoturismo; — elaboração de roteiros, organização de excursões em parques e áreas de preservação ambiental. Para trabalhar nestas áreas, é necessário possuir bacharelado em Geografia. Em algumas instituições, o estudante, já no vestibular, opta entre o bacharelado ou a licenciatura, mas em algumas é permitido fazer esta escolha após o aluno ter cursado as disciplinas comuns às duas titulações. Algumas instituições, pensando na formação do geógrafo profissional, direcionam a formação para um campo específico, como meio ambiente (Fasar‑MG) ou climatologia (Unesp Ourinhos), enquanto a Unila (PR) tem um curso focado em América Latina. Depois de formado, para atuar na área técnica, é preciso que o bacharel em Geografia filie‑se ao Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e passe a pagar a anuidade da entidade. Questões de direitos profissionais, situação de profissionais sem rendimento, solicitação de registro ou reativação de registro, são resolvidas por esta via, daí a importância de estar devidamente assentado no sistema Crea‑Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia). No entanto, é bom salientar que apesar das remunerações de geógrafos técnicos serem, em média, superiores, principalmente quando comparados aos salários dos docentes da rede pública, no campo da licenciatura existe uma quantidade muito maior de vagas disponíveis. Além disso, a inserção no meio técnico, não raro, exige alguma qualificação que deve ser buscada num nível de pós‑graduação. Por exemplo, na área de geoprocessamento, campo que absorve grande número de profissionais geógrafos, 15 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL dentre outros, o conhecimento técnico necessário para atuar na área requer complementação dos estudos em nível de pós‑graduação lato sensu em geral. Independentemente da área em que o geógrafo atue, é preciso salientar que a importância do seu trabalho está na coligação com inúmeros campos, fazendo que este profissional, ainda que atue como técnico, sempre tenha como pano de fundo um nível de abrangência, seja na área ambiental, de planejamento ou de geoprocessamento. Isso porque, na formação do profissional, a ciência geográfica dialoga com muitos campos do saber, como o urbanismo, a economia, a sociologia, a biologia, entre inúmeras outras áreas. O essencial para o geógrafo é compreender os fenômenos socioespaciais buscando sua gênese. Para esse profissional, coloca‑se a consciência concreta de que os espaços, os territórios, as regiões, as paisagens e os lugares transformam‑se com o passar do tempo, mas essa transformação não deve ser encarada como um fenômeno inercial ao qual não temos acesso e só nos resta observar passivamente, pelo contrário, é necessário atuar para que essas mudanças ocorram de forma a promover a melhoria estética, funcional e de qualidade de vida de uma população. Lembrete Comemora‑se, no dia 29 de maio, o dia do geógrafo. 2 LEGISLAÇÃO DO OFÍCIO DO GEÓGRAFO A Associação Profissional de Geógrafos no Estado de São Paulo (Aprogeo‑SP) disponibiliza a relação das principais leis que regulamentam a profissão desde sua criação, em 1979. Saiba mais Para ter acesso às leis que regulamentam a profissão de Geógrafo, acesse: ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE GEÓGRAFOS NO ESTADO DE SÃO PAULO. Legislação, [s.d.]. Disponível em: <http://aprogeosp.org.br/legislacao.htm>. Acesso em: 2 set. 2016. Das leis regulamentadoras, a mais importante, que reproduziremos a seguir, é a lei de 1979, que institui a profissão do geógrafo: Lei nº 6.664, de 26 jun. 1979. Disciplina a profissão de Geógrafo e dá outras providências. O Presidente da República. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 16 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I Art. 1º – Geógrafo é a designação profissional privativa dos habilitados conforme os dispositivos da presente Lei. Art. 2º – O exercício da profissão de Geógrafo somente será permitido: (1) I – aos Geógrafos e aos bacharéis em Geografia e em Geografia e História, formados pelas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, pelos Institutos de Geociências das Universidades oficiais ou oficialmente reconhecidas; II – (vetado); III – aos portadores de diplomade Geógrafo, expedido por estabelecimentos estrangeiros similares de ensino superior, após revalidação no Brasil. Art. 3º – É da competência do Geógrafo o exercício das seguintes atividades e funções a cargo da União, dos Estados dos Territórios e dos Municípios, das entidades autárquicas ou de economia mista e particulares: I – reconhecimentos, levantamentos, estudos e pesquisas de caráter físico‑geográfico, biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e as realizadas nos campos gerais e especiais da Geografia que se fizerem necessárias: a) na delimitação e caracterização de regiões, sub‑regiões geográficas naturais e zonas geoeconômicas, para fins de planejamento e organização físico‑espacial; b) no equacionamento e solução, em escala nacional, regional ou local, de problemas atinentes aos recursos naturais do País; c) na interpretação das condições hidrológicas das bacias fluviais; d) no zoneamento geo‑humano, com vistas aos planejamentos geral e regional; e) na pesquisa de mercado e intercâmbio comercial em escala regional e inter‑regional; f) na caracterização ecológica e etológica da paisagem geográfica e problemas conexos; g) na política de povoamento, migração interna, imigração e colonização de regiões novas ou de revalorização de regiões de velho povoamento; h) no estudo físico‑cultural dos setores geoeconômicos destinados ao planejamento da produção; i) na estruturação ou reestruturação dos sistemas de circulação; 17 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL j) no estudo e planejamento das bases físicas e geoeconômicas dos núcleos urbanos e rurais; l) no aproveitamento, desenvolvimento e preservação dos recursos naturais; m) no levantamento e mapeamento destinados à solução dos problemas regionais; n) na divisão administrativa da União, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios. II – A organização de congressos, comissões, seminários, simpósios e outros tipos de reuniões, destinados ao estudo e à divulgação da Geografia. Art. 4º – As atividades profissionais do Geógrafo, sejam as de investigação puramente científica, sejam as destinadas ao planejamento e implantação da política social, econômica e administrativa de órgãos públicos ou às iniciativas de natureza privada, se exercem através de: I – órgãos e serviços permanentes de pesquisas e estudos, integrantes de entidades científicas, culturais, econômicas ou administrativas; II – prestação de serviços ajustados para a realização de determinado estudo ou pesquisa, de interesse de instituições públicas ou particulares, inclusive perícia e arbitramentos; III – prestação de serviços de caráter permanente, sob a forma de consultoria ou assessoria, junto a organizações públicas ou privadas. Art. 5º – A fiscalização do exercício da profissão de Geógrafo será exercida pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Art. 6º – O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia somente concederá registro profissional mediante apresentação de diploma registrado no órgão próprio do Ministério da Educação e Cultura. Art. 7º – A todo profissional registrado de acordo com a presente Lei será entregue uma carteira de identidade profissional, numerada, registrada e visada no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, na forma da Lei. Art. 8º – É vedado o exercício da atividade de Geógrafo aos que, 360 (trezentos e sessenta) dias após a regulamentação desta Lei, não portarem o documento de habilitação na forma prevista na presente Lei. 18 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I Art. 9º – A apresentação da carteira profissional de Geógrafo será obrigatoriamente exigida para inscrição em concurso, assinatura em termos de posse ou de quaisquer documentos, sempre que se tratar de prestação de serviços ou desempenho de função atribuída ao Geógrafo, nos termos previstos nesta Lei. Art. 10 – O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias. Art. 11 – Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 12 – Revogam‑se as disposições em contrário. JOÃO BAPTISTA DE FIGUEIREDO Presidente da República Murilo Macedo. Publicada no D.O.U. de 27 jun. 1979 – Seção I – Pág. 9.017 (BRASIL, 1979). Em seguida, destacamos o Decreto 92.290, que também disciplina a profissão de Geógrafo, a saber: Decreto 92.290, DE 10 de janeiro de 1986. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 81, item III, da Constituição e tendo em vista o disposto no artigo 2º da Lei nº 7.399, de 4 de novembro de 1985, DECRETA: Art. 1º – Além dos profissionais enumerados no artigo 2º da Lei nº 6.664, de 26 de junho de 1979, poderão exercer a profissão de Geógrafo: I – os licenciados em Geografia e em Geografia e História, diplomados em estabelecimentos de ensino superior oficial ou reconhecido que, em 28 de junho de 1979, estavam: a) com contrato de trabalho como geógrafo em órgão da administração direta ou indireta ou em entidade privada; b) exercendo a docência universitária. II – os portadores de títulos de Mestre e Doutor em Geografia, expedidos por Universidades oficiais ou reconhecidas; 19 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL III – todos aqueles que, em 28 de junho de 1979, estavam, comprovadamente, exercendo, há cinco anos ou mais, atividades profissionais de Geógrafo. Art. 2º – A prova do exercício profissional, a que se refere o artigo anterior, poderá ser feita por qualquer meio em direito permitido, notadamente, por anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, pagamento do Imposto Sobre Serviços ou de outros tributos e recolhimento da contribuição de Previdência Social. Art. 3º – Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º – Revogam‑se as disposições em contrário. Brasília, 10 de janeiro de 1986; 165º da Independência e 98º da República. JOSÉ SARNEY Almir Pazzianotto (BRASIL, 1986). Por fim, uma das leis mais recentes e importantes diz respeito às conquistas da categoria quanto à regulamentação das atribuições pertencentes aos geógrafos, para efeito de fiscalização do exercício profissional, é a Resolução nº 1.010, de 22 de Agosto de 2005. Saiba mais Para ter acesso à lei na íntegra, acesse: BRASIL. Resolução nº 1.010, de 22 de agosto de 2005. Dispõe sobre a regulamentação da atribuição de títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito de atuação dos profissionais inseridos no Sistema Confea/Crea, para efeito de fiscalização do exercício profissional. Brasília: DF, 2005. Disponível em: <http://normativos.confea. org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=550>. Acesso em: 2 set. 2016. 3 GEÓGRAFOS CÉLEBRES DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO INTERNACIONAL A Geografia enquanto ciência foi sistematizada no século XIX. Entretanto, muito antes disso, os homens já produziam saberes que poderíamos denominar geográficos. A própria palavra “geografia” fora criada pelo filósofo Erastóstenes ainda no século III a.C. Apresentaremos a seguir uma sinopse da contribuição dos principais geógrafos ocidentais desde a Antiguidade Clássica. 20 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I Num segundo momento, destacaremos a importante contribuição dos geógrafos brasileiros para a construção da Geografia voltada à compreensão das questõesreferentes ao território e sociedade brasileiros. 3.1 O Período Clássico e Idade Média Cartógrafos, topógrafos, exploradores, historiadores e naturalistas, estas eram as ocupações daqueles que construíram o conhecimento que hoje denominamos geográfico. A necessidade de estabelecer algum estudo sobre a natureza, a elaboração de mapas e a imposição de dominar novos territórios conquistados, assim como o aparecimento de fenômenos inexplicáveis, foram os fatores determinantes para o desenvolvimento desta ciência. • Heródoto: 484 a.C. a 425 a.C. – Macedônia Embora seja mundialmente conhecido por seu trabalho como historiador, ele também foi um importante geógrafo. Seus trabalhados geográficos eram sistematizados a partir do trabalho de viajantes da época que se lançavam a conhecer as terras recém‑conquistadas. Em seus escritos, ele descreve as características geográficas dos povos, além de ter deixado um legado cartográfico das áreas consideradas ecúmenas em sua época: Europa Central, Ásia e partes da África. • Eratóstenes: 276 a.C. a 194 a.C. – Alexandria Ele cunhou o termo “geografia”, designando o saber que fazia a escrita (grafia) da terra (geo). Dedicou‑se aos assuntos astronômicos por meio dos quais intentou calcular a circunferência exata da Terra, fazendo‑o com um erro de cerca de 2%, fato notório para a época, além de medir a inclinação da Terra e a distância desta para o Sol. Também cultivou um grande trabalho cartográfico, desenvolveu um dos primeiros mapas do mundo (276‑195 a.C.) e definiu os conceitos de latitude e longitude. Suas habilidades como poeta, astrônomo, filósofo e geógrafo permitiram‑no fazer estudos adotando diferentes pontos de vista. • Estrabão: 64 a.C. a 24 d.C. – Amasia Este geógrafo grego descritivo e historiador é conhecido por sua grande obra geográfica. Em vez de se ocupar das teorias astronômicas e cartográficos como Erastóstenes, preocupa‑se com a distribuição dos povos no planeta. Foi viajante incansável, o que lhe facultou desenvolver um trabalho geográfico de 17 volumes, descrevendo minuciosamente a geografia de todo o Império Romano. • Cláudio Ptolomeu: 100 d.C. a 170 d.C. – Canope Ptolomeu é conhecido mundialmente e atemporalmente por seus trabalhos cartográficos e astronômicos. Recolheu todo o conhecimento dos gregos, criando mapas do mundo posteriormente desenvolvidos e obras como Geographia. Ele foi um dos pioneiros a usar nos mapas o sistema de latitude e longitude, legado transmitido aos geógrafos e cartógrafos posteriores. 21 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • Muhammad Al-Idrisi: 1100 a 1165 – Ceuta Também conhecido como Al Idrissi, Al‑Idrisi, Charif Al‑Idrissi ou simplesmente Edrisi ou Idris. Foi geógrafo‑cartógrafo, além de botânico. Notabilizou‑se pela qualidade e precisão de seus mapas. Em 1154 confeccionou um grande mapa‑múndi utilizado atualmente, conhecido como a Tábula Rogeriana, acompanhado por um livro denominado Geografia. Em 1161, Al‑Idrisi realizou uma segunda edição ampliada, com o notável título de Os jardins da humanidade e o entretenimento da alma, que infelizmente se perdeu. Contudo, uma versão abreviada dessa edição, chamada Jardim dos Gozos ou Pequeno Idrisi foi publicada em 1192. Um feito notável deste cartógrafo foi dividir o mundo em sete faixas paralelas ao equador chamadas climas ou zonas. Dizem que seu trabalho apresenta mérito nos cálculos de projeções geométricas que o tornam equiparável a Mercator, que viverá no século XVI. 3.2 Filósofos modernos e contemporâneos • Alexander Von Humboldt: 1769 a 1859 – Alemanha Foi um notável viajante de formação multidisciplinar. Consagrou‑se com a obra Cosmos (1845), e por isso foi considerado o pai da geografia moderna. Fez viagens a diversos lugares como: Europa, América do Sul, México, EUA, Ilhas Canárias e Ásia Central, deixando grandes contribuições para a geografia física. Deixou numerosos estudos descritivos que incluíam inclusive uma abordagem histórica das análises geográficas. • Carl Ritter: 1779 a 1859 – Alemanha Ritter foi um dos principais geógrafos do século XIX. Estudou as relações entre o ambiente físico e humano e elaborou uma ampla geografia descritiva, tendo destaque a obra As ciências da Terra em relação à natureza e à história da humanidade, em 19 volumes. Sua teoria do espaço vital levava em consideração a configuração do ambiente físico nas sociedades humanas. • Friedrich Ratzel: 1844 a 1904 – Alemanha Sofre grande influência, em seu tempo, das “novas” teorias darwinianas, as quais tenta aplicar à Geografia, incorporando o determinismo geográfico já ensaiado por Carl Ritter. Fundador da geografia política moderna, notabilizou‑se pelas obras Antropogeografia geográfica (1891) e Geografia Política (1897). • Vidal de La Blache: 1845 a 1918 – França Conhecido na história do pensamento geográfico como fundador do “possibilismo”, corrente teórica, que se opõe ao “determinismo” geográfico, e que nega que as condições naturais do meio influenciem de forma decisiva as atividades humanas em determinado meio. La Blache preconizava que o homem distinguia‑se pela característica de mudar seu meio ambiente, e defendia que os estudos geográficos fossem realizados em escala regional. Outro conceito importante que trabalhou foi o de “gênero de vida”, representando a união observada em determinada área dos recursos naturais e a sociedade que se constituía a partir destes. Ele também fundou a revista francesa Annales de Geographie (1891), que 22 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I enfatizava os estudos regionais e a relação homem‑natureza, destacando a questão da paisagem como categoria geográfica. Publicou obras grandes como Princípios de Geografia Humana (1922) e Geografia universal (1927‑1948). • Élisée Reclus: 1830 a 1905 – França Foi um geógrafo anarquista e tornou‑se conhecido por seu trabalho em torno da geopolítica, no entanto, suas obras só foram valorizadas a partir de meados dos anos 1970 com a ascensão da geografia crítica. Foi exilado da França por ter participado da Comuna de Paris. Viajou pelo mundo e escreveu até um livro sobre o Brasil intitulada Estados Unidos do Brasil: Geografia, etnografia e estatística. Escreveu sobre a temática social enfatizando a questão da luta de classes, a concentração de renda, a luta pela terra e a expansão colonial. Destacam‑se como as obras mais importantes: Nova Geografia Universal (19 volumes); O homem e a Terra (6 volumes); Dicionário dos municípios da França e A evolução, a revolução e o ideal do anarquismo. • Alfred Wallace: 1823 a 1913 – País de Gales Destacou‑se como um geógrafo que se ocupou com a distribuição dos animais na superfície da Terra, elaborando uma teoria zoogeográfica através da qual dividia o mundo em grandes zonas biogeográficas. As diferenças biogeográficas identificadas entre Indomalaya e territórios australianos levou à criação da Linha de Wallace, delimitando dois reinos biogeográficos distintos. Sua obra célebre intitula‑se A distribuição geográfica dos animais. • Piotr Kropotkin: 1842 a 1921 – Rússia Escritor e ativista político russo, um dos principais pensadores políticos do anarquismo. Suas análises profundas da burocracia estatal e do sistema prisional também fazem dele uma referência histórica na área de criminologia. Interessado pela Geografia em virtude de seu interesse por viagens por regiões inóspitas. Tornou‑se explorador do círculo polar ártico percorrendo milhares de quilômetros a pé, observando fenômenos relacionados à tundra e a outras paisagens árticas. Nessas viagens, conheceu os camponeses vivendo em condiçõesmiseráveis na Rússia e na Finlândia. Um sentimento de solidariedade fez com que Kropotkin abandonasse a atividade de pesquisador. Teve contato com diversos países ativistas e conheceu Bakunin e os seguidores de Marx. Suas principais obras em português são Prisões e sua influência moral nos prisioneiros (1877); Lei e autoridade (1886); Campos, fábricas e oficinas (1899), Trabalho intelectual e trabalho manual (1898) e Mutualismo: um fator de evolução (1902). • Halford John Mackinder: 1861 a 1947 – Inglaterra Foi um geógrafo e geopolítico inglês. Em 1904, publicou o artigo The geographical pivot of History, onde formulou a Teoria do Heartland. Tal teoria influenciaria a política externa das potências mundiais. • Carl Sauer: 1889 a 1975 – Estados Unidos Foi precursor da geografia cultural e um dos principais nomes da Escola de Berkeley. Uma de suas principais obras é A morfologia da paisagem (1925), na qual aborda temas da Geografia e da vida cultural. 23 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Sob a filiação da escola alemã e de pensadores como Richard Hartshorne, Sauer valorizava as relações entre o homem e o ambiente, entendendo a paisagem como um habitat e rompendo com as concepções formal, funcional e genética desse conceito. Sauer entendia como importante para a Geografia a consideração sobre o mundo vivido, isto é, o espaço conforme sua apreensão subjetiva, a partir de influências culturais. Com isso, observa‑se uma relativa influência da fenomenologia nos estudos de Sauer. • Richard Hartshorne: 1899 a 1992 – Estados Unidos Foi o grande responsável pela sistematização e difusão da Geografia nos Estados Unidos. Nos passos de Hettner, Hartshorne dizia que a Geografia não deveria estudar as relações entre homem e meio, mas realizar a “diferenciação de áreas”, a fim de entender os espaços em suas singularidades. Teve o mérito de integrar geografia geral e regional, pois defendia que, embora existissem características específicas dos lugares, também existiam condições gerais que integravam esses lugares numa espécie de teia. Para ele, região não era uma realidade presente em si mesma no espaço, mas uma elaboração intelectual humana realizada no esforço de compreender os espaços. Tal concepção deve‑se, sobretudo, à influência de Kant. Influenciou a formação da escola epistemológica da Nova Geografia. Dentre suas obras, destacam‑se A natureza da Geografia e Propósitos e natureza da Geografia. • Pierre George: 1909 a 2006 – França Um dos maiores nomes da Geografia francesa e mundial, Pierre George foi um geógrafo que tentou inaugurar um novo modo de pensar a Geografia e o espaço geográfico a partir do que ele designou geografia ativa, nome homônimo de seu livro mais importante, ao lado de A ação humana. Sua referência teórica epistemológica é marxista. Ele foi um dos primeiros a perceber que a globalização do espaço era produtora de processos de raridade e escassez, exemplificando com a questão da escassez da água e do uso especulativo dos espaços urbanos. Ele cita como exemplo o próprio espaço, que passa a ser objeto de especulação. Identifica nas atividades tradicionais do geógrafo, descrever paisagens e cartografar ambientais, uma deficiência no que tange ao poder analítico dessas ferramentas para compreender e interpretar o espaço. O autor diz que estabelecer relações de causalidade e elaborar teorias explicativas nem sempre se coaduna com os objetivos imediatamente práticos e utilitários que os geógrafos querem alcançar. Então, o autor diz que as duas atividades são legítimas, elas apenas não podem ser confundidas. George concebe a Geografia como um prolongamento da História, fazendo da história das técnicas a chave do entendimento das modificações das relações entre as coletividades humanas e seus respectivos ambientes. Seu livro mais significativo no Brasil foi Geografia ativa (1968), que inspirou grandes geógrafos brasileiros como Milton Santos. • Yves Lacoste: 1929 – França A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra é a obra clássica desse geógrafo, que se notabilizou por suas teorias geopolíticas e por enfatizar, dentro da ciência geográfica, o caráter geopolítico. Em 1948 entrou no Partido Comunista Francês, ligando‑se à causa argelina. Passa a lecionar 24 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I na Argélia a partir de 1952. Na França, escreve o clássico Os países subdesenvolvidos, traduzido para mais de 30 línguas e best‑seller na França. Fundou uma das mais notáveis revista de Geografia – Heródote, na qual escreveu, inclusive, o filósofo Michel Foucault, o célebre artigo Sobre a Geografia. Yves Lacoste destacou‑se por seu pensamento estrategista. Um episódio de 1972 tornaria memorável suas predições. Durante a Guerra do Vietnã, publicou um artigo no jornal francês Le Monde no qual dissertava sobre a geomorfologia das planícies aluviais de Hanói, relacionando‑a à estratégica americana de bombardeio dos diques vietnamitas. O desmonte do esquema americano, desvelado por Lacoste, teria sido, supostamente, o responsável pelo cessar‑fogo ocorrido pouco tempo depois. O geógrafo também contribuiu para o debate epistemológico da Geografia colocando em destaque a peculiaridade dos estudos da Geografia em relação às outras ciências humanas. Advertia que era preciso levar em conta os riscos que a incorporação do marxismo à Geografia poderia trazer, pois Marx não demonstrara preocupação em teorizar os fenômenos relacionados ao espaço. Tal apropriação direta, sem mediações, da teoria marxista, poderia resultar na incapacidade da Geografia de explicar os fenômenos de forma autônoma, uma vez que se pautasse exclusivamente pela explicação da teoria econômica marxista de cunho histórico. Em resumo, Yves Lacoste se inspirava no marxismo, mas procurava valorizar a autonomia epistemológica dos estudos do espaço. • David Harvey: 1935 – Estados Unidos É um geógrafo britânico marxista que leciona na Universidade de Nova York e é formado na Universidade de Cambridge. Trabalha questões ligadas à contemporaneidade das grandes cidades. Inicia a carreira acadêmica na década de 1960, trabalhando sob o enfoque da geografia quantitativa, mas mudando para a perspectiva materialista‑dialética posteriormente, na década de 1970. Elaborou o conceito de espaço relacional, que se distingue das concepções de espaço absoluto (cartesiano) e de espaço relativo (Albert Einstein). Assim, desenvolveu a questão conceitual do espaço‑tempo, visualizando no processo de globalização, as transformações técnicas e tecnológicas que aceleraram os acontecimentos nos níveis de produção econômica e integração política. Suas principais referências conceituais são Karl Marx e Henri Lefebvre, buscando identificar as contradições sociais que se manifestam no espaço geográfico. Durante o Fórum Social Mundial de 2010, defendeu a taxa zero de crescimento para a economia global, alegando que taxas maiores têm se tornado inviáveis, forçando o recurso aos artifícios fictícios que caracterizam o mercado de ativos financeiros dos últimos tempos. Esteve no Brasil por diversas vezes, desde 2012, participando de discussões sobre a ocupação do espaço público, relacionando as manifestações que aconteceram em Nova York, São Paulo, Mumbai, Pequim, Bogotá e até Johanesburgo. Esteve presente no lançamento da edição brasileira dos seus últimos livros em São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2013 integrou o projeto Marx: a Criação Destruidora, que discutiu o legado de Marx, trocando impressões com nomes como Michael Heinrich, Slavoj Zizek, Chico de Oliveira, José Arthur Giannotti e Roberto Schwarz. Seus livrosprincipais em português são: A justiça social e a cidade (1980); Condição Pós‑Moderna (1993); Espaços de esperança (2004); A produção capitalista do espaço (2005); Os limites do capital (2007); O enigma do capital: e as crises do capitalismo (2011); Para 25 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL entender o capital: livro I (2013); Para entender o capital: livros II e III (2014) e 17 Contradições e o fim do capitalismo (2016). 4 GEÓGRAFOS CÉLEBRES BRASILEIROS • Ana Fani Alessandri Carlos (1950) Professora titular do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, formou‑se nesta instituição, inclusive cursando a livre‑ docência. Foi professora convidada na Universidade de Barcelona (Espanha), na Universidade de Buenos Aires (Argentina) e na Universidade de Colômbia, sede Medellín. Seu livro Espaço – tempo na metrópole recebeu menção honrosa do Prêmio Jabuti 2003. Suas pesquisas se voltam para os temas do espaço das cidades, cotidiano, metrópole, geografia urbana. Seus principais livros são: A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios (2011); A condição espacial (2011); A cidade (2008); A (re)produção do espaço urbano (2008); O espaço urbano (2007); O espaço urbano. Novos escritos sobre a cidade (2004); Urbanização e mundialização (2004); Espaço e indústria (2001); Novos caminhos da geografia (2001); Caminhos da reflexão sobre a cidade e o urbano (1994) e Espaço e indústria (1991). • Antonio Carlos Robert Moraes (1954‑2015) Graduou‑se em Ciências Sociais e em Geografia pela USP. Na mesma instituição permaneceu do mestrado à livre‑docência. Foi docente titular do Departamento de Geografia da USP na cadeira de História do Pensamento Geográfico e também de Metodologia, onde era conhecido com o carinhoso pseudônimo de Tonico. Coordenou ali o Laboratório de Geografia Política. Atuou no campo das políticas territoriais no Brasil e no exterior, sendo consultor do Estado e de órgãos governamentais, com destaque para programas de ordenamento territorial de áreas litorâneas. Foi professor em várias universidades do Brasil e do exterior, como a Universidade Autônoma do México, Universidade de Cádiz, Universidade de Lisboa, Universidade de Buenos Aires, dentre outras. Publicou dezenas de livros de grande importância para compreender a questão do método e da história do pensamento geográfico, dentre os quais se destacam os seguintes: O conceito território em Milton Santos (2013); Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no longo século XVI (2011); Geografia histórica do Brasil: capitalismo, território e periferia (2011); Contribuições para a gestão da zona costeira do Brasil: elementos para uma geografia do litoral brasileiro (2007); Geografia: pequena história crítica (19. ed., 2003). Ideologias geográficas (2002); A gênese da Geografia moderna (2002) e Geografia crítica: a valorização do espaço (1999). • Armando Correia da Silva (1931‑2000) É graduado em Ciências Sociais pela USP e doutorou‑se em Geografia Humana. Armando Correia da Silva inovou na Geografia brasileira fazendo uma geografia de cunho filosófico existencialista 26 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I sob a inspiração de Heidegger e Sartre. Seus textos, embora tragam reflexões ontológicas, também se voltam à elaboração teórica refletida e personalizada sobre a epistemologia geográfica. Trouxe para a Geografia as temáticas da Pós‑Modernidade. Era pianista e não raro executava as peças no próprio Departamento de Geografia para seus alunos. Simples, ousado e inovador, seu estilo tornou‑se singular e único. Ele propôs para a Geografia um método que intitulou fenomenologia ontológica. Seus principais livros são: O espaço fora do lugar (1978); De quem é o pedaço? Espaço e cultura (1986); Geografia e lugar social (1991); Saudades do futuro (1993) e A renovação geográfica no Brasil e outros escritos (1994). • Aziz Nacib Ab’Saber (1924‑2012) É filho de migrante libanês que fugia dos conflitos de seu país, foi o mais célebre estudioso da geografia física brasileira. Notabilizou‑se ao realizar um estudo sistemático do relevo brasileiro, destacando‑se as teorias sobre a compartimentação dos domínios morfoclimáticos e a Teoria dos Redutos. A partir do paradigma da Teoria da Evolução das Espécies, teorizou sobre o avanço e o recuo dos diferentes tipos de vegetação conforme as alterações climáticas do planeta. O autor ainda lançou suas teorias sobre as stone lines (linhas de pedra), Sambaquis, as áreas de transição e as paisagens de exceção. Intermediou conflitos geopolíticos como o conflito entre a empresa Vale do Rio Doce e os garimpeiros da Serra Pelada, procurando alternativas para a integração dos dois lados. Foi o responsável pela mudança da área do Aeroporto Internacional de São Paulo, transferido para Cumbica pela sua intersecção. Suas principais obras são: Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo (1957); Formas de relevo (1975); Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas (2003); Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o pantanal mato‑grossense (2006) e Ecossistemas do Brasil (2006). • Josué de Castro (1908‑1973) Nasceu em Recife e formou‑se em Medicina, no entanto, seria lembrado para sempre como um dos pioneiros a estudar a questão da fome no Brasil numa perspectiva geográfica. Mas além da fome, estudou questões a ela relacionadas como o meio ambiente, o subdesenvolvimento e a paz. Contrariou o pensamento dominante da sua época que naturalizava o fenômeno da fome, dando ao tema tratamento científico e crítico. Em 1946, o clássico Geografia da fome afirmava que a fome não era um problema resultado dos fatos da natureza, mas das ações dos homens. Combateu também o latifúndio e defendeu a reforma agrária. Recebeu o Prêmio Internacional da Paz e indicações para receber o Prêmio Nobel. • Manoel Correia de Andrade (1922‑2007) Lecionando na Universidade Federal de Pernambuco, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco, escreve a obra A terra e o homem no Nordeste com o objetivo de esclarecer a questão da necessidade da reforma agrária. Ainda produziu importante material da geografia brasileira num tempo em que estas obras eram escassas. 27 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL A seguir, listaremos algumas de suas obras, por ordem cronológica de publicação: Geografia do Brasil: 1a a 4a série ginasial (1952); Espaço, polarização e desenvolvimento: a teoria dos polos de desenvolvimento e a realidade nordestina (1967); Geografia econômica do Nordeste: o espaço e a economia nordestina (1970); Nordeste, espaço e tempo (1970); Geografia econômica (1973); Caminhos e descaminhos da Geografia (1989) e A questão do território no Brasil (1995). • Maria Adélia Aparecida de Souza (194?) Possui graduação e mestrado em Geografia pela Universidade de São Paulo e doutorado pela Universidade de Paris I (Sorbonne). Tem experiência na área de planejamento urbano e regional. Vem realizando monitoramento do uso do território pelo voto no Brasil em diferentes escalas desde a década de 1990, integrando o projeto Território, Lugar e Poder. É autora da primeira Política Nacional de Desenvolvimento Urbano do Brasil, da Primeira Política de Desenvolvimento Urbano do Estado de São Paulo. Foi prefeita da USP, coordenadora da Ação Regional da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo,chefe de gabinete do Reitor da USP e Pró‑Reitora de Graduação da Universidade da Integração Latino Americana – Unila. Foi a primeira geógrafa a realizar estudos de verticalização em São Paulo, cujo teor encontra‑se na obra A identidade da metrópole, a verticalização em São Paulo (1994). • Milton Santos (1926‑2001) Negro e nascido na Bahia, Milton Santos foi um dos intelectuais mais célebres brasileiros, e como geógrafo foi, sem dúvida, o que alcançou maior renome mundial. Conquistou, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia, sendo o único brasileiro a conquistá‑lo e o primeiro geógrafo fora do mundo Anglo‑Saxão a realizar tal feito. Além dessa premiação, destaca‑se também o prêmio Jabuti de 1997 para o melhor livro de ciências humanas, com A natureza do espaço. Foi professor da Universidade de São Paulo, mas lecionou em inúmeros países no mundo inteiro, com destaque para a França. Trabalhou com a elaboração de uma teoria social de cunho geográfico que tivesse alcance para explicar e modificar o mundo da globalização. Neste sentido, em Por uma outra globalização, Milton Santos fala sobre a “globalização como fábula”, ou seja, tal como ela nos é apresentada pelos discursos sociais, em contraposição à “globalização como perversidade”, tal como ela acontece e “globalização como possibilidade”, uma globalização pela qual vale a pena continuar buscando. Também trabalhou o conceito de “meio técnico‑científico informacional”, numa tentativa de compreender esta especificidade do mundo contemporâneo excessivamente marcado pela técnica. Escreveu grandes clássicos do pensamento geográfico brasileiro, dentre eles, Por uma Geografia nova (1978), em que criticou a predominância do pensamento neopositivista e da utilização de técnicas estatísticas na Geografia brasileira. Destacamos ainda outros livros: O trabalho do geógrafo no terceiro mundo (1978); Espaço e sociedade (1979); O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos (1979); Pensando o espaço do homem (1982); Metamorfoses do espaço habitado (1988); Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo (1990); Por uma economia política da cidade (1994); Técnica, espaço, tempo (1994); Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal (2000) e O Brasil: território e sociedade no início do século XXI (2001). 28 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I • Roberto Lobato Correia (1939) Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro na área de geografia urbana. Atua principalmente nos seguintes temas: espaço, cultura, rede urbana, geografia cultural e redes. Notabilizou‑se pela grande proficuidade como escritor, publicando dezenas de livros, dentre os quais destacamos: Questões atuais da reorganização do território (1996); Geografia: conceitos e temas (1995); e em parceria com Rosendahl, destacamos: Geografia cultural: uma antologia (2012); Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro (2007); Religião, identidade e território (2001) e Paisagem, imaginário e espaço (2001). • Rui Moreira (1941) Professor da Universidade Federal Fluminense. Vem se dedicando a pesquisas cruzadas no campo da teoria e da epistemologia geográfica e da organização espacial da sociedade brasileira. Autor de diversos livros como Para onde vai o pensamento geográfico? (2006); O Pensamento geográfico brasileiro: as matrizes originárias (2008); O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes da renovação (2009); O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes brasileiras (2010) e O que é Geografia? (1988). Para ilustrar nossa proposta na obra Tópicos de Atuação Profissional, referente ao curso de Licenciatura em Geografia, consideramos significativas as apresentações de alguns profissionais que atuam como geógrafos tanto na docência quanto na área de pesquisa. A seguir, destacamos os seus depoimentos, acompanhe‑os: Entrevista com o Prof. Dr. Heitor Antônio Paladim Jr. 1) O que o influenciou para sua escolha em cursar Geografia? Sou de Sorocaba e desde pequeno ficava admirado com as nomenclaturas de localização que existem no município: além ponte, além linha. Brinquei muito num bairro chamado Estrada do Quiló (que levava a quilombos existentes nas proximidades) e que tinha riachos, natureza que a especulação imobiliária destruiu depois para construir prédios e avenidas. Assim como diz o geógrafo Kropotkin (que só conheci na época de universidade). Antes de carregar de ciência o cérebro da criança, [...] fortificai e, para que não perca o seu tempo, levai‑a ao campo ou a beira do mar. Aí ensinai‑lhe ao ar livre, e não em livros, a geometria, medindo com ela a distância até os rochedos próximos; ela aprenderá as ciências naturais colhendo as flores e pescando no mar; – a física, fabricando o barco em que há de ir pescar. – Mas, por favor, não lhe enchais o cérebro de frases e de línguas mortas. Não façais do menor um preguiçoso (KROPOTKIN, 2011). Ganhei de Natal uma coleção da revista National Geographic aos 10 anos e logo depois um globo pequeno de apontar lápis. Na Faculdade de Filosofia de Sorocaba, quando fui fazer vestibular, havia Geografia, Historia e Filosofia, tudo o que relatei da infância e mais 29 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL um ótimo professor de Geografia, seu Ari, no Ensino Médio, levaram‑me a escolher, em 1988, a ciência geográfica. 2) Onde estudou e qual a sua formação? Estudei um ano em Sorocaba, na Faculdade de Filosofia de Sorocaba – Fafi e depois entrei na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, onde fiz a graduação. Formei‑me em 1993, no mês de agosto. Depois fui estudar especialização em Ensino de Geografia em Londrina, na UEL. Já era geógrafo‑educador atuante em escolas públicas. Estudei também nos Encontros de Estudantes de Geografia, que ajudamos a organizar, e nos Encontros da AGB, [que] são verdadeiras escolas de formação continuada. Em 2001, ingressei no mestrado na USP e por lá mesmo fiz o doutorado. Estudei escolas, currículo, território e territorialidades de sujeitos sociais do povo brasileiro: camponeses e educação do campo no mestrado; e indígenas Xakriabá e educação escolar indígena no doutorado. 3) Sente‑se realizado pela escolha? Absolutamente, sim. Qualquer escolha pode ter caráter absoluto, muito embora abra portas para muitas outras escolhas que virão depois. No interior de nossa ciência, temos que escolher qual caminho seguir. Alguns desafios surgem, como, por exemplo, se vamos ser especialistas e, mesmo assim, interdisciplinares, como romper as dicotomias etc. Quando analiso, 27 anos depois, algumas escolhas e abandonos que surgiram no caminho, percebo que elas contribuem para termos certezas, mas também, sermos inquietos. A realização não tem fim, não termina. Então, gosto das escolhas que fiz, até mesmo as erradas, mas não me sinto realizado, há muito ainda por fazer. 4) Já atuou como geógrafo de trabalho em campo? Sim, fui geógrafo contratado pelo Incra para atuar com Educação do Campo no ano de 2005, no oeste de Santa Catarina, junto aos assentamentos da reforma agrária. Atuei na assessoria aos assentamentos, junto ao programa Ates. 5) Caso a resposta seja sim, gostou mais desse trabalho ou da docência? Eu gosto dos dois, em cada um há especificidades, mas também há muitos encontros. O aspecto técnico precisa da didática e o(a) educador(a) precisa do escopo da técnica. Essa dicotomia entre geógrafo(a)‑técnico(a) e geógrafo(a)‑educador(a) precisa ser cada vez mais dirimida. 6) Defina, em sua opinião, a importância da Geografia como campo de estudo e de trabalho. 30 GE O- Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I A Geografia é importante para sermos seres humanos. Quem ensina tem um mundo a oferecer, várias leituras a ensinar, raciocínios espaciais a serem revelados aos estudantes. A humanidade se faz, entre outras coisas, a partir da importância do espaço e da espacialidade. O espaço é ontológico, mas também está presente na construção social, e isso pode influir na ontologia: seremos mais ou menos livres se entendermos e realizamos o espaço e a espacialidade. Em nossa sociedade, hegemonicamente industrial e urbana, não ocorre uma valorização dos processos espaciais, isso faz parte do jogo da alienação que vivemos. Quem aprende deverá se perceber nesse processo para que possa atuar em melhorias sociais que abarquem aspectos sociais, ambientais e, portanto, civilizatórios. 7) Qual a palavra de estímulo que daria para nossos futuros licenciados em Geografia? Aos estudantes de licenciatura em Geografia: estudem e tenham curiosidade. Entendam que ser educador‑geógrafo e educadora‑geógrafa é possuir uma responsabilidade social importante. Vivam isso com a alegria e o compromisso de quem compreende que entender o espaço e contribuir na espacialidade é empoderar as pessoas para vivermos num mundo melhor. 8) Valeu a pena sua carreira? Vale a pena, as canetas, os lápis, a digitação e as leituras, valem o esforço e a dedicação. Valem o aprendizado, as surpresas, as dificuldades e o reconhecimento estampado no sorriso de uma criança e um(a) jovem aprendendo sobre o mundo, aprendendo a ler mapas e a entender o espaço em que vivem. Entrevista com o Prof. Wanderlei Sergio da Silva 1) O que o influenciou para sua escolha em cursar Geografia? O fato de me sair muito bem nesta disciplina durante a Educação Básica. O assunto me parecia muito interessante. Além disso, as palavras de incentivo de uma professora de Geografia durante a sexta série, professora Lucila. 2) Onde estudou e qual a sua formação? Estudei na Universidade de São Paulo – USP, e hoje sou também mestre em Ciências – Geografia Humana – pela USP e doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Unesp – Campus Rio Claro. 3) Sente‑se realizado pela escolha? Sem dúvida, realizado agora no final da carreira, mas precisei matar um leão por dia durante os anos. Ser geógrafo no mercado brasileiro não é nada fácil. 31 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 4) Já atuou como geógrafo de trabalho em campo? Já, centenas de vezes, a maioria como coordenador de equipe multidisciplinar. 5) Caso a resposta seja sim, gostou mais desse trabalho ou da docência? Sou apaixonado pela docência, mas, antes de tudo, pela Geografia, deste modo, os trabalhos práticos de campo me deram mais prazer. 6) Defina em sua opinião a importância da Geografia como campo de estudo e de trabalho. É essencial, num mundo cada vez mais holístico, onde a interdisciplinaridade, bem como a transdisciplinaridade são cada vez mais necessárias, e essas duas definições caracterizam os estudos geográficos, em minha opinião. 7) Qual a palavra de estímulo que daria para nossos futuros licenciados em Geografia? O estímulo fica por conta da beleza do campo de estudo e da sua importância para a sociedade, cada vez mais carente de bons profissionais. 8) Valeu a pena sua carreira? Hoje percebo que valeu a pena. Muito trabalho, mas, no final, muita alegria pelo dever cumprido e pelo reconhecimento adquirido. Entrevista com o Prof. Maurice Tomioka Nilsson Meu nome é Maurice Tomioka Nilsson, sou geógrafo, me formei pela USP em 1992. Desde que comecei minha vida profissional, eu pensava em ser professor, diferente de boa parte dos meus colegas. Trabalhei como professor durante toda a graduação, mas por um acaso soube de um concurso para a Secretaria do Meio Ambiente e acabei entrando lá; era um programa de monitoramento da vegetação natural do Estado de São Paulo chamado Olho Verde e ali aprendi a utilizar sistemas de informações geográficas (SIGs), interpretar imagens de satélites etc. Naquela época não era comum as pessoas aprenderem isso na universidade, hoje já é parte do currículo de vários cursos de Geografia. Ter aprendido essa ferramenta me ajudou muito a me colocar no mercado de trabalho e a fazer o que gosto; desde a graduação me interessava por povos indígenas do Brasil, e hoje realizo trabalhos com vários deles pelo país. Em geral, meus parceiros me chamam em [virtude] de ter experiência com outros povos e de ter habilidade nessa questão dos mapas, dos SIGs. 32 GE O - Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 10 /1 6 Unidade I Eu trabalhei com os Terena, povo do Mato Grosso do Sul que possuía um território muito pequeno; depois de fazer oficinas de mapas e escrevermos um livrinho (A terra dos Terena), conseguimos que essa e mais duas outras terras passassem por uma revisão de limites, que resultou em uma terra maior, incluindo parte do território perdido nas demarcações do início do século XX. Isso é muito gratificante, mas seus resultados só são sentidos hoje, vinte anos depois. Depois dos Terena, fiz um trabalho com povos recém‑contatados no Estado de Rondônia, e acabei indo trabalhar com os Yanomami, sendo que essa virou minha principal referência profissional, pois fiquei de 2000 a 2008 contratado por organizações de saúde (Instituto Ambiental A Terra Floresta Yanomani – Urihi) e educação (Comissão Pró‑Yanomani – CCPY). Foi assim que fiz meu mestrado, baseado nessa experiência e usando sensoriamento remoto. Apesar de ter feito pós‑graduação em Ecologia, basicamente, usei recursos e técnicas da Geografia, análise espacial etc. Hoje trabalho com consultorias, meus colegas me chamam para compor equipes multidisciplinares, ou para obter a opinião dos índios sobre empreendimentos que venham a afetá‑los (estradas, ferrovias etc.) ou para apoiá‑los em trabalhos de gestão ambiental, justamente ensinando sobre mapas de seus territórios. A Geografia enquanto formação me ajuda a ter uma postura profissional diferente, não porque tenham me ensinado todas as ferramentas de que preciso, conforme disse antes, aprendi boa parte dessas ferramentas durante a experiência profissional; o que a Geografia, enquanto formação, me ajudou foi em me dar bases conceituais para trabalhar com temas envolvendo terra e gente: foi a base teórica, em grande medida, que fez de mim um profissional conceituado. Porque a teoria é aquilo que nos permite ver conteúdo nas coisas, nos permite uma leitura da realidade para além do que enxergamos à primeira vista; isso é necessário quando temos decisões a tomar, e, nesse caso, é sempre difícil navegar no mundo atual, ainda mais quando a gente se propõe a servir de ferramenta para outros povos que são excluídos, que são vistos como um entrave ao desenvolvimento da sociedade capitalista. Para isso, não tem como compreender nosso papel se não tiver uma boa base teórica, coisa que as ciências humanas têm feito. Não à toa a USP, considerada a melhor universidade brasileira, tem dentre os seus oito melhores cursos os que estão entre os 200 melhores em suas áreas, seis que são de humanidades. São as humanidades que têm tido melhor desenvolvimento teórico, ao ponto de serem reconhecidos mundialmente. Eu coloco essa informação aqui para manifestar minha preocupação com interpretações equivocadas a respeito de educação, tais como as expressas por movimentos como Escola sem Partido, “educação sem ideologia”, tentando impedir o professor de dar opinião. Isso é, primeiramente, impossível; segundo, é
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