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1 Fernanda E. Bocutti T6 Doença Hemorroidária - Hemorroidas são coxins vasculares normais do canal anal - São formados por espaços vasculares (sinusoides), tecido elástico e conjuntivo, e músculo liso. - É mais prevalente em pessoas com idade entre 45 e 65 anos, tendo como principal causa o esforço evacuatório repetitivo. Classificação das hemorroidas 1. Hemorroidas internas: - Localizadas acima da linha pectínea, porém podem se exteriorizar 1) Grau I: ocorre apenas o sangramento anal sem prolapso 2) Grau 2: sangramento e prolapso, porém, com redução espontânea 3) Grau 3: Sangramento e prolapso, porém, com redução manual 4) Grau 4: Sangramento e prolapso irredutível 2. Hemorroidas externas - Localizadas na extremidade inferior do canal anal, abaixo da linha pectínea 3. Hemorroidas mistas - Apresentam tanto o componente externo quanto o interno Características das hemorroidas internas Etiopatogenia 1. Fatores predisponentes: - condições que levam à estase venosa (constipação) - disposição anatômica e posição ereta no homem - predisposição familiar (não hereditária) 2. Fatores desencadeantes ou agravantes: - Modificações do hábito intestinal/ abuso de laxantes - Hábitos defecatórios errôneos - Profissão - Insuficiência cardiocirculatória/ hipertensão portal - Gravidez - Aumento de pressão intra-abdominal - Infeccioso local Epidemiologia - Doença hemorroidária pode ocorrer em ambos os sexos - Tem prevalência entre as idades de 45-65 anos Doenças orificiais 2 Fernanda E. Bocutti T6 - O desenvolvimento de doença hemorroidária antes dos 20 anos de idade não é comum - Indivíduos brancos parecem ser mais afetados do que os negros - A prevalência da doença cresce na medida em que o nível socioeconômico da população aumenta. Sinais e sintomas - Sangramento anal indolor é o sintoma mais comum - Desconforto, prolapso e prurido também são relatados, sua intensidade e combinação varia de acordo com o subtipo de doença hemorroidária presente - Quando o sintoma principal for dor interna, deve-se suspeitar de complicação da doença hemorroidária ou associação com outras patologias (fissuras, abscesso perianal, tumor de canal anal) Hemorroidas internas - Não costumam ser dolorosas. - Principal sintoma é o sangramento anal "vivo", indolor, ocorrendo ao final da evacuação, percebido no papel higiênico ou no vaso sanitário em pingos ou esguichos; - O sangramento em grande quantidade é incomum e a presença de anemia ferropriva é rara e deve ser investigada; - Também pode haver queixa de prurido anal e prolapso durante evacuação ou aos esforços. Hemorroidas externas - Em geral torna-se sintomáticas na ocorrência de quadros agudos como trombose hemorroidária e crise hemorroidária - Cronicamente podem estar associadas á desconforto anal, sangramento e dificuldade de higiene. Trombose hemorroidária - Caracteriza pela presença de nódulos perianal bem delimitado localizado usualmente doloroso e azulado - Início abrupto de dor que aumenta nas primeiras 48 horas - Quando não há drenagem espontânea ou cirúrgica o trombo demora semanas para desaparecer Crise hemorroidária - É o quadro doloroso causado pelo prolapso de hemorroidas internas de grau III e IV que se tornam encarceradas devido a edema prolongado - Pode estar associado com trombos hemorroidários Diagnóstico - O diagnóstico de doença hemorroidária é clínico - Além dos sintomas é importante questionar ao paciente sobre o funcionamento intestinal (presença de diarreia ou constipação), ingesta de fibras na dieta e hábitos de higiene anal. Exame físico - O exame físico deve ser sempre realizado e inclui inspeção anal e toque retal - A inspeção podem ser identificados outros achados como: fissulas, fistulas, abscessos e plicomas (hipertrofias da pele perianal em resposta a processo inflamatório crônico. -A manobra de Valsalva é útil para verificar o prolapso de mamilos internos. O toque retal deve ser feito com lidocaína gel ou lubrificante. 3 Fernanda E. Bocutti T6 Plicoma anal Tratamento - A doença hemorroidária assintomática não necessita de tratamento. - É importante tranquilizar o paciente explicando que as hemorroidas não se transformam em câncer - O tratamento da doença hemorroidária deve ser feito inicialmente por meio de mudanças na dieta e estilo de vida. 1) evacuatório prolongado para defecar, secundário à constipação ou diarreia - Modificações da dieta e estilo de vida - Preferir alimentos laxantes - Diminuir quantidade de alimentos constipantes - Ingestão de comidas apimentadas: segundo estudos não há relação entre ingestão de comidas apimentadas e sintomas hemorroidários - Higiene anal: Deve-se desestimular o uso de papel higiênico (fazer limpeza com água e sabão neutro). - Banhos de assento: tratamento tópico mais eficaz para o alivio dos sintomas seja a realização de banhos de assento. Pode ser realizado de 2 a 3 vezes ao dia ou após a evacuação, com água morna e por tempo limitado (10 a 15 minutos). Tratamento medicamentoso - Sintomáticos tópicos (anestésicos, Anti-inflamatórios e adstringentes): muito usados para alívio da dor associada às hemorroidas - Agentes venoativos: DIosmia, hiperidina, flavonoides. Podem melhorar tônus venoso e diminuir sintomas agudos e sua recorrência. Tratamento cirúrgico - Quando os sintomas são refratários ao manejo conservador, o especialista pode optar por procedimento ambulatorial inicial; - Ligadura elástica: É o método mais utilizado para hemorroidas de graus II ou III. Sendo efetiva em 65 a 85% dos pacientes; - Escleroterapia: injeção de agente esclerosante diretamente no mamilo hemorroidário. Utilizada especialmente em hemorroidas internas grau I; - Hemorroidectomia: é indicada nos casos de doença hemorroidária externa, mista ou interna grau III e IV refratários ao tratamento conservador e aos tratamentos de consultório 4 Fernanda E. Bocutti T6 Fissura anal - A fissura anal é uma laceração do revestimento do canal anal inferior - É uma das patologias benignas anorretais mais comuns e, em muitos casos, resolve-se espontaneamente - Sua prevalência é igual entre os sexos e é mais comum em adultos jovens 1. Trauma do canal anal - Fezes endurecidas – constipação intestinal crônica - Diarreia – fezes acidas - Tratamento de doença anal previa - História pregressa de fissura - Cirurgia para hemorroidas, fistula perianal - Fibrose do canal anal cicatrizado, estenose ou deformidade 2. Isquemia do canal anal - Hiperatividade do esfíncter interno do ânus, hipertonia, hipoperfusão - Baixa tensão de oxigênio tecidual. Ocorrência das fissuras na linha média posterior e anterior - Áreas de menor fluxo sanguíneo mesmo em condições normais Fissura anal aguda Sintomas persistem por um período inferior a 6 semanas Fissura anal crônica Sintomas persistem por mais de 6 semanas Tem base fibrosa e não cicatrizam mesmo após tratamento conservador por 6 semanas Manifestações clínicas - O sintoma mais comum é a dor anal, usualmente provocada pela defecação e que pode durar várias horas - o medo da dor leva o paciente a adiar a evacuação, provocando endurecimento das fezes - Sangramento anal vermelho vivo de pequena intensidade também pode estar presente, durante o esforço ou a evacuação, sendo observado no papel higiênico ou em meio às fezes. Exame físico/ exame proctológico - Fissuras agudas se parecem com lacerações recentes/ fundo recoberto por fibrina - Fissuras crônicas costumam ter bordas mais endurecidas com exposição da musculatura esfincteriana em sua base - Fissuras crônicas são usualmente acompanhadas por plicomas, em sua porção distal e papilas hipertróficas na margem proximal do canal anal. - O toque retalcostuma revelar a presença de laceração no canal anal e hipertonia do esfíncter Tríade característica de fissura anal crônica - Fissura anal - Plicoma anal sentinela - Papila hipertrófica 5 Fernanda E. Bocutti T6 Diagnóstico - O diagnóstico clínico, baseado na história do paciente e exame físico - Pacientes com sangramento anal persistente ou sintomas sugestivos de neoplasia de trato gastrointestinal inferior (alteração de hábito intestinal, anemia, perda ponderal) devem ser investigados com colonoscopia, conforme protocolos específicos Diagnóstico diferencial - Abscessos anorretais: usualmente a dor é persistente e pode ser visto abaulamento em região perianal, associado à hiperemia, nodulação sentida ao toque retal; - Prurido anal: pacientes com prurido anal podem apresentar ranhuras superficiais na margem anal, que não progridem até ́ a linha denteada e não provocam dor ao toque real. - Doença inflamatória intestinal: podem se apresentar com fissuras anais, usualmente múltiplas, longe da localização preferencial, com presença de inflamação na pele circunjacente e saída de secreção purulenta Tratamento clínico • Medidas iniciais: fissuras agudas usualmente melhoram com a realização de banhos de assento (imersão em água morna utilizando bacia ou banheira durante 10-15 minutos, 2 a 4 vezes ao dia e após a evacuação), • É importante evitar o uso de papel higiênico após as evacuações, dando preferência à limpeza com água morna e sabonetes neutro. • Fissuras crônicas ou persistência dos sintomas: além das medidas iniciais são utilizados compostos manipulados em pomada ou creme para uso tópico sobre a fissura e no canal anal, que tem como função relaxar o esfíncter anal. • Devido à taxa de cicatrização semelhante com menores efeitos adversos, o diltiazem tópico é o agente de primeira linha. Deve ser aplicado 3 vezes ao dia, por tempo prolongado (8 semanas), sobre a fissura e canal anal. Tratamento cirúrgico • Esfincterotomia lateral interna: - É o tratamento cirúrgico de escolha e consiste na secção de parte do esfíncter anal interno, diminuindo a hipertonia esfincteriana e possibilitando a cicatrização da fissura. Fístula anal - É um pertuito com infecção crônica, ligando duas superfícies com revestimento epitelial. Na fístula anal, o orifício interno localiza-se na linha pectínea e o externo na pele perianal. - A fistula perianal é uma condição incomum do trato gastrintestinal, com prevalência de 0,01% na população geral Etiologia • A grande maioria das fistulas é secundária à infecção criptoglandular, • raramente podem ser associadas a doenças especificas com: 1) neoplasias, 2) doença de Crohn, 3) retocolite ulcerativa, 6 Fernanda E. Bocutti T6 4) tuberculose, 5) linfogranuloma venéreo 6) Abscesso Anorretal – evolução para fistula em 50% dos casos Quadro clínico • Paciente queixa-se da presença permanente ou intermitente de secreção, que pode ser purulenta, serosa ou mesmo sanguinolenta; • Em alguns casos os pacientes referem eliminação de gases pelo orifício externo e raramente fezes. • Frequentemente está associada a dor e prurido anal. Muitos dos pacientes referem ter sido submetidos a drenagem de abscessos anteriormente. Diagnóstico • No exame Proctológico observa-se a presença de orifício externo na margem anal, com tecido de granulação em seu interior, drenando ou não secreção. Na palpação podemos perceber o trajeto fistuloso como um cordão fibroso dirigindo-se até ́ o canal anal, indicando seu provável trajeto. Diagnóstico diferencial • Hidrossadenite supurativa • cisto pilonidal fistulizado • bartholinite crônica • doença de Crohn • tuberculose Classificação/ PARKS • As fistulas Interesfincterianas e as transesfincterianas representam a imensa maioria dos casos, 65% e 30% respectivamente. Regra de Goodall-Salmon • Esta regra tem a finalidade de localizar o orifício interno a partir do orifício externo. • O autor dividiu o orifício anal com uma linha transversal imaginaria em duas metades, uma anterior e outra posterior. • De acordo com esse esquema, todo orifício fistuloso externo que estiver situado na metade anterior do ânus corresponde a uma fistula retilínea com orifício interno na linha pectínea • Todo orifício externo que se localizar na metade posterior do ânus (80% das fístulas), tem um trajeto curvilíneo correspondendo a uma fistula cujo orifício interno localiza-se na metade posterior do anus. • É importante frisar que a regra não se aplica nos casos em que o orifício externo esteja situado a mais de 5 cm da borda anal. 7 Fernanda E. Bocutti T6 Exames complementares • Ressonância de pelve • Colonoscopia • Retossigmoidoscopia flexível • Fistulografia Tratamento cirúrgico • O sucesso do procedimento depende da localização do orifício interno. A localização do orifício externo já é um indicativo, não um determinante • Fistulectomia anal Complicações • Incontinência anal • recidiva da fistula • novo abscesso • trajeto não ressecado • ânus úmido
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