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Desapropriação APRESENTAÇÃO Embora o nosso ordenamento jurídico preveja o direito de propriedade como uma garantia fundamental, a Constituição Federal estabelece a possibilidade de que, sob condições peculiares, seja admitida a intervenção do Estado no patrimônio privado. Dentre as modalidades de intervenção do Estado na propriedade privada, a desapropriação desempenha função destacada; por meio dela, garante-se que o Poder Público retire o bem de seu proprietário para integrá-lo ao patrimônio público. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará o conceito e as modalidades de desapropriação. Ademais, aprenderá sobre o procedimento da desapropriação e outros detalhes pertinentes. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir desapropriação e suas modalidades.• Descrever o procedimento da desapropriação.• Relacionar as principais características da desapropriação.• INFOGRÁFICO A desapropriação tem previsão constitucional no art. 5º, inciso XXV. Nele, tem-se que a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. Depreende-se disso que, em casos de necessidade, utilidade pública ou interesse social, o Poder Público está autorizado a desapropriar a propriedade privada mediante indenização. Neste Infográfico, você aprenderá um pouco mais sobre os procedimentos da desapropriação: CONTEÚDO DO LIVRO Em casos de necessidade pública, é possível retirar o bem particular de seu proprietário e transferi-lo ao patrimônio público. Para isso, faz-se necessário que o Poder Público realize procedimento de desapropriação do bem. Com relação a isso, destaca-se que tal desapropriação enseja o pagamento de indenização justa ao proprietário. No capítulo Desapropriação, da obra Direito administrativo, você aprenderá tanto sobre o conceito quanto sobre as modalidades de desapropriação. Ademais, você também será apresentado às fases do procedimento de desapropriação. Por fim, conhecerá outras características importantes da desapropriação como, por exemplo, a tredestinação e a retrocessão. Boa leitura. DIREITO ADMINISTRATIVO Cássio Vinícius Steiner de Sousa Desapropriação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir desapropriação e suas modalidades. Descrever o procedimento da desapropriação. Relacionar as principais características da desapropriação. Introdução A possibilidade de que o Poder Público intervenha na propriedade privada está disposta na Constituição Federal e consiste em uma relativização peculiar ao direito fundamental de propriedade. Nesse contexto, é possível distinguir, entre as modalidades de intervenção estatal, aquelas que são mais ou menos gravosas. A mais gravosa das modalidades de intervenção do Estado na propriedade privada é a intervenção. Em essência, trata- -se do instituto administrativo por meio do qual — ocorrendo caso de necessidade, utilidade pública ou interesse social — o Poder Público acaba por retirar a propriedade do particular, mediante justa e prévia indenização, transferindo-a ao patrimônio público. Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito, as modalidades, o pro- cedimento e as características da desapropriação. Conceito de desapropriação O direito de propriedade tem sede constitucional e garante ao proprietário a possibilidade de usar, gozar ou dispor do seu bem. Além disso, o nosso ordenamento jurídico também prevê uma série de mecanismos conferidos ao proprietário para protegê-la contra atos de terceiros. Apesar disso, o direito de propriedade não se trata de um direito absoluto. Isso ocorre porque a própria Constituição Federal prevê uma série de circunstâncias em que o direito de propriedade é relativizado, em face do interesse público. Em grande medida, tal relativização se concretiza mediante a intervenção estatal na propriedade privada, corporificada na possibilidade de retirar ou utilizar bens particulares em nome da necessidade, da utilidade ou do interesse público (art. 5º, XXIV e XXV) (BRASIL, 1988). Em suma, caso estejam satisfeitas as condições estipuladas por lei — em nome do bem comum —, é possível intervir na propriedade particular. Sobre os modos pelos quais o Estado pode intervir na propriedade privada, a doutrina costuma distingui-las em duas categorias: a intervenção de restritiva ou de uso e a intervenção supressiva. Em essência, tal distinção diz respeito ao próprio caráter da inter- venção na ordem da propriedade privada. Nesse contexto, enquanto a intervenção de uso é menos gravosa e tem caráter meramente transitório, a intervenção supressiva é mais drástica, possuindo caráter permanente (ALEXANDRINO; PAULO, 2017, p. 1122). Entre as modalidades supressivas de intervenção na propriedade privada, a desapropriação tem papel destacado (art. 5º, XXIV) (BRASIL, 1988). Com relação ao seu conceito, Hely Lopes Meirelles ensina que: [...] desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da proprie- dade particular (ou pública de entidade de grau inferior para a superior) para o Poder Público ou seus delegados, por utilidade ou necessidade pública ou, ainda, por interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro [...] (MEIRELLES, 2016, p. 728). Na mesma linha, Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que se trata do “[...] procedimento administrativo pelo qual o Poder Público ou seus delegados, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, impõe ao proprietário a perda de um bem, substituindo-o em seu patrimônio por justa indenização” (DI PIETRO, 2018, p. 1.180). Em suma, a desapropriação con- siste em modalidade de intervenção estatal por meio da qual o Poder Público, em certas condições, toma a propriedade do particular, mediante indenização prévia. Sobre os requisitos constitucionais da desapropriação, conforme o art. 5º, XXIV, é importante abordarmos quatro, a saber: 1. necessidade pública; 2. utilidade pública; Desapropriação2 3. interesse social; 4. justa e prévia indenização. Com relação aos três primeiros requisitos, basta que um deles esteja satisfeito para que o Poder Público esteja autorizado a desapropriar a pro- priedade privada. Vejamos cada um em detalhes a seguir. Necessidade pública Consiste nos casos em que — para resolver de modo apropriado um certo problema urgente — o Poder Público precisa lançar mão de bem particular. De modo mais elaborado, Hely Lopes Meirelles entende que ela “[...] surge quando a Administração defronta situações de emergência, que, para serem resolvidos satisfatoriamente, exigem a transferência urgente de bens de terceiros para o seu domínio e uso imediato” (MEIRELLES, 2016, p. 738). Assim, não basta que a solução da situação emergencial seja possível com o mero uso da propriedade, pois, nesse caso, não será preciso se valer de uma modalidade de intervenção tão drástica quanto a desapropriação, podendo ser realizada por modalidades menos gravosas para o proprietário do bem. A título de exemplo, citamos a necessidade de desapropriar um determinado bem em face de questão que envolva a segurança nacional. Utilidade pública Trata-se de casos em que — embora não urgente — a desapropriação é conve- niente para o Poder Público. No mesmo sentido, Hely Lopes Meirelles assevera que é cabível quando “[...] a transferência de bens de terceiros para a Adminis- tração é conveniente, embora não seja imprescindível” (MEIRELLES, 2016, p. 738). Assim, se o Poder Público entender que um certo bem privado poderia ter uma destinação pública, ele poderá ser desapropriado. A título de exemplo, citamos a desapropriação de um certo imóvel para transformá-lo em uma escola ou a desapropriação de um certo terreno para a construção de umhospital. Interesse social Além de prever o direito de propriedade, a Constituição Federal também es- tabelece que esta deverá atender à sua função social (art. 5º, XXV) (BRASIL, 1988). Nesse contexto, tendo em vista a consecução do interesse social, o Poder Público poderá desapropriar bens particulares. Quanto a isso, Hely Lopes 3Desapropriação Meirelles afi rma que “[...] o interesse social ocorre quando as circunstâncias impõem a distribuição ou o condicionamento da propriedade para seu melhor aproveitamento, utilização ou produtividade em benefício do Poder Público” (MEIRELLES, 2016, p. 738). Com relação a isso, destacamos que — dife- rentemente das hipóteses de mencionadas — a desapropriação por interesse social não tem por destinatário do bem o próprio Poder Público, mas como benefi ciário o próprio povo. Em outras palavras, o Estado não desapropria um bem por interesse social para usufruir ele mesmo de sua propriedade, mas para concedê-la ao próprio povo. A título de exemplo, citamos a desapropriação com vistas à construção de casas populares ou com fi ns de reforma agrária. Justa e prévia indenização A desapropriação de bem particular enseja o recebimento de indenização. Ademais, a indenização percebida pelo proprietário do bem desapropriado deverá ser justa e prévia. A indenização justa é aquela que, além de compreender o valor real do bem, também cobre os valores referentes aos danos emergentes e aos lucros cessantes oriundos da de- sapropriação da propriedade privada. Nesse contexto, se a propriedade desapropriada for — em alguma medida — produtiva, a indenização deverá computar também tais valores. Já a indenização prévia é aquela paga antes do próprio ato de desapropriação. Assim, via de regra, não há de se falar em pagamento posterior à desapropriação. Outro ponto importante referente à indenização diz respeito ao modo como o pagamento é efetuado. Nesse contexto, via de regra, conforme os arts. 5º, XXIV, e 182, § 3º, da Constituição Federal, a indenização será realizada mediante pagamento em dinheiro. Porém, a desapropriação de imóveis rurais com vistas à reforma agrária e os imóveis urbanos em desacordo com o plano diretor serão indenizados por meio do pagamento de títulos. Nesse caso, enquanto os imóveis rurais serão pagos mediante títulos da dívida agrária (art. 182) (BRASIL, 1988), os imóveis urbanos serão pagos mediante títulos da dívida pública (art. 182, § 4º) (BRASIL, 1988). Desapropriação4 Com relação aos bens sujeitos à desapropriação, via de regra, se um bem é suscetível de valoração patrimonial, então ele é desapropriável. Nesse contexto, os bens podem ser móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos. Com efeito, é possível desapropriar inclusive o espaço aéreo, o subsolo, as ações ou os direitos de sociedade. Porém, apenas o ente da federação no qual a propriedade está situada tem competência para desapropriá-la. Assim, a título de exemplo, um bem situado no Estado do Rio Grande do Sul não poderia ser desapropriado pela Administração Pública do Estado de Santa Catarina (ALEXANDRINO; PAULO, 2017, p. 1.177). Embora a regra seja que os bens privados possam ser desapropriados, existem alguns bens insuscetíveis de desapropriação. Nesse contexto, citamos a moeda corrente e os direitos personalíssimos. No primeiro caso, tendo em vista que o próprio pagamento é realizado em dinheiro, não faria sentido desapropriar o dinheiro de um particular. No segundo caso, coisas como a honra, a dignidade e a liberdade não estão sujeitas à desapropriação por parte do Poder Público. Além disso, conforme a Súmula nº. 479 do Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2008), também não estão sujeitas à desapropriação as margens dos rios navegáveis. De acordo com o art. 22, II, da Constituição Federal, compete à União dispor sobre a desapropriação (BRASIL, 1988). Porém, conforme o parágrafo único do art. 22, mediante lei complementar, poderá haver autorização para que os demais entes da federação legislem sobre as questões específicas relacionadas à desapropriação. Procedimento e classificação da desapropriação No que diz respeito à classifi cação da desapropriação, distinguem-se as or- dinárias e as extraordinárias. Na base da diferença, está a própria motivação ou fi nalidade que ensejou a execução da desapropriação. 5Desapropriação O processo de desapropriação — cuja disposição legal encontra-se no Decreto- -Lei (DL) nº. 3.365, de 21 de junho de 1941 — pode ocorrer tanto pela via admi- nistrativa quanto pela via judicial (BRASIL, 1941). Na base da diferença entre ambos, está a questão do acordo com relação aos valores a título de indenização pela desapropriação. Nesse contexto, se há acordo entre o Poder Público e o proprietário do imóvel, será desnecessário que o Poder Judiciário preste a tutela jurisdicional para definir os valores referentes à indenização. Dito isso, vejamos as bases do procedimento administrativo para posteriormente tratar do procedimento judicial. De um ponto de vista estrutural, o procedimento administrativo de desapro- priação possui duas fases distintas: a fase declaratória e a fase executória. De modo geral, enquanto na fase declaratória o Poder Público declara a intenção de concretizar a desapropriação de um certo bem, na fase executória, o Poder Público providencia tudo aquilo que é necessário para realizar efetivamente a transferência do bem particular para o patrimônio público. O pontapé inicial da fase declaratória é a chamada declaração expropria- tória. Nela, além de o Poder Público declarar a intenção de desapropriar um determinado bem privado, também expressa as razões que ensejam a desa- propriação, isto é, a necessidade, a utilidade pública ou o interesse social. Tal declaração, conforme o art. 6º do DL nº. 2.265/1941, compete ao Presidente da República, ao governador ou ao prefeito. Além disso, conforme o art. 8º da mesma Lei, também poderá o Poder Legislativo tomar a iniciativa da desapropriação, cumprindo, nesse caso, ao Executivo praticar os atos necessários à sua efetivação. Com relação aos requisitos da declaração expropriatória, Marcelo Ale- xandrino afirma que deverá constar no decreto: “(a) a descrição precisa do bem a ser desapropriado; (b) a finalidade da desapropriação; (c) a hipótese A desapropriação ordinária tem como fundamento constitucional o art. 5º, XXIV. Em outras palavras, quando a desapropriação tem por objetivo atender a questões de necessidade pública, interesse social ou utilidade pública, ela será chamada de desa- propriação ordinária. Assim, por exemplo, será chamada de ordinária a desapropriação com vistas à construção de um hospital ou uma escola. A desapropriação extraordinária tem seu fundamento constitucional nos arts. 182, § 4º, e 184. Em outras palavras, ocorre quando a propriedade não está cumprindo devidamente a sua função social. Assim, citamos, por exemplo, o caso de propriedades rurais improdutivas ou imóveis urbanos em desconformidade com o plano diretor do município. Desapropriação6 legal descrita na lei expropriatória que autoriza a desapropriação que pretende executar” (ALEXANDRINO; PAULO, 2017, p. 1.142). Feito isso, poderá o Poder Público ingressar no bem particular, inclusive utilizando força policial, em caso de recusa do proprietário. Ademais, será realizada a perícia do bem para avaliar o valor a ser pago a título de indenização. Finalizada a fase declaratória, cumpre ao Poder Público dar início à fase executória da desapropriação. Nela, a Administração Pública passa a agir com vistas à transferência do bem particular para o patrimônio público, garantindo o pagamento da indenização ao particular. Nesse contexto, se o proprietário aceita os termos e os valores propostos, a transferência é realizada pela via adminis- trativa, caso contrário, será necessário realizar a transferência pela via judicial. Em caso de acordo em sede administrativa, concretiza-se a desapropriação, de modo que o bem é transferidoda propriedade privada ao patrimônio público. Nesse contexto, a desapropriação é formalizada mediante instrumento público no registro competente e pagamento ao proprietário do valor a ser recebido a título de indenização. Caso não haja acordo em sede administrativa, a concretização da desa- propriação passa pela apreciação do Poder Judiciário. Nesse caso, compete ao Poder Público ingressar com ação de desapropriação. Com relação aos sujeitos processuais, atuará no polo ativo a pessoa política responsável pela expedição do decreto expropriatório ou, nos casos de autorização legal, a entidade da administração do serviço público. Já no polo passivo, atuará — necessariamente — o proprietário do bem. Com relação aos requisitos da inicial, o art. 13 do DL nº. 3.365/1941 estabe- lece que a inicial, além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil, conterá a oferta de preço e será instruída com um exemplar: do contrato; do jornal oficial que houver publicado o decreto de desapropriação; da sua cópia autenticada; da planta ou descrição dos bens e de suas confrontações. Ademais, o Ministério Público atuará em todos os processos de desapro- priação. Recebida a inicial e ouvido o Ministério Público, abre-se o prazo para contestação por parte do proprietário. Com relação ao seu conteúdo, conforme o art. 20 do DL nº. 3.365/1941, a contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta. Em outras palavras, além de vícios formais — sus- 7Desapropriação citando em preliminar de mérito —, o requerido poderá apenas se manifestar, a título de questão de mérito, sobre o valor proposto a título de indenização. Feito isso, caso haja concordância sobre o valor da indenização, o juiz homologará acordo, ordenando a expedição da desapropriação ao registro competente. Caso não haja acordo, o juiz decidirá conforme as provas produ- zidas pelas partes e pelo perito responsável pela avaliação do bem. Da decisão proferida pelo juiz, caberá apelação com efeito devolutivo, quando interposta pelo expropriado, e também com o efeito suspensivo, quando interposta pelo expropriante (art. 28) (BRASIL, 1941). Outras características da desapropriação A seguir, serão abordados o destino dos bens desapropriados e os institutos da retrocessão e da imissão provisória na posse. Destino dos bens Em geral, com o advento da desapropriação, a propriedade é transferida para o patrimônio da entidade ligada ao ente público ou ao próprio ente público. Nesse caso, se o bem tiver destinação pública — como, por exemplo, para a instalação de uma secretaria —, o bem deixará de possuir natureza privada, adquirindo natureza jurídica de um bem público. Outro ponto importante referente à destinação dos bens diz respeito à questão da aquisição. Nesse contexto, conforme a doutrina, a aquisição pode ser definitiva ou provisória. Será definitiva quando o bem for destinado ao benefício do próprio ente que efetuou a desapropriação, como, por exemplo, o caso da secretaria. Nos casos em que a desapropriação for efetuada pelo ente público em benefício de terceiros, ela será provisória. Isso ocorre, pois, após adquirir o bem mediante indenização, a propriedade será repassada a outrem. A título de exemplo de aquisição provisória, citamos os casos de desapropriação realizados com vistas à reforma agrária. Imissão provisória na posse Em geral, apenas após a tramitação do procedimento de desapropriação e com o devido pagamento da indenização, o bem privado é transferido para o patrimônio público. Porém, pode ocorrer que — em função da urgência — o Poder Público não Desapropriação8 tenha tempo para esperar toda a tramitação do processo de desapropriação para fazer uso do bem. Para esses casos, existe o instituto da imissão provisória na posse. Tendo isso em mente, o art. 15 do DL nº. 3.365/1941 estabelece duas condi- ções para que o Poder Público assuma provisoriamente a posse do bem antes de finalizado o seu processo de desapropriação. Em primeiro lugar, como mencionado, deve ser comprovada a urgência por parte do Poder Público em desapropriar o bem do particular. Além disso, é necessário o pagamento prévio da indenização, a ser arbitrado pelo juiz conforme critérios legais. Quanto à imissão provisória na posse, se estiverem satisfeitos os requisitos legais, não cabe ao juiz negar o pedido do Poder Público. Ademais, chamamos a atenção para o fato de que, após decretada pelo juiz, a imissão deverá ser averbada no registro competente. Tredestinação Marcelo Alexandrino afi rma que a tredestinação “ocorre [...] quando o Poder Público expropriante dá ao bem desapropriado uma destinação diferente daquela que estava prevista no decreto expropriatório” (ALEXANDRINO; PAULO, 2017, p. 1.194). Em outras palavras, se o Poder Público desapropria um determinado bem privado para uma fi nalidade específi ca e se o bem não é utilizado conforme consta no decreto expropriatório, então ocorre a tredestinação. Conforme a doutrina, podemos distinguir as espécies de tredestinação em duas categorias: as lícitas e as ilícitas. A tredestinação lícita ocorre, por exemplo, no caso de o Poder Público desapropriar um certo terreno com vistas à construção de um hospital, porém, em virtude do interesse público, acaba por construir uma escola. A tredestinação ilícita ocorre quando a destinação efetiva do bem não vai ao encontro do interesse público. Retrocessão O instituto jurídico da retrocessão está disposto no art. 519 do Código Civil (BRASIL, 2002, documento on-line). Nele, temos que “[...] se a coisa expro- priada para fi ns de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, 9Desapropriação não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada para em obras ou serviços públicos, caberá o expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa”. O cabimento da retrocessão tem como pressuposto a ocorrência de uma tre- destinação ilícita. Isto é, além de ocorrer desvio de finalidade no uso do bem desapropriado, tal desvio não deverá atender ao interesse público. Assim, se o bem não for utilizado em absoluto ou utilizado para finalidade diversa da estipulada no decreto expropriatório e não condizente com o interesse público, caberá a retroces- são. Nesse caso, cumprirá ao Poder Público ofertar o bem ao antigo proprietário para que ele possa praticar o direito de preferência na aquisição do imóvel. Desistência da desapropriação A desistência ocorre quando os motivos que ensejaram a desapropriação deixem de subsistir e o processo de desapropriação ainda está em curso. Nesse caso, o Poder Público poderá declarar a desistência da desapropriação no próprio curso do processo, permanecendo o bem com o seu proprietário. Quanto a isso, não compete ao expropriado escolher se aceitará ou não o bem, isto é, não é admitido que ele se oponha à desistência. ALEXANDRINO, M.; PAULO, V. Direito Administrativo descomplicado. 25. ed. São Paulo: Método, 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm. Acesso em: 09 out. 2019. BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.365, de 21 de junho de 1941. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 jun. 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3365.htm. Acesso em: 09 out. 2019. BRASIL. Lei n°. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 09 out. 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 331.086-1 Paraná. Desa- propriação. Terreno reservado. Súmula nº. 479 da Suprema Corte. DJe, nº. 206, 2 set. 2008, p. 1033-1039. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=558633. Acesso em: 09 out. 2019. Desapropriação10 DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. Leituras recomendadas CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. PESTANA, M. Direito Administrativo brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SANTANNA, G. Direito Administrativo. 4. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015. (Série Objetiva). ZIMMER JUNIOR, A. Curso de Direito Administrativo. 3. ed. Rio de Janeiro: Método, 2009. 11Desapropriação DICA DO PROFESSOR Dentre os modos de intervenção na propriedade privada, a desapropriação tem grande importância, já que, por meio dela, garante-se que o Poder Público retire determinado bem de seu proprietário, transferindo-o – via de regra – para o patrimônio público. Nesta Dica do Professsor, você verá como funciona a desapropriação: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Intervenção estatal na propriedade - Desapropriação A desapropriação é o meio mais gravoso de intervenção na propriedade privada. Nesse contexto, satisfeitos os requisitos legais, admite-se que o Poder Público retire o bem do seu proprietário mediante indenização. Para saber mais sobre isso, confira o vídeo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! AGU Explica - Desapropriação-sanção ou confiscatória Se uma propriedade urbana ou rural não desempenha a sua função social, o Estado poderá intervir na propriedade, desapropriando-a. Assista ao vídeo para saber mais sobre o assunto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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