com sete porções de legumes e talvez uma ou duas porções de grãos por dia. Eles também comiam duas porções de soja rica em flavonoides, geralmente em forma de tofu. Eles não comiam muitas frutas e consumiam poucos ovos por semana. Laticínios e carne representavam apenas 3 por cento de suas calorias. Jamais influenciados pelo budismo, os okinawanos do século 20 não tinham tabus contra o consumo de carne, mas raramente a comiam. Em ocasiões especiais, geralmente durante o Ano-Novo Lunar, as pessoas matavam o porco criado pela família e comiam sua carne — provavelmente uma importante fonte de proteína na época. Uma típica refeição tradicional naquela época, escreveram os Willcoxes em um artigo para o Journal of the American College of Nutrition, começava com missoshiro (sopa de miso), incluindo alga marinha, tofu, batata-doce e folhas verdes. O prato principal era champuru, uma espécie de risoto de legumes que pode incluir arroz, goyá (melão amargo), daikon (rabanete), bucha-pepino, abóbora, bardana, folhas de um tipo especial de batata ou papaia verde, às vezes acompanhado por porções menores de peixe, carne ou talharim preparados com ervas, especiarias e óleo de cozinha. Para beber, havia chá de sanpin (jasmim) feito na hora e talvez um pouco de awamori (aguardente de painço) local. Três alimentos na dieta de Okinawa naquele tempo —açafrão-da-índia, batata-doce e alga marinha — traziam um benefício adicional que entendemos melhor hoje em dia: eles imitavam a restrição calórica, um modo de sobrevivência digestiva favorável à longevidade. Enquanto a comida é digerida, mitocôndrias nas células convertem calorias em energia. Um subproduto desse processo são os radicais livres, agentes oxidantes que deterioram o corpo de dentro para fora, provocando envelhecimento precoce. Os radicais livres podem enrijecer as artérias, encolher o cérebro e enrugar a pele. No modo restrição calórica, nossas células se protegem produzindo menos energia e também se livrando de radicais livres, assim desacelerando o processo de envelhecimento. Uma maneira de acionar a restrição calórica é consumir 40 por cento menos calorias do que o americano comum (2.500 no caso dos homens, e 1.800, das mulheres.) Uma pesquisa recente dos Willcoxes mostrou que o consumo regular de açafrão- da-índia, batata-doce e alga marinha pode prover alguns benefícios da restrição calórica, disparando gatilhos genéticos que minimizam a produção de radicais livres sem causar fome. DIETA DIÁRIA TÍPICA DE OKINAWANOS, 1949 (% DE INGESTÃO DIÁRIA EM GRAMAS) DIETA DIÁRIA TÍPICA DE OKINAWANOS, 1989 (% DE INGESTÃO DIÁRIA EM GRAMAS) Durante as décadas do pós-guerra, os habitantes de Okinawa comeram mais verduras e vegetais amarelo, laranja e vermelho do que outros japoneses. Eles também comiam mais carne - principalmente carne de porco - mas comiam menos peixe, menos sal e muito menos açúcar adicionado. INVASÃO DA FAST-FOOD Embora saudáveis, algumas dessas tradições alimentares de Okinawa soçobraram em meio século. Logo após a guerra, os EUA fizeram uma base militar no meio de Okinawa. Influências ocidentais e a prosperidade econômica abriram fissuras no modo de vida tradicional e os hábitos alimentares mudaram. Segundo levantamentos detalhados do governo japonês, batatas-doces caíram de 60 por cento para menos de 5 por cento entre as calorias diárias dos okinawanos no período de 1949-1960. Nesse ínterim, eles dobraram o consumo de arroz. Pão, algo até então praticamente desconhecido, também foi introduzido. O consumo de leite aumentou; e o de carne, ovos e aves subiu mais de sete vezes. Não coincidentemente, cânceres de pulmão, mama e cólon quase dobraram. A carne na dieta deles me fez refletir. Quando iniciei as pesquisas nas Blue Zones em 2000, eu tinha certeza de que descobriria que uma dieta vegana contribuía substancialmente para melhorar a saúde e a expectativa de vida. Então, quando descobri que okinawanos mais velhos não só comiam carne de porco, como a adoravam, achei que seu exemplo devia ser algo fora da curva — que eles viviam por mais tempo apesar disso. A carne de porco tem alto teor de gordura saturada que, se consumida em excesso, pode causar doenças cardíacas. Todavia, mais uma vez aprendemos algumas lições. Os okinawanos cozinhavam a carne de porco durante dias e retiravam a gordura com escumadeira. No final, o que eles comiam era o colágeno repleto de proteínas. Um especialista em nutrição que encontrei em Okinawa, Kazuhilo Taira, acreditava que era essa proteína suína que de fato explicava a longevidade local. Sua teoria era que todos nós temos pequenos rompimentos nos vasos sanguíneos que levam sangue ao cérebro. Rompimentos severos resultam em acidentes vasculares cerebrais, mas os menores, embora ainda façam mal, geralmente passam despercebidos. Na realidade, a proteína suína agia como uma espécie de calafetação, pois é semelhante à proteína humana. E era essa proteína que os okinawanos adoravam. “Ah, sim, eu gosto de carne, mas nem sempre”, Shinzato me dissera. “Quando eu era pequena, comia carne só durante as festividades do Ano- Novo. Não tenho hábito de comê-la todo dia.” Hoje em dia, porém, lojas de fast-food servindo hambúrgueres e outros sanduíches de carne são abundantes em Okinawa. A ilha tem o maior stand da A&W Root Beer no mundo. Em 2005, os okinawanos, que vivem em uma ilha com apenas 112 quilômetros de extensão e 11 quilômetros de largura, consomem toneladas de Spam, um enlatado de carne de porco condimentada que foi introduzido pelos soldados americanos após a II Guerra Mundial. Entre 1949 e 1972, a ingestão diária dos okinawanos teve um aumento de 400 calorias. Assim como os americanos, eles estavam consumindo 200 calorias por dia além do necessário, e estatísticas de saúde mostram o efeito dessas mudanças. Em 2000, Okinawa ficou em 26º lugar entre 47 prefeituras do Japão quanto à expectativa de vida para homens desde o nascimento, ao passo que okinawanos mais velhos, cujas dietas haviam se consolidado antes dessa época, são as pessoas mais longevas do mundo. Certas tradições não morrem e, aparentemente, algumas tradições alimentares mantêm os okinawanos com vidas saudáveis e longas, apesar da investida impiedosa da cultura moderna da fast-food. MELHORES ALIMENTOS DE OKINAWA PARA A LONGEVIDADE Há muito tempo os okinawanos ensinam as crianças a comerem diariamente algo da terra e algo do mar. Acho que essas crenças antigas sobrevivem por algum motivo, assim como outras tradições alimentares que contribuem para uma longa vida saudável. MELÕES AMARGOS. O melão amargo na verdade não é uma fruta, e sim uma cucurbitácea longa e arredondada que parece um pepino verrugoso. Quando verde, seu gosto é bem amargo. Chamado de goyá em Okinawa, o melão amargo muitas vezes é servido com outros legumes no goyá champuru, o prato nacional e pilar da dieta okinawana. Estudos recentes descobriram que o melão amargo é um “agente tão efetivo contra o diabetes” quanto produtos farmacêuticos, ajudando a regular o açúcar no sangue. Como a batata-doce, o açafrão-da-índia e a alga marinha comuns na dieta okinawana, o goyá contém substâncias químicas que podem desacelerar a produção dos corrosivos radicais livres. O melão amargo é cada vez mais disponível em mercados americanos com produtos gourmet. Nada como um bom substituto em nossa culinária cotidiana... TOFU. O tofu representa para os okinawanos o mesmo que o pão para os franceses e as batatas no Leste Europeu: um hábito diário. Os okinawanos comem cerca de oito vezes mais tofu do que os americanos hoje em dia. O leite de soja coalhado é usado para coagular a proteína do grão, depois o produto é prensado em um bloco e cortado em fatias. Assim como outros produtos à base de soja, o tofu é renomado por ajudar a proteger o coração. Estudos mostram que pessoas que comem tais produtos, em vez de carne, têm níveis mais baixos de colesterol e de triglicérides, o que reduz o risco de doenças cardíacas. BATATAS-DOCES. O imo okinawano é uma batata-doce de cor púrpura, prima