E LEITE DE OVELHA. Ambos têm valor nutritivo mais alto e são de digestão mais fácil do que o leite de vaca. Um estudo recente no European Journal of Clinical Nutrition mostrou que o leite de ovelha e o leite de cabra têm menos colesterol ruim, são anti- inflamatórios e podem proteger contra doenças cardiovasculares e câncer de cólon. O teor mais alto de cálcio e fósforo no leite de cabra pode ter ajudado as pessoas nas Blue Zones sardas a preservarem sua densidade óssea e, consequentemente, terem menos risco de fraturas. O leite de cabra também é rico em zinco e selênio, que são essenciais para o funcionamento ideal do sistema imunológico e para o envelhecimento saudável. O queijo pecorino feito de leite fermentado de ovelha na Sardenha é particularmente interessante. Devido a seu sabor pronunciado, ele pode ser usado com parcimônia em massas e sopas, além de ralado sobre legumes. Como é feito com leite de ovelhas que se alimentam de gramíneas, o pecorino tem níveis altos de ácidos graxos com ômega 3. PÃO CHATO (carta di musica). O pão mais consumido pelos pastores sardos é seco, achatado e feito de sêmola de trigo duro (o principal ingrediente na massa italiana), que tem pouco glúten e é rica em proteínas, fibras e carboidratos complexos. Por isso, ele não causa picos de açúcar no sangue como cereais processados ou refinados, e passa melhor pelo pâncreas, reduzindo o risco de diabetes tipo 2. Seu nome vem da constatação de que é plano e fino como o papel usado em partituras musicais. Outro pão chato e fino tradicional é o pane carasau, feito de farinha de trigo duro, sal, levedura e água. Ele foi inventado por pastores de ovelhas, que às vezes ficavam longe de casa durante meses, e pode durar até um ano. Como o trigo duro integral tem índice glicêmico de baixo a médio, não aumenta o açúcar no sangue e também contém apenas uma fração do glúten presente no pão branco. CEVADA. Em forma de farinha ou adicionada a sopas, a cevada é comprovadamente um alimento associado ao fato de homens sardos chegarem aos 100 anos. O pão de cevada moída (orgiathu) era o favorito dos pastores devido à sua longa validade e aparência de um pão comum. Como seu índice glicêmico é bem inferior ao do pão de trigo, ela aumenta a glicose no sangue mais lentamente do que o pão de trigo, sobrecarregando menos o pâncreas e os rins. Não se sabe se a razão disso é o alto teor de proteína, magnésio e fibras da cevada (bem mais alto do que o do mingau de aveia) ou o fato de a cevada estar eliminando da dieta alimentos menos saudáveis, como farinha de trigo branca. Ironicamente, a cevada era considerada um alimento de gente pobre até recentemente, quando passou a ser valorizada pela alta cozinha sarda. PÃO RÚSTICO DE FERMENTAÇÃO NATURAL (moddizzosu).Como o pão rústico nos Estados Unidos, os pães rústicos sardos de fermentação natural são de trigo integral e usam lactobacilos vivos (em vez de levedura) para a massa crescer. Esse processo também converte açúcares e glúten em ácido lático, reduzindo o índice glicêmico do pão e dando-lhe um sabor agradável e levemente azedo. Pes demonstrou que esse tipo de pão pode reduzir o índice glicêmico, causando uma queda de 25 por cento nos níveis de glicose e insulina no sangue após a refeição. Isso ajuda a proteger o pâncreas e a prevenir obesidade e diabetes. FUNCHO. O sabor de alcaçuz do funcho realça vários pratos sardos. Seu bulbo é usado como legume, as frondes esguias, como erva, e as sementes, como tempero. Além de rico em fibras e vitaminas solúveis como A, B e C, é também um bom diurético que ajuda a manter a pressão arterial baixa. FAVAS E GRÃO-DE-BICO. Usados em sopas e cozidos, favas e grão-de- bico têm papel importante na dieta sarda, pois fornecem proteína e fibras. Eles estão entre os alimentos mais altamente associados à chegada aos 100 anos. TOMATES. O molho de tomate sardo (veja a receita na página 226) é usado em pães e pizzas, e é a base para várias massas. Tomates são ricos em vitamina C e potássio. Durante a cocção, os tomates rompem suas membranas celulares, tornando o licopeno e outros antioxidantes mais disponíveis. O costume sardo de juntar azeite de oliva com tomates (seja regando essa mistura sobre tomates crus ou usando-a para fazer outros molhos) aumenta a capacidade do corpo de absorver nutrientes e antioxidantes. AMÊNDOAS. Associadas à culinária em todo o Mediterrâneo, as amêndoas figuram regularmente na culinária sarda, seja consumidas in natura, picadas em pratos principais ou moídas formando uma pasta para sobremesas. Um estudo mostrou que incluir amêndoas em uma dieta de baixa caloria ajuda a perder mais peso e gordura abdominal, aumenta o colesterol bom na lipoproteína de alta densidade LDL e reduz a pressão arterial sistólica. CARDO-MARIANO. Os sardos tomam chá de cardo-mariano, uma planta silvestre nativa, para, conforme a crença local, “limpar o fígado”. Uma pesquisa emergente sugere que a silimarina, principal ingrediente ativo dessa planta, é antioxidante e combate inflamações. Lojas americanas de comida saudável vendem cardo-mariano como ingrediente de alguns chás de ervas e em forma de cápsula e comprimido. VINHO CANNONAU. Emblemático da Sardenha, o vinho tinto Cannonau é feito com uva grenache banhada por muito sol. Quando estive lá pela primeira vez, eu esperava descobrir um elixir da longevidade nesse vinho. Os sardos tomam em média três a quatro copos pequenos de vinho por dia, entre o desjejum, o almoço, o jantar e o final da tarde, quando encontram os amigos no vilarejo. Pode-se argumentar que pequenas doses diárias dessa bebida rica em antioxidantes justificam menos ataques cardíacos. Em geral, vinhos tintos secos oferecem a mesma vantagem para a saúde. Veja receitas da Sardenha nas páginas. 265-279. CAPÍTULO 4 A DIETA NAS BLUE ZONES AMERICANAS: LOMA LINDA, CALIFÓRNIA No meio da manhã, Ellsworth Wareham costuma ingerir um desjejum de proporções bíblicas. Na mesa da cozinha de sua casa em Loma Linda, Califórnia, ele tem diante de si uma tigela enorme de cereais integrais com leite de soja, outra repleta de frutas, uma pilha de torradas integrais com manteiga de nozes, um copo grande de suco de laranja com polpa e um punhado de nozes. Pela janela da cozinha pode-se ver um pequeno bosque de laranjeiras e os sopés de colinas marrons que sobem até as montanhas San Jacinto cobertas de neve. Por volta das 16 horas, Wareham retoma seu lugar na mesa da cozinha para mais uma refeição: montes de feijões, legumes crus, aspargos, repolho e brócolis cozidos, seguidos de um punhado de nozes e tâmaras de sobremesa. Ele poderia explicar que é exatamente essa a dieta que Deus prescreveu para o Jardim do Éden. E, conforme mostrou um dos maiores e mais robustos estudos de epidemiologia nos Estados Unidos, essa também é a dieta mais saudável para a humanidade hoje em dia. Conheci Wareham em 2005, quando eu estava pesquisando para um artigo sobre longevidade para a revista National Geographic. Eu o procurei porque ele parecia ser um icônico adventista do sétimo dia, e os membros dessa vertente do cristianismo são mais longevos do que os demais americanos. “Antigamente tínhamos de conectar a linha de pressão arterial na artéria femural. Depois ela iria direto para a aorta”, explicou ele. Com suas roupas de médico, ele parecia um avô afável, mas agora, à paisana, parecia decididamente professoral. Alto e magro, ele usava óculos de armação grossa e tinha bigode. “Ao fazer incisões nas pernas desses pacientes, observava que aqueles que eram vegetarianos tinham artérias melhores, mais macias e flexíveis.” Não vegetarianos, disse ele, tendiam a ter excesso de cálcio pesado e placas nas artérias. “Comecei a pensar sobre isso. Eu via pessoas tendo os dedos dos pés ou os pés inteiros amputados devido à doença vascular, e isso me motivou. Na meia-idade, resolvi me tornar vegano. Exceto por um pedaço ocasional de peixe, só como vegetais.” DIRETRIZES ALIMENTARES DIVINAS Aludindo à dieta bíblica de grãos, frutas, nozes e legumes, os adventistas citam o Gênesis