Em outras palavras, o autor entende o currículo como um movimento de ensino e aprendizagem. Os estudantes não aprendem parcelas de conhecimento des- conectadas e fragmentadas, mas relacionam esses saberes com seus próprios interesses e experiências de vida. É a mente (emoções, intuições, valores) do estudante que constrói essa integração. Portanto, um currículo integrado é um currículo do pensamento sobre ideias, expressões, sensações e autonomia. Nessa teia de significações, não há lugar para verdades absolutas nem para a separação entre as questões relacionadas à construção de um olhar sensível e dos conhecimentos apropriados; entre a arte e o contexto sociocultural. Essa concepção é coerente com os atuais rumos do ensino contemporâneo da arte, que articula questões como diversidades, gênero, inter e multiculturalismo, arte popular, territórios e fronteiras, dentre outras. Nesse contexto, compreende-se que as Instituições Educativas passam a ser geradoras de cultura; as aulas, espaços de aprendizagens e experiências; e a biblioteca, centro de pesquisa. 3A avaliação no ensino das artes E como a avaliação é entendida num currículo integrado? Alguns autores defendem a avaliação como possibilidade articuladora entre ensinar e aprender, entendendo-a como processo humanitário. Abramowicz (1996), por exemplo, propõe uma visão crítica e humanista de avaliação, centrada em experiências e necessidades dos estudantes, reconhecendo-os como sujeitos do processo em um contexto social, político e cultural mais amplo. Aspectos referentes à intersubjetividade e à contextualização das relações concretas delineiam cenários das discussões atuais na área da avaliação. Sacristán (1998) também considera imprescindível um esforço por parte da escola, dos professores e dos estudantes para que não haja separação dos tempos, espaços, modos e sujeitos de ensinar e aprender. Segundo o autor, essa separação desintegra-se da aprendizagem, perdendo seu valor formativo no diálogo crítico entre professores e estudantes. Para Canen e Moreira (2001), um dos caminhos possíveis para o desen- volvimento da avaliação é a diagnóstica, realizada no contexto presente com vistas ao futuro, ou seja, é um processo de construção permanente, que favo- rece a investigação e o questionamento sobre as ações realizadas, tanto pelo professor quanto pelo estudante. A avaliação nessa perspectiva deve estar em permanente compromisso com o fazer docente e com a aprendizagem do estudante em um processo contínuo que é complexo e que envolve ao mesmo tempo elementos objetivos e subjetivos. Eisner (1998), autor que vem dedicando seus estudos também às questões da avaliação no ensino da arte, entende que ela deve estar vinculada ao contexto sociocultural dos estudantes e que as práticas avaliativas sofrem influências dos conceitos teóricos e metodológicos apropriados pelos professores e pelos pressupostos filosóficos da escola. Por sua vez, Boughton, Eisner e Ligtvoet (1996), sobre avaliação em arte, sinalizam como um processo democrático cujo foco centra-se no desenvol- vimento cognitivo, perceptivo e sensível do estudante, rompendo com a ideia de avaliação redutora e fragmentada. A avaliação no ensino das artes4 Onde estaria o núcleo do problema da avaliação? No seu conteúdo: abrangência. Avaliar só o aluno ou outros aspectos do trabalho, avaliar só o aspecto cognitivo ou o aluno como um todo? Na sua forma: exigência quantitativa. A questão mais delicada é o processo, dividido entre fragmentação e continuidade? A ênfase exagerada na avaliação classificatória? O desafio de elaboração adequada dos instrumentos? A forma de expressão dos resultados (nota, conceito, parecer descritivo)? Na sua intencionalidade: finalidade, objetivo. O problema está na função a que se presta a prática educacional? No uso que se faz dos resultados da avaliação? Nas suas relações: a dificuldade principal está na metodologia de trabalho em sala de aula, nas condições de trabalho, no sistema de ensino, na condição de vida dos alunos? Enfim, a motivação, a mobilização para o conhecimento, desempenha um papel decisivo no processo de aprendizagem, uma vez que o conhecimento novo se dá a partir do conhecimento prévio, e este não está sempre disponível, sendo necessária uma carga afetiva para acioná-lo. Se desejarmos a motivação do aluno, precisamos de coragem para ir fundo na questão e superar o currículo disciplinar instrucionista, alterando a organização do trabalho pedagógico como um todo e, consequentemente, a forma de avaliar. Os critérios de avaliação no ensino das artes A arte é uma disciplina cujo nome releva da noção de ofício, no sentido que lhe é conferido atualmente pelo operador plástico, enquanto agente de intervenção crítica que, mediante o conhecimento e a valorização do patrimônio, é capaz de agir, de modo integrado, na sociedade em que está inserido. Guimarães e Souza (2011, p. 316-317) comentam que: A avaliação da aprendizagem em arte, na perspectiva laissez-faire, traduz práticas espontaneístas de ensinar e de aprender. Ao professor cabe o aceite de tudo que foi realizado pelo aluno, o respeito à expressividade e à subjetividade de todos, limitando-se a facilitar a aprendizagem dos alunos – pois não investe em seu papel de interventor. Sob a égide de conferir liberdade, o professor omite-se de enriquecer o repertório dos alunos e de oferecer critérios para a produção artística, abandonando-os dependentes de sua bagagem hereditária. 5A avaliação no ensino das artes O “não tenho dom”, o “qualquer coisa é arte” ou, ainda, “isso qualquer um faz” são implicações patentes desta perspectiva não diretiva em avaliar. Não há investimento no processo, pois o produto é dado como consequência do que é possível ao aluno realizar. Assim, este é relegado à própria sorte – nas- ceu ou não nasceu para “isso” – e a arte é apenas um canal para a expressão de sentimentos pela realização de atividades livres – situações propícias à manifestação de suas habilidades inatas. Essa avaliação laissez-faire da aprendizagem em arte tanto retira do processo pedagógico a importância da reflexão e dos aspectos cognitivos envolvidos como também aliena o aluno da realidade, pois não contextualiza ou explora a diversidade de possibilida- des e critérios do campo artístico, apartando inteligência e emoção e, dessa forma, aumentando cada vez mais a desigualdade ao acesso e à fruição da arte. Pode parecer bondoso, mas não é. Ao deixar o outro entregue à própria sorte, “lavar as mãos” quanto às elaborações e resultados alcançados pelos alunos – aceitando tudo como bom, como se nada pudesse ser melhorado – é uma triste forma de condenar à permanência no status quo. O educador “existe” para ajudar a aprender, para contribuir na superação dos problemas, para auxiliar na minimização das dificuldades. Não lhe cabe fechar os olhos. Não lhe é facultado abster-se. O ensino de arte, entretanto, não é terapia, mas parece ser, quando tudo que o aluno realiza – e até o que não realiza – precisa ser aceito em sua integralidade e quando qualquer proposição de aperfeiçoamento se constitui em “quase” mutilação da expressão criativa e individual do educando. A ênfase nas atividades expressivas, sensibilizadoras e criativas difundiu a falsa crença de que o importante era proporcionar ao indivíduo a oportu- nidade de criar, de expressar, sem nenhum tipo de interferência por parte do professor, como se a criatividade não pudesse e não devesse ser educada. Não se cuidava de orientar essa criatividade, de reelaborá-la, tal como se trabalhava outras aptidões, no sentido de que dela resultasse algo significativo (AZEVEDO, 2000). É interessante pensar em instrumentos avaliativos que ajudem a fazer inferências sobre o processo de desenvolvimento dos alunos, em vez de optar por métodos que focam resultados isolados. A avaliação no ensino das artes6 Figura 1. Formas de avaliação. Fonte: JNT Visual/Shutterstock.com.