na biosfera em caminhos característicos, que vão do ambiente para o organismo e de volta para o ambiente. Assim, podemos considerar a atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera como componentes do sistema Terra, tendo a função de reservatórios biogeoquímicos que armazenam elementos químicos terrestres, associados a processos que os transportam de um componente a outro, conforme a figura a seguir. Portanto, os ciclos biogeoquímicos promovem o fluxo dos elementos químicos de um reservatório a outro (PRESS et al., 2006). Esses caminhos ou movimentos mais ou menos cíclicos são conhecidos como ciclos biogeoquímicos (ODUM; BARRETT, 2011, BRAGA et al., 2005, DERISIO, 2012). Bio, porque está relacionado com os organismos vivos que interagem no processo de síntese orgânica e decomposição dos elementos. Geo, porque está relacionado com o meio terrestre, é a fonte dos elementos. E químicos, porque faz relação com os ciclos de elementos químicos. Assim, a biogeoquímica é a ciência que estuda a troca ou o fluxo de matéria entre os componentes vivos e físico-químicos da biosfera (BRAGA et al., 2005; ODUM; BARRETT, 2011). NOTA UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO 8 FIGURA 3 – PROCESSOS DE TRANSPORTE ENTRE OS COMPONENTES DO SISTEMA TERRA FONTE: Press et al. (2006, p. 599) As relações entre espécies e ambiente físico caracterizam-se por uma constante troca de elementos em uma atividade cíclica, que, por compreender aspectos de etapas biológicas, físicas e químicas alternantes, é conhecido como ciclo biogeoquímico. Este fenômeno, porém, é estritamente cíclico apenas em relação ao aspecto químico, pois estes compostos químicos alterados se reconstituem ao final de cada ciclo, enquanto que o aspecto físico das rochas não se regenera, necessariamente. Com isso, existe uma espécie de intercâmbio contínuo entre o meio físico (abiótico) e com o conjunto de seres vivos (biótico), sendo esse intercâmbio de tal forma equilibrado, em relação à troca de elementos entre os dois meios, que estes se mantêm praticamente constantes (DERISIO, 2012). Mesmo que a fonte primária de energia (radiação solar) seja inesgotável, a matéria-prima necessária à síntese orgânica e a sucessivas transformações energéticas existe em quantidade limitada no meio, devendo, ser recirculado, tornando obrigatória a troca recíproca e contínua de elementos químicos entre o meio biótico e abiótico. O intercâmbio de elementos químicos é acompanhado de ganhos e perdas de energia, que geram um ciclo entre o meio biológico e o meio geofísico. Com a existência dos ciclos biogeoquímicos é atribuído à biosfera um poder importante de autorregulação, assegurando a sustentabilidade dos ecossistemas. Em cada um dos ciclos biogeoquímicos, existe um compartimento que funciona como reservatório do nutriente, constituindo um componente muito grande em relação aos demais, de modo a garantir o escoamento lento e regularizado do elemento em questão (DERISIO, 2012). TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS 9 Caro(a) acadêmico(a)! Não podemos esquecer que o ECOSSISTEMA é uma unidade que inclui todos os organismos de uma determinada área interagindo com o meio físico, de forma a originar um fluxo de matéria e energia (DERISIO, 2012). O movimento dos elementos e compostos inorgânicos essenciais para a vida pode ser convenientemente designado de ciclagem dos nutrientes. Esses elementos, entre 30 e 40, são incorporados aos organismos na forma de compostos orgânicos complexos ou ainda participam de uma série de reações químicas essenciais às atividades dos seres vivos. Portanto, um elemento essencial disponível para os produtores, em forma molecular ou iônica, receberá o nome de nutriente (BRAGA, et al., 2005). Alguns elementos essenciais, como o carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o nitrogênio, são necessários em grandes quantidades. Já outros, são necessários em pequenas ou até minúsculas quantidades. Desta forma, qualquer que seja o volume necessário, os elementos essenciais exibem ciclos biogeoquímicos definidos. Os elementos não essenciais, ou seja, aqueles elementos que não são exigidos para a vida, também circulam e frequentemente fluem com os elementos essenciais, pelo ciclo hidrológico, ou por afinidade química (ODUM; BARRETT, 2011). Os nutrientes são divididos em dois grandes grupos conforme apresentado na figura a seguir. FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS NUTRIENTES FONTE: Adaptado de: Braga et al.(2005) Assim, também cada ciclo de nutriente pode ser convenientemente dividido em dois compartimentos ou estoques, conforme a figura a seguir. Muitos elementos têm múltiplos estoques reservatórios e alguns podem ter múltiplos estoques de ciclagem ou lábeis (ODUM; BARRETT, 2011). NOTA UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO 10 FIGURA 5 – DIVISÃO DOS CICLOS DE NUTRIENTES FONTE: Adaptado de: Odum e Barrett (2011) Em termos de ecossistema, os ciclos bioquímicos são caracterizados em dois grupos básicos conforme a figura a seguir. FIGURA 6 – CARACTERIZAÇÃO DOS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS EM RELAÇÃO AO ECOSSISTEMA FONTE: Adaptado de: Odum e Barrett (2011) e Braga et al.(2005) Nos ciclos sedimentares (fósforo, enxofre, cálcio, magnésio, potássio, entre outros), o reservatório que supre os elementos e os recebe de volta é a litosfera. Nos ciclos gasosos (carbono, nitrogênio, oxigênio, entre outros), o reservatório é a atmosfera. A dissipação de alguma forma de energia é sempre necessária para acionar os ciclos biogeoquímicos (BRAGA et al., 2005, ODUM; BARRETT, 2011). Na tabela a seguir podemos observar o tamanho dos reservatórios e os tempos de renovação de quatro elementos biologicamente ativos. TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS 11 TABELA 1 – TAMANHO DE RESERVATÓRIOS E TEMPOS DE RENOVAÇÃO DE ELEMENTOS BIOLOGICAMENTE ATIVOS Reservatório Quantidade Tempo de renovação* Nitrogênio (1012 g N) Atmosfera (N2) 4 x 109 107 Sedimentos 5 x 108 107 Oceano (N2 dissolvido) 2,2 x 107 1000 Oceano (inorgânico) 6 x 105 Solo 3 x 105 2000 Biomassa terrestre 1,3 x 104 50 Atmosfera (N2O) 1,4 x 104 100 Biomassa marinha 4,7 x 102 Enxofre (1012 g S) Litosfera 2 x 1010 108 Oceano 3 x 109 106 Sedimentos 3 x 108 106 Solos 3 x 105 103 Lagos 300 3 Biota marinha 30 1 Atmosfera 4,8 8 – 25 dias Fósforo (1012 g P) Sedimentos 4 x 109 2 x 108 Continente 2 x 105 2000 Oceano profundo 8,7 x 104 1500 Biota terrestre 3000 ~50 Oceano superficial 2700 2,6 Atmosfera 0,028 dias Carbono (1012 g C) Sedimentos, rochas 77 x 106 >106 Oceano profundo (CID, carbono orgânico dissolvido) 38000 2000 Solos 1500 <10-105 Oceano superficial décadas 1000 Décadas Atmosfera 750 5 Oceano profundo (COD, carbônico orgânico dissolvido) 700 5000 Biomassa terrestre 550-680 50 Sedimentos superficiais 150 0,1-1000 UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO 12 Biomassa marinha 2 0,1-1 *Tempo de renovação em anos, a menos que citado de outra forma. FONTE: Adaptado de: Odum; Barrett (2011, p. 144) Os elementos químicos quase nunca estão distribuídos de forma homogênea na natureza, nem estão presentes na mesma composição química em todo o ecossistema. Muitas vezes, a porção reservatório é chamada de estoque indisponível, e o estoque ativo em circulação, de estoque disponível. Para exemplificar podemos citar as análises que os agrônomos fazem, quantificando a fertilidade do solo estimando a concentração de nutrientes trocáveis – a parte pequena do conteúdo de nutrientes total do solo que logo se torna disponível para as plantas. Porém, estas afirmações são admissíveis desde que seja compreendido de que estes termos são relativos. Um átomo no estoque reservatório não está, necessariamente, indisponível para os organismos, porque existem fluxos lentos entre os componentes disponíveis e indisponíveis. Os métodos usados para quantificar nutrientes trocáveis em testes de solo são apenas indicadores aproximados. O tamanho relativo dos estoques reservatório