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UNIDADE 2
ELEMENTOS DO CONTEXTO 
HISTÓRICO-FILOSÓFICO 
EDUCACIONAL MODERNO E 
CONTEMPORÂNEO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
•	 reconhecer	o	contexto	histórico	e	filosófico	no	qual	os	principais	pensa-
dores	da	época	renascentista	e	do	Iluminismo	formularam	e	defenderam	
suas	ideias	e	teorias;		
•	 identificar	o	impacto	de	instituições	como	as	corporações	de	ofício,	univer-
sidades,	o	movimento	da	reforma	religiosa,	a	formação	do	Estado	laico	e	a	
Revolução	Industrial	ao	contexto	educacional;
•	 relacionar	as	principais	concepções	teórico-filosóficas	e	metodológicas	que	
passaram	a	ser	defendidas	e	legitimadas	em	meio	à	comunidade	científica,	
nas	instituições	políticas	e	educacionais	da	época	moderna;
•	 abordar	as	principais	escolas	e	pensadores	da	educação	do	século	XX,	bem	
como	o	contexto	político,	econômico	e	sociocultural	que	propiciaram	as	
condições	para	que	as	mesmas	se	desenvolvem.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	Em	cada	um	deles	são	feitas	su-
gestões	de	filmes,	sites,	leituras	para	que	você	enriqueça	seus	conhecimentos,	
aprofunde	e	contextualize	de	forma	mais	completa	e	ampla	seus	estudos.
TÓPICO	1	–	DECLÍNIO	 DO	 PENSAMENTO	 CRISTÃO	 E	 O	 FORTALECI-
MENTO	DO	HUMANISMO	MODERNO
TÓPICO	2	–	A	FORMAÇÃO	DO	SISTEMA	LAICO	DE	ENSINO	NO	OCI-
DENTE	CONTEMPORÂNEO
TÓPICO	3	–	OS	 DESAFIOS	 EDUCACIONAIS	 NO	 CONTEXTO	 DA	 PÓS-
MODERNIDADE
Assista ao vídeo 
desta unidade.
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67
TÓPICO 1
O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO 
E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO 
MODERNO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro	 acadêmico!	 Os	 fundamentos	 do	 processo	 educativo	 no	 contexto	
histórico	 e	 filosófico	 que	 transcorreram	 entre	 o	 Renascimento	 e	 o	 Iluminismo	
podem	 ser	 compreendidos	 cronologicamente	 como	 baixa	 Idade	 Média,	 que	
transcorreu	entre	os	anos	finais	do	século	XV	e	que	se	estendeu	até	os	últimos	anos	
do	século	XVIII.	
Algumas	 alterações	 e	 invenções	 ocorridas	 nos	 últimos	 400	 anos	 foram	
responsáveis	por	uma	nova	forma	dos	seres	humanos	viverem.	Antes	do	século	XV,	
vivíamos	num	mundo	encravado,	isto	é,	não	havia	trocas	humanas	e	comerciais	
perenes	entre	os	diversos	continentes.	Porém,	no	século	XV,	as	viagens	de	Cristóvão	
Colombo,	 encontrando	 em	 sua	 rota	 o	 continente	 americano,	 e	Vasco	 da	Gama,	
achando	um	novo	caminho	marítimo	para	alcançar	as	Índias,	são	os	reflexos	de	um	
mundo	que	se	transformou,	iniciando	um	processo	de	ocidentalização	do	mundo	
(CHAUNU,	1978).	
Em	outras	palavras,	a	partir	do	século	XVI,	os	países	da	Europa	Ocidental	
começaram	a	impor	as	suas	formas	de	organização	social	para	os	demais	povos	
da	Terra,	 em	um	sistema	de	 exploração	 colonial.	 Porém,	outras	 transformações	
ocorreram	também	nos	campos	político,	religioso,	artístico	e	cultural.	No	campo	
político,	 tivemos	 o	 fim	 do	 Império	 Bizantino	 com	 a	 queda	 de	 Constantinopla	
em	1453,	tomada	pelos	turcos	otomanos,	o	que	significou	um	avanço	da	religião	
islâmica	nas	fronteiras	da	Europa	Ocidental.
 
No	 campo	 religioso,	 a	 Reforma	 Protestante,	 simbolizada	 pelos	 líderes	
Martinho	 Lutero	 e	 João	Calvino,	 rompeu	 com	 a	 autoridade	 do	 papa	 em	 todos	
os	 países	 europeus,	 autoridade	mantida	 apenas	 nos	 países	 da	 Europa	 no	 qual	
a	Reforma	não	prosperou,	como	nas	penínsulas	 ibérica	e	 itálica.	No	tocante	aos	
aspectos	artísticos	e	 culturais,	o	maior	 símbolo	destes	novos	 tempos	no	mundo	
ocidental	foi	o	Renascimento	artístico	e	cultural,	que	teve	como	principal	local	a	
Itália	dos	Bórgia	e	dos	Médici,	as	principais	famílias	que	patrocinavam	as	artes,	o	
denominado	mecenato	artístico.			
A	 partir	 do	movimento	 do	 Iluminismo,	 somado	 às	 transformações	 que	
ocorreram	a	partir	do	século	XVIII,	ou	da	chamada	Idade	Moderna,	caracterizada	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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especialmente	pelos	eventos	da	Revolução	Francesa	e	a	Independência	dos	Estados	
Unidos	da	América	e	a	Revolução	Industrial,	eis	que	se	instaura	uma	nova	forma	
de	pensar	a	vida	em	comunidade	e	de	produzir	o	saber.	Agora	a	composição	do	
Estado	é	laica,	ou	seja,	ausente	de	integrantes	do	clero.	A	produção	do	conhecimento	
deixou	de	ser	tutelada	e	financiada	pela	Igreja,	posição	que	vai	ser	ocupada	pelos	
grupos	 econômicos	 da	 burguesia,	 que	 vai	 favorecer	 que	 os	 estudos	 de	 cunho	
científico	e	não	mais	sobre	os	dogmas	religiosos	e	as	questões	teológicas.		
Segundo	Ghiraldelli	Jr.	(1999),	a	filosofia	da	educação	moderna	consistiu	em	
uma	aliança	entre	a	filosofia	do	sujeito	e	a	educação	humanista,	cuja	preocupação	
residiu	 em	que	o	processo	 educativo	garantisse	 a	 formação	do	 sujeito	 racional,	
autônomo	e	consciente,	o	que,	por	sua	vez,	foi	forjado	por	meio	de	uma	educação	
monológica,	 verticalizada	 e	 autoritária,	 que	 valorizava	 métodos	 e	 concepções	
teóricas	frente	à	experiência	e	prática	cotidiana.
Ao	longo	de	mais	de	quase	três	séculos	ocorreram	muitas	transformações	
do	ponto	de	vista	político,	econômico,	 social	e	cultural,	assim	como	no	que	diz	
respeito	 à	 mentalidade	 e	 ao	 imaginário,	 dos	 modos	 de	 viver,	 de	 morrer,	 de	
transformar	e	elaborar	as	matérias-primas,	o	transportar,	negociar	e	consumir	os	
produtos,	de	explicar	os	fenômenos	da	natureza	e	as	questões	da	origem,	sentido	
e	da	finitude	humana.
No	campo	das	ideias	pode-se	relacionar	a	invenção	da	imprensa	e	as	práticas	
de	 leitura:	 Trovadorismo,	 Renascença,	 Reforma,	 Contrarreforma,	 a	 superação	
dos	 regimes	 de	 monarquia	 (antigo	 regime)	 pelos	 de	 repúblicas	 democráticas,	
os	 primeiros	 processos	 de	 independência	 de	 colônias	 de	metrópoles	 (E.U.A),	 a	
Revolução	Francesa,	a	Declaração	dos	Direitos	Humanos,	a	laicização	do	Estado,	a	
secularização	da	sociedade	(enfraquecimento	das	explicações	sagradas/religiosas),	
fortalecimento	 das	 ideias	 racionais,	 o	 princípio	 da	 dúvida,	 as	 investigações,	 os	
métodos	científicos,	a	abordagem	dialética,	as	concepções	de	tese,	antítese	e	síntese.
No	contexto	filosófico	registrou-se	o	recuo	do	pensamento	escolástico	e	o	
avanço	de	um	pensamento	menos	especulativo	e	contemplativo.	A	partir	da	época	
moderna,	o	campo	filosófico	dedicou-se	às	questões	práticas	e	almejava	aplicação	
em	meio	à	 sociedade	daquele	 tempo,	o	que	 fez	com	que	a	 teologia	e	a	filosofia	
tradicional	 passassem	a	 considerar	 outras	 áreas	do	 conhecimento,	 tais	 como	 as	
ciências	exatas	e	naturais.	A	partir	da	época	moderna,	os	experimentos	científicos,	o	
uso	de	métodos,	os	processos	de	observação,	a	formulação	de	hipóteses	e	registros	
de	deduções	se	fizeram	cada	vez	mais	presentes	na	produção	do	conhecimento,	ou	
seja,	prevaleceu	a	visão	científica	e	mecanicista	do	mundo.
Caro	 acadêmico!	 Ao	 longo	 desta	 unidade	 de	 estudos	 ilustraremos	
e	 teceremos	 maiores	 definições	 e	 exemplificações	 sobre	 este	 quadro	 que	 foi	
brevemente	apresentado.	Prossiga	na	leitura	com	atenção	e	concentração.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
69
2 O IMPACTO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES E DA PRENSA 
DE GUTTENBERG NO CENÁRIO EDUCACIONAL, POLÍTICO E 
SOCIAL
Nas	áreas	técnicas	e	científicas	ocorreram	mudanças	significativas,	como	no	
campo	da	navegação,	o	processo	de	manufatura	e	industrialização	da	produção,	a	
substituição	do	trabalho	servil	pelo	trabalho	assalariado,	a	troca	natural	e	escambo	
pelo	comércio	financeiro,	a	gradual	migração	para	as	cidades	da	população	que	
residia	no	campo.	
Por	outro	 lado,	pertencem	ao	mesmo	período	as	práticas	de	colonização	
por	parte	das	nações	europeias	em	regiões	como	a	América,	regiões	ainda	mais	no	
interior	da	África	e	Ásia,	que,	por	sua	vez,	forneceriam	matérias-primas	e	artigos	de	
luxo.	Um	dos	processos	de	transformação	do	mundo	ocidental	durante	a	ruptura	
da	Idade	Média	para	a	Idade	Moderna	foi	o	perene	desenvolvimento	de	contatos	
entre	os	europeus	e	os	povos	americanos,	africanos	e	asiáticos.	Uma	das	razões	
apontadas	seriaa	existência,	no	sul	de	Portugal,	de	uma	escola	de	navegadores,	a	
afamada	“Escola	de	Sagres”.	
É	atribuída	ao	infante	português	D.	Henrique	(1394-1460)	a	idealização	da	
escola.	Não	 se	 tratava	de	uma	escola	 formal,	 foi	uma	escola	que	 levava	o	 lema	
de	“O	talento	de	bem-fazer”.		No	estaleiro	de	Lagos,	região	de	Algarve,	se	dava	
a	 construção	de	embarcações.	Toda	vez	que	uma	expedição	era	 feita,	 relatórios	
e	 registros	 deveriam	 ser	 redigidos	 a	 fim	 de	 servir	 de	 referência	 a	 melhorias	 e	
ampliações	ao	que	já	existia	em	Sagres.
Chaunu	(1978)	apresenta	que	ocorreu	forte	especulação	sobre	a	existência	
da	Escola	propriamente	dita	e	cogitava-se	que	tal	escola	não	tenha	existido,	pois	
acredita-se	 que	 as	 navegações	 foram	 possíveis	 pelo	 desenvolvimento	 empírico	
(experimental)	dos	navegadores.	A	ideia	de	escola,	porém,	pode	ser	compreendida	
de	um	modo	amplo,	isto	é,	um	modo	próprio	dos	portugueses	em	navegar	pelos	
oceanos.	
As	 navegações	 ibéricas	 constituíram	 uma	 ação	 social	 que	 envolvia	
aprendizado	 constante	 entre	 aprendizes-marinheiros	 e	 mestres	 de	 navegação.	
Em	geral,	este	aprendizado,	na	época,	não	era	feito	em	uma	escola	de	aprendizes-
marinheiros,	mas	sim	no	cotidiano	de	bordo	em	alto-mar.	Além	destes	personagens,	
podemos	 destacar	 os	 cosmógrafos,	 autores	 dos	 mapas	 que	 representavam	 as	
descobertas	marítimas.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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1492 - A Conquista do Paraíso. Ridley Scott, França/Espanha,1992.
Filme que retrata a era das grandes navegações, a corrida marítima entre Portugal e Espanha, 
os investimentos das cortes daqueles países na descoberta, conquista e exploração de novas 
terras. A produção ilustra, em especial, a trajetória de Cristóvão Colombo, o contato com as 
populações no novo mundo e os choques e encontros culturais. 
Johannes	 Guttenberg,	 por	 volta	 dos	 anos	 de	 1450,	 foi	 responsável	 pela	
invenção	da	imprensa,	que	superou	os	problemas	que	haviam	até	então	para	com	
as	 atividades	de	 registro	 e	 comunicação	de	 informações,	 documentos	 e	 demais	
conhecimentos.	Gumbrecht	(1998)	explica	que	a	invenção	da	prensa	possibilitou	a	
produção	e	a	reprodução	de	livros	em	maior	quantidade,	em	menor	tempo,	além	
de	descentralizar	esta	 tarefa	que	antes	somente	era	 feita	por	copistas,	domínios	
que	se	resignavam	no	interior	de	mosteiros	e	igrejas.
 
Outras	consequências	podem	ser	deduzidas	ainda,	como	a	confecção	das	
bíblias	que	foram	utilizadas	na	difusão	da	Reforma	Protestante,	agora	traduzidas	
e	impressas	fora	dos	domínios	católicos.	Por	outro	lado,	logo	a	prensa	foi	utilizada	
na	 emissão	 de	 notas	 bancárias,	 cédulas,	 cartas	 de	 crédito,	 normas,	 leis,	 salvo-
condutos,	entre	outros.
A	prensa	de	Guttenberg	a	que	a	história	atribui	o	mérito	principal,	não	só	
pela	ideia	dos	tipos	móveis,	“a	tipografia”,	mas	também	pelo	seu	aperfeiçoamento,	
já	era	conhecida	e	utilizada	para	cunhar	moedas,	espremer	uvas,	fazer	impressões	
em	 tecido	e	acetinar	o	papel.	Pode	 ter	 sido	na	Casa	da	Moeda	do	arcebispo	de	
Mogúncia,	onde	tanto	o	pai	como	o	tio	eram	funcionários,	que	Gutenberg	aprendeu	
a	arte	da	precisão	em	trabalhos	de	metal.	
Nos	 primeiros	 documentos	 impressos	 e	 produzidos	 contam-se	 várias	
edições	do	“Donato”	e	bulas	de	indulgências	concedidas	pelo	Papa	Nicolau	V.	No	
início	da	década	de	1450,	Guttenberg	iniciou	a	impressão	da	célebre	Bíblia	de	42	
linhas	(em	duas	colunas),	publicada	cinco	anos	mais	tarde.	Das	cerca	de	300	cópias	
da	Bíblia	então	produzidas,	ainda	existem	cerca	de	40.
Com	 a	 ocorrência	 de	 guerras,	 a	 imprensa	 se	 difundiu	 amplamente.	 O	
primeiro	livro	impresso	por	Guttenberg	foi	uma	Bíblia	em	latim,	em	uma	versão	
impressa	da	Vulgata	de	São	Jerônimo,	tradutor	da	Bíblia	Católica	ainda	no	século	
IV.	 Porém,	 não	 foram	 apenas	 livros	 religiosos	 que	 passaram	 a	 ser	 publicados.	
As	possibilidades	de	se	reproduzir	diversos	compêndios	sobre	as	mais	variadas	
questões,	nos	campos	do	Direito,	da	Teologia	e	da	Medicina,	eram	incalculáveis.	
Outra	 questão	 importante	 que	 significou	 uma	 profunda	 alteração	 no	modo	 do	
homem	ocidental	lidar	com	o	conhecimento	era	relacionada	à	forma	de	se	instruir.	
DICAS
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
71
A	 forma	 de	 as	 autoridades	 civis	 e	 eclesiásticas	 lidarem	 com	 os	 livros	
também	foi	sendo	alterada.	Isto	porque	a	difusão	de	conhecimento	proporcionada	
através	dos	 livros	poderia	 abalar	 os	pilares	 ideológicos	da	 sociedade	ocidental.	
Instrumentos	 organizacionais	 de	 censura	 foram	 desenvolvidos	 nas	 diversas	
monarquias.	 Este	 órgão	 em	 Portugal	 tivera	 o	 nome	 de	Mesa	 de	 Consciência	 e	
Ordens,	e	visava	impedir	a	publicação	ou	circulação	de	livros	subversivos	à	ordem	
pública	tanto	no	reino	quanto	nas	colônias.	O	Vaticano	criou	uma	relação	de	livros	
que	os	fiéis	não	deveriam	 ler.	O	 Índex	papal	era	um	dos	símbolos	máximos	de	
intolerância	do	catolicismo	em	relação	à	liberdade	de	pensamento	e	fé.	Liberdade	
esta	que	também	não	era	presente	nos	países	protestantes.		
A	resposta	da	Igreja	Católica	diante	do	movimento	de	impressão	de	livros	
e	 compêndios	 fora	 de	 seu	 controle	 foi	 lançar	 mão	 de	 algumas	 estratégias	 de	
censura	que	visavam	impedir	a	publicação	e	a	circulação	de	livros	considerados	
subversivos	aos	dogmas	religiosos	e	à	ordem	pública.	Uma	das	formas	de	controle	
foi	 a	publicação	do	 Index	Librorum	Prohibitorum	 (Índice	de	Livros	Proibidos),	
mais	conhecido	como	Index,	lista	expedida	pelo	Vaticano,	pelo	papa	Paulo	IV,	no	
ano	de	1559,	em	que	constavam	os	livros	considerados	proibidos.
A	 lista	 foi	 modificada	 ao	 longo	 do	 tempo,	 mas	 já	 estiveram	 inscritas	
nela	 obras	 de	 pensadores	 e	 cientistas	 como	Galileu	Galilei,	Nicolau	Copérnico,	
Giordano	Bruno,	Nicolau	Maquiavel,	Erasmo	de	Roterdã,	Baruch	de	Espinosa,	John	
Locke,	Denis	Diderot,	Blaise	Pascal,	Thomas	Hobbes,	René	Descartes,	Rousseau,	
Montesquieu,	entre	outros	escritores	e	romancistas.	
CURIOSIDADE: INDEX
O Index deixou de existir no ano de 1966, com o Papa João Paulo VI, mas até hoje é prática 
do Vaticano publicar uma notificação quando determinado livro fere os principais dogmas 
da instituição. Dentre as obras que recentemente foram notificadas pelo Vaticano tem-se os 
livros dos escritores Dan Brown e J. K. Rowling.
A	título	de	síntese,	cabe	ressaltar	que	um	dos	principais	benefícios	que	a	
imprensa	trouxe	foi	a	maior	circulação	de	conhecimento	através	dos	livros.	Com	
isto,	se	processou,	no	Ocidente,	uma	alteração	nas	práticas	de	leitura.	Pois,	com	os	
antigos	pergaminhos,	as	leituras	em	geral	eram	feitas	em	voz	alta,	sendo	o	ato	de	
ler	uma	ação	comunitária.	Com	a	imprensa,	a	ideia	de	uma	leitura	individualista	
ganhou	corpo.	Pois,	em	grande	parte,	o	livro	passou	a	ser	lido	de	forma	silenciosa.	
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
72
3 ELEMENTOS DO CONTEXTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO 
DA RENASCENÇA 
A	Renascença	corresponde	ao	momento	histórico,	intelectual	e	artístico	que	
se	desenrolou	entre	as	épocas	medieval	e	moderna.	Alguns	estudiosos	estabelecem	
em	termos	cronológicos	o	período	transcorrido	entre	os	anos	de	1300	e	1650.	Como	
o	 nome	 já	 sugere,	 tratou-se	 do	 renascimento	 dos	 antigos	 valores	 e	modelos	 de	
civilização	 que	 foram	 hegemônicos	 no	 passado,	 no	 passado	 da	Grécia	 e	 Roma	
clássica.	 O	 retorno	 aos	 padrões	 da	 antiguidade	 clássica	 significa	 a	 invocação	 e	
valorização	dos	ideais	do	humanismo	(Homem)	e	da	natureza,	em	detrimento	das	
concepções	dogmáticas	do	teocentrismo,	do	divino	e	sobrenatural.
Corvisier	(1976)	explica	que	o	teocentrismo	almejava	justificar	pela	vertente	
religiosa	e	divina	as	atividades	e	pesquisas	científicas	e	eruditas	ao	longo	da	Idade	
Média.	 A	 nomenclatura	 de	 teocentrismo	 comporta	 a	 nominação	 de	 Theo,	 que	
significa	Deus	(Theo	–	em	latim)	era	o	centrode	todas	as	preocupações	intelectuais.	
A	partir	do	renascimento,	entre	os	séculos	XIV-XVII,	os	intelectuais	passaram	a	se	
preocupar	com	o	entendimento	cada	vez	mais	natural	do	homem,	como	um	ser,	
uma	espécie	da	natureza.	
Foi	 neste	 período	 que	 as	 escolas	 filosóficas	 cada	 vez	 mais	 estabelecem	
suas	teses	e	demarcam	suas	fronteiras,	passando	a	exercer	hegemonia	em	relação	
às	 demais	 vertentes	 do	 pensamento;	 em	 especial,	 o	 tomismo	 e	 a	 escolástica	
passam	 a	 ser	 criticados.	 No	 interior	 do	 pensamento	 religioso	 católico	 ocorria	
o	 enfraquecimento	 do	 domínio	 papal,	 e,	 se	 não	 bastasse,	 no	 seio	 da	 própria	
Igreja	ocorriam	divergências,	como	foi	o	caso	dos	 impasses	entre	 franciscanos	e	
dominicanos.
Aquino	 (2013)	aponta	que	na	baixa	 Idade	Média	a	filosofa	aristotélica	 já	
se	difundia	em	meio	à	Inglaterra,	sendo	que	Roger	Bacon	(1214-1294)	foi	um	dos	
primeiros	 a	 manifestar	 simpatia.	 Bacon	 defendia	 que	 teologia	 e	 conhecimento	
científico	 deveriam	 ser	 vistos	 como	 indissociáveis,	 e	 que,	 por	 sua	 vez,	 se	 fazia	
necessário	 demonstrar	 interesse	 sistemático,	 total	 e	 absoluto,	 observação	 direta	
da	 realidade,	 acompanhada	de	 raciocínios,	 o	 que	 posteriormente	 possibilitou	 a	
formulação	de	métodos	experimentais.
	Fatores	históricos	podem	ser	elencados	como	favorecedores	deste	cenário	
de	mudanças	no	campo	filosófico,	tais	como	os	impasses	entre	França	e	Inglaterra	
que	foram	levados	a	cabo	por	meio	da	Guerra	dos	Cem	Anos,	epidemias	como	a	
da	peste	bubônica	e	uma	série	de	transformações	políticas	e	econômicas,	entre	elas	
o	renascimento	comercial.
Os	 “homens	do	Renascimento”	 reuniam	 interesses	 e	 preocupações	 para	
com	muitas	 áreas	 do	 conhecimento,	 tais	 como	 engenharias,	 astronomia,	 física,	
anatomia,	artes,	filosofia	e	política,	ou	seja,	um	indivíduo	que	percebia	a	natureza	e	
a	realidade	e	a	procurava	compreender	e	explicar	pelo	viés	da	interdisciplinaridade,	
por	meio	da	associação	de	conhecimentos	das	mais	diferentes	áreas,	a	 título	de	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
73
exemplo	é	possível	citar	o	italiano	Leonardo	da	Vinci,	que	atuou	e	deixou	projetos	
na	pintura,	escultura,	arquitetura,	na	engenharia,	recursos	de	guerra,	entre	outros.		
Uma	das	condições	para	que	o	Renascimento	ocorresse	foi	o	fato	da	prática	
do	mecenato.	No	caso	 italiano,	o	mecenato	foi	empreendido	especialmente	pela	
Igreja	católica.	A	Igreja	Católica	Apostólica	Romana	foi	responsável	por	patrocinar	
os	 artistas	 tais	 como	Rafael,	Leonardo	da	Vinci,	Michelangelo,	 que	produziram	
obras	 para	 a	 decoração	 e	 preenchimento	 dos	 espaços	 no	 interior	 das	 Igrejas,	
capelas,	mosteiros	e	conventos	em	diversas	cidades	da	Itália.	Quando	a	hegemonia	
dos	dogmas	católicos	foi	contestada,	os	patrocinadores	das	artes	foram	a	nobreza	
e	a	burguesia.
 
	Burg,	Fronza	e	Silva	(2013)	explicam	que	entre	os	séculos	XV	e	XVI	surgiu	
uma	nova	espiritualidade	e	relação	para	com	as	coisas	visíveis	e	não	visíveis,	os	
fenômenos	da	natureza	e	do	espírito.	Um	dos	estudiosos	que	se	destacou	nesta	
perspectiva	do	conhecimento	e	da	ciência	foi	Giordano	Bruno,	que	por	meio	do	uso	
de	um	microscópio,	conseguiu	propor	que	o	planeta	terra	possuía	forma	redonda.	
Porém,	foi	vítima	da	perseguição	dos	sensores	da	Igreja	Católica,	pois	as	teorias	de	
Giordano	Bruno,	contestavam	os	dogmas	católicos,	e	estes	o	julgaram	no	tribunal	
da	Santa	Inquisição	e	condenaram	à	morte	na	fogueira.
Nicolau	Maquiavel	 foi	outro	grande	nome	do	Renascimento	 italiano,	 foi	
responsável	por	escrever	a	obra	O	príncipe,	que	discorre	sobre	as	maneiras	mais	
adequadas	pela	qual	um	príncipe	deve	conduzir,	administrar	e	manter	o	poder.	
Trata-se	de	uma	obra	que	ultrapassou	a	época	renascentista	e	seguiu	ao	longo	da	
época	moderna	e	contemporânea	como	um	dos	principais	documentos	acerta	da	
política	e	governabilidade	de	estados	laicos.
Entre	as	principais	teses	contidas	na	obra	de	Maquiavel	encontra-se	a	de	
que	um	príncipe	 e/ou	um	governante	devem	estar	 atentos	 aos	 adversários,	 aos	
companheiros	e	aliados,	pois	estes	sem	distinção,	possuem	ambições	pelo	poder	e	
facilmente	podem	conspirar	contra	o	príncipe;	uma	guerra	jamais	deve	ser	adiada	
e	que	em	nome	dos	fins,	dos	benefícios	que	 são	oferecidos,	os	meios	não	serão	
questionados,	 pois	 todos	 compreendem	 e	 perdoam	 os	 custos	 que	 possam	 ter	
exigido.
Aranha	(1996)	destaca	também	o	francês	Michel	de	Montaigne,	que	viveu	
ao	longo	do	século	XVI.	Também	é	reconhecido	como	um	dos	grandes	nomes	do	
Renascimento.	Em	suas	obras	foi	responsável	por	refletir	sobre	a	natureza	humana	
e	deixou	 três	 escritos	 sobre	os	 temas	 educacionais	 que	 são:	da	 afeição	dos	pais	
pelos	filhos,	da	pedantia	e	da	educação	das	crianças.	A	autora	relaciona	também	os	
escritos	de	Erasmo	de	Roterdã,	que	foi	responsável	por	escrever	Elogio	da	loucura	
e	Manual	 do	 soldado	 cristão,	 obras	 em	 que	 exercitava	 seu	 pensamento	 crítico	
com	relação	à	sociedade	feudal.	Fez	críticas	ferrenhas	ao	clero	e	às	hierarquias	no	
interior	da	Igreja,	e	advogava	a	favor	dos	valores	humanistas,	e	na	compreensão	
do	homem	não	meramente	como	um	pecador,	mas	como	um	ser	em	processo	de	
conscientização	e	capaz	de	melhoramentos.	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
74
Curto	 (1993)	 explica	 que	 os	 estudos	 e	 escritos	 de	 Erasmo	 ganharam	
amplos	 alcances	 e	 adeptos.	Martinho	 Lutero	 foi	 um	dos	 leitores	 de	 Erasmo	de	
Roterdã,	mesmo	tendo	rompido	com	seu	pensamento	anos	depois.	Em	Portugal,	
o	 pensamento	 de	 Roterdã	 se	 fez	 presente	 por	 meio	 de	 alguns	 intelectuais	 no	
Colégio	das	Artes	em	Coimbra,	que	sem	demora	foram	descobertos	e	rapidamente	
foram	censurados	e	expulsos	do	 local.	A	substituição	dos	sacerdotes	erasmistas	
foi	procedida	com	sacerdotes	oriundos	da	ordem	jesuítica	recém-criadas	a	fim	de	
difundir	os	ideais	religiosos	católicos.	
Outro	estudioso	renascentista,	amigo	de	Erasmo	de	Roterdã,	foi	Thomas	
Morus,	intelectual	inglês	responsável	por	redigir	a	obra	A	utopia,	na	qual	descrevia	
uma	 sociedade	 imaginária	 desprovida	 de	 desigualdades	 sociais.	A	 partir	 de	 a	
A	 utopia	 foi	 possível	 designar	 como	 ‘utópicas’	 ideologias,	 crenças,	 sociedades,	
correntes	de	pensamento	que	almejavam	alcançar	estágios	de	sociedade	e	posturas	
do	 ser	 humano	diferentes	 dos	 registros	 históricos	de	 guerra	 e	 das	 experiências	
de	 injustiça,	 ignorância,	opressão	e	dominação.	No	caso	específico	da	educação	
é	possível	reconhecer	como	utópicas	as	propostas	educacionais	que	foram	feitas	
pelos	pensadores	do	século	XVI,	em	que	estava	presente	as	concepções	de	virtude,	
bondade,	justiça,	equidade,	liberdade,	tolerância,	amor	e	ética.	
3.1 AS UNIVERSIDADES, AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, AS 
GRAMÁTICAS E O DECLÍNIO DO LATIM 
As	universidades	 e	 as	 corporações	 de	 ofício	 revelam	quanto	 o	 processo	
educativo	 medieval	 era	 estanque.	 Existia	 uma	 forte	 divisão	 entre	 o	 trabalho	
braçal	e	o	trabalho	mental,	assim	como	uma	forte	divisão	entre	as	classes	sociais.	
Com	as	preceptorias	 ou	nas	 antigas	 corporações	de	ofício,	 a	 relação	de	 ensino-
aprendizagem	era	autoritária,	pois	de	um	lado	tínhamos	um	personagem	detentor	
do	saber	–	o	mestre	–	e	de	outro	lado	um	receptor	de	instruções	–	o	aprendiz.	O	
exemplo	cotidiano	do	mestre	era	a	principal	forma	de	o	aprendiz	poder	aprender	o	
seu	ofício.	Porém,	com	a	imprensa,	a	relação	de	saber	começou	a	ser	alterada,	pois	
os	livros	poderiam	auxiliar	os	professores	na	tarefa	educacional.
 
Teixeira	 (1977)	 explica	 que	 as	 corporações	 eram	 destinadas	 ao	 trabalho	
manual.	As	universidades,	ao	trabalho	intelectual.	Porém,	estas	duas	instituições,	
separadas,	se	uniram	em	uma	nova	forma	de	pensar	a	universidade	e	a	produção	
de	conhecimento.	Este	processo	de	união	entre	o	saber	mecânico	e	o	conhecimento	
acadêmico	ocorreu	no	movimento	intelectual	conhecido	como	Renascimento.Na	Renascença	ocorreu	o	declínio	do	latim	e	o	fortalecimento	das	línguas	
nacionais	nas	universidades	e	 instituições	governamentais	dos	países	nascentes.	
Em	grande	parte,	os	países	surgem	do	declínio	da	frágil	unidade	representada	pelo	
Sacro	Império	Romano	Germânico.	Porém,	as	diversas	regiões	dos	distintos	países	
falavam	diferentes	dialetos.	Por	isso,	o	fato	de	se	ter	um	único	idioma	nacional	foi	
também	uma	disputa	política	entre	as	províncias.		
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
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Burg,	Fronza	e	Silva	(2013)	explicam	que	no	final	do	século	XV	e	meados	do	
século	XVI	foram	redigidas	gramáticas	significativas	na	Península	Ibérica,	como	
por	 exemplo	 a	 Gramática	 da	 Língua	 Castelhana,	 escrita	 por	 espanhol	Antônio	
Nebrija,	 em	 1492,	 e	 a	 Gramática	 da	 Língua	 Portuguesa	 escrita	 por	 Fernando	
Oliveira	 em	 1536.	 A	 publicação	 e	 a	 difusão	 das	 gramáticas	 nacionais	 foram	
responsáveis	pela	retomada	do	ensino	nas	línguas	nacionais,	e	por	outro	lado	pelo	
desprestígio	e	detrimento	do	latim.	Nos	países	protestantes,	o	declínio	do	latim	foi	
também	agravado	pelas	questões	 teológicas	e	dogmáticas.	Como	 já	explicamos,	
as	alterações	e	influências	religiosas	no	ensino	ocorridas	nos	séculos	XVI	e	XVII	
ocorreram	devido	às	transformações	nas	diretrizes	religiosas	oriundas	da	Reforma	
Protestante.
	 O	 latim	 foi	 a	 língua	 oficial	 do	 papado	 e	 de	 toda	 a	 ritualística	 católica	
enquanto	a	Igreja	católica	era	hegemônica	no	campo	das	ideologias	religiosas.	O	
latim	 foi	utilizado	 em	 cerimônias	 religiosas	 até	 o	 século	XX,	 especialmente	nos	
países	 católicos.	 No	 chamado	 Antigo	 Regime,	 era	 comum	 o	 chamado	 direito	
divino	dos	 reis.	Portanto,	nos	campos	do	direito	e	da	administração,	o	 latim	se	
tornara	um	idioma	ainda	muito	solicitado,	especialmente	com	uso	de	conceitos	e	
termos	jurídicos	e	administrativos.	
TERMOS LATINOS 
Modus operandi: modo de operar, modo de proceder
Sine qua non: condição sem a qual, indispensável, essencial
Curriculum vitae: carreira de vida
In loco: no próprio local 
In natura: de acordo com a natureza
Status quo: situação das coisas, estado atual
Tabula rasa: falta de experiência.
Como	 pudemos	 estudar,	 o	 conceito	 de	 Renascimento	 remete	 à	 ideia	 de	
retomada	 dos	 valores	 greco-romanos	 da	 época	 clássica,	 porém	 agora,	 no	 que	
diz	 respeito	 às	 línguas	 em	 que	 os	 conhecimentos	 eram	ministrados,	 ocorreu	 a	
substituição	do	 latim	e	do	grego,	 tidas	como	línguas	universais	até	então,	pelas	
línguas	dos	países	europeus	emergentes	da	Idade	Média,	como	o	francês,	o	alemão,	
o	inglês,	entre	outras.	Assim,	pode-se	interpretar	que	ocorria	todo	um	movimento	
político	de	valorização	das	 línguas	nacionais	 e	que	desabilitava	a	 ideia	de	uma	
única	língua	que	tendia	ao	internacionalismo	como	idioma	e	língua	oficial.
DICAS
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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PARA REFLETIR:
Caro	acadêmico!	Nos	tempos	atuais,	em	meio	à	sociedade	globalizada,	
observa-se	 o	 enfraquecimento	 das	 línguas	 nacionais	 e/ou	 regionais	 e,	 em	
contrapartida,	o	fortalecimento	do	idioma	inglês	como	ferramenta	de	inclusão	
e	acesso	dos	 indivíduos	à	 internacionalização;	porém,	em	outras	sociedades	e	
épocas	históricas	o	panorama	se	apresentava	de	forma	diferente,	outras	línguas	
foram	hegemônicas.	No	caso	do	latim,	pode-se	dizer	que	ele	permanece	presente	
no	 campo	 da	 teologia	 católica	 e	 do	 direito,	 que	 muito	 se	 utilizam	 ainda	 de	
expressões	deste	idioma.
3.2 IMPLICAÇÕES DA REFORMA PROTESTANTE E 
DA CONTRARREFORMA NO CAMPO RELIGIOSO E 
EDUCACIONAL
A	Reforma	Protestante	foi	um	movimento	religioso	que	ocorreu	na	Europa	
do	século	XVI.	Para	melhor	compreendermos	este	evento	 ligado	às	questões	da	
fé,	devemos	compreender	o	contexto	social	que	possibilitou	a	alteração	das	ideias	
dos	 indivíduos	 em	 relação	 às	 suas	 crenças.	As	principais	questões	 conjunturais	
ocorreram	 décadas	 anteriores.	 Trata-se	 da	 invenção	 da	 imprensa	 por	 Johannes	
Gutemberg,	que	permitiu	uma	maior	circulação	de	livros,	da	queda	do	denominado	
Império	Bizantino,	conquistados	pelos	turcos	otomanos,	a	conquista	de	Granada	
pela	Espanha	e	a	Descoberta	da	América,	o	que	possibilitou	aos	europeus	uma	
nova	consciência	em	relação	a	sua	presença	no	mundo.	
Como	 já	 apresentamos	 anteriormente,	 a	 imprensa	 foi	 inventada	 por	
Johannes	Guttenberg,	que	desenvolveu	uma	máquina	tipográfica	que	republicava	
diversas	folhas	impressas,	não	sendo	assim	mais	necessárias	as	ações	dos	copistas	
medievais,	 que	 reproduziam	 os	 escritos	 com	 a	 sua	 caligrafia	 pessoal.	 Em	 um	
universo	 de	 mentalidade	 fortemente	 cristã	 é	 simbólico	 que	 o	 primeiro	 livro	
publicado	por	Guttenberg	tenha	sido	justamente	a	bíblia.	A	impressão	possibilitou	
uma	maior	e	mais	ágil	circulação	de	informações	na	Europa	da	segunda	metade	
do	século	XV.	
Assim,	as	formas	pelas	quais	os	europeus	passaram	a	compreender	o	mundo	
estavam	se	alterando	de	forma	rápida.	Esta	alteração	das	sensibilidades,	porém,	
não	 foi	 acompanhada	 por	 uma	 profunda	 alteração	 na	 teologia	 da	 cristandade	
latina.	No	ocidente,	grande	parte	do	ensino	ministrado	pela	Igreja	continuava	o	
mesmo	que	em	séculos	anteriores.	Com	isto,	novas	formas	de	teologia	e	filosofia,	
para	além	da	escolástica	e	do	nominalismo	foram	criadas	ao	longo	dos	séculos	XVI	
e	XVII.	
O	evento	principal	a	desencadear	a	Reforma	foi	a	publicação,	pelo	monge	
agostiniano	Martinho	Lutero,	de	95	teses,	na	qual	ele	criticou	alguns	postulados	
católicos	romanos,	em	especial	a	venda	de	indulgências.	O	contexto	para	tal	crítica	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
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se	 relaciona	à	visita	de	um	representante	papal	aos	 territórios	de	 língua	alemã,	
Tetzel,	 que	 vendia	 o	 perdão	 dos	 pecados,	 a	 indulgência.	 Neste	 debate	 sobre	 a	
salvação	das	almas,	se	desencadeou	um	processo	de	profunda	alteração	da	vida	
social,	política	e	econômica	de	todo	o	mundo.	
Em	 relação	 à	Reforma	Protestante,	 temos	 alguns	vetores	 explicativos.	O	
mais	popular,	do	lado	católico,	afirma	ter	sido	a	Reforma	uma	revolta	cometida	
por	um	padre	que	desejava	fugir	do	voto	de	celibato,	causando	grande	desonra	
ao	ocidente	cristão.	Por	sua	vez,	explicações	de	senso	comum,	do	lado	protestante,	
afirma	ter	sido	a	Reforma	uma	ação	comandada	por	um	servo	de	Deus,	Martinho	
Lutero,	contra	a	corrupção	e	luxúria	da	igreja	católica,	cujo	principal	símbolo	de	
degradação	seria	o	Vaticano	e	sua	vida	suntuosa.	Tais	explicações	de	senso	comum	
nos	impedem	de	compreender	as	motivações	da	Reforma	Protestante	assim	como	
da	Reforma	Católica	ou	Contrarreforma.
 
Um	segundo	vetor	explicativo	indica	a	Reforma	como	um	processo	que	é	
explicado	apenas	pelo	viés	econômico	e	político	da	formação	e	fortalecimento	de	
Estados	Nacionais	ao	longo	do	século	XVI.	Tal	vetor	explicativo	é	frágil,	pois	os	
principais	países	envolvidos	na	Reforma	e	Contrarreforma,	a	Itália	e	a	Alemanha,	
tiveram	sua	unidade	política	apenas	quatro	séculos	após	o	movimento	reformador.	
Portanto,	 a	 melhor	 compreensão	 da	 Reforma,	 segundo	 alguns	 especialistas	
católicos,	 como	 Jean	 Delumeau	 (DELUMEAU;	 1989),	 ou	 protestantes,	 como	
Timothy	George	 (GEORGE	1993),	 é	 compreendermos	a	 teologia	proposta	pelos	
reformadores	e	suas	consequências	políticas,	sociais	e	econômicas.
 
Quatro	foram	os	principais	reformadores.	Martinho	Lutero,	João	Calvino,	
Ulrico	 Zwinglio	 e	 Meno	 Simons.	 Duas	 foram	 as	 principais	 formas	 de	 relação	
com	o	Estado:	a	reforma	Radical	e	a	Reforma	Magisterial.	E	quatro	as	famílias	de	
igrejas	que	surgiram	do	movimento	reformador:	luteranos,	anglicanos,	calvinistas	
e	batistas.
 FIGURA 17 - MARTINHO LUTERO FIGURA 18 - JOÃO CALVINO
FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.
com.br>. Acesso em: 13 fev. 2017.
FONTE: Disponível em: <www.luteranos.
com.br>. Acesso em:13 fev. 2017. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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 FIGURA 19 - ÚLRICO ZWINGLIO FIGURA 20 - MENO SIMONS
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.
com.br>. 
FONTE: Disponível em: <http://
quotesgram.com/menno-simons>. 
Acesso em: 13 fev. 2017.
Começando	 nossa	 narrativa	 pelos	 reformadores,	 Martinho	 Lutero	 foi	
o	principal	 líder	a	 iniciar	o	movimento.	Sua	principal	proposição	 teológica	está	
exposta	 no	pequeno	 livro	Da	Liberdade	Cristã	 (LUTERO,	 2001).	Nele,	 apontou	
as	 principais	 proposições	 teológicas	 seguidas	 pelas	 principais	 correntes	 do	
protestantismo.	Infalibilidade	da	bíblia,	sacerdócio	de	todos	os	crentes,	justificação	
pela	fé	e	salvação	pela	graça.	Isto	é,	a	bíblia,	e	não	a	tradição	da	igreja,	deve	ser	o	
guia	de	fé	dos	fiéis,	deste	modo,	todo	o	cristão	é	capaz	de	compreender	a	bíblia,	e	
não	somente	os	sacerdotes.	
A	salvação	é	uma	graça	imerecida	concedida	por	Deus,	sendo	impossível	
o	homem	chegar	próximo	a	Deus	se	não	tiver	fé.	Estes	postulados	teológicos	são,	
até	o	presente,	as	principais	características	das	doutrinas	das	igrejas	protestantes	
ao	 redor	do	 globo.	 Também	 todo	 o	 aspecto	 exterior	 da	 fé	 foi	 abolido,	 como	 as	
rezas	 decoradas,	 a	 intercessão	 pelos	 santos,	 a	 realização	 de	 jejuns	 periódicos	 e	
peregrinações	a	lugares	santos,	que	não	são	presentes	no	protestantismo.		
João	 Calvino	 foi	 um	 reformador	 que	 atuou	 na	 França	 e	 na	 Suíça,	mais	
especificamente	 na	 cidade	 de	 Genebra,	 da	 qual	 foi	 um	 dos	 principais	 líderes	
ao	 longo	 de	 sua	 vida.	 Calvino	 escreveu	 uma	 das	 principais	 obras	 da	 teologia	
protestante	do	século	XVI,	As	Institutas	da	Religião	Cristã.	
Sua	 principal	 formulação	 foi	 a	 denominada	 teologia	 da	 predestinação.	
Por	 ela	Calvino	 afirmou	que	 alguns	 cristãos	 foram	escolhidos	por	Deus	para	 a	
salvação,	devido	a	Deus	tudo	conhecer.	Deste	modo,	a	graça	irresistível	de	Deus	
seria	a	principal	diferença	entre	os	escolhidos	e	os	rejeitados	pela	cólera	divina.	Em	
oposição	à	teologia	de	Calvino,	no	século	XVII,	surgiu	o	teólogo	Jacob	Armínio,	
para	quem	a	predestinação	não	ocorreria	do	modo	explicado	por	Calvino,	pois	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
79
Deus	dotou	o	homem	de	livre-arbítrio.	O	debate	entre	calvinistas	e	arminianos	se	
estende	através	dos	séculos.	
Ulrico	Zwinglio	e	Meno	Simons	são	dois	grandes	nomes	na	formulação	da	
teologia	protestante,	porém,	não	tiveram	o	mesmo	destaque	que	Lutero	e	Calvino.	
Zwinglio	era	suíço	e	foi	contemporâneo	de	Lutero.	Suas	teologias	eram	próximas,	
porém	discordaram	no	que	tange	à	Ceia	do	Senhor,	sendo	a	presença	real	de	Cristo	
no	pão	e	vinho	da	celebração	litúrgica	o	ponto	crucial	do	debate.	
Meno	Simons	era	holandês	e	esteve	vinculado	ao	movimento	anabatista.	
Para	os	anabatistas,	a	principal	discordância	com	Lutero	e	Calvino	era	em	relação	
ao	batismo	de	crianças,	fato	pelo	qual	os	menonitas	e	demais	grupos	anabatistas	
discordavam,	 afirmando	 que	 apenas	 adultos	 poderiam	 ser	 batizados.	 Porém,	 a	
principal	diferença	entre	os	anabatistas	e	os	demais	reformadores	estava	vinculado	
à	relação	com	o	Estado.
A	relação	igreja	Estado	é	fundamental	para	uma	aprofundada	compreensão	
da	Reforma,	pois	o	termo	protestante	foi	cunhado	na	Dieta	de	Espira,	em	1529,	na	
qual	os	príncipes	alemães	protestaram	à	perseguição	de	Lutero.	Assim,	a	relação	
igreja	e	Estado	é	importante	para	a	compreensão	da	Reforma,	que	foi	dividida	em	
dois	grandes	grupos	pelo	erudito	George	Willians:	reforma	magisterial	e	reforma	
radical.	Pela	 reforma	magisterial	 se	 compreendem	os	 reformadores	que	 tinham	
apoio	dos	magistrados.	Isto	é,	dos	juízes	e	em	grande	parte	dos	príncipes.	Neste	
grupo	estão	Lutero	e	Calvino.	
Para	a	reforma	radical,	cujo	grupo	mais	simbólico	foram	os	dos	anabatistas,	
tivemos	uma	oposição	radical	ao	Estado,	sendo	o	grupo	de	reformadores	radicais,	
liderados	por	Tomaz	Munzer,	 responsável	 por	 ações	 violentas	 nos	 principados	
alemães,	buscando	efetivar	o	fim	dos	privilégios	feudais.	O	movimento	anabatista	
teve	dura	perseguição	dos	príncipes,	que	apoiados	por	Lutero,	dizimaram	a	espada	
os	radicais	anabatistas.	Mesmo	Meno	Simons,	que	vivia	nos	Países	Baixos	e	era	
pacifista,	sofreu	forte	perseguição.	
Além	destes	grupos,	outro	importante	polo	da	Reforma	Protestante	foi	a	
Grã-Bretanha.	Nela	tivemos	o	anglicanismo,	o	presbiterianismo,	o	metodismo	e	o	
denominado	puritanismo.	A	fundação	da	Igreja	Anglicana	está	ligada	ao	fato	do	
rei	inglês	Henrique	VIII	desejar	o	divórcio	de	Catarina	de	Aragão,	não	autorizado	
pelo	papado.	Em	grande	parte,	a	Igreja	Anglicana	manteve	os	rituais	próximos	da	
igreja	católica,	com	o	diferencial	dos	padres	contraírem	matrimônio.	
Na	Escócia,	um	líder	religioso,	John	Nnox,	coordenou	a	fundação	da	Igreja	
Presbiteriana,	 profundamente	 inspirada	 nos	 escritos	 de	 João	 Calvino.	 Entre	 os	
povos	de	língua	inglesa	se	destacou	um	grupo	especial,	os	puritanos,	que	devido	
à	perseguição	religiosa	imigraram	para	os	Estados	Unidos	da	América.	No	século	
XVIII,	no	interior	do	anglicanismo,	surgiu	um	grupo	reformador	 liderado	pelos	
irmãos	 John	 e	 Charles	Wesley,	 que	 foram	 os	 inspiradores	 da	 igreja	Metodista.	
Também	da	Inglaterra,	um	grupo	de	refugiados	 ingleses	partiu	para	a	Holanda	
em	1608,	fundando	a	Igreja	Batista.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
80
O	movimento	de	reforma	cristã	teve	um	profundo	impacto	na	história	e	na	
filosofia	da	educação.	Isto	porque	a	teologia	da	infalibilidade	bíblica	e	do	sacerdócio	
universal,	além	da	ampla	divulgação	das	sagradas	escrituras	gerou	um	impulso	por	
alfabetização	nos	países	europeus	que	aderiram	à	Reforma.	Deste	modo,	Lutero	
afirmou	ser	dever	do	príncipe	garantir	a	educação	de	todos	os	cidadãos.	Com	isto,	
a	alfabetização	das	massas	ganhou	um	grande	 impulso.	Outro	 impulso	ocorreu	
em	relação	ao	ensino	universitário,	em	especial	nos	países	de	língua	inglesa.	Pois,	
parte	das	principais	universidades	dos	Estados	Unidos	da	América,	como	o	caso	
da	prestigiada	Universidade	Harvard,	surgiu	como	centro	de	estudos	na	área	de	
teologia.	Deste	modo,	os	países	de	maioria	protestante	tiveram	um	maior	capital	
cultural	na	disputa	com	os	países	que	não	passaram	pelo	movimento	reformador.	
Contudo,	 a	 afirmação	 acima	 não	 implica	 afirmar	 que	 os	 povos	 de	
maioria	católica	não	se	preocuparam	com	as	questões	educacionais.	Todavia,	as	
preocupações	eram	teologicamente	motivadas	em	um	sentido	oposto.	Para	melhor	
compreender	a	relação	dos	católicos	com	a	educação,	se	faz	necessário	compreender	
o	catolicismo	que	foi	formulado	no	Concílio	de	Trento.	
A	 Igreja	Católica	Romana	 respondeu	 teologicamente	às	proposições	dos	
reformadores.	 Em	 relação	 à	 proposição	 da	 infalibilidade	 da	 bíblia,	 os	 teólogos	
católicos	apontaram	que	as	escrituras	deveriam	ser	interpretadas	pelo	magistério	
da	igreja.	Assim,	não	havia	sentido	em	se	traduzir	a	Vulgata	de	São	Jerônimo	(versão	
da	bíblia	católica)	do	latim	para	os	idiomas	nacionais.	Em	relação	à	salvação	como	
fruto	da	graça	mediante	a	fé,	a	igreja	compreendeu	que	graça	e	fé	deveriam	ser	
acompanhadas	de	obras.	Tal	compreensão	de	vida	de	fé	fora	seguida	de	algumas	
reformas,	 como	 a	 instituição	 de	 seminários	 para	 a	 formação	 do	 clero,	 além	do	
estabelecimento	da	primeira	comunhão	enquanto	rito	de	iniciação	da	criança	nas	
lides	da	fé.	
 
As	principais	articulações	da	relação	entre	fé	e	educação	estavam	ligadas	às	
ordens	religiosas,	pois	foram	as	ordens	dos	agostinianos,	beneditinos,	franciscanos,	
dominicanos	e	 jesuítas	as	principais	divulgadoras	dos	 ideais	religiosos	católicos	
ao	redor	do	mundo	nos	séculos	subsequentes	ao	Concílio	Tridentino,	os	jesuítas,	
ordem	 fundada	 por	 Santo	 Inácio	 de	 Loyola,	 com	 grande	 destaque	 na	América	
Portuguesa,	em	especial	na	catequizaçãodos	Indígenas.
	A	principal	cidade	brasileira,	São	Paulo,	surgiu	como	um	colégio	jesuítico	
fundado	 para	 catequizar	 os	 indígenas.	 Não	 apenas	 na	América	 Portuguesa	 os	
Jesuítas	tiveram	grande	destaque	na	educação.	Também	grande	parte	da	elite	dos	
países	europeus	tivera	educação	jesuítica.	Dentre	estes,	podemos	nos	lembrar	que	
René	Descartes	foi	aluno	de	escola	jesuíta	na	França	do	século	XVII	(SEBE,	1982).	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
81
FIGURA 21 - SANTO INÁCIO DE LOYOLA
FONTE: Disponível em: <http://arquidiocesedenatal.org.br>. Acesso 
em: 13 fev. 2017.
Ao	longo	dos	séculos	XVI,	XVII	e	XVIII	surgiram	novas	ordens	religiosas	
na	Europa.	Algumas,	como	reformulação	de	antigas	ordens,	como	os	capuchinhos,	
reformadores	da	ordem	franciscana,	e	os	agostinianos	recoletos,	reformadoras	da	
Ordem	de	Santo	Agostinho.	Também	é	deste	período	a	Ordem	do	Oratório.
 
Entre	os	principais	educadores	católicos	ligados	à	educação	temos	o	nome	
de	João	Batista	de	Lassale.	Sacerdote	francês,	que	fundou	escolas	para	alfabetizar	
crianças	pobres,	sendo	considerado	o	padroeiro	dos	professores	primários.
 
Em	 análise	 comparativa,	 tanto	 os	 países	 católicos	 quanto	 os	 países	
protestantes	 investiram	 em	 educação.	 A	 principal	 diferença	 está	 na	 ênfase.	
Enquanto	 países	 católicos	 investiram	 apenas	 na	 educação	 das	 elites,	 os	 países	
protestantes	investiram	em	educação	para	todos	os	indivíduos.	Com	isto,	o	número	
de	analfabetos	entre	os	protestantes	 tendia	a	ser	menor	que	dentre	os	católicos,	
com	repercussões	grandes	no	desenvolvimento	social	e	político	dos	países.	
As	 disputas	 entre	 católicos	 e	 protestantes	 na	 Europa	 fora	 intensa	 ao	
longo	dos	séculos	XVI	e	XVII.	Estas	disputas,	porém,	se	tornaram	menores	com	
a	denominada	Pax	de	Wetsphalia,	na	qual	encerraram	as	Guerras	de	Religião	na	
Europa.	 Também	as	 disputas	 entre	 católicos	 e	 protestantes	 foram	questionadas	
pelo	pensamento	iluminista.
Caro	acadêmico!	No	sentido	de	aprofundar	os	conteúdos	e	contextualizar	
a	trajetória	de	Lutero	enquanto	reformador	religioso,	procure	assistir	ao	filme	que	
sugerimos	a	seguir:
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
82
SUGESTÃO DE FILME:
LUTERO. Eric Til. Estados Unidos: 2004. 124 min
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg>. Acesso em: 2 out. 2016.
4 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS DA ÉPOCA 
MODERNA
Burg,	 Fronza	 e	 Silva	 (2013)	 explicam	 que	mesmo	 diante	 de	 um	 quadro	
desanimador	 com	 relação	 ao	 acesso	 e	 a	 real	 democratização	 do	 ensino	 que	
perdurou	até	o	século	XIX,	as	transformações	sociopolíticas	ocorridas	a	partir	do	
século	XVI,	forneceram	as	condições	necessárias	para	que	a	escolaridade	média	da	
população	fosse	ampliada,	uma	vez	que	boa	parte	da	população	analfabeta,	agora	
pode	ter	acesso	à	alfabetização.		
Durante	os	séculos	XV	a	XVIII,	a	humanidade	passou	por	uma	verdadeira	
revolução	 do	 conhecimento,	 pois,	 em	 grande	 parte,	 os	 principais	 paradigmas	
que	o	homem	do	Ocidente	medieval	se	utilizava	como	verdades	absolutas	foram	
desmentidos.	Uma	visão	mítica	do	mundo	se	transformou	de	uma	visão	teocêntrica	
em	uma	visão	antropocêntrica.	Isto	é,	ao	invés	de	enxergar	a	presença	divina	em	
todos	os	campos	de	atuação	humana,	os	pensadores	passaram	a	considerar	apenas	
a	razão	como	forma	máxima	de	se	alcançar	a	verdade	dos	fatos.			
Podemos	afirmar	que	houve	um	primeiro	momento	pelo	qual	o	homem	
ocidental	passou	a	questionar	as	verdades	estabelecidas	pelos	eruditos	medievais.	
Durante	 os	 séculos	XV	 e	XVI,	 alguns	 eruditos	 questionaram	algumas	verdades	
cristalizadas.	 Podemos	 citar	 alguns	 homens	 que	 realizaram	 algumas	 façanhas.	
Harwey	e	Miguel	Servetto	foram	estudiosos	pioneiros	da	anatomia	humana,	ao	
dissecarem	 alguns	 cadáveres	 e	 descobrirem	 o	 processo	 de	 funcionamento	 da	
corrente	sanguínea	humana.	Servetto	foi	perseguido	na	Espanha	por	suas	crenças	
religiosas.	Fugiu	para	Genebra,	na	Suíça,	onde	foi	condenado	à	pena	de	morte	por	
João	Calvino,	devido	à	sua	crença	antitrinitariana.	Isto	é,	Servetto	não	acreditava	
na	ideia	de	trindade.	
Nicolau	Copérnico	e	Galileu	Galilei	afirmaram	que	a	Terra	era	redonda.	O	
que	estes	cientistas	revelaram	eram	afirmações	científicas	contrárias	às	ideias	de	
Lactâncio,	erudito	do	século	IV,	para	quem	a	Terra	era	plana.	Com	a	Viagem	de	
Circunavegação	de	Fernão	de	Magalhães,	se	teve	uma	comprovação	empírica	de	
que	a	Terra	era	uma	esfera.		
Em	relação	à	astronomia,	um	dos	principais	cientistas	foi	Kepler,	autor	da	
lei	 de	 gravitação	dos	planetas.	 Isto	 é,	 este	 astrônomo	 compreendeu	que	 alguns	
planetas	 giram	 em	 torno	 de	 outros,	 formando	 elipses,	 e	 muitos	 dos	 diversos	
UNI
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
83
planetas	das	distintas	galáxias	giram	em	torno	de	diversas	estrelas.	Um	exemplo	
é	a	Lua,	que	gira	ao	redor	do	planeta	Terra,	que	por	sua	vez,	assim	como	outros	
planetas,	gravita	ao	redor	do	Sol,	que	por	sua	vez	é	uma	estrela	que	irradia	a	luz	
que	mantém	a	vida	em	nosso	planeta.		
A	ciência	moderna	se	desenvolveu	e	consolidou	ao	longo	dos	séculos	XVII,	
XVIII	e	XIX,	tratou-se	de	um	conhecimento	obtido	de	forma	natural,	independente	
e	desarticulado	das	dimensões	sobrenaturais,	mitológicas,	mágicas	e	fantásticas	da	
realidade.	É	quando	se	acentua	o	distanciamento	entre	o	campo	da	fé,	do	espiritual,	
do	religioso,	do	sagrado	e	do	eterno	(poder	invisível)	e	o	campo	do	temporal,	do	
método,	do	racional,	do	profano	e	do	leigo	(poder	visível).
A	ciência	acabou	por	se	tornar	uma	ideologia	dominante	–	o	cientificismo,	
uma	 forma	de	 saber	 superior,	 criada	pelo	positivismo	no	 século	XIX.	A	 ciência	
resumia-se	 na	 busca	 pela	 verdade	 a	 qualquer	 custo,	 almejava	 extrair	 todos	 os	
segredos	que	houvesse	na	natureza,	e	para	tanto	deveria	proceder	a	uma	rigorosa	
observação	empírica,	lançando	mão	da	imaginação,	dos	sentimentos	e	das	emoções	
quando	 investigava	 tanto	 os	 seres	 da	 natureza	 como	os	 fatos	 e	 acontecimentos	
humanos.
A	 obra	 que	 ocupa	 o	 posto	 de	marco-fundante	 da	 ciência	 ocidental	 sem	
sombra	de	dúvidas	foi	o	Discurso	do	método,	redigida	por	René	Descartes,	que	
foi	educado	em	um	colégio	jesuíta	e	foi	membro	oficial	do	exército	francês.	Nesta	
obra,	o	autor	trata	da	forma	como	se	deve	proceder	quando	que	se	quer	alcançar	
a	verdade	através	dos	recursos	da	razão.	A	obra	de	Descartes	 trata	em	especial	
de	 como	 o	 homem	 pode	 ser	 sujeito	 responsável	 pela	 resolução	 dos	 próprios	
problemas,	agora	sem	precisar	recorrer	as	explicações	divinas	e	bíblicas.	Discurso	
do	método	foi	publicado	no	século	XVII	e	até	os	dias	atuais	permanece	como	sendo	
a	célebre	obra	do	pensamento	racional	e	científico	ocidental.	
Caro	 acadêmico!	 No	 sentido	 de	 identificar	 de	 forma	 sistematizada	 o	
pensamento	de	René	Descartes,	observe	com	atenção	o	quadro	a	seguir:
QUADRO 1 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE RENÉ DESCARTES
OBRA PRINCÍPIOS
RENÉ	 DESCARTES	
(1596-1650)
DISCURSO	SOBRE	O	MÉTODO
FRAGMENTAR, 	 FRACIONAR,	
PARTES,	REDUZIR,	DIVIDIR.
O	MÉTODO
VERIFICAR:	 se	 existem	 evidências	 reais	 e	
indubitáveis	acerca	do	fenômeno	ou	coisa	estudada.
ANALISAR:	dividir	ao	máximo	as	coisas,	em	suas	
unidades	mais	simples	e	estudar	essas	coisas	mais	
simples.
SINTETIZAR:	 agrupar	 novamente	 as	 unidades	
estudadas	em	um	todo	verdadeiro.
ENUMERAR:	as	conclusões	e	princípios	utilizados,	
a	fim	de	manter	a	ordem	do	pensamento.
Fonte: Os autores
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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Talvez	o	principal	personagem	da	Revolução	Científica	que	a	Idade	Moderna	
vivenciou	foi	Isaac	Newton.	Assim	como	Miguel	Servetto,	Newton	possuía	profunda	
fé	religiosa	e	era	antitrinitariano.	Seu	principal	livro	sobre	questões	religiosas	trata	
sobre	as	profecias	de	Daniel	e	do	Apocalipse	sobre	o	final	dos	tempos.Porém,	não	
foram	 as	 suas	 reflexões	 teológicas	 as	 principais	 contribuições	 ao	 pensamento	 no	
Ocidente,	mas	sim	suas	reflexões	sobre	a	natureza	(CORVISIER,	1976).	
Uma	das	lendas	sobre	a	descoberta	da	lei	da	gravidade	indica	que	Newton	
estava	debaixo	de	uma	macieira	e	uma	fruta	madura	havia	caído	sobre	a	sua	cabeça.	
Este	fato	havia	funcionado	como	um	despertar	para	a	elaboração	de	suas	descobertas	
científicas:	as	 leis	da	física.	A	palavra	física	significa	em	grego	“natureza”.	O	que	
Newton	observou	foi	que	a	natureza	possui	mecanismos	que	se	repetem.	A	estes	
eventos	repetitivos	denominou	lei.	A	lei	da	gravitação	é	uma	das	mais	conhecidas,	
assim	como	a	lei	de	ação	e	reação.		
Alguns	movimentos	sociais,	políticos	e	religiosos	foram	responsáveis	pela	
valorização	da	educação	no	mundo	ocidental.	Entre	estes,	já	abordamos	a	Reforma	
Protestante.	Outro	movimento	que	motivou	alterações	sociais	e	educacionais	foi	o	
Iluminismo.	De	maneira	geral,	o	Iluminismo,	ou	século	das	luzes	ou	da	ilustração,	
foi	um	movimento	 intelectual	 e	 cultural	do	 século	XVIII,	que	almejava	 libertar	o	
homem	das	crenças	mitológicas	e	de	toda	herança	dogmática	da	época	medieval.	
Defendia	os	princípios	da	razão	crítica,	do	progresso,	da	autonomia	dos	indivíduos	
e	da	liberdade	de	pensamento.	
O	Iluminismo	não	foi	uma	invenção	da	sociedade	de	sua	época	propriamente	
dita,	 sustentava-se	 em	 bases	 teóricas	 que	 já	 haviam	 sido	 defendidas	 ainda	 na	
Antiguidade	 e	 também	 na	 época	 da	 Renascença,	 porém	 encontrou	 no	 século	
XVIII	o	melhor	momento	de	alcance	e	amplitude.	Dentre	os	principais	intelectuais	
iluministas,	 podemos	 nos	 lembrar	 de	 alguns	 nomes,	 como	 Voltaire,	 Rousseau,	
Diderot,	entre	tantos	outros	pensadores.	
Abbagnano	 (2007)	 descreve	 que	 é	 possível	 entender	 o	 Iluminismo	 como	
uma	linha	filosófica	que	defende	a	razão	como	crítica	e	guia	a	todos	os	campos	da	
experiência	 humana.	 Kant	 (1724-1804)	 defende	 que	 o	 Iluminismo	 contou	 com	 o	
empirismo	como	um	grande	aliado,	ambos	garantiram	a	abertura	do	domínio	da	
ciência	e,	em	geral,	do	conhecimento,	que	por	sua	vez	favoreceu	à	crítica	da	razão,	no	
sentido	de	que	toda	verdade	poderia	e	deveria	ser	colocada	à	prova,	e	eventualmente	
modificada,	corrigida	ou	abandonada.
Os	 fundamentos	 teóricos	 que	 favorecem	 a	 ancoragem	 do	 movimento	
do	 Iluminismo	 podem	 ser	 encontrados	 na	 física	 e	 sistematizados	 na	 obra	 de	 I.	
Newton	 (1643-1727),	 ‘Princípios	 matemáticos	 de	 filosofia	 natural,	 publicada	 em	
1687;	nas	pesquisas	de	Boyle	(1627-1691),	que	encaminham	a	química	como	ciência	
positiva;	 na	 obra	 de	 Buffon	 (1707-1788)	 e	 de	 outros	 naturalistas,	 que	 assinalam	
as	 ciências	biológicas	 como	 responsáveis	por	 explicar	 as	 etapas	 fundamentais	de	
desenvolvimento.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
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O	empirismo	foi	o	ponto	de	partida	e	o	pressuposto	da	filosofia	defendida,	
por	 exemplo,	 por	 Voltaire	 (1694-1778),	 Diderot	 (1713-1784)	 e	 D'Alembert	 (1717-
1783).	A	Enciclopédia	continha	o	pensamento	contrário	aos	privilégios	que	foram	
reclamados	posteriormente	na	Revolução	Francesa,	defendia	a	felicidade	ou	o	bem-
estar	do	gênero	humano,	alcançados	e	desfrutados	através	de	práticas	tolerantes	e	
com	fé	no	progresso.	Estas	noções	enfraqueceram	a	ideia	de	fatalidade	histórica	que	
impedia	qualquer	iniciativa	de	transformação	da	realidade.
Em	relação	às	questões	 ligadas	à	 educação,	podemos	compreender	que	o	
autor	que	possuiu	maior	destaque	dentre	os	filósofos	iluministas	foi	Rousseau.	Este	
destaque	se	deve	ao	seu	principal	livro	relacionado	à	temática	educacional,	Emílio	
(GADOTTI,	s.d.,	p.	87-89).	Uma	das	principais	teses	defendida	por	Rousseau	é	a	de	
que	o	homem	nasce	bom,	porém	o	meio	o	corrompe.	Esta	ideia,	a	de	que	o	homem	
nasce	bom	e	é	corrompido	pelo	meio	foi	uma	das	maiores	influências	do	iluminismo	
para	as	ideias	pedagógicas	nos	séculos	posteriores.	
Isaac	Newton,	físico,	matemático,	filósofo	e	teólogo	inglês,	ficou	amplamente	
conhecido	com	os	três	volumes	de	‘Princípios matemáticos da filosofia natural’,	nos	quais	
constam	as	famosas	Leis	de	Newton,	que	compõem	os	princípios	da	mecânica	e	de	
todo	o	pensamento	moderno.	As	Leis	de	Newton	contêm	o	princípio	de	‘inércia’,	
em	que	todo	corpo	continua	em	seu	estado	(repouso	ou	movimento)	a	menos	que	
seja	forçado	a	mudar;	o	princípio	de	‘dinâmica’,	em	que	a	mudança	é	proporcional	
à	força	atribuída;	e	o	princípio	de	‘ação	e	reação’,	em	que	para	toda	ação	há	sempre	
uma	reação	oposta	e	em	igual	proporção.
Immanuel	 Kant	 (1724-1804)	 tem	 sua	 produção	 intelectual	 e	 filosófica	
denominada	de	filosofia	crítica,	idealismo	transcendental,	que	tinha	como	finalidade	
estabelecer	um	método	cognitivo	e	uma	doutrina	da	experiência	pelo	uso	da	razão	
que	suplantasse	a	metafísica	racionalista	dos	séculos	XVII	e	XVIII,	que	ele	chamava	
de	sono	dogmático.	Kant	foi	leitor	de	Isaac	Newton	(1643-1727),	John	Locke	(1632-
1704),	Gottfried	Wilhelm	Leibniz	(1646-1716)	e	David	Hume	(1711-1776).
 
Nos	 estudos	 de	 Kant	 percebe-se	 o	 forte	 afastamento	 da	 noção	 de	 que	 a	
Providência	divina	representava	um	fator	determinante	da	História,	a	ampla	defesa	
da	ideia	de	racionalidade	e	de	télos	(fim/alvo)	e	de	progresso,	de	que,	se	há	passos	
contínuos,	conduziriam	a	humanidade	à	emancipação	plena.	A	história,	guiada	pela	
razão,	seria	a	 fonte	maior	a	partir	da	qual	se	alcançaria	a	 liberdade	e	a	perfeição	
humana.	 Estas	 intenções	 contagiariam	 a	 humanidade	 e	 se	 realizariam	 em	 escala	
universal.	A	ideia	de	uma	história	universal	se	realizaria	na	conjugação	das	forças	
do	homem	de	posse	e	uso	da	razão	apoiado	nas	disposições	da	natureza.
Martinazzo	(2010)	explica	que	para	Kant	o	sujeito,	por	meio	da	educação,	
pode	sair	da	menoridade	na	qual	se	encontra,	e	a	educação	seria	a	arte	de	transformar	
homens	 em	 homens.	 Pelo	 processo	 educativo	 o	 “homem	 torna-se	 homem”	 com	
capacidade	 reflexiva	 e	 autônoma	 para	 decidir	 com	 liberdade	 e	 sem	 depender	
de	 condições	 exteriores	para	 tal.	 Segundo	Kant,	 a	 educação	deveria	durar	“até	o	
momento	em	que	a	natureza	determinou	que	o	homem	se	governe	a	 si	mesmo”	
(KANT,	1999,	p.	32).
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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A	 finalidade	 da	 educação	 moderna	 esteve	 centrada	 na	 construção	 de	
sujeitos	livres,	autônomos	e	responsáveis,	com	plena	capacidade	de	poder	escolher	
racionalmente	 os	 fins	 adequados	 e,	 de	 forma	 livre	 e	 consciente,	 submeter-se	 aos	
mesmos.	Nas	 concepções	modernas	 de	 educação,	 a	 busca	 da	 autonomia	 seria	 o	
objetivo	máximo	da	educação,	e	esta	deveria	ser	fundamentada	na	razão.
 
Um	dos	mitos	criados	ao	redor	dos	cientistas	dos	séculos	XVI,	XVII	e	XVIII	é	
que	eles	fossem	ateístas.	O	que	podemos	observar	nos	seus	escritos	e	nas	suas	ações	
sociais	é	que	possuíam	profunda	 fé	em	Deus	e	em	geral	eram	cristãos	convictos.	
A	que	por	vezes	 se	 opuseram	 foi	 contra	o	obscurantismo	das	 elites	 eclesiásticas,	
universitárias	 e	 políticas,	 que	 enxergavam	 nas	 descobertas	 do	 processo	 de	
funcionamento	do	corpo	humano	ou	da	natureza	que	os	circundava	uma	oposição	
ou	mesmo	um	risco	ao	poder	que	possuíam.	
Estas	mesmas	elites	eclesiásticas	eram	capazes	de	condenar	diversas	pessoas	
à	pena	de	morte	por	motivos	fúteis,	como	se	apresentou	em	muitos	autos	de	fé	da	
Santa	Inquisição.	Muitos	outros	homens	e	mulheres	foram	acusados	de	bruxarias	ou	
de	práticas	diabólicas,	mas	se	tratavam	apenas	de	pessoas	com	pensamento	distinto	
do	que	os	dispositivos	de	poder	ensinavam	como	correto.		
O	contexto	filosófico	que	diz	respeito	à	época	moderna	compreende	pouco	
mais	de	200	anos,	pode-se	dizer	que	está	circunscrito	ao	intervalo	de	tempo	entre	
os	séculos	XVI	e	XVIII.	Franciotti	(2009)	argumenta	que	as	formulações	filosóficas	
que	 foram	 propostas	 neste	 período	 acabaram	 de	 ultrapassar	 a	 cronologia	 e	 o	
próprio	campo	dafilosofia,	tais	como	‘penso,	logo	existo’,	de	Descartes;	‘o	homem	
é	naturalmente	bom,	 é	 a	 sociedade	que	o	perverte’,	 proposta	por	Rousseau;	 e	 ‘o	
coração	tem	razões	que	a	própria	razão	desconhece’,	formulada	por	Pascal.	
No	campo	da	compreensão	e	da	postura	do	ser	humano	forja-se	o	conceito	de	
subjetividade	como	dimensão	epistêmica	do	sujeito,	como	uma	forma	de	consciência,	
capaz	de	constituir	as	certezas,	as	verdades	em	todas	as	instâncias:
 A	subjetividade	pode	ser	descrita	por	meio	de	“formas	de	consciência”:	
o eu,	 a	pessoa,	 o	 cidadão e o sujeito epistemológico.	O	 eu	 é	 a	 identidade,	
formada	das	vivências	psíquicas;	é	a	forma	de	consciência	mais	singular,	
pois	as	vivências	psíquicas	são	o	que	se	tem	de	menos	compartilhável.	A	
pessoa	é	a	consciência	moral;	é	o	sujeito como	juiz	do	certo	e	do	errado,	
do	bem	e	do	mal.	O	cidadão	 é	a	consciência	política;	o	sujeito	como	o	
juiz	dos	direitos	e	deveres	da	vida	na	cidade.	O	sujeito epistemológico	é	a	
consciência	intelectual.	O	sujeito	como	juiz	do	verdadeiro	e	do	falso;	o	
detentor	da	linguagem	e	do	pensamento	conceitual;	trata-se	da	forma	
de	consciência	mais	universal	(GHIRALDELLI	JR.,	1999,	p.	23). 
Entre	 os	 principais	 conceitos	 defendidos	 pelos	 pensadores	 modernos	
pode-se	relacionar	a	razão	matemática,	na	condição	de	proporção	e	da	relação	das	
grandezas	entre	si;	a	visão	científica	e	mecanicista	do	mundo.	Entre	as	preocupações	
dos	pensadores	da	época	moderna	estava	a	ideia	de	como	conhecemos	as	coisas,	a	
realidade	e	o	mundo;	e,	por	sua	vez,	o	limite	das	faculdades	e	sentidos	humanos,	
que	poderia	ser	sanado	com	o	uso	de	métodos	rigorosos	e	a	 razão	no	campo	do	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
87
raciocínio	explicativo,	que	foram	consolidados	por	meio	das	escolas	filosóficas	do	
empirismo	e	do	racionalismo.
Observe	no	quadro	a	seguir	como	as	duas	escolas	filosóficas	que	perpassaram	
o	contexto	educacional	da	época	moderna	podem	ser	sistematizadas:	
QUADRO 2 - SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS MODERNAS
PRINCÍPIOS PRINCIPAIS	REPRESENTANTES
EMPIRISMO
(Sec.	XVII	e	XVIII)
O	conhecimento	advém	das	experiências.
São	consideradas	as	evidências,	
descobertas	por	meio	de	experiências.
Almejava	resultados	práticos,	úteis	e	que	
pudessem	ser	aplicados	no	domínio	da	
natureza.
John	Locke
George	Berkeley
David	Hume	
Immanuel	Kant
RACIONALISMO
(Sec.	XVII	e	XVIII)
O	raciocínio	é	a	principal	operação	
mental	e	o	principal	caminho	à	verdade.
Tudo	que	existe	possui	uma	causa	
inteligível.
Privilegia	a	razão	diante	da	experiência,	
e	a	dedução	como	o	principal	caminho	
das	investigações	filosóficas.
René	Descartes
Baruch	Spinoza
Gottfried	Wilhelm	Leibniz
Fonte: Os autores
Outra	vertente	dos	pensadores	foi	a	dos	contratualistas,	porém	agora	com	
preocupações	mais	 específicas	 do	 campo	 jurídico,	 político	 e	 da	 organização	 da	
sociedade	propriamente	dita,	no	sentido	de	que	a	sociedade	moderna,	o	Estado	
civil,	 as	 constituições,	 as	 leis,	 os	 contratos	 forneciam	 as	 condições	 necessárias	
que	 garantiriam	 a	 vida	 pacífica,	 sem	 discórdia,	 em	 justiça	 e	 liberdade	 entre	 os	
indivíduos	 e	 as	 sociedades.	 Observe	 que	 a	 seguir	 procuramos	 relacionar	 de	
maneira	 esquemática	 o	 pensamento	 contratualista	 e	 quais	 foram	 os	 principais	
simpatizantes:
QUADRO 3 - SÍNTESE DO PENSAMENTO CONTRATUALISTA
PRINCÍPIOS PRINCIPAIS REPRESENTANTES
CONTRATUALISMO
(Séc. XVII e XVIII)
NATUREZA: guerra, violência, vitória do 
mais forte, incertezas e insegurança.
CONTRATO: fundamento do poder 
político e dos governos;
LEIS: capazes de garantir a liberdade 
e a justiça.
PACTO SOCIAL: reconhecimento dos 
governos, do conjunto das leis, e dos 
regimes políticos como fundamentais 
à vida em sociedade.
ESTADO CIVIL: reconhecimento de 
uma autoridade absoluta.
T. Hobbes
John Locke
Jean-J. Rousseau
Fonte: Os autores
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
88
Thomas	 Hobbes	 (1588-1679)	 parte	 do	 conceito	 do	 Direito	 natural	 (Jus	
naturalismo),	cujo	preceito	ensina	que	todo	homem	tem	direito	à	vida	e	ao	que	
é	necessário	para	mantê-la,	também	(principalmente)	à	liberdade.	Para	ele,	todos	
são	livres,	ainda	que	uns	sejam	fracos	e	outros	fortes.	Um	contrato	social,	conforme	
o	Direito	Romano,	só	tem	validade	se	ambas	as	partes	forem	livres	e	iguais	e,	por	
vontade	própria,	consentem	ao	que	está	contratado,	pactuado.
Para	Hobbes,	há	três	motivações	intrínsecas	no	ser	humano:	a	competição,	
a	desconfiança	e	a	glória	(a	vaidade).	O	estado	natural	de	guerra	é	porque	todos	
se	imaginam	poderosos,	perseguidos	e	traídos,	para	tanto	o	Estado	Civil	moderno	
regulamentaria	a	vida,	as	regras	do	jogo/guerra	e	da	liberdade,	permitindo	a	todos	
condições	iguais	na	competição.
Caro	 acadêmico!	 Os	 autores	 das	 duas	 correntes	 filosóficas	 modernas	
ainda	 serão	 analisados	 com	maior	 profundidade	 ao	 longo	 desta	 unidade.	 Para	
potencializar	seu	conhecimento,	esteja	atento	e	reúna	o	maior	número	de	elementos	
e	argumentos	possíveis	sobre	cada	um	deles.
4.1 ELEMENTOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL MODERNO: 
A EDUCAÇÃO REALISTA DO SÉCULO XVII
Brug,	Fronza	e	Silva	(2013)	explicam	que	a	partir	do	século	XVI,	teólogos	
católicos	 e	 os	 protestantes,	 teceram	profundos	 debates,	 todavia	 foi	 o	momento	
em	que	os	intelectuais	idealistas	entram	no	debate	e	passam	a	fundar	escolas	sob	
sua	orientação	educacional.	O	italiano	Vitorino	Feltre,	em	1428,	 foi	convidado	a	
ministrar	aulas	junto	à	universidade	de	Veneza	e	Pádua,	pelo	príncipe	de	Mântua,	
na	qual	pode	fundar	uma	escola	e	permanecer	nela	até	o	seu	falecimento.	
Monroe	 (1979)	 descreve	 que	 Vitorino	 Feltre	 não	 chegou	 a	 deixar	 seus	
ideais	 educacionais	 e	 pedagógicos	 registrados,	 porém	 é	 reconhecido	 como	 um	
dos	educadores	renascentista	pioneiros.	Algumas	das	escolas	que	foram	fundadas	
na	 época	 da	 renascença	 destinavam-se	 especialmente	 à	 nobreza	 e	 podiam	 ser	
encontradas	 nas	 cidades	 de	 Pádua,	 Veneza	 e	 Florença.	 Em	 outras	 regiões	 da	
Europa	como	a	Alemanha,	passaram	a	existir	escolas	infantis	que	eram	tuteladas	
diretamente	pelas	cortes,	leia-se:	escola	às	elites;	por	outro	lado	ocorriam	também	
os	ginásios,	cujo	fundador	foi	João	Sturn.	
 
A	Idade	Moderna	foi	o	momento	histórico	de	muitas	transformações	no	que	diz	
respeito	ao	cenário	político,	econômico,	científico,	intelectual	e	educacional.	Em	meio	
a	este	contexto	as	primeiras	escolas	de	alfabetização	e	educação	primária,	que	eram	
novidade	no	cenário	educacional	europeu,	não	passaram	ilesas.	As	primeiras	escolas,	
nas	quais	a	maior	parte	da	elite	europeia	se	alfabetizou,	contavam	com	preceptores,	
que	supervisionavam,	orientavam	e	acompanhavam	as	atividades	escolares.
 
O	 século	 XVI	 no	 campo	 intelectual	 é	 conhecido	 como	 humanista-
renascentista,	já	no	campo	artístico	é	reconhecido	como	o	período	barroco,	já	no	
campo	educacional	se	desenvolveu	a	tendência	do	realismo	pedagógico.	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
89
Caro	acadêmico!	Não	se	esqueça	de	que	os	pensadores	do	Renascimento	
foram	 chamados	 de	 ‘utópicos’,	 ou	 seja,	 que	 lançavam	 e	 almejavam	 teorias	
idealizadas	e	de	difícil	 realização.	Logo	o	século	seguinte,	o	 século	XVII,	 foi	de	
compensação	pelo	aspecto	racional,	metódico	e	realista,	embasado	pelo	pensamento	
dos	pesadores	como	John	Locke,	João	Amós	Comenius	e	Francis	Fenelon.		
John	 Locke	 (1632-1704),	 filósofo	 e	 pensador	 britânico,	 preceptor	 dos	
filhos	 do	 conde	 de	 Shaftesburg,	 foi	 um	 estudioso	 que	 contribuiu	 na	 produção	
do	 conhecimento	 que	 pretendia	 superar	 a	 tradição	 medieval.	 Se	 destacou	 nas	
áreas	 da	 filosofia,	 da	 economia,	 política,	 religião	 e	 educação.	 Seus	 estudos	 se	
inserem	no	 contexto	 histórico	 e	 filosófico	do	 pensamento	 pedagógico	moderno	
e	 seus	 pensamentos	 ganharam	 importância,	 pois	 foi	 o	 estudioso	 quedefendeu	
o	 empirismo,	 ou	 seja,	 que	 acredita	 que	 o	 conhecimento	 seja	 consequência	 da	
experiência,	 que	 não	 existem	 ideias	 inatas,	 ou	 seja,	 ideias	 com	 as	 quais	 nós	 já	
nascemos;	ao	invés	disso,	propôs	que	o	que	sabemos	aprende-se	tudo	pelo	caminho	
da	experiência.	Criticou	enfaticamente	as	ideias	medievais,	o	descaso	atribuído	às	
línguas	vernaculares	e	aos	cálculos,	e	ênfase	atribuída	ao	latim.
Na	obra	de	quatro	volumes	‘Ensaio sobre o entendimento humano’,	pensamentos	
sobre	a	educação,	apresentou	a	expressão	latina	pela	qual	ficou	muito	conhecido,	
que	é	a	de	tábula	rasa,	que	procurava	explicar	que	o	ser	humano	nasce	como	um	
papel	em	branco	e	que	vai	sendo	preenchido	ao	longo	de	sua	vida.	Foi	defensor	da	
separação	de	poderes	entre	Igreja	e	Estado,	ou	seja,	defendeu	o	Estado	laico.	
CONCEITO: ESTADO LAICO:
Casanova (1994) refere-se, histórica e normativamente, à emancipação do Estado e do 
ensino público dos poderes eclesiásticos e de toda referência e legitimação religiosa, à 
neutralidade confessional das instituições políticas e estatais, à autonomia dos poderes 
político e religioso, à neutralidade do Estado em matéria religiosa (ou a concessão de 
tratamento estatal isonômico às diferentes agremiações religiosas), à tolerância religiosa e 
às liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher não ter religião) e de culto. 
Cambi	 (1999)	 explica	 que	 Locke	 teoriza	 sobre	 uma	 educação	 que	 se	
destinava	 tanto	a	homens	como	a	mulheres	e	que	 tinha	por	objetivo	endurecer,	
regular	 e	moldar	 a	 delicadeza	 e	 os	 demasiados	 cuidados,	 que	 seria	 obtida	 por	
meio	de	uma	espécie	de	“educação	do	corpo”,	este	entendido	como	um	vaso	de	
argila	(como	se	exprime	Locke),	que	impunha		ajustes	desde	os	modos	de	vestir,	
que	deveriam	parecer	nem	leves	nem	pesados,	ao	mesmo	tempo	a	robustez	e	a	
possibilidade	 da	 vida	 "ao	 ar	 livre",	 válida	 tanto	 para	 os	 rapazes	 como	 para	 as	
moças”	(CAMBI,	1999).
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
90
Para	Locke,	as	capacidades	e	as	competências	do	ser	humano	são	inatas,	
mas	o	conhecimento	e	as	habilidades	são	construídos.	Defendendo	estas	 ideias,	
colocava-se	contrário	às	noções	de	dom	artístico.
 
Para	Locke,	o	pensamento	e	a	memória	humana	consistem	em	uma	espécie	
de	 tábula	 rasa	a	 ser	preenchida	e	o	 corpo	 como	um	vaso	de	argila,	passível	de	
moldagem.	 Os	 estudiosos	 apontam	 que	 seus	 estudos	 e	 teorizações	 no	 campo	
da	 educação	 destinam-se	 à	 Educação	 Física	 e	 recebe	 diversas	 críticas,	 pois	 seu	
pensamento	sugeria	uma	espécie	de	controle	e	atos	de	mutilação	com	relação	ao	
corpo	com	justificativa	educativa.
QUADRO 4 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE JOHN LOCKE
OBRA PRINCÍPIOS
JOHN	LOCKE
(1632-1704)
Ensaio	 sobre	 o	 entendimento	
humano	(1690).
Alguns	 pensamentos	 sobre	 a	
educação	(1693).
A	conduta	do	entendimento	(1706).
Homem:	sujeito.
Natureza:	fonte	de	conhecimento.
Conhecimento:	 por	 empirismo	 e	
experiência.
Verdade:	processo	histórico.
Fonte: Os autores
Francis	Fenelon	(1567-1622)	foi	um	bispo	católico	francês.	E,	assim	como	
Locke,	 trabalhou	como	preceptor	de	uma	 família	nobre.	No	caso,	Fenelon	 foi	o	
responsável	pela	instrução	de	um	dos	netos	de	Luiz	XIV,	o	“Rei	Sol”.	Seu	destaque	
foi	 propor	 uma	 pedagogia	 para	 as	mulheres.	 Como	 retrato	 da	mentalidade	 da	
época,	acreditava	que	as	moças	deveriam	se	dedicar	a	conhecimentos	religiosos	
e	morais,	que	as	capacitassem	para	bem	desenvolver	suas	 funções	sociais	como	
esposas	 e	mães	 de	 famílias.	As	 escolas	 para	mulheres	 foram	 desenvolvidas	 na	
França,	 sendo	a	de	 Saint-Cry	um	 símbolo	da	 educação	 feminina	da	monarquia	
francesa	antes	da	Revolução	Francesa	(ARANHA,	2006).
 
Outro	importante	pensador	presente	na	história	da	educação	ocidental	é	o	
tcheco	João	Amós	Comenius	(1562-1670).	Formado	em	Teologia,	não	conseguiu	ser	
ordenado	sacerdote	devido	aos	problemas	políticos	oriundos	na	Europa	durante	
a	 Guerra	 dos	 Trinta	 Anos,	 um	 dos	 conflitos	 militares	 oriundos	 das	 disputas	
territoriais	entre	príncipes	católicos	e	protestantes.
 
As	 suas	 reflexões	 sobre	 educação	 são	marcadas	 por	 sua	 perspicácia	 em	
relação	 ao	 amadurecimento	 dos	 seres	 humanos.	 Seus	 principais	 livros	 foram	
Pródomus da Pansofia,	no	qual	propunha	a	organização	e	ampliação	do	acesso	ao	
ensino	como	um	modo	de	pôr	fim	às	guerras.	Em	Porta aberta às línguas,	propôs	uma	
inovadora	metodologia	para	o	ensino	do	latim.	Porém,	sua	principal	contribuição	
para	a	tarefa	educacional	foi	a	Didática magna	(1657)	ou	Grande didática.	Comenius	
compreendia	o	homem	e	suas	fases	de	desenvolvimento	da	seguinte	forma:
Portanto,	o	que	é	inicialmente	o	homem?	Uma	massa	informe	e	bruta.	
Depois,	assume	o	contorno	de	um	pequeno	corpo,	mas	sem	sentidos	e	
movimento.	A	seguir,	começa	a	movimentar-se	e	por	força	da	natureza	
vem	 à	 luz;	 pouco	 a	 pouco	 manifestam-se	 os	 olhos,	 os	 ouvidos	 e	 os	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
91
outros	sentidos.	Após	um	certo	tempo	manifesta-se	o	sentido	interno,	
quando	 ele	 percebe	 que	 vê,	 ouve	 e	 sente.	A	 seguir	 será	manifestado	
o intelecto,	 apreendendo	 as	 diferenças	 entre	 as	 coisas;	 finalmente,	 a	
vontade,	dirigindo-se	a	alguns	objetos	e	fugindo	de	outros,	assume	papel	
de	governante	(COMENIUS,	1997,	p.	44).
Para	 Comenius	 (1997,	 p.	 58),	 “nossa	 mente	 não	 apreende	 só	 as	 coisas	
próximas,	mas	 também	aproxima	de	si	as	distantes	 (em	 lugar	e	 tempo),	alça-se	
às	mais	difíceis,	indaga	as	ocultas,	descobre	as	veladas,	esforça-se	por	investigar	
também	 as	 imperscrutáveis:	 é	 algo	 infinito	 e	 sem	 limite”.	 Portanto,	 dedicou-se	
em	formular	um	método	universal	que	facilitaria	o	ensino	do	maior	número	de	
conteúdos	e	conhecimentos,	ensinar	tudo	e	a	todos	(Omnes Omnia Omnimo),	em	
que	os	objetivos	e	os	resultados	seriam	alcançados	rápida	e	solidamente	e	de	modo	
satisfatório,	e	que	se	destinaria	a	um	amplo	público	de	interessados.		
Criticava	 as	 formas	 enfadonhas	 e	 tortuosas	 de	 ensino	 e	 aprendizagem,	
bem	 como	 a	 especialidade	 e	 restrição	 a	 determinados	 saberes	 e	 ofícios,	 assim	
como	as	restrições	de	sexo	(homens	e	mulheres),	de	classes	sociais	(agricultores,	
comerciantes,	 operários,	 administradores)	 e	 aos	 que	 apresentavam	 sinais	 de	
deficiências	 (mental	 e	 outras	 debilidades),	 que	 acompanhavam	 as	 instituições	
escolares	da	época.	Enfatizava	a	necessidade	de	se	subdividir	o	processo	de	ensino	
em	níveis	 e	 graus	mediante	 a	 faixa	 etária	 dos	 estudantes,	 bem	 como	 abordava	
questões	de	falta	de	interesse	e	motivação	por	parte	dos	estudantes.	
Para	Comenius	(1997),	a	educação	deveria	observar	os	seguintes	preceitos:	
I.	 	Começar	cedo,	antes	da	corrupção	das	inteligências.	
II.	Fazer	a	devida	preparação	dos	espíritos.	
III.	Proceder	às	coisas	gerais	para	as	coisas	particulares.	
IV.	Proceder	às	coisas	mais	fáceis	para	as	mais	difíceis.	
V.	Não	sobrecarregar	ninguém	com	demasiados	trabalhos	escolares.
VI.		Proceder	de	forma	lenta.	
VII.	Não	constranger	os	espíritos	a	fazer	aquilo	que	não	desejam,	permitir	que	seja	
de	forma	espontânea,	tendo	em	vista	método	e	a	idade	ideal.		
VIII.	Ensinar	todas	as	coisas,	colocando-as	imediatamente	sob	os	sentidos.	
IX.	Dar	ênfase	à	utilidade	imediata	dos	conhecimentos.
X.	Utilizar	sempre	com	um	só	e	o	mesmo	método.
XI.	Prezar	por	um	andamento	suave	e	agradável	das	atividades.
Comenius	 defendia	 que	 se	 devia	 saber	 tudo,	 mas	 não	 nos	 aspectos	
superficiais	e	vulgares	dos	saberes,	antes	os	fundamentos,	os	princípios,	as	razões	
e	os	objetivos	dos	principais	conhecimentos	da	natureza	e	daqueles	que	o	homem	
foi	 responsável.	 Para	 tanto,	 classificou	 as	 coisas	 em	 três	 naturezas:	 objetos	 de	
observação:	o	 céu,	Sol,	Lua,	 as	 rochas,	 as	 estrelas,	os	 fenômenos	naturais,	 entre	
outros;	objetos	de	imitação:	a	ordem	que	rege	o	mundo,	a	natureza	e	o	homem;objetos	de	fruição:	o	não	palpável,	o	metafísico,	o	imaterial,	o	divino,	de	natureza	
simbólica	e	espiritual.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
92
O	 que	 podemos	 compreender	 nestes	 pensadores	 realistas	 é	 a	 ideia	 da	
importância	da	educação	para	o	desenvolvimento	humano.	Porém,	não	apenas	do	
ponto	de	vista	da	utopia,	do	sonho	de	se	viver	em	uma	sociedade	marcada	pela	
perfeição.	A	 ideia	educacional	principal	era	um	pouco	mais	prática,	uma	noção	
da	necessidade	da	educação	na	alteração	de	comportamentos	e	pensamentos	no	
cotidiano	dos	discentes.	Muito	mais	que	um	sonho	de	sociedade,	os	autores	em	
análise	tiveram	em	suas	experiências	pessoais	a	principal	motivação	para	escrever	
seus	livros.
	As	experiências	pessoais	de	Fenelon	e	Locke	como	preceptores	os	motivaram	
a	pensar	uma	educação	para	as	moças	e	de	melhor	qualidade.	As	dificuldades	de	
vivenciar	uma	guerra	motivaram	Comenius	a	escrever	sobre	a	paz	universal.	Estas	
são	as	razões	principais	de	as	reflexões	destes	intelectuais	não	serem	teóricas,	mas,	
sim,	metodológicas.	Isto	é,	o	método	de	ensino,	as	faixas	etárias	apropriadas	para	
o	ensino	de	determinados	conteúdos	e	quais	os	conteúdos	a	se	ensinar	foram	os	
pontos	principais	das	reflexões	dos	pedagogos	seiscentistas.					
4.2 OS MANUAIS DE ETIQUETA E DE BONS COSTUMES 
Burg,	Fronza	e	Silva	(2013)	explicam	que	os	manuais	de	etiqueta,	as	dietas	
e	 cardápios	 variados	 e	 refinados	 representam	 uma	 novidade	 aos	 homens	 do	
Renascimento,	mas	a	partir	de	então	fazem	parte	das	preocupações	da	vida	pública	
e	 privada	 da	 sociedade	 ocidental	 até	 os	 dias	 atuais.	 Por	 meio	 das	 expressões,	
comportamentos	e	posturas	nos	momentos	festivos,	em	meios	aos	baquetes	e	no	
cotidiano	no	interior	dos	palácios,	as	elites	econômicas	e	políticas	afirmavam-se	
por	meio	da	demonstração	de	modos	refinados,	sofisticados	e	elegantes.
 
Elias	(1993)	explica	que	os	autores	renascentistas	que	já	mencionamos	antes	
nesta	 unidade,	 Leonardo	da	Vinci	 e	 Erasmo	de	Roterdã	 foram,	 além	de	 outras	
coisas,	já	mencionadas	anteriormente,	autores	de	manuais	de	etiqueta	e	cardápios	
gastronômicos.	Nos	manuais	constavam	desde	noções	de	como	os	nobres	deveriam	
se	portar	e	apresentar	à	mesa	assim	como	cuidados	higiênicos	que	deveriam	ser	
observados	 no	 cotidiano.	A	 título	 de	 exemplo	 tem-se	 que	 não	 era	 de	 bom	 tom	
escarar	na	mão	direita	e	usar	a	mesma	mão	para	pegar	algum	pedaço	de	carne.	
Neste	contexto	não	se	pode	negligenciar	a	informação	de	que	os	artefatos	de	garfo	
e	faca	representavam	utensílios	raros,	que	muitas	vezes	eram	objetos	de	disputas	
em	heranças	de	pai	para	filho.	
Ribeiro	(1990)	explica	que	além	das	questões	de	etiqueta	e	bons	costumes,	
havia	também	segregações	e	distinções	sociais	que	eram	obtidas	pelas	questões	de	
honra,	ou	melhor	pelas	noções	de	status quo, ou	seja,	que	se	baseava	na	importância	
e	 no	 reconhecimento	 que	 a	 família	 obtinha	 em	meio	 à	 sociedade.	 O	 status era	
obtido	 pela	 demonstração	 de	 boa	 apresentação	 nos	 bailes,	 cafés,	 museus	 e	
galerias,	por	meio	do	uso	de	trajes	elegantes,	perucas,	vestidos	e	demais	acessórios	
enobrecedores.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
93
Burg,	Fronza	e	Silva	(2013)	explicam	que	foi	nas	confrarias	duelistas,	que	
funcionavam	nos	castelos	e	palácios	da	nobreza,	que	as	regras	de	etiqueta	e	bons	
costumes	eram	aprendidas;	destinavam-se	especialmente	aos	integrantes	da	elites	
e	 nobres	 praticantes	 de	 esgrima.	Além	 das	 atividades	 de	 esgrima,	 a	 montaria	
representava	 outra	 atividade,	 quem	 quisesse	 se	 distinguir	 deveria	 apresentar	
conhecimentos	e	demostrar	habilidade.
Caro	 acadêmico!	 Observe	 com	 atenção	 o	 texto	 "Escolas Filosóficas: um 
panorama",	escrito	pelo	professor	Kevin	Daniel	dos	Santos	Leyser,	pois	contempla	
explicações	sobre	as	correntes	filosóficas	que	compõem	a	matriz	do	pensamento	
ocidental	e	o	pano	de	fundo	filosófico	em	que	se	desenvolveram	os	autores	que	já	
foram	mencionados	até	aqui	e	que	ainda	serão	mencionados	ao	longo	das	próximas	
unidades.	Mas,	para	saber	mais,	prossiga	na	leitura.
LEITURA COMPLEMENTAR
ESCOLAS	FILOSÓFICAS:	UM	PANORAMA
Kevin	Daniel	dos	Santos	Leyser
As	 escolas	 filosóficas	 podem	 ser	 sistematizadas	 em	 quatro	 correntes	 de	
pensamento,	que	são	o	idealismo,	o	realismo,	o	pragmatismo	e	o	existencialismo.	
O	idealismo	e	o	realismo	derivam	dos	pensamentos	e	escritos	dos	antigos	filósofos	
gregos,	Platão	e	Aristóteles,	que	por	 sua	vez	 já	 foram	discutidas	na	Unidade	1.	
As	outras	duas	são	mais	contemporâneas,	o	pragmatismo	e	o	existencialismo.	No	
entanto,	os	educadores	que	compartilham	um	desses	conjuntos	distintos	de	crenças	
sobre	 a	 natureza	 da	 realidade	 atualmente	 aplicam	 cada	 uma	 dessas	 filosofias	
gerais	em	salas	de	aula.	Vamos	explorar	cada	uma	dessas	escolas	metafísicas	de	
pensamento:
1-	Idealismo:	é	uma	abordagem	filosófica	que	tem	como	princípio	central	que	as	
ideias	são	a	única	realidade	verdadeira,	a	única	coisa	que	vale	a	pena	conhecer.	
Em	busca	da	verdade,	beleza	 e	 justiça	que	 é	duradoura	 e	 eterna,	 o	 foco	 está	
no	raciocínio	consciente	na	mente.	Platão,	pai	do	idealismo,	abraçou	esta	visão	
cerca	de	400	anos	A.E.C.,	em	seu	famoso	livro	A República.	Platão	acreditava	que	
havia	dois	mundos.	O	primeiro	é	o	mundo	espiritual	ou	mental,	que	é	eterno,	
permanente,	ordenado,	regular	e	universal.	Há	também	o	mundo	da	aparência,	
o	mundo	experimentado	através	da	visão,	do	toque,	do	cheiro,	do	gosto	e	do	
som,	que	está	mudando,	imperfeito	e	desordenado.	Esta	divisão	é	muitas	vezes	
referida	 como	 a	 dualidade	 da	mente	 e	 do	 corpo.	 Reagindo	 contra	 o	 que	 ele	
percebia	 como	um	 foco	 excessivo	na	 imediação	do	mundo	 físico	 e	 sensorial,	
Platão	descreveu	uma	sociedade	utópica	na	qual	a	educação	para	o	corpo	e	a	
alma	seria	toda	a	beleza	e	perfeição	da	qual	são	capazes	como	um	ideal.	Em	sua	
alegoria	da	caverna,	as	sombras	do	mundo	sensorial	devem	ser	superadas	com	
a	luz	da	razão	ou	da	verdade	universal.	Para	compreender	a	verdade,	é	preciso	
buscar	o	conhecimento	e	identificar-se	com	a	Mente	Absoluta.	Platão	também	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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acreditava	que	a	alma	está	totalmente	formada	antes	do	nascimento	e	é	perfeita	
e	 em	harmonia	 com	o	 Ser	Universal.	O	processo	de	nascimento	verifica	 essa	
perfeição,	de	modo	que	a	educação	exige	que	à	consciência	sejam	trazidas	ideias	
latentes	(conceitos	totalmente	formados).	
No	 idealismo,	 o	 objetivo	 da	 educação	 é	 descobrir	 e	 desenvolver	 as	
habilidades	e	a	excelência	moral	de	cada	indivíduo	para	melhor	servir	à	sociedade.	
A	 ênfase	 curricular	 é	 assunto	 da	mente:	 literatura,	 história,	 filosofia	 e	 religião.	
Os	métodos	 de	 ensino	 centram-se	 no	 tratamento	 de	 ideias	 através	 de	 palestra,	
discussão	e	diálogo	socrático	(um	método	de	ensino	que	utiliza	o	questionamento	
para	 ajudar	 os	 alunos	 a	 descobrir	 e	 clarificar	 o	 conhecimento).	 Introspecção,	
intuição,	insight	e	lógica	são	usados			para	levar	à	consciência	as	formas	ou	conceitos	
que	 estão	 latentes	 na	mente.	 O	 caráter	 é	 desenvolvido	 através	 da	 imitação	 de	
exemplos	e	heróis.
2- Realismo: Os	 realistas	 acreditam	 que	 a	 realidade	 existe	 independentemente	
da	mente	humana.	A	 realidade	última	é	o	mundo	dos	objetos	 físicos.	O	 foco	
desta	perspectiva	está	no	corpo/objetos.	A	verdade,	portanto,	é	objetiva	–	aquilo	
que	pode	ser	observado.	Aristóteles,	um	estudante	de	Platão	que	rompeu	com	
a	filosofia	idealista	de	seu	mentor,	é	chamado	o	pai	do	realismo	e	do	método	
científico.	Nesta	visão	metafísica,	o	objetivo	é	compreender	a	realidade	objetiva	
através	 do	 escrutínio	 diligente	 e	 imparcial	 de	 todos	 os	 dados	 observáveis.	
Aristóteles	 acreditava	 que,	 para	 compreender	 um	 objeto,	 sua	 forma	 última	
deveria	ser	entendida,	aquilo	que	não	mudava.	Por	exemplo,uma	rosa	existe	
se	uma	pessoa	 está	 ou	não	 consciente	dela.	Uma	 rosa	pode	 existir	 na	mente	
sem	 estar	 fisicamente	 presente,	 mas	 em	 última	 análise,	 a	 rosa	 compartilha	
propriedades	com	todas	as	outras	rosas	e	flores	(sua	forma),	embora	uma	rosa	
pode	ser	vermelha	e	outra	amarela.	Aristóteles	também	foi	o	primeiro	a	ensinar	
a	 lógica	 como	uma	disciplina	 formal,	 a	 fim	de	 ser	 capaz	de	 raciocinar	 sobre	
eventos	e	aspectos	físicos.	O	exercício	do	pensamento	racional	é	visto	como	o	fim	
último	da	humanidade.	O	currículo	realista	enfatiza	o	assunto	do	mundo	físico,	
particularmente	a	ciência	e	a	matemática.	O	professor	organiza	e	apresenta	o	
conteúdo	sistematicamente	dentro	de	uma	disciplina,	demonstrando	o	uso	de	
critérios	na	tomada	de	decisões.	Os	métodos	de	ensino	centram-se	no	domínio	
dos	fatos	e	das	competências	básicas	através	da	demonstração	e	da	recitação.	
Os	 alunos	 também	 devem	 demonstrar	 a	 capacidade	 de	 pensar	 criticamente	
e	 cientificamente,	usando	observação	e	 experimentação.	O	 currículo	deve	 ser	
abordado	 cientificamente,	 padronizado	 e	 baseado	 em	 disciplina	 distinta.	 O	
caráter	é	desenvolvido	através	da	formação	nas	regras	de	conduta.
3- Pragmatismo (Experiencialismo): Para	os	pragmáticos,	apenas	as	coisas	que	são	
experimentadas	ou	observadas	são	reais.	Nesta	filosofia	americana	do	final	do	
século	XIX,	o	foco	está	na	realidade	da	experiência.	Ao	contrário	dos	realistas	
e	 racionalistas,	 os	 pragmatistas	 acreditam	que	 a	 realidade	 está	 em	 constante	
mudança	e	que	aprendemos	melhor	através	da	aplicação	de	nossas	experiências	
e	pensamentos	aos	problemas,	à	medida	que	surgem.	O	universo	é	dinâmico	e	
evolutivo,	uma	visão	do	mundo	"tornando-se".	Não	há	uma	verdade	absoluta	
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
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e	 imutável,	mas	 sim,	 a	 verdade	 é	 o	 que	 funciona.	O	pragmatismo	deriva	do	
ensinamento	 de	 Charles	 Sanders	 Peirce	 (1839-1914),	 que	 acreditava	 que	 o	
pensamento	deve	produzir	ação,	em	vez	de	ficar	na	mente	e	levar	à	indecisão. 
John	Dewey	 (1859-1952)	 aplicou	 a	 filosofia	 pragmatista	 em	 suas	 abordagens	
progressivas.	Ele	acreditava	que	os	aprendizes	deviam	adaptar-se	uns	aos	outros	
e	ao	seu	ambiente.	As	escolas	devem	enfatizar	o	assunto	da	experiência	social.	
Toda	 aprendizagem	 depende	 do	 contexto	 de	 lugar,	 tempo	 e	 circunstância.	
Diferentes	 grupos	 culturais	 e	 étnicos	 aprendem	a	 trabalhar	 em	 cooperação	 e	
a	 contribuir	para	uma	 sociedade	democrática.	O	objetivo	final	 é	 a	 criação	de	
uma	nova	ordem	social.	O	desenvolvimento	do	caráter	baseia-se	na	tomada	de	
decisões	de	grupo	à	luz	das	consequências. 
Para	os	pragmatistas,	os	métodos	de	ensino	 se	 concentram	na	 resolução	
de	 problemas	 práticos,	 experimentação	 e	 projetos,	 muitas	 vezes	 fazendo	 com	
que	os	alunos	trabalhem	em	grupos.	O	currículo	deve	reunir	as	disciplinas	para	
se	concentrar	na	resolução	de	problemas	de	forma	interdisciplinar.	Ao	 invés	de	
passar	corpos	de	conhecimento	organizados	para	novos	alunos,	os	pragmatistas	
acreditam	que	os	alunos	devem	aplicar	seus	conhecimentos	a	situações	reais	por	
meio	de	pesquisas	experimentais.	 Isso	prepara	os	alunos	para	a	cidadania,	vida	
diária	e	carreiras	futuras.
4- Existencialismo: A	natureza	da	realidade	para	os	existencialistas	é	subjetiva	e	
está	dentro	do	indivíduo.	O	mundo	físico	não	tem	nenhum	significado	inerente	
fora	da	existência	humana.	A	escolha	individual	e	os	padrões	individuais	em	vez	
de	padrões	externos	são	centrais.	A	existência	vem	antes	de	qualquer	definição	
do	que	somos.	Nós	nos	definimos	em	relação	a	essa	existência	pelas	escolhas	
que	fazemos.	Não	devemos	aceitar	o	sistema	filosófico	predeterminado	de	outra	
pessoa.	 Em	vez	disso,	 devemos	 assumir	 a	 responsabilidade	de	decidir	 quem	
somos.	O	foco	é	sobre	a	liberdade,	o	desenvolvimento	de	indivíduos	autênticos,	
tal	como	fazemos	o	significado	de	nossas	próprias	vidas.
Existem	 várias	 orientações	 diferentes	 dentro	 da	 filosofia	 existencialista.	
Sören	Kierkegaard	 (1813-1855),	ministro	 e	 filósofo	 dinamarquês,	 é	 considerado	
o	 fundador	 do	 existencialismo.	 Sua	 orientação	 era	 cristã.	 Outro	 grupo	 de	
existencialistas,	 em	 grande	 parte	 europeu,	 acredita	 que	 devemos	 reconhecer	 a	
finitude	de	nossas	vidas	neste	pequeno	e	frágil	planeta,	em	vez	de	crer	na	salvação	
por	meio	de	Deus.	Nossa	existência	não	é	garantida	em	uma	vida	após	a	vida,	
então	há	tensão	sobre	a	vida	e	a	certeza	da	morte,	da	esperança	ou	do	desespero.	
Ao	 contrário	 das	 abordagens	 europeias	mais	 austeras	 onde	 o	 universo	 é	 visto	
como	 sem	 sentido	 quando	 confrontado	 com	 a	 certeza	 do	 fim	 da	 existência,	 os	
existencialistas	 americanos	 têm	 se	 concentrado	mais	no	potencial	 humano	 e	na	
busca	 de	 significado	 pessoal.	O	 esclarecimento	 de	 valores	 é	 uma	 consequência	
desse	movimento.	Após	o	período	sombrio	da	Segunda	Guerra	Mundial,	o	filósofo	
francês	 Jean-Paul	 Sartre	 sugeriu	 que,	 para	 a	 juventude,	 o	momento	 existencial	
surge	quando	os	jovens	percebem	pela	primeira	vez	que	a	escolha	é	deles,	que	eles	
são	responsáveis			por	si	mesmos.	Sua	pergunta	se	transforma	em	"Quem	sou	eu	e	
o	que	devo	fazer?”
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
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Em	 relação	 à	 educação,	 o	 tema	 das	 aulas	 existencialistas	 deve	 ser	 uma	
questão	de	escolha	pessoal.	Os	professores	veem	o	indivíduo	como	uma	entidade	
dentro	de	um	contexto	social	em	que	o	aluno	deve	confrontar	os	pontos	de	vista	
dos	outros	para	esclarecer	o	seu	próprio.	O	desenvolvimento	do	caráter	enfatiza	
a	 responsabilidade	 individual	pelas	decisões.	Respostas	 reais	vêm	de	dentro	do	
indivíduo,	não	de	 autoridade	 externa.	Examinar	 a	vida	 através	do	pensamento	
autêntico	 envolve	 os	 alunos	 em	 experiências	 de	 aprendizagem	 genuínas.	 Os	
existencialistas	 se	 opõem	 a	 pensar	 nos	 alunos	 como	 objetos	 a	 serem	medidos,	
rastreados	 ou	 padronizados.	 Esses	 educadores	 querem	 que	 a	 experiência	
educacional	 se	 concentre	 na	 criação	 de	 oportunidades	 para	 autodireção	 e	
autorrealização.	Eles	começam	com	o	aluno,	e	não	com	o	conteúdo	do	currículo.
Observe	no	quadro	abaixo	como	estas	escolas	podem	ser	sistematizadas	e	
quais	foram	os	principais	estudiosos	que	as	seguiram:
ESCOLA 
FILOSÓFICA
IMPLICAÇÕES 
EDUCACIONAIS
O QUE 
DEVEMOS 
ENSINAR?
COMO 
DEVEMOS 
ENSINAR?
EXEMPLOS 
HISTÓRICOS
IDEALISMO
(Séc.	V	a.C;	XVIII,	
XX)
Considera	ideias	
ou	conceitos	como	
a	essência	de	
tudo	o	que	vale	a	
pena	conhecer.	O	
mundo	espiritual	
é	eterno	e	não	está	
sujeito	a	mudanças	
porque	é	perfeito	
(metafísica).	Ênfase	
no	raciocínio,	mas	
não	na	investigação	
científica.
O	idealismo	é	
centrado	na	ideia	
ao	invés	de	no	
sujeito	ou	na	
criança	porque	o	
ideal,	ou	a	ideia,	
é	o	fundamento	
de	todas	as	
coisas.	O	idealista	
acredita	que	a	
aprendizagem	
vem	do	interior	
do	indivíduo,	e	
não	do	exterior.	
Portanto,	o	
verdadeiro	
crescimento	
mental	e	espiritual	
ocorre	quando	é	
autoiniciado.
As	crenças	
educacionais	dos	
idealistas	incluem	
uma	ênfase	no	
estudo	de	ideias	
ou	grandes	obras	
que	persistem	ao	
longo	do	tempo.	
Eles	também	
enfatizam	a	
importância	
de	grandes	
líderes	para	nós	
imitarmos.	Para	
os	idealistas,	o	
professor	é	um	
modelo	para	o	
aluno.
Os	idealistas	
enfatizam	
os	métodos	
de	leitura,	
discussão	e	
imitação.	Eles	
acreditam	
que	pensar	
com	clareza	
e	precisão	é	
fundamental	
para	descobrir	
as	grandes	
ideias	que	
explicam	o	
universo.	Há	
uma	ênfase	em	
questões	que	
despertam	o	
pensamento.
·	Platão
·	Sócrates
·	Immanuel	
Kant
·	Jane	Roland	
Martin
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
97
REALISMO
(Séc.	IV	a.C.	XVII	e	
XIX)
Sustenta	que	
a	realidade,	o	
conhecimento	e	
o	valor	existem	
independentemente	
da	mente	humana.	
O	realismo	contrasta	
com	o	idealismo.	
Realistas	endossam	
o	uso	dos	sentidos	
e	a	investigaçãocientífica	(razão)	
para	encontrar	a	
verdade	no	mundo	
físico.
Realistas	
reconhecem	
leis	universais.	
Enfatizam	a	
investigação	e	o	
desenvolvimento	
científico.	O	
currículo	realista	
irá	utilizar	testes	
padronizados,	
livros-textos	e	
currículo	em	que	
as	disciplinas	são	
áreas	separadas	de	
investigação.
Os	realistas	
acreditam	que	
o	objetivo	final	
da	educação	
é	o	avanço	
do	raciocínio	
humano.	O	
currículo	
seria	centrado	
no	sujeito	e	
encorajaria	o	
aprendizado	
através	da	
observação	e	
experimentação.	
Os	professores	
teriam	
conhecimento	
extenso	sobre	um	
assunto.
Importância	
é	colocada	
sobre	o	papel	
do	professor.	
O	professor	
apresenta	
conteúdo	
de	forma	
sistemática	e	
organizada.	
Os	professores	
realistas	
enfatizam	a	
importância	
das	técnicas	
experimentais	e	
observacionais.	
Os	realistas	
sustentam	testes	
cuidadosos	do	
conhecimento	
dos	alunos.
·	Aristóteles
·	John	Locke
·	Alfred	North	
Whitehead
PRAGMATISMO
(Séc.	XIX,	XX,	XXI)
Desenvolvido	nos	
Estados	Unidos	
no	final	de	1900.	
O	pragmatismo	
enfatiza	a	evolução	
e	a	mudança	ao	
invés	do	ser,	a	
crença	em	um	
universo	aberto	
que	é	dinâmico,	
em	evolução	e	em	
estado	de	tornar-se.
Os	pragmatistas	
acreditam	que	
aprendemos	
melhor	através	da	
experiência,	mas	
que	a	experiência	
muda	tanto	o	
aluno	como	
o	mundo.	O	
professor	ajuda	os	
alunos	a	aprender	
a	questionar	o	
que	é	e	a	resolver	
problemas	
como	ocorrem	
naturalmente.	
A	abordagem	é	
interdisciplinar	e	
reúne	disciplinas	
curriculares	
para	resolver	
problemas.
Os	pragmatistas	
favorecem	a	
resolução	de	
problemas	através	
da	interação	com	
o	ambiente	de	
forma	inteligente	
e	reflexiva.	
Ensinar	os	alunos	
a	usar	métodos	
de	investigação	
científica	é	uma	
alta	prioridade.
Os	pragmatistas	
enfatizam	a	
aplicação	de	
ideias	de	uso	do	
conhecimento	
como	
instrumentos	
para	a	resolução	
de	problemas	
(epistemologia).	
Os	pragmatistas	
veem	a	escola	
como	uma	
comunidade	
de	aprendizes.	
Como	o	
processo	de	
resolução	de	
problemas	é	
mais	importante	
do	que	ensinar	
assuntos	
específicos,	
o	uso	de	
problemas	
centrados	no	
aluno	como	um	
foco	de	ensino	é	
preferido.
·	Charles	
Sanders	Peirce
·	William	
James
·	John	Dewey
·	Richard	
Rorty
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
98
EXISTENCIALISMO
(Séc.	XIX,	XX	e	XXI)
Centra-se	na	
importância	do	
indivíduo	em	vez	
de	nos	padrões	
externos.	A	
realidade	nada	mais	
é	do	que	a	existência	
vivida.	Não	há	
nada	absoluto,	nem	
mesmo	a	mudança.	
Não	há	princípio	ou	
significado	último.
A	filosofia	
existencialista	
sustenta	a	
importância	de	
os	seres	humanos	
desenvolverem	
suas	identidades	
pessoais	e	
determinarem	
o	que	é	e	não	
é	significativo	
e	digno.	Os	
existencialistas	
acreditam	que	a	
maioria	das	escolas	
são	como	símbolos	
corporativos	que	
transformam	
os	indivíduos	
em	objetos	a	
serem	medidos,	
quantificados	e	
processados.
Os	existencialistas	
acreditam	que	a	
educação	deve	
ser	um	processo	
centrado	nos	
estudantes	
se	tornarem	
autoatualizados.	
A	discussão	é	
encorajada,	uma	
vez	que	todos	
estamos	na	
mesma	situação	
sem	sentido,	para	
que	possamos	
aprender	com	as	
preocupações,	
perguntas	e	
escolhas	dos	
outros.
O	estudante	
existencialista	
teria	uma	
atitude	
questionadora	
e	estaria	
envolvido	em	
uma	busca	
contínua	pelo	
eu	e	pelas	
razões	da	
existência.	
O	professor	
existencialista	
iria	oferecer	
projetos	que	
incentivam	
os	alunos	a	se	
tornarem	o	que	
eles	próprios	
querem	se	
tornar.	O	valor	
chave	é	que	os	
seres	humanos	
são	livres	para	
fazer	escolhas	
(Axiologia).
·	 Jean-
Paul	Sartre
· 
Friedrich	
Nietzsche
· 
Maxine	
Greene
99
RESUMO DO TÓPICO 1
Ao longo do Tópico 1, você estudou que:
•	 O	renascimento	consistiu	na	retomada	dos	valores	e	padrões	estéticos,	filosóficos	
e	 culturais	da	 antiguidade	 clássica	 greco-romana,	 que	por	 sua	vez	 colocavam	o	
homem	no	centro	das	preocupações.
•	 Entre	 os	 antecedentes	 que	 propiciaram	 as	 mudanças	 nos	 fundamentos	 do	
pensamento	 pedagógico	 ocorridas	 na	 época	 renascentista	 e	 moderna	 estão	 as	
invenções	técnicas	da	prensa	e	da	era	das	grandes	navegações.
•	 A	invenção	da	imprensa	por	Guttenberg	impactou	a	cultura	letrada,	facilitando	o	
acesso	a	livros	e	proporcionando	melhorias	nos	campos	educacionais,	assim	como	a	
leitura	individualizada	e	não	mais	intermediada	e	guiada	por	uma	terceira	pessoa.		
•	 As	grandes	navegações	possibilitaram	o	 contato	 com	regiões,	matérias-primas	e	
culturas	que	até	então	não	haviam	sido	exploradas	e	colonizadas.
•	 A	Reforma	Protestante	estimulou	a	alfabetização	da	população	europeia,	bem	como	
a	 tradução	de	documentos	nas	 línguas	 regionais	 e	 que	 até	 então	 somente	 eram	
conhecidos	nas	línguas	latinas	e	gregas.
•	 Os	principais	nomes	da	Reforma	Protestante	foram	Martinho	Lutero	e	João	Calvino.
•	 A	 Contrarreforma,	 que	 foi	 empreendida	 pela	 Igreja	 Católica,	 prestigiou	 novas	
ordens	 religiosas	 ligadas	à	educação,	 como	a	Companhia	de	 Jesus,	a	Ordem	do	
Oratório	e	as	iniciativas	educacionais	de	Jean	Batista	de	La	Salle.
•	 Os	 intelectuais	 do	 século	 XVI	 pensavam	 a	 educação	 de	 um	 modo	 utópico,	
idealista;	já	os	intelectuais	do	século	XVII	pensavam	a	educação	de	modo	realista,	
demonstrando	uma	profunda	preocupação	metodológica.
•	 Entre	os	teóricos	do	realismo	pedagógico	estava	Comenius,	que	com	seus	estudos	
e	teorias	almejava	fornecer	um	método	universal	que	facilitaria	o	ensino	do	maior	
número	 de	 conteúdos	 e	 conhecimentos,	 transmitidos	 de	 forma	 sólida	 e	 que	
alcançaria	o	maior	número	de	pessoas	possível.
•	 John	Locke	defendeu	em	seus	estudos	que	o	homem	constitui	um	sujeito,	que	a	
natureza	 é	 fonte	 de	 conhecimento	 e	 que	 este	 deve	 ser	 adquirido	 por	 meio	 do	
empirismo	e	da	experiência.
•	 René	Descartes,	enquanto	cientista	e	estudioso,	propunha	que	um	método	deveria	
ser	 seguido	para	 obter	 a	 verdade	 na	 ciência,	 que,	 por	 sua	 vez,	 compreendia	 os	
passos	de	‘verificar’,	‘analisar’,	‘sintetizar’	e	‘enumerar’.
100
AUTOATIVIDADE
1-	De	que	maneira	é	possível	associar	a	Reforma	Protestante	e	o	processo	de	
alfabetização	em	massa	de	setores	da	população	europeia?	
2-	É	 correto	 afirmar	 que	 no	 contexto	 de	 transformações	 de	 mudança	 da	
sociedade	feudal	em	sociedade	moderna	se	deu	a	substituição	dos	discursos	
religiosos	pelos	científicos	e	racionais	em	meio	às	concepções	e	mentalidades	
e	 no	 imaginário	 da	 época;	 ao	 mesmo	 tempo,	 ocorreu	 o	 fenômeno	 de	
laicização	do	Estado.	Quais	foram	as	implicações	da	composição	de	Estado	
laico	na	formação	dos	governos?	Analise	as	sentenças	atribuindo	V	para	as	
verdadeiras	e	F	para	as	falsas:	
(			)	A	laicização	consistiu	na	separação,	emancipação	política,	institucional	e	
jurídica	entre	religião	(Igreja)	e	política	(Estado).
(				)	O	Estado	passou	a	atuar	de	forma	neutra,	como	um	juiz	de	fora,	o	que	por	
sua	vez	não	governa	nem	de	forma	favorável	nem	em	prejuízo	a	qualquer	
tradição	religiosa.	
(				)	A	laicização	possibilitou	a	livre	prática	religiosa	e	de	culto,	e	assim	a	prática	
da	religião	católica	deixava	de	ser	obrigatória	nos	espaços	escolares.
(				)	O	processo	de	laicização	do	Estado	consistiu	na	criação	de	feriados,	festas	
e	comemorações	a	partir	da	organização	religiosa	cristã.
	 Agora	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	correta:
a)	V	–	V	–	V	–	V.
b)	V	–	F–	V	–	V.
c)	V	–	V	–	F	–	V.
d)	V	–	V	–	V	–	F.
e)	F	–	V	–	V	–	V.
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resolução da questão 1
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 2
101
TÓPICO 2
A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO 
NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
A	 ideia	de	Estado	 sem	 religião	oficial	 se	 estruturou	 e	 legitimou	a	partir	
as	 revoluções	 liberais	 ocorridas	 ao	 longo	do	 século	XVIII.	 Burg,	 Fronza	 e	 Silva	
(2013)	 explicam	 que	 quando	 o	 fato	 de	 o	 Estado	 ser	 laico	 significa	 que	 Igreja	
não	 compõe	 mais	 o	 governo,	 outras	 esferas	 e	 instâncias	 da	 sociedadecomo	 a	
educação,	permaneceram	sob	o	controle	e	tutela	da	Igreja,	o	que	mudou	a	partir	
da	 época	 moderna	 é	 que	 a	 Igreja	 não	 possuía	 mais	 o	 monopólio	 hegemônico	
sobre	a	educação.	O	que	passa	acontecer	também	é	que	as	instituições	religiosas	
precisavam	 se	 adaptar	 às	 exigências	 e	 normas	do	governo,	 que	prescreviam	os	
conteúdos	mínimos	que	deveriam	ser	ministrados.	Isso	implicava	que	as	escolas	
mesmo	sendo	confessionais	deveriam	ministrar	os	conteúdos	de	caráter	científico,	
ou	seja,	escolas	religiosas	ensinar	sobre	a	Teoria	da	Evolução	das	Espécies	proposta	
por	Charles	Darwin.			
O	século	XVIII	foi	um	dos	principais	períodos	em	que	a	sociedade	humana	
viveu	transformações	profundas,	verdadeiramente	revolucionárias:	o	Iluminismo,	
uma	 revolução	 no	 campo	 das	 ideias;	 a	 Revolução	 Industrial,	 uma	 verdadeira	
transformação	no	campo	da	economia;	a	Revolução	Francesa,	uma	transformação	
no	campo	da	política;	e	a	Revolução	Americana,	que	simbolizou	uma	alteração	na	
relação	entre	os	países	do	mundo.	
A	sociedade	estamental	e	o	antigo	sistema	colonial	eram	os	dois	principais	
pilares	da	dominação	econômica	e	social.	Por	sua	vez,	a	ideia	de	um	direito	divino	
dos	reis	em	comandar	a	plebe,	e	os	resquícios	de	dominação	feudal,	com	a	maioria	
da	população	vivendo	nos	campos,	explicam	quão	revolucionários	foram	os	eventos	
que	estudaremos.	Pois	 teremos,	 com	a	Revolução	Francesa,	o	fim	da	Sociedade	
Estamental,	com	a	Revolução	Americana	o	fim	do	Antigo	Sistema	Colonial	e,	com	
o	Iluminismo,	o	fim	da	legitimação	divina	do	poder	real.			
2 A SUPERAÇÃO DO ANTIGO REGIME E DO SISTEMA 
COLONIAL E AS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO
Uma	 primeira	 importante	 revolução	 existiu	 no	 campo	 das	 ideias	 e	
a	 conhecemos	 por	 Iluminismo.	 Este	 influenciou	 a	 Revolução	 Francesa	 e	 a	
Independência	dos	Estados	Unidos	da	América.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
102
Uma	das	principais	revoluções	sociais	ocorreu	quando	os	Estados	Unidos	
da	América	 se	 tornaram	 uma	 nação	 independente	 da	 Inglaterra.	 Tal	 revolução	
é	explicada	pelo	fim	do	Antigo	Sistema	Colonial.	 Isto	é,	as	 colônias	americanas	
deveriam	 ser	 submissas	 às	 metrópoles,	 sendo	 elas	 fornecedoras	 de	 lucros	 aos	
europeus.	 Com	 o	 exemplo	 norte-americano,	 as	 antigas	 colônias	 espanholas	 e	
portuguesas	 também	 se	 tornaram	 independentes	 das	 suas	 metrópoles,	 o	 que	
ocasionou	 uma	 grande	 consequência	 para	 a	 história	 da	 educação.	 Pois,	 estes	
Estados	 Nacionais	 que	 surgiram	 na	América	 Latina	 tiveram	 de	 implantar	 um	
sistema	nacional	de	educação.	Pela	primeira	vez,	as	elites	políticas	ibero-americanas	
tiveram	de	se	responsabilizar	pela	instrução	de	sua	população.	
A	 Revolução	 Francesa	 teve	 incomensurável	 importância	 para	
compreendermos	as	 transformações	educacionais.	A	mesma	se	 iniciou	em	1789,	
quando	 da	 Queda	 da	 Bastilha,	 um	 símbolo	 do	 Antigo	 Regime	 Monárquico	 e	
termina	quando	Napoleão	Bonaparte	assume	o	poder	francês	e	expande	algumas	
das	ideias	revolucionárias	para	os	demais	países	europeus.	
FILME
Um filme interessante sobre a Revolução Francesa é Darton – o processor da revolução. 
Estrelado pelo principal ator francês de sua geração, Gerard Depardieu, trata-se de uma 
visão sobre a revolução tendo como protagonistas seus principais e opostos líderes: Darton 
e Robespierre.
Uma	das	principais	questões	da	Revolução	Francesa	que	alterou	a	forma	
de	organização	social	foi	o	fim	do	sistema	estamental	do	Antigo	Regime,	no	qual	a	
sociedade	era	dividida	em	três	estados.	O	primeiro,	composto	pelo	clero,	o	segundo,	
pela	nobreza	e	o	terceiro,	pelos	demais	membros	da	sociedade,	independente	da	
renda	que	possuíam.	Mesmo	que	alguém	fosse	rico,	teria	menos	direitos	políticos	
e	sociais	que	os	membros	dos	estamentos	superiores.	A	Revolução	Francesa	aboliu	
com	este	sistema	de	organização	social,	estabelecendo	um	processo	de	igualdade	
de	 todos	 os	 indivíduos	 perante	 a	 lei,	 o	 que	 ficou	 explicitado	 no	 Código	 Civil	
Napoleônico.	
O	 fato	 de	 todos	 os	 seres	 humanos	 serem	 considerados	 iguais	 foi	 uma	
revolução	 político-social	 de	 grande	 tamanho,	 com	 óbvios	 reflexos	 no	 campo	
educacional,	pois	todos	teriam	direito	de	ter	acesso	à	educação	formal,	não	apenas	
os	que	possuíssem	dinheiro	ou	fossem	membros	da	nobreza	e	clero.	Deste	modo,	
após	a	Revolução	Francesa	se	observa	a	construção	de	uma	sociedade	na	qual	o	
acesso	às	carreiras	de	Estado,	como	o	magistério,	a	justiça,	as	forças	armadas	e	a	
diplomacia,	é	 tido	através	de	méritos	educacionais,	simbolizados	nos	concursos	
públicos.	A	Revolução	observou	grande	 importância	à	educação.	Liderados	por	
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
103
Condorcet,	os	revolucionários	estabeleceram	comitês	de	educação	pública.	Após	a	
Revolução,	se	observou	o	aumento	da	oferta	de	educação	para	todos	os	cidadãos,	
tanto	na	França	quanto	nos	demais	países	do	mundo.							
Uma	 das	 revoluções	 já	 citadas	 foi	 a	 Revolução	 Industrial.	 Iniciada	 na	
Inglaterra	do	século	XVIII	e	originalmente	 ligada	à	 indústria	 têxtil,	 a	mesma	se	
expandiu	ao	longo	dos	séculos	XIX	e	XX	aos	demais	países	do	mundo,	açambarcando	
outras	áreas	da	produção	de	objetos	e	máquinas,	como	a	 indústria	metalúrgica,	
avançando	no	presente	momento	a	áreas	tecnológicas	de	extrema	complexidade,	
como	a	informática	e	a	nanotecnologia.	A	Revolução	Industrial	também	possuiu	
fortes	implicações	educacionais.	Isto	porque	ela	acabou	por	alterar	a	vida	cotidiana	
da	 maior	 parcela	 da	 população	 ocidental,	 pois,	 anteriormente,	 a	 mesma	 vivia	
majoritariamente	no	campo,	tendo	um	contato	direto	com	a	natureza.	Nestes	tipos	
de	comunidades	rurais,	a	aprendizagem	para	o	trabalho	era	mimética,	ocorrendo	
em	contato	com	os	pais	e	demais	parentes	que	ensinavam	às	crianças	as	lides	rurais.	
As	escolas,	em	geral	ligadas	às	paróquias	das	igrejas,	tinham	como	principal	função	
ensinar	a	ler	e	escrever,	além	de	instruir	as	quatro	operações	matemáticas	básicas.
 
A	 Revolução	 Industrial	 modificou	 a	 estrutura	 educacional	 do	 ocidente,	
desde	a	pré-escola	até	o	ensino	de	pós-graduação.	Isto	porque,	antes	da	Revolução	
Industrial,	 a	 educação	 da	 elite	 era	 realizada	 por	 preceptores	 (professores	
particulares)	 em	 seu	 nível	 elementar,	 e	 nas	 universidades,	 ao	 longo	 do	 ensino	
superior.	 Porém,	 a	 educação	 das	 elites	 foi	 profundamente	 alterada,	 com	 a	
popularização	de	escolas	elementares	e	colégios	secundaristas.	Ao	mesmo	tempo,	
a	educação	das	massas	também	foi	alterada,	com	a	criação	de	institutos	de	ensino	
técnico,	que	visava	à	formação	de	mão	de	obra	para	as	 indústrias.	A	Revolução	
Industrial	 também	 criou	 empregos	 de	 classes	 médias	 ligados	 diretamente	 às	
fábricas,	como	técnicos	industriais	e	engenheiros	mecânicos.		
Como	podemos	observar,	as	denominadas	revoluções	atlânticas	foram	as	
principais	propulsoras	da	alteração	da	relação	do	Estado	Nacional	com	a	educação,	
pois,	tiveram	o	impacto	de	forçar	aos	países	ofertar	educação	para	todos	os	cidadãos,	
independente	do	credo	religioso,	posição	social	ou	situação	econômica.			
3 OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS E O PENSAMENTO DOS 
EDUCADORES LEIGOS 
Com	a	implantação	do	Estado	moderno	se	instaurou	todo	um	contexto	de	
políticas	de	 fomento	 	à	popularização	da	arte	e	da	cultura,	que	estas	 fossem	de	
fácil	 assimilação,	 circulação	 e	 consumo,	 bem	 como	democratizar	 os	 espaços	 de	
arte	e	cultura,	museus,	galerias,	exposições,	no	sentido	de	aproximar	o	público	dos	
artistas,	os	produtores	dos	consumidores,	ou	oportunizar	que	a	arte	e	a	cultura	
fossem	de	acesso	ao	maior	número	possível	de	indivíduos.	Durante	o	século	XVII,	
coleções	 de	 curiosidade,	 difundidas	 por	 toda	 a	 Europa,	 receberam	 espaços	 em	
museus,	gabinetes	ou	câmaras	de	curiosidades.	Nesses	locais,	que	não	pertenciam	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONALMODERNO E CONTEMPORÂNEO
104
mais	somente	à	nobreza,	encontravam-se	quadros,	esculturas,	livros,	instrumentos	
científicos,	 objetos	 vindos	 de	 terras	 que	 estavam	 sendo	 exploradas,	 peças	 do	
mundo	natural,	curiosidades	em	geral.
Um	 dos	 principais	 sinais	 do	 processo	 de	 laicidade	 da	 formação	 dos	
sistemas	educacionais	das	diferentes	nacionalidades	foi	a	exclusão	de	intelectuais	
ligados	 diretamente	 a	 igrejas	 cristãs.	 Como	 afirmamos,	 temos	 a	 presença	 de	
intelectuais	 leigos,	 isto	 é,	 não	 sacerdotes,	 porém,	 muitos	 dos	 pensadores	 da	
educação	nos	séculos	XIX	e	XX	eram	pessoas	que	tinham	fé	cristã.	O	fato	de	não	
serem	 sacerdotes	 possibilitou	 a	 eles	 uma	maior	 liberdade,	 por	 poderem	 inovar	
em	 matéria	 educacional	 sem	 o	 perigo	 de	 sofrerem	 punições	 pelas	 hierarquias	
eclesiásticas	das	igrejas	que	professavam	suas	crenças.	
O	 princípio	 de	 uma	 divisão	 entre	 a	 Igreja	 e	 o	 Estado	 foi	 uma	 ampla	
tendência	no	século	XIX,	pois	a	religião,	que	no	Antigo	Regime	deveria	ser	expressa	
publicamente	pelos	indivíduos,	em	rituais	nos	quais	o	poder	político	era	legitimado	
pelos	clérigos,	deixou	de	ser	uma	obrigação	social.	Por	sua	vez,	a	educação,	que	era	
algo	reservado	à	esfera	privada	e	que	não	era	considerada	uma	obrigação,	passou	
a	ser	uma	das	preocupações	dos	dirigentes	sociais.	
O	 amplo	 desenvolvimento	 das	 distintas	 ciências	 durante	 os	 novecentos	
possibilitou	 uma	 nova	 forma	 de	 pensar	 o	 ser	 humano	 e	 suas	 relações	 sociais.	
O	 evolucionismo,	 o	 socialismo,	 além	 do	 desenvolvimento	 da	 sociologia	 e	 da	
psicologia	 enquanto	 ciências,	 possibilitaram	 aos	 homens	 uma	 nova	 forma	 de	
pensar	a	realidade,	uma	nova	sensibilidade	em	relação	à	infância	e	a	possibilidade	
do	 desenvolvimento	 de	 uma	 ciência	 voltada	 ao	 progresso	 educacional	 dos	
indivíduos,	materializada	em	escolas	que	seguiam	novos	conceitos	educacionais.		
 
Podemos	compreender	o	surgimento	de	intelectuais	que	trabalharam	com	
temas	educacionais	como	um	indício	da	emergência	histórica	do	laicismo,	de	uma	
separação	radical	entre	as	questões	da	fé	e	as	questões	da	política.	Os	intelectuais	
a	seguir	citados	não	são	gênios	isolados,	mas	professores	que	souberam	adequar	a	
tarefa	educacional	aos	desafios	de	suas	épocas.		
Ao	 longo	 dos	 séculos	 XIX	 e	 XX,	muitos	 intelectuais	 refletiram	 sobre	 as	
transformações	 que	 a	 sociedade	 estava	 passando.	 Alguns	 destes	 pensadores	
refletiram,	 sobre	 a	 importância	 da	 educação	 se	 adequar	 à	 nova	 sociedade	
que	 estava	 sendo	 formada	 após	 as	 grandes	 transformações	 simbolizadas	 pela	
Revolução	 Industrial	 e	 Francesa.	Dentre	 os	 vários	 pensadores,	 neste	momento,	
iremos	 destacar	 três	 que	 tiveram	maior	 relevância	 nos	 últimos	 duzentos	 anos:	
Froebel,	Pestalozzi	e	John	Dewey	(GADITTI,	s.d.).	
Froebel	 foi	 um	 dos	 importantes	 teóricos	 da	 educação	 moderna.	 As	
suas	 ideias	 tiveram	reflexos	até	o	presente	no	que	se	 concebe	 sobre	as	políticas	
educacionais	do	ocidente.	Froebel	partiu	do	princípio	que	todo	o	ser	humano	nos	
primeiros	 anos	 de	 vida	 é	 uma	 semente,	 que	 deve	 ser	 regada	 e	 fortificada	para	
poder	crescer	e	ser	um	bom	indivíduo.	Por	isso,	ele	foi	o	criador	dos	 jardins	de	
infância,	as	unidades	de	educação	infantil	no	qual	as	crianças	têm	a	possibilidade	
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
105
de	 serem	 socializadas	 protegidas	 pelos	 adultos,	 sem	 interferências	 do	 mundo	
externo,	que	poderiam	ser	a	elas	uma	má	influência.	Assim,	o	jardim	de	infância	
é	uma	das	principais	 ferramentas	para	a	 construção	de	um	 futuro	melhor	para	
toda	a	sociedade,	ao	proteger	as	crianças	das	influências	maléficas	e	possibilitar	a	
formação	de	pessoas	com	melhor	saúde,	caráter	e	inteligência.	
Outro	 importante	 intelectual	 da	 educação	 do	 século	 XIX	 foi	 Pestalozzi,	
educador	 suíço	 de	 grande	 destaque	 entre	 os	 intelectuais	 da	 educação.	 Uma	
importância	da	revolução	que	Pestalozzi	produziu	na	história	da	pedagogia	foi	sua	
insistência	em	afirmar	que	mais	importante	que	a	acumulação	de	conhecimentos,	a	
educação	deve	ser	capaz	de	formar	indivíduos	de	forte	caráter.	(ARANHA;	1996)	
O	que	hoje	é	um	dado	comum,	porém,	isto	significou	uma	verdadeira	revolução	
em	sua	época.	
 FIGURA 22 - FROEBEL PESTALOZZI 
JOHN DEWEY
FONTE: Disponível em: <http://c250.columbia.edu/c250_celebrates/
remarkable_columbians/john_dewey.html>. Acesso em: 13 fev. 2017.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
106
No	Século	XX,	 tivemos	vários	 intelectuais	de	destaque	que	pensaram	as	
questões	 educacionais.	 O	 destaque	 maior	 cabe	 ao	 estadunidense	 John	 Dewey.	
Este	intelectual	foi	o	formulador	do	denominado	escolanovismo.	Este	movimento	
educacional	 tinha	 como	uma	das	principais	 bandeiras	 o	 ensino	 integral.	 Isto	 é,	
em	um	momento	da	história	humana	na	qual	os	pais	e	as	mães	faziam	parte	do	
mercado	de	trabalho,	as	crianças	poderiam	ficar	o	dia	inteiro	em	escolas	nas	quais,	
além	 da	 educação	 formal,	 receberiam	 atenção	 de	 educadores	 que	 forneceriam	
alimentação,	práticas	esportivas	e	o	contato	com	a	tecnologia	desenvolvida	pelos	
homens.		
O	escolanovismo	teve	uma	preocupação	justa	com	a	qualidade	da	educação	
e	sua	popularização,	mas	também	em	utilizar	dos	inventos	do	século	XX	nas	escolas,	
como	o	gramofone,	o	cinema	e	as	projeções	eletrônicas	de	imagens,	como	os	slides.	
Isto	é,	ao	invés	de	se	ter	a	tecnologia	como	uma	inimiga	das	tarefas	pedagógicas	
cotidianas,	os	escolanovistas	tiveram	a	percepção	que	estes	inventos	poderiam	ser	
utilizados	como	aliados	no	ato	de	ensinar	às	novas	gerações	o	conhecimento.	
John	Dewey	também	se	destacou	como	importante	filósofo,	ao	propor	uma	
nova	forma	de	pensar	a	realidade,	o	denominado	pragmatismo.	Para	os	filósofos	
que	seguem	tal	perspectiva	de	análise,	as	ideias	deveriam	ter	sua	relevância	medida	
por	 sua	 possível	 utilização	 prática.	Na	 atualidade,	 Richard	 Rorty	 é	 o	 principal	
seguidor	no	campo	da	filosofia	das	teorias	pragmáticas.				
4 O EXEMPLO DE HEGEL
Georg	W.	 Friedrich	 Hegel	 (1770-1831),	 filósofo	 alemão,	 foi	 influenciado	
pelas	 obras	 de	Heráclito	 (353	 a.C	 -	 475	 a.C),	 Espinoza	 (1632-1677),	 Kant	 (1724-
1804)	e	Rousseau	 (1712-1778),	assim	como	pela	Revolução	Francesa	e	Napoleão	
Bonaparte.	Dedicou-se	 aos	 estudos	do	 Idealismo	Absoluto,	 procurou	 investigar	
a	 relação	 entre	mente	 e	natureza,	 sujeito	 e	 objeto	do	 conhecimento.	Para	 tanto,	
empreendeu	estudos	em	história,	arte,	religião	e	filosofia.	
Com	a	obra	“Fenomenologia do espírito”,	pretendeu	mostrar	que	a	ideia	não	
é	seguir	o	acumular	do	desenvolvimento	histórico	da	humanidade	na	dimensão	
do	 tempo,	 mas	 de	 colher	 os	 momentos	 estratégicos,	 de	 vicissitudes	 e	 ideais	
que	 são	 responsáveis	 por	 conferir	 desenvolvimento	 ao	 espírito.	 Para	 Hegel,	 o	
desenvolvimento	da	realidade	passa	por	três	momentos	fundamentais:	o	da	ideia,	
o	da	natureza	e	o	do	espírito.
O	espírito	é	o	absoluto,	o	complemento	de	todas	as	coisas,	o	ponto	extremo	
de	síntese	para	a	qual	tende	toda	filosofia,	ciência,	religião	e	cultura.	O	espírito	não	
é	transcendente	em	relação	ao	mundo,	mas	constitui	seu	complemento	interno	e	
sua	essência	que	é	a	liberdade.	Para	Hegel,	o	espírito	subjetivo	e	o	espírito	objetivo	
são	a	via	pela	qual	se	vai	elaborando	o	espírito	absoluto,	cujas	formas	são	a	arte,	a	
religião	e	a	filosofia.	
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
107
Hegel	apresenta	também	a	unidade	dos	opostos,	como	princípio	fundador	
de	uma	nova	lógica,	no	sentido	de	que	esta	é	imanente,	de	modo	que	aquilo	que	
é	real	deve	ser	caracterizado	pela	unidade	dos	opostos.	Para	Hegel,	o	homem	se	
apresenta	como	um	animal	que	não	tem	uma	natureza	determinada,	mas	que	se	
forma	incessantemente.	Seguindoeste	raciocínio,	a	história	do	passado	não	é	capaz	
de	ensinar	alguma	coisa	de	útil	ao	momento	presente,	o	que	coloca	Hegel	distante	
da	doutrina	“Historia magistra vitae”,	que	foi	proposta	desde	os	historiadores	da	
época	antiga,	como	Heródoto,	Tucídides	e	Cícero.
A	história	apresenta	uma	racionalidade	própria,	mas	não	deve	apresentar	
uma	tendência	na	direção	de	um	telos	(fim,	alvo)	específico.	Para	Hegel,	os	‘meios’	
são	mais	 importantes	 que	 os	 ‘fins’;	 ou	 seja,	 o	 navio,	 o	 automóvel	 e	 o	 trem	 são	
mais	importantes	do	que	alcançar	e	chegar	do	outro	lado	do	oceano,	na	cidade,	e	
qualquer	destino	traçado.	Uma	vez	que	se	conta	com	tais	recursos,	pode-se	trilhar	
novos	caminhos,	percorrer	outras	distâncias,	chegar	a	diferentes	lugares.
A	 grande	 tese	 de	 Hegel	 reside	 na	 defesa	 de	 que	 o	 finalismo	 “ad usum 
hominis”	(para	uso	humano)	não	existe	na	natureza	e,	que	quando	existe	na	história,	
não	é	por	virtude	da	Divina	Providência,	mas	unicamente	pelos	feitos	das	ações	
humanas.	E	o	 fato	de	propor	a	 relação	de	prioridade	dos	meios	diante	dos	fins	
distanciava-se	do	pensamento	que	havia	 sido	proposto	desde	Maquiavel	 (1469-
1527),	Voltaire	(1694-1778)	até	Herder	(1744-1803).
Para	Hegel,	a	racionalidade	está	por	trás	de	tudo	no	mundo	e	a	filosofia	
tem	 o	 poder	 de	 compreender	 a	 racionalidade	 da	 história.	O	 pensamento	 capta	
a	 racionalidade,	mas	substitui	a	noção	de	progresso	 linear	por	uma	filosofia	da	
contradição,	da	dialética.	O	percurso	dialético	que	resulta	disso	pressupõe	uma	
visão	unitária	e	uma	síntese	do	espírito	por	meio	de	suas	múltiplas	concretizações.
5 O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DE 
DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E DISCIPLINAS 
AUXILIARES
A	 partir	 da	 época	 moderna,	 a	 ciência	 alcançou	 uma	 autonomia	 e	
emancipação	 nunca	 observadas	 em	 outros	 tempos	 históricos.	 As	 revelações,	
verdades	e	metáforas	religiosas,	ou	de	senso	comum	ou	mitologias	e	folclores	que	
desfrutavam	de	prestígio	e	autoridade	no	 interior	das	sociedades,	passam	a	ser	
abordadas	 a	partir	do	princípio	da	dúvida,	do	questionamento	 e	das	hipóteses	
formuladas	no	campo	da	ciência	e	da	racionalidade.
O	 percurso	 metodológico	 foi	 instaurado	 como	 o	 único	 procedimento	
básico	para	alcançar	a	verdade,	ou	seja,	o	caminho	do	laboratório,	da	observação,	
da	análise,	da	descrição,	da	dedução,	da	comparação,	da	interpretação,	da	síntese,	
da	antítese	e	da	tese	seria	o	garantidor	da	veracidade	dos	novos	conhecimentos	
que	estavam	sendo	produzidos.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
108
Os	 testes,	 os	 experimentos,	 tratamentos	 e	 medicamentos	 preventivos,	
simulações,	 supervisionamentos,	monitoramento,	 o	 isolamento	 e	 o	 controle	 em	
laboratório,	as	cirurgias,	as	amputações,	as	incisões,	as	transfusões,	as	combinações,	
os	enxertos,	os	hibridismos,	a	criação	de	ambientes	artificiais,	as	induções,	o	uso	
de	paliativos,	 isto	 tudo	foi	possível	a	partir	da	ciência	moderna	e	possibilitou	a	
verificação	específica,	profunda	e	restrita	tanto	de	objetos,	fatos	e	fenômenos.
 
Como	resultado	deste	cenário,	obtiveram-se	as	descobertas	e	as	invenções	
do	 termômetro	 clínico,	 lentes	de	A.	Fresnel	 (1788-1827),	 a	 anestesia,	 a	 teoria	da	
evolução	 das	 espécies	 de	 Charles	 Darwin	 (1808-1882),	 teoria	 microbiana	 de	 L.	
Pasteur	(1822-1895)	e	P.	V.	Gautier	(1846-1908),	teoria	atômica	de	J.	Dalton	(1766-
1844),	e	a	teoria	psicanalítica	de	Sigmund	Freud	(1856-1939).
As	 interpretações	 estatísticas	 e	 demográficas	 foram	 responsáveis	 por	
servir	de	base	de	dados	e	desencadear	ações	e	práticas	aos	estados	em	termos	de	
saneamento	básico,	como	oferecer	água	encanada,	canalização	de	esgotos,	controle	
de	epidemias	e	doenças,	construção	de	hospitais,	laboratórios,	escolas,	orfanatos,	
asilos,	cemitérios,	entre	outros.
O	desenvolvimento	de	ciências	auxiliares	para	a	educação	foi	um	dos	sinais	
que	ganhou	importância	e	prestígio	social,	em	especial	no	final	do	século	XIX	e	
na	 primeira	metade	 do	 século	 XX.	Duas	 delas	 são	 de	 importância	 incalculável	
para	o	desenvolvimento	de	melhores	formas	de	educar	os	jovens:	a	sociologia	e	a	
psicologia	da	educação.
 
O	termo	“ciências	auxiliares”,	por	vezes,	é	criticado,	pois	alguns	autores	
observam	que	existe	uma	multiplicidade	de	temas	educacionais	e	que	somente	uma	
abordagem	interdisciplinar	poderia	realmente	ser	capaz	de	vencer	os	diferentes	
desafios	da	educação	na	contemporaneidade.	Todavia,	o	que	se	pretende	ao	ainda	
utilizarmos	o	conceito	“ciências	auxiliares”,	é	observar	a	importância	da	educação	
como	forma	de	estudo	para	diferentes	áreas	das	ciências	humanas	e	sociais.			
5.1 SOCIOLOGIA: A CIÊNCIA DA SOCIEDADE
O	surgimento	da	sociologia	enquanto	ciência	ocorreu	no	século	XIX.	Augusto	
Comte,	formulador	da	filosofia	positivista,	foi	o	autor	da	ideia	de	uma	nova	ciência	
de	estudar	a	sociedade,	o	“sócio-logos”,	que	em	sua	origem	etimológica	define	sua	
função,	pois	logos,	no	grego,	quer	dizer	justamente	conhecimento,	estudo	ou	ciência	
sobre	algum	tema.	Todavia,	os	estudiosos	reconhecem	três	grandes	fundadores	da	
sua	especialidade:	Karl	Marx,	Max	Weber	e	Émile	Durkheim.
 
Augusto	Comte	(1798-1857)	foi	politécnico	organizador,	bem	como	hostil	ao	
pensamento	socialista/marxista	e	de	quem	fosse	inimigo	da	propriedade	privada.	
Possuía	 como	 objetivo	 fundar	 uma	 ciência	 social,	 que	 deveria	 ser	 chamada	 de	
física	social	ou	sociologia.	No	pensamento	de	Comte,	somente	com	a	síntese	das	
ciências	e	com	a	criação	de	uma	política	positiva	se	daria	conta	de	analisar	conflitos	
e	as	contradições	sociais	e	propor	reformas	e	soluções.
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
109
O	principal	ponto	de	partida	residia	no	próprio	século	XIX,	que	almejava	
superar	 a	 tradição	 teológica	 e	 favorecer	 a	 transição	 a	 uma	 sociedade	 científica	
e	 industrial.	Os	principais	 temas	que	 interessaram	a	Comte	foram	a	filosofia	da	
História,	 a	 classificação	 das	 ciências	 e	 física	 social	 ou	 sociológica.	 Para	 tanto,	
escreveu	 as	 obras	Curso de filosofia positiva	 –	 seis	 volumes	 (1830-1842),	Discurso 
preliminar sobre o espírito positivo	(1844)	e	Sistema de política positiva	–	quatro	volumes	
(1851-1854).
Comte	defendeu	a	lei	dos	três	estados	os	quais	o	espírito	humano	percorre	
em	 seus	 estágios	 de	 desenvolvimento:	 estado	 teológico	 ou	 fictício	 (fenômenos	
sobrenaturais);	estado	metafísico	ou	abstrato	(fenômenos	da	natureza);	e	o	estado	
científico	 ou	 positivo	 (fatos	 e	 leis	 que	 determinavam	 a	 realidade):	 maneira	 de	
pensar	positiva.	Vamos	 analisar	 com	mais	detalhes	 como	 funcionava	 a	filosofia	
histórica	das	‘leis	dos	três	estados’	que	Comte	formulou	e	procurou	explicar.
O	conhecimento	positivo	se	caracterizou	pela	previsibilidade;	o	“ver	para	
prever”	que	funcionou	como	lema	da	ciência	positiva.	A	previsibilidade	científica	
permitiria	o	desenvolvimento	da	técnica	e,	assim,	o	Estado	corresponderia	ao	pleno	
desenvolvimento	industrial,	no	sentido	de	exploração	da	matéria-prima	(recursos	
naturais)	e	do	trabalho	do	homem.	Neste	estado,	Comte	determinou	que	o	poder	
do	conhecimento	passaria	para	os	sábios	e	cientistas	e	o	poder	material	para	as	
indústrias	 e	 os	 industriais,	 configurando	 assim	 o	 desenvolvimento	 científico	 e	
tecnológico.
No	 pensamento	 positivista	 de	 Comte,	 a	 civilização	material	 só	 poderia	
se	 desenvolver	 se	 cada	 geração	 produzisse	mais	 do	 que	 o	 necessário	 para	 sua	
sobrevivência,	transmitindo	assim	à	geração	seguinte	um	estoque	de	riqueza	maior	
do	que	o	recebido	da	geração	anterior.
Comte	foi	um	organizador	que	desejava	manter	a	propriedade	privada	e	
transformar	seu	sentido,	para	que,	embora	exercida	por	alguns	indivíduos,	tivesse	
também	uma	função	social	(catolicismo	social).
Para	Comte,	as	ciências	 libertavam	o	espírito	humano	da	 tutela	exercida	
sobre	ele	pela	teologia	e	pela	metafísica,	e	que	a	partir	de	então	tendia	a	se	prolongarindefinidamente.	Consideradas	no	presente,	elas	deveriam	servir,	seja	pelos	seus	
métodos,	 seja	 por	 seus	 resultados	 gerais,	 para	 determinar	 a	 reorganização	 das	
teorias	sociais.	Consideradas	no	futuro,	constituiriam	a	base	espiritual	permanente	
da	ordem	social,	enquanto	durar	a	atividade	da	nossa	espécie	no	planeta.
Karl	Marx	 (1818-1883)	 foi	 um	 dos	mais	 influentes	 pensadores	 surgidos	
no	século	XIX,	a	ponto	de	surgir	um	Estado	nacional,	a	União	Soviética,	que	foi	
desenvolvida	 em	 torno	de	 suas	 ideias.	A	principal	 obra	de	Marx	 foi	 o	 livro	 "O 
capital",	no	qual	demonstrou	o	desenvolvimento	da	economia	capitalista.	Outro	
livro	importante	foi	o	"Manifesto do Partido Comunista",	no	qual	revelou	seu	ideal	
de	sociedade,	no	qual	as	diferenças	entre	as	classes	sociais	não	mais	iriam	existir.
 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
110
O	marxismo	inspirou	grandes	pedagogos	em	diversos	lugares	no	mundo.	
No	 caso	 específico	 do	 Brasil,	 podemos	 citar	 os	 nomes	 de	 Paulo	 Freire	 e	Darcy	
Ribeiro,	como	profissionais	da	educação	influenciados	pelo	ideal	do	denominado	
materialismo	 dialético.	A	 principal	 ideia	 de	Marx	 é	 que	 a	 história	 humana	 se	
transforma	 através	da	 luta	de	 classes.	No	 tocante	 à	 educação,	 a	 ideia	de	 que	 a	
educação	escolar	nos	países	capitalistas	está	a	serviço	do	poder	político-econômico	
foi	a	grande	denúncia	marxista	em	relação	à	área	educacional	(GADOTTI,	s.d).	
O	centro	do	pensamento	de	Karl	Marx	reside	em	compreender	e	denunciar	
as	contradições	do	regime	capitalista.	As	principais	influências	teóricas	de	Marx	
são	as	do	idealismo	alemão	de	Hegel	e	seus	seguidores,	os	estudos	de	economia	
política	inglesa	feitos	por	Adam	Smith	(1723-1790),	Jean-Baptiste	Say	(1767-1832)	
e	David	Ricardo	(1772-1823),	o	socialismo	utópico	francês	representado	por	Saint	
Simon	(1760-1825),	Jean-Baptiste	Fourier	(1768-1823)	e	Robert	Owen	(1771-1858).
Quando	Marx	 entra	 na	 universidade,	 o	 universo	 acadêmico	 e	 científico	
da	época	era	dominando	pelas	 ideias	de	Hegel.	Foi	da	 tese	de	Hegel	de	que	“a	
consciência	é	que	determina	a	existência”,	que	Marx	retirou	a	sua	principal	chave	
de	entendimento	e	explicação	do	seu	momento	histórico,	mas	agora,	com	Marx,	na	
perspectiva	inversa,	a	de	que	é	“a	existência	que	determina	a	consciência”.
Para	Hegel,	a	racionalidade	está	por	trás	de	tudo	no	mundo	e	a	filosofia	tem	
o	poder	de	compreender	a	racionalidade	da	história,	ou	seja,	o	pensamento	capta	a	
racionalidade	da	história.	Para	Marx,	Hegel	e	todos	os	filósofos	estavam	alienados	
e	poderiam	ser	chamados	de	a-históricos,	e,	segundo	suas	teses,	as	características	
da	 história	 seriam	 sempre	 as	mesmas	 em	 todas	 as	 épocas,	 a	 natureza	 humana	
era	 somente	 crítica;	 procuravam	mudar,	 transformar	 o	mundo	 com	filosofias	 e	
teorias.	Marx,	em	contrapartida,	defendia	que	o	mundo	não	se	 transforma	com	
o	 pensamento,	 com	 críticas,	 o	 mundo	 se	 transforma	 pela	 ação	 politicamente	
orientada,	que	ele	preferiu	chamar	de	práxis,	e	que	se	faziam	necessárias	tanto	a	
explosão	como	a	revolução	das	antigas	estruturas.	
Marx,	 ao	 longo	 da	 vida	 intelectual	 e	 financeira,	 contou	 com	 a	 ajuda	 de	
Friedrich	Engels	(1820-1895).	No	livro	"A ideologia alemã",	de	1846,	ambos	abordam	
as	bases	do	materialismo	histórico	e	procuram,	ao	longo	da	obra,	defender	que	o	
homem	é	fruto	do	seu	trabalho	e	das	relações	de	produção,	e	não	da	vida	espiritual	
e	intelectual	que	leva.	Para	Marx,	o	trabalho	é	o	que	diferencia	e	distingue	os	seres	
humanos	de	outras	espécies.
A	concepção	de	História	defendida	por	Marx	e	Engels	residia	no	fato	de	
que	estão	na	vida	material,	no	modo	de	produção	e	na	estruturação	da	sociedade	
civil	as	chaves	de	entendimento	de	todo	o	processo	histórico,	e	que	ao	invés	de	
resultar	 em	 ‘emancipação	 e	 autonomia’	 do	 homem,	 como	 foi	 defendido	 pelos	
iluministas	e	idealistas,	o	que	ocorre	é	a	exploração	e	a	‘alienação’	dos	indivíduos.	
Com	a	defesa	destes	termos,	Marx	e	Engels	foram	responsáveis	por	tecer	as	críticas	
mais	 expressivas	 às	 teorizações	defendidas	 anteriormente	 tanto	por	Kant	 como	
por	Hegel.
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
111
SÍNTESE
De forma resumida, o paradigma marxista apresenta a seguinte perspectiva de história:
• a realidade social é mutável;
• a mudança está submetida a leis que se encaixam em outras leis históricas;
• as mudanças tendem a momentos de equilíbrio relativo.
Platão	(428-347	a.C)	e	Aristóteles	(384-322	a.C)	já	discutiam	a	noção	de	dialética,	
sob	 a	 nomenclatura	 de	 a	 ‘arte	 da	 conversação’,	 mas	 restringiam-se	 ao	 universo	
especulativo	 e	 idealista	 que	 trata	 do	 movimento	 universal	 e	 de	 transformação	
constante	das	coisas,	que	já	havia	sido	contemplado	nos	estudos	de	Hegel.
A	concepção	de	‘materialismo	dialético’	que	Marx	e	Engels	desenvolveram	
é	 oriunda	 dos	 estudos	 de	 Ludwig	 Feuerbach	 (1804-1872)	 presentes	 nas	 obras	
“Essência do cristianismo”	e	“Pensamentos sobre a filosofia do futuro”,	 escritos	entre	
1841-1843;	que,	somada	à	tradição	de	antagonismo	social	latente	desde	a	Revolução	
Francesa,	ao	contexto	de	industrialização,	da	formação	dos	movimentos	operários	
(cartismo	 e	 ludismo),	 forneceu	 a	 base	 de	 referências	 para	 que	 Marx	 e	 Engels	
desenvolvessem	a	questão	com	propriedade.	
Marx	e	Engels	aproveitam	os	elementos	 racionais	da	dialética	de	Hegel,	
negam	a	dimensão	idealista	e	a	adaptam	à	práxis	social,	reconhecem	a	vida	cotidiana	
e	o	modo	de	produção	 como	 responsáveis	pela	 transformação	da	 consciência	 e	
da	subjetividade	dos	indivíduos.	Os	fenômenos	materiais	e	mecanicistas	passam	
a	 ser	 entendidos	 como	 os	 verdadeiros	 responsáveis	 pelo	 desenvolvimento	 das	
atividades	 humanas;	 tendo	 em	 conta	 estes	 pressupostos,	 acabavam	por	 refutar	
tanto	a	tradição	idealista	como	a	tradição	moral	religiosa,	que	visavam	meramente	
observar	e	constatar	os	fenômenos	sociais.
	A	pauta	da	discussão	do	materialismo	dialético	 residiu	na	proposta	de	
que	 o	 método	 utilizado	 para	 compreender	 os	 fenômenos	 da	 natureza	 e	 gerar	
conhecimento	 deveria	 ser	 o	 dialético,	 e	 a	 interpretação,	 a	 base	 conceitual	 de	
verificação	deste	conhecimento,	de	natureza	materialista.	A	noção	central	residia	
no	fato	de	que	o	desenvolvimento	de	qualquer	atividade	humana	se	dava	a	partir	de	
contradições.	No	caso	dos	estudos	do	marxismo,	os	elementos	que	protagonizavam	
esta	contradição	foram	o	proletariado	e	o	capitalista/burguês.
Para	 ilustrar	 esta	 abordagem	 da	 realidade,	 Marx	 e	 Engels	 partiam	 do	
raciocínio	de	que	o	homem	tem	necessidade	de	comer	e	beber,	ou	seja,	de	sobreviver	
antes	de	filosofar	ou	expressar-se	artisticamente;	o	 restante	 (Estado,	 instituições	
civis,	religiões,	cultura...),	se	desenvolveria	no	prolongamento.	Primeiro	os	homens	
almejavam	satisfazer	suas	necessidades	básicas:	a	vida	material	determina	a	vida	
intelectual;	 o	 ser	 social	 determina	 a	 consciência	 social;	 o	material	 determina	 o	
espiritual	e	os	assuntos	sociais.
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
112
A	sociedade,	os	 fatos	 e	os	acontecimentos	 sociais	deveriam	ser	 tomados	
na	 sua	 totalidade;	 a	 economia	 entendida	 como	 a	 responsável	 por	 organizar	 as	
estruturas	 básicas	 da	 sociedade;	 a	 política	 e	 a	 cultura	 estabeleciam	 as	 formas	
históricas	 de	 gestão	 econômica.	 Em	 meio	 a	 este	 contexto	 de	 determinações,	 o	
materialismo	dialético	serviria	como	referência	 tanto	como	categoria	de	análise,	
como	de	orientação	teórica	à	ação	prática	da	política	revolucionária.
Outro	 intelectual	alemão	a	ser	considerado	cofundador	da	sociologia	 foi	
Max	Weber,	autor	de	dois	livros	basilares	no	tocante	à	sociedade	contemporânea.	
Segundo	Weber	 (1982),	 cada	 indivíduo	 age	 levado	por	 um	motivo	 e	 se	 orienta	
pela	tradição	(conduta	social	orientada	pelastradições),	o	que	quer	dizer	que	cada	
indivíduo	mobiliza	suas	ações	e	 interesses	 racionais	e	 se	 realiza	pelo	campo	da	
emotividade	e	da	subjetividade.	Logo,	um	pesquisador	deveria	lançar	mão	do	que	
é	de	natureza	particular,	daquilo	que	permite	identificar	na	sua	peculiaridade	na	
configuração	panorâmica	da	cultura,	e	para	tanto	deveria	lançar	mão	do	método	
compreensivo,	 isto	 é,	 um	 esforço	 interpretativo	 que	 percebe	 as	 tradições	 e	 sua	
repercussão	nas	sociedades	contemporâneas.
Em	 A ética protestante e o espírito do capitalismo,	 relaciona	 o	 ideal	 de	
salvação	das	igrejas	protestantes,	vinculadas	à	vida	sóbria,	ligadas	a	ideias	como	
moral	elevada	e	trabalho,	que	estão	em	afinidade	com	os	valores	do	capitalismo,	
dependente	 de	 funcionários	 competentes,	 pontuais	 e	 ordeiros.	 Este	 aspecto	 foi	
denominado	por	Weber	como	ascese	laica	ou	ascetismo	intramundano,	pois,	se	o	
catolicismo	pregava	que	para	ter	uma	vida	santa,	longe	dos	prazeres	pecaminosos,	
o	cristão	deveria	se	isolar	do	mundo,	vivendo	em	um	convento,	o	protestantismo	
afirmava	que	o	ideal	de	santidade	deveria	ser	perseguido	no	confronto	cotidiano	
com	o	mundo.	
Outras	duas	questões	apontam	afinidades	do	cristianismo	protestante	com	
o	capitalismo.	O	primeiro	é:	para	o	catolicismo,	o	lucro	é	um	pecado	denominado	
usura.	Para	o	protestantismo,	este	pecado	não	existe,	pois,	como	afirmava	Calvino,	
as	 relações	 comerciais	 que	 envolvem	 lucro	 não	 são	 conquistadas	 através	 de	
coação,	mas	sim	através	da	troca.	Também,	para	o	protestantismo,	a	prosperidade	
econômica	 não	 era	 um	 sinal	 de	 contradição	 com	 a	 fé,	mas	 sim	 o	 sinal	 de	 uma	
bênção	divina.
 
Em	 relação	 à	 educação,	 a	 principal	 contribuição	weberiana	 foi	 o	 estudo	
sobre	a	burocracia.	Pois,	para	Weber,	é	a	burocracia	um	dos	sinais	da	sociedade	da	
modernidade,	pois	o	racionalismo	que	a	burocracia	emprega	depende	em	muito	
da	 formação	 escolar	 de	 uma	 classe	 de	 técnicos	 capacitados	 para	 gerir	 os	 bens	
públicos	ou	privados.	Uma	classe	gerencial,	que	Weber	definiu	como	Estamento	
Burocrático,	é	a	principal	camada	dirigente	das	instituições	privadas	ou	estatais	
contemporâneas.	 Isto	 em	 parte	 explica	 a	 importância	 que	 as	 classes	 dirigentes	
ofertam	para	 a	 educação,	 pois	 será	 entre	 os	 que	 receberam	maior	 instrução,	 os	
melhores	 cargos.	Esta	perspectiva	 formou	um	verdadeiro	 ethos	 educacional	nas	
sociedades	do	Ocidente.	
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
113
O	último	dos	sociólogos	que	 iremos	citar,	neste	 tópico,	 foi	um	dos	mais	
importantes	para	o	estabelecimento	da	sociologia	da	educação	como	disciplina	do	
conhecimento	humano.	Émile	Durkheim	foi	o	principal	formulador	da	sociologia	
como	 ciência,	 ao	 possuir	 uma	 cátedra	 desta	 ciência	 na	 Universidade	 de	 Paris-
Sorbonne	e	ser	o	escritor	do	livro	As regras do método sociológico.	Sua	importância	
para	 a	 história	 da	 educação	 se	mede	 ao	 ser	 Durkheim	 o	 principal	 formulador	
da	 sociologia	 da	 educação	 enquanto	 ciência	 humana.	 Hoje,	 jamais	 se	 pensaria	
a	 educação	 apartada	 das	 realidades	 nas	 quais	 as	 famílias	 e	 as	 escolas	 estão	
presentes.	Porém,	a	influência	iluminista	e	cristã	de	alguns	teóricos	do	século	IX	
não	compreendia	que	as	diferenças	 sociais	 são	parte	 importante	ao	 se	pensar	a	
educação	na	contemporaneidade	(GADOTTI,	s.d.	113-115).
Para	o	autor,	o	indivíduo	na	fase	da	infância	nada	mais	é	do	que	uma	tábula	
rasa	e	diante	disto	a	escola,	as	instituições	de	ensino	e	o	sistema	educacional	devem	
atuar	no	sentido	de	preencher	aquela	criança	de	forma	adequada	ao	convívio	em	
sociedade	de	forma	mais	integrada	e	adequada	possível.	Estudiosos	analisam	estas	
ideias	de	Durkheim	e	o	nominam	de	conservador,	no	ponto	em	que	compreendia	
a	escola	como	simplesmente	uma	instituição	de	ajuste	e	não	de	transformação	da	
sociedade.
A	 disciplina	 de	 sociologia	 da	 educação	 tem	 contribuído	 de	 forma	
significativa	no	sentido	do	reconhecimento	e	da	importância	do	fazer	educacional.	
Os	 estudiosos	 da	 sociologia	 se	 esforçam	 em	 fazer	 análises	 e	 trabalhos	 críticos	
que	indicam	os	limites	e	impasses	no	campo	educacional.	Na	atualidade	têm-se	
os	trabalhos	do	estudioso	argelino	Pierre	Bourdieu,	que	se	dedica	a	denunciar	os	
mecanismos	 e	modelos	de	 ensino	que	 tendem	a	 tornar	 a	 escola	um	mero	 local	
reprodução	dos	conteúdos	
 
Como	os	estudiosos	da	filosofia	foram	responsáveis	por	formular	escolas	
filosóficas	 que	 ultrapassam	 os	 tempos	 históricos,	 os	 estudiosos	 da	 sociologia	
também	contribuíram	com	a	formação	de	correntes	sociológicas	que	perpassam	o	
pensamento	filosófico,	social,	histórico	e	educacional.	Para	facilitar	o	entendimento	
das	principais	correntes	sociológicas	e	a	relação	que	possuem	com	as	demais	áreas	
do	conhecimento,	atente	para	o	quadro	a	seguir:
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
114
CORRENTES 
SOCIOLÓGICAS PRESSUPOSTOS
PRINCIPAIS 
REPRESENTANTES
POSITIVISMO/
FUNCIONALISMO
(Séc. XIX)
*	Toda	sociedade	é	um	sistema	constante	
e	estável	de	elementos	(hipótese	de	
estabilidade).
*	Toda	sociedade	é	um	sistema	de	
equilíbrio	de	elementos	(hipótese	de	
equilíbrio).
*	Cada	elemento	dentro	da	sociedade	
contribui	ao	funcionamento	dela	(hipótese	
do	funcionalismo);
*	Cada	sociedade	se	mantém	graças	ao	
consenso	de	todos	os	seus	membros	acerca	
de	determinados	valores	comuns	(hipótese	
do	consenso).
*	Valoriza	as	instituições,	as	funções,	a	
estrutura,	a	ordem	social.
Augusto	Comte
Émile	Durkheim
Talcott	Parsons
Niklas	Luhmann
Louis	Althusser
MARXISMO-
SOCIOCRÍTICA
(Séc. XIX e XX)
*	Visão	dialética	que	privilegia	o	aspecto	da	
mudança	histórica,	dos	processos	sociais.
*	Toda	sociedade	e	cada	um	de	seus	
elementos	serão	submetidos	em	todo	
o	tempo	à	mudança	(hipótese	da	
historicidade).
*	Toda	sociedade	é	um	sistema	de	
elementos	contraditórios	em	si	e	explosivos	
(hipótese	da	explosividade	e	revoluções).
*	Cada	elemento	dentro	da	sociedade	
contribui	para	sua	mudança	(hipótese	da	
disfuncionalidade).
*	Toda	sociedade	se	mantém	graças	à	
coação	que	alguns	de	seus	membros	
exercem	sobre	os	outros	(hipótese	da	
dominação).
Karl	Marx
Friedrich	Engels
Antonio	Gramsci
Karel	Kosik
Georges	Snyders
QUADRO 5 - PRINCIPAIS CORRENTES SOCIOLÓGICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
115
COMPLEXIDADE
(Séc. XX e XXI)
*	A	realidade	consiste	em	uma	totalidade	
inter-relacionada,	interdependente,	
multidimensional,	que	propõe	a	conquista	
de	uma	nova	percepção	sistêmica,	pós-	
cartesiana,	ainda	em	gestação.
*	O	universo	é	uma	totalidade	integrada	
na	qual	tudo	está	conectado,	e	onde	o	todo	
é	mais	que	o	conjunto	das	partes	que	o	
compõem.
*	Superação	da	dicotomia	entre	as	ciências	
naturais/sociais;	observador	e	objeto	
observado.
*	O	homem	como	ser	indiviso,	
multidimensional	cérebro/espírito/mente	e	
corpo.
*	Todo	conhecimento	visa	constituir-se	em	
senso	comum,	principalmente	com	aquele	
construído	no	cotidiano,	que	busca	orientar	
e	dar	sentido	à	vida.
*	O	senso	comum	integra	ação	e	
intencionalidade;	é	prático,	transparente,	
interdisciplinar.
*	O	senso	comum	reinterpretado	pelo	
conhecimento	científico	pode	ser	a	porta	
para	a	nova	racionalidade.
Anthony	Wilden
Edgar	Morin	
Isabelle	Stengers
Fritjof	Capra
Humberto	Maturana
FONTE: Os autores
5.2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A	 psicologia	 e	 a	 psicanálise,	 enquanto	 ciências	 surgiram	 num	 contexto	
semelhante	 ao	 da	 sociologia,	 dentro	 os	 teóricos	 que	 foram	 responsáveis	 por	
formular	o	estatuto,	o	campo	de	estudos,	de	pesquisa	e	de	atuação	destas	ciências	
foram	Sigmund	Freud	e	Jacques	Lacan.	Estes	autores	se	preocuparam	em	pensar	
o	 ser	 humano,	 na	 dimensão	 de	 seu	 comportamento,	 atitudes,	 sentimentos	 e	 as	
estruturas	psíquicas	tendo	como	referência	métodos	e	procedimentos	científicos	e	
não	mais	a	moral	religiosa	cristã.
Freud,	que	é	considerado	o	pai	da	psicanálisefoi	responsável	por	escrever	
"O mal-estar da Civilização"	e	a	"Interpretação dos sonhos".	Um	dos	temas	em	que	se	
debruçou	 foi	 a	pulsão	 sexual,	que	é	 fundamental	no	 sentido	de	 compreender	a	
construção	da	personalidade	das	pessoas.	 Para	Freud	 existe	 o	 estágio	 oral,	 que	
se	desenvolve	desde	o	nascimento	até	1	ano	de	idade	e	a	zona	erógena	é	a	boca;	a	
fase	anal,	que	se	desenvolve	entre	1	até	3	anos	de	idade,	que	possui	as	entranhas	
e	a	bexiga	como	regiões	erógenas,	a	fase	fálica,	entre	os	3	e	6	anos	de	idade,	em	
que	a	zona	erógena	são	os	genitálias;	a	fase	de	latência,	entre	6	anos	e	o	início	da	
puberdade,	em	o	libido	fica	em	grande	parte	numa	posição	secundária;	fase	genital,	
da	puberdade	à	morte,	quando	que	ocorre	o	interesse	e	a	escolha	sexual.	Segundo	
Freud,	a	pulsão	sexual,	a	libido	propriamente	dita,	compreende	um	desejo	íntimo	
e	uma	das	principais	forças	vitais	do	ser	humano.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
116
No	que	diz	respeito	à	psicologia	da	educação,	os	principais	 teóricos	que	
teceram	teses	e	estudos	aos	temas	pertinentes	foram	Vygotsky	e	Piaget.	Os	dois	
autores	 pesquisaram	 a	 capacidade	 de	 abstração	 e	 pensamento	 especulativo,	
primordial	ao	desenvolvimento	humano.	
5.3 O IMPASSES DO PROCESSO DE LAICIZAÇÃO E DA 
RACIONALIZAÇÃO
O	 processo	 de	 implantação	 das	 ideias	 iluministas,	 modernas,	 laicas	 e	
racionais	 não	 se	 deu	 de	 forma	 pacífica	 e	 de	 aceitação	 unânime,	 e	 formas	 de	
resistência	 podem	 ser	 registradas	 tanto	 em	 países	 católicos	 como	 em	 países	
protestantes.	O	século	XIX	foi	um	momento	histórico	em	que	diversas	formas	de	
resistência	à	modernização	e	racionalização	foram	registradas,	um	exemplo	pode	
ser	o	do	sacerdote	católico	Dom	Bosco	(1815-1888),	que	contribuiu	na	formulação	
da	 rede	 salesiana	 de	 ensino,	 que	 visava	 atender	 crianças	 e	 jovens	 que	 origem	
humilde	e	que	se	encontravam	em	condições	de	abandono	e	violência	na	Itália.
Nas	 regiões	 de	 maior	 presença	 das	 tradições	 protestantes,	 ocorreram	
conflitos	no	campo	escolar	onde	se	dava	o	ensino	da	origem	do	homem,	sendo	que	
as	unidades	escolares	ministravam	as	 teorias	evolucionistas	de	Charles	Darwin.	
Nos	Estados	Unidos	da	América,	cuja	articulação	religiosa	era	forte	e	politicamente	
legitimada,	ocorreu	um	caso	peculiar,	o	professor	de	ciências	John	Scopes	sofreu	
processo	por	ensinar	as	teorias	onde	atuava.	Neste	caso,	o	professor	obteve	a	vitória	
e	seu	exemplo	foi	utilizado	como	inspiração	em	outras	nações	(OLSON,	2001).	
O	 processo	 de	 laicização	 do	 Estado	 e	 da	 sociedade	 foram	 responsáveis	
para	contribuir	no	sentido	de	ampliar	o	alcance	da	educação	e	da	alfabetização.	
Na	atualidade,	este	modelo	apresenta	limites,	e	as	questões	religiosas	não	são	o	
centro	dos	debates	e	sim	como	melhor	ensinar,	as	melhores	formas	de	promover	
aprendizagem,	 pois	 os	 desafios	 são	 muitos,	 em	 especial	 os	 que	 são	 oriundos	
do	mundo	 do	 trabalho,	 que	 se	 encontra	 em	 constante	 transformação,	 as	 novas	
realidades	sociais,	as	diferentes	configurações	de	família	entre	outras	questões.
5.3.1 O Movimento do romantismo
O	 Romantismo,	 ao	 se	 expressar,	 utilizou-se	 de	 metáforas	 que	 eram	
oriundas	 do	 campo	 da	 natureza,	 da	 poesia,	 do	 fantástico	 e	 do	 encantado,	 do	
folclore	e	do	místico.	Com	estes	recursos	procurava	denunciar	o	rigor	da	razão,	
do	 academicismo,	 do	 classicismo,	 dos	 regulamentos,	 normas,	 condutas,	 das	
demais	regras	e	imposições	que	vinham	ganhando	espaço	desde	o	Iluminismo	e	a	
Revolução	Industrial.
Conforme	Abbagnano	(2007),	o	significado	comum	do	termo	"romântico",	
que	 significa	 "sentimental",	 valorizou	 o	 sentimento,	 que	 fora	 ignorado	 na	
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
117
Antiguidade	Clássica	e	que	 foi	 reabilitado	pelo	 Iluminismo	do	século	XVIII,	no	
sentido	de	que	se	fazia	necessário	conciliar	razão	e	fé,	conteúdo	e	forma,	matéria	e	
espírito,	experiência	e	sentido.	O	movimento	do	Romantismo	estava	relacionado	ao	
sentido	de	valorizar	os	aspectos	do	inconsciente,	os	instintos,	o	lirismo,	o	melódico,	
o	dramático,	a	liberdade	criativa,	a	paixão,	o	desejo	por	ideais	e	pelo	inatingível,	do	
misticismo,	indianismo,	da	boemia,	vida	noturna,	entre	outros	hábitos.
Esta	corrente	artística	foi	inserida	em	um	momento	em	que	ocorreram	outras	
mudanças	no	contexto	da	sociedade	dos	séculos	XVIII	e	XIX,	entre	elas,	o	processo	
de	massificação	da	leitura	e	da	palavra	escrita.	As	produções	de	intelectuais	–	como	
Karl	Marx	–	apresentavam	novas	formas	de	compreender	e	denunciar	a	realidade	
social,	numa	perspectiva	de	preencher	o	ambiente	crítico	e	que	tendeu	proceder	
a	uma	leitura	crítica	e	dialética	da	sociedade,	e	esta	foi	feita	contra	a	promessa	de	
progresso	 e	 felicidade	pura	 e	 simples	 contida	na	modernidade.	O	Romantismo	
reuniu	adeptos	das	mais	diversas	áreas	do	conhecimento,	da	literatura,	da	música,	
das	 artes	plásticas.	Enquanto	Marx	descobria	o	 socialismo,	na	Paris	de	 1840,	T.	
Gautier	(1811-1872)	e	Flaubert	desenvolviam	sua	mística	da	“arte	pela	arte”.
5.3.2 O exemplo de Friedrich Nietzsche
A	laicização	no	campo	político	e	público	afetou	as	relações	humanas,	com	
a	natureza	e	as	dimensões	espirituais,	que	por	sua	vez	favoreceu	o	processo	de	
secularização	da	sociedade,	que	consistiu	no	movimento	da	distinção,	separação,	
distanciamento	entre	o	campo	da	fé,	do	espiritual,	do	religioso,	do	sagrado	e	do	
eterno	(poder	invisível)	em	relação	ao	campo	do	temporal,	do	método,	do	racional,	
do	profano	e	do	leigo	(poder	visível	e	palpável).	O	pensador	Friedrich	Nietzsche	
(1844-1900)	procurou	definir	como	“a	morte	de	Deus”	e	“o	advento	do	niilismo”.	
Nietzsche	(2012,	p.	125)	afirma	que:
Deus	está	morto!	Deus	permanece	morto!	E	quem	o	matou	fomos	nós!	
Como	haveremos	de	nos	consolar,	nós,	os	algozes	dos	algozes?	O	que	o	
mundo	possuiu,	até	agora,	de	mais	sagrado	e	mais	poderoso	sucumbiu	
exangue	 aos	 golpes	 das	 nossas	 lâminas.	 Quem	 nos	 limpará	 desse	
sangue?	Qual	a	água	que	nos	 lavará?	Que	solenidades	de	desagravo,	
que	jogos	sagrados	haveremos	de	inventar?	A	grandiosidade	deste	ato	
não	será	demasiada	para	nós?	Não	teremos	de	nos	tornar	nós	próprios	
deuses,	para	parecermos	apenas	dignos	dele?	Nunca	existiu	ato	mais	
grandioso,	e,	quem	quer	que	nasça	depois	de	nós,	passará	a	fazer	parte,	
mercê	deste	ato,	de	uma	história	superior	a	toda	a	história	até	hoje!	
Nietzsche	(2012)	discutiu	que	sentimento	de	niilismo	deve	ser	entendido	
juntamente	com	as	noções	de	“desvalorização	dos	valores”	e	“a	morte	de	Deus”,	que	
foi	ocasionada	pelo	afastamento	dos	valores	sagrados	e	espirituais	das	explicações	
e	 formulações	 humanas,	 e	 em	 especial	 a	 dissociação	 entre	 o	 mundo	 visível	 e	
sensível,	 com	 a	 supervalorização	 do	 primeiro	 diante	 do	 segundo,	 produzindo	
assim	uma	espécie	de	vazio	existencial.	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
118
CONCEITO
O Niilismo está relacionado aos sentimentos de descrença e desengajamento diante da 
promessa de progresso e realização/felicidade humana, contidos no interior dos projetos 
modernos globalizantes/totalizantes ou grandes narrativas que se pretendiam e apresentavam 
como atemporais e universais, nos esquemas de verdade, liberdade e igualdade, história, 
progresso e felicidade, razão, revolução e redenção, ciência, industrialismo e bem viver. Que 
por sua vez desabilitavam as experiências históricas contidas no passado e reconheciam 
somente como campo e horizonte do presente e do futuro como o terreno de realização 
humana primordial.
Nietzsche empregou o conceito também para qualificar sua oposição radical aos valores 
morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas, na qual o niilismo não é somente 
um conjunto de considerações sobre o tema “tudo é vão”, não é somente a crença de que 
tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão na massa, emdestruir. E o filósofo 
aponta que as gerações que sucederam a geração da modernidade nasceram em meio a 
esta noção de sociedade. 
A noção de niilismo causava certo deslocamento nas formulações mentais de sentido do 
ser humano, causando certa secura espiritual e existencial. 
5.4 TRANSFORMAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO 
CONTEXTO EDUCACIONAL
Com	 relação	 ao	 contexto	 histórico	 desta	 época,	 pode-se	 afirmar	 que	 a	
Revolução	 Industrial	 foi	 marcada	 pela	 produção	 capitalista,	 que	 introduziu	 a	
máquina	a	vapor,	a	modernização	dos	métodos	de	produção,	desintegrou	costumes	
e	introduziu	novas	formas	de	organização	da	vida	social.	Por	outro	lado,	ocorreu	
a	transição	da	produção	artesanal	para	a	manufatureira	e	desta	para	a	produção	
fabril,	a	migração	do	campo	para	a	cidade;	o	fim	da	servidão;	o	desmantelamento	
da	família	patriarcal;	a	introdução	do	trabalho	feminino	e	infantil.	O	crescimento	
demográfico	das	cidades	sem	a	devida	infraestrutura	básica	favoreceu	a	formação	
de	cortiços	e	favelas,	o	aumento	das	condições	degradantes	de	vida,	da	prostituição,	
suicídio,	 alcoolismo,	 violência,	 epidemias.	 O	 aparecimento	 do	 empresário 
capitalista, que	concentrou	as	máquinas,	as	terras	e	as	ferramentas	de	trabalho;	e	
do proletariado,	que	foi	submetido	a	severa	disciplina,	como	novas	classes	sociais.
A	produção	capitalista,	que	introduziu	a	máquina	a	vapor,	e	a	modernização	
dos	 métodos	 de	 produção	 desintegraram	 costumes	 e	 introduziram	 novas	
formas	de	organização	da	vida	social:	a	 transição	da	produção	artesanal	para	a	
manufatureira	e	desta	para	a	produção	fabril;	a	migração	do	campo	para	a	cidade;	
o	 fim	 da	 servidão;	 o	 desmantelamento	 da	 família	 patriarcal;	 a	 introdução	 do	
trabalho	feminino	e	infantil.	O	crescimento	demográfico	das	cidades	sem	a	devida	
infraestrutura	básica	(cortiços,	favelas,	entre	outros)	proporcionou	o	aumento	da	
prostituição,	o	suicídio,	o	alcoolismo,	a	violência,	as	epidemias	etc.
Observe	no	quadro	abaixo,	outras	invenções	que	acompanharam	o	processo	
de	revolução	industrial:	
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
119
QUADRO 6 - INVENÇÕES E INVENTORES DE TECNOLOGIA
ANO APROX. INVENTOR INVENÇÃO
1855 Isaac	Merritt	Singer Patenteia	a	máquina	de	costura
1855 Georges	Audemars Inventa	o	Rayon
1866 Alfred	Nobel Inventa	a	dinamite
1868 Christopher	Latham	Sholes Inventa	a	máquina	de	escrever
1868 George	Westinghouse Inventa	o	freio	a	ar
1868 Robert	Mushet Inventa	o	aço
1873 Levi	Strauss Inventa	a	calça	jeans
1869 Dmitri	Mendeleyev Monta	a	Tabela	Periódica
1876 Alexander	Graham	Bell Telefone
1877 Eadweard	Muybridge Inventa	a	câmera	de	filmagem
1879 Thomas	Alva	Edison Lâmpada	Elétrica	–	inventa	a	lâmpada	com	filamento	de	carbono	incandescente
1881 Louis	Pasteur Vacinas	–	produz	vacina	contra	o	antraz	e	a	raiva
1888 Heinrich	Hertz Produz	as	primeiras	ondas	de	rádio
1900 Ferdinand	von	Zeppelin Primeiro	dirigível	de	estrutura	metálica
FONTE: Os autores
CURIOSIDADE: MUSEUS
O primeiro museu público, o Asmoleum Museum, foi aberto em 1683, na Inglaterra e 
encontrava-se vinculado à Universidade de Oxford, mas possibilitava visitação somente a 
artistas e estudiosos. Foi a partir da Revolução Francesa, no século XVIII, que os museus 
ganharam caráter popular propriamente dito, em especial surgem os grandes museus 
nacionais, voltados à educação e esclarecimento do povo. O Museu do Louvre foi aberto na 
França em 1793. Em 1810, surge o Altes Museum, de Berlim, na Alemanha, o Museu do Prado, 
na Espanha, em 1819, e o Museu Hermitage de Leningrado, na Rússia, em 1852.
As	manifestações	 de	 revolta	 dos	 trabalhadores	 foram	da	 destruição	 das	
máquinas,	sabotagem,	explosão	de	algumas	oficinas,	 roubos	e	crimes,	 formação	
de	sindicatos.	Nesta	trajetória,	produziram	jornais	e	literatura,	exercendo	a	crítica	
à	 sociedade	 capitalista	 e	 inclinando-se	 para	 o	 socialismo	 como	 alternativa	 de	
mudança.	A	tarefa	dos	pensadores	deste	período	foi	a	de	racionalizar	a	nova	ordem,	
encontrando	soluções	para	o	estado	de	‘desorganização’	existente,	conhecendo	as	
leis	que	regem	os	fatos	sociais.
Determinados	pensadores	da	época	estavam	imbuídos	da	crença	de	que	era	
necessário	introduzir	uma	certa	‘higiene’	na	sociedade	e	fundar	uma	nova	ciência.	
A	sociologia	assumia	como	tarefa	intelectual	repensar	o	problema	da	ordem	social,	
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
120
enfatizando	a	importância	de	instituições	como	a	autoridade,	a	família,	a	hierarquia	
social,	destacando	a	sua	importância	teórica	para	o	estudo	da	sociedade.
Sabe-se	que	a	capacitação	intelectual	não	cessou	de	avançar	ao	longo	dos	
últimos	200	anos,	quando	carrega	um	processo	de	declínio	das	ocupações	única	e	
exclusivamente	braçais	e,	em	contrapartida,	a	legitimação	do	processo	produtivo	
mecanizado,	 automatizado	 e	 robotizado	 (ARANHA,	 1996).	 Foi	 no	 contexto	
da	Revolução	 Industrial	que	 cada	vez	mais	 foi	dada	ênfase	à	 educação	 técnica.	
Durante	o	denominado	Antigo	Regime	Europeu,	período	que	inicia	na	baixa	Idade	
Média	e	finda	com	a	Revolução	Francesa,	os	objetos	eram	produzidos	através	das	
corporações	de	ofício.	
Portanto,	algumas	profissões	tradicionais	existiam,	como	as	de	sapateiros,	
relojoeiros,	 carpinteiros	 etc.	 Com	 o	 incremento	 da	 produção	 industrial	 destes	
objetos	fabricados	por	estes	artífices	citados,	como	sapatos,	relógios	e	móveis	para	
o	lar,	o	aprendizado	para	o	ingresso	em	uma	indústria	passa	a	ser	realizado	não	em	
corporações,	nas	quais	aprendizes	aprendiam	com	mestres	mais	antigos	no	ofício,	
até	que	se	especializavam	e,	deixando	de	ser	aprendizes,	 se	 tornavam	oficiais	e	
posteriormente	mestres.	
A	formação	necessária	à	preparação	do	trabalhador	da	indústria	solicitava	
a	 realização	 em	 escola	 técnica,	 na	 qual	 o	 aluno	 aprende	 as	 rotinas	 industriais,	
até	ser	capaz	de	atuar	como	técnico	qualificado	para	determinada	função,	pois	a	
mecanização	da	produção	é	uma	tendência	constante	no	capitalismo,	sendo	assim	
presente	a	necessidade	de	técnicos	que	cuidem	das	máquinas,	que	substituíram	a	
tração	animal	ou	o	braço	humano	na	confecção	dos	mais	distintos	produtos.	Em	
geral,	o	ensino	técnico	é	voltado	para	as	camadas	mais	baixas	da	população	dos	
diferentes	 países	 industrializados,	 pois	muitos	 observam	no	 trabalho	 industrial	
especializado	uma	chance	de	ascensão	para	a	classe	média.
LITERATURA
Para	melhor	compreender	o	contexto	histórico	das	mudanças	na	sociedade,	nas	áreas	política	
e	cultural,	iniciadas	na	época	moderna,	observe	as	sugestões	de	livros	e	filmes	que	fazemos	
abaixo:
Os miseráveis, escrito	por	Victor	Hugo	(existe	em	filme	também)
Germinal,	de	Emile	Zola	(existe	em	filme	também)
Madame Bovary,	de	Gustave	Flaubert	(existe	em	filme	também)
Senhores e camponeses,	de	Leon	Tolstoi	(existe	em	filme	também).
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
121
5.5 OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO ENSINO 
SUPERIOR
O	ensino	superior	sempre	representou	um	ponto	de	grande	disputa	entre	os	
mais	diferentes	indivíduos	da	sociedade,	por	ser	uma	das	condições	pelas	quais	o	
indivíduo	consegue	galgar	outras	posições	sociais.	Em	especial,	quando	os	índices	
de	abandono	escolar	são	registrados	no	ensino	médio,	e	quando	o	ensino	médio	é	
concluído	de	forma	satisfatória	mediante	de	custeio	familiar.	Outro	fator	agravante	
reside	no	fato	de	que	os	estudos	universitários	são	oferecidos	em	horários	como	o	
matutino	e	vespertino	o	que	inviabiliza	que	trabalhadores	os	frequentem.	Diante	
disto,	 eis	 que	 o	 ensino	 superior	 acaba	 sendo	 uma	 condição	 acessada	 somente	
por	 pessoas	 oriundas	 de	 grupos	 sociais	 abastados.	 Diante	 da	 necessidade	 de	
especialização	da	mão	de	obra	no	interior	das	fábricas	e	indústrias,	em	especial	nas	
áreas	da	engenharia,	surgem	núcleos	de	inovação	e	desenvolvimento	tecnológico.	
INSTITUIÇÕES
No	Brasil,	a	educação	técnica	é	presente	emdiversos	Estados,	tanto	com	Institutos	Federais	
e	estaduais,	que	formam	técnicos	nos	mais	diversos	ramos	da	indústria	e	dos	serviços,	como	
o	 sistema	“S”	 (SESI,	SENAI,	SENAC	etc.),	que	primam	pela	qualificação	da	mão	de	obra.	
Inclusive,	um	ex-presidente	da	República,	Lula,	frequentou	uma	destas	escolas	de	formação	
profissional.	
5.6 A EDUCAÇÃO NOS PAÍSES AUTORITÁRIOS: O 
COMUNISMO E O NAZI-FASCISMO
O	século	XX	foi	marcado	por	inúmeras	situações	que	colocaram	em	xeque	
o	processo	de	desenvolvimento	que	se	havia	alcançado,	entre	elas	encontram-se	as	
guerras	mundiais	e	as	péssimas	condições	de	vida	das	populações	em	determinadas	
regiões	do	mundo.	As	dificuldades	também	alcançaram	as	 instâncias	políticas	e	
econômicas,	em	que	diversas	crises	abalaram	governos	e	sociedades	inteiras.	
Os	modelos	de	política	e	sociedade	autoritários	acabaram	se	aproveitando	
do	contexto	de	crise	de	determinados	países	de	se	 instalar	e	para	 se	manter	no	
poder	 se	utilizaram	de	estratégias	que	 restringiam	o	acesso	às	 informações,	 em	
especial	alterando	as	formas	de	ensinar	e	censurando	conteúdos	de	disciplinas	que	
possuíam	potencial	crítico-reflexivo	diante	da	realidade.
A	título	de	exemplo,	o	modelo	comunista	de	educação	é	pouco	conhecido,	
porém	bastante	mencionado,	tanto	em	situações	positivas	como	negativas,	mas	o	
que	se	pode	reconhecer	como	prioridade	é	a	ampliação	de	vagas	no	ensino	básico,	
o	 que	 conseguiu	melhorar	 os	 números	 de	 analfabetismo	 que	 eram	 registrados	
DICAS
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
122
naqueles	países.	No	que	diz	respeito	ao	ensino	superior,	em	algumas	universidades	
dos	países,	como	Cuba	e	Rússia,	os	estudos	e	pesquisas	nas	áreas	médicas	e	da	
saúde	foram	responsáveis	por	encontrar	inúmeros	tratamentos	e	curas	a	doenças	
que	até	então	pareciam	invencíveis.	A	crítica	a	estes	países	ainda	recai	sobre	os	
aspectos	da	liberdade	de	expressão	dos	cidadãos,	em	especial,	quem	se	manifestava	
contrário	à	adoção	do	regime.	
Mas	 não	 foram	 os	 únicos	 países	 e	 nações	 que	 impuseram	 a	 restrição	 à	
liberdade	de	pensamento	e	expressão	a	 seus	cidadãos,	o	 fascismo	de	Mussolini	
na	 Itália,	 de	 Franco	 na	 Espanha,	 de	 Salazar	 em	 Portugal,	 o	 nazismo	 de	Hitler	
na	 Alemanha,	 não	 foram	 diferentes.	 Ao	 ponto	 que	 professores	 universitários	
fugiam	de	 seus	países	de	 origem	ou	 cometiam	 suicídio	 a	fim	de	não	 colaborar	
com	o	governo	imoral	que	havia	se	instalado.	A	título	de	exemplo	podemos	citar	
Albert	Einstein	(1879-1955),	notório	pelos	seus	estudos	e	pesquisas	no	campo	da	
física,	que	em	fuga	das	perseguições	religiosas	que	o	governo	nazista	empreendia,	
refugiou-se	nos	Estados	Unidos	(ARANHA,	1996).
PARA	REFLETIR:
Einstein	(1981),	em	seus	escritos	e	reflexões	sobre	ciência	e	conhecimento,	tecia	as	seguintes	
orientações:	
Não	basta	 ensinar	ao	homem	uma	especialidade.	Por	que	 se	 tornará	assim	uma	máquina	
utilizável,	mas	não	uma	personalidade.	É	necessário	que	adquira	um	sentimento,	um	senso	
prático	daquilo	que	vale	 a	pena	 ser	 aprendido,	daquilo	que	é	belo,	do	que	é	moralmente	
correto.	A	não	ser	assim,	ele	se	assemelhará,	com	seus	conhecimentos	profissionais,	mais	a	
um	cão	ensinado	do	que	a	uma	criatura	harmoniosamente	desenvolvida.
Deve	aprender	a	compreender	as	motivações	dos	homens,	suas	quimeras	e	suas	angústias	
para	determinar	com	exatidão	seu	lugar	em	relação	a	seus	próximos	e	à	comunidade.
Estas	reflexões	essenciais,	comunicadas	à	 jovem	geração	graças	aos	contatos	vivos	com	os	
professores,	de	forma	alguma	se	encontram	escritas	nos	manuais.	É	assim	que	se	expressa	
e	se	forma	de	início	toda	a	cultura.	Quando	aconselho	com	ardor	“as	humanidades”,	quero	
recomendar	a	cultura	viva	e	não	um	saber	fossilizado,	sobretudo	em	história	e	filosofia.	
Os	excessos	do	sistema	de	competição	e	de	especialização	prematura,	sob	o	falacioso	pretexto	
da	eficácia,	assassinam	o	espírito,	impossibilitam	qualquer	vida	cultural	e	chegam	a	suprimir	
os	progressos	nas	ciências	do	futuro.	É	preciso,	enfim,	tendo	em	vista	a	realização	de	uma	
educação,	desenvolver	o	espírito	crítico	na	inteligência	do	jovem.	
Ora,	a	sobrecarga	do	espírito	pelo	sistema	de	notas	entrava	e	necessariamente	transforma	a	
pesquisa	em	superficialidade	e	falta	de	cultura.	O	ensino	deveria	ser	assim:	quem	o	receba	o	
recolha	como	um	dom	inestimável,	mas	nunca	como	uma	obrigação	penosa.
Adaptado	de:	Einstein,	Albert.	Como vejo o mundo.	Rio	de	Janeiro:	Nova	Fronteira,	1981.
As	 ideologias	 nazistas	 e	 fascistas	 transformaram	 o	 sistema	 escolar	
em	 mecanismos	 cujos	 valores	 e	 preceitos	 eram	 deturpados,	 que	 condenavam	
indiscriminadamente	 o	 povo	 judeu,	 homossexuais,	 ciganos	 e	 outras	 minorias.	
Nos	países	latino-americanos	ocorreu	algo	semelhante	nos	anos	de	1970,	quando	
se	 instauraram	 as	 ditaduras	 militares	 que	 passaram	 a	 perseguir	 estudantes	 e	
UNI
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
123
professores	que	manifestavam	pensamento	crítico	diante	a	realidade	política	do	
país.	Foi	o	momento	 também	em	que	pesquisadores	e	professores	das	áreas	da	
física,	 química,	 sociologia	 e	 antropologia	 foram	 fazer	 estudos,	 ministrar	 aulas	
e	 participar	 de	 projetos	 científicos	 em	 instituições	 e	 universidade	 de	 países	 de	
primeiro	mundo.	
Os	países	que	passaram	por	períodos	em	que	formas	autoritárias	de	poder	
foram	implantadas	também	foram	países	nos	quais	a	educação	sofreu	fortes	projetos	
de	 sucateamento	 e	 desvalorização	 em	 termos	 estruturais	 e	 no	 reconhecimento	
social	e	profissional	dos	professores.		
5.7 O EXEMPLO DA ESCOLA DE FRANKFURT
Foi	 um	 grupo	 de	 estudiosos	 que	 na	 primeira	 metade	 do	 século	 XX	
encontrava-se	 congregado	 ao	 Instituto	 de	 Pesquisa	 Social	 da	 Universidade	 de	
Frankfurt,	na	Alemanha.	Possuem	forte	influência	marxista,	mas	não	se	resumiam	
aos	dogmatismos	e	ao	marxismo	tradicional	do	século	XIX,	atuaram	como	críticos	
tanto	das	ideologias	do	capitalismo	e	liberalismo	internacional	como	do	socialismo	
soviético.	E	o	que	os	identificava	com	mais	coerência	era	lançar	mão	de	alternativas	
que	promovessem	o	desenvolvimento	e	o	bem-estar	social,	para	tanto	dedicaram-
se	em	proferir	análises	e	críticas	às	mais	diversas	áreas,	como	a	educação,	a	ciência,	
o	Estado,	o	cinema,	a	música,	o	sistema	de	produção	e	consumo.
Na	 primeira	 leva	 de	 integrantes	 da	 Escola	 estavam	 Max	 Horkheimer,	
Theodor	Adorno,	Herbert	Marcuse,	Friedrich	Pollock	e	Erich	Fromm.	Na	segunda	
geração	 participaram	 Jürgen	 Habermas,	 Franz	 Neumann,	 Albrecht	 Wellmer.	
Outros	estudiosos,	como	Walter	Benjamin,	Siegfried	Kracauer,	Karl	A.	Wittfogel,	
participaram	associando-se	temporariamente	ao	Instituto.	Os	estudiosos	da	Escola	
de	 Frankfurt	 inspiravam-se	 nas	 concepções	 teórico-filosóficas	 e	 metodológicas	
legadas	nos	escritos	de	Immanuel	Kant,	Hegel,	Karl	Marx,	Sigmund	Freud,	Max	
Weber	e	George	Lukács.
5.8 O EXEMPLO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Tratou-se	 de	 um	 movimento	 religioso	 cristão	 originado	 do	 Concílio	
Vaticano	II,	realizado	na	cidade	de	Medellín,	na	Colômbia,	no	ano	de	1968,	mas	
é	atribuído	ao	padre	peruano	Gustavo	Gutiérrez	o	pioneirismo	do	movimento.	A	
Teologia	da	Libertação	priorizava	o	trabalho	aos	pobres	e	desvalidos	e	defendia	
toda	uma	reinterpretação	analítica	e	antropológica	da	fé	cristã,	ou	seja,	a	viabilidade	
prática	dos	princípios	e	valores	cristãos.	Tal	orientação	ideológica	da	Teologia	da	
Libertação	foi	responsável	por	provocar	críticas	de	caráter	político,	que	por	sua	vez	
interpretavam	o	movimento	como	uma	vertente	marxista	de	organização	político-
social.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
124
O	movimento	foi	reprovado	nos	pontificados	de	João	Paulo	II	e	Bento	XVI,	
porém	recentemente	recebeu	reconhecimento	favorável	do	Papa	Francisco.	Entre	
os	integrantes	da	Teologia	da	Libertação	pode-se	relacionar	os	brasileiros	LeonardoBoff	e	Rubem	Alves,	Jon	Sobrino	de	El	Salvador,	o	equatoriano	Leônidas	Proaño	e	
o	uruguaio	Juan	Luis	Segundo.
 
O	 movimento	 seguiu	 aos	 anos	 de	 1970	 e	 1980	 com	 grandes	 ações	 e	
movimentos	 em	meio	 à	 sociedade,	 porém,	 a	 partir	 dos	 anos	 de	 1990	 passou	 a	
declinar,	em	especial	pela	falta	de	renovação	das	lideranças,	tanto	em	meio	às	ações	
de	base	no	interior	das	comunidades	como	na	esfera	de	orientação	intelectual.		
No	filme	A	VIDA	É	BELA,	vencedor	do	Oscar	de	melhor	filme	estrangeiro,	existe	
uma	bela	sátira	das	intervenções	dos	funcionários	fascistas	no	sistema	escolar,	feita	por	um	
observador	da	vida	social	e	personagem	principal	do	filme,	que	por	fim	acaba	sofrendo	as	
agruras	de	um	campo	de	concentração	ao	lado	da	esposa	e	do	seu	filho.
A	VIDA	É	BELA.	Roberto	Benigni.	Itália/EUA.	1997.	116min.	Cor
LEITURA COMPLEMENTAR
A	FRAGILIDADE	DOS	LAÇOS	HUMANOS:	AMOR	LÍQUIDO
Os	tempos	modernos	e,	agora,	os	tempos	contemporâneos	são	marcados	
por	um	estado	de	fusão	líquida	da	sociedade	humana,	e	a	transformação	se	deu	
do	estado	sólido	para	o	líquido.	A	metáfora	“líquido	mundo	moderno”	evidencia	
um	dos	principais	conceitos	propostos	pelo	pensador	e	pode	ser	entendida	como	
sendo	oriunda	de	um	contexto	semelhante	ao	da	frase	que	foi	proposta	por	Marx:	
“tudo	o	que	é	sólido	desmancha	no	ar”,	proposta	ainda	no	século	XIX,	quando	a	
modernidade	estava	em	pleno	curso.	Esta	mesma	serviu	de	base	interpretativa	a	
Bauman	(1925-2017),	que	foi	utilizada	ao	longo	desta	obra.	
O	livro	Amor	Líquido	reúne	uma	reflexão	crítica	do	cotidiano	do	homem	
moderno,	 e	 preocupa-se	 em	 analisar	 a	 sociedade	 contemporânea	 e	 ressaltar	
“a	 fragilidade	 dos	 laços	 humanos”.	 Encontra-se	 dividido	 em	 quatro	 capítulos:	
Apaixonar-se	 e	 desapaixonar-se;	 Dentro	 e	 fora	 da	 caixa	 de	 ferramentas	 da	
sociedade;	Sobre	a	dificuldade	de	amar	o	próximo;	convívio	destruído.	Ao	final	das	
análises	e	reflexões,	o	autor	pontua	que	o	“cidadão	da	líquida	sociedade	moderna”	
constitui	um	homem	sem	vínculos	e	inserido	em	um	quadro	e	esboço	imperfeito	
e	fragmentado.
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
125
Nos	dois	primeiros	capítulos,	Bauman	(2004)	analisa	a	 fragilidade	que	o	
“líquido	mundo	moderno”,	de	certa	forma,	impôs	ao	relacionamento	humano.	Em	
“Apaixonar-se	e	desapaixonar-se”,	o	autor	atrela	amor	à	cultura	consumista	e	de	
mercado.	O	sentido	de	que	amar	tornou-se	como	um	passeio	no	shopping	center,	
visto	“tal	como	outros	bens	de	consumo”;	neste	contexto	a	vida	deve	ser	consumida	
instantaneamente,	despreocupadamente	 (não	 requer	maiores	 treinamentos	nem	
uma	preparação	 prolongada);	 é	 usada	 uma	 só	 vez,	 sem	preconceitos,	 receios	 e	
critérios,	a	experiência	da	vida	deve	ser	fluida	e	deliberadamente	flexível.
A	 cultura	 consumista	 do	 amor,	 então,	 serve	 de	 cenário	 para	 o	 segundo	
capítulo,	“Dentro	e	fora	da	caixa	de	ferramentas	da	sociedade”.	Neste	momento,	o	
autor	discute	que	o	sentimento	do	imediatismo	e	rapidez	oferece	consequências	e	
custos	à	“líquida,	consumista	e	individualizada	sociedade	moderna”,	e	o	resultado	
de	intensificação	da	velocidade	globalizante	é	o	de	que	a	dimensão	da	solidariedade	
da	vida	e	das	relações	humanas	perde	valor,	e	sobre	estas	passa	a	ocupar	espaço	e	
a	triunfar	o	mercado	consumidor’.	
Quem	seria,	portanto,	o	responsável	por	este	contexto	de	mudanças?	De	
acordo	com	Bauman	(2004),	é	o	próprio	homem,	mediante	a	(des)configuração	que	
este	 sofreu	diante	das	 exigências	 competitivas	do	mundo	moderno.	Hoje,	mais	
do	que	nunca,	o	homem	necessita	de	produtos	pré	e/ou	fabricados,	e	em	função	
destes	são	programadas	as	demais	necessidades	do	homem,	como	o	tempo	livre,	
os	horários	de	intervalo,	as	refeições,	as	férias,	entre	outras.
Em	“Sobre	a	dificuldade	de	amar	o	próximo”,	o	autor	remonta	a	atmosfera	
que	 ronda	os	 relacionamentos	humanos	e	a	 interpreta	à	 luz	do	conceito	bíblico	
de	amar	ao	próximo	como	a	si	mesmo.	Segundo	Bauman	(2004),	o	amor	próprio	
é	construído	a	partir	do	amor	que	é	oferecido	e	atribuído	por	outros.	Ou	seja,	a	
construção	de	amar	a	si	mesmo	somente	é	possível	quando	o	mesmo	sentimento	
é	manifestado	pelos	outros,	que	“devem	nos	amar	primeiro	para	que	comecemos	
a	 amar	 a	 nós	 mesmos”.	Assim,	 o	 amor	 e	 o	 cuidado	 de	 si	 e	 autovalorização	 e	
autoestima,	bem	como	o	amor	gratuito	e	incondicional	que	poderia	ser	oferecido	
aos	outros,	não	fazem	mais	sentido	neste	contexto.	
No	 quarto	 e	 último	 capítulo	 de	 “Amor	 líquido”,	 o	 autor	 reflete	 sobre	 a	
vertiginosa	 indústria	do	medo	que	criou	um	novo	espectro:	o	da	xenofobia,	ou	
seja,	a	aversão	ao	estrangeiro.	Os	imigrantes	passam	a	ser	acusados	como	sendo	
os	principais	causadores	da	epidemia	financeira	do	líquido	mundo	moderno,	que	
estas	ainda	fornecem	à	sociedade	atual	as	ameaças	reais	aos	Estados-nação.	Assim	
instaura-se	uma	indústria	do	medo	com	relação	aos	imigrantes,	entendidos	como	
criminosos,	configurando	um	cenário	favorável	ao	sensacionalismo	e	à	especulação	
aos	 meios	 de	 comunicação.	 A	 pauta,	 dentro	 dessas	 redações,	 é	 e	 continuará	
sendo	a	mesma.	Roubos,	assassinatos,	e	principalmente,	atentados	terroristas	são	
reflexos	da	invasão	imigratória	de	indivíduos	oriundos	de	países	periféricos	e/ou	
miseráveis.
Atualmente	 e	 cada	 vez	 mais	 os	 seres	 humanos	 buscam	 contatos	 com	
seus	pares	numa	espécie	de	irmandade,	construída	a	partir	do	mundo	virtual,	e	
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
126
procuram	substituir	e	compartilhar	fracassos,	frustrações,	desequilíbrios	e	solidões	
com	a	agilidade,	praticidade	e	velocidade	da	internet.	
Bauman	(2004)	utiliza	como	reflexo	da	metamorfose	da	relação	humana	o	
testemunho	de	um	universitário	polonês	que	afirma	categoricamente	que	dentro	
do	líquido	mundo	moderno	tudo	se	resolve	na	base	do	delete,	do	bloqueio	–	um	
simples	toque	no	mouse	é	tal	como	um	passe	de	mágica,	os	problemas	desaparecem.	
Basta	limpar	a	lixeira,	ocultar	as	ações	e	alterar	as	configurações	de	privacidade	e	
tudo	estará	resolvido.	É	nítido	e	avassalador	o	contato	físico	e	em	especial	o	recuo	
dos	momentos	e	espaços	de	real	sociabilidade.	O	resultado	não	poderia	ser	outro	
e	está	anunciado	no	subtítulo	do	livro	de	Bauman	(2004):	“a	fragilidade	dos	laços	
humanos”.	
A	 partir	 do	 momento	 em	 que	 os	 verdadeiros	 cidadãos	 perceberem	 o	
tamanho	do	labirinto	onde	se	encontram,	e	moverem-se	no	sentido	de	buscarem	
saídas,	alternativas	e	soluções	ao	problema	real	e	complexo	que	os	envolve,	é	que	
se	poderá	avançar	rumo	à	retomada	da	vida	humana	na	sua	dimensão	individual,	
social,	 integral	 ao	 universo.	 Caso	 contrário,	 permanecerá	 aprofundando	 o	
isolamento,	 confundindo	 coisas/produtos/mercadorias	 com	 seres/existências/	
experiências/histórias	e	multiplicando	os	ambientes	virtuais.
FONTE: Adaptado de: FERNANDES, Jorge Marcos Henriques. A fragilidade dos laços humanos. 
Revista Ciências Humanas, Taubaté, v. 11, n. 2, p. 173-174, jul./dez. 2005. Disponível em: <http://
www.fesppr.br/~daiane/Sociologia%20Jur%EDdica/bauman.pdf>. Acesso em: 29 set. 2016.
127
RESUMO DO TÓPICO 2
Ao longo desta unidade de conteúdos você pôde estudar que: 
•	 A	época	moderna	foi	 forjada	em	meio	à	desagregação	da	sociedade	feudal,	à	
consolidação	da	civilização	capitalista,	política	imperialista	das	nações	europeias	
sobre	as	demais	nações	e	povos	do	mundo.
•	 A	 cidade	 passou	 a	 ocupar	 o	 status	 de	 excelência	 em	 termos	 de	 espaço	 e	 da	
sociabilidade	e	 realização	de	modernidade,	 e	diante	disto,	ocorreu	o	gradual	
abandono	das	regiões	agrícolas	e	a	subsequente	concentração	da	população	nas	
imediações	das	cidades	e	centros	industriais.
•	 Os	movimentos	de	independência	dos	Estados	Unidos	da	América,	a	Revolução	
Francesa,	 a	 Revolução	 Industrial,	 a	 revolução	 da	 técnica	 e	 tecnologia,	 a	
urbanização	da	população,	os	estudos	da	sociologia	e	da	psicanálise,	os	regimes	
autoritários,	as	guerras	mundiaiscompõem	o	contexto	no	qual	se	desenvolveram	
o	pensamento,	a	ciência	e	a	educação	da	época	contemporânea.
•	 A	 educação	 técnica,	 científica	 e	 laica	 passa	 a	 ser	 favorecida	 por	 políticas	 de	
governo,	e	estas	almejavam	formar	mão	de	obra	às	indústrias	e	aos	setores	do	
governo,	agora	denominado	de	Estado	Laico.
•	 Pestalozzi	 foi	 um	 pedagogo	 iluminista,	 influenciado	 pelo	 pensamento	 de	
Rousseau,	em	especial	no	que	diz	respeito	à	influência	do	meio	e	da	sociedade	
sobre	a	formação	do	homem.
•	 Froebel	foi	um	pedagogo	que	se	inspirava	na	natureza	e	no	desenvolvimento	
natural	 para	 compreender	 e	 explicar	 o	 cuidado	 e	 a	 forma	 como	 se	 deveria	
conduzir	a	 educação	das	 crianças,	que,	 conforme	compreendia,	necessitavam	
de	cuidados	e	proteção	especial.
•	 Dewey	foi	um	pensador	norte-americano	que	propôs	a	chamada	‘Escola	Nova’,	
que	defendia	a	importância	da	escola	integral,	cuja	organização	de	currículo	e	
conteúdos	deveria	contemplar	os	conhecimentos	específicos	e	experiências	de	
sociabilidade.
128
AUTOATIVIDADE
1.	Construa	um	texto	explicando	como	é	possível	afirmar	que	a	educação	no	
Ocidente	é	predominantemente	laica	e	qual	foi	o	principal	ponto	de	divergência	
que	ocorria	em	relação	aos	conteúdos	ministrados	pelas	instituições	religiosas.	
Construa	um	texto	apresentando	o	que	caracteriza	o	pensamento	de	cada	um	
dos	pensadores	da	educação	moderna:	Pestalozzi	e	Froebel:
129
TÓPICO 3
CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO 
EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No	 decorrer	 da	 época	 Moderna	 e	 Contemporânea,	 dentre	 as	 ações	 de	
governos	foram	elencados	como	prioridade	os	problemas	e	fatos	sociais	modernos,	
como	 erradicação	 do	 analfabetismo,	 doenças,	 epidemias,	 que	 representavam	
pontos	 nevrálgicos	 ao	 desenvolvimento.	O	 fortalecimento	 e	 a	 realização	 destes	
projetos	 foram	alcançados	com	a	colaboração	de	entidades,	 instituições,	 centros	
educacionais	e	profissionais,	universidades,	laboratórios	de	pesquisas.
Em	1789	 ocorreu	 a	publicação	da	Declaração	dos	Direitos	do	Homem	e	
do	 Cidadão,	 que	 foi	 resultante	 do	 processo	 da	 Revolução	 Francesa.	 Trazia	 em	
seu	conteúdo	os	 ideais	de	 liberdade	e	 igualdade;	delegava	ao	homem	moderno	
uma	 relação	 de	 deveres	 e	 de	 direitos,	 que	 seriam	 responsáveis	 por	 conduzi-lo	
à	 categoria	 de	 cidadão	 e	 indivíduo	 emancipado.	 Implanta-se	 a	 democracia,	 na	
qual	homens	e	mulheres,	independentemente	de	cor,	raça,	classe	social,	venham	
a	requerer	condições	de	concorrer,	apoiar,	eleger	e	ser	eleito	no	campo	político,	
econômico	e	social.	
Martinazzo	(2010)	explica	que	o	paradigma	moderno	concebeu	a	estrutura	
do	universo	como	algo	estável,	 linear,	simétrico	e	previsível	e	que,	pela	via	dos	
métodos	hipotético-dedutivo	e	indutivo-experimentalista,	o	homem	pode	acessar	
à	realidade	e	representar	mentalmente	suas	leis	e	funções.	Conhecer	é	representar	
o	real,	onde	a	consciência	de	si,	como	sujeito	epistêmico,	é	condição	sine qua non 
para	a	apreensão	e	consciência	do	objeto.
Desde	 a	 época	 moderna	 instauraram-se	 as	 ideias	 de	 progresso,	 de	
democracia,	de	inclusão,	de	liberdade,	na	capacidade	do	homem	em	intervir	em	
seu	meio	e	destino.	Para	alcançar	estas	pretensões,	empreendeu	suas	ações	obtendo	
o	 suporte	 do	 industrialismo,	 com	 emprego	 de	 novas	 técnicas	 e	 tecnologias;	 de	
teorias,	métodos,	 invenções,	máquinas,	 ferramentas,	utensílios,	 entre	outros.	Os	
campos	teórico	e	material	combinaram-se	para	que	a	modernidade	se	cumprisse.	
(DIEHL;	TEDESCO,	2001).
Os	 meios	 de	 comunicações	 foram	 responsáveis	 por	 anunciar	 os	 novos	
inventos	e	descobertas	e	comunicar	às	demais	regiões	que	se	encontravam	distantes	
das	metrópoles	modernas.	E	nesse	sentido,	o	rádio	conseguiu	superar,	não	tornar	
obsoleto	ou	deslegitimar	o	alcance	da	imprensa	tradicional,	que	era	representada	
pelos	jornais	e	folhetins,	muito	em	voga	nos	séculos	XVIII	e	XIX.
130
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Agora	acabamos	de	nos	despedir	do	século	XX	e	assistimos	ao	descortinar	
do	 século	 XXI	 e	 nos	 encontramos,	 no	 exercício	 de	 qualidade	 de	 humanidade,	
diante	de	um	acúmulo	de	problemas	sociais,	políticos,	econômicos	e	ambientais,	
que	nos	deixam	um	tanto	perplexos,	desorientados	e,	em	especial,	desconfiados	
com	o	que	nos	aguarda	caso	não	repensarmos	e	mudarmos	nossos	valores,	hábitos	
e	costumes	enquanto	indivíduos	e	sociedade.
2 A FILOSOFIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL 
CONTEMPORÂNEO
Severino	(1990)	descreve	que	o	campo	da	filosofia,	ainda	na	Grécia	clássica,	
apresentava	 forte	preocupação	 e	 intenção	pedagógica	 e	 com	a	 formação	do	 ser	
humano.	Observe	a	citação	que	apresentamos:
Ela	 já	 nasceu	 Paideia!	 Para	 não	 citar	 senão	 o	 exemplo	 de	 Platão,	
em	 momento	 algum	 o	 esforço	 dialético	 de	 esclarecimento	 que	
propõe	 ao	 candidato	 a	 filósofo	 deixa	 de	 ser	 simultaneamente	 um	
esforço	 pedagógico	 de	 aprendizagem.	 Praticamente	 todos	 os	 textos	
fundamentais	 da	 filosofia	 clássica	 implicam,	 na	 explicitação	 de	 seus	
conteúdos,	uma	preocupação	com	a	educação	(SEVERINO,	1990,	p.	19).
Porém,	chegamos	aos	dias	atuais	e	nos	deparamos	com	o	fato	de	que	as	
áreas	da	educação,	da	filosofia,	da	história,	da	sociologia	e	das	demais	disciplinas	
reflexivas	encontram-se	desprestigiadas,	 são	anunciadas	 como	campos	menores	
do	 saber.	 Para	 Severino	 (1990),	 os	 caminhos	 da	 filosofia	 da	 educação	 na	 nossa	
época	são	preocupantes,	pois:
Parece	 ser	 a	 primeira	 vez	 que	 uma	 forte	 tendência	 da	 filosofia	 se	
considera	 desvinculada	 de	 qualquer	 preocupação	 de	 natureza	
pedagógica,	 vendo-se	 tão	 somente	 como	 um	 exercício	 puramente	
lógico.	 Essa	 tendência	 desprendeu-se	 de	 suas	 próprias	 raízes,	 que	 se	
encontravam	 no	 positivismo,	 transformando-se	 numa	 concepção	
abrangente.	 Denominada	 neopositivismo,	 que	 passa	 a	 considerar	 a	
filosofia	 como	 tarefa	 subsidiária	 da	 ciência,	 só	 podendo	 legitimar-se	
em	situação	de	dependência	frente	ao	conhecimento	científico,	o	único	
conhecimento	 capaz	 de	 verdade	 e	 o	 único	 plausível	 fundamento	 da	
ação.	 Desde	 então,	 o	 qualquer	 critério	 do	 agir	 humano	 só	 pode	 ser	
técnico,	nunca	mais	ético	ou	político.	Fica	assim	rompida	a	unidade	do	
saber	(SEVERINO,	1990,	p.	19).
No	 campo	 social	 supervalorizam-se	 as	 sociedades	 que	 apresentam	 alta	
urbanização,	arsenal	metalúrgico,	industrial,	científico,	bélico,	os	regimes	políticos	
com	maior	 tempo	de	experiência	política	de	república	e	democracia,	ou	seja,	as	
sociedades/nações	que	circundam	o	Mar	Mediterrâneo	e	a	costa	norte	do	Oceano	
Atlântico,	que	recebem	o	status	de	“nações	civilizadas”.
Por	outro	lado,	desvalorizam-se	os	indivíduos	e	as	sociedades/comunidades	
tradicionais,	 as	 quais	 se	 encontram	 regidas	por	 princípios	milenares,	 que	 estão	
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
131
fixadas	 em	 regiões	 rurais,	 sustentadas	 em	 atividades	 agrícolas,	 artesanais	 e	
manufatureiras;	 que	 apresentam	 coesos	 sistemas	 morais	 e	 religiosos,	 que	 se	
localizam	 no	Oriente	Médio	 ou	 no	 interior	 dos	 continentes	 da	Ásia	 e	 África	 e	
América,	 que	 acabam	 por	 ser	 interpretadas	 e	 traduzidas	 como	 ‘bárbaras	 e/ou	
incivilizadas’,	retrógradas.
Em	meados	dos	séculos	XXI,	a	crise	econômica	nos	Estados	Unidos	e	na	
União	Europeia,	os	regimes	totalitários	na	Coreia	do	Norte	e	na	China,	a	perpetuação	
das	 situações	 de	 fome,	miséria,	 a	 exploração	 humana	 pelo	 sistema	 econômico,	
entre	outros,	atestam	que	os	descaminhos	do	progresso	da	humanidade	do	século	
passado	ainda	não	foram	superados,	fazendo	com	que	uma	sensação	e	sentimento	
de	mal-estar,	desconforto	e	até	mesmo	de	desencanto	se	instaure	no	imaginário	e	
nas	expectativas	dos	indivíduos	do	tempo	presente.
Eis	que	o	campo	da	filosofia	da	educação	pode	contribuir	na	identificação	
e	solução	profunda	de	tais	contextos	e	realidades,	emespecial,	no	ponto	em	que	
Severino	(1990)	afirma	que	a	educação	precisa	estar	comprometida	com	a	finalidade	
de	atribuir	sentido	à	existência	cultural	da	sociedade	histórica.
3 O CONTEXTO EDUCIONAL EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO: 
DO CÓDEX À TELA 
O	 códex	 consistiu	 nos	manuscritos	 gravados	 em	madeira	 no	 formato	 de	
livro,	que	foram	muito	utilizados	no	final	da	Idade	Média,	a	partir	do	século	XV.	
Significou	a	superação	dos	antigos	pergaminhos,	e	em	contrapartida	o	códex	 foi	
substituído	pelos	livros	em	papel,	e	agora,	mais	recentemente,	os	livros	impressos	
em	 papel	 passaram	 a	 ser	 substituídos	 pelos	 e-books	 e	 demais	 versões	 de	 livros	
digitais.
Uma	das	principais	alterações	que	a	humanidade	vivenciou	no	fim	do	século	
XX	e	início	do	século	XXI	foi	a	ampliação	do	acesso	à	informação	proporcionado	
pelos	 computadores,	 em	 especial,	 pela	 internet,	 que	 possibilitou	 uma	melhoria	
em	vários	aspectos	do	desenvolvimento	intelectual	humano,	pois	as	informações	
científicas	e	o	acesso	a	bibliotecas	e	museus	pode	ser	viabilizados	de	forma	virtual.	
Um	 estudante	 no	 Brasil,	 por	 exemplo,	 pode	 acessar	 a	 seção	 de	 obras	 raras	 da	
Biblioteca	de	Lisboa.	Todavia,	esta	alteração	na	relação	do	conhecimento	que	foi	
provocada	pela	internet	nos	posiciona	a	outra	questão:	a	autoridade	do	professor.
 
Durante	 os	 últimos	 séculos,	 o	 professor	 era	 considerado	 o	 dono	 do	
conhecimento.	Hoje,	os	educadores	não	mais	possuem	este	papel,	pois	as	alterações	
e	 descobertas	 científicas	 provocam	 questões	 nas	 quais	 as	 verdades	 científicas	
são	 questionadas	 diariamente	 nos	 periódicos,	 das	 mais	 distintas	 disciplinas	
do	 conhecimento	 humano.	 Neste	 sentido,	 os	 professores	 são	 muito	 mais	 os	
mediadores	das	relações	educacionais,	despertando	curiosidades	e	desenvolvendo	
determinadas	sensibilidades	dos	educandos	em	relação	ao	mundo	que	os	rodeia.	
132
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Com	relação	aos	acúmulos	alcançados	pela	ciência,	bem	como	os	alcances	e	
formas	de	acesso	ao	conhecimento,	leia	com	atenção	as	reflexões	que	Durant	(2009,	
p.	9)	tece:
O	 conhecimento	 humano	 tornou-se	 incontrolavelmente	 vasto;	 cada	
ciência	gerou	uma	dúzia	de	outras,	cada	qual	mais	sutil	que	as	demais;	
o	telescópio	revelou	estrelas	e	sistemas	em	número	tal,	que	a	mente	do	
homem	 não	 consegue	 contá-los	 ou	 dar-lhes	 nomes;	 a	 geologia	 falou	
em	termos	de	milhões	de	anos,	quando	os	homens,	antes	dela,	haviam	
pensado	 em	 termos	 de	 milhares;	 a	 física	 descobriu	 um	 universo	 no	
átomo,	 e	 a	 biologia	 encontrou	um	microcosmo	na	 célula;	 a	 fisiologia	
descobriu	um	mistério	 inesgotável	em	cada	órgão,	e	a	psicologia,	em	
cada	 sonho;	 a	 antropologia	 reconstruiu	 a	 insuspeitada	 antiguidade	
do	 homem,	 a	 arqueologia	 desenterrou	 cidades	 e	 estados	 esquecidos,	
a	 história	 provou	 que	 toda	 história	 é	 falsa	 e	 pintou	uma	 tela	 que	 só	
um	Spengler	ou	um	Eduard	Meyer	podia	ver	como	um	todo;	a	teologia	
desmoronou,	e	a	teoria	política	rachou;	a	invenção	complicou	a	vida	e	a	
guerra,	e	as	doutrinas	econômicas	derrubaram	governos	e	inflamaram	
o	 mundo;	 a	 própria	 filosofia,	 que	 antes	 havia	 convocado	 todas	 as	
ciências	para	ajudá-la	a	formar	uma	imagem	coerente	do	mundo	e	fazer	
um	retrato	atraente	do	bem,	achou	que	sua	tarefa	de	coordenação	era	
prodigiosa	 demais	 para	 a	 sua	 coragem,	 fugiu	 de	 todas	 essas	 frentes	
de	 batalha	 da	 verdade	 e	 escondeu-se	 em	 vielas	 obscuras	 e	 estreitas,	
timidamente	a	 salvo	dos	problemas	e	das	 responsabilidades	da	vida.	
O	conhecimento	humano	tornara-se	demasiado	para	a	mente	humana.
 
O	ensino	 a	distância	 também	passou	por	profundas	 transformações	nos	
últimos	anos,	graças	às	inovações	da	informática,	pois	uma	primeira	geração	de	
ensino	 a	distância	 acontecia	 com	os	 cursos	por	 correspondência.	Uma	 segunda	
geração,	pelos	cursos	que	utilizavam	o	rádio	e	a	 televisão	como	mediadores	do	
ensino.	Hoje,	com	os	computadores,	a	facilidade	do	acesso	à	informação	possibilitou	
uma	nova	forma	de	ensino,	com	cursos	a	distância	de	graduação	em	diversas	áreas	
do	conhecimento	humano.		
No	que	tange	à	educação	em	todos	os	níveis,	o	que	os	computadores	estão	
proporcionando	são	alterações	nos	hábitos	de	leitura	(CHARTIER,	s.d).	Pois,	temos	
uma	geração	que	está	se	 formando	que	não	são	migrantes	digitais,	mas	nativos	
digitais.	Isto	é,	ao	invés	de	leitores	de	livros	que	passam	a	se	habituar	à	internet,	
existem	 jovens	 que	 já	 possuem	na	 internet	 seu	 principal	 hábito	 de	 leitura.	Um	
aspecto	interessante	e	revolucionário	foi	a	do	fim	da	leitura	de	jornais	impressos,	
que	passam	por	dificuldades	para	se	manter.	Alguns	jornais	importantes	não	mais	
circulam	em	meios	impressos,	como	o	Jornal	do	Brasil.	
Outra	prática	de	leitura	que	se	transformou	foi	a	utilização	de	enciclopédias,	
hoje	 substituídas	 pelos	 sites	 de	 busca.	 O	 declínio	 de	 livros	 impressos	 não	 é	
necessariamente	um	problema	educacional,	porém,	as	atuais	gerações	não	possuem	
uma	carga	de	leitura	considerável	comparada	a	gerações	anteriores.	
A	 internet	e	os	computadores	ainda	são,	muitas	vezes,	 concorrentes	dos	
professores	em	seu	cotidiano	escolar.	Cabe	às	atuais	gerações	de	educadores,	que	
se	 formam	nas	universidades,	 vencer	o	desafio	de	 transformar	 a	 tecnologia	 em	
uma	poderosa	aliada	da	educação	no	Brasil.	
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
133
As	 universidades,	 em	 sua	 origem	 etimológica,	 significam	 justamente	
pensamento	universalizado.	Como	podemos	observar,	as	universidades,	desde	o	
seu	surgimento	na	Idade	Média,	estão	relacionadas	às	relações	de	poder	no	interior	
das	fronteiras	dos	Estados	Nacionais.	Isto	porque	o	conhecimento	sempre	foi	uma	
arma	poderosa	nas	relações	de	poder.	
As	 diversas	 ciências	 que	 surgem	 com	 o	 desenvolvimento	 secular	 das	
universidades	nos	apresentaram	para	a	humanidade	melhorias	 incalculáveis	na	
qualidade	 de	 vida	 cotidiana,	 no	 desenvolvimento	 das	 condições	 de	 saúde	 das	
pessoas.	 Também	 são	 frutos	 do	 desenvolvimento	 técnico-científico	 em	 geral,	
relacionados	às	universidades,	os	terríveis	armamentos	que	podem	dizimar	a	vida	
humana	por	diversas	vezes.
4 IMPLICAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE NO CONTEXTO 
EDUCACIONAL
As	reflexões	de	Fromm	(1987)	se	fazem	pertinentes	no	ponto	em	que	ele	
discute	 que	 a	 técnica	 nos	 tornou	 onipotentes	 (pode-se	 tudo);	 a	 ciência	 nos	 fez	
oniscientes	 (sabe-se	 tudo).	 O	 homem	 moderno	 e	 contemporâneo	 encontra-se	
ávido	e	sedento	por	mais,	e	alcançar	cada	vez	níveis	mais	específicos,	profundos	
e	complexos;	a	partir	de	então,	a	natureza,	os	corpos	e	os	materiais	tinham	de	ser	
‘acossados	em	seus	descaminhos’,	‘obrigados	a	servir’	e	‘escravizados’.	O	comando	
foi	o	de	‘reduzir	à	obediência’,	e	o	objetivo	do	cientista	foi	de	‘extrair	da	natureza,	
sob	tortura,	todos	os	seus	segredos’	(CAPRA,	1982).
A	visão	do	mundo	e	da	vida	moderna	e	que	ainda	prevalece	nos	tempos	
contemporâneos	foi	conduzida	a	partir	de	duas	distinções	fundamentais,	entre	o	
conhecimento	científico	e	o	conhecimento	do	senso	comum,	por	um	lado,	e	entre	
a	 natureza	 e	 a	 pessoa	 humana,	 por	 outro,	 ambos	 completamente	 dissociados	
(SANTOS,	1995).
No	 campo	metodológico	 da	 construção	 do	 conhecimento	 foi	 observada	
uma	 espécie	 de	 aversão	 à	 dúvida,	 a	 precipitação	 nas	 respostas,	 o	 pedantismo	
cultural,	o	receio	de	contradizer,	a	parcialidade,	a	negligência	na	pesquisa	social,	o	
fetichismo	verbal,	a	tendência	a	dar-se	por	satisfeito	com	conhecimentos	parciais,	
o	que	 impediu	o	entendimento	humano	de	estabelecer	uma	relação	profunda	e	
conciliadora	com	a	natureza	das	coisas,	e	foram,	em	vez	disso,	responsáveis	por	
constituir	uma	ligação	com	conceitos	fúteis,	amorais	e	experimentos	não	planejados	
(ADORNO;	HORKHEIMER,	2000).
Na	 modernidade,	 o	 objetivo	 da	 ciência	 era	 o	 domínio	 e	 o	 controle	 da	
natureza,	afirmandoque	o	conhecimento	científico	podia	ser	usado	para	 tornar	
o	 homem	 o	 senhor	 e	 dominador	 da	 natureza.	 O	 rigor	 científico	 encontrava-
se	 fundado	no	 rigor	matemático,	um	rigor	que	quantifica	e	que,	ao	quantificar,	
desqualifica,	um	rigor	que,	ao	objetivar	os	fenômenos,	os	objetualiza	e	os	degrada,	
que,	ao	caracterizar	os	fenômenos,	os	caricaturiza	(SANTOS,	1999).
134
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Nestes	termos,	o	conhecimento	ganhou	em	rigor,	mas	perdeu	em	riqueza,	
relevância	 e	 justificativa	 social;	 por	 outro	 lado,	 a	 retumbância	 dos	 êxitos	 da	
intervenção	tecnológica	escondeu	os	limites	da	nossa	compreensão	do	mundo,	e	
reprimiu	a	pergunta	pelo	valor	e	sentido	humano	e	científico.	
A	 pós-modernidade	 é	 um	 conceito	 em	 debate	 nas	 ciências	 humanas	 e	
pretende	classificar	o	mundo	da	atualidade,	no	qual	as	antigas	estruturas	sociais,	
com	o	Estado,	as	indústrias,	as	famílias,	que	eram	instituições	sólidas,	verdadeiros	
pilares	na	sociedade	ocidental,	vêm	sendo	profundamente	questionadas.	Alguns	
teóricos	apresentam	o	mundo	atual	como	um	processo	de	transformação	rápida	
e	veloz	das	estruturas	sociais,	no	qual	a	pluralidade	de	ideias,	ações	e	práticas	se	
revela	uma	realidade	presente.	
É	difícil	estabelecer	uma	data	de	início	da	pós-modernidade.	Mas,	de	toda	
forma,	o	pós-guerra	e	as	transformações	nos	costumes	vivenciadas	nos	anos	1960	
nos	demonstram	um	mundo	que	não	mais	crê	nos	valores	iluministas,	pois	uma	
ideia	universalizante,	na	qual	o	Estado	é	tripartite	como	no	modelo	de	Montesquieu,	
mostra	limites	devido	à	descrença	nos	políticos,	devido	aos	constantes	escândalos	
de	corrupção.
 
As	 tendências	 pós-modernas	 trouxeram	 em	 sua	 essência	 aspectos	 que	
tratam	 da	 heterogeneidade,	 fragmentação,	 subjetividade	 e	 relatividade,	 que	
podem	ser	 entendidos	 como	o	 estágio	 e	 a	metamorfose	mais	 sublime	da	 época	
moderna	(DIEHL;	TEDESCO,	2001).
No	 campo	 cultural,	 a	 pós-modernidade	 se	 caracterizou	 por	 projetos	
que	 revisitaram	outras	 épocas	 e	períodos	históricos;	de	onde	 trouxeram	para	o	
momento	presente	e	de	forma	atualizada	estilos,	conceitos;	outro	projeto	também	
foi	o	de	repaginar	um	determinado	cenário	e	contexto,	muito	distante	e	diferente	
do	que	foi	e	como	existia	no	original.	Muitas	vezes,	neste	processo,	o	que	ocorre	é	
a	perda	da	essência,	a	coerência	e	a	capacidade	de	originalidade	das	manifestações	
artísticas	atuais.
No	campo	dos	movimentos	sociais	é	possível	relacionar,	dos	anos	de	1960,	
o	feminismo,	os	panteras	negras	e	movimentos	ecológicos,	os	chamados	“novos	
movimentos	 sociais”,	 juntamente	 com	 as	 revoltas	 estudantis,	 de	 contracultura	
e	 antibelicistas,	 que	 reclamavam	 pelo	 retorno	 às	 lutas	 pelos	 direitos	 civis,	 os	
movimentos	revolucionários	do	terceiro	mundo,	as	questões	pela	paz,	entre	outros.
Nestes	 movimentos	 pode-se	 indicar	 que	 o	 feminismo	 contribuiu	 para	
o	 reconhecimento	de	outros	grupos	no	 interior	da	 sociedade	e	da	política,	mas	
também	favoreceu	diretamente	a	fragmentação	conceitual	do	sujeito,	nas	relações	
que	 se	 estabeleciam	do	 campo	público	 ao	 privado,	 do	 trabalho	 ao	 lar,	 da	 vida	
profissional	à	vida	pessoal,	divisão	doméstica	do	trabalho;	no	campo	de	atuação	
política,	da	família,	da	sexualidade,	ao	cuidado	das	crianças,	entre	outros	aspectos,	
no	ponto	em	que	tomou	para	si	a	luta	específica	das	mulheres,	desarticulado	de	
uma	 luta	maior	 de	melhoria	 das	 condições	 e	 dignidade	 humana;	 bem	 como	 o	
movimento	ambientalista,	que	tem	suas	ações	pautadas	somente	nas	questões	que	
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
135
dizem	respeito	à	natureza,	desarticuladas	de	uma	preocupação	maior	para	o	ser	
humano	que	também	compõe	o	mesmo	meio.
 
O	desenvolvimento	das	máquinas	artificiais	rumo	à	autonomia	crescente	
e	 à	 auto-organização	 e	 o	 desenvolvimento	 futuro	 das	 inteligências	 artificiais	
fazem-nos	 imaginar	a	era	das	metamáquinas	que,	associadas	às	micromáquinas	
nas	 nanotecnologias,	 liberariam	 os	 seres	 humanos	 de	 todas	 as	 obrigações	
secundárias	e	tarefas	subalternas,	permitindo-lhes	viver	poeticamente,	dedicar-se	
ao	desenvolvimento	moral	e	espiritual.	Mas	percebe-se	a	permanência	de	sistemas	
totalitários,	a	concentração	de	renda	e	riqueza,	a	exploração	do	trabalho,	a	violação	
dos	direitos	humanos,	intolerâncias	religiosas,	questões	raciais	e	de	gênero	cada	
vez	mais	acirradas	(MORIN,	2007).
Ideias	 e	 valores	 absolutos	 são	 relativizados.	 O	 relativismo	 é	 uma	 das	
principais	marcas	do	nosso	 tempo,	 no	 qual	 os	 valores	 sociais,	 como	o	 trabalho	
e	 a	 família,	 já	 não	 são	 considerados	 absolutos,	 mas,	 por	 vezes,	 preteridos	 por	
valores	como	o	lucro	fácil	e	a	fama,	a	popularidade.	Estes	valores	relativistas	a	que	
muitos	estudantes	foram	formados	revelam	um	choque	com	os	antigos	conceitos	
educacionais.	
O	modelo	de	educação	escolar	tradicional	vem	sendo	criticado	nos	últimos	
30	anos	por	diversos	intelectuais,	das	mais	distintas	correntes	teóricas.	Uma	espécie	
de	mal-estar	docente	invade	as	salas	de	aula	pelo	país.	Em	grande	parte,	devido	às	
distintas	formas	de	ensinar	em	um	mundo	em	que	a	velocidade	de	informação	é	
maior	que	as	atualizações	curriculares.	
Um	dos	primeiros	intelectuais	a	diagnosticar	este	problema	foi	o	sociólogo	
marxista	 francês	 Louis	Althusser.	 No	 livro	 "A ideologia e os aparelhos ideológicos 
de estado",	 afirmava	 a	 escola	 como	 um	 local	 no	 qual	 os	 professores	 eram	 os	
propagadores	 das	 ideias	 que	 mantinham	 o	 Estado	 como	 um	 agente	 da	 classe	
burguesa,	 ao	 inculcar	 ideias	de	 submissão	dos	 seres	humanos.	Uma	 submissão	
ao	patrão,	ao	padre	da	paróquia,	ao	oficial	do	serviço	militar,	que	nasceu	de	uma	
submissão	incontida	aos	professores	nas	escolas.	
Um	sociólogo	argelino,	Pierre	Bourdieu,	 com	base	na	 tese	de	Althusser,	
buscou	ampliar	sua	percepção.	No	livro	A reprodução,	afirmava	não	ser	a	escola	
um	lugar	pensante,	mas	um	mero	centro	reprodutor	de	informações	aos	quais	os	
alunos	deveriam	apenas	memorizar,	sem	a	ela	apresentar	reflexão.	Esta	excessiva	
memorização	não	levaria	à	construção	de	cidadãos	conscientes,	mas	de	homens	e	
mulheres	obedientes	aos	ditames	do	Estado.	
As	 temáticas	 abordadas	 por	 Foucault	 favoreceram	 contemplar	 a	
subjetividade,	 os	modos	de	 viver	 e	 fazer,	 os	 hábitos,	 os	 costumes,	 os	 valores	 e	
as	 tradições;	deixando	de	 lado	a	partir	de	então	os	grandes	 temas/pesquisas	da	
História	política,	econômica	e/ou	as	grandes	sínteses	da	História	Social	(DIEHL,	
1993).
136
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Na	 obra	 de	 Foucault	 encontra-se	 uma	 forte	 crítica	 aos	 processos	 de	
modernização	da	sociedade,	bem	como	as	estruturas	dos	governos	que	procuravam	
racionalizar	de	forma	esmagadora	os	indivíduos.	Diante	disto,	pesquisou	a	história	
do	ensino,	do	saber,	a	epistemologia	das	palavras,	a	hermenêutica;	a	história	da	
loucura,	as	 teorias	psiquiátricas,	os	espaços	de	manicômios,	asilos,	hospitais;	as	
teorias	penais	 e	 a	 arquitetura	de	prisões,	 o	nascimento	da	biopolítica,	 o	Estado	
regulador,	o	controle	sobre	o	território	e	a	população,	do	final	do	século	XVIII	e	
início	do	XIX,	e	as	apresenta	como	instituições	disciplinares	das	condutas	e	dos	
comportamentos	sociais.	
Para	 o	 filósofo	Michael	 Foucault,	 a	 escola	 era	 um	 local,	 assim	 como	 os	
quartéis,	 que	 visavam	 à	 construção	de	 corpos	dóceis.	 Por	 corpos	dóceis	 busca-
se	 compreender	 a	 relação	 de	 submissão	 que	 os	 homens	 possuem	 perante	 as	
instituições	do	Estado,	um	dos	fatores	a	explicar	a	convocação	para	os	exércitos,	
ou	mesmo,	 a	 relação	de	 entrega	de	um	paciente	perante	um	médico.	A	 função	
da	escola	enquanto	instituição,	de	formar	corpos	dóceis,	seria	a	de	internalizar	a	
disciplina,	não	apenas	como	valor	abstrato,	mas	como	uma	expressão	cotidiana	
dos	homens	e	dasmulheres	quando	adultos.
 
Entre	os	pensadores	da	escola	podemos	destacar	Perrenoud,	que	escreveu	
o	livro	"As 10 novas competências para ensinar".	Buscou	este	educador	suíço	lembrar	
a	 importância	do	professor	 como	um	agente	 que	 lidera	 o	desencadeamento	do	
processo	educativo.	
Em	Portugal,	por	meio	da	Escola	da	Ponte,	na	Vila	das	Aves,	surgiu	uma	
proposta	 educacional	 diferenciada,	 tendo	 como	 formulador	 o	 professor	 José	
Pacheco,	que	buscou	criar,	na	Escola	da	Ponte,	uma	nova	fórmula	de	ensino,	na	
qual	os	estudantes	possuem	maior	liberdade	na	escolha	dos	conteúdos	e	temáticas	
a	serem	desenvolvidos,	ou	seja,	em	que	a	autonomia	dos	estudantes	foi	levada	a	
cabo.	
 
O	fato	de	vivermos	uma	verdadeira	revolução	em	matéria	de	informações,	
mais	um	problema,	se	 torna	um	salutar	desafio	aos	docentes	das	mais	distintas	
disciplinas,	pois,	ao	invés	de	se	trabalhar	com	a	excessiva	memorização,	o	acesso	
a	informações	permite	ao	professor	construir	e	incentivar	atitudes	reflexivas	nos	
educandos.	 Como	 veremos,	 estas	 transformações	 atingem	 diversos	 níveis	 de	
ensino.	
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
137
EDUCAÇÃO INTEGRAL
Para maiores informações sobre o projeto de José Pacheco, acesse o site que indicamos 
a seguir:
Centro de referência em Educação Integral: 
Disponível em: <http://educacaointegral.org.br/experiencias/escola-da-ponte-radicaliza-
ideia-de-autonomia-dos-estudantes/>. 
FILME 
 AO MESTRE COM CARINHO é um clássico do cinema de Hollywood e retrata o cotidiano 
de um professor comprometido com os seus alunos. Obras cinematográficas como esta 
nos revelam a noção de quanto o engajamento de um educador pode mudar a realidade 
de muitos estudantes. 
LIVRO
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. 22. ed. São Paulo: Cultrix, 1992. 447 p.
Capra é um estudioso da física, ciência e das questões ambientais contemporâneas. Nesta 
obra, o autor discute a crise dos paradigmas modernos, os modelos de Newton e Descartes, 
as concepções mecanicistas da sociedade, os problemas econômicos mundiais, o lado 
sombrio do crescimento, as concepções alternativas de vida e sociedade.
O livro encontra-se na íntegra e em pdf disponível em: 
<http://pt.scribd.com/doc/5014979/O-ponto-de-mutacao>.
FILME
O ponto de mutação/Mindwalk. Bernt A. Capra, Estados Unidos, 1990. Cor
O longa-metragem é dirigido por Bernt A. Capra, irmão de Fritjof Capra, autor do livro de 
mesmo nome, que foi publicado em 1982. 
Através dos personagens de um poeta (angustiado com o sentido e a falta de sentido da vida 
humana), um político liberal (que experimenta uma crise por não ter vencido as eleições) 
e uma física (que se encontra frustrada por ver suas experiências e conhecimentos sendo 
pervertidos e utilizados para fins militares e de destruição), o filme aborda a trajetória e 
as implicações do conhecimento humano a partir das teorias científicas do século XV no 
âmbito da física, economia, política, psicologia, ecologia etc., que serão implementadas na 
modernidade e que se encontram ainda em voga na atualidade.
O filme encontra-se disponível com legenda em português em: <http://www.youtube.com/
watch?v=7tVsIZSpOdI>. 
DICAS
DICAS
DICAS
DICAS
138
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Caro	 acadêmico!	 Atente	 para	 a	 leitura	 complementar.	 Trata-se	 de	 um	
texto	 que	 contempla	 as	 principais	 abordagens	 que	 se	 encontram	 no	 pano	 de	
fundo	do	 fazer	 educacional.	As	abordagens	filosóficas	 educacionais	 encontram-
se	 relacionadas	 com	 as	 filosofias	 gerais,	 que	 foram	 apresentadas	 na	 leitura	
complementar	do	Tópico	1	desta	unidade.	As	abordagens	filosóficas	educacionais	
são	colocadas	em	prática	no	momento	de	transpor	o	conhecimento	científico	para	
a	realidade	das	salas	de	aula.	Para	tanto,	vamos	conhecer	melhor	cada	uma	delas,	
reforce	a	atenção	e	prossiga	na	leitura:
LEITURA COMPLEMENTAR
ABORDAGENS	FILOSÓFICAS	EDUCACIONAIS
Kevin	Daniel	dos	Santos	Leyser
Dentre	as	abordagens	filosóficas	educacionais	prevalecem	o	Perenialismo,	o	
Essencialismo,	o	Progressismo	e	o	Reconstrucionismo.	Essas	filosofias	educacionais	
fornecem	elementos	essenciais	do	que	se	deve	ensinar	e	são	fundamentais	no	que	
diz	respeito	aos	componentes	curriculares	escolares.	Vamos	estudar	e	aprofundar	
cada	uma	delas:
1- Perenialismo
Para	 os	 perenialistas,	 o	 objetivo	 da	 educação	 é	 garantir	 que	 os	 alunos	
adquiram	 compreensão	 sobre	 as	 grandes	 ideias	 da	 civilização	 ocidental.	 Essas	
ideias	têm	o	potencial	para	resolver	problemas	em	qualquer	época.	O	foco	é	ensinar	
ideias	que	são	eternas,	para	buscar	verdades	duradouras	que	são	constantes	e	não	
mudam,	como	os	mundos	naturais	e	humanos	em	seu	nível	mais	essencial	não	
mudam.	Ensinar	esses	princípios	imutáveis			é	crítico.	Os	seres	humanos	são	seres	
racionais,	e	suas	mentes	precisam	ser	desenvolvidas.	Assim,	o	cultivo	do	intelecto	
é	a	mais	alta	prioridade	de	uma	educação	que	vale	a	pena.	O	currículo	exigente	
centra-se	 na	 obtenção	 de	 alfabetização	 cultural,	 enfatizando	 o	 crescimento	 dos	
alunos	em	disciplinas	duradouras.	As	realizações	mais	sublimes	da	humanidade	
são	enfatizadas	–	as	grandes	obras	da	literatura	e	da	arte,	as	leis	ou	os	princípios	da	
ciência.	Advogados	dessa	filosofia	educacional	são	Robert	Maynard	Hutchins,	que	
desenvolveu	o	programa	Grandes	Obras	em	1963,	e	Mortimer	Adler,	que	avançou	
ainda	mais	este	currículo	baseado	em	100	grandes	obras	da	civilização	ocidental.
2- Essencialismo
Os	 essencialistas	 acreditam	que	há	um	núcleo	 comum	de	 conhecimento	
que	 precisa	 ser	 transmitido	 aos	 alunos	 de	 forma	 sistemática	 e	 disciplinada.	A	
ênfase	nesta	perspectiva	conservadora	é	sobre	padrões	intelectuais	e	morais	que	
as	 escolas	 devem	 ensinar.	O	 núcleo	do	 currículo	 é	 conhecimento	 e	 habilidades	
essenciais	e	rigor	acadêmico.	Embora	essa	filosofia	educacional	seja	semelhante,	
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
139
de	 certa	 forma,	 ao	 perenialismo,	 os	 essencialistas	 aceitam	 a	 ideia	 de	 que	 esse	
currículo	pode	mudar.	A	escolaridade	deve	ser	prática,	preparando	os	alunos	para	
se	tornarem	membros	valiosos	da	sociedade.	Ela	deve	se	concentrar	em	fatos	–	a	
realidade	objetiva	lá	fora	–	e	"o	básico",	a	formação	dos	alunos	para	ler,	escrever,	
falar	 e	 calcular	 clara	 e	 logicamente.	 As	 escolas	 não	 devem	 tentar	 definir	 ou	
influenciar	as	políticas.	Aos	alunos	devem	ser	ensinados	o	trabalho,	o	respeito	pela	
autoridade	e	a	disciplina.	Os	professores	devem	ajudar	os	alunos	a	manter	seus	
instintos	não	produtivos	sob	controle,	como	a	agressividade	ou	a	insensatez.	Esta	
abordagem	 desenvolveu-se	 em	 reação	 às	 abordagens	 progressistas	 prevalentes	
nas	décadas	de	1920	e	1930.	William	Bagley	desafiou	as	abordagens	progressistas	
no	periódico	que	ele	 inaugurou	em	1934.	Outros	proponentes	do	essencialismo	
são:	James	D.	Koerner,	H.	G.	Rickover,	Paul	Copperman	e	Theodore	Sizer.
3- Progressismo
Os	progressistas	acreditam	que	a	educação	deve	se	concentrar	em	toda	a	
criança,	e	não	no	conteúdo	ou	no	professor.	Esta	filosofia	educacional	enfatiza	que	
os	alunos	devem	testar	ideias	através	da	experimentação	ativa.	A	aprendizagem	
está	 enraizada	nas	questões	dos	alunos	que	 surgem	ao	experimentar	o	mundo.	
É	ativa,	não	passiva.	O	aluno	é	um	solucionador	de	problemas	e	pensador	que	
faz	 sentido	 através	 de	 sua	 experiência	 individual	 no	 contexto	 físico	 e	 cultural.	
Professores	eficazes	fornecem	experiências	para	que	os	alunos	possam	aprender	
fazendo.	O	conteúdo	do	currículo	é	derivado	dos	interesses	e	perguntas	dos	alunos.	
O	método	 científico	 é	 usado	 por	 educadores	 progressistas	 para	 que	 os	 alunos	
possam	estudar	a	matéria	e	os	eventos	 sistematicamente	e	em	primeira	mão.	A	
ênfase	está	no	processo	–	como	se	conhece.	A	filosofia	da	educação	progressiva	foi	
estabelecida	na	América	desde	meados	da	década	de	1920	até	meados	dos	anos	
1950.	John	Deweyfoi	seu	principal	proponente.	Um	de	seus	princípios	era	que	a	
escola	deveria	melhorar	o	modo	de	vida	dos	nossos	cidadãos	através	da	experiência	
da	liberdade	e	da	democracia	nas	escolas.	A	tomada	de	decisão	compartilhada,	o	
planejamento	de	professores	com	alunos,	os	tópicos	selecionados	pelos	alunos	são	
todos	aspectos	desta	abordagem.	Os	livros	são	ferramentas,	e	não	autoridade.
4- Reconstrucionismo/Teoria Crítica
O	reconstrucionismo	social	 é	uma	filosofia	que	enfatiza	o	 tratamento	de	
questões	sociais	e	uma	busca	para	criar	uma	sociedade	melhor	e	uma	democracia	
mundial.	 Educadores	 reconstrucionistas	 se	 concentram	 em	 um	 currículo	 que	
destaca	a	reforma	social	como	o	objetivo	da	educação.	Theodore	Brameld	(1904-
1987)	 foi	 o	 fundador	 do	 reconstrucionismo	 social,	 em	 reação	 às	 realidades	 da	
Segunda	Guerra	Mundial.	Ele	reconheceu	o	potencial	para	a	aniquilação	humana	
através	da	tecnologia	e	crueldade	humana	ou	a	capacidade	de	criar	uma	sociedade	
beneficente	 usando	 a	 tecnologia	 e	 a	 compaixão	 humana.	George	Counts	 (1889-
1974)	reconheceu	que	a	educação	era	o	meio	de	preparar	as	pessoas	para	criar	essa	
nova	ordem	social.
Os	teóricos	críticos,	como	os	reconstrucionistas	sociais,	acreditam	que	os	
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UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
sistemas	devem	ser	mudados	para	 superar	 a	opressão	 e	melhorar	 as	 condições	
humanas.	 Paulo	 Freire	 (1921-1997)	 foi	 um	brasileiro	 cujas	 experiências	 vivendo	
na	pobreza	o	 levaram	a	defender	a	educação	e	a	alfabetização	como	veículo	de	
mudança	 social.	 Em	 sua	 opinião,	 os	 seres	 humanos	 devem	 aprender	 a	 resistir	
à	 opressão	 e	 não	 se	 tornar	 suas	 vítimas,	 nem	 oprimir	 os	 outros.	 Para	 isso	 são	
necessários	 o	diálogo	 e	 a	 consciência	 crítica,	 o	desenvolvimento	da	 consciência	
para	superar	a	dominação	e	a	opressão.	Ao	 invés	de	"ensino	bancário",	no	qual	
o	educador	deposita	informações	nas	cabeças	dos	alunos,	Freire	viu	o	ensino	e	a	
aprendizagem	como	um	processo	de	investigação	em	que	a	criança	deve	inventar	
e	reinventar	o	mundo.
Para	os	reconstrucionistas	sociais	e	teóricos	críticos,	o	currículo	concentra-
se	na	experiência	dos	alunos	e	na	ação	social	em	problemas	reais,	como	a	violência,	
a	fome,	o	terrorismo	internacional,	a	inflação	e	a	desigualdade.	As	estratégias	para	
lidar	com	questões	controversas	(particularmente	em	estudos	sociais	e	literatura),	
inquérito,	diálogo	e	múltiplas	perspectivas	são	o	foco.	A	aprendizagem	baseada	na	
comunidade	e	a	inserção	do	mundo	na	sala	de	aula	são	também	estratégias.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Ao longo do tópico, você pôde compreender que:
•	 Entre	os	principais	desafios	educacionais	da	época	contemporânea	estão	os	de	
erradicar	o	analfabetismo,	doenças	e	epidemias,	atuar	na	garantia	dos	direitos	
humanos,	na	emancipação	e	realização	humana.
•	 	Os	espaços	considerados	formadores	e	de	referência	em	educação	são	governos,	
autoridades,	 unidades	 escolares,	 instituições	 de	 ensino	 nos	 mais	 diferentes	
níveis,	instituições	não	escolares,	organizações	não	governamentais,	entidades	e	
a	sociedade	civil.
•	 Os	 ideais	de	progresso,	democracia,	 inclusão,	 liberdade	são	 traduzidos	como	
resultantes	do	trabalho,	consumo	e	do	domínio	de	tecnologias.
•	 A	 realidade	 dos	 primeiros	 anos	 do	 século	 XXI	 é	 de	 concentração	 de	 renda,	
desigualdades	 sociais,	 exploração	 humana,	 destruição	 da	 natureza,	 crises	
econômicas	e	problemas	políticos.
•	 Ocorre	ampla	valorização	dos	modelos	científicos.	A	matéria	e	a	tecnologia	são	
valorizadas	como	saberes	populares,	dissociação	com	a	natureza	e	o	homem,	em	
que	o	homem	é	responsável	por	predar,	dominar	e	extrair	da	natureza	tudo	o	
que	é	necessário.	
•	 Os	governos,	 as	 indústrias,	 as	 famílias	 e	 a	 Igreja	deixaram	de	 ser	 referências	
sólidas	 e,	 em	 contrapartida,	 novas	 estruturas	 e	 movimentos	 sociais	 têm	
emergido,	tais	como	movimentos	étnicos,	feminista	e	ambientalista.
•	 O	relativismo	de	valores	culturais	e	sociais,	e	a	 legitimação	dos	princípios	de	
lucro	fácil,	sucesso	financeiro	e	material,	prestígio	midiático	e	fama.
•	 Para	Michael	Foucault,	a	escola	contribuiu	para	a	formação	de	corpos	dóceis,	
semelhante	à	disciplina	no	 interior	de	quartéis	e	da	 relação	entre	pacientes	e	
médicos.
•	 Os	 computadores,	 a	 internet	 e	 os	 aparelhos	 telefônicos	 móveis	 estão	 muito	
presentes	no	cotidiano	escolar,	porém	ainda	não	foram	implementadas	soluções	
eficientes	de	ensino	e	aprendizagem	com	eles.
142
1-	 Na	 época	 contemporânea,	 vários	 fatos	 marcam	 a	 luta	 de	 sujeitos,	
grupos	e	categorias	que	até	então	não	haviam	tido	vez	e	voz	no	interior	da	
sociedade	e	das	instituições	políticas.	Os	novos	grupos	que	agora	alcançaram	
representatividade	 são	 indicados	 como	 responsáveis	 por	 promover	 uma	
espécie	de	‘política	das	identidades’	e	acabaram	por	formar	guetos,	redutos,	
separatismos	e	unidades	específicas	e	circunscritos	a	uma	causa	somente.	Que	
grupos/movimentos	são	estes?
a)	 (	 )	 Movimentos	pacifistas,	ambientalistas,	antirracistas	e	feministas.
b)	 (	 )	 Grupos	 de	 peregrinos	 e	 romeiros	 que	 almejam	difundir	 os	 dogmas	
religiosos.
c)	 (	 )	 Movimentos	 que	 se	 expressam	 por	 meio	 das	 mídias	 eletrônicas	 e	
aplicativos	em	celulares.
d)	(	 )	 Grupos	de	guerrilheiros	e	comandos	armados	que	detém	o	controle	de	
determinada	região	e	população.
2	 A	pós-modernidade	foi	responsável	por	atribuir	inúmeras	transformações	
ao	contexto	da	educação	e	do	ensino	da	nossa	época.	A	pós-modernidade	é	
interpretada	 como	um	período	que	ganhou	 expressão	 a	partir	dos	 anos	de	
1960,	ficou	marcada	por	promover	mudanças	e	fazer	problematizações	às	ex-
plicações	e	instituições	da	época	moderna,	que	ainda	se	perpetuam	em	meio	à	
sociedade	atual.	Diante	disso,	disserte	sobre	as	repercussões	e	os	impactos	das	
concepções	pós-modernas	no	campo	educacional	contemporâneo.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 1

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