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VERTENTES HISTORIOGRÁFICAS NO SÉCULO XX AULA 3 Prof. Alexandre Olsemann 2 CONVERSA INICIAL Em continuidade ao estudo de nossa disciplina, vamos conhecer o pensamento e alguns aspectos biográficos de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Nesse contexto, você vai estudar os conceitos-chave propostos por essas duas personalidades que influenciaram o modo de pensar da época, a saber: luta de classes, modo de produção e materialismo. Para buscar uma melhor compreensão desses conceitos, vamos contextualizar a Inglaterra do século XIX e esmiuçar as mudanças desse período de industrialização. Ao longo de nosso estudo, você conhecerá os diferentes movimentos que dialogaram com o marxismo e as várias vertentes que surgem desse movimento. TEMA 1 – MARX E ENGELS – TRAJETÓRIA De início, é importante mencionar alguns pontos sobre a biografia de Karl Marx e Friedrich Engels. Ambos de origem germânica, vivenciaram as enormes mudanças sociais e políticas que varreram a Europa e influenciaram o pensamento na política e em diversas áreas do conhecimento. Figura 1 – Monumento de Karl Marx e Friedrich Engels, na região central de Berlim, capital da Alemanha Crédito: Hydebrink/Shutterstock 3 Propuseram um olhar sobre determinado ponto da história, pensando a população de forma geral e os elementos econômicos, estabelecendo o que chamamos de história crítica. Esse pensamento surge em oposição aos preceitos da história positivista. Como vimos anteriormente, esse viés mais crítico também aparece na Escola de Annales, na primeira e na segunda geração. Essa concepção crítica da história opõe-se à concepção positivista, à medida em que compreende e trabalha os chamados grandes processos da história, lidando com períodos que são relativamente mais longos e com grandes estruturas, que têm relação com mudanças mais lentas que são trabalhadas no nível econômico. Ao invés de se trabalhar com uma história mais pontual, factual, a história apenas de um elemento, como uma personalidade ou uma referência política, grandes processos passam a ser pensados. Nesse sentido, observamos que a concepção de história total ou global, à medida que se aproxima das ideias da Escola dos Annales, se distancia da visão positivista dos estudos e registros historiográficos. O ideário de Marx e Engels influenciou os estudos e as produções acadêmicas em diferentes áreas, como a sociologia, antropologia, filosofia etc. “Karl Marx e Friedrich Engels foram uma das mais importantes duplas intelectuais da História do mundo. A teoria desenvolvida pelos dois tornou-se a base para o comunismo que molda visões até os dias de hoje, sendo o principal fruto dessa parceria” (Barreiros, 2020). Para a historiografia, o pensamento marxista influenciou gerações de historiadores. Marx entendia a história como uma ciência em processo de elaboração permanente. Em consonância com esse entendimento, podemos pensar que a todo momento há uma modificação contínua da história. Marx e Engels propõem que o vetor modificador da história se refere à maneira como o homem produz e se organiza dentro de determinado período, considerando o embate que se dá entre diferentes (para não dizer antagônicos) grupos sociais. Nesse momento de nosso estudo, convém contextualizar o cenário da Europa na segunda metade do século XIX, com as mudanças que aconteceram na Inglaterra na chamada Segunda Fase da Revolução Industrial. Marx e Engels vivenciam esse momento de revolução, durante o qual observam o fosso que se 4 estabelece entre dois grupos sociais, definidos como classes: o proletariado, figura histórica daquele que vende a sua mão de obra para alguém que detém o meio de produção, a burguesia. Considerando esse embate entre as classes, Marx e Engels estruturam os seus estudos, com base nos quais propõem conceitos que buscam entender os elementos históricos que constituem a sociedade capitalista industrial inglesa. Saiba mais A leitura da obra Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, é de grande valia para você conhecer esse pensamento que tanto influenciou a nossa sociedade. Já traduzida e publicada por várias editoras, a obra também está disponível em domínio público. Acesse o link para conhecer: MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. Portal Domínio Público, 2021. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=2273> Acesso em: 4 set. 2021 É importante mencionarmos que, no tempo em que Marx e Engels viveram e constituíram suas teorias sobre a organização binária proletariado/burguesia na Inglaterra, acontecia na Rússia, em 1917, uma experiência concreta, a Revolução Russa. Conforme avançamos em nosso estudo, veremos como esse movimento se constituiu. TEMA 2 – CONCEITOS-CHAVE As reflexões e estudos de nossa disciplina têm buscado contextualizar as teorias e os momentos históricos em que foram propostas. Agora, vamos estudar os conceitos-chave do marxismo. Vamos lá! Se olhamos para o modo como as sociedades humanas se organizam, um elemento fundamental de análise é o estabelecimento da produção material em uma determinada região e em um dado momento histórico. Diante disso, podemos afirmar que a produção material é fundamental para entender os processos históricos e os conceitos-chave fundamentais da teoria marxista. Segundo Marx e Engels, o motor da sociedade é a luta de classe. Trata- se de um vetor de modificação que, sob o olhar da teoria marxista, é um elemento presente em todos os processos de transformação das sociedades ou 5 civilizações. Mas como podemos esmiuçar esse entendimento? Se pensamos no escravismo, feudalismo ou capitalismo, por exemplo, há um embate entre a classe que detém os meios de produção e a classe que emprega a sua mão de obra na produção material. Com esse entendimento, é importante reconhecer que, de acordo com a teoria marxista, essas estruturas chegariam a um processo revolucionário, ou ainda seriam desenvolvidos outros métodos em direção a uma sociedade sem classes, sem distinções entre proletariado e burguesia. Podemos afirmar que, na concepção marxista, teríamos um modelo socialista. Depois, com outras mudanças estruturais, seguiríamos para um modelo definido como comunismo, estágio marcado pela total eliminação das classes. Aqui, devemos retomar o conceito de classe com a concepção de estratificação. Ao analisar diferentes períodos históricos, veremos grupos estratificados (dominantes e dominados), que de diferentes maneiras acabam por estabelecer relações com base no viés daqueles que detêm os meios de produção sobre aqueles que são tutelados. Figura 2 – “Pirâmide do Sistema Capitalista", cartum americano de 1911, baseado no desenho russo da Pirâmide Social, por Nicolas Lokhoff, de 1901 Crédito: CC/PD. Ao olhar para essa estratificação, Marx e Engels definiam os elementos estruturais como sendo de ordem econômica e política. As categorias analíticas eram classe, luta de classes, modo de produção e mais valia. Sobre os modos de produção, a teoria marxista os define como a soma das forças produtivas e das relações de produção. Assim, podemos pensar na 6 noção de trabalho, situação em que a mão de obra vendida é associada aos meios de produção. As relações de produção referem-se a uma combinação que se estabelece entre o trabalhador (escravo, servo ou proletário, dependendo do momento histórico) e aquele que detém o meio de produção. Marx e Engels definiam como mais-valia o processo de exploração da burguesia, que detém o meio de produção sobre o proletariado. Porém, como podemos conceituar essa ideia? É preciso entender que mais-valia é a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valordo trabalho, resultando na base do lucro do sistema capitalista. No pensamento marxista, a noção de mais-valia é garantida pela relação estabelecida entre a posse dos meios de produção (burguesia), a venda da mão de obra (proletário), o valor da mercadoria vendida por uma soma superior ao valor investido na produção e, por fim, o tempo de trabalho vendido por dinheiro. Figura 1 – Mais-valia TEMA 3 – MATERIALISMO E DIALÉTICA Dando continuidade ao nosso estudo, vamos refletir sobre dois conceitos que fazem parte da base do pensamento marxista: materialismo e dialética. Vamos olhar estes dois aspectos pela sua contribuição aos estudos históricos e à historiografia. 7 Saiba mais O termo dialética vem do grego dialegos. Significa movimento de ideias, sendo a arte do diálogo em forma de debate. São muitas as obras que abordam a dialética marxista. Você pode ampliar seu repertório de leitura com a obra Introdução ao materialismo dialético, de August Thalheimer, em acevo digital disponível em: THALHEIMER, A. Introdução ao materialismo dialético. Rio de Janeiro: Marxists, 2014. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/thalheimer/1928/materialismo/Introducao- ao-Materialismo-Dialetico.pdf> Acesso em: 4 set. 2021 Sob o viés marxista, a história deve ser pensada no seu conjunto e nas relações de produção que se estabelecem nas sociedades. Nesse sentido, uma das principais contribuições de Marx e Engels para os estudos da história é pensar os períodos históricos em relação a uma categoria, aquilo que o ser humano produz. No cerne desse pensamento, temos a reflexão sobre como o homem sobrevive ou como ele se coloca dentro da história, manipulando a natureza em seus meios de produção. Ao considera a existência de diferentes civilizações, observamos que esses processos de produção são, geralmente, coletivos, desenvolvidos em grupos. Vamos pensar nas seguintes questões: O ser humano é capaz de produzir? Como e para quem ele produz? Há relevância dessa produção para que ele sobreviva? Com esses questionamentos, chegamos à ideia de que o homem, para sobreviver, precisou produzir. Daí advém a base dos estudos históricos sobre o elemento material, o que chamamos de materialismo dialético. Nesse sentido, é importante no momento entender o materialismo dialético como sendo conspecção filosófica marxista em que os fenômenos físicos, o ambiente e os seres que nele habitam moldam a cultura e a sociedade, ao mesmo tempo em que são moldados por eles. Na história dos agrupamentos humanos, é notável como o ser humano desenvolveu maneiras diferentes de manipular e produzir a partir do que a natureza provê. Daí temos a ideia de que a produção desse material nos ajuda a identificar como o ser humano se organiza e vive em determinado contexto temporal e geográfico. 8 Para Marx e Engels, a ação produtiva humana tem caráter ontológico. O que isso significa? O ser humano nasce com a capacidade e a propensão de produzir meios para a sua subsistência. A forma como a sociedade utiliza essa capacidade de produzir molda a sociedade. Diante disso, entendemos que a forma de produzir molda todos os aspectos da sociedade: aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais etc. Assim, temos para a historiografia a concepção de que, ao mesmo tempo em que o homem produz a sua existência e constrói a vida em sociedade, ele também é moldado por ela, em uma relação de via dupla. A partir do viés marxista, pensamos a história como materialismo. TEMA 4 – LESTE EUROPEU: A EXISTÊNCIA Neste momento de nossos estudos, vamos buscar entender o contexto no qual se configurou o pensamento filosófico marxista. Sabemos que as experiências inspiradas em ideias marxistas acontecem em um primeiro momento no Leste Europeu, para posteriormente surgir na Europa Ocidental. Essas relações mais tardias da Europa Ocidental com as teorias marxistas decorrem do período entre guerras, de 1918 a 1939. Aqui, é importante refletir: como essas concepções foram assimiladas no Leste Europeu e na Rússia? Para entender esse contexto, vamos direcionar nosso olhar ao momento histórico das transformações que acontecem em 1910 na então Rússia czarista, com as figuras de Vladimir Ilyich Ulianov (1870-1924), mais conhecido pelo pseudônimo Lenin, e de Leon Trótski (1879-1940), personalidades fundamentais para o processo do que chamamos Revolução Bolchevique ou Revolução Socialista. Saiba mais A Revolução Bolchevique é o movimento revolucionário em que o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, derrubou a monarquia russa e estabeleceu o governo socialista soviético. Para saber mais sobre esse movimento que marcou história, acesse o link: REVOLUÇÃO RUSSA de 1917. Só História, 2021. Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/revolucaorussa/> Acesso em: 4 set. 2021. 9 Figura 3 – Estátua de Vladimir Lenin. Moscou, Rússia Legenda: Анна Иларионова/Pixabay. Atualmente, ações de movimentos políticos e sociais viraram notícia ao conseguir a remoção de vários monumentos. Dentre eles, temos estátuas de Lenin, como mostra a fotografia. Figura 4 – Trabalhadores derrubam estátua gigantesca de Lênin em Zaporizhia, na Ucrânia Crédito: Prylepa Oleksandr/Unian/AFP. Para nosso estudo, é importante entender que a experiência mais concreta foi evidenciada a partir da revolução de 1917, ganhando espaço significativo no meio dos historiadores, principalmente do Leste Europeu. Mais tardiamente, esse movimento histórico favoreceu o crescimento e a discussão 10 de aspectos relacionados à teoria marxista em outras localidades, disseminando-se pela Europa Ocidental. Neste momento de nosso estudo, é importante entender que a experiência ditatorial que aconteceu na Rússia abalou as ideias marxistas na Europa. Além disso, na sequência dos fatos instaura-se o período que chamamos de Guerra Fria, e com ele a seguinte bipolaridade: de um lado o modelo capitalista americano, e do outro o modelo socialista soviético. Nesse cenário, compreendemos que direcionar a atenção para um ou outro modelo já era visto como ato de abraçar uma causa política. Diante disso, temos o surgimento de diferentes vertentes no marxismo, com pulverização de questionamentos a respeito da utilização da teoria. Os adeptos dividem-se entre aqueles que pensam o marxismo sob um olhar político e aqueles que pensam o marxismo como teoria para análise histórica, buscando outro modelo de socialismo que não aquele aplicado na União Soviética. Vamos avançar no entendimento dessa pulverização de ideias, direcionando o nosso olhar aos estudos de Michael Löwy, na França da década de 1990. Para esse estudioso do marxismo, o pensamento de Marx é crítico e emancipador, integrando discussões mais contemporâneas. Sabemos que o marxismo contribuiu para a criação de movimentos sociais espalhados mundialmente. Podemos perceber isso nas manifestações mundiais que aconteceram na segunda metade do século 20, nos anos de 1950 e 1960. Nesta disciplina, é importante esclarecer que, a partir da década de 1960, o pensamento marxista foi colocado em xeque, reformulado e revisitado. Vários estudiosos realizam essas reflexões. Autores como Eric John Ernest Hobsbawm (1917-2012) e Edward Palmer Thompson (1924-1993) revisitam o pensamento de Marx e apresentam novas ideias sobre ele. 11 Saiba mais Intelectual com grandes contribuições no século XX, são muitas as publicações de Eric Hobsbawm. Na obra Como mudar o mundo, o historiador apresenta uma reflexão consistente e contextualizada sobre o marxismo (Hobsbawm, 2011, p. 21): • Nossa capacidade produtiva possibilitou, pelo menos potencialmente, que grande parte dos seres humanos passasse do reino da necessidade para o da afluência, da educação e de opções de vidaantes inimagináveis, embora a maior parte da população do mundo ainda esteja por entrar nesse domínio. No entanto, durante a maior parte do século xx, os movimentos e regimes socialistas ainda atuavam essencialmente dentro do reino da necessidade, mesmo nos países ricos do Ocidente, onde surgiu uma sociedade de afluência popular nos vinte anos que se seguiram a 1945. Contudo, no reino da afluência, os objetivos de alimentação, vestuário, habitação, empregos para garantir renda e um sistema de bem-estar social para proteger as pessoas das vicissitudes da vida, ainda que necessários, já não constituem um programa suficiente para os socialistas. TEMA 5 – A ESCOLA DE FRANKFURT E O PENSAMENTO DE GRAMSCI: VERTENTES Vimos anteriormente que a teoria marxista sofreu uma pulverização de novas ideias. Agora, dando continuidade ao nosso estudo, vamos considerar duas vertentes que dialogam diretamente com a teorias de Marx, ainda que com alguns diferenciais. Iniciaremos pela teoria proposta pela Escola de Frankfurt, com as novidades que essa teoria apresenta. Filiada ao Instituto de Pesquisa Social, que nasceu como um projeto de intelectuais vinculados à Universidade de Frankfurt, esse movimento filosófico e sociológico se constitui em torno das décadas de 1920 e 1930. No contexto do entreguerras alemão, a Escola de Frankfurt propõe a chamada ideia da teoria crítica, dialogando com a visão de história crítica proposta por Karl Marx. Podemos entender essa ideia como uma crítica social ao desenvolvimento intelectual da sociedade e às teorias iluministas. Há um questionamento significativo na sociedade contemporânea daquele momento, com enfoque na dominação social e com cerceamento da autonomia de pensamento. Assim, os estudiosos frankfurtianos se empenharam em realizar releituras sobre o marxismo, com o objetivo de formular concepções alternativas https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/ 12 ao socialismo marxista, que se enquadrassem no contexto social e político do século XX. Saiba mais Amplie seu repertório de leitura e conheça o livro A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento teórico, significação política, de Rolf Wiggershaus. Outra indicação é o livro Grande Hotel Abismo: a Escola de Frankfurt e seus personagens, de Stuart Jeffries. Ambas as obras são uma leitura esclarecedora sobre o pensamento frankfurtiano. Para além da Escola de Frankfurt, temos o pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937), importante filósofo e historiador. Crédito: CC/PD. A figura de Gramsci faz parte das novas vertentes do marxismo, com reflexões sobre o pensamento marxista, principalmente relacionadas à ideia de controle do Estado e dos meios de produção. Para compreender o pensamento desse filósofo, vamos elucidar os elementos de controle do Estado. Para Gramsci, tais elementos dizem respeito a um Estado que também domina as pessoas pelo viés ideológico. As proposições e as reflexões sobre ética, moral e ideologia levaram as ideias gramscinianas a serem absorvidas em outras áreas do conhecimento, como a pedagogia e a psicologia. Nessas áreas em especial, o pensamento de Gramsci sobre o processo educacional tinha papel central para a promoção de mudanças. Assim, temos a visão de que, sem mudanças em nível educacional, é difícil reverter a ordem de dominados e dominantes. 13 Diante disso, neste momento de nosso estudo nos importa entender que esse pensamento tem uma grande influência para a educação, atribuindo a ela um possível processo de emancipação. Um dos conceitos defendidos por Gramsci, o de contra-hegemonia, afirmava existir uma hegemonia imposta por um grupo social, a classe social dominante, via Estado inclusive. Seria possível reverter essa situação por meio da educação. Neste momento de nosso estudo, convém questionar como Gramsci via essa dominação. Para ele, a dominação não se dava apenas pelo viés econômico. Tal domínio apresentava também uma característica política, pois acontecia e se mantinha pela força ideológica. Essa força garantia o domínio sobre as pessoas, alicerçando uma situação de sujeição de consentimento dessas classes subalternas ou desses grupos. Daí advém um dos pensamentos importantes dessa concepção filosófica na figura do intelectual. Para Gramsci, essa pessoa era fundamental porque se constituía como ser capaz de produzir uma cultura diferencial ou um elemento diferencial em relação à chamada cultura dominante. Para isso, propunha uma inversão, por meio da ampliação do leque de manifestações culturais que abrangessem a cultura popular. Vimos até aqui apenas alguns elementos sobre as duas vertentes que foram importantes para a formação do pensamento filosófico contemporâneo e para os estudos históricos e a historiografia como um todo. A partir das décadas de 1950 e 1960, notamos grandes influências no Brasil, justamente porque edições de obras produzidas na Europa começavam a chegar ao país. Podemos citar, nesse contexto, estudiosos e filósofos como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Friedrich Pollock, Herbert Marcuse e Walter Benjamin. Tais historiadores e filósofos tiveram influência do marxismo, e também influenciaram, além da história, outras áreas do conhecimento, como a psicologia e a sociologia. NA PRÁTICA Em nossa atividade prática, vamos realizar uma reflexão aliando o conteúdo que estudamos nas diferentes vertentes com o conhecimento de mundo de cada uma. Ao observar o que gostamos e o que consumimos, busque refletir de onde vem essas preferências. Quais informações alicerçam tais 14 preferências e desejos? Qual é o grupo que, de alguma maneira, mantém ou garante essa forma de condução ideológica da nossa sociedade? FINALIZANDO Até o momento, temos buscado apresentar importantes vertentes que marcaram o desenvolvimento da historiografia e os estudos históricos, por meio de breves recortes sobre as teorias que foram desenvolvidas por filósofos e estudiosos que contribuíram para o desenvolvimento e o entendimento da história como ciência. Nesta aula, desenvolvemos considerações sobre o pensamento e sobre os conceitos-chave proposto por Karl Marx e Friedrich Engels. Estudamos as ideias de materialismo e dialética, tão importantes no marxismo. Avançamos em nosso estudo e contextualizamos e experiência prática da teoria marxista que se desenvolveu no Leste Europeu e, posteriormente, expandiu-se para outras localidades. Conhecemos, brevemente, as ideias marxistas renovadas, propostas pela Escola de Frankfurt e, também, pelo filósofo e historiador Antonio Gramsci. É importante destacar que você deve aprofundar os seus estudos para além das reflexões aqui realizadas. Siga as indicações de leitura propostas neste material e amplie o seu conhecimento. 15 REFERÊNCIAS BARREIROS, I. O primeiro encontro desastroso de Karl Marx e Friedrich Engels. Aventuras na história, 26 fev. 2020. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-o-primeiro- encontro-desastroso-de-karl-marx-e-friedrich-engels.phtml>. Acesso em: 4 set. 2021. HOBSBAWM, E. J. Como mudar o mundo: Marx e o marxismo. Tradução Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
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