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Aluna: Clara Lopes Professores: Luiz Gustavo Pujol e Rodrigo Sánchez Rios Disciplina: Teoria da penal e processo penal TDE - Trabalho discente efetivo: Resenha crítica analisando o filme “O segredo dos Seus Olhos” (Argentina, 2010) O filme se inicia com Espósito, um servidor da justiça criminal aposentado que pretende escrever um romance a respeito do caso que mais o tocou durante sua carreira, para isso, ele retoma contato com a sua antiga chefe e paixão, Irene, para que possam conversar a respeito. O caso em questão, ocorrido no ano 1974, período de ditadura militar na Argentina, se trata de um estupro seguido de assassinato de uma moça jovem, recem casada que tinha a vida pela frente. As memórias de Espósito ao longo da trama, recordam sua perseguição incessante ao assassino da jovem junto de seu amigo Sandoval, também servidor da justiça criminal, com o pretexto de buscar justiça à jovem Liliana e ao seu esposo, Morales. O crime cometido na Argentina tinha potencial para prisão perpétua. Aqui no Brasil, a partir da edição da Lei 12.015/09, se o estupro (art. 213) resulta em morte, a pena de reclusão pode durar de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Com um suspeito em mente apenas pela forma como ele olha para vítima e revoltado com o arquivamento do caso, o protagonista muitas vezes ultrapassa os limites da lei, utilizando meios ilegais para conseguir evidências para provar o delito cometido por Isidoro, como quando invadiu a propriedade privada da mãe do suspeito para furtar cartas. Além disso, levam Gómez ilegalmente para interrogatório, violando o devido processo legal. Ademais, quando Esposito e Sandoval finalmente conseguem provar o envolvimento de Isidoro Gómez, logo este é liberado por bom comportamento. Em face disso, é possível notar o sentimento de frustração e indignação nos semblantes de Esposito, Sandoval, e Morales. No entanto, quando se faz parte de uma sociedade, abrimos mão de nosso poder de punir, jus puniendi, e entregamos ao Estado, que se torna responsável por penalizar atitudes criminosas, proibindo os demais indivíduos de exercer “justiça” http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/818585/lei-12015-09 com as próprias mãos. Outrossim, a sede de vingança observada nos personagens, é um reflexo de uma cultura extremamente punitivista e retribucionista, em que a pena destina-se unicamente para castigar e punir o condenado com o intuito de “compensar” o crime, desconsiderando a ideia de ressocialização do delinquente na sociedade. O desfecho do enredo é um grande “plot twist”, pois Espósito passa grande parte de sua vida adulta se perguntando como Morales conseguiu viver sua vida em paz com Isidoro, o assassino de sua amada esposa, fora das grades. Porém, quando os personagens se reencontram e finalmente Benjamin Espósito pode entender como Morales seguiu em frente e ele não (tanto em questões amorosas com sua paixão platônica, Irene, quanto a respeito do próprio caso), descobre que Morales está mantendo Gómez em cárcere por muitos anos, com a intenção de cumprir o papel que o Estado falhou em fazer. Todavia, Morales não proporciona nenhum tipo de dignidade para Gómez, não dirigindo uma só palavra à ele em muitos anos. Portanto, conclui-se que é compreensível que os resultados trazidos pelo Estado não vão ser sempre satisfatórios, ainda mais em um contexto histórico de regime militar. No entanto, o recurso nunca poderá ser algo que restrinja o respeito à integridade física e moral, bem como a dignidade da pessoa humana.
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