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ARQUITETURA Daniela Giovanini Manuel Pires Representação gráfica de forma, espaço e função Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Relacionar o processo criativo coma representação gráfica. � Diferenciar os meios de representação gráfica para a elaboração de projetos. � Relacionar o processo criativo, por meio da representação gráfica, com a definição do conceito e do partido arquitetônico. Introdução A concepção de um projeto é um ato criativo e analítico. Em sua ela- boração, algumas variáveis são consideradas de cunho contextual, programático, social e até mesmo, em alguns casos, político. A re- presentação gráfica dessas análises, associada à criatividade, geram o conceito ou partido do projeto. Neste texto, você vai estudar a repre- sentação gráfica utilizada no processo de criação e desenvolvimento do projeto. O processo criativo O processo criativo do arquiteto é único; além disso, cada projeto exige uma abordagem, pesquisas e análises diferenciadas. Um projeto de um parque aquático, por exemplo, requer um processo diferenciado de desenvolvimento do projeto de uma residência unifamiliar. Ambos necessitam de estudo do programa funcional, de análise do terreno e da criatividade do arquiteto, porém em escalas diferenciadas. O desenho a mão, também chamado de croqui, é uma ferramenta impor- tante para o arquiteto, um meio rápido de expressar o pensamento e ordenar as ideias. Ao desenhar, você materializa sua concepção, tornando possível que ela seja avaliada, trabalhada e modificada, para chegar ao conceito ou partido arquitetônico do projeto. Em alguns casos, a ideia surgirá de repente, em outros, será necessário uma série de desenhos até que você encontre o caminho certo a seguir. Nesses casos, é importante ser tolerante e aceitar as ambiguidades no desenho, os caminhos diferentes a serem desenvolvidos. A intuição pode ajudar, afinal, o processo criativo de desenho é uma ferramenta de tentativas e erros. Esse processo não é linear. Muitas vezes, é necessário retroceder e rever o conceito, realizar novos estudos e análises até que se chegue ao resultado esperado e satisfatório, que atenda às necessidades do cliente, à função espe- rada para edifício, à integração com a paisagem e a outras questões variáveis de cada tipo e dimensão de projeto. “Os pensamentos vêm à mente conforme observamos um desenho em progresso, o que pode alterar nossas percepções e sugerir possibilidades ainda não concebidas. A ideia emergente no papel nos permite explorar caminhos que podem não ter sido previstos antes do início do desenho, mas que foram fruto de ideias surgidas ao longo do processo. Uma vez executado, cada desenho representa uma realidade única, que pode ser vista, avaliada, refinada e transformada.” (CHING, 2013b, p. 200). “ARQ!IN LOCO – por dentro do processo criativo” é uma série de programas do portal ARQ!BACANA que desvenda o processo de criação de alguns dos mais importantes arquitetos brasileiros. Nas referências a seguir, você encontra mais informações sobre como funciona o processo de criação de um escritório de arquitetura real: ARQ!IN LOCO - Por dentro do processo criativo: FGMF - Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos (ARQBACANA, 2013a). https://www.youtube.com/watch?v=U3gCi9C1mbs ARQ!IN LOCO - Por dentro do processo criativo: Studio MK27 (ARQBACANA, 2013b). https://www.youtube.com/watch?v=oHXH0NkjbGI Arquitetura2 Representação gráfica na elaboração de projetos A representação gráfica na elaboração de projetos pode ser feita de várias ma- neiras e em variadas escalas, conforme a finalidade que se pretende e a etapa do projeto. Os desenhos à mão livre geralmente são utilizados na concepção inicial das ideias e durante o desenvolvimento. Eles não são a ferramenta utili- zada atualmente para apresentar o projeto ao cliente. Porém, nada impede que, durante a reunião, sejam feitos croquis para demonstrar algo novo, uma ideia momentânea, algo que o arquiteto gostaria de compartilhar naquele momento. Uma das maneiras de se representar e desenvolver o projeto utilizando o de- senho a mão é separando o desenho por níveis de informações. Dessa maneira, um desenho é composto por várias camadas, e todas as camadas podem estar em uma folha só; são feitas linhas iniciais estruturais mais suaves e, conforme a ideia for adquirindo consistência, as linhas tornam-se mais marcadas. Outra maneira de desenvolver por níveis é utilizando o papel vegetal ou manteiga, e fazendo sobreposições. Esses níveis representam o amadurecimento da ideia. “O processo de projeto é algo no qual ideias rudimentares podem ser gradualmente de- senvolvidas até se transformarem em complexos elementos de arquitetura. Cada ideia pode ser testada diversas vezes, por meio de diferentes meios.” (CHING, 2013b, p. 199). No processo de desenvolvimento, você pode usar a recomposição das formas desenhadas, pode agrupá-las conforme semelhança, pode hierar- quizar volumes e transformá-los, pode criar sequências ou utilizar os princí- pios ordenadores do desenho como a simetria e o eixo. Todas são maneiras de trabalhar a ideia e de transformar o desenho. Outra maneira de representar é fazendo o desenho volumétrico. Usar a pers- pectiva de vários ângulos pode estimular a imaginação: ao girar o volume e vê-lo de um novo ponto de observação, novas ideias ou soluções podem surgir, e o projeto pode ser explorado de modo mais completo e em múltiplas dimensões. Diferentes tipos de diagramas também podem ser utilizados para a repre- sentação gráfica da ideia: os diagramas conceituais, que trabalham apenas com os volumes; os diagramas funcionais, como os organogramas; os dia- 3Representação gráfica de forma, espaço e função gramas de circulação, que são utilizados para distribuir a circulação das pes- soas, como o fluxograma; ou os diagramas analíticos, muito utilizados para mapear o terreno e região a ser desenvolvido o projeto. Ao longo do desenvolvimento do projeto, a representação gráfica evolui dos diagramas, por exemplo, para um nível mais aprofundado da ideia. Assim, a escala de desenho pode ser mudada para que se obtenha um nível maior de detalhamento. “Quando optamos por um sistema de desenho em detrimento de outro para estudar uma questão específica de projeto, fazemos escolhas conscientes e também incons- cientes no que tange a quais aspectos do problema serão revelados e quais ficarão ocultos.” (CHING, 2013b, p. 226). Fac-símile de composições em planta para o Centro de Belas Artes de Fort Wayne, Indiana, Estados Unidos, 1961–1964, Louis Kahn Composições de tangramas Fonte: Ching (2013a, p. 202). Arquitetura4 O conceito Conceito é uma ideia que pode estar expressa graficamente no papel por meio ou não de diagramas e croquis, gerada a partir de variáveis, e capaz de con- duzir o desenvolvimento do projeto. O conceito pode ser representado grafi- camente por croquis, diagramas ou perspectivas, mas como chegamos a ele? O contexto e o conceito Você pode chamar de contexto a análise, o levantamento de dados, e o estudo do terreno e da região onde será realizado o projeto. Esses dados são cole- tados antes de iniciar a elaboração do projeto. A coleta de dados pode ser feita utilizando diagramas analíticos, croquis, fotos, ou outras maneiras. Esses re- gistros podem ser de uma ou do conjunto de várias representações gráficas, conforme a necessidade do arquiteto. Esse levantamento influencia na definição do conceito ou do partido arqui- tetônico, trazendo informações sobre a topografia. Por exemplo, um terreno íngreme exige uma abordagem diferente da aplicada a um terreno plano. Muitas vezes, ocorre de uma ou duas questões se destacarem mais, tornando-se a chave para a definição do partido. As questões a serem levantadas, pesquisadas e ana- lisadas vão variar conforme o tipo de projeto, a localização e o dimensiona- mento. Porém, no geral, é importante que se verifique os seguintesitens: O terreno Como você já viu no exemplo, o terreno é uma variável que pode gerar opor- tunidades de elaboração e implantação da edificação. Além da topografia, você também deve atentar para a orientação solar, a direção de maior fluxo da ventilação natural, o índice de chuva na região, os acessos e a vizinhança. A nova edificação irá modificar a paisagem, e essa modificação pode ser feita com a edificação se integrando à paisagem ou gerando um impacto sobre ela, conforme o que se espera para o projeto. 5Representação gráfica de forma, espaço e função O programa de necessidades Necessidades refere-se à função do edifício e de cada ambiente interno; ou seja, refere-se às atividades que se desenvolverão nele, ao organograma e flu- xograma delas, que seria a organização desses espaços e a circulação ou relação entre eles, para que essas atividades sejam realizadas de maneira adequada. Os acessos A análise dos acessos é proporcional ao dimensionamento e à escala do pro- jeto. O projeto de uma residência não requer um estudo urbano dos acessos e dimensionamento de estacionamentos; já a elaboração de um projeto comercial de grande porte, como um shopping, exige que seja planejado os acessos pelas vias de circulação da cidade de uma determinada região. Você precisa lembrar que, quando falamos de acesso, não estamos falando apenas dos veículos, mas também dos pedestres, ciclistas e caminhões de serviço (carga e descarga). O conceito e a forma, o espaço e a função A função, o espaço e a forma estão diretamente ligados entre si, e mantêm uma relação estreita com o conceito do projeto. A função, como você já viu anteriormente, está relacionada às atividades que serão desenvolvidas na edi- ficação. Cada atividade exige um espaço e uma ligação entre esses espaços, para que elas possam ser desempenhadas adequadamente. Ou seja, a função do ambiente é determinante para o dimensionamento do espaço e da relação entre eles – a circulação. Com base nessa organização e na relação entre função e espaço, surge a forma, que, inserida no contexto, define o conceito do projeto. Arquitetura6 “À medida que fazemos a diagramação de questões contextuais, programáticas, es- truturais e de construção relevantes a um problema de projeto, devemos estar cientes de que as características formais dos desenhos resultantes advêm naturalmente desse processo. Não podemos ignorar a aparência de um diagrama, nem o que ele talvez possa expressar em termos formais.” (CHING, 2013b, p. 229). Assim como a forma é influenciada pela diagramação das funções, em certos casos, você pode moldar a função à forma que pretende, ou à que me- lhor se adequa ao terreno e às condições climáticas, por exemplo. No processo de elaboração do conceito, você pode usar a representação gráfica utilizando os métodos abordados anteriormente, fazendo diagramas de função e de fluxo, trabalhando-os em níveis de informação, usando múlti- plas vistas e perspectivas para ter uma visão ampla da forma. O interessante no processo é o uso de várias ferramentas e métodos de desenho, a fim de estimular a criatividade e trabalhar todos os ângulos e escalas do projeto. 7Representação gráfica de forma, espaço e função A CB “A forma e a delimitação de cada espaço de uma edificação determinam a forma dos espaços que o circundam ou são determinadas por eles. No Teatro de Seinajoki, projetado por Alvar Aalto, por exemplo, podemos distinguir várias catego- rias de formas espaciais e analisar como elas interagem. Cada categoria tem um papel ativo ou passivo na configuração do espaço.” (CHING, 2013, p. 101). Fonte: Ching (2013b, p. 101). Alguns espaços, como os escritórios, têm funções específicas, porém semelhantes entre si, e podem ser isolados ou agrupados em linha ou aglomerados. Outros espaços, como as salas de concerto, apresentam neces- sidades funcionais e técnicas, exigindo formas específicas que afetarão as formas dos espaços que os circundam. Por fim, alguns espaços, como os saguões, são flexí- veis por natureza e, portanto, podem ser definidos de modo mais livre pelos es- paços ou grupos de espaços que os circundam. Arquitetura8 1. Sobre o processo criativo é correto afirmar: a) É o raciocínio e desenvolvimento de uma ideia de maneira linear. b) O processo criativo é realizado da mesma maneira para todos os tipos de projetos. c) É a materialização pela repre- sentação gráfica de uma ideia acabada. d) O processo criativo é um método rígido de materializar a ideia graficamente. e) É o desenvolvimento não linear de uma ideia que pode ser feito usando a representação gráfica. 2. Cada profissional tem uma maneira única de realizar o processo criativo. Durante esse desenvolvimento, o arquiteto utiliza a representação gráfica, que pode ser feita de várias maneiras associadas ou isoladas. Sobre a representação gráfica no pro- cesso criativo, é correto afirmar que: a) O uso de tipos diferentes de representação gráfica aumenta a quantidade de informação para o processo criativo, como o desenho de croquis e diagramas orçamentais b) Na elaboração do processo criativo, é feito uso de vários tipos de representação gráfica – uma delas é a elaboração de maquetes c) A combinação de vários métodos de representação gráfica amplia a visão e aguça a criatividade d) A perspectiva é uma maneira muito usada no processo criativo, porém não é a melhor forma para se obter uma visão ampla e diferenciada. e) Uma combinação de muitos métodos de representação gráfica no processo do projeto não contribui com a fluidez da criatividade. 3. O intuito do processo criativo é chegar na definição do partido arquitetônico, que é o ponto de partida para o desenvolvimento e o detalhamento do projeto arquitetô- nico. Abaixo foram citadas algumas afirmativas sobre esse processo e o seu desenvolvimento. Assinale a alternativa correta. a) A definição do partido arquitetô- nico do projeto independe do con- texto onde será realizada a obra. b) A definição do partido arquitetô- nico se dá mediante uma análise de todo o contexto do terreno, do programa de necessidades, dos acessos e também do contexto social e, em alguns casos, político. c) O partido arquitetônico é defi- nido mediante estudo do terreno, pois a topografia é o que o define. d) O partido arquitetônico é defi- nido com base no programa de necessidades da edificação e as exigências do cliente. e) O partido arquitetônico está ligado à função da edificação, por isso ele é totalmente defi- nido pelas atividades que serão exercidas nos ambientes internos da construção. 9Representação gráfica de forma, espaço e função 4. Os diagramas são muito utilizados pelos arquitetos e outros profissionais para simplificar, resumir ou repre- sentar graficamente questões. Abaixo foram citados alguns tipos de dia- gramas e sua característica, assinale a alternativa correta. a) Diagrama analítico – é utilizado para fazer uma análise do orça- mento total da edificação. b) Diagrama de fluxo – também co- nhecido como organograma, é o diagrama das atividades exercidas na edificação. c) Diagrama conceitual – além de outras representações, trabalha com os volumes da edificação. d) Diagrama funcional – analisa e descreve o fluxo na edificação, as circulações. e) Diagrama de orçamento – resume todos os outros diagramas. 5. A função, o espaço e a forma estão diretamente ligados entre si, e mantêm uma relação estreita com o conceito do projeto. A função está relacionada às atividades que serão desenvolvidas na edificação, e é determinante para o dimensiona- mento do espaço e da relação entre eles, a circulação. Com base nessa organização e relação entre função e espaço, surge a forma, que, inse- rida no contexto, define o partido arquitetônico. No processo criativo, a forma, o espaço e a função podem ser representados graficamente de algumas maneiras Analise as alterna- tivas apresentadas e assinale a incor-reta em relação a essa representação. a) No desenho, a forma pode ser representada por diagramas conceituais. b) A função do projeto pode ser re- presentada por um organograma c) A forma conceitual do projeto pode ser representada grafica- mente por fluxogramas e croquis de estudo em perspectivas. d) O desenho a mão livre por níveis de informação é uma opção para se representar o espaço. e) O desenho volumétrico é uma das maneiras para se representar graficamente a forma; além disso, este tipo de desenho proporciona uma visão de vários ângulos. Arquitetura10 ARQBACANA. ARQ!IN LOCO: por dentro do processo criativo: FGMF - Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos. [S.l.]: YouTube, 2013a. Disponível em: <https://www.you- tube.com/watch?v=U3gCi9C1mbs>. Acesso em: 17 set. 2016. ARQBACANA. ARQ!IN LOCO: por dentro do processo criativo: Studio MK27. [S.l.]: YouTu- be, 2013b. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=oHXH0NkjbGI>. Aces- so em: 17 set. 2016. CHING, Francis D. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013b. CHING, Francis D.; ECKLER, James F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013a. Leituras recomendadas GOUVEIA, Anna Paula; HARRIS, Ana Lúcia; KOWALTOWSKI, Doris C. Analogia e abstração no ensino do projeto em arquitetura. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENGENHA- RIA GRÁFICA NAS ARTES E NO DESENHO, 4., 2001, São Paulo. Anais... São Paulo: ABEG, 2001. p. 1092-1101. KOWALTOWSKI, Doris Catharine Cornelie Knatz et al. Reflexão sobre metodologias de projeto arquitetônico. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 7-19, 2006. 11Representação gráfica de forma, espaço e função Conteúdo:
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