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Documentos emitidos por psicólogos no SUAS O documento psicológico resulta da prestação direta de serviços psicológicos a uma pessoa, grupo ou organização. Pode ser o registro da conclusão de uma avaliação psicológica ou uma resposta a uma solicitação daqueles que estão diretamente envolvidos no processo de trabalho ou de autoridades legais. Podem ser considerados envolvidos: a/o usuária/o ou sua/seu responsável legal, uma/u profissional específica/o ou equipes multiprofissionais. A elaboração de documentos pressupõe condições dignas e apropriadas para sua emissão, qualidade técnica e compromisso ético. Assim, a/o profissional deve avaliar se: a finalidade do documento é coerente com seu objetivo e contexto de trabalho; se conseguirá sustentar tecnicamente as afirmações que compõem o documento e, ainda, ponderar sobre o sigilo (o que deve ou não ser posto no documento) e as relações profissionais envolvidas. Um documento psicológico deve: expressar o raciocínio psicológico que o norteia, garantir a coerência com os princípios técnicos e éticos da profissão e com as normas cultas da língua portuguesa, bem como primar pela objetividade da comunicação – a linguagem deve ser adequada, sem ambiguidade, mas condizente com quem será o leitor. Portanto, se for de psicólogo para psicólogo, termos mais técnicos podem ser utilizados, enquanto se for de psicólogo para outro profissional, é recomendado que termos técnicos não estejam tão presentes, pois pode dificultar a compreensão. Deve-se observar o uso de frases e parágrafos coesos e a interdependência entre os itens da estrutura do texto. O uso de transcrições de falas das pessoas atendidas requer justificativa técnica e ética, bem como a necessária contextualização textual – o documento deve esclarecer por qual motivo a fala transcrita é importante. ➔ Um documento psicológico deve garantir o compromisso com a promoção e defesa dos Direitos Humanos e a impessoalidade. Existem cinco documentos psicológicos regulamentados pelo Conselho Fed. De Psicologia, que são: declaração; atestado psicológico; relatório psicológico/multiprofissional; laudo; e parecer psicológico. ➔ Dentro do SUAS apenas dois dos cinco documentos podem ser emitidos: a declaração e o relatório psicológico ou multiprofissional. O atestado e o laudo, por exemplo, requerem avaliação psicológica, a qual não é realizada no SUAS. DECLARAÇÃO Registro objetivo e sucinto de informações pontuais sobre a prestação de serviços: comparecimento do sujeito para atendimento, processo de acompanhamento etc. No momento da declaração o psicólogo deve estar atento ao dia e horário de comparecimento do sujeito no CRAS/CREAS ou qualquer outro serviço da Assistência Social, assim como o tempo de permanência nesses locais. ➔ A declaração não deve registrar sintomas, situações ou estados psicológicos. É sempre importante especificar em qual horário o sujeito foi atendido, pois em um caso de crime, por exemplo, se o profissional tiver colocado apenas a data na declaração, o criminoso pode contestar afirmando que esteve durante todo o dia no CRAS/CREAS. RELATÓRIO O relatório psicológico consiste em um documento que, por meio de uma exposição escrita, descritiva e circunstanciada, considera os condicionantes históricos e sociais da pessoa, grupo ou instituição atendida, podendo também ter caráter informativo. Visa comunicar a atuação profissional do(s) psicólogo(s) em diferentes processos de trabalho já desenvolvidos ou em desenvolvimento, podendo gerar orientações, recomendações, encaminhamentos e intervenções pertinentes à situação descrita no documento. ➔ O relatório não tem como finalidade produzir diagnóstico psicológico. A linguagem utilizada deve ser acessível e compreensível a(ao) destinatária(o), respeitando os preceitos do Código de Ética Profissional do Psicólogo. DECLARAÇÃO Declaro, para fins de comprovação, que o Sr. (nome do solicitante) compareceu para atendimento com equipe técnica desde equipamento social, Centro de Referência de Assistência Social – CRAS XXX, sob meus cuidados profissionais, no horário das xx:xx às xx:xx. Cidade, dia, mês e ano. Nome completo do profissional/assinatura. Nº inscrição no CRP. Não corresponde à descrição literal das sessões, atendimentos ou acolhimentos realizados, salvo quando tal descrição se justifique tecnicamente. Este deve explicitar a demanda, os procedimentos e o raciocínio técnico-científico do profissional, bem como suas conclusões e/ou recomendações. O relatório psicológico deverá atender aos objetivos dos serviços prestados; portanto, poderá abranger finalidades diversas a depender do contexto de solicitação. ESTRUTURA DO RELATÓRIO PSICOLÓGICO: I D P A C 1. Identificação: I – Título: “Relatório Psicológico”; II – Nome da pessoa ou instituição atendida: identificação do nome completo ou nome social completo e, quando necessário, outras informações sociodemográficas; III – Nome da(o) solicitante: identificação de quem solicitou o documento, especificando se a solicitação foi realizada pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públicas ou privadas, pelo próprio usuário do processo de trabalho prestado ou por outros interessados; IV – Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido; V – Nome do autor: identificação do nome completo ou nome social completo do psicólogo responsável pela construção do documento, com a respectiva inscrição no CRP. 2. Descrição da demanda: Nessa etapa descreve-se o que motivou a busca pelo trabalho prestado, indicando quem forneceu as informações e as demandas que levaram à solicitação do documento. - A descrição da demanda constitui requisito indispensável e deverá apresentar o raciocínio técnico- científico que justificará procedimentos utilizados. 3. Procedimentos: Neste item o psicólogo autor do relatório deve apresentar o raciocínio técnico-científico que justifica o processo de trabalho utilizado na prestação do serviço psicológico e os recursos técnico-científicos utilizados, especificando o referencial teórico metodológico que fundamentou suas análises, interpretações e conclusões. - Compete ao psicólogo autor do relatório citar as pessoas ouvidas no processo de trabalho desenvolvido, as informações objetivas, o número de encontros e o tempo de duração do processo realizado. - Os procedimentos adotados devem ser pertinentes à complexidade do que está sendo demandado. 4. Análise: Neste item devem constar as principais características e evolução do trabalho realizado, baseando-se em um pensamento sistêmico sobre os dados colhidos e as situações relacionadas à demanda que envolve o processo de atendimento ou acolhimento, sem que isso corresponda a uma descrição literal das sessões, salvo quando tal descrição se justificar tecnicamente. - A análise deve apresentar fundamentação teórica e técnica. - Somente deve ser relatado o que for necessário para responder a demanda, tal qual disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo. - É vedado ao psicólogo fazer constar no documento afirmações de qualquer ordem sem identificação da fonte de informação ou sem a devida sustentação em fatos e/ou teorias. - A linguagem deve ser objetiva e precisa, especialmente quando se referir a informações de natureza subjetiva. 5. Conclusão: Neste item o psicólogo autor do relatório deve descrever suas conclusões a partir do que foi relatado na análise. - Na conclusão pode constar encaminhamento, orientação e sugestão de continuidade do atendimento ou acolhimento. - O documento deve ser encerrado com indicação do local, data de emissão, carimbo em que conste nome completo ou nome social completo do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional, com todas as laudas numeradas, rubricadas da primeira até a penúltima lauda, e a assinatura do psicólogo na última página.➔ O relatório psicológico e o multiprofissional são muito parecidos, mas apresentam algumas diferenciações: o A Identificação e a descrição da demanda podem ser conjuntos; o Procedimentos: podem ou não ser em conjunto, separando quando a descrição dos procedimentos e/ou técnicas privativas da Psicologia deve vir separada das descritas pelos demais profissionais; o Análise: neste item orienta-se que cada profissional faça sua análise separadamente, visto que são ciências diferentes, identificando, com subtítulo, o nome e a categoria profissional; o Conclusão: pode ser realizada em conjunto, principalmente nos casos em que se trate de um processo de trabalho interdisciplinar. Existem outros documentos no SUAS, mas que não são regulamentados pelo CFP, pois não existe essa necessidade. São esses: documentos de encaminhamento, elaboração do Plano de Acompanhamento Familiar (PAF) e elaboração de projetos. É recomendado que o PAF seja composto por: • Nome do CRAS; • Nome(s) de referência na família; • Periodicidade das mediações (semanal, quinzenal ou mensal); • Potencialidades do grupo familiar (capacidade de desenvolver talentos; possibilidade de transformar a realidade); • Vulnerabilidades/violações de direitos a serem superadas, geradas pelas múltiplas expressões da questão social (pobreza, desemprego, violência, discriminação de gênero/raça/etnia/orientação sexual, dificuldades de acesso à saúde, falta de moradia etc.); • Recursos que o território possui (articulação da rede): rede pessoal (recursos ao redor da residência e rede de apoio (recursos institucionais); • Eixos de intervenção (serviços socioassistenciais, convivência familiar e comunitária, aspectos jurídicos, qualificação profissional/cursos, serviços de outras políticas públicas etc.); • Vulnerabilidades/violação de direitos; • Estratégias a serem adotadas (intervenções a serem realizadas com a família); • Prazos por estratégia; • Compromissos assumidos pela família no processo de superação das vulnerabilidades; • Prazo de execução do Plano de Acompanhamento; • Prazo de avaliação do Plano de Acompanhamento; • Elaboração do plano. REFERÊNCIA: Aula do curso “Atuação do Psicólogo no Suas”, ministrado pela Psicóloga Marcela Brandão (CRP 03/15879).
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