Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Clara Cavalcante MASSAS ANEXIAIS INTRODUÇÃO São massas tumorais originárias nos ovários, nas tubas uterinas e em estruturas em torno desses órgãos Ocorrem em mulheres de todas as faixas etárias e a sua etiologia e frequencia variam de acordo com a idade: • Pré-púberes • Pré-menopausa • Gestação • Pós-menopausa ETIOLOGIA/CAUSAS Alterações funcionais ou fisiológicas Endometriose Processos inflamatórios Tumor benigno e maligno Diagnóstico diferencial das massas anexiais: Os tumores mais comuns são os epiteliais (90%) e os mais comuns são os carcinossarcomas, carcinomas de células claras, carcinomas mucinosos, carcinomas epiteliais endometrioides ou serosos, tumores epiteliais borderline, tumores malignos de cordão sexuais e tumores malignos de células germinativas Tipos histológicos e as faixas etárias: Os tumores anexiais variam de acordo com a idade e o período reprodutivo, podendo ser divididos em: pré- púberes, pré-menopausa, gestação e pós-menopausa. PRÉ-PÚBERE As causas podem ser de origem ginecológica, das vias urinárias ou do intestino Correspondem a menos de 2% dos cânceres ovarianos, porém, quando ocorrem nessa faixa, 25% são malignos Tumores de ovário mais comuns em crianças são os Tumores de Células Germinativas: • Benignos: Teratoma maduro • Malignos: Disgerminoma Os tumores de células germinativas podem ser classificados em: • Maduro (55-70%) – podem ser bilaterais em 10% dos casos • Monodérmico • Imaturo • Maligno Tumores germinativos raros: Gonadoblastomas (benignos) • Associados à presença de disgenesia gonadal, como a Síndrome de Turner e de Swyer. • Observados em associação com tumores de células germinativas malignos (mais comum é o disgerminoma) • Diagnóstico: Feito durante a investigação de atraso puberal e amenorreia primária PRÉ-MENOPAUSA (IDADE REPRODUTIVA) Grande proporção de lesões benignas quando comparadas a malignas Causas malignas – 5-10% • Dentre elas, os mais comuns são Tumores epiteliais do ovário A maioria é de etiologia benigna: • Cistos funcionais benignos (folicular ou de corpo lúteo) • Cistos paraovarianos • Alterações Mullerianas • Abscesso tubo-ovariano, piossalpinge ou hidrossalpinge • Endometrioma • Leiomioma • Gravidez • Teratoma maduro O cisto hemorrágico pode ocorrer na pós-ovulação Maria Clara Cavalcante GRAVIDEZ As causas malignas são raras na gestação (disgerminomas e tumores de cordão sexual) A maioria são benignos: • Cistos funcionais benignos (folicular ou de corpo lúteo) – regressão espontânea após o 1º trimestre • Teratoma maduro ou cisto dermoide – Após o 1º trimestre é a lesão anexial + comum PÓS-MENOPAUSA Tem maior risco de câncer As causas suspeitas de massas anexiais na pós-menopausa são responsáveis por 36-59% das massas nessa faixa Lesões malignas: Cistoadenoma seroso é o mais comum Lesões benignas: Teratoma maduro é o mais comum Massas sólidas ovarianas nessa faixa devem ser investigadas! A maioria é composta por tumores benignos, como leiomiomas, fibrotecomas, fibromas, tumores de Brenner benignos e teratomas FATORES DE RISCO Para neoplasia de ovário: • História familiar de neoplasia de mama ou de ovário • Mutações do gene BRCA 1 e/ou BRCA 2 • Síndrome de Lynch (neoplasia de cólon hereditária não polipoide) • Endometriose (devido a inflamação crônica e infertilidade associada) • Obesidade • Tabagismo • Nuliparidade (mulher ovula mais) • Terapia hormonal • Idade • FIV (fertilização in vitro) – maior risco de tumores borderline DIAGNÓSTICO O principal foco da massa anexial é a exclusão da malignidade O diagnóstico definitivo dos tumores de ovário é histopatológico A maioria das massas são assintomáticas e são detectadas no exame clínico ou por meio de método de imagem, porém, menos comum, pode ter sintomas como dor aguda e intermitente Os sintomas podem ser inespecíficos, como: • Sangramento genital • Aumento do volume abdominal • Dor pélvica e abdominal Quando é de início súbito, rápida progressão ou severo – considerar malignidade ➔ ANMNESE: Investigar fatores de risco Interrogar sobre o uso de contraceptivos e atraso menstrual (para descartar gravidez) Dismenorreia e metrorragia – pensar em leiomiomas Dispareunia e dismenorreia – pensar em endometriomas Febre e dor à mobilização – pensar em abscessos tubo- ovarianos e doença inflamatória pélvica ➔ EXAME FÍSICO: Deve ser direcionado para as queixas, podendo incluir exame especular, toque vaginal e palpação de linfonodos Incluir avaliação pulmonar e cardíaca se queixas relacionadas, como dor torácica e dispneia Sinais vitais, inspeção, palpação abdominal e de linfonodos, exame ginecológico Estudos demonstraram que o exame pélvico bimanual ou a USG transvaginal não tem acurácia significativa em mulheres que são assintomáticas para tumores anexiais benignos ou não, DIP ou câncer cervical – não são recomendados para o rastreamento ➔ EXAMES LABORATORIAIS: Direcionados para o quadro • Hemograma – Pode mostrar leucocitose, sugerindo doenças infecciosas e abscessos • bHCG (em mulheres em idade fértil – descartar gravidez ectópica) • CA-125 (marcador tumoral) – É o mais relevante e utilizado – Aumentado em 80% dos casos, mas em quadro inicial pode ser normal, além de que outras condições podem causar seu aumento (endometriose, câncer de pulmão, de mama, tuberculose) – Na menopausa a sua sensibilidade e especificidade aumentam em relação ao menacme (período fértil). Não é para ser usado isoladamente para diferenciar benignos e malignos, mas podem ser usados (contanto que não isoladamente) Tumores de células de Leydig-Sertoli secretam andrógenos, promovendo o clitoromegalia, amenorreia e hirsutismo Tumores de células epiteliais podem secretar CA-19-9, CA- 125 e CEA Maria Clara Cavalcante Tumores de células granulosas podem produzir estradiol – causando amenorreia e puberdade precoce Tumores de células germinativas – elevação de BhCG, DHL e alfafetoproteína (podem ser usados em mulheres jovens, menos de 40 anos e massa ovariana complexas) Os marcadores tumorais ajudam na definição de risco de malignidade e a necessidade de cirurgia • Alfafetoproteína Marcadores séricos dos tumores ovarianos: ➔ EXAME DE IMAGEM: USTV é o melhor para avaliar massa anexial – 1ª linha na investigação • Limitações: Examinador-dependente, presença de variações ultrassonográficas em benignos e malignos • Para predição de risco de câncer ovariano pode usar os critérios de IOTA – Classifica os achados em provavelmente benignos, provavelmente malignos e indeterminados • Provavelmente benignos – padrões clássicos, tem benefícios com o tratamento conservador (ex: cisto simples de ovário, cisto hemorrágico e endometrioma) TODOS SÃO BENIGNOS! A: Cisto hemorrágico B: Endometrioma ovariano (homogêneo, vidro fosco, pontos hiperecogênicos) C: Cisto funcional ovariano (conteúdo anecoico, homogêneo, paredes regulares) D: Cisto simples de ovário com septo fino (conteúdo anecoico, homogêneo, paredes regulares, septo fino de permeio e avascular) Características ultrassonográficas de massas benignas: E as características ultrassonográficas suspeitas de malignidade? • Presença de componente sólido (pode ser multiloculado sem componente sólido ou uniloculado com componente sólido) – qualquer um já tem maior risco de malignidade • Cistos multiloculados • Aumento da espessura da cápsula • Diâmetro superior > 6cm • Presença de septo grosseiro • Projeções papilares • Ascite • Diminuição do fluxo ao Doppler RNM pelve – em casos de dúvidas com USG, em gestantes, crianças e virgens • O uso em associação com a USTVaumenta a sensibilidade em lesões malignas e especificidade em benignas TC de pelve – doença extra-ovariana BENIGNA X MALIGNA (PROVA) CARACTERÍSTICAS ALTO RISCO BAIXO RISCO Idade >50 anos < 50 anos Histórico familiar Presente Ausente Sintomas Presentes e múltiplos Ausente (assintomáticos) Exame clínico Dor pélvica, massa grande, fixa, irregular, ascite ou metástase, edema de MMII, bilaterais Assintomáticos, massa unilateral, cística, móvel e lisa Maria Clara Cavalcante Marcadores tumorais Elevados Normais Achados ultrassonográficos ≥ 6cm, septação espessa (grosseira), multilocular, ecogenicidade aumentada e/ou mista e/ou componente sólido, projeção papilar presente < 6m, septação ausente ou fina (1-2mm), unicolular, hipoecogênico, homogêneo, projeção papilar ausente CÂNCER DE OVÁRIO (PROVA) É o 7º mais comum entre mulheres no Brasil – é extremamente agressivo e com mortalidade de 60% em 5 anos Os TUMORES EPITELIAIS são os mais comuns Início súbito, severo e de rápida progressão + sintomas consumptivos NÃO EXISTE RASTREAMENTO DE CÂNCER DE OVÁRIO! TRATAMENTO A abordagem terapêutica deve excluir malignidade e pensar em aspectos hormonais e reprodutivos da paciente Sempre que possível, o procedimento deve ser MINIMAMENTE invasivo e focado em PRESERVAR O OVÁRIO Teratoma maduro (tumores de células germinativas + comuns) sintomáticos ou >2cm podem e devem ser removidos sem comprometer o restante do ovário – até germinativos malignos podem permitir tratamento conservador Ooforoplastia (tirar só o cisto) X Ooforectomia (tira todo o ovário) A conduta terapêutica varia de acordo com a faixa etária e malignidade Pré-púbere: referenciadas para especialistas Pré-menopausa: fundamental excluir ou confirmar possibilidade de gravidez e presença de abscesso tubo- ovariano. Deve-se realizar exames de imagem • As pílulas anticoncepcionais combinadas não promovem a resolução dos cistos funcionais ovarianos Pois o cisto folicular e o corpo lúteo somem até a 12ª semana Pós-menopausa: USTV/RNM + CA-125 são importantes para definir a melhor conduta • Em achados > 10cm na USTV ou CA-125 > 35U/ml a paciente deve ser referenciada para oncoginecologista Gestação: Nas sintomáticas é sempre indicado cirurgia, independente da IG no momento do diagnóstico Assintomáticos – conduta deve ser de acordo com a idade gestacional Maria Clara Cavalcante CONDUTA Mulheres na pré ou pós-menopausa com MASSA ANEXIAL COMPLEXA, SUSPEITA OU PERSISTENTE demandam que seja estimado o risco de malignidade e avaliação cirúrgica Emergência ginecológica – Na suspeita de RUPTURA ou TORÇÃO ovariana (sintomáticas) em qualquer idade a conduta é CIRÚRGICA! CONSIDERAÇÕES FINAIS – REVISÃO BÁSICA As massas anexiais são massas tumorais originadas nos ovários, tubas uterinas e estruturas em torno desses órgãos Ocorrem em todas as faixas etárias e a sua etiologia varia de acordo com a idade Dentre as massas anexiais mais comuns estão cistos funcionais Entre os tumores ovarianos benignos o mais comum é o Teratoma Cístico Maduro (Cisto dermoide) O CA-125 é um marcador tumoral mais utilizado e tem importância maior na menopausa Sempre buscar descartar malignidade Em caso de tratamento conservador, pode-se usar os anticoncepcionais para evitar surgimento de novos cistos, porém eles não tratam os cistos já existentes Em caso de tratamento cirúrgico, sempre que possível, o procedimento deve ser minimamente invasivo e focado em preservar o ovário REFERÊNCIAS: Aula ministrada pela professora Eveline Fernandes Tratado de ginecologia Febrasgo / editores Cesar Eduardo Fernandes, Marcos Felipe Silva de Sá; coordenação Agnaldo Lopes da Silva Filho ...[et al.]. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2019.
Compartilhar