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9 - A reportagem, pauta e fontes do noticiário 
Mantenha-se sempre a par dos acontecimentos do dia. Leia rodos os jornais e revistas concorrentes e ouça o 
maior número possível de programas noticiosos de rádio e de televisão. 
Phillip Lesly
Somente um noticiário atrativo será capaz de captar o interesse dos leitores - Necessidade dos Departamentos 
ou Editorias de Produção - Maneiras para se criar ou provocar notícias - As pautas de trabalho auxiliam o jornalista 
não-especializado - Dentro dos fatos rotineiros pode-se descobrir a boa matéria - Os anúncios como fontes de notícias - 
Os grandes e os pequenos jornais em face das diversas coberturas - Assuntos antigos podem ser revividos - As histórias 
de interesse humano - As fontes fixas e as fora de rotina - Esboço de pautas - As fontes diretas, indiretas e adicionais - 
Os porta-vozes, os setores, os círculos e os informantes - A observação direta, a coleta, o levantamento, o despistamento 
e a análise - A proteção legal do segredo jornalístico. 
* * *
Departamentos (ou Editorias) de Produção - Preencher as páginas de um jornal diariamente não é 
difícil, do ponto de vista material. Os aparelhos de telex funcionam diuturnamente, as repartições públicas e os 
particulares encaminham seus comunicados às Redações, e os repórteres, sucursais e correspondentes estão sempre 
ativos. Assim, o que chega aos jornais daria folgadamente para serem feitas edições que fossem até o dobro ou o triplo, 
na quantidade de páginas, das que normalmente são publicadas.
o noticiário, porém, deve ser atrativo, para captar a simpatia e o interesse dos leitores. Ao jornalista cabe criar a boa 
notícia, pois as que são solicitadas ou entregues pelos interessados nem sempre são excelentes, jornalisticamente. 
Divulgar o que somente as agências fornecem e apenas o aspecto principal do fato quente, do dia, seria temeroso. Se os 
jornais assim procedessem, eles sairiam idênticos. Se todos se limitassem a inserir os telegramas procedentes de Nova 
York, referentes a um avião que caiu ao tentar aterrar no aeroporto Kennedy, o leitor não teria escolha nem preferência. 
As descrições dos matutinos seriam semelhantes, variando talvez apenas na paginação ou na seqüência dos despachos. 
Para que a imprensa não se circunscreva a publicar apenas o obtido nas mesmas fontes, sem nada mais 
esclarecer a respeito, é que foram criados os Departamentos ou Editorias de Produção, que trabalham permanentemente, 
em várias turmas, propondo reportagens, sugerindo pesquisas, formulando indagações e solicitando entrevistas, tudo 
com a finalidade de o jornal obter vários enfoques para um mesmo caso ou assunto. 
Já vimos (capítulo 3) a impossibilidade para se definir o que seja notícia, mas enumeramos os critérios 
seguidos para a escolha do que possa ser bom, ou mesmo excelente, do ponto de vista jornalístico. Os assuntos 
noticiáveis variam ao extremo e ocorre, ainda, que, entre aqueles considerados importantes hoje, muitos já não mais o 
serão dentro de algumas semanas. De uma nota banal pode surgir uma pista para a grande reportagem, desde que o 
sentido jornalístico funcione, para apuração do que é melhor, entre tantas matérias conhecidas ou semi-ocultas. 
O que deve um jornal publicar? Muito embora cada um tenha a sua linha ou orientação, há assuntos gerais que, 
em qualquer época, podem ser abordados. Mas é preciso que o corpo redatorial esteja a par de todos os acontecimentos 
do dia, sugira reportagens e realize pesquisas. Philip Lesly1 enumera várias maneiras para criarem notícias: entrevistar 
personalidades, participar de controvérsias, fazer análises e previsões, referir-se a aniversários, elaborar sumários ou 
retrospectos de fatos importantes, informar onde podem ser passadas as próximas férias, descrever viagens, instituir 
concursos e conceder prêmios, manter polêmicas, divulgar cartas recebidas, verificar qual a repercussão (no país ou na 
cidade) de fatos ocorridos no exterior, elaborar e comentar estatísticas e organizar simpósios e foros de debates. Sobre 
essas sugestões nos iremos referir detalhadamente mais adiante. 
A inexistência no Brasil - pelo menos na maioria dos jornais - de redatores especializados dificulta o 
acompanhamento do que ocorre em determinadas áreas. Por isso, cabe à Produção elaborar pautas de trabalho. O 
progresso nos vários setores vai ampliando os horizontes e, conseqüentemente, as exigências do noticiário. As frentes se 
abrem agora, de um momento para outro. Há vinte anos, não se faziam muitas reportagens sobre ecologia, e quanto à 
poluição ambiental, talvez ainda nem tivessem começado a se esboçar. Hoje, esses assuntos figuram diariamente nos 
jornais e é preciso acompanhá-los, mostrar o que está errado, criticar e verificar a ação preventiva e as repressões. 
Para que não se fique exclusivamente na expectativa do que chega à Redação, é preciso, segundo Juvenal 
Portela, da Editoria de Criação do Jornal do Brasif2, descobrir novos caminhos para a notícia já conhecida, imaginar 
situações ou fatos que possam sofrer avaliação jornalística e observar também todas as variantes de um tema. 
Funções do pauteiro - O pauteiro é peça importante no complexo jornalístico. Entre as suas funções está a 
de ler tudo o que lhe caia às mãos, mas sempre na tentativa de encontrar a chave para uma boa matéria. Quantas 
reportagens não se inspiraram em modestíssimos anúncios classificados, que o anônimo leitor deixa no balcão e manda 
publicar, mediante o pagamento de poucos cruzeiros? Venda de objetos antigos ou de animais de raça rara pode dar boa 
matéria. Por que pretende alguém dispor de uma mobília do século passado? Qual a origem desses móveis? Quais os 
cuidados para a criação de cães ou de gatos? 
Idéias, criação, é o que o jornal exige do pauteiro. Ele deve fornecer diariamente aos editores pelo menos uma 
ou duas laudas de sugestões. Como preenchê-las, senão usando da sua imaginação, recorrendo a livros, jornais e revistas 
e trocando idéias com os colegas e amigos? O Departamento (ou Editoria) de Produção (ou de Criação) sugere a 
matéria, com a respectiva estrutura, para que O jornal, recorrendo às fontes de notícias, transforme a inspiração em 
realidade. 
Ao ler uma nota já publicada, o pauteiro levanta as suas dúvidas. O que poderá acontecer hoje e amanhã, onde, 
quando e por quê? Assim, redige a pauta. Se o governo anuncia que pretende estimular o transporte ferroviário, o que 
1
será preciso fazer? Ouvir os dirigentes de fábricas de locomotivas e vagões? Qual o pensamento dos fornecedores de 
madeiras para os dormentes? Serão prejudicadas as reservas florestais? Opinião básica será também a dos diretores de 
ferrovias. Qual o ponto de vista dos industriais sobre a concorrência entre o transporte por estradas de ferro e o 
rodoviário? Vamos fazer comparações entre o Brasil e outros países, nos quais as ferrovias transportam maiores 
quantidades de carga? A intensificação dos planos de produção de energia elétrica permitirá que se abandonem ou se 
reduzam as locomotivas movidas a óleo diesel? Eis, em síntese, uma pauta-resumo. Partindo dela, caberá movimentar 
toda a equipe ligada à Redação. 
Ao enviar ao seu jornal a notícia de que o Prefeito de sua cidade havia encaminhado à Câmara a proposta 
orçamentária para o exercício seguinte, um correspondente nela colocou o seguinte parágrafo: "No setor agrícola foi 
reservada a verba de R$ 2 220 350,00, que corresponde a 3,39 % da despesa. O Município incentiva um programa de 
diversificação, com a admissão de pessoal especializado e a introdução de novas culturas, como as do tomate rasteiro, 
mamão, maracujá e café". A Produção leu esse tópico e achou que seria interessante desenvolver matéria sobre o apoio 
que o Município dava à agricultura. A reportagem foi feita e mostrou aspectos originais do programa da Prefeitura de 
uma cidadenão-industrializada, que procurava incentivar a lavoura, porque a maior parte da população vivia das 
atividades rurais. 
Dentro das notícias rotineiras, pode-se descobrir a boa matéria. Os jantares do Rotary Clube não merecem 
muito destaque jornalístico, mas se o comunicado de sua secretaria informar que, dentro de alguns dias, participará da 
reunião o ex-governador do Estado, ou um cientista de renome, ela merecerá cobertura. E o repórter deverá aproveitar a 
ocasião, para fazer uma entrevista com o visitante. 
A vida de um pauteiro poderia ser orientada pelos conselhos de Philip Lesly3: 
1. Mantenha-se a par de todos os acontecimentos do dia. 
2. Leia todos os jornais e revistas concorrentes e ouça o maior número possível de programas noticiosos 
de rádio e de televisão. 
3. Proponha entrevistas com personalidades. 
4. Idealize matérias sobre assuntos controvertidos, ouvindo várias pessoas que tenham opiniões 
divergentes. 
5. Mande seus repórteres a todas as conferências, simpósios e congressos, pedindo-lhes que anotem não só o 
que ouvirem, mas que façam também entrevistas sobre temas correlatos ou paralelos. 6. Publique histórias sobre as 
cidades e empresas que aniversariem. 
7. Divulgue notícias sobre estâncias, roteiros de viagens, excursões e inaugurações de linhas aéreas. 
8. Coloque seus repórteres permanentemente em viagem, auscultando pessoas de várias regiões, sobre um 
assunto predeterminado. 9. Destaque, na coluna social, as personalidades que tenham trabalhado nos setores da 
filantropia. 
10. Critique construtivamente os poderes públicos. 
11. Leia o que é enviado para a coluna dos leitores e talvez encontre assuntos para matérias excepcionais. 
12. Verifique qual a repercussão, na sua cidade ou Estado, de acontecimentos internacionais ou nacionais, 
como por exemplo, o aumento do preço do petróleo, restrição do número de viagens aéreas, ou escassez de 
determinados gêneros alimentícios. 
13. Promova ou patrocine debates sobre temas, específicos ou não, convidando· técnicos para que sobre eles 
falem em auditórios, com a presença de estudantes. 
14. Não deixe de pautar com antecedência as matérias sobre datas já conhecidas: Dia das Mães, Dia dos Pais, 
Dia dos Namorados, Corpus Christi, Natal, Páscoa e outras. 
15. Mantenha estatísticas e dados históricos sobre os mais variados assuntos, que possam um dia vir a 
interessar ao jornal. 
Anúncios, entrevistas, pesquisas e arquivo - O edital que convoque a assembléia geral extraordinária de 
uma sociedade, a fim de extingui-la, proporciona boa reportagem. Por que a dissolução? Quais os motivos que a 
impediram de continuar existindo? O que levou a diretoria a optar pelo término da agremiação? A sugestão será aceita 
pacificamente pelos associados, ou há grupos contrários à medida e que acreditam possa a sociedade sobreviver? 
Da mesma forma, os anúncios de abertura de concorrência pública para a execução de uma estrada que venha a 
ligar dois municípios permitem que o pauteiro sugira matéria a respeito. Há quanto tempo era reclamada a rodovia? 
Quais as deficiências de transporte da região? Haverá muitas desapropriações? Quando as obras poderão ter início? 
Qual o prazo para terminá-las? O que acham os proprietários das empresas de ônibus? 
Na execução ou concretização da pauta, devem ser considerados os grandes e os pequenos jornais. Os últimos, 
como é natural, abordarão assuntos preferencialmente da cidade ou da região, pois poderão apenas recorrer aos seus 
repórteres e aos correspondentes dos municípios mais próximos. Os órgãos de maior projeção, que mantêm sucursais 
nas grandes cidades, elaboram pautas de caráter nacional, fazendo pesquisas ou verificando, nos diversos Estados do 
país, a repercussão de um acontecimento ou de uma medida governamental. 
Para que uma pauta seja cumprida, recorre-se a entrevistas, a pesquisas e a arquivos. Muitas vezes a notícia que 
pode proporcionar a' grande pauta está no próprio jornal, escondida como simples parágrafo de uma entrevista, ou foi 
mesmo divulgada por um concorrente. Ao pauteiro, com o seu tirocínio e faro jornalístico, cabe descobri-la e torná-la de 
importância. 
Os elementos da Produção devem ter suas vistas não só voltadas para os acontecimentos próximos, mas 
também para os distantes, no tempo. Sem previsão, arrisca-se o jornal a tomar furos ou a divulgar matérias sem o 
2
devido tratamento. As grandes datas devem ser pautadas com antecedência, a fim de que haja possibilidade para 
prepará-las. O centenário da imigração italiana teve que ser lembrado um ano antes, para que fossem feitos os 
levantamentos históricos. Teria sido possível a um jornal dar um caderno especial sobre essa data, se a Produção tivesse 
se lembrado dela apenas 15 ou 20 dias antes? 
A aproximação do fim de ano permite que sejam planejados roteiros de férias. Escolhe-se um itinerário e parte-
se para a matéria. A Editoria de Artes elabora um mapa, no qual haja a indicação das estradas, O Departamento de 
Estradas de Rodagem informa sobre as condições de cada rodovia, se há desvios ou obras em algumas delas e 
mencionando os quilômetros nos quais os motoristas devem dirigir com mais prudência. Um repórter pode ser 
destacado para fazer a viagem, mostrando os panoramas, as opções para restaurantes e os abastecimentos de gasolina e 
de óleo. Os correspondentes e as sucursais próximas levantarão históricos das cidades, pontos pitorescos e turísticos de 
cada uma e informações sobre as diárias dos hotéis e o que podem oferecer. Em uma ou duas semanas a reportagem 
estará pronta. 
A leitura de coleções antigas do jornal dá margem a que assuntos velhos sejam revividos, sob outros aspectos 
ou enfoques. Determinada data, até há alguns anos, era comemorada de maneira entusiástica por um Município, em 
colaboração com os clubes de serviço. Por que as festas deixaram de ser realizadas? Há possibilidade de reviverem? O 
jornal poderá ouvir os antigos promotores das comemorações e os que se destacavam na elaboração dos programas. 
A finalidade da pauta é abastecer o jornal de amanhã ou os dos próximos dias, sem falhas ou esquecimentos. 
Há ocasiões em que ela é elaborada para aguardar um acontecimento que poderá ocorrer ou não. Quando o professor 
Zerbini realizou o primeiro transplante de coração no Brasil, o Jornal da Tarde, de São Paulo, divulgou uma edição 
toda a esse respeito, esgotando praticamente o assunto. Desde que surgiu a possibilidade de a operação ser feita, 
semanas depois da experiência pioneira do professor Barnard, uma equipe do Jornal da Tarde passou a trabalhar no 
assunto, freqüentando o Hospital das Clínicas, ouvindo médicos e vivendo, enfim, uma situação especial. Quando o 
transplante foi anunciado, boa porcentagem da matéria estava pronta. A previsão dos pauteiros consagrou, mais uma 
vez, o renome do vespertino. 
Interesse humano - Gaudêncio Torquato4 acha que os leads resumo devem ser condenados, porque 
constituem obstáculos à continuação da leitura. Por isso, defende um estilo editorial que possa apresentar o fato sempre 
de maneira leve, agradável, atraente, legível, dinâmica e literária. Com efeito, o lead está sendo posto à margem, porque 
narra, com frialdade e em poucas linhas, a síntese da notícia. Dirige-se ao homem apressado, que não tem tempo de ir 
até o fim e se contenta com a síntese. Mas, em contraposição, indagamos se valeria estender-se um assunto do dia em 
várias páginas do jornal. Não poderia o leitor se queixar de que havia encontrado excesso de informação, para ele 
enfadonho e monótono? 
A notícia revestida de interesse humano, que mostre as dificuldades, os prazeres e a história de cada pessoa e 
que tenha lições a oferecer ao próximo, é a que mais leitores encontra. E é nas ruas, principalmente, que o repórter 
encontra a sua matéria-prima. Por que, napraça pública, a menina, em andrajos, procura vender flores a quem passa por 
ela? Qual o drama vivido por essa criança? Terá ela um lar? O dinheiro que chega a arrecadar não seria destinado à 
alimentação de uma família pobre, que tem o seu chefe doente e acamado? Quais as dificuldades que passam a menina e 
seus irmãos? Estariam os seus familiares necessitando de assistência médica? E, em meio a esse panorama negro, não 
poderá essa criança, ainda que chorosa e suja, ter para o repórter uma frase dita com erros de português, mas de 
agradecimento a Deus por conseguir diariamente obter, com a venda de flores, o dinheiro para o almoço de seus pais e 
irmãos? E essa afirmação de fé, contida em uma história bem redigida pelo repórter, não será um lenitivo para muitos 
que, enfrentando menores problemas, se materializaram e não sabem encontrar uma orientação espiritual capaz de 
libertá-los de suas aflições? 
Percorra um repórter os hospitais e as cadeias e, em cada leito ou cela, encontrará elementos para as histórias 
de interesse humano, como a da menina que vendia flores. E o leitor, ao inteirar-se das narrativas, se emocionará e se 
entristecerá, mas ... irá até o fim da reportagem. Tudo terá partido de quando uma criança ofereceu o botão de rosa ao 
repórter, ou desde o momento em que ele entrou em uma enfermaria, ou teve de ir à Delegacia de Polícia e recebeu o 
apelo de alguém que, gemendo, ou atrás das grades, queria trocar algumas palavras. Em todos esses casos, o jornalista 
dará um colorido ao que viu, narrará cenas que podem comover, apresentará uma literatura amena e, ao final, 
conseguirá também - se esse for o seu objetivo - obter dos leitores o amparo material para aqueles que foram os 
personagens centrais das histórias. 
Fontes - Tudo o que o jornal publica é obtido nas fontes de informação, que podem ser classificadas em dois 
grandes grupos: as fixas e as fora de rotina. 
Fixas são aquelas às quais se recorre para o noticiário de todos os dias, embora nem sempre forneçam assuntos 
de muito interesse. Polícia, Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Câmara Municipal, Congresso Nacional, Juízos e 
Tribunais, Centros de Saúde, Hotéis, Estações (Rodoviárias e Ferroviárias), Associações, Sindicatos, Hospitais, 
Aeroportos, Institutos de Pesquisa e Clubes Esportivos são visitados obrigatória e diariamente pelos repórteres. 
Juarez Bahia5 assinala que de um ponto de vista formal as fontes podem ser assim resumidas: 1º) O repórter. 
2º) O correspondente. 3º) As agências noticiosas. 4º) As sucursais do interior e do exterior. 5º) As agências de 
variedades. 6º) Os informantes. 7º) As entidades públicas e privadas, sindicatos e associações. 8º) Os setores de relações 
públicas governamentais e privadas. 9º) Os amigos do pessoal e do jornal. 10º) O pessoal voluntário. 
Fora de rotina são as fontes procuradas excepcionalmente, quando o esclarecimento de um fato o exige. 
Fonte é qualquer pessoa que presta informações ao repórter. A tendência generalizou-se no sentido de se usar 
tanto fonte (no singular) quanto fontes (no plural). Porém há notícias, como as relacionadas com os interesses da 
3
comunidade (fornecimento de água, de luz e o funcionamento dos telefones), que não precisam ser transmitidas 
misteriosamente por uma fonte, porque nada têm que deva ser ocultado. Luiz Orlando Carneir06, editor de notícias do 
Jornal do Brasil, lembra que as fontes não declaradas são as pessoas bem informadas, como altos funcionários ou 
políticos importantes, que adiantam alguma notícia ou fazem um julgamento ou análise sobre acontecimentos delicados, 
geralmente na área política, do Executivo e da Economia e Finanças. Ainda segundo Luiz Orlando Carneiro, "porta-
vozes, fontes, setores, círculos, informantes, são geralmente os termos usados pelos repórteres e redatores que não 
desejam revelar onde obtiveram os elementos para as suas matérias". 
São palavras textuais do mencionado jornalista: "Um dicionário comum diria que porta-voz é aquele que fala 
freqüentemente em nome de outrem. A definição é exata. Mas, em jornalismo, porta-voz não deve ser qualquer um que 
fala freqüentemente em nome de outrem, mas sim alguém altamente qualificado, que fala por um governante, um alto 
funcionário do Estado ou por alguma agremiação política de importância nacional. No Brasil, é comum desgastar-se o 
termo porta-voz, aplicando-o em lugar de fonte ou de informante e mesmo pluralizando-o. O porta-voz deve ser uma 
fonte reconhecível e nunca deve ser usado como sinônimo de uma fonte qualquer". O porta-voz de um Presidente ou de 
um Ministro das Relações Exteriores é alguém que tem nome. Nos Estados Unidos, por exemplo, os jornais e as 
agências de notícias costumam nomear, sempre que possível, o porta-voz. Assim, lê-se muitas vezes nos telegramas 
internacionais: "O porta-voz do Departamento de Estado, Robert Mc Closkey, informou ... " Em suma, o porta-voz é 
aquele que expressa autorizadamente o pensamento de uma alta autoridade ou de um grupo importante. 
A fonte autorizada substitui o porta-voz, nos casos em que o governante (ou alta autoridade) não pode 
formalizar e oficializar a informação ou o julgamento que muitas vezes tem vontade de tornar público. 
Quanto a setores, círculos ou outros meios, são palavras que passaram a ter emprego intensificado, porque, 
escritas no plural, diluem a responsabilidade de quem deu a informação ao jornalista. 
As fontes de informação podem ser diretas, indiretas e adicionais. Classificam-se de diretas as pessoas 
envolvidas em um fato ou ocorrência e também os comunicados e notas oficiais a respeito. Fontes indiretas são pessoas 
que, por dever profissional, sabem de um fato circunstancialmente. Da mesma forma são classificados os documentos 
ligados ao assunto coberto pelo jornal. Fontes adicionais - segundo Octavio Bonfim7 - são aquelas que fornecem 
informações suplementares ou ampliam a dimensão da história. Entre elas, citam-se os livros de referência, 
enciclopédias, almanaques, atlas e relatórios. Na mesma classificação são incluídas as pessoas que conhecem fatos 
passados, de qualquer forma ligados a acontecimentos atuais. 
Quanto à maneira como aparecem na noticia, as fontes são qualificadas como ostensivas e indeterminadas. 
Ostensivas, quando o leitor sabe quem forneceu os elementos para a matéria. Exemplo: "O Prefeito declarou que vai 
enviar à Câmara o projeto que regulamenta a altura dos prédios na zona central". São indeterminadas, quando não há 
menção sobre quem deu as informações. É o caso da nota: 
"Segundo alguns setores, é possível que o dólar seja valorizado até o final deste mês". A necessidade da 
apuração de todos os dados colhidos pelo repórter foi destacada, de forma brilhante, por Octavio Bonfim 8 ao acentuar 
que a notícia precisará oferecer ao leitor todas as informações válidas. Detalhes aparentemente irrelevantes devem ser 
levados em conta, e os nomes, bem como datas e lugares, precisam ser cuidadosamente escritos, para evitar 
desmentidos. A apuração, segundo a define, "consiste no levantamento completo dos dados e elementos de um 
acontecimento, para que se possa escrever uma notícia sobre o mesmo", 
Octavio Bonfim cita cinco formas para a apuração da notícia: observação direta, coleta, levantamento, 
despistamento e análise, A observação direta consiste na ida do jornalista ao local do acontecimento, para descrever o 
ambiente, a ação e as pessoas que dele participam e inclusive fazer entrevistas. A coleta compreende a apuração através 
de recebimento de comunicados oficiais ou de conversas com fontes diretas ou indiretas. O jornalista não conseguiu ir 
ao local de uma ocorrência ou chegou atrasado. Recorre, então, aos que assistiram ao desenrolar dos fatos e se baseia na 
nota oficial (se for ocaso). Levantamento é o processo para obter dados sobre algo que permanece reservado. Há 
conveniência, por parte dos interessados, em manter sigilo a respeito de determinado assunto, mas o repórter, com 
habilidade e discrição, vai auscultando quem possa lhe oferecer elementos e vai fazendo, paralelamente, as suas 
observações próprias. No despistamento são empregados' 'recursos circunstanciais para levar alguém a fazer revelações 
de fatos que gostaria de conservar em segredo, ou para colher diretamente as informações desejadas". O repórter, 
usando de artifícios e fingindo exercer outras funções, fica em situação de conseguir todos os elementos que deseja. 
Porém, conforme a atitude que vier a tomar, o jornalista poderá incorrer no crime de falsa identidade, punido pelo 
Código Penal com três meses a um ano de detenção. 
Na história do jornalismo brasileiro teve grande repercussão a reportagem feita na década de 40 por um 
repórter paulistano que se disfarçou de mendigo e mostrou, depois, quanto chegou a ganhar e como era tratado pelo 
povo. Ray Sprigle9, do Post Gazette, de Pittsburgo, em 1948 converteu-se em negro, para colher impressões sobre a 
perseguição racial nos Estados Unidos. Submeteu-se a raios ultravioleta, ficou com a pele escura e passou a freqüentar 
lugares onde os pretos eram mal recebidos ou expulsos. 
Manuela de Azevedo, do Diário de Lisboa, empregou-se, em 1945, como camareira dos reis da Itália, que 
estavam desterrados em Portugal, e conseguiu fazer reportagem detalhando a intimidade familiar de Humberto 11. Um 
dos repórteres da Tribune, de Chicago, Lingle, imiscuiu-se entre os gângsteres e já havia colhido boas informações 
sobre eles, quando foi descoberto e assassinado. Em Hamburgo, um repórter conseguia publicar todas as notícias que a 
polícia negava à imprensa, porque descobrira as freqüências de todas as emissoras de rádio a ela pertencentes. 
Don Kellerman, repórter do tablóide Newday, de Long Island, quis saber como os criminosos primários eram 
tratados pela polícia. Quebrou a vitrina de um bar, dirigiu-se à caixa registradora, dando a impressão de que iria praticar 
4
um assalto, e ficou preso sete semanas, sob nome falso. Durante esse tempo, conversou com os colegas de cela e obteve 
excelentes informações. Foi posto em liberdade, mediante fiança de quinhentos dólares, e absolvido depois de compro-
var que era jornalista em missão profissional. Em uma série de reportagens, narrou a vida na prisão e mostrou que na 
penitenciária havia tráfico de entorpecentes. 
Quanto à análise - diz ainda Octavio Bonfim -, é o processo pelo qual o repórter faz um exame crítico e 
confronta os fatos presentes com os do passado, a fim de dar ao leitor o panorama e a perspectiva de um acontecimento. 
No dia em que o General Antônio Spínola, ex-Presidente de Portugal, chegou a São Paulo e hospedou-se no 
Hotel Jaraguá (no mesmo prédio em que, até junho de 1976, funcionou O Estado de S. Paulo), se ele pedisse algo para 
comer, em seu apartamento, seria atendido por dois garçons. Um deles era repórter de O Estado, "contratado" pelo 
hotel, naquela tarde, Caso decidisse ir para o bar do hotel, havia outro jornalista à sua espera. Se descesse ao 
restaurante, também ali encontraria um repórter de O Estado, pronto para entrevistá-lo. É, de fato, quando ele se dirigiu 
ao restaurante, encontrou ali, jantando calmamente, uma equipe de O Estado e outra do Jornal da Tarde, com as quais 
consentiu conversar, desde que não fosse sobre política, sob os olhares curiosos e reprovadores dos agentes da Polícia 
Federal, que pretendiam impedir esse contato. O "cerco" a Spínola só foi possível, do modo como foi feito, no Hotel 
Jaraguá e por repórteres de O Estado e Jornal da Tarde, vizinhos antigos e, acima de tudo, amigos. "Pergunte a seus 
diretores" - sugere Manoel Garcia, diretor da Horsa, companhia responsável pelo Jaraguá - "quantas vezes eles 
atravessaram a porta secreta existente no prédio que dá passagem para o hotel e vieram encontrar-se com políticos, 
presidentes da República, embaixadores e outras autoridades que os chamavam para encontros secretos" 10. 
O artigo 71 da Lei de Imprensa estabelece que "nenhum jornalista ou radialista, ou em geral as pessoas 
referidas no artigo 25, poderão ser compelidos ou coagidos a indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas 
informações, não podendo o seu silêncio a respeito sofrer qualquer sanção direta ou indireta, nem qualquer espécie de 
penalidade". Darcy Arruda Miranda11 comenta que essa é uma das boas medidas legais, pois, "não poucas vezes, quem 
tem uma informação de grande interesse público deixa de divulgá-la, pelo justificado receio de perder o emprego ou a 
função", e o jornalista que colhe a notícia precisa publicá-la ou transmiti-la sem receio de ser coagido a denunciar a sua 
fonte de informação ou o nome de seu informante. Esclarece ainda Darcy Arruda Miranda: "O crime de violação do 
segredo profissional, de que cuida o artigo 154 do Código Penal, é a revelação do segredo sem justa causa. Ora, 
partindo-se do pressuposto de que o interesse coletivo sobrepuja o individual, haverá sempre justa causa, quando o 
segredo revelado ao jornalista ou radialista, para a necessária divulgação, seja de interesse público. Não se pode falar 
em dano de outrem, sem a idéia de ilicitude. O fato de a revelação causar dano a um ladrão, estelionatário, peculatário 
etc. não é crime, é obrigação cívica. O contrário ocorre se o jornalista ou radialista recolhe a informação dada não com 
o propósito de divulgá-la, mas como segredo. Neste caso, a revelação constituirá crime". 
Outro esclarecimento de Darcy Arruda Miranda: "O que não sofre sanção civil, administrativa ou penal é o 
silêncio do divulgador, não a publicação ou transmissão incriminada". 
Pauta de fato imprevisível - Os acontecimentos dó dia precisam ser pautados para que os serviços 
sejam racionalmente distribuídos, movimentando-se toda a máquina que esteja a serviço do jornal. 
Suponha-se que a Redação de um grande jornal de Campinas recebesse uma informação que se resumisse no 
seguinte: 
Um Boeing 747, da Empresa XYZ, procedente de Nova York, ao pretender aterrar em Viracopos, desviou-se 
da rota e caiu em Paulínia, cidade a 18 quilômetros de Campinas, destruindo casas e as instalações da importante firma 
Gama. 
O pauteiro, em colaboração com todas as Editorias, distribuiria os serviços da seguinte forma: 
L Reportagem local: 
1. Envio de repórteres e fotógrafos a Paulínia para: 
a) Descrever a situação e ouvir depoimentos de pessoas que tenham visto a queda do avião. 
b) Entrevistar o Delegado de Polícia e os responsáveis pela indústria Gama sobre os prejuízos e possível tempo 
de paralisação de suas atividades. 
2. Viracopos: 
a) Saber a conversação mantida entre a torre de controle e o comandante do Boeing. 
b) Obter informes, no balcão da Empresa XYZ, sobre a relação de passageiros e escalas do avião. (A 
reportagem é informada que, a bordo, se encontrava Mister Charles, alto funcionário do Departamento de Estado Norte-
Americano, e o quadro titular do Clube Canindé, de São Paulo.) 
c) Pedir à XYZ nota oficial sobre o acidente (que poderia também ser expedida pelos escritórios da Companhia 
no Rio de Janeiro, em São Paulo ou Brasília). 
3. Entrevistas com as famílias de Campinas que tinham parentes no avião. Ouvir também as autoridades 
policiais. 
II. Correspondentes, sucursais e agências noticiosas: 
1. Pedir informações sobre como foram as decolagens e pousas do avião, no mesmo vôo, em Nova York, 
Miami, Caracas, Brasília e Galeão. 
2. Conseguir da companhia XYZ, na sua sede (Rio de Janeiro), biografias do pessoal de bordo e ouvir os 
familiares de todos eles, além dos colegas que haviam sido seus companheiros de viagens anteriormente. 
3. Entrevistar no Rio e Brasília (e se possível também em Caracas e Miami) pessoasque viajaram no avião e 
desembarcaram nessas cidades, para que descrevam se conversaram com os que depois morreram em Paulínia e contem 
algo interessante e curioso sobre a viagem. 
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4. Ouvir, nos Estados Unidos, diretores da firma fabricante do Boeing. 
5. Obter a opinião de diretores da Federação Paulista de Futebol, do Clube Canindé, de outras agremiações e de 
jogadores e torcedores, a respeito dos atletas que morreram no desastre. 
6. Repercussão da morte de Mister Charles, ouvindo o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Presidentes 
e Reis dos países por ele visitados, quando em missão de paz. 
IIL Ao Arquivo seriam solicitadas as pastas seguintes: 
1. Mister Charles - Dados biográficos, trabalho que desenvolveu, declarações recentes e notas do Ministério 
das Relações Exteriores do Brasil e de chancelarias de outros países, quando anunciaram a sua visita à América do Sul. 
2. Clube Canindé - Objetivos de sua visita ao exterior. Relação dos países visitados. Jogos dos quais participou 
durante essa última viagem (vitórias, derrotas e empates). Possíveis incidentes e relação das taças conquistadas. 
3. Jogadores - Biografia de cada um e declarações por eles feitas recentemente. 
4. Desastres aéreos - Quantos acidentes com a Companhia XYZ? Relembrar o último ocorrido (antes do 
atual). Acidentes aéreos no Brasil e no mundo, nos últimos seis meses ou ano. 
5. Paulínia - Histórico da cidade, posição geográfica, população, renda, desenvolvimento. Relato sucinto das 
principais indústrias. Lutas políticas. Plano? de obras públicas. Firmas que se preparam para instalar indústrias na 
cidade. 
6. Empresa Gama - Descrição de suas instalações. Síntese do último relatório divulgado, que mencione área de 
construção, produção, número de empregados, planos. Outras fábricas da mesma organização existentes no país e com 
as quais havia intercâmbio. 
7. Pastas diversas - Biografias de pessoas proeminentes de Campinas (e/ou cidades vizinhas) que morreram no 
acidente. 
8. Viracopos - Instalações que possui, histórico, movimento estatístico, obras em execução, companhias que 
operam no aeroporto e as que não mais se utilizam dele. 
Pauta sobre matéria quente: seca 
Para o levantamento de uma situação, no Estado ou país, sobre a seca, um jornal paulistano poderia executar a 
seguinte pauta: 
Todas as sucursais e correspondentes devem enviar, até hoje, às 20 horas, por telex e telefone, os 
informes abaixo, com referência à seca: Há quantos dias não chove no município? Quais as lavouras mais 
atingidas? Indique possíveis prejuízos, bem como se há possibilidade de recuperação de alguma colheita, 
caso chova dentro de algum tempo. Qual a situação da pecuária? O abastecimento de água da cidade foi 
afetado? Em caso positivo, que medidas tomou a Prefeitura? Há indícios de chuvas para as próximas 24 ou 
48 horas? Entreviste diretores de sindicatos rurais, fazendeiros, pecuaristas e outras pessoas credenciadas 
para falar sobre o assunto. 
Pauta sobre matéria fria: lazer e tradições 
Às sucursais e correspondentes: 
Estamos querendo fazer um levantamento sobre o fazer e as tradições no interior. Como o povo se 
diverte nas pequenas cidades? O que mudou, e o que não mudou, das coisas antigas? Mas para tudo 
desejamos uma explicação, isto é, pretendemos saber as causas, os motivos, as razões. 
Como ponto de partida, definiremos o lazer como "um conjunto de ocupações às quais o indivíduo 
pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda 
para desenvolver a sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua 
livre cB..:-"cidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e 
sociais". 
As três funções do Jazer são, basicamente, as seguintes: 
a) Descanso - O homem, desgastado pelo esforço que despende no trabalho ou em enfrentar o 
transporte no dia-a-dia, procura retemperar suas forças. Ele quer, então, apenas o silêncio ou o dolce tar 
niente dos italianos. Recorre à pescaria, ouve gravações em alta fidelidade, ou lê. 
b) Divertimento, recreação e entretenimento - O cidadão procura as mais diferentes atividades: 
viagens, passeios, camping, jogos, esportes, hobby, teatro amador, televisão, cinema, leitura, rádio. Ele 
quer, em geral, projetar-se imaginariamente naquilo que vê, lê ou assiste, sentindo ser, no seu íntimo, o 
herói de um romance ou de um filme, ou o regente ou os músicos-executantes de uma orquestra. 
c) Desenvolvimento da personalidade - As horas de descanso são aproveitadas para melhorar o 
próprio indivíduo. Ele pratica ginástica, integra-se voluntariamente a associações (para demonstrar seu 
espírito de cooperação, de administração ou de filantropo) ou chega a aprender, com esportividade, uma 
nova atividade ou ofício, que lhe permita, no futuro, maiores ganhos. 
No entanto, as três finalidades são interdependentes, sendo difícil, na prática, separar·se 
integralmente uma das outras. 
Pretendemos, em ampla reportagem, estudar como se desenvolve o lazer no interior. Se é certo que 
a vida atribulada, agitada, das grandes cidades extenua o homem, fazendo-o viver entre os prédios de 
concreto e em centros desprovidos de vegetação, poluídos de todas as formas, não é menos real, segundo 
pensamos (e vamos tentar comprovar ou não nesta pesquisa), que nos pequenos municípios existe também 
a.preocupação pejo lazer. Queremos, por isso, que você escolha uma pequena cidade de sua região, com 
pouca população, sem grandes indústrias, que viva principalmente do comércio, da agricultura e da pe-
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cuária, e pesquise como lá se desenvolve o lazer. Recorra, se for o caso, a um distrito e não à sede do 
município. 
Basicamente, ouvindo pessoas de várias faixas, seria investigado o seguinte: os padrões antigos da 
cidade ainda são conservados, isto é, as famílias se visitam, ficam à noite nos terraços, ou sentadas em 
cadeiras colocadas nas calçadas, para um bate-papo amigo? Existem as comadres, que, num princípio 
rudimentar de comunicação, sabem da vida de todos? Há um bar, confeitaria, padaria ou firma semelhante 
que seja o ponto de reunião do pessoal que, entre um e outro gole de cerveja, comente os acontecimentos? 
E que acontecimentos? 
Se há a prática do lazer, qual o motivo apontado pelos moradores: o possível excesso de atividades 
durante a semana ou o fato de morarem numa cidade morta, onde não há nenhum divertimento? Se 
legalmente existe lá o sábado inglês (fechamento às 12 horas), como a maioria aproveita as tardes desses 
dias? E, nas férias, nos domingos e nos feriados, o que fazem os moradores? 
Ouvindo as pessoas das classes A e B (de boa e de média situação econômica e cultural), veja se 
elas têm: a) equipamentos para lazer (barracas de camping, varas de pescar, armas para a caça etc); b) 
rádios e televisores portáteis; c) carros; d) casas ou apartamentos na praia e/ou nas montanhas; e) sítios de 
fim de semana. Nas férias essas pessoas viajam, reservando hotéis, alugando casas no litoral, indo a 
colônias de associações, ou hospedando-se em casas de parentes? Quanto chegam a gastar, em média, nas 
férias? Economizam o dinheiro durante o ano, ou recorrem a empréstimos (e onde)? 
Há algum radioamador na cidade? Existem os que gostam de pequenas hortas de fundo de quintal, 
ou de criação de galinhas? Veja se você encontra um entusiasta pelos pássaros ou algum columbófilo. 
Existem os que, solitários, se dedicam a colecionar alguma coisa, como, por exemplo, selos, tampinhas de 
cervejas, rótulos de caixas de fósforos, bulas (de remédios), moedas, lápis, carteiras de cigarros, canecas ou 
esferográficas? Alguém já ganhou algum prêmio ou concurso? Como são feitas as permutas? 
Quantos clubes (esportivos, culturais, dançantes) funcionam na cidade (ou distrito)? Freqüente 
algum deles e veja o ambiente. O que os sócios acham dessesclubes como meio para quebrar a rotina? Há 
clubes de campo? Alguma instituição (SESI, SENAI) tomou iniciativas em favor do lazer? Os bares têm 
jogo de bocha? São bem aceitos? 
Existem Clubes de Veteranos, onde a polca, a valsa, a mazurca e outras composições são revividas 
periodicamente? Ouça alguns de seus associados. 
Qual tem sido ou poderá ser a colaboração da Prefeitura? Ela mantém praças esportivas? Quem as 
freqüenta e quais as pessoas (por profissão e idade) que nadam nas piscinas? Há muitos jardins na cidade? 
São realizados concertos dominicais? Ouça os músicos, para que digam de suas ilusões e desilusões. Peça 
ao Prefeito para que fale sobre os programas de lazer. 
Como os assuntos locais são conhecidos pela população? Transmissão oral, de uma pessoa para 
outra, ou serviço de alto-falante? Os namoros seguem a tradição antiga, isto é, só prosperam com a 
autorização dos pais da moça e em casa deles, ou há liberdade? Os casamentos são acontecimentos para 
toda a cidade, isto é, a capela fica repleta, porque todos querem ver o casal? Os padrões familiares 
continuam rígidos? E a moda, como se comporta: os rapazes e as moças se vestem de acordo com o 
figurino atual, com calças que desbotam e perdem o vinco, blusas que mostram o umbigo ou, em alguns 
casos, minissaias ou longos? 
Os moradores acham que a cidade é desumana e cruel? Por quê? 
Considerada ela isoladamente, em si, ou no contexto de uma sociedade de consumo? A televisão, 
como é apreciada? Quais os melhores programas, segundo os telespectadores? 
Quais os filmes exibidos? Há programas impróprios para menores de 14 e 18 anos? Como são 
recebidas as pornochanchadas? As matronas e o vigário as criticam? Há muita leitura de livros? Existem 
bibliotecas? Quais os assuntos preferidos, segundo informações dos bibliotecários? Pergunte aos que lêem: 
por que eles lêem e qual o benefício que tiram da leitura. 
Mora na cidade algum escritor, pintor, desenhista ou escultor que ainda se dedique a essas 
atividades? Ouça-os para que digam o porquê de sua produção e como se inspiram. Pode ser que haja 
alguém que faça trabalhos de serrlnha, monte castelos com palitos de fósforos etc. 
O povo preocupa·se com assuntos políticos? Sabe, de modo geral, o que se passa no Brasil e no 
exterior? Os jornais são lidos? Qual a preferência: esportes, noticiário do interior, crimes, seções de 
divertimentos, nascimentos, homenagens, falecimentos, histórias em quadrinhos, charadas etc.? Onde os 
livros, jornais e revistas podem ser com· prados: em livrarias, em bancas (existem muitas?) ou só na cidade 
próxima? 
Programas de rádio são muito ouvidos? O uso de transistores está disseminado? Muitas residências 
possuem aparelhos de televisão? Em cores ou em preto e branco? Há conjuntos de amadores teatrais ou 
pequenas orquestras? São realizadas comemorações cívicas ou religiosas, como as do dia do padroeiro da 
cidade ou do aniversário do município? Como elas se desenrolam? Quem as organiza? Todos participam? 
Qual a média de rendimento per capita dos moradores da cidade? Quais as atividades 
preponderantes? Mande·nos um resumidíssimo histórico da cidade e informes sobre o total da população e 
receita municipal (orçamento da Prefeitura). 
Há footing domingueiro (ou em outros dias da semana) na praça principal, ou na estação 
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ferroviária (ou rodoviária) para ver os que passam, chegam e partem? Descreva como são esses footing. 
Queremos que os nossos correspondentes constatem o que Ihes é solicitado nesta pauta, mas que 
especialmente investiguem sempre o porquê e as causas de cada afirmativa dos entrevistados. Seria 
conveniente ouvir pessoas de idade, para que comparem as coisas de seus tempos de moços com a vida 
atual. 
Alguém dessa cidade teve alguma boa oferta de emprego em grande centro e não a aceitou? Qual a 
razão: não se acostumaria com a agitação da megalópole, ou tem razões sentimentais para permanecer aí? 
Como são recebidos os circos? A população gosta deles? Há, às vezes, romarias a outras cidades? 
Que acham delas os organizadores e participantes? 
Alguma tradição deixou de ser realizada, como por exemplo queima de fogos em honra a um 
santo, ou festa da uva, da laranja, da melancia, da banana, do vinho etc.? 
Mande o material, por mala, até o dia 30 do corrente, acompanhado de fotos. 
Notas de Rodapé
I Philip Lesly. Manual de Relaciones Públicas. Madrid, Ediciones Martínez Roca S.A. 
2 Juvenal Portela, "Pauta em Jornal: Mal Necessário?" In Cadernos de Jornalismo e Comunicação. N? 36. 
Rio de Janeiro, julho de 1972.
3 Philip Lesly. Ver nota I. 
4 Gaudêncio Torquato. "Jornais Precisam Dar mais Notícias em Profundidade." In Cadernos de Jornalismo e 
Comunicação. ? 18. Rio de Janeiro, janeiro de 1969. 
5 Juarez Bahia. Jornal, História e Técnica. 4. ed. São Paulo, Ática. 
6 Luiz Orlando Carneiro. "Porta-voz, Fontes, Setores, Círculos e Outros Meios". In Cadernos de Jornalismo e 
Comunicação. N? 11. Rio, junho de 1968. 
7 Octavio Bonfim. "A Apuração da Notícia". In Cadernos de Jornalismo e Comunicação. N? 20. Rio de 
Janeiro, março de 1969. 
8 Octavio Bonfim. Ver nota 7. 
9 Ismael Herraiz. "Reporterismo". In Enciclopedia dei Periodismo. Barcelona, Editorial Noguer. 
10 O Estado de S. Paulo, 13 de junho de 1976. 
11 Darcy Arruda Miranda. Comentários à Lei de Imprensa. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais. 
Fonte:
Técnicas de Codificação em Jornalismo
Redação, Captação e Edição no Jornal Diário
Mário Erbolato
5ª Edição
São Paulo: Editora Ática
1991
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