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PARTE II | @_ESTUDAENFA_ A etiologia do sangramento anormal é multifato- rial e pode ser dividida em: • Sangramento orgânico anormal: situações cor- relatas da gravidez, doenças sistêmicas ou pélvicas, traumas e uso de medicamentos; • Sangramento disfuncional: sangramento de ori- gem uterina, atribuído a alterações nos mecanis- mos endócrinos que controlam a menstruação, o- corrido na ausência de gestação. Os distúrbios menstruais mais comuns são: • Sangramento excessivo (menorragia): fluxo sanguíneo maior que 80 ml ou sangramento uterino excessivo em quantidade e duração, ocorrendo em intervalos regulares; • Sangramento intermenstrual: é aquele que o- corre entre os ciclos menstruais ou entre a retirada hormonal em mulheres usuárias de anticoncepcio- nal oral ou terapia hormonal; • Ciclo menstrual longo (oligomenorreia): san- gramento que ocorre em um intervalo superior a 35 ou a 40 dias; • Ciclo menstrual curto (polimenorréia): sangra- mento que ocorre em intervalo inferior a 24 ou 21 dias; • Sangramento pós-coital: sangramento fora do período menstrual, dentro das primeiras 24 horas do ato sexual; • Menstruação prolongada: perda sanguínea du- rante período superior a 10 dias; • Amenorreia: ausência de menstruação por mais de 6 meses ou ausência de menstruação em mulher em fase reprodutiva da vida, podendo ser: - Primária: ausência de menarca até os 16 anos de idade; - Secundária: ausência de menstruação por ma- is de 6 meses em uma mulher que previamente tenha ciclos menstruais normais. Os distúrbios menstruais podem ser decorrentes de problemas sistêmicos, como disfunção da glândula ti- reoide, condições hematológicas, hepáticas, adrenais, pituitárias e hipotalâmicas. Além disso, pode ainda ser induzido por medicação, in- cluindo anticoagulantes, inibidores de captação de se- rotonina (antidepressivos), antipsicóticos, corticoste- roides, medicamentos hormonais e substâncias herbais como ginseng, ginkobiloba e suplementos de soja, que podem causar irregularidades menstruais por alterar níveis séricos de estrógeno ou parâmetros de coagu- lação. Na adolescência, o sangramento uterino anormal é ge- ralmente de origem endócrina e, à medida que a um- lher se aproxima da menopausa, costuma estar rela- cionado com causas orgânicas. A potencial sequela dos distúrbios menstruais, quando em quantidade excessiva, é a anemia. Além disso, os distúrbios menstruais podem ser um sinal clínico de câncer de endométrio, cuja progressão pode ser evita- da através de avaliação adequada, como o monitora- mento médico e a realização de exames preventivos. Sangramento Uterino Anormal (SUA) é a denomi- nação utilizada atualmente para nomear as alterações da menstruação decorrentes de aumento no volume, na duração ou na frequência. Tem grande importância pela sua frequência e por afetar negativamente aspectos físicos, emocionais, se- xuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres. REPERCUSSÕES DO SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL SOBRE DIFERENTES ASPECTOS Sangramento ANEMIA PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS DOR/DISMENORREIA PIORA DE QUALIDADE DE VIDA LIMITAÇÃO PARA ATIVIDADES INFLUÊNCIA SOBRE ASPECTOS PSICOLÓGICOS ABSENTEÍSMO (trabalho e escola) INFLUÊNCIA SOBRE ASPECTOS SEXUAIS DIAGNÓSTICO Após exclusão de gestação, a evolução inicial inclui história detalhada do sangramento e de anteceden- tes, com foco em fatores de risco para câncer de endo- métrio, coagulopatias, medicações em uso, doenças concomitantes, além de exame físico completo, com fo- co em sinais da síndrome dos ovários policísticos, resis- tência insulínica, doenças da tireoide, petéquias, equi- moses, lesões da vagina ou colo do útero, além de ta- manho do útero. Para investigação complementar, po- de-se utilizar hemograma, dosagem de ferritina e ul- trassonografia pélvica. Sangramento intermenstrual e pós-coito, dor pélvica associada e idade superior a 45 anos constituem indi- cadores de risco para câncer endometrial ou outras doenças estruturais nas mulheres em idade reprodu- tiva. A ultrassonografia transvaginal (USTV) constitui a pri- meira linha propedêutica para identificação de ano- malias estruturais. A histeroscopia com biópsia dirigi- da pode ser indicada nos casos de USTV inconclusivos. A biopsia endometrial deve ser realizada no caso de sangramento intermenstrual persistente, falha do tra- tamento clínico e naquelas mulheres com idade supe- rior a 45 anos. CLASSIFICAÇÃO PALM/COEIN Há uma classificação, proposta em 2011 pela Federa- ção Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), para as desordens que causam o SUA. Esse esquema é conhecido como PALM-COEIN, onde cada uma das letras denomina uma das etiologias do sangramento. Esse sistema é aplicável, uma vez excluídas causas de sangramento relacionadas à gravidez. SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL (SUA) CAUSAS ESTRUTURAIS CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS Pólipo Adenomiose Leiomioma Malignas e hiperplasia Coagulopatia Ovulatória Endometrial Iatrogênica Não classificada Em mulheres com baixo risco para câncer de endomé- trio, com ultrassonografia normal, excluídas causas e- struturais (sistema PALM), o tratamento instituído pode ser farmacológico, por meio do uso de medica- mentos, ou cirúrgico. As lesões estruturais, classifica- das como PALM, têm tratamento específico de acordo com o diagnóstico. O sangramento uterino anormal (SUA) é um distúrbio em que um ou mais dos parâmetros do sangramento uterino normal está alterado: volume, duração, fre- quência ou regularidade. Para caracterizar essa alteração, é importante o co- nhecimento do que se considera sangramento uterino normal, que constitui: • Fluxo menstrual com duração de 3 a 8 dias; • Perda sanguínea de 5 a 80 mL; • Ciclo que varia entre 24 e 38 dias (variabilidade de três dias). Qualquer sangramento que não tenha essas caracte- rísticas é considerado anormal. Deve-se suspeitar de um distúrbio se a menstruação intensa ou prolongada tiver começado na menarca ou estiver associada a uma história familiar de coagulo- patia ou outros sinais de diátese hemorrágica (por exemplo, hematomas fáceis ou sangramento prolon- gado das superfícies mucosas). Uma apresentação diferencial importante é o sangra- mento de escape, mais conhecido pela palavra em inglês “spotting”, que também é queixa frequente em todas as faixas etárias e corresponde a qualquer sangramento genital fora do período menstrual. Tende a ser menor volume do que o sangramento menstrual normal e em algumas vezes pode apresentar uma cor diferenciada da menstruação com sangue vivo. Tal manifestação pode apresentar-se como um quadro crônico, no contexto de episódios que se repetem pelo menos nos seis meses anteriores, ou como quadro agu- do que requer cuidados urgentes ou de emergência. O sangramento crônico pode causar anemia ferropriva e nos casos de sangramento intenso e agudo, pode ge- rar quadro hemorrágico grave. EPIDEMIOLOGIA O SUA é uma condição frequente, de etiologia múltipla, e que pode ocorrer em qualquer fase do período repro- dutivo da mulher. A idade da mulher influencia diretamente na orienta- ção das hipóteses diagnósticas: • Na infância, qualquer sangramento anterior a me- narca deve ser tratado como achado anormal. De- ve-se determinar o local do sangramento para ter certeza de que não se trata de um sangramento uretral ou retal, que pode ser confundido com san- gramento vaginal. Nessa idade, sangramento uteri- no é causado principalmente por aumento nos ní- veis de estrogênio. Outros motivos de sangra- mento nessa faixa etária pode ser: - Vulvovaginite; - Doenças dermatológicas; - Crescimento neoplásico; - Trauma por acidente; - Abuso sexual; - Corpo estranho. • Na adolescência, nos primeiros dois anos após a menarca, a irregularidadepode ser consequência da imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise. Com muito maior frequência as causas podem ser anovulação e coagulopatias. • Mulheres entre 20 e 40 anos de idade geralmente apresentam maturidade do eixo, que se traduz em ciclos menstruais regulares. Sangramento anormal nesse período, excluídas causas obstétricas, podem ocorrer por causas decorrentes de lesão estrutural nos órgãos como leiomiomas e pólipos endometriais • Mulheres com mais de 40 anos até a menopausa comumente apresentam irregularidades no padrão dos ciclos menstruais, decorrentes de flutuações na função do eixo e patologias do endométrio e miométrio; • No climatério (fase de transição do período repro- dutivo para o não reprodutivo) na pós-menopausa e na senescência, predominam as causas endome- triais. SINAIS E SINTOMAS DO SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL Os padrões de sangramento anormais típicos in- cluem: • Menstruações irregulares que são abundantes ou prolongadas; • Sangramento intermenstrual; • Sangramento irregular (geralmente associado à disfunção ovulatória); e • Amenorreia. CAUSAS ESTRUTURAIS DO SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL • P – Pólipo: O pólipo uterino, também chamado de pólipo endo- metrial, é um crescimento excessivo de células que acontece na parede do útero, que leva à formação de pequenas bolinhas, semelhantes a cistos, que se desenvolvem para o interior do útero. • A – Adenomiose: Também chamada de adenomiose uterina, é uma doença onde ocorre um espessamento dentro das paredes do próprio útero provocando sintomas co- mo dor, sangramento ou cólicas fortes, especial- mente durante a menstruação. Esta doença tem cura através da cirurgia para retirada do útero, porém, este tipo de tratamento só é feito quando os sintomas não conseguem ser controlados com re- médios anti-inflamatórios ou hormônios, por exem- plo. • L – Leiomioma: Também chamado de mioma, é um tipo de tumor benigno que surge no miométrio. Esse tipo de tumor é originado de células musculares lisas do útero e contém quantidade variável de tecido conjuntivo fibroso. Os miomas são costumeiramente descritos de acordo com sua localização. - Intramurais: desenvolvem-se dentro da parede uterina e podem ser grandes o suficiente a pon- to de distorcer a cavidade uterina e a superfície serosa; - Submucosos: derivam de células miometriais lo- calizadas imediatamente abaixo do endométrio e frequentemente crescem para a cavidade ute- rina; - Subserosos: originam-se na superfície serosa do útero e podem ter uma base ampla ou peduncu- lada e ser intraligamentares; e - Cervicais: localizados na cérvice uterina. • M – Malignidade e hiperplasia: Entre os fatores de risco do adenocarcinoma do endométrio, alinham-se obesidade, diabetes e hi- pertensão. Além de quê, qualquer exposição prolon- gada aos estrogênios sem oposição de progesta- gênio deve ser considerada como risco para a do- ença. TRATAMENTO O tratamento pode ser farmacológico ou cirúrgico. O objetivo do tratamento é a redução do fluxo mens- trual, reduzindo morbidade e melhorando a qualidade de vida, a primeira linha a ser seguida é sempre a far- macológica. No caso de tratamento para as causas estruturais, geralmente são necessários cirurgias como polipecto- mias, miomectomia, ablação endometrial ou histerec- tomia de acordo com o grau das lesões estruturais. Para as causas não estruturais, geralmente usa-se tratamento medicamentoso, que se baseia na ação dos hormônios e de outros mediadores inflamatórios, além do controle hemostático do sangramento. HORMONAL • Estrogênio + progestágeno: reduzem a perda sanguínea menstrual em 35% a 72%, contraindicados em enxaqueca com aura, tabagismo após 35 anos, trombofilias e hipertensão; • Progestágeno oral fixo ou contínuo: promovem uma atrofia endometrial por vários mecanismos e têm ação anti-inflamatória. Pode causar sangramento inesperado decorrente da atrofia; • Progestágeno injetável: pode promover amenorreia em cerca de 24% das mulheres e tem como efeitos colaterais sangramentos irregulares, ganho de peso e cefaleia; • DIU e LNG: resulta em atrofia endometrial com redução do sangramento e é considerado mais efetivo que os orais. Reduz de 71 a 96% o volume do sangramento. NÃO HORMONAL: • Anti-inflamatório; • Anti-fibrinolíticos.
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