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Eduarda Possidônio cicatrização de feridas operatórias Ferida é a interrupção na continuidade, representada pela perda de integridade da pele e tecidos moles subjacentes, que pode ser aguda ou crônica e causada por diversos mecanismos (cirúrgicas, lesões por mordidas, traumáticas por objetos corto-contusos, escoriações). Cicatrização é um processo complexo (celular, molecular e bioquímico), visando a restauração da função e estruturas normais dos tecidos. Consiste em uma perfeita e coordenada cascata de eventos que interagem para que ocorra o processo de reconstituição tecidual. É um processo comum a todas as feridas, independente do agente que o causou - é um processo sistêmico e dinâmico. Está diretamente relacionado às condições gerais do organismo, a extensão da lesão, a presença de infecção e outros fatores. Pode ser dividida em 5 fases principais, são elas: ● Inflamação ● Proliferação celular ● Formação do tecido de granulação ● Contração ● Remodelamento da ferida Atualmente, esse processo é dividido em 3 fases: ● Inflamatória (exsudativa): mais evidente no início, inicia no exato momento da lesão e dura cerca de 3 dias. O primeiro mecanismo que ocorre é a cascata de coagulação. As fases de hemostasia e inflamação iniciam-se com a ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento do sangue. O dano tissular é o evento inicial que desencadeia o processo de restauração. O organismo tenta fazer a hemostasia por meio da contração dos pequenos vasos próximos, agregação plaquetária, ativação da cascata de coagulação e formação de uma matriz de fibrina. Ocorre também nessa fase o recrutamento de neutrófilos (são os primeiros a chegar no local, atraídos por substâncias quimiotáticas liberadas pelas plaquetas, atraem outras células e liberam citocinas pró-inflamatórias), mastócitos (liberam fatores de crescimento, quimiotaxinas, citocinas, histaminas e outros mediadores de vasodilatação e migração celular, deixando a região mais permeável e permitindo o extravasamento de líquidos para o terceiro espaço, gerando edemas) e macrófagos, resultado da resposta celular e bioquímica no local, principalmente pelo recrutamento celular e aumento da permeabilidade vascular. Eduarda Possidônio A primeira coisa que acontece é o extravasamento de sangue com formação de coágulo e logo em seguida a migração de células para fazer o reparo. ● Proliferação ou granulação (granulação e reepitelização): inicia-se em torno do terceiro dia após a lesão e dura algumas semanas. É caracterizada pela formação do tecido de granulação, sendo o marco inicial da cicatriz. As células predominantes e mais importantes são os fibroblastos e as células endoteliais. Caracteriza-se pela: Epitelização: também chamada de migração, é a proliferação celular basal e migração das células epiteliais na ponte de fibrina, as quais rejuvenescem a derme. Essas células migram para o centro da ferida induzindo a contração, aproximação das bordas e neoepitelização da lesão. É um processo importante pois, apesar de fina e superficial, essa camada cria uma espécie de barreira para bactérias e corpos estranhos. Neoangiogênese: é a formação de novos vasos sanguíneos. Nessa fase de proliferação celular ocorre uma demanda de suprimento sanguíneo para o local da ferida estimulada por diversos fatores, entre eles a hipóxia local, fator de necrose tumoral alfa e fator de crescimento endotelial vascular. Fibroplasia: são responsáveis pela produção de colágeno (responsáveis pela produção de colágeno - principal proteína estrutural do corpo, sendo responsável pela sustentação e força tênsil da cicatriz). Depois do desbridamento da ferida, cerca de 3 dias após a lesão, mediadores liberados principalmente pelos macrófagos intensificam a ativação dos fibroblastos e sua migração para o dentro da ferida. Desse modo, as células nutridas pelos neo-vasos produzem uma matriz celular com grande quantidade de fibronectina (responsável pela adesão da célula) e ácido hialurônico (promove resistência à compressão), substituindo aquela matriz inicialmente formada pela hemostasia. Eduarda Possidônio O coágulo é substituído por novas estruturas, como os neovasos, fibroblastos e macrógafos. Tecido de granulação: é a última etapa da fase proliferativa. Sua principal característica é a formação do tecido de granulação (composto por neo-vasos, fibroblastos, macrófagos, colágeno frouxo). O tecido é vermelho, com muitos espaços vazios e granulares (por possuir vasos imaturos, exsudativos e que sangram facilmente). Ao final da fase proliferativa, a ferida está recoberta com tecido de granulação, neovascularizada e em processo de regeneração. ● Remodelamento ou maturação: é caracterizada pela fase de remodelagem (deposição organizada) do colágeno. Pode durar em torno de 3 semanas a 1 ano ou mais. É a fase inicial da cicatrização de uma ferida, quando acontece a redução e o fortalecimento da cicatriz. O tecido de granulação termina de ser formado para que inicie a maturação da ferida, a qual se contrai e torna-se pálida. A ferida torna-se mais resistente (sem aumento de colágeno, mas pelo remodelamento das fibras de proteína). Tem grande importância clínica, visto que se refere à fase de fechamento completo da ferida, com restauração da força mecânica e a formação da cicatriz. Nessa fase podem se formar as cicatrizes normais, queloides e cicatriz hipertrófica. Queloides (ultrapassam o local da lesão inicial) e cicatrizes hipertróficas (limitam-se ao local da lesão inicial) são resultados de alterações que ocorrem na cicatrização - quando a reação tissular ocorre de maneira grosseira e exagerada, principalmente em relação à migração de fibroblastos. Ambas são causadas pelo excesso de proteínas (colágeno) na pele durante a cicatrização. Eduarda Possidônio Queloides: pode haver necessidade de radioterapia para diminuir a necessidade do uso de corticoides. Não pode mexer de qualquer forma, pois pode até aumentar. A CH pode voltar ao normal/deprimir com o tempo. Existem várias definições didáticas dessas fases na literatura. É válido destacar que essas fases são dinâmicas, ou seja, acontecem descompassadamente, sempre em conjunto. “Medicina não é matemática”. Tipos de cicatrização ● 1ª intenção ou primária: envolve a reepitelização, na qual a camada externa da pele cresce fechada. As feridas que cicatrizam por primeira intenção geralmente são superficiais, agudas e que não tiveram perda de tecido. Geralmente são resultado de cirurgias limpas, queimaduras de primeiro grau e ferimentos cortantes. Levam de 4 a 14 dias para fechar (de modo geral os pontos são retirados em 1 semana). ● 2ª intenção ou secundária: é uma ferida que envolve alguma perda de tecido, podendo envolver TCS, músculos e até ossos. As bordas dessa ferida não podem ser aproximadas e geralmente são crônicas, como úlceras (ocorrem de dentro para fora). Possuem maior dificuldade para cicatrização e estão mais relacionadas com risco de infecções/complicações. Eduarda Possidônio ● 3ª intenção ou terciária: ocorre quando a ferida é propositalmente aberta para permitir a diminuição de edemas/infecções, diminuição de tensões e permitir a remoção de exsudato através de drenagem, por exemplo. Fatores que prejudicam a boa cicatrização Locais Sistêmicos Bordas não captadas Idoso Tensão excessiva na ferida Obesos Deiscência de sutura Tabagismo Reação de corpo estranho (inflamação) Desnutrição Mobilidade excessiva local (articulações) Câncer, caquexia Drogas (imunossupressores) Radioterapia, quimioterapia Desordens de células do sistema imune (neutrófilos e macrófagos principalmente)
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