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PERÍCIA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL 1 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2 CONCEITOS .......................................................................................... 3 AÇÕES ................................................................................................... 8 DOS FATOS E DO DIREITO .................................................................. 9 PERÍCIA CONTÁBIL ............................................................................ 10 PROVAS .............................................................................................. 15 PRINCÍPIOS ......................................................................................... 17 PERITO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL ................................................ 19 DEVERES DO PERITO ........................................................................ 24 ESTUDO DE CASO.............................................................................. 28 REFERÊNCIAS .................................................................................... 48 2 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 CONCEITOS Perito, segundo a definição da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, disponível em:<APEJESP – http://www.apejesp.com.br/paginas.aspx?id=51>, é o auxiliar da Justiça; pessoa civil, nomeado pelo Juiz ou pelo tribunal, devidamente compromissado, assistindo-os para realizar prova pericial consistente em exame, vistoria ou avaliação, valendo-se de conhecimento especial, técnico ou científico. De acordo com o Art. 156: “§ 1o Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. § 2o Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados” A nova legislação menciona que “os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados”, enquanto o CPC anterior dizia que seriam escolhidos “dentre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente”. Assim, as legislação anterior obrigava o perito a possuir nível superior. A redação da Lei 13.105/15, que define apenas como “profissionais legalmente habilitados”, já não deixa, a princípio, tão clara esta obrigação. Porém, uma leitura mais cuidadosa nos leva ao o Parágrafo 4o do Artigo 464 desta mesma lei, que diz: “§ 4o Durante a arguição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica específica na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de 4 4 qualquer recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos da causa.” Dessa forma, fica subentendida a idéia de escolha entre profissionais de nível superior, embora não especificada diretamente como na legislação anterior, pois formação acadêmica específica poderia significar curso técnico e não só universitário. Vale ressaltar, porém, o Parágrafo 5º : “ § 5o Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia.” Neste caso, não havendo profissionais habilitados inscritos no cadastro da vara, o juiz poderá nomear outros profissionais como peritos, desde que apresentem capacidade técnica para tanto. O perito deve ser totalmente imparcial. Segundo o Art. 158 da mesma Lei, “o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei (ver abaixo), devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis.” A perícia é a prova elucidativa dos fatos, já a auditoria é mais revisão, verificação, tende a ser necessidade constante repetindo-se de tempo em tempo, com menos rigores metodológicos pois utiliza-se da amostragem. A perícia repudia a amostragem como critério e tem caráter de eventualidade e só trabalha com o universo completo, onde a opinião é expressada com rigores de cem por cento de análise. Para melhor visualização, apresentamos as principais características de auditoria e perícia: A perícia tem em suas entranhas o status de conhecimento notório, tratado na lei 9.457 de 5 de maio de 1997, que alterou a lei 6.404-76 no seu art. 5 5 163 parágrafo 8, que trata o profissional com o status de conhecimento notório e necessário para apurar fatos. No mesmo ordenamento, parágrafo 4, temos a figura contemporânea dos auditores independentes, para esclarecimentos ou apuração de fatos específicos, que acreditamos ser o relatório ou parecer de auditoria submetido à apreciação do conselho fiscal. Por isto, entendemos que a lógica do conhecimento, experiência e carreira ou educação continuada, no sentido holístico, segue a lógica da formação acadêmica de : primeiro contador, segundo auditor e a terceira e maior especialização, perito, pois só é possível ser perito o profissional contador que domina as técnicas de auditorias, de perícia e tem algum domínio do direito tributário, bancário, comercial, financeiro, penal, administrativo, constitucional, previdenciário, ambiental, trabalhista e processual, condição desejada para se navegar no meio jurídico como auxiliar do juízo. Naturalmente que este conhecimento também é bom para o auditor, mas se exige com mais propriedade do perito, por ser este junto com o juiz o provedor do equilíbrio da Justiça. O status do perito, também é elevado para categoria de cientista, por força do CPC art. art. 145 que trata do perito como sendo um cientista para assistir o juízo em matérias de ciência e tecnologia. A auditoria, também ramo da mesma árvore, contabilidade, tem como seu destaque, as revisões de procedimentos relativos às atividades de interesse da CVM, pois a lei 6.385-76, art.. 26 e 27, trata do assunto, enfatizando o registro do profissionalna CVM que está normalizando as condições que considera ideais para conceder o registro. Naturalmente é importante frisarmos que este registro da CVM só é obrigatório quando a empresa auditada está entre aquelas relacionadas na lei, ficando fora as auditorias de empresas que não estejam negociando ações na bolsa e que não estejam operando com valores mobiliários, como exemplo uma montadora de veículos automotores, de capital fechado. 6 6 São duas atividades ótimas. Recomendamos estágios nas duas áreas antes de decidir a carreira. Acreditamos que seguir as duas simultaneamente é muito difícil, não impossível, pois ambas requerem estudos continuados e pesquisas cientificas. As duas bradam por constantes e eternas reciclagens. Para uma melhor visualização, apresentamos as principais características de auditoria e perícia na tabela abaixo. Figura 1: Tabela 1. Quadro Comparativo Entre Auditoria E Perícia Contábil Itens P E R Í C I A A U D I T O R I A 1 Executada somente por pessoa física, profissional de nível universitário (CPC, art. 145). Pode ser executada tanto por pessoa física quanto por jurídica. 2 A perícia serve a uma época, questionamento específico, por exemplo apuração de haveres na dissolução de sociedade. Tende à necessidade constante, como exemplo: auditoria de balanço, repetindo-se anualmente. 3 A perícia se prende ao caráter científico de uma prova com o objetivo de esclarecer controvérsias. Auditoria se prende à continuidade de uma gestão; parecer sobre atos e fatos contábeis. 4 É específica, restrita aos quesitos e pontos controvertidos, especificados pelo condutor judicial. Pode ser específica ou não; exemplo: auditoria de Recursos Humanos, ou em toda empresa. 5 Sua análise é irrestrita e abrangente. Feita por amostragem. 7 7 6 As normas técnicas são: < Resoluções CFC n.º 857/99, trata das normas profissionais do perito; < Resoluções CFC n.º 858-99, trata da perícia contábil. As normas técnicas são: < Resoluções CFC n.º 820/97, trata das normas de Auditoria Independente; < Resoluções CFC n.º 821/97, trata das normas Profissionais do Auditor Independente. 7 Usuários do serviço < As partes e principalmente a justiça Usuários do serviço < Sócios, investidores, administradores 8 As normas técnicas são: < Resoluções CFC n.º 857/99, trata das normas profissionais do perito; < Resoluções CFC n.º 858-99, trata da perícia contábil. As normas técnicas são: < Resoluções CFC n.º 820/97, trata das normas de Auditoria Independente; < Resolução CFC n.º 821/97, trata das normas Profissionais do Auditor Independente. < Resolução CFC n.º 915/01, trata das normas profissionais e sigilos < Resolução CFC n.º 923- 02, trata da revisão externa pelos pares. Naturalmente temos estimulado os alunos do curso de ciências contábeis, para o exercício do direito de livremente escolher a opção profissional 8 8 mais adequada aos seus sonhos, motivo pelo qual recomendamos aos pesquisadores, alunos e ex- alunos da ciência contábil, professores e demais estudiosos do assunto, a leitura do livro, "Prova Pericial Contábil, aspectos praticos & fundamentais", editado pela Juruá em 2001, para que conheçam a profissão de perito e exerçam o seu livre arbítrio para decidir sobre uma ou outra especialização. AÇÕES Ações de desapropriação Desapropriações são realizadas pelo poder público visando melhorias para a população em geral, como abertura de novas vias, ferrovias, praças, piscinões etc. Tais desapropriações são indenizadas pelo poder público. Ocorre, porém, de ocasionalmente o proprietário não concordar com o valor estipulado, aquém do valor de mercado, contestando-o em ação judicial. Aí entra o papel do perito, que determina o valor real do imóvel. Ações revisionais de aluguéis Este tipo de ação ocorre quando locador e locatário, após transcorrido certo tempo de locação, não entram em acordo sobre o novo valor do aluguel do imóvel, que não corresponde à realidade atual. Como exemplo, podemos citar o imóvel comercial cujo reajuste anual ficou além do desempenho das vendas devido à crise econômica, o que prejudica o balanço financeiro e vida da empresa, pois o gasto atual é maior do que na época em que foi assinado o contrato de locação. Temos também o exemplo de imóvel cujo valor será reajustado pelo proprietário devido a sua valorização após inauguração de estação de metrô nas proximidades. Ação renovatória de contrato de locação Como exemplo podemos citar um empresário dono de um comércio que funciona em um imóvel alugado sob contrato de mais de cinco anos, ou se pratica o mesmo comércio há mais de três anos, e deseja renovar o contrato de 9 9 locação. Antes do término do contrato este comerciante procura um acordo com o proprietário do imóvel. Caso não cheguem a um consenso, deverá entrar com ação renovatória de contrato de locação, de seis a doze meses antes do final do contrato em vigor. Se o juiz conceder a renovação, o valor do aluguel deve ser compatível com o mercado, e este valor será determinado pelo perito DOS FATOS E DO DIREITO Fato, em Direito, tem como definição “coisa cuja realidade pode ser comprovada” (http://www.dicio.com.br/fato/). Ou seja: um fato é uma verdade. Já Direito pode ser definido como “ciência das normas obrigatórias que disciplinam as relações dos homens numa sociedade” http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portug ues-portugues&palavra=direito) Nos processos judiciais, tendo-se os fatos, busca-se o Direito. Este não necessita ser provado, pois o juiz conhece a Lei e o Direito; desde que haja fatos, estes sim devem ser provados. Relembrando o Art. 156 da Lei nº 13.105/15, já mencionado: “o juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico”. Há fatos, porém, que não precisam de provas, conforme o Art. 374 da Lei nº 13.105/15. São eles os fatos: Notórios: conhecidos por todos, como o impedimento de um motociclista de pilotar sem capacete, conforme o exemplo que abre esta seção; Os afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; 1 0 10 Os admitidos no processo como incontroversos, os não impugnados especificamente ou considerados verídicos pela outra parte; Aqueles em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade, como o caso das certidões que gozam de fé pública. Presunção é uma suposição, uma hipótese que a Lei deduz de certos atos ou fatos, e que estabelece como verdade. Podem ser estabelecidas por lei (presunções legais); estas não admitem provas em contrário. Como exemplo, no registro público de imóveis consta quem é o proprietário de determinado imóvel. Sendo assim, é inadmissível alegação de desconhecimento de quem é o proprietário, e mais ainda a apresentação supostas provas de que esta pessoa não é a proprietária. É a publicidade (registro público) desta propriedade que possibilita o absolutismo (defesa contra todos). PERÍCIA CONTÁBIL Se a sua empresa já esteve envolvida em alguma demanda judicial ou mesmo se você já participou de algum processo de fusão empresarial, é possível que em algum momento já tenha se perguntado como executar uma perícia contábil. Trata-se de um procedimento bastante rígido por meio do qual profissionais especializados e devidamente autorizados para tal fazem a análise e a conferências de documentos fiscais e tributários de forma a certificar se eles são verdadeiros ou não. Conhecer mais detalhes sobre o que é perícia contábil é uma questãoimportante para empresários, gestores e profissionais de contabilidade. Nesse artigo, abordaremos mais detalhes sobre essa importante questão. O que é perícia contábil? De acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade, perícia contábil é o conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinado a levar à instância https://blog.sage.com.br/fusao-ou-aquisicao-merge-and-acquisition/ http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/01/Per%C3%ADcia_Cont%C3%A1bil.pdf 1 1 11 decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil, e ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Em outras palavras, trata-se de um instrumento que visa criar os elementos comprobatórios necessários para que uma empresa apresente, em vias judiciais ou extrajudiciais, provas de que um fato ocorreu (ou não), averiguando-se se há ou não desrespeito à legislação vigente. Para que seja feita essa averiguação, os procedimentos devem ser conduzidos por um perito contábil, profissional que precisa estar habilitado junto ao Conselho Regional de Contabilidade. São etapas do processo de verificação documental o exame, a vistoria, a indagação, a investigação, o arbitramento, a avaliação e a certificação. Quais os tipos de perícia contábil existentes? Basicamente, as perícias contábeis podem ser divididas em dois tipos: as judiciais e as extrajudiciais. Vamos compreender um pouco mais sobre cada uma delas e quais são as particularidades que se aplicam em cada um dos casos. A perícia contábil judicial é aquela solicitada por um juiz. Ela é indicada para casos em que é necessário um laudo especializado, elaborado de forma isenta, para a resolução de uma questão jurídica. Nessas circunstâncias, o perito contábil é responsável por fazer uma análise e emitir um parecer. Essas informações são anexadas ao processo e ajudam o juiz a tomar as suas decisões. Se o perito contábil é um elemento neutro, as partes têm como prerrogativa a indicação de um assistente técnico, que também fornece um parecer após o laudo pericial. Assim, são garantidas a lisura e a segurança das informações, permitindo que a análise do magistrado seja feita sem nenhum viés. Já a perícia contábil extrajudicial, como o nome indica, é aquela que é realizada sem que haja um pedido de um juiz ou, ainda, sem que exista um 1 2 12 processo em andamento no judiciário. Ela pode ser subdividida em três tipos: perícia arbitral, perícia no âmbito estatal e perícia voluntária. Na perícia arbitral, os objetos de análise são definidos por meio da lei de arbitragem. Isso significa que as partes podem, em comum acordo, definir que uma questão seja arbitrada e, cabe ao árbitro em questão, determinar a necessidade de uma perícia. Deve haver concordância entre as partes na escolha de um perito independente. Já a perícia no âmbito estatal é aquela executada sob o controle dos órgãos do Estado. Isso inclui as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), as perícias criminais e aquelas conduzidas pelo Ministério Público da União (MPU). Por fim, temos ainda as perícias voluntárias. Elas são contratadas por uma empresa ou por um conjunto de empresas interessadas em comum acordo. Nesse caso, não é necessário que haja uma disputa entre elas. Uma empresa que tenha interesse em adquirir outra, por exemplo, poderá, em algum momento, solicitar que seja feita uma perícia contábil sobre certos documentos de forma a comprovar uma determinada informação. Quem pode fazer uma perícia contábil? Como já mencionamos, a perícia contábil é uma atribuição exclusiva do profissional de contabilidade. Mesmo graduado e habilitado, é fundamental que a sua documentação esteja em situação regular junto ao Conselho Regional de Contabilidade de determinada jurisdição. Na função de perito, o contador deve se manter atualizado sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade e estar apto a empregar as técnicas contábeis que forem necessárias de forma a atestar a veracidade (ou não) de determinadas informações. Tanto o perito-contador e o perito-contador assistente, em ações judiciais, devem comprovar sua habilitação profissional mediante apresentação https://blog.sage.com.br/beneficios-de-ter-um-contador/ 1 3 13 de certidão específica, emitida por Conselho Regional de Contabilidade, na forma regulamentada pelo Conselho Federal de Contabilidade. Por suas características similares, muitas pessoas confundem perícia com auditoria. Porém, há uma diferença fundamental entre ambas: as auditorias operam sob amostragem, ou seja, não há a necessidade de se analisar todos os elementos até que se chegue a uma conclusão. Além disso, a perícia concentra- se sob um determinado ato, e não sobre o todo. As normas de perícias contábeis são reguladas pela Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TP 01), de 27 de fevereiro de 2015. Nesse texto, são relatados os conceitos, as normas de execução, os procedimentos e o planejamento necessários para esse tipo de trabalho. Os profissionais devem ficar atentos ainda aos termos de diligência, às regras dos laudos e pareceres periciais contábeis bem como as modelos de comunicação a serem adotados de forma a se criar uma padronização na exposição dos esclarecimentos. Ferramentas de gestão facilitam a comprovação em perícias Por fim, ressaltamos ainda que o uso de ferramentas de gestão contábil é de suma importância para os profissionais envolvidos. Além de facilitarem o acesso aos dados a serem analisados, os softwares organizam a informação, permitindo que se tenha mais agilidade no trabalho. A recomendação, portanto, é que nenhuma empresa, independentemente do seu tamanho, deixe de lado as possibilidades que a adoção de sistemas de gestão contábil trazem para o negócio. Sem sombra de dúvidas, esse é um passo fundamental para demonstrar a credibilidade e a idoneidade do seu registro financeiro. Quem pode realizar perícias contábeis? A realização de perícias contábeis (judiciais, arbitrais e extrajudiciais) constitui atribuição privativa dos bacharéis em Ciências Contábeis com registro http://www.normaslegais.com.br/legislacao/nbc-tp-01-2015.htm http://www.normaslegais.com.br/legislacao/nbc-tp-01-2015.htm https://www.sage.com/pt-br/solucoes https://www.sage.com/pt-br/solucoes 1 4 14 ativo no CRC na categoria de contador. A função de assistente técnico também é prerrogativa exclusiva de contadores. Cabe à Fiscalização do CRCSP verificar se os contadores estão procedendo regularmente conforme os preceitos das Normas de Perícia na elaboração de seus laudos e pareceres e coibir a atuação de não habilitados e técnicos em contabilidade neste segmento específico da profissão contábil, tomando as medidas cabíveis quando da constatação da irregularidade. Qual a regulamentação específica que norteia o trabalho do profissional que atua em função pericial? Para elaborar trabalhos de natureza pericial, o profissional deve seguir o que está estabelecido nas Normas Brasileiras de Contabilidade NBC TP 01 referente ao trabalho técnico elaborado e NBC PP 01 referente à atuação do profissional. Laudos periciais contábeis e pareceres periciais contábeis devem ter Certidão de Regularidade Profissional (CRP)? Desde 27 de fevereiro de 2015 é obrigatória anexar aos trabalhos a certidão de regularidade ao assinar trabalhos de natureza pericial, seja perícia judicial, extrajudicial ou arbitral, de acordo com os itens 7 e 8 da NBC PP 01 e item 65, alínea "j" da NBC TP 01. Existe alguma Certidão especial para habilitação do Perito Judicial nos Fóruns? O CRCSP expede a certidãopara habilitação dos peritos nos Fóruns do Estado de São Paulo. Esta certidão é expedida pelo Departamento de Registro e as informações completas do procedimento podem ser consultadas no portal do CRCSP. Qual o objetivo do Cadastro Nacional de Peritos Contábeis? O Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), criado pela Resolução CFC n.º 1.502/2016 e alterada pela Resolução CFC n.º 1.513/2016 e 1.519/2017, tem o objetivo de oferecer ao 1 5 15 Judiciário e à sociedade uma lista de profissionais que atuam como peritos contábeis, permitindo ao Sistema CFC/CRCs identificá-los com o intuito de dar maior celeridade à ação do Poder Judiciário, uma vez que se poderá conhecer geograficamente e, também, por especialidade a disponibilidade desses profissionais. O CNPC se justifica tendo em vista o novo Código de Processo Civil Brasileiro (CPC), que entrou em vigor no dia 18 de março de 2016, determinando que os juízes sejam assistidos por peritos quando a prova do fato depender de conhecimento específico e que os tribunais consultem os conselhos de classe para formar um cadastro desses profissionais. Como ingressar no CNPC? O ingresso no CNPC para os profissionais com experiência ou não estará condicionado à aprovação prévia em Exame de Qualificação Técnica (EQT) para perito contábil, regulamentado pela NBC PP 02, que tem por objetivo aferir o nível de conhecimento e a competência técnico-profissional necessário ao contador que pretende atuar na atividade de perícia contábil. Aos contadores inscritos no CNPC é obrigatório o cumprimento do PEPC (Programa de Educação Profissional Continuada) nos termos da NBC PG 12 (R3). PROVAS Como vimos, os fatos, exceto os já citados no Art. 374 da Lei nº 13.105/15, necessitam de provas, e o Art. 369 da mesma lei assim especifica: “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.” 1 6 16 Tal artigo concorda com o Inciso LVI do Artigo 5o da Constituição Federal de 1988, que declara serem inadmissíveis provas obtidas por meios ilegítimos: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;” As provas legais mais importantes são: Depoimento das partes Confissão Documentos Perícia Testemunhas Em que consiste a prova pericial, que é o objeto de trabalho do perito e do assistente técnico? Segundo o Art. 464 da Lei nº 13.105/15, “a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.” Exame pericial é a inspeção, pelo perito, de pessoas, animais, bens, para verificação de fatos ou circunstâncias que interessam à causa. Vistoria é a constatação de um fato mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, sem indagação das causas que o motivaram. Avaliação é a atividade que envolve determinação técnica do valor quantitativo ou monetário de um bem, de um direito ou de um empreendimento. A perícia trata de fatos que dependem de conhecimentos técnicos ou científicos, sendo demorada e dispendiosa. 1 7 17 Dessa forma, o juiz somente autoriza a perícia se for realmente necessário. Ou, conforme o Parágrafo 1o do mesmo Artigo: “§ 1o O juiz indeferirá a perícia quando: I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; III - a verificação for impraticável.” PRINCÍPIOS De acordo com Heckert e Wilson (apud SANTOS, 2012), os princípios que norteiam as funções do controller se resumem às características profissionais que contribuem para melhor execução das atividades de maneira eficiente e eficaz. Iniciativa Prenuncia situações que ocasionem problemas no campo da gestão econômica global e provisionar informações que afetam diretamente a área administrativa. Visão econômica Serve para assessorar outros gestores, tendo visão dos feitos econômicos de atividades de qualquer área, estudando e assimilando métodos utilizados no desempenho de atividades, sugerindo propostas que alterem de forma positiva o resultado econômico. Comunicação racional Objetiva viabilizar informação às áreas, transmitindo uma linguagem com- preensível a todos os setores, simples, objetiva e direta, possibilitando assim, a minimização da dificuldade do trabalho e a interpretação. Síntese 1 8 18 Traduz fatos e estatísticas de forma mais dinâmica, seja em gráficos de tendências ou em índices, visando comparar o planejado com o resultado dos períodos anteriores. Visão de Futuro Analisa o desempenho dos períodos passados visando executar alterações a partir deles, exercendo ações que proporcionem melhor performance no futuro. Oportunidade Este princípio viabiliza informações aos administradores das áreas, em tempo competente para mudanças nos planos padrões, a partir de alterações no âmbito coletivo, que seja cooperativo para as áreas distintas e favoreçam o ambiente geral. Persistência Conduz os resultados das áreas adjuntas dos seus estudos para fazer as interpretações que exigem ações para otimizar o desempenho econômico geral. Cooperação Auxilia os demais setores contribuindo para a otimização dos pontos fracos, sem limitar-se apenas para criticá-los, mas para melhorá-los. Imparcialidade Este princípio oferece informações à administração geral sobre os resultados do desempenho econômico de todas as áreas, mesmo quando apontam sinais de ineficiência dos administradores. Há possibilidade de dificuldade no relacionamento interpessoal. Mas, aspirando o controle organizacional mesmo diante de opiniões pessoais, visa sempre a otimização do resultado econômico, independente de qualquer fato ou situação. Persuasão 1 9 19 Resumido na ação e habilidade de convencer os administradores da validade de suas opiniões, compreendendo os desempenhos de forma global. Consciência das limitações Ter ciência da responsabilidade de assessorar os administradores com informações de gestão econômica para a eficácia corporativa, que tem pouca influência em questões de estilos gerenciais. Cultura geral Ter conhecimento sobre as diferentes culturas, entre raças e nações, questões sociais e econômicas de países e blocos econômicos é importante para a manu- tenção e planejamento do meio em que está inserido, tornando-se relevante no contexto. Liderança Influenciar e comandar pessoas de maneira correta, motivando os subordinados para atividades mais eficientes. Ética Uma das principais a ser destacada, pois é ter conduta profissional voltada pautada em valores morais aceitos. PERITO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL A nomeação do perito ocorre quando o juiz pedir às partes que especifiquem quais provas pretendem produzir. Há casos em que o juiz nomeará de imediato um perito, como no caso da Lei das Desapropriações (Decreto-Lei 3.365, de 1941 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3365.htm): “Art. 14. Ao despachar a inicial, o juiz designará um perito de sua livre escolha, sempre que possível, técnico, para proceder à avaliação dos bens. Parágrafo Único. O autor e o réu poderão indicar assistente técnico do perito.” Conforme já mencionado,o juiz escolherá, conforme o Art. 156 da Lei 2 0 20 13.105/15, profissionais devidamente cadastrados no tribunal em que o juiz está vinculado. Interessante mencionar que o Parágrafo Segundo deste mesmo arquivo menciona como deve ser feito este cadastro: “§ 2o Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados.” Assim, o perito deverá responder às consultas públicas deixando nas varas currículo ou mesmo um laudo, demonstrando a boa qualidade de seu trabalho, além de perícias realizadas em outras varas. Em especial aos profissionais da área imobiliária, ressalta-se a importância do registro do perito avaliador no CNAI (Cadastro Nacional dos Avaliadores Imobiliários), pertencente ao COFECI (Conselho Federal dos Corretos de Imóveis), que será certamente um dos conselhos de classe consultados. Conforme o Art. 466 da mesma lei, “o perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso.” Em outras palavras: deve executar de maneira mais sóbria e imparcial possível a sua missão. “ § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição” - podem, por exemplo, ser parentes ou amigos das partes; o perito deve ser totalmente desconhecido dos sujeitos do processo. “§ 2o O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias”. - ou seja, o perito não pode impedir os assistentes técnicos de acompanhar sua perícia; aliás, deve comunicá-los do fato. 2 1 21 Seus direitos, sem os quais não poderia exercer o cargo, são: Escusar- se do cargo Pedir prorrogação de prazos Recorrer a diversas fontes de informações Receber remuneração De acordo com o art. do CPC 2015 mostrado abaixo, há situações em que o perito pode escusar-se ou ser recusado: "Art. 467 O perito pode escusar-se ou ser recusado por impedimento ou suspeição. Parágrafo único. O juiz, ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a impugnação, nomeará novo perito.” Impedimento Impedimento constitui uma proibição de trabalhar nas causas em que ocorrem as circunstancias mencionadas no Art. 144 do CPC 2015: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I – em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II – de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III – quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV – quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V – quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; 2 2 22 VI – quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII – em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII – em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX – quando promover ação contra a parte ou seu advogado.” Aplicam- se os motivos de impedimento e suspeição não somente aos Juízes, mas também aos membros do Ministério Publico, auxiliares de justiça e aos demais sujeitos imparciais do processo, incluído aí o perito (Art. 148, Inciso I, II e III do CPC 2015). Suspeição É a situação, mencionada em lei, que impede os Juízes, promotores, advogados ou qualquer outro auxiliar de justiça de trabalhar em determinado processo se houver dúvida quanto a imparcialidade e independência com que devem atuar. As situações são as mencionadas no artigo 145 do CPC 2015. “ Art. 145 Há suspeição do juiz: I – amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II – que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III – quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; 2 3 23 IV – interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes”. Observem uma diferença importante entre as duas situações (impedimento e suspeição): o perito pode recusar espontaneamente alegando os impedimentos do Art. 144 do CPC do 2015, ou, o que seria extremamente constrangedor, uma das partes entraria com pedido de sua suspeição, conforme os artigos 145 e 148. 13.4 Direito de pedir prorrogação do prazo Observe o que diz o artigo 476 do CPC do 2015: “Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo dentro do prazo, o juiz poderá conceder-lhe, por uma vez, prorrogação pela metade do prazo originalmente fixado”. Direito a recorrer a diversas fontes de informações Conforme diz o § 3o do artigo 473 do CPC 2015, o perito pode recorrer a várias fontes de informação: “§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia” . 13.6 Direito a receber remuneração Este direito está assegurado pelo Art. 465 do CPC 2015, transcrito abaixo: “§ 2o Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco) dias: I – proposta de honorários; § 3o As partes serão intimadas da proposta de honorários para, querendo, manifestarse no prazo comum de 5 (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor, intimando-se as partes para os fins do art. 95”. 2 4 24 DEVERES DO PERITO Aceitar o cargo: ressalvadas as hipóteses de impedimento, conforme o Art.378 do CPC 2015, “Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade” Servir: conforme o art. 466 do CPC 2015, “o perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso.” Respeitar prazos informados anteriormente Comparecer às audiências conforme Art. 477 do CPC 2015, “§ 3o : Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte requererá ao juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico a comparecer à audiência de instrução e julgamento, formulando, desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos”. Dever de lealdade: de acordo com Art. 158 do CPC 2015 “O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outrasperícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis”. Conforme vimos nesta apostila, é importante para o Perito conhecer a legislação envolvida e estar também atualizado. Também deve compreender com detalhes o que é uma perícia e como realizá-la, bem como conhecer seus deveres e direitos; o mesmo vale para o Assistente Técnico. As provas levantadas na perícia reforçarão a convicção do juiz. Na convicção que formar o juiz, assentará a sentença. Desse modo, a importância da prova e da sua análise pelas partes e pelo juiz é fundamental para que o processo possa cumprir os seus fins. 2 5 25 2 6 26 Figura 2: Diferença entre Perícia Judicial e Extrajudicial 2 7 27 2 8 28 ESTUDO DE CASO FRAUDES E PERÍCIA CRIMINAL CONTÁBIL: ANÁLISE DOS LAUDOS PERICIAIS DE SANTA CATARINA AUTORES: Bruna Benita Sanchez Lopez Weber1 Leonardo Flach2 Nathália Laffin3 RESUMO A perícia é um relevante meio de prova para a solução de controvérsias relativas ao crime organizado, sendo uma função essencial à justiça. Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar os processos judiciais criminais e as perícias realizadas no setor da Contabilidade Forense do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP-SC). Para isso, utilizou-se um mix de métodos qualitativos e quantitativos. Na primeira etapa, realizou-se a etapa qualitativa de entrevista com o perito criminal e estudo de caso no Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP-SC). Na segunda etapa da pesquisa, foram analisados estatisticamente os dados de todas as incidências criminais relacionadas à área contábil submetidas à perícia no supracitado Instituto, no período entre os anos de 2012 a 2017. Os resultados do estudo apontam para uma maior incidência de crimes de apropriação indébita, com um percentual de 49% sobre o total de perícias realizadas, seguido do crime de peculato, com a taxa de 23% e do crime de desvio de improbidade Administrativa (frequência relativa de 10%) e Superfaturamento (frequência relativa de 10%). Palavras-chave: Perícia. Fraude. Perícia contábil 1. INTRODUÇÃO A contabilidade, desde sempre, tem contribuído nos estudos, interpretações e registros dos acontecimentos que afetam o patrimônio de uma organização, 2 9 29 sendo indispensável para a gestão e para a geração de informações para os seus diversos usuários. Diante desta responsabilidade, o papel informacional do contador, ganhou mais ênfase, quando no mundo e no Brasil, percebeu-se que seria um importante instrumento de inteligência contra a corrupção. Assim, a perícia se tornou uma especialidade ao combate e à repressão das organizações criminosas, analisando provas a serem materializadas posteriormente em laudos, utilizadas na tomada de decisão em âmbito judicial por meio das contestações aos quesitos previamente formulados pelas partes e/ou pelo sistema judiciário. Em Santa Catarina, o único órgão responsável pelas pericias contábeis da parte criminal é o Instituto Geral de Perícias (IGP), onde centram casos de aspectos financeiros e contábeis, envolvendo pessoa física, entidades privadas e/ou órgãos públicos, com o propósito de instruir processos criminais decorrentes de prestação fraudulenta de contas (apropriação indébita), licitações públicas (superfaturamento), sonegação fiscal (ordem tributária), responsabilidade de Prefeitos e demais agentes públicos (improbidade administrativa) e lavagem de dinheiro (aparência de licitude a ativos de origem criminosa). O presente estudo tem como objetivo geral analisar as incidências criminais relacionadas à área contábil submetidas à perícia no supracitado Instituto, tendo como objetivos específicos: I – verificar as perícias judiciais ocorridas no âmbito contábil, em Santa Catarina, no período de 2012 até 2017. II – apurar quais crimes foram cometidos, buscando a responsabilização prevista para tais crimes; e III – verificar o tipo de entidade que origina as perícias (se pública ou privada). No que diz respeito à metodologia utilizada na pesquisa, será realizado um estudo de caso, no qual os dados foram adquiridos durante o estágio realizado em 2017 no setor de Contabilidade Forense no Instituto Geral e Perícias em Santa Catarina. 3 0 30 2. REFERENCIAL TEÓRICO Neste tópico serão abordadas as principais fontes de estudo que subsidiaram as análises realizadas na pesquisa. Assim, serão perpassados conteúdos que envolvem a Perícia, a Perícia Contábil e a Perícia Criminal Contábil. 2.1 Perícia Perícia é uma expressão que vem do latim "peritia" e significa experiência ou habilidade em alguma ciência. Por meio da perícia, são apuradas informações sobre uma dada matéria, buscando apresentar a verdade sobre este conteúdo a fim de esclarecer questões. Dada como uma importante função na sociedade, “os primeiros vestígios da utilização da perícia encontram-se na antiga civilização egípcia.” (FERNANDES, 2004, p. 12). Por meio da perícia, busca-se a verdade de um fato e, de acordo com Sá (2011 p. 13-14), “são muito antigas as manifestações de verificações sobre a verdade dos fatos, buscadas por meios contábeis, e elas já se manifestavam entre os sumérios e babilônios”. A partir da evolução dos conhecimentos em Contabilidade, segundo o autor, a técnica de verificar para fazer prova de eventos transformou-se também em uma tecnologia, que é compatível com os grandes progressos da informação. Atualmente, os dados constam em expressivo volume, e possuem o apoio de computação eletrônica e softwares robustos. Vislumbra-se, na perícia, um instrumento importante de constatação, prova ou demonstração, que pode advir de conhecimento científico ou técnico, e que apura a verdade de situações, de cosas ou de fatos. No Brasil, a perícia é um instrumento de prova admitido pela legislação e, de acordo com Morais (2005, p. 37), “a perícia permaneceu longo tempo sob inspiração do decreto-lei de 1939, com pequenas alterações sofridas ao longo desse tempo e tomou um novo rumo com o disciplinamento dado pelas alterações do Novo Código, Lei n. 5.869/73”. Atualmente, a perícia tem sua 3 1 31 disciplina apontada no Novo Código de Processo Civil por meio da Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Para tanto, tem-se a figura do perito, que é a pessoa responsável pela perícia. A ideia central concerne na necessidade de um apurado conhecimento acerca da matéria abordada, tendo propriedade para apontar a veracidade ou não do fato ou coisa, sobre o qual se exige formação de nível superior (HOOG, 2010). Desta forma, o perito deve ser um profissional legalmente habilitado com conhecimento comprovado na área em questão. Em questões judiciais, os peritos serão nomeados, pelo juiz, entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos e que estejam inscritos em um cadastro mantido pela justiça. Assim sendo, para a legislação brasileira, o perito é visto como um auxiliar da justiça. Nesse cenário, o perito pode interagir com os órgãos do sistema judiciário, cuja missão é estabelecer a justiça e a ordem social para a nação brasileira. De acordo com o novo Código de Processo Civil, em seu art. 473, § 3o , os peritos podem, para o desempenho de sua função, utilizar como fonte de informação todos os meios necessários para o esclarecimento da questão. Eles podem ouvirtestemunhas, obter informações, solicitar documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas. Eles também podem instruir o laudo com “planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.” A ocorrência das perícias é eventual de acordo com as demandas solicitadas e, por meio dela, busca-se examinar com detalhamento uma questão. Para Moura (2007, p. 5) a perícia “designa a diligência realizada ou executada por peritos, a fim de que se apurem, esclareçam ou se evidenciem certos fatos, usando a pesquisa, o exame e a verificação acerca da realidade de certos fatos, por pessoas que tenham habilidades e experiência na matéria de que se trata.” Desta forma, compreende-se que a perícia tem sua orientação específica e restrita a pontos controvertidos de uma situação. O resultado da perícia é exibido em um laudo pericial, no qual não há exigência de divulgação externa. 3 2 32 A partir disso, existem diferentes áreas nas quais se pode utilizar a perícia como fonte de informação, como a perícia criminal, perícia médica, perícia ambiental etc. Diversas vezes, são apontadas nas mídias situações nas quais as resoluções de determinados conflitos são resolvidos por meio das informações periciais e, assim, tem-se maior conhecimento de algumas dessas áreas. Dada essa importância, são estabelecidas as expertises necessárias para cada modalidade de perícia. 2.2 Perícia Contábil A contabilidade é uma das áreas da ciência que faz uso da perícia como um relevante elemento de informação. A perícia contábil, de acordo com Zanna (2007, p. 54) consiste em “instrumentos pelas quais se busca conhecer a verdade a respeito do que esta sendo debatido em um processo judicial, por meio de provas em livros ou documentos contábeis.” Neste sentido, verifica-se que o componente principal é o escopo da área abordada, neste caso, a contabilidade. Para Sá (2011, p. 3) “a perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta.” Hoog (2010) acrescenta que a perícia contábil esclarece pontos importantes no que diz respeito à assuntos fisco- contábeis. O Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Norma Brasileira de Contabilidade Técnica de Perícia n. 01 – Perícia Contábil, estabelece conceitos doutrinários, regras e procedimentos aplicados à Perícia Contábil. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos que permitem levar à instância decisória elementos de prova que sejam necessários para subsidiar uma justa solução do litígio ou constatação de fato. Esta análise ocorre mediante laudo pericial contábil e/ou por parecer técnico- contábil, e verificação da conformidade com as normas jurídicas e profissionais, bem como legislação específica (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2015a). 3 3 33 Assim, a perícia contábil pode acontecer de forma judicial, extrajudicial ou ainda arbitral. O âmbito da pesquisa consiste em perícias judiciais. As funções dos contadores são definidas pelo Decreto-Lei n. 12.249 de 2010, que destaca o trabalho da pericia em seu artigo 25, alínea c, conforme expresso a seguir: c) perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral, verificação de haveres revisão permanente ou periódica de escritas, regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade. A importância da intervenção de uma perícia para o Juiz nasce quando existem discussões envolvendo bens patrimoniais, em que seus efeitos provocam cálculos, apelando à área Contábil para resolver tais litígios. Sobre o desenvolvimento na elaboração da perícia contábil judicial, este é feito por meio de um ciclo que envolve sete etapas, desde a solicitação dos trabalhos pelo juiz até à entrega do Laudo pericial, que consiste no produto da perícia, ao juiz, conforme exposto na Figura 1. Diante disso, Zanna (2007, p. 204), descreve que o “objetivo do laudo é dar a conhecer a opinião técnica de especialista sobre matéria objeto das controvérsias que deram causa a investigação dos fatos, seja no âmbito da Justiça.” Hoog (2010, p. 56) destaca que a perícia é um serviço especializado, 3 4 34 com bases científicas, contábeis, fiscais e societárias, sobre as quais se exige formação. Assim, tal qual a perícia geral, a contabilidade demanda o conhecimento específico de profissional habilitado. Para Fonseca et al (2000, p. 37-28), trata- se de uma “área de especialização da Contabilidade que, para a sua realização, faz-se necessário profissional especializado, que esclarece questão sobre patrimônio das pessoas físicas e jurídicas.” A Norma Brasileira de Contabilidade Profissional de Perícia n. 01 – Perito Contábil apresenta as regras de exercício profissional para os peritos. Assim, de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (2015b, p. 2), perito é o contador que esteja “regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada.” A norma traz ainda outras três designações para perito: oficial, do juízo e assistente. O perito oficial é o profissional “investido na função por leio e pertencente a órgão especial do Estado destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por profissão.” (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2015b, p. 2). Os dados analisados neste estudo foram apurados e verificados pelo perito oficial no Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina. O perito do juízo, por sua vez, é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para exercer a perícia, enquanto o perito-assistente é contratado e indicado pela parte (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2015b). O valor informacional da Contabilidade, no sistema judiciário, é de grande relevância quando a matéria a ser julgada exige compartilhamento de conhecimentos do direito com a contabilidade, para auxiliar magistrados e os advogados das partes na elucidação de dúvidas sobre provas, cuja matéria exija conhecimento técnico, cientifico ou artístico. (MAGALHÃES; LUNKES, 2008). 3 5 35 Portanto, para a execução dos trabalhos, uma das responsabilidades do perito consiste na observação à sua capacitação relativa ao conhecimento suficiente e discernimento de irrestrita independência e liberdade para tanto (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2015b). Em caso de descumprimento às normas, o perito submete-se à legislação civil, sob pena de multa, indenização e inabilitação, e à legislação penal, sob pena de multa e reclusão. 2.3 Perícia Criminal Contábil A perícia criminal contábil é objeto deste estudo na figura das perícias realizadas no Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina. A perícia criminal, de acordo com Espindola (2016), aborda as infrações penais, onde o Estado assume a defesa do cidadão em nome da sociedade. Neste tipo de trabalho, só existe a figura do perito contador oficial e o seu trabalho deve ser requerido pela autoridade policial, pelo membro do Ministério Público ou pelo próprio juiz competente. Os crimes de natureza “criminal contábil e financeira” consistem em todo delito, sem o uso de violência, danoso à sociedade e que tenha como objetivo final a obtenção de lucro. Neste escopo, incluem-se as atividades ilegais como gestão fraudulenta de instituições financeiras, evasão de divisas, manutenção de depósitosnão declarados no exterior, sonegação fiscal, crimes em licitações, apropriações indébitas, corrupções, peculatos etc. A Lei n. 12.030 de 2009 regulamenta as perícias oficiais de natureza criminal e as exigências determinadas pela Lei consistem “em concurso público, com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial” (BRASIL, 2009). No Brasil, a perícia contábil criminal é exercida por peritos concursados por órgãos de Segurança e Institutos de Criminalística em âmbito estadual e pelos peritos Criminais Federais. 3 6 36 2.4 Laudos periciais O laudo pericial é a materialidade do trabalho desenvolvido pelos peritos contadores, expressando nele as conclusões feitas. Assim, o laudo pericial é a expressão do perito dos estudos e observações que realizou, informando os critérios adotados, os resultados fundamentados e suas conclusões, em uma peça escrita de forma clara e objetiva (MOURA, 2007). Quanto à sua estrutura, a Lei n. 13.105 de 2015 menciona que deve conter no mínimo os seguintes itens: Art. 473. O laudo pericial deverá conter: I - a exposição do objeto da perícia; II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público (BRASIL, 2015, ART. 473) Diante do exposto, o laudo pericial deverá estar munido de todas as legalidades que a equiparam. De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (2015a), o laudo pericial deve ser elaborado de acordo com uma estrutura prevista normativamente. Neste laudo são registrados de forma circunstanciada, clara e objetiva, sequencial e lógica, o objeto da perícia, “os estudos e observações realizadas, as diligências executadas para a busca de elementos de prova necessários, a metodologia e critérios adotados, os resultados devidamente fundamentos e suas conclusões.” (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2015a, p. 12). Assim, o lado deve contemplar o resultado final de todo e qualquer trabalho realizado. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quanto aos seus objetivos, esta é uma pesquisa exploratória. As pesquisas exploratórias possuem o objetivo de possibilitar “visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato.” (GIL, 2011, p. 27). Habitualmente, as pesquisas exploratórias consistem na “primeira etapa de uma investigação mais ampla (GIL, 2011, p. 27). 3 7 37 No que diz respeito à abordagem, o estudo terá caráter, quanti-qualitativo, ainda que a análise predominante se volte aos dados numéricos acerca dos objetos da pesquisa, por meio da quantificação das informações relacionadas às perícias. Quanto aos procedimentos, é um estudo de caso com a utilização de pesquisa documental para subsidiar as análises. Realizou-se também entrevista com o perito contábil. O estudo de caso consiste em um aprofundamento de um ou poucos objetos, possibilitando dar amplitude e detalhamento à pesquisa (GIL, 2002). Desta forma, os documentos analisados consistem nos laudos emitidos pelo perito oficial acerca das perícias realizadas. O objeto do estudo consiste em perícias centradas em aspectos financeiros e contábeis, envolvendo pessoa física, entidades privadas e/ou órgãos públicos. Os dados referem-se ao período de 2012 a 2017 e a população analisada corresponde a 51 casos de perícia criminal contábil e 37 laudos periciais expedidos em todo o estado de Santa Catarina. Para a realização da pesquisa, todas as perícias foram analisadas. Além disso, foi realizada uma entrevista com o servidor responsável pelas perícias analisadas a fim de obter informações sobre prazos e maiores dificuldades enfrentadas para a realização dos trabalhos. A entrevista tem sua característica de utilização em estudos exploratórios, compreende-se ser relevante para a fundamentação de pesquisas qualitativas (GIL, 2008). O estudo foi realizado em cinco etapas. Na primeira etapa, foi realizado o estudo de caso, entrevista com o perito criminal, levantamento dos dados por meio da obtenção, junto ao Instituto Geral de Perícias, dos dados relativos à processos que demandavam perícias contábeis. Posteriormente, todos os processos foram lidos e analisados, a fim de verificar se se enquadravam no âmbito de perícias forenses na área contábil, configurando material para o presente estudo. A terceira etapa consistiu na organização dos dados, os quais foram separados por data (apresentação cronológica de entrada e resolução), por região e por tipo de crime. Na quarta etapa, os dados foram analisados e organizados de forma visual para que auxiliasse na interpretação do leitor. Por 3 8 38 fim, foram relacionadas às informações decorrentes do estudo com os objetivos, apresentando as conclusões da pesquisa. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Análise qualitativa: estudo de caso no Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina Esta pesquisa de estudo de caso foi realizada no Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina. O Instituto Geral de Perícias (IGP) é o órgão responsável por pela realização de perícias criminais, por meio do Instituto de Criminalística no Departamento TécnicoCientífico Forense. É subordinado diretamente à Secretaria de Segurança Pública e trabalha em estreita cooperação com os demais órgãos vinculados a essa secretaria. Tem como função coordenar as atividades desenvolvidas pelas perícias criminais do estado através dos seus respectivos órgãos. De acordo com o Capítulo IV-A da Constituição Estadual de Santa Catarina, compete ao Instituto Geral de Perícias, em seu art. 109-A, “o Instituto Geral de Perícia é o órgão permanente de perícia oficial, competindo-lhe a realização de perícias criminais, os serviços de identificação civil e criminal, e a pesquisa e desenvolvimento de estudos nesta área de atuação.” (SANTA CATARINA, 1989). Quando se trata de crimes financeiros, que envolvem transferências de recursos, por meio de instituições financeiras, torna-se indispensável às análises de extratos bancários, além dos documentos contábeis. Diante dessa necessidade, a quebra do sigilo bancário é determinada pela justiça. 3 9 39 Figura 2: Quebra de sigilo bancário Se for pedida a quebra de sigilo bancário pelo delegado de polícia ao juiz competente, este juiz encaminha ao Ministério Público para que este se manifeste quanto ao pedido do delegado, pois o Ministério Público é o titular da ação penal, ele precisa estar ciente do andamento processual penal, depois volta ao Juiz que decidirá se concede ou não. No caso de vir do Ministério Público, este encaminha direto para o Juiz competente, o qual decidira se determina ou não a quebra de sigilo. Em ambos os casos ao ser concedida a quebra de sigilo bancário pelo juiz competente, e depois recebido os extratos bancários, este são encaminhados a autoridade policial, para que solicite aos peritos Criminais do setor de contabilidade forense as análises e emissão do laudo pericial. Entrevistou-se o perito criminal do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina. Segundo ele, o requisito para realizar perícias criminais é passar no concurso público de Perito Criminal. Na ausência de Perito Criminal, a AutoridadePolicial pode nomear um profissional para executar determinada perícia criminal, chamado de Perito “ad-hoc”. Também há o Perito Judicial, nomeado pela Autoridade Judicial competente, que poderá proceder às perícias criminais. Além disso, há o Assistente Técnico, indicado pela parte investigada, para tentar contestar a perícia criminal realizada pelo Perito Criminal Oficial (Concursado). 4 0 40 Sobre as maiores as maiores dificuldades para a realização das perícias, o entrevistado destaca que “o Perito Criminal precisa estar sempre se atualizando, participando de congressos e Cursos, e nem sempre isso é possível”. O entrevistado também destaca como dificuldades o excesso de trabalho, o número restrito de Peritos, e os plantões desgastantes. O Perito Criminal destacou também que “as periciais em documentos, fonética e contábeis são as perícias mais dificultosas sob o ponto de vista de precisar examinar vasto material pericial em espaço de tempo geralmente limitado”. Em relação aos tipos de laudos periciais, o Perito Criminal entrevistado destaca: Encontrei mais dificuldade nos laudos de superfaturamento envolvendo licitações públicas, quanto a obter as bases referencias de preços, isto é, os preços que serão balizadores para determinar se os preços investigados podem ser considerados superfaturados ou não... muitas vezes, dependendo do local, essas bases de preços podem variar em decorrência de custos inerentes a cada localidade [...] (PERITO CRIMINAL ENTREVISTADO) Além disso, o perito criminal destacou que em toda sua trajetória como perito, no âmbito da Perícia Contábil, acredita que a “apropriação indébita” de recursos alheios, mediante algum tipo de fraude, seja a forma de crime de maior ocorrência no Instituto onde trabalha. 4.1 Análise quantitativa A perícia é um relevante meio de prova para a solução de controvérsias relativas ao crime organizado, sendo uma função essencial à justiça. A partir do exposto, neste tópico serão abordados os dados e resultados da presente pesquisa. A análise dos dados foi realizada sob quatro óticas: a) quanto às cidades com maior representatividade nos dados analisados; b) quanto ao tipo de entidade; c) quanto ao tipo de crime; d) quanto ao tempo de perícia. A análise do entendimento de perícia contábil na perspectiva do perito oficial foi feita a partir de uma entrevista realizada em junho de 2018 com o perito oficial responsável pelas perícias objeto deste estudo, conforme anexo I. 4 1 41 Conforme exposto anteriormente, os dados da pesquisa referem-se aos anos de 2012 a 2017 e, no período, foram submetidas ao IGP o total de cinquenta e um (51) casos de pedidos periciais criminais na área contábil. Desse total, 37 laudos foram expedidos, sendo cinco (5) no ano de 2012, onze (11) perícias ocorreram no ano de 2013, cinco (5) perícias ocorreram no ano de 2014, cinco (5) perícias ocorreram no ano de 2015, oito (8) perícias ocorreram no ano de 2016 e três (3) perícias ocorreram no ano de 2017, distribuídas em trinta e uma (31) cidades por todo o estado de Santa Catarina, conforme exposto na Figura 3 (Tabela 1). Figura 3 Apenas duas cidades, Florianópolis e Blumenau, são responsáveis por, aproximadamente, 27% das perícias solicitadas, tendo Florianópolis nove casos e Blumenau, cinco casos. Braço do Norte, Camboriú, Itajaí, Joinville, Navegantes e São José do Cedro tiveram dois casos cada cidade e as demais cidades apresentadas na Tabela 1 tiveram apenas um processo cada O ano de 2016 apresenta maior quantidade de perícias solicitadas, diferenciando-se da média dos demais anos. Entretanto, as perícias solicitadas no ano de 2015 chamam atenção em razão da pequena distribuição. As dez solicitações distribuíram-se em apenas cinco cidades: Blumenau, onde houve três perícias, Florianópolis, onde houve quatro perícias, 4 2 42 Papanduva, Piçarras e São José do Cedro, onde houve apenas uma perícia em cada cidade. Este resultado levou à um questionamento: Por que há maior número de casos periciais em Florianópolis? Foram testadas duas hipóteses para tentar responder à pergunta: a) há relação entre a população da cidade e o número de crimes praticados que levaram à perícia criminal contábil?; b) há relação entre a forma de administração pública e a distribuição por cidades dos crimes praticados que levaram à perícia criminal contábil? Primeiramente, foi feito o comparativo entre “maiores cidades do estado (número populacional)” e “maiores números de perícias”, buscando verificar se poderia haver alguma relação entre essas duas variáveis. Estatisticamente, há um pequeno grau de relevância entre os dados, contudo, não o suficiente para apontar uma justificativa para a pergunta. Buscou-se, então, investigar a forma de administração pública estadual – verificando se existe uma administração centralizada ou descentralizada. A administração pública do estado de Santa Catarina é descentralizada e, portanto, a ideia de concentração de crimes praticados contra o erário público ser maior em Florianópolis, capital do estado, se relacionar a um local com maior concentração de atividades administrativas, não apresenta representatividade. Compreende-se, assim, que não existem razões específicas para o contingente apresentado pela cidade de Florianópolis que possam estar ligados às hipóteses criadas. Quanto ao tipo de perícia realizada, foram identificadas cinco classes diferentes de ilegalidades, as quais são apresentadas na Figura 4 (Quadro 1). Figura 4 Conforme sinalizado no referencial teórico desta pesquisa, estas ilegalidades não fazem uso de violência, contudo, são danosos à sociedade e possuem o 4 3 43 objetivo final de obter lucro. A maioria dessas ilegalidades tem sua previsão legal no Código Penal. A apropriação indébita é prevista Código Penal Brasileiro, em seu artigo 168, e consiste na apropriação de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário. Inclui-se nela a prestação fraudulenta de contas, que foi identificado nos dados da pesquisa. O superfaturamento é previsto na Lei n. 8.666 de 1993 e consiste em: Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente: I - elevando arbitrariamente os preços; II - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; III - entregando uma mercadoria por outra; IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida; V - tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta ou a execução do contrato. (BRASIL, 1993, ART. 96) Nas perícias analisadas, o superfaturamento se apresenta principalmente nos casos de licitações públicas. A sonegação fiscal, por sua vez, tem sua previsão legal no artigo 299 do Decreto Lei n. 2.848 de 1940 e consiste em “Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.” (BRASIL, 1940, art. 299). O crime de peculato também é no Decreto Lei n. 2.848 de 1940, em seu artigo 312, no qual define o crime como a apropriação, realizada por funcionário público, de “dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.” (BRASIL, 1940, art. 312). A improbidade administrativa é prevista na Lei n. 8.429 de 1992 e diz respeito à atividades ilegais cometidas com caráter de enriquecimento ilícito, ações com dano ao erário e violação ao princípio da administração,que consistem na honestidade, lealdade, legalidade e imparcialidade às instituições, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional. 4 4 44 Presentes em processos referentes a responsabilidade de prefeitos e demais agentes públicos, principalmente no que diz respeito à enriquecimento ilícito. Na Figura 5 - Gráfico 1 são apresentadas as informações relevantes ao percentual de incidência de cada uma das ilegalidades observadas nas perícias analisadas. Figura 5 Dentre os cinco (5) crimes apontados, a apropriação indébita teve um maior número de ocorrências, sendo responsável por 49% das citações – condizendo com o dado apontado pelo perito criminal entrevistado, o qual destacou que, dentre as perícias criminais contábeis já realizadas, a apropriação indébita liderava as estatísticas de ilegalidades analisadas. Em segundo lugar aparece o crime de peculato (23%) e, em terceiro, os crimes de improbidade administrativa e superfaturamento (10%) cada. A partir de tal, observa-se que, diante da perspectiva do perito, as pericias mais difíceis de elaborar foram as de superfaturamento. O perito ressaltou, 4 5 45 ainda, que as ilegalidades de apropriação indébita são as mais requisitadas e que o setor de Contabilidade Forense é o que consome maior tempo e dificuldade na emissão dos laudos, pois apresenta um vasto material documental a ser analisado. Buscou-se, a partir desses dados, caracterizar a punição prevista para cada uma dessas ilegalidades, conforme exposto na Figura 5 (Tabela 2). Figura 5 Quando da violação de um bem jurídico, tem-se o Estado como um papel de administrador de Justiça, exercendo como principal função, a aplicação à figura do réu, ou seja, o violador dos direitos, determinadas penalidades previstas na lei brasileira. Como apresentado na Tabela 2, é possível reparar que a maioria dos crimes incluem penas de reclusão, os quais são previstos pelo Código Penal, no seu artigo 33, como punições a serem cumpridas em regime fechado, semiaberto ou aberto. No que diz respeito às entidades originárias das perícias, o estudo apurou 32 entidades privadas e 19 entidades públicas, de acordo com a Figura 6 (Tabela 3). 4 6 46 Figura 6 Observa-se um grande impacto das entidades privadas nas demandas periciais, sendo responsáveis por 62,75% dos totais de 51 pedidos feitos e as entidades privadas com 37,25%. As entidades públicas são as que exercem suas atividades pelo direito público e integram a estrutura constitucional do Estado e tem poder político e administrativo, compostas por entes públicos, cooperativas, sindicatos, organizações sem fins lucrativos etc. Entende-se por empresa de iniciativa privada aquelas cujos proprietários detêm personalidade jurídica e que, além de exercer suas atividades econômicas, visam lucro. No que diz respeito ao tempo médio de realização das perícias, o cálculo de tempo das 51 perícias e 37 laudos foi realizado por meio da média aritmética do tempo demandado entre o recebimento da perícia e a entrega do laudo. O tempo médio estimado para a entrega dos laudos, no período analisado, foi de dois anos. O perito oficial, em entrevista aos pesquisadores, justifica esse tempo devido à falta de pessoal para realização dos trabalhos e à complexidade das perícias. Além disso, o perito oficial deve atender às demandas de plantões na realização de exames periciais em locais de infração penal e coletar os vestígios produzidos e deixados na prática de delitos e proceder pesquisas de interesse do serviço, coletar dados e informações necessários, o que somado ao vasto quadro de pessoal habilitado, aumenta ainda mais a demora nas expedições dos laudos periciais contábeis. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A perícia é um meio de prova, pelo qual se examinam e verificam fatos da causa. A área da perícia Contábil é resultado das atividades feitas por diversos conhecimentos e se utiliza de várias ferramentas para ter condições de oferecer 4 7 47 informações e provas úteis na tomada de decisões de processos que ocorrem em segredo de justiça. De acordo as análises de pesquisa documental dos laudos periciais contábeis emitidos pela criminalística do Instituto Geral de Pericias, conclui-se que as ilegalidades apuradas na pesquisa consistem em apropriação indébita, peculato, improbidade administrativa, sonegação fiscal e superfaturamento. Dentre os quais, destaca-se a apropriação indébita como a ilegalidade com maior incidência nos dados observados, seguida do crime de peculato. A maior representatividade de perícias criminais contábeis ocorreu, no período, nas cidades de Florianópolis e Blumenau. Os dados apresentados sinalizam o descaso do Estado de Santa Catarina diante o baixo quadro de funcionários públicos para o cargo, tendo apenas um profissional habilitado para a demanda, motivo pelo qual se tem um tempo médio de dois anos para expedir cada laudo, acarretando até um aumento nos gastos durante os processos judiciais devido à demora. O princípio da entidade, tão importante para a contabilidade, mostrou-se desconhecido para inúmeros funcionários públicos, dada a apropriação do público para o seu, misturando aquilo que é do ente com aquilo que é de propriedade pessoal – e, mais que isso, tornando aquilo que é público, pessoal. A continuidade da pesquisa, no entanto, permite que sejam analisados esses comportamentos para longo prazo, indicando se há melhoria ou aumento nas incidências. Sugestões para pesquisas futuras consistem em aprofundar os estudos na área das pesquisas criminais contábeis, permitindo que sejam criadas estatísticas acerca desse tipo de dado, que é relevante para a sociedade. _______________________________________________________________ Disponível em:< file:///C:/Users/FACUMINAS/Downloads/1555-5618-2- PB%20(1).pdf>. Acessado em 07 de dezembro de 2021. file:///C:/Users/FACUMINAS/Downloads/1555-5618-2-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/FACUMINAS/Downloads/1555-5618-2-PB%20(1).pdf 4 8 48 REFERÊNCIAS KANITZ, Stephen Charles. Controladoria: teoria e estudo de casos. São Paulo: Pioneira, 1976. LAJOSO, P. Guilherme. A importância da Auditoria Interna para a Gestão de Topo. Revista de Auditoria Interna, Nº 19, Janeiro-Março, pp. 10-12, 2005. MARTIN, Nilton Cano. Da contabilidade à controladoria: a evolução necessária. Revista Contabilidade e Finanças. São Paulo: Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, n. 28, ano XIII, p. 7-28, Jan./Abr. 2002. MORAIS, Maria Georgina da C. Tamborino. A Importância da Auditoria Interna para a Gestão: Caso das Empresas Portuguesas. In: 18º Congresso Brasileiro de Contabilidade. Gramado, 2008. Anais. MOSSIMANN, Clara Pellegrinello e FISCH, Sílvio. 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