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Recupeção Judicial Ulbra

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5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26
Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000461-37.2019.8.21.0008/RS
TIPO DE AÇÃO: Administração judicial
RELATOR:Gab. Des. Niwton Carpes da Silva
APELANTE: ASSOCIACAO EDUCACIONAL LUTERANA DO BRASIL - AELBRA (AUTOR)
APELADO: OS MESMOS
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXERCÍCIO REGULAR
DE ATIVIDADES COMERCIAIS HÁ MAIS DE DOIS ANOS.
PRESSUPOSTO PROCESSUAL DE LEGALIDADE ESTRITA. REALIDADE
MATERIAL QUE INFIRMA A PRESENÇA SUPERIOR DO BIENIO
EXIGIDO EM LEI. PREPONDERÂNCIA DOS PRINCÍPIOS
ASSECURATÓRIOS DE SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE CRISE.
MANUTENÇÃODA FONTE PRODUTORA, DO EMPREGO E DOS
INTERESSES DOS CREDORES. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL.
1. TRATA-SE DE PEDIDO DE PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL DA AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E
POS-GRADUAÇÃO S.A., MANTENEDORA DA ULBRA –
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, JULGADA EXTINTA NA
ORIGEM, EM FACE DO NÃO PREENCHIMENTO DO
PRESSUPOSTO LEGAL E PROCESSUAL DO EXERCÍCIO DE PELO
MENOS DOIS (2) ANOS DO EXERCÍCIO DO COMÉRCIO.
2. A REALIDADE DA VIDA NÃO PODE SER SUBTRAÍDA NA
CONSIDERAÇÃO DO ATO DE JULGAMENTO, MORMENTE
QUANDO REVELADA NOS AUTOS DO PROCESSO. A AUTORA É A
MANTENEDORA DA UNIVERSIDADE ULBRA, COM SEDE NA
COMARCA DE CANOAS/RS, CONCEITUADA COMO A MAIOR
INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO ESTADO, MAS, POR SUA
GRANDEZA, POSSUI UNIDADES DE ENSINO POR TODO O PAÍS.
FOI FUNDADA COMO UNIVERSIDADE EM 1988, MAS JÁ EXISTIA,
COMO INSTITUIÇÃO DE ENSINO, DESDE 1972. POSSUI
RAMIFICAÇÕES EM VÁRIAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO, TAIS
COMO: RIO GRANDE DO SUL, RORAIMA, PARÁ, AMAZONAS,
GOIÁS E TOCANTINS. ALÉM DISSO, CONTA COM MAIS DE 60.000
ALUNOS E UNIVERSITÁRIOS EM SUAS DIVERSAS INSTITUIÇÕES
DE ENSINO, SENDO 45.000 SOMENTE NO RIO GRANDE DO SUL E
MANTÉM MAIS DE 4.000 EMPREGOS DIRETOS ENTRE
FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES NO ESTADO. CONTABILIZA O
ENVOLVIMENTO DE MAIS DE 100.000 PESSOAS EM EMPREGOS
PERIFÉRICOS E INDIRETOS, QUE DEPENDEM DIRETAMENTE
DA ATIVIDADE DA INSTITUIÇÃO. HÁ ESTIMATIVA DE QUE MAIS
DE 1.000.000 (UM MILHÃO) DE PESSOAS SEJAM BENEFICIADAS
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26
PELO CONJUNTO DE SERVIÇOS PRESTADOS DIRETAMENTE
PELA AUTORA NOS SERVIÇOS MÉDICOS, ODONTOLÓGICOS,
PSICOLÓGICOS, VETERINÁRIOS, JURÍDICOS E SOCIAIS QUE
PRESTA À POPULAÇÃO, EM ESPECIAL A MAIS CARENTE. ALÉM
DISSO, SEM EMBARGO, NÃO POSSO DESCONSIDERAR A
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS UNIVERSITÁRIOS NO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E TAMBÉM OS SERVIÇOS
PRESTADOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO, EM ESPECIAL À
POPULAÇÃO CARENTE DE RECURSOS.
3. OS DOCUMENTOS COMPROVAM, AINDA, QUE HOUVE A
TRANSFORMAÇÃO SOCIETÁRIA DA AUTORA, QUANDO PASSOU
DE ASSOCIAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS PARA SOCIEDADE
COMERCIAL (SOCIEDADE ANÔNIMA DE CAPITAL FECHADO),
EM OUT/2018, REGISTRADA NA JUNTA COMERCIAL EM
ABR/2019. TODAVIA, NÃO É MENOS VERDADE, EIS A QUESTÃO,
QUE A UNIVERSIDADE EXISTE COMO ASSOCIAÇÃO CIVIL DE
CUNHO EDUCACIONAL HÁ QUASE MEIO SÉCULO ANTES DO
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO E, MAIS, SEMPRE EXERCEU A
MESMA ATIVIDADE DE ENSINO E PESQUISA, ALÉM DE
MANTER ATIVO O HOSPITAL DE CANOAS. EM OUT/2018,
ATRAVÉS DE AGE HOUVE APENAS UMA MODIFICAÇÃO
ESTATUTÁRIA, NADA ALÉM DISSO. LOGO, EM QUE PESE A
MODIFICAÇÃO ESTATUTÁRIA, NÃO POSSO OLVIDAR QUE A
NATUREZA DAS ATIVIDADES DA AUTORA SEMPRE, DURANTE
TODA SUA EXISTÊNCIA, FOI VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO E O
ENSINO PRIVADO SITUAÇÃO QUE NÃO SE MODIFICOU APÓS A
ALTERAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL. LOGO, NÃO ME PARECE
CORRETO CONSIDERAR O LAPSO TEMPORAL PARA EFEITO DE
PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL APENAS O
PERÍODO APÓS A MODIFICAÇÃO ESTATUTÁRIA E REGISTRO,
QUANDO A REALIDADE DE FATO SEMPRE FOI A MESMA. ASSIM,
ENTENDO COMO PREENCHIDO O PRESSUPOSTO TEMPORAL
DO ART.48, “CAPUT” DA LEI FEDERAL N.11.101/2005 PARA O FIM
DE DETERMINAR O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL DA AUTORA.
4. AFORA ISSO, A SITUAÇÃO É ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL E,
NESSA CONDIÇÃO, DE EXCEPCIONALIDADE, É QUE DEVE SER
EXAMINADA E JULGADA A DEMANDA. A CRISE FINANCEIRA E O
SALDAMENTO DO PASSIVO, MANTENDO O PATRIMÔNIO E A
REORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL PASSAM INEXORAVELMENTE
PELA VIABILIZAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AUTORA,
SOB PENA DE EMPURRAR A INSTITUIÇÃO, QUE POSSUI
PATRIMÔNIO ATIVO SUPERIOR AO PASSIVO, AO DRAMA SOCIAL
DO PROCESSO DE FALÊNCIA, GERANDO CAOS SOCIAL E
DILAPIDAÇÃO DO ACERVO COM A LIQUIDAÇÃO
EXTREMAMENTE GRAVOSA, JOGANDO MILHARES DE FAMÍLIAS
AO DESEMPREGO E PREJUDICANDO AINDA MAIS SEUS
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26
CREDORES COBRINDO DE INSEGURANÇA UMA RELAÇÃO QUE
PODE SOERGUER E VOLTAR A PROSPERAR. DE ACORDO COM
ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, "O ART.47
DA LEI DE FALÊNCIAS SERVE COMO UM NORTE A GUIAR A
OPERACIONALIDADE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL, SEMPRE
COM VISTAS AO DESÍGNIO DO INSTITUTO, QUE É VIABILIZAR A
SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE CRISE ECONÔMICO-
FINANCEIRA DO DEVEDOR, A FIM DE PERMITIR A
MANUTENÇÃO DA FONTE PRODUTORA, DO EMPREGO DOS
TRABALHADORES E DOS INTERESSES DOS CREDORES,
PROMOVENDO, ASSIM, A PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, SUA
FUNÇÃO SOCIAL E O ESTÍMULO À ATIVIDADE ECONÔMICA"
(RESP 1207117/MG, REL. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, JULGADO EM 10/11/2015, DJE 25/11/2015).
5. SENTENÇA MODIFICADA E DETERMINADO O PROCESSAMENTO
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AUTORA, NOS TERMOS E
FORMALIDADES LEGAIS EX VI DA LEI FEDERAL N.11.101/2005.
6. APELAÇÃO PROVIDA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 6ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul decidiu, por maioria,
vencidos a Desembargadora ELIZIANA DA SILVEIRA PEREZ e o Desembargador JORGE
LUIZ LOPES DO CANTO, DAR PROVIMENTO AO APELO, nos termos do relatório,
votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 13 de dezembro de 2019.
Documento assinado eletronicamente por NIWTON CARPES DA SILVA, em 13/12/2019, às 17:48:58, conforme art. 1º,
III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código
verificador 22514v26 e o código CRC 84e47643.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): NIWTON CARPES DA SILVA
Data e Hora: 13/12/2019, às 17:48:58
 
 
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46
Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000461-37.2019.8.21.0008/RS
TIPO DE AÇÃO: Administração judicial
RELATOR:Gab. Des. Niwton Carpes da Silva
APELANTE: ASSOCIACAO EDUCACIONAL LUTERANA DO BRASIL - AELBRA (AUTOR)
APELADO: OS MESMOS
RELATÓRIO
AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E PÓS-
GRADUAÇÃO S.A. aforou pedido de processamento de sua recuperação judicial perante o
ilustre juízo da Comarca de Canoas mas o processo foi julgado extinto, de modo prematuro,
sob a alegação de ausência de pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo, forte no art. 485, inc. do CPC/15, pois não tem dois anos de exercício de
comercio.
Alega a requerente que passa por grave crise financeira e ser a recuperação
judicial o meio mais propício para alcançar sua reorganização e saldar o seu passivo. Alega
possuir um passivo de R$2.428.684.827,40(...) sujeito à recuperação judicial.
A Fazenda Nacional, por seu turno, insurgiu-se ao pedido de recuperação
judicial e alega que é credora da requerente por débito tributário superior a
R$5.148.585.828,74(...), além de a mesma não ser sociedade empresária e por conta disso não
pode se valer do benefício da Lei da Recuperação Judicial. Sustenta ainda que a
transformação em Sociedade Anônima de capital fechado somente ocorreu em OUT/2018,
levada a registro em ABR/2019 e que a pretensão significa uma burla à Lei n.11.101/2005.
Outro credor, o EXPORT IMPORT BANK OF THE UNITED STATESratificou a impugnação do Fisco Nacional e concluiu pelo indeferimento do pedido de
recuperação judicial da autora.
Após isso, adveio a decisão judicial de extinção do processo em face da
ausência do pressuposto processual, a pretexto de não se tratar de sociedade empresária há
mais de dois anos, sem adentrar na consideração, levantada pela Fazenda Nacional, de que
teria havido ilicitude na transformação da associação em sociedade anônima, forte no art.13
do estatuto social.
A autora apresentou recurso de apelação, através do qual repete os argumentos
da exordial e pede o processamento da recuperação. O Ministério Público oferta parecer pelo
improvimento recursal.
Após, os autos vieram-me conclusos.
VOTO
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46
Eminentes colegas. Trata-se, consoante positivado no sumário relatório, de
pedido de recuperação judicial julgado extinto na origem em face de que a sociedade
empresária não está constituída há mais de dois anos, conforme exige o art.48, caput da Lei
de Regência.
Presentes os pressupostos de recorribilidade. O recurso de apelação se deve à
situação jurídica da extinção da ação, ao contrário do disposto no art.17 da LRJ, quando,
então, caberia a interposição do recurso de agravo.
A situação retratada nos autos é excepcionalíssima e, por isso requer e exige um
olhar especial dotado de conhecimento técnico, capacidade de abstração para perceber as
nefastas consequências do pedido, em especial se denegado, haja vista a repercussão social,
o desemprego em massa e, por arrasto, o fechamento de várias fontes de trabalho, pois a
ULBRA, em radiografia superficial, congrega os seguintes dados, dentre outros:
1. 60.000 Alunos no Brasil,
2. 45.000 Alunos no RS
3. 4.000 Funcionários/professores
4. 100.000 Empregos Periféricos
5. 1.000.000 de Pessoas Beneficiadas Pelos Serviços Sociais Desenvolvidos
Com a Extensão Acadêmica (Serviços Médicos, Odontológicos,
Psicológicos, Veterinários, Atendimentos Sociais e Jurídicos)
Essa é a dimensão viva do processo que ora se analisa com suas nefastas
consequências, especialmente em caso de manutenção da negativa do pedido de recuperação.
Aliado a isso, mister assentar, que da listagem dos credores da autora, apenas
dois não concordam com o deferimento da recuperação, em manifestação explícita. Os
demais, ou silenciam (no sentido de que é melhor a recuperação do que a falência total, com o
fechamento das atividades), ou são expressamente concordes. Os contrários, não tenho a
menor dúvida, o primeiro deles é o Fisco, que sequer seu crédito é prejudicado com eventual
deferimento da recuperação, o que evidencia sua atividade voraz e confiscatória que abafa a
atividade produtiva. De resto, até mesmo os credores são favoráveis ao favor legal da
recuperação judicial.
Também endossam o coro e a torcida pela recuperação judicial e salvação da
empresa autora estão as manifestações dos Sindicatos de Professores e Funcionários da
Instituição de Ensino, ora em situação periclitante. No mesmo sentido são as manifestações
dos Sindicatos que representam a legião de alunos e universitários que torcem e estão
preocupados com a situação financeiro-econômica da autora e eventual falência com
rompimento dos contratos de ensino. Ainda congregam apoio e ratificam o pedido as forças
ativas, sociais e políticas das sociedades por onde corre o caudal da autora, basta ver as
manifestações dos agentes políticos juntados aos autos, em especial as originárias dos
Municípios de Canoas e Esteio, como também o pronunciamento do augusto magistrado Dr.
Telmo dos Santos Abech, juiz decano da Comarca de Canoas.
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46
A fim de melhor compreender a presente decisão e voto, esquadrinho o voto
separando por tópicos, como segue:
1.Considerações Gerais sobre a ULBRA e seus débitos -
Antes de adentrar ao tema específico da análise do processo e da situação
financeira da autora, me parece transcendental que ofereça aos colegas de bancada uma visão
panorâmica sobre a Instituição ULBRA, nos seus mais ricos e variados compromissos sociais
e alcance institucional, os quais, no conjunto, agora estão a pedir o socorro judiciário, pois a
empresa travessa profunda crise financeira e de gestão.
Ao menos no Rio Grande do Sul, tenho quase certeza, não há nenhum gaúcho
que não conheça a ULBRA – Universidade Luterana do Brasil, instituição de ensino superior,
de caráter privado, sediada na cidade de Canoas, fundada em 1988, mas que começou a
funcionar através da CELSP (Comunidade Evangélica Luterana São Paulo) em
16/AGO/1972, com a implantação de seus primeiros cursos na antiga Faculdade Canoense de
Ciências Administrativas, em Canoas, de caráter filantrópico-confessional e que possui
atualmente mais de 60.000 alunos em todo o Brasil e com ramificações em vários Estados da
Federação (Rio Grande do Sul, Rondônia, Pará, Amazonas, Goiás e Tocantins).
Aqui no Rio Grande do Sul, através de pesquisa no site www.ulbra.com.br
pude perceber que existem nove (9) campi universitários e mais de 70 polos de educação a
distância (EAD), distribuídos nas diversas regiões brasileiras. Possui cursos de graduação,
pós-graduação e extensão, nas modalidades presencial e à distância. A Universidade, segundo
o seu site, é também reconhecida por seus programas comunitários inclusivos, que destacam
o meio ambiente, a sustentabilidade e a participação da comunidade. Mantém uma rede de
cooperação permanente com entidades, instituições e empresas voltadas para o apoio ao
desenvolvimento científico, tecnológico e social. A Universidade ainda incentiva e promove
atividades culturais, através de vários núcleos – Orquestra de Câmara, coral, teatro, dança e
literatura.
Consta do site, ainda, que “Alunos e professores da Ulbra Canoas podem
participar de programas de intercâmbio acadêmico, científico e de cooperação, com
universidades estrangeiras de diversos países. A universidade também recebe alunos do
exterior, proporcionando a troca de experiências. A produção científica realizada abrange
todas as áreas do conhecimento previstas pela CAPES e CNPq. Afora isso, a Rede Ulbra de
Inovação está implantando seu Parque Tecnológico e a Incubadora Tecnológica
ULBRATECH com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do município de Canoas.
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
http://www.ulbra.com.br/
5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46
A atual mantenedora da ULBRA é a ora requerente, AELBRA EDUCAÇÃO
SUPERIOR – GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO S.A.
Portanto, como se percebe, numa singela e superficial análise, não se está a
deliberar sobre o processamento de uma recuperação de uma pequena empresa com meia
dúzia de empregados e alguns milhares de reais de passivo, sem qualquer demérito. Muito
pelo contrário, o cenário desenhado nos parágrafos anteriores já evidencia a repercussão e a
dimensão da pretensão deduzida pela autora, já que produzirá efeitos em vários Estados da
Federação, dezenas de milhares de estudantes, milhares de Professores e empregados. Aliás, a
documentação produzida e que instrui o pedido já se pode perceber do volume e peso
financeiro da pretensão e do profundo reflexo que produzirá a decisão judicial lançada nos
autos, a qual, destarte, sem embargo, pode significar a possibilidade de soerguimento ou da
iminente falência da empresa autora.
A situação envolve dezenas de milhares de estudantes, ou seja, em torno de
60.000 estudantes universitários no Brasil todo e mais de 40.000 só no RS. Mas eles não
estão só, também devo ponderar que qualquer que seja a decisão adotada atingirá mais de
4.000. professores e empregados, sem falar nos empregos indiretos. O patrimônio imobiliário
se estende por vários estados da federação, como já referido e, avaliado, a grosso modo,
perpassa a casa dos dois bilhões de reais.
A negativado processamento da recuperação judicial, diante do quadro
financeiro comprovado nos autos e a grave crise estrutural porque atravessa a Universidade,
não se trata de premonição, mas, com certeza, se mantida, vai jogá-la na vala comum da
falência, hipótese que afetaria diretamente todas as operações da universidade, prejudicando
milhares de pessoas e acarretando um caos social de alcance multiestadual, cujo impacto não
pode ser previsto e imaginado neste momento, mas de espectro nada positivo para a economia
gaúcha e também para o sistema de ensino brasileiro.
Por outro lado, é verdade que a autora acumula dívida bilionária, onde os
débitos trabalhistas totalizam R$315 milhões de reais e os financeiros em torno de R$2,1
bilhões, mas o endividamento total da ULBRA chega a 8,2 bilhões, dentre este, R$5,8 de
dívidas tributárias.
É verdade que investimentos substanciais focados em outras áreas que não a
educação, pode ter iniciado o endividamento a níveis acima da capacidade de pagamento da
instituição, além de desvios de patrimônio e má-gestão administrativa.
A crise afeta os quatro hospitais mantidos pela autora: Porto Alegre, Canoas e
Tramandaí onde o funcionamento é precário, com fechamento de leitos, fechando UTIs e
suspensão de cirurgias. Todavia, a autora não pode continuar sangrando em doses
homeopáticas perante a Justiça do Trabalho através de penhoras on line que desorganizam os
já combalidos planos estruturais da entidade, muito menos pode continuar ad perpetuam a
vender ativos valiosos por preços bem abaixo de mercado na tentativa de apagar focos
localizados de débitos ajuizados. É imprescindível uma revisão estrutural, que açambarque
integralmente o Sistema Ulbra com a projeção de uma solução também conjuntural.
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46
Nesse sentido, com muita propriedade, as contrarrazões da FAZENDA
NACIONAL que, em primeira mão, manifestou repúdio ao pedido de recuperação, acabou
por confirmar, embora com outras palavras, que se nada for feito, o patrimônio da autora vai
desidratar e os débitos continuarão impagáveis, quando fala expressamente:
“No entanto, não obstante a temporária regularização de seu passivo tributário
perante a União, a autora manteve uma situação de inadimplência contumaz
perante seus credores trabalhistas. Em 2017, seu passivo trabalhista alcançou o
montante de quase 500 milhões de reais. Tal situação levou o Juízo da 3ª Vara
do Trabalho de Canoas, nos autos da execução trabalhista 0184000-
97.2008.5.04.0203, a penhorar TODOS os estabelecimentos de ensino da
autora. Seu objetivo era realizar um leilão conjunto de todos os
estabelecimentos, quitar os débitos trabalhistas e o saldo ser remetido à Justiça
Federal, para amortização do passivo tributário com a União. Na ocasião, a
União esclareceu que os débitos da devedora estavam no POIES e, portanto,
com exigibilidade suspensa. Assim, apenas alguns campis da autora no norte
do país foram a leilão e amortizaram o passivo trabalhista, o qual, hoje,
segundo a autora, seria de quase 326 milhões de reais. ”
Percebe-se, da leitura da própria impugnação do credor, que não deseja a
concessão à autora da recuperação judicial, a urgência da situação e a necessidade premente
de uma solução conjuntural. Não se trata de crítica, mas a venda parcial, não uniforme, de
ativos valiosos apenas contribui para aprofundar ainda mais a crise financeira da autora e para
aumentar a dificuldade da tarefa recuperacional. É necessário sim, data vênia, um processo
universal de recomposição gerencial e financeira da autora, o que só se revela ou pela
recuperação judicial ou pela falência.
Este é o momento derradeiro, já tardio, de inaugurar o processo recuperacional.
É a chance única do soerguimento, pena de abertura do procedimento falimentar em breve
tempo.
Não se pode esconder que a administração do então Reitor Ruben Becker foi
desastrosa e fugiu completamente da finalidade do ensino, desfocando para outros propósitos
e finalidade, tanto assim que a Justiça Federal (7ª Vara Federal de Porto Alegre) condenou o
ex-reitor e a filha, Ana Lúcia Becker por crime de lavagem de dinheiro.
Afora isso, lamentavelmente, não posso deixar de destacar, até porque
materialmente comprovado, que a autora também foi vítima de desvios de verbas, em valores
superiores a 63 milhões de reais, comprovado e apurado pela Polícia Federal e Receita
Federal através da “Operação Kollector” (colecionador, em alemão), o que infirma concluir
que, além da má-gestão, ainda a autora foi vítima e alvo de severa lesão patrimonial.
 
2. Da sentença de extinção da ação –
Não censuro a douta decisão judicial singular que extinguiu o processo de
recuperação judicial e denegou o pedido em favor da autora, ao menos agora, pois não teria
comprovado a prática comercial por dois anos, haja vista que a transformação societária da
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autora ocorreu em ABR/2019, data do registro na Junta Comercial, a partir da qual, passou a
ser sociedade empresária, quando, antes, era apenas uma associação civil de cunho
educacional, sem fins lucrativos.
Ademais, a douta sentença ainda prevê a hipótese de a autora retornar mais
tarde, com o mesmo pedido, de recuperação judicial, quando, então, completasse os dois anos
de comprovação de exercício de atividade comercial exigidos no art.48 da Lei Federal
n.11.101/2005, pois, quando da propositura da ação, em 06/MAI/2019 a autora contava
apenas com 1 (um) mês de registro societário, quando a lei exigiria dois anos para requerer o
soerguimento via recuperação judicial, nos termos do art.48 do Diploma de Regência.
Sob o enfoque objetivo e literal a douta sentença singular aparentemente
estaria correta, pois, de fato, a autora não cumpre com o prazo de dois anos preconizado no
art.48 do Diploma de Regência. Logo, sob esse prisma, não se lhe abririam as portas da
recuperação judicial, tal como infirmado no veredito sentencial.
De modo objetivo e linear a r. sentença foi categórica em seus fundamentos,
quando obtemperou, in verbis:
Assim, a teor da legislação vigente e do quadro fático-jurídico posto, sem
adentrar-se na discussão acerca da licitude ou ilicitude da sua transformação
de associação em sociedade anônima, por suposta afronta ao disposto no artigo
13 do seu então Estatuto, pode-se concluir que a requerente - AELBRA
EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E POSGRADUAÇÃO S.A. -, ao
tempo do ajuizamento desta Ação de Recuperação Judicial estava e está
constituída como sociedade empresária, uma vez que transformada em
sociedade anônima por meio de Assembleia Geral Extraordinária realizada em
23 de outubro de 2018 e registrada sua nova forma na Junta Comercial no mês
de abril de 2019, conforme se pode verificar dos documentos juntados com a
exordial (contratos sociais 3 e 4, e CNPJ 5).
Deste modo, por força do artigo 1º acima transcrito, a requerente submete-se
aos ditames da Lei nº 11.101/2005 e, por via de consequência, deve observar as
respectivas normas para valer-se do instituto jurídico da recuperação judicial
ora pleiteado.
A Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 48, dispõe que o devedor, ou seja, o
empresário ou sociedade empresária, poderá requerer a recuperação judicial,
desde que ao tempo do pedido, “exerça regularmente suas atividades há mais
de 2 (dois) anos” e “atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I –
não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada
em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5
(cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há
menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido
condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei”.
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Extrai-se dos elementos de cognição carreados ao sistema que a requerente,
embora esteja atualmente constituída como sociedade anônima, portanto, como
sociedade empresária, não logrou comprovar o preenchimento do requisito
legal consistente no exercício regular da atividade empresária por mais de dois
anos, o qual se mostra indispensável para fins de êxito no deferimento do
pedido de processamento da recuperação judicial.
Isto, porque a requerente, desde sua existência e até meados de outubro de 2018
(observada a alteração da denominação), quando transformou-se em sociedade
anônima por deliberação e aprovação em Assembleia Geral Extraordinária,
sempre existiu, perante a Sociedade e Poderes Públicos, como associação civil
de cunho educacional e sem fins lucrativos, ou seja, como pessoa jurídica de
direito privado, sem fins econômicos, filantrópica, de natureza educativa,
cultural, assistencial beneficente e de ação social, como se pode verificar do
artigo 1º do respectivo Estatuto (evento 4, estatuto 2). Tanto que nesta
condição, como associação educacional, assistencial e sem fins econômicos,
beneficiou-se de imunidade tributária (art. 150, VI, “c”, CF/1988; arts. 9º, IV,
“c”, e 14 CTN) e de benefícios governamentais, como, por exemplo, o próprio
FIES relacionado na exordial.
Deste modo, embora em atividade há várias décadas, somente com a
transformação da requerente, de associação civil, filantrópica, de cunho
educacional, assistencial e sem fins econômicos em sociedade anônima –
sociedade empresária independentemente do seu objeto (art. 982, p.ú.,
CCv/2002) – é que podemos admiti-la como sociedade empresária e, por via de
consequência, ter como iniciado o prazo de no mínimo dois anos de atividade
empresária para fins de processamento de sua recuperação judicial, sob pena de
criar-se temerário precedente. Todavia, em tese, nada impede que a requerente,
após o transcurso do prazo legal mínimo de dois anos de efetivo e regular
exercício da atividade empresarial, contado da sua efetiva transformação em
sociedade empresária, formule novo pedido de processamento de recuperação
judicial e comprove o preenchimento de todos os pressupostos/requisitos legais
para fins de ser analisado e, eventualmente, deferido seu pleito.
Destarte, em que pese a sensível situação dos professores, dos funcionários e,
em especial, dos alunos da requerente, que, juntamente com seus familiares,
depositam no curso de graduação um sonho e toda expectativa profissional, o
pedido de processamento da recuperação judicial não merece guarida, uma vez
que não atendido o pressuposto/requisito legal indispensável previsto no
“caput” do artigo 48 da Lei nº 11.101/2005, consistente na comprovação do
efetivo e regular exercício de atividade empresária por mais de dois anos.
Em face do exposto, indefiro o pedido de processamento da recuperação judicial
da requerente e julgo extinto o Processo, por ausência de pressuposto de
constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, com
fundamento no artigo 485, inciso IV, do Código de Processo Civil.
 
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Não há erro objetivo a ser consertado na r. sentença, está fielmente de acordo
com a letra fria da lei de regência e espelha o entendimento do magistrado sentenciante. Não
há o preenchimento dos dois anos de atividade empresária, então, não tem o direito subjetivo
público de acesso ao instituto da recuperação judicial. Essa é a conclusão sentencial, tollitur
quaestio.
Todavia, em que pese aparentemente se trate de uma decisão simples e singela,
corriqueira até, de simples aferição de prazo da atividade comerciária há a possibilidade de
uma releitura do referido dispositivo, mormente diante da situação retratada nos autos, em
riqueza de detalhes e provas exuberantes, fatos que exigem um outro olhar sobre os reflexos,
os impactos e as consequências dessa decisão de fechamento das portas da Recuperação
Judicial à autora, neste momento crucial da pretensão colocada em juízo.
É verdade, está certo o magistrado singular, para dizer o mínimo, quando refere,
em fls.10/11 do decisum, que após dois anos “...a autora poderá formular novo pedido de
processamento de recuperação judicial e comprove o preenchimento de todos os
pressupostos...”. Todavia, o mundo não fica congelado por dois (2) anos. Os credores têm
pressa para receberem os seus créditos, novas penhoras on line, novas demandas pesarão
sobre o patrimônio geral da autora, o Fisco está sedento para receber o crédito tributário, com
os privilégios que lhes são peculiares e é preciso equalizar as contas e reorganizar a empresa,
sob pena de falência iminente. Os 2 (dois) anos no mundo dos negócios, em especial negócios
em risco, representam uma eternidade, tempo que certamente já escoou para a autora. A
situação é, pois, urgente e emergencial.
Pelo que pude examinar, data vênia, dificilmente a autora tem fôlego para um
ano sob a pressão dos credores – débitos antigos – sob pena de, se não socorrida agora, de
logo e de imediato, encaminhar-se para a falência total e, no fluxo da bancarrota ninguém
ganha, a não ser terceiros especuladores que, com pouco mais de nada, abocanham os ativos
mais valiosos da empresa e jogam a carcaça fora, sobrando o caos social, o desemprego e
quebra da confiança.
Nesse cenário, então, concessa vênia, a sentença de extinção merece reforma,
pois há mais nos autos do que a simples consideração fria da lei, existe, no mínimo, uma
resposta de esperança há mais de 60.000 estudantes, 4 ou 5 mil professores e funcionários e
centenas de credores. Negar a chance do soerguimento empresarial à autora é empurrá-la em
direção à bancarrota, quando, então, como se sabe, só haverá perdedores. É imprescindível
uma releitura ao art.48 da Lei Federal n.11.101/2005.
 
3. Da modificação do julgado – processamento da RJ -
Sem embargo da decisão de Primeiro Grau que, no plano da legalidade estrita e
literal, está correta, é possível o julgamento de forma diferente, sem arranhar o mesmo Texto
Legal – Lei Federal n.11.101/2005 – basta que se dê ênfase e eficácia à outros princípios e
comandos legais do que a quantificação do prazo estrito do exercício do comércio.
A Lei de Regência, no art.48, caput, diz o seguinte, sic:
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Art.48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do
pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente
 
Ora, como já destaquei, o juízo de indeferimento e extinção do processo
centrou-se única e exclusivamente ao fato de que a autora não possuía os 2 (dois) anos de
exercícios do comércio, após registro.
Todavia, como sempre, os requisitos temporais previstos em lei são todos
aleatórios, fixam-se em parâmetros que não se sustentam e que infirmam pouca
cognoscibilidade e precisão e, por isso merecem sopesamento pontual, pois basta pensar que
ao invés de 2 (dois) anos como previu o legislador no artigo em referência (art.48), poderia
ter exigido 3 (três) anos, mas, sem assombro de quem quer que seja, poderia ter sido menos,
talvez 1 (um) ano ou um ano e meio. Outra questão é se esses dois (2) anos referidos no
pergaminho legal é contado do registro ou é de mesma e regular atividade.
Esse simples raciocínio, não colocado à prova pela doutrina ou pela
jurisprudência, no mais das vezes cordata no ponto, já é suficiente para balançar o requisito
temporal do exercício das atividades, como marco imprescindível e inarredável ao
processamento da recuperação judicial.
No particular, tanto a doutrina, como a jurisprudência, apenas limita-se a
responder e a aquiescer com o marco temporal de 2 (dois) anos, previsto no caput do art.48,
sob comento, semgrandes considerações e questionamento a respeito de sua inafastabilidade,
ao argumento que o biênio serve e tem como objetivo principal conceder a recuperação
judicial apenas a empresários ou a sociedades empresárias que se achem, de certo modo,
consolidadas no mercado e que apresentem certo grau de viabilidade econômico-financeira
capazes de justificar o sacrifício dos credores. Segundo a lição de MARLON TOMAZZETE,
apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis é que se justifica a concessão da
recuperação, quando refere: "...esse exercício regular da atividade deve ocorrer há mais de
dois anos, para que se possa pedir a recuperação judicial. Tal prazo tem por objetivo aferir a
seriedade do exercício da empresa, a sua relevância para economia e especialmente a
viabilidade de sua continuação. Apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis é
que se justifica o sacrifício dos credores em uma recuperação judicial. Uma empresa
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exercida há menos de dois anos ainda não possui relevância para a economia que justifique
a recuperação."" (Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas. São
Paulo: Atlas, 2011, pág. 60).
Em idêntica linha de raciocínio, FÁBIO ULHOA COELHO leciona que "não
concede a lei acesso à recuperação judicial aos que exploram empresas há menos tempo, por
presumir que a importância desta para a economia local, regional ou nacional ainda não
pode ter-se consolidado." (Comentários à lei de falências e de recuperação judicial. São
Paulo: 2011, pág. 181). (grifei).
Evidente que se trata de um prazo aleatório, presuntivo e sem firmeza como
marco legal inarredável, se trata de uma mera projeção temporal.
Ainda, no mesmo diapasão são as lições de ARNOLDO WALD E IVO
WAISBERG: "(...) O prazo de 2 anos de vida foi estabelecido pelo legislador como o marco
temporal necessário para separar os casos de crise dos empreendimentos iniciantes,
correspondendo à mortalidade infantil, daquela por que passa uma empresa já estável no
mercado. Se, na lei anterior, o intuito era afastar possíveis aventureiros, a razão da
manutenção do prazo em 2 anos na lei atual é o reconhecimento do fato de que, na economia
brasileira, empreendimentos iniciantes estão mais suscetíveis à quebra do que ao sucesso. O
requisito mínimo de existência contribui para a credibilidade da recuperação judicial, na
medida em que só autoriza a concessão do pedido às empresas que já tenham adquirido certo
nível de consolidação e maturidade no mercado." (Comentários à nova lei de falências e
recuperação de empresas. Coord. Osmar Brina Corrêa-Lima e Sérgio Mourão Corrêa Lima.
Rio de Janeiro: Forense, 2009, pág. 328).
Não penso, confesso, que essa argumentação tenha algum fôlego jurídico-legal.
Entendo que o prazo de 2 (dois) anos fixados na lei de regência tem por escopo mensurar a
possibilidade de repercussão da empresa no mercado empresarial e no ambiente de trabalho,
isto é, para ser mais explícito, se a empresa existir há menos de 2 (dois) anos a probabilidade
de ela ser pequena e/ou quase insignificante é bastante grande, de tal modo que não se
justificaria o sacrifício dos credores, por isso a negativa da recuperação judicial, sobrando
como única alternativa a falência da empresa. Agora, empresas com mais de 2 (dois) anos de
atividade, de regra, é empresa que apresenta um número maior de empregados, já está mais
estabilizada no mercado e pode causar maior impacto na sociedade em caso de falência, por
isso, permite-lhe um caminho menos rigoroso, qual seja, a recuperação.
Portanto, com o máximo respeito, mas não vejo o prazo de 2 (dois) anos como
algo muito importante, menos ainda para impedir a concessão da recuperação judicial de
uma empresa sólida e em plena atividade há mais de 40 anos, apenas revestida sob outra
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roupagem jurídica, até porque existem outros requisitos/pressupostos que são muito mais
importantes e indispensáveis para a aferição da necessidade da concessão do favor legal,
como por exemplo as demais exigências do próprio art.48, nos seus 4 (quatro) incisos e
também a necessária instrução com os documentos do art.51 do mesmo Diploma Legal.
Esses, eu admito, como de maior relevo do que o isolado prazo de 2 (dois) anos do art.48,
caput da LRJ.
Mas, vou mais longe ainda, até porque o caso concreto cria uma peculiar e
diferenciada situação sui generis, que também não foi considerada na decisão judicial da
origem.
Numa breve retrospectiva, por isso fiz questão de engendrar no voto o tópico
anterior nominado de “considerações gerais”, está assentada uma outra reflexão não
realizada, qual seja, a ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL foi criada e
está em plena atuação no mesmo ramo de atividade desde 1972, na época mantida pela
CELPS (Comunidade Evangélica Luterana São Paulo), embora fundada efetivamente e
documentalmente como ULBRA em 1988.
Logo, apenas para ser literal, a autora está no exercício regular de suas
atividades desde 1972, como Instituição de ensino, enquanto que o artigo violado exige, na
literalidade, 2 (dois) anos de "atividade". Portanto, destarte, entendo como devidamente
cumprido o requisito legal dos dois (2) anos exigido pelo art.48 da LRJ, posto que a devedora
atua no mercado, exatamente na mesma atividade, há mais de quarenta (40) anos.
Mas o apego à literalidade da lei leva, algumas vezes, não só à injustiça, como
no caso presente, mas, também, a ciladas jurídicas quase intransponíveis. Acontece que o
art.1º fala expressamente que a Lei n.11.101/2005 se aplica ao “empresário e sociedade
empresária”. Todavia, o art.2º diz que a Lei não se aplica à empresa pública, sociedade de
economia mista, instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,
entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores.
Ora, sociedades de ensino e associações não foram excluídas diretamente do
Texto legal que é específico a quem não se aplica a lei, o que em tese, se aplicaria à autora,
mesmo sem considerar a sua transformação social ocorrida em ABR/2019.
 
Com efeito, a devedora atua no mercado no mesmo ramo de atividade há mais
de quarenta (40) anos (cumprido o requisito temporal do art.48) e não é das espécies
societárias a quem a lei veda o acesso ao Instituto da Recuperação Judicial ex vi do art.2º da
mesma lei.
É verdade que a autora passou, em ABR/2019, por modificações de seus atos
constitutivos, pois, em tese, como associação sem fins lucrativos teria maior dificuldade
de acesso aos benefícios da LRJ (Lei de Recuperação Judicial) e, por conta disso, passou à
Sociedade Anônima de capital fechado, por força de aprovação em Assembleia Geral
Extraordinária de OUT/2018, com registro na Junta Comercial em ABR/2019.
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Por conta dessa mutação estatutária, a contabilidade do biênio exigido pelo
art.48, caput, da Lei de Regência, conforme sentença singular, passou a incidir a partir do
registro na Junta Comercial, ocorrido em ABR/2019. Como a ação foi distribuída em
06/MAI/2019, por evidente não “completou” o prazo de 2 (dois) anos exigidos na lei. Mas,
como expendido, esse prazo não pode ser interpretado como inflexível e intransponível,
depende da situação peculiar do caso concreto e da leitura do dispositivo
Outro injustificável e inexplicável formalismo. A lei merece ponderação e
interpretação à luz dos fatos sociais que, como se sabe, são mais ricos e em plena evolução e
efervecência. Ora, repito, a ULBRA sempre exerceu as mesmas funções e atividades, desde
sua criação (1972) ou desde sua fundação (1988). As funções exercidas erame são
exatamente as mesmas, atividade de ensino e educação. Nesse aspecto nada mudou, desde
sempre. Logo, literalmente desempenha a mesma "atividade".
Também não foge ao debate a consideração de que a atuação da autora sempre
teve, senão integralmente, mas em boa dose, a ideia de lucro e a ideia de empresa, com
autonomia e gestão, tanto que arregimentou um vultoso patrimônio, com capacidade de
gestão e investimento. Cabe realçar, também, agora com apoio na doutrina abalizada do Prof.
ARNOLD WALD, que a caracterização de empresa reside no "exercício de uma atividade
econômica ... que tenha por fim a criação ou circulação de riquezas, bens ou serviços",
estando a idéia de empresa "relacionada com o princípio de economicidade, ou seja com o
desenvolvimento de uma atividade capaz de cobrir os próprios custos, ainda que não existam
finalidades lucrativas" (ob.cit. pág. 365).
Nesse vértice, agrego referência às ponderações lançadas pela eminente MIN.
NANCY ANDRIGHI, transcritas nas razões de apelo, quando menciona, em coletânea
organizada em homenagem ao Prof. Peter Walter Ashton – Estudos de Direito Empresarial
(org. André Fernandes Estevez e Marcio Felix Jobim – Ed. Saraiva), teve artigo publicado,
onde diz, in verbis:
 
“...sempre que for verificada alguma dissonância entre os efeitos produzidos
pela interpretação literal dos dispositivos legais e a intenção do legislador, deve
o interprete analisar teleologicamente a norma aplicável à espécie de
julgamento. No que diz respeito ao biênio legal e exercício do comércio, apto a
legitimar o pedido de recuperação judicial, é sempre necessário observar o
princípio constitucional da função social da propriedade e também o
postulado da manutenção dos meios de produção.” (pág.626).
 
Em sequência dos fatos, em OUT/2018 através de AGE, foi aprovada a
modificação estatutária da autora transformando-a, de associação civil sem fins lucrativos,
para sociedade anônima de capital fechado, levada a registro em ABR/2019. Logo, a única
coisa que sofreu modificação foi seu estatuto, não a atividade desenvolvida, que perpassa
mais de 47 (quarenta e sete) anos, isto é, há quase meio século a ULBRA, pela mantenedora
autora, é Universidade destinada ao ensino, mas, de fato e de direito, mudou seu estatuto no
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ano em curso (ABR/2019, data registral). Todavia, mudou o estatuto, o batismo, a natureza
jurídica da sociedade, mas, o que é importante, permaneceu o mesmo ofício, a mesma
atividade e as mesmas funções, desde sempre.
A esse propósito, devo agregar o escólio doutrinário de SÉRGIO CAMPINHO
que, em caso de transformação societária, poderá haver o cômputo do exercício anterior
para atingir o prazo de 2 (dois) anos, desde que não haja a descontinuidade da empresa: "(...)
A transformação registral garante, dessa forma, a permanência da regularidade da atividade
empresária, que não sofre relação de continuidade diante da alteração do titular da empresa.
Em sendo assim, haverá o cômputo do exercício anterior para que se possa atingir o prazo
de mais de dois anos de exercício regular da atividade por lei exigido. Em outros termos, o
empresário individual ou a sociedade empresária (pluripessoal ou unipessoal) requerente da
recuperação judicial poderá legitimamente aproveitar o período de exercício regular
anterior à implementação registral, para somá-la àquele realizado após o evento" (Curso de
direito comercial: falência e recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva Educação, 2018,
pág. 136).
Pois bem, acena-se com a possível existência de fraude. Não provada diga-se de
passagem. Não vai faltar quem grite aos estertores que a S.A., na qual se transformou a
autora, não tem 2 (dois) anos e, por isso, não poderia ser beneficiária da recuperação judicial
e, mais, que a modificação operada por AGE (Assembleia Geral Extraordinária), teria
ocorrido em fraude, para ludibriar a lei e obter vantagem indevida, tanto que operada a
modificação estatutária em OUT/2018 e o registro se deu apenas em ABR/2019 e o pedido de
recuperação é de MAI/2019.
Realmente, as datas são próximas, entre a mutação estatutária, o registro e a
propositura da ação. Mas, volto a repetir, a “empresa” é a mesma, as “funções” são as
mesmas, “as atividades” são as mesmas”, o patrimônio não foi desviado, é exatamente o
mesmo, as “garantias” são exatamente as mesmas. Então, qual a “fraude” ?? mais uma
alegação sem substrato fático-jurídico, mera especulação ao sabor das conveniências de
alguns credores.
Poder-se-ia questionar de fraude se a empresa autora, em vias de pedir
recuperação judicial transferisse seu patrimônio ou parte dele, trespassasse seus ativos ou
parte deles, para uma outra empresa com menos de 2 (dois) anos para deixá-los fora da
recuperação ou das responsabilidades.
Posso assinar o meu atestado de superficialidade intelectual, mas não vejo
coexistência de fraude, mas, ao contrário, quase uma conduta desesperadora lançada pela
autora de tentar salvar seu patrimônio e exaurir a última gota de energia na persecução do
soerguimento empresarial, com a menor perda possível, sem descurar de seus compromissos,
quer com credores quirografários, tributários, financeiros, alunos e professores e empregados
de modo geral, ginástica que pode ser alcançada única e exclusivamente pela via da
recuperação judicial.
Adito e considero primordial que o pedido de recuperação judicial tem por
objetivo atender não somente os interesses da sociedade recuperanda, mas principalmente os
interesses dos empregados, dos credores e da sociedade em geral.
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Diante dessa radiografia do processo e da situação retratada nos autos,
vislumbro, modo respeitoso, a possibilidade jurídica e legal de permitir o processamento da
recuperação judicial da autora.
 
4. Objetivo nobre da Recuperação Judicial – art.47 da Lei n.11.101/2005 -
A recuperação judicial, agora em debate apenas o processamento, é que poderá
dar curso e fôlego à autora para enfrentar a crise financeira e, eventualmente, captar novos
investimentos, novos sócios, novos ativos para fazer frente a crise, de modo a manter os
empregos e a atividade como fonte produtora.
É, nesta linha de raciocínio, adequado e oportuno o ensinamento de JOSÉ DA
SILVA PACHECO, para quem o escopo da Lei 11.101, de 2005, foi "atender os anseios e
tendências manifestas na segunda metade do século XX e princípio deste século XXI, no
sentido de salvaguardar a empresa, que tem uma função social e, por isso, deve subsistir às
crises, em benefício dos que nela trabalham, da comunidade em que atua, dos mercados de
fatores de produção e de consumo do local, da Região, do Estado e do País". (A Nova Lei de
Falências e de Recuperação de Empresas - Lei nº 11.101/05 - Forense - 2006 - Coordenador
PAULO PENALVA SANTOS - pág. 5).
Aliás, essa é a dicção do art.47 da Lei Federal n.11.101/2005, que encerra a
nobreza do instituto da Recuperação Judicial, qual seja:
 
“Art.47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social
e o estímulo à atividade econômica. ”
 
É de sabença geral que a falência da empresa não interessa a quase ninguém,
pois, senão todos, praticamente todos, perdem. Perde o empresário, perde a sociedade,
perdem os empregados, perde o fisco, enfim, representa a falência completa da cadeia
produtiva. Os que ganham são poucos, apenas aqueles que compram e assumem os ativos
ainda valiosos da empresa e o fazem por valores normalmente irrisórios, daí advém o lucro e
o ganho fácil, é a chamada rapinagem empresarial. De resto, sem dúvida, todos experimentam
prejuízos, alguns mais outros menos, mas todosficam ao desamparo.
Por isso, tendo sempre presente que o remédio amargo da falência é
indiscutivelmente o pior e mais gravoso, a Lei de Regência estabeleceu que o objetivo
primário, fundamental e principal é a concessão da recuperação, que tem por escopo,
objetivos bem definidos, quais sejam, in verbis:
 
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1. Viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor;
2. Permitir a manutenção da fonte produtora e do emprego dos trabalhadores
e, ainda
3. Manter o interesse dos credores, com
4. A preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica.
 
A preservação da empresa, sua função social e o estímulo à continuidade do
engenho produtivo é o alvo mais nobre do instituto da recuperação judicial.
E o que se vê dos autos, examinando o conjunto probatório, é que várias
espécies de credores desejam e almejam a concessão da recuperação judicial da autora, pois
percebem e entendem a importância social da Instituição de Ensino e a necessidade da
manutenção dos empregos dos empregados e professores.
Nesse iter, com efeito, situação bastante peculiar e de extraordinária importância
deve ser considerada e pode ser extraída a partir da nota do SINPRO/RS (Sindicato dos
Professores do Rio Grande do Sul), publicada no Jornal Correio do Povo, da edição do dia
20/05/2019, trazida à colação do processo, onde clama pela atenção do Poder Judiciário para
o fim de conceder a recuperação judicial à autora, como o mal menor, da antessala da
falência, quando refere, sic:
MILHARES DE ALUNOS, PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS NA
EXPECETATIVA DA SENSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO
A rede ULBRA de Educação, com 9 campi para a educação superior e mais 9
escolas que atendem à educação básica, contando apenas as unidades do Rio
Grande do Sul (Cachoeira do Sul, Cachoeirinha, Canoas Carazinho, Gravataí,
Guaíba, Porto Alegre, Santa Maria São Jerônimo, Sapucaia do Sul e Torres) é
responsável pela contratação de cerca de 1300 professores e 2000 funcionários,
que atendem a milhares de alunos de todos os estratos sociais.
Como já é do conhecimento da opinião publica, a Ulbra, maior instituição
privada do RS, há algum tempo luta para superar uma profunda crise
financeira advinda de um passado de má gestão administrativa. No último dia 6
de maio, a Aelbra, mantenedora da Ulbra, ingressou no Judiciário com um
pedido de Recuperação Judicial, medida que visa a garantir a continuidade do
funcionamento da instituição.
O que parece uma discussão técnico-jurídica vai muito além e tem impacto
social extremamente relevante. Basta refletir sobre os efeitos de uma eventual
descontinuidade dos serviços prestados pela Ulbra e suas escolas no RS na vida
dos cerca de 22 mil alunos atendidos, das mais de 3 mil famílias que estão
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ligadas às instituições, em virtude dos empregos diretos e indiretos. Um enorme
prejuízo para toda as comunidades locais que interagem com essa importante
estrutura educacional de ensino e pesquisa em diversas áreas do conhecimento,
além do expressivo atendimento comunitário que presta, em especial na área da
saúde.
Os sindicatos de professores e funcionários técnicos e administrativos sempre
atuaram para proteger os direitos dos trabalhadores e defender a qualidade do
ensino com a responsabilidade de serem propositivos no sentido de encontrar
meios para manutenção dos empregos e para a sequencia do projeto
educacional Ulbra. Com essas credenciais, os sindicatos manifestam sua
expectativa quanto à sensibilidade do Poder Judiciário para que conceda à
Aelbra/Ulbra, através do deferimento da Recuperação Judicial, a possibilidade
de honrar seus compromissos com credores e solucionar em definitivo seus
problemas administrativos e financeiros.
Em um momento tão conturbado da nossa economia e da educação em nosso
país, podemos juntos sinalizar o quanto esse tema é relevante e estratégico para
o desenvolvimento da nossa sociedade. ”
 
Esse pronunciamento dos Sindicatos dos Professores e dos Funcionários bem
dimensiona o tamanho da importância da ULBRA, como instituição de ensino e saúde, mas,
principalmente, evidencia preocupação gritante com a manutenção da fonte produtiva e
empregadora, dos empregos e renda, exatamente os fins sociais proclamados no art.47 da Lei
Federal n.11.101/2005, sem olvidar, por imprescindível, a existência de milhares de ações
trabalhistas em curso.
Nesse sentido, repito, também são os pronunciamentos dos agentes políticos dos
Municípios de Canoas e Esteio.
Insta obtemperar que o endividamento maior, percebe-se, já transcrevi alhures, é
decorrente de imposição fiscal e tributária, a qual, mais uma vez ressalto, é resultante de uma
antiga administração problemática, irresponsável e que já foi condenada judicialmente,
inclusive, por crime de lavagem de dinheiro. Todavia, essa mesma administração, sem
embargo da condenação criminal e cível, deixou um rastro de débitos que compromete a
saúde financeira da autora até os dias de hoje, pois comprova-se que o débito fiscal é o mais
volumoso, perpassando o valor de R$5 bilhões de reais. Nesse mesmo diapasão se pode
classificar as demais dívidas. Por exemplo, as dívidas trabalhistas, já transitadas em julgado,
datam de mais de dez anos passados, na mesma toada as dívidas financeiras. Portanto, os
débitos pendentes são débitos antigos, haja vista que os débitos correntes e recentes estão
bem administrados e saldados, justamente por isso há referência de plena operacionalidade da
autora.
Adoto a conclusão da apelante que, em razões de recurso, afirmou que a mesma
apresenta problemas econômicos e financeiros, mas não operacional, quando diz, expressis
verbis:
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“E quando se faz referência à perda parcial de sua viabilidade (repita-se,
parcial), é importante que sejam feitas, em tempo, resslavas: a AELBRA
enfrenta esta situação há longos anos sem nunca ter perdido sua capacidade de
geração de resultado operacional e, também, sem que tenha sido afetada sua
excelência acadêmica (é bom que se faça referência a isto, prestando as devidas
homenagens aos funcionários que a sustentam e que dão azo às as mais
relevantes e bem conceituadas avaliações pelos órgãos de regulação e controle
da atividade – tais como, e.g. MEC e Capes).
E há geração de resultado. Insuficiente, no entanto, para solucionar, no curto
prazo, o seu passivo, sem um plano de recuperação judicial que lhe dê
tratamento adequado. A bem da verdade, este é um dos objetivos de uma
recuperação judicial – i.e. dar tratamento ao passivo em prazo adequado.
Há também um estoque de ativos suficientes e de inegável valor que servirá na
busca da solução (em alguma extensão). São estimados alguns bilhões de reais
em ativos imobiliários que irão contribuir, entre outros meios, com a solução –
e isso será decidido pelos maiores interessados: os credores.
...Se está diante, sim, de um negócio viável operacionalmente e de ativos
valiosos...
...ocorre que, a despeito de as expropriações incidirem sobre bens materiais, os
mais valiosos ativos da AELBRA são absolutamente imateriais. São seus alunos
e sua capacidade operacional. Ou seja, é a atividade. E é através da atividade
que haverá de pagar os seus credores...”
 
Pelo que se observa da documentação acostada é que a autora possui capacidade
de geração de caixa suficiente para manter suas operações, sem qualquer sacrifício à
qualidade acadêmica, mas são os débitos passados é que estão fora do controle da empresa.
Ademais consta do Relatório Social da Instituição (exercício 2018), o
fornecimento de bolsas para funcionários portadores de necessidades especiais (29
funcionários com bolsas integrais), 91 alunos portadores de deficiências: surdez (13alunos),
deficiências físico-motoras (25), cegueira (9), autismo (3). Adito, ainda, que a autora marca
presença em 9 (nove) municípios do Rio Grande do Sul (Cachoeira do Sul, Canoas,
Carazinho, Gravataí, Guaíba, Porto Alegre, São Jerônimo, Santa Maria e Torres. Afora isso,
consta a concessão de 14.458 bolsas de estudo pelos programas PROIES e PROUNI. Em
acréscimo, ainda, mister considerar que a AELBRA em seu programa de residência
hospitalar, é responsável pelo atendimento de, aproximadamente, 30% de todas as ocorrências
hospitalares do município de Canoas.
A orientação jurisprudencial é torrencial em prestigiar a finalidade nobre do
instituto da Recuperação Judicial, que é a mantença da função social, da fonte produtora e do
emprego, nos exatos termos do art.47 da Lei n.11.101/2005.
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No egrégio TJRS, esta colenda Câmara tem assente esse posicionamento, ipsis
verbis:
 
Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Insurgência contra a decisão que
homologou o Plano de Recuperação Judicial, aprovado pela maioria dos
credores presentes na Assembléia Geral, consoante do artigo 58 da Lei nº
11.101/2005. Dispõe o artigo 47 da Lei nº 11.101/05:
“a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica”. Deságio, prazo de pagamento e taxa de juros mantidos
em razão de que a preservação da empresa deve prevalecer sobre o interesse
individual de cada um dos credores. Por outro lado, são consideradas invalidas
as disposições do plano de recuperação que dispõem acerca da alienação do
patrimônio sem controle e a extensão dos efeitos da recuperação aos
coobrigados Agravo de instrumento parcialmente provido.(Agravo de
Instrumento, Nº 70079416459, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em: 14-03-2019)
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA. CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE. IMPOSSIBILIDADE.
BENS ESSENCIAIS À ATIVIDADE EMPRESARIAL. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. ARTIGO 47, LEI Nº.
11.101/2005. Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão
que deferiu o pedido liminar formulado pelo ora agravado e determinou a
suspensão de eventual procedimento de consolidação da propriedade
decorrente de alienação fiduciária, referente aos imóveis de matrículas nºs.
24.501, 24.498, 24.499 e 60.314. O artigo 47, da Lei nº. 11.101/2005 estabelece
que a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação
de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica. No caso em comento, a recorrente sustentou que a
decisão agravada não merece ser mantida, uma vez atingiu a disponibilidade de
bens que não se sujeitam à recuperação judicial, bem como afrontou o disposto
no artigo 49, § 3º, da LRF, tendo em vista que impôs a impossibilidade de
consolidação da propriedade, pelo que, pugnou pela reforma da referida
decisão. O agravado se encontra em recuperação judicial, razão pela qual, em
que pese os imóveis em questão, referentes às matrículas nºs. 24.501, 24.498,
24.499 e 60.314, serem garantia da alienação fiduciária, são essenciais para a
preservação da atividade empresária, tendo em vista que se referem à sede da
Empresa, bem como a terrenos situados no entorno, motivo pelo qual resta
inequívoco que os referidos bens devem ser mantidos na posse do recorrido.
Dessa forma, imperiosa a manutenção da decisão agravada, uma vez que o Juiz
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singular agiu com irretocável acerto ao determinar a suspensão de eventual
procedimento de consolidação da propriedade decorrente de alienação
fiduciária. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de
Instrumento, Nº 70075652065, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em: 14-12-2017).
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONCESSÃO.
HOMOLOGAÇÃO DO PLANO RECUPERACIONAL. PRINCÍPIO DA
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. APLICAÇÃO DO ART. 47, LEI Nº
11.101/05. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO PARS CONDITIO CREDITORUM EM
FACE DA CRIAÇÃO DA SUBCLASSE "CREDOR PARCEIRO".
ILEGALIDADE NA PROPOSTA DE CARÊNCIA DE 18 MESES, DESÁGIO DE
30% E PRAZO DE PAGAMENTO EM 144 PARCELAS. INOCORRÊNCIA. 1
Conforme artigo 47 da Lei nº 11.101/05, a recuperação judicial tem por
objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica, isto é, a recuperação judicial busca não apenas satisfazer os
credores, mas, também, manter a sociedade empresária em atividade, sendo o
princípio da preservação da empresa norteador na aplicação do instituto. 2
Tal dispositivo gera complexa tarefa ao Judiciário, o qual, diante de tantos
objetivos, junto ao procedimento inerente, submetido ao crivo dos credores,
deve harmonizá-los com intuito de manter a função social, o estímulo à
atividade econômica e a preservação da empresa. 3 A partir dessa
convergência de objetivos, quando a questão chega à Justiça desenvolve-se
a função técnica do julgador, adstrita ao controle de legalidade e viabilidade
técnica do plano recuperacional, matéria que apresenta algumas divergências
entre os doutrinadores, deve apreciar, além das questões processuais atinentes a
qualquer demanda, a adequação do plano, a deliberação dos credores e a
ponderação judicial fundamentada. 4 Levando em consideração o exposto, bem
como as questões suscitadas pela parte agravante, após análise do plano
recuperacional, convenci-me pela manutenção da homologação. 5 A orientação
mais moderna sobre o tema autoriza a criação de subclasses dentro de
determinada classe de credores quando observada a homogeneidade,
justamente pelo fato de um grupo ter interesses diversos de outro grupo no
desenvolver da recuperação judicial. 6 A carência fixada, bem como o índice de
deságio e período de satisfação das dívidas são usualmente utilizados em
planos de recuperação judicial de outras empresas. 7 Além disso, as condições
foram aprovadas em Assembleia Geral de Credores, de maneira que a
ingerência do Poder Judiciário nas condições previstas excede o controle de
legalidade previsto na legislação sobre o tema. À UNANIMIDADE, NEGARAM
PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.(Agravo de Instrumento, Nº
70073546582, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís
Augusto Coelho Braga, Julgado em: 24-08-2017)
 
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No egrégio STJ, por seu turno, não há discrepância de entendimento, ad
litteram:
 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE
AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - DECISÃO MONOCRÁTICA
QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DO
AGRAVANTE.
1. Na hipótese, a Corte Estadual, após análise do contexto fático-probatório
dos autos, concluiu que, para a decretação da falência, seria imprescindível a
constatação de que a crise econômica instalada fosse insuperável, o que não
ocorre na hipótese, pois, como ressaltou, "as circunstâncias dos autos são
favoráveis" à recuperanda, e "essa solução atende mais adequadamente ao
princípio da preservação da empresa" (art. 47 da Lei 11.101/05).
1.1. A ausência de impugnação a fundamento do acórdão recorrido atrai o
óbice da Súmula 283/STF,aplicável por analogia.
2. Para rever tais conclusões, seria imprescindível a incursão na seara
probatória dos autos, o que não é permitido nesta instância especial, nos
termos da Súmula 7 do STJ.
3. De acordo com orientação do Superior Tribunal de Justiça, "o art.47 da
Lei de Falências serve como um norte a guiar a operacionalidade da
recuperação judicial, sempre com vistas ao desígnio do instituto, que é
viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor,
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica" (REsp 1207117/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe 25/11/2015).
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1433265/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 26/08/2019, DJe 30/08/2019)
 
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PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECURSO MANEJADO
SOB A ÉGIDE DO CPC/73. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO
TRABALHISTA. EMPRESA SUBSIDIÁRIA. ART. 535 DO CPC/73. OMISSÃO
CONFIGURADA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS. EFEITOS
INFRINGENTES. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO
SOERGUIMENTO.
...
3. A recuperação judicial visa criar condições de negociação para a
superação da crise econômica da empresa, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica (art.
47 da Lei nº 11.101/2005).
4. O art. 50, II, da Lei nº 11.101/2005 possibilitou a criação de empresa
subsidiária integral como um meio de viabilização do restabelecimento da
atividade econômica da sociedade controladora, visando reverter a situação de
crise econômica e financeira da recuperanda.
5. Hipótese em que a criação da subsidiária integral foi autorizada pelo Juízo
do soerguimento com a finalidade de auxiliar na reabilitação da empresa em
crise econômico-financeira, com a observação de que a subsidiária não
responderia pelo passivo da recuperanda.
6. Embargos de declaração acolhidos, com efeito infringente, para conhecer do
conflito e declarar a competência do juízo da recuperação judicial.
(EDcl no AgRg no CC 138.936/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 19/02/2019, DJe 21/02/2019)
 
 
ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
PARTICIPAÇÃO. POSSIBILIDADE. CERTIDÃO DE FALÊNCIA OU
CONCORDATA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. DESCABIMENTO.
APTIDÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA. COMPROVAÇÃO. OUTROS MEIOS.
NECESSIDADE.
...
4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a automática inabilitação de
empresas submetidas à Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não apresentação
de certidão negativa de recuperação judicial, principalmente considerando o
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disposto no art. 52, I, daquele normativo, que prevê a possibilidade de
contratação com o poder público, o que, em regra geral, pressupõe a
participação prévia em licitação.
5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos termos do art. 47, é
viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor,
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica.
6. A interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n.8.666/1993 e n.
11.101/2005 leva à conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada
dos princípios nelas contidos, pois a preservação da empresa, de sua função
social e do estímulo à atividade econômica atendem também, em última
análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se busca a manutenção da
fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.
...
8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial.
(AREsp 309.867/ES, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 26/06/2018, DJe 08/08/2018)
 
Nesse ponto sensível, que diz com o princípio da preservação da empresa,
expresso no art. 47 da Lei de Recuperações Judiciais e Falências, tem como objetivo a
proteção da atividade da empresa, do empreendimento, e não do empresário, como ensina o
festejado jurista FÁBIO ULHOA COELHO, quando professoralmente ensina, sic:
 
"Quando se assenta, juridicamente, o princípio da preservação da empresa, o
que se tem em vista é a proteção da atividade econômica, como objeto de
direito cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao
empresário, ou aos sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem
maior de sujeitos. Na locução identificadora do princípio, "empresa" é conceito
de sentido técnico bem específico e preciso. Não se confunde nem com o seu
titular (empresário), nem com o lugar em que é explorada ("estabelecimento
empresarial"). O que se busca preservar, na aplicação do princípio da
preservação da empresa, é, portanto, a atividade, o empreendimento." (in
Princípios do Direito Comercial: com anotações ao projeto de código
comercial. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 40)
 
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Extraio, por imprescindível e bastante atual, excerto do voto da eminente MIN.
NANCY ANDRIGHI, no REsp. n.1.193.115/MT, quando referiu e destacou expressamente o
ponto nuclear que deve ser ponderado em matéria de recuperação judicial, qual seja, in
verbis:
 
“ Por derradeiro, é imprescindível reconhecer que o foco do aplicador do
Direito, no que se refere à questão discutida, deve estar voltado ao atendimento
precípuo das finalidades a que se destina a Lei 11.101/05. Os princípios que
orientaram a elaboração e que devem direcionar a interpretação e a aplicação
dessa lei objetivam garantir, antes de tudo, o atendimento dos escopos maiores
do instituto da recuperação de empresas, tais como a manutenção do ente no
sistema de produção e circulação de bens e serviços, o resguardo do direito dos
credores e a preservação das relações de trabalho envolvidas, direta ou
indiretamente na atividade. É o que se dessume do texto expresso da norma
constante no art. 47 da LFRE. Sobre a matéria, aliás, valiosa a lição de Manoel
Justino Bezerra Filho:
“A Lei estabelece uma ordem de prioridade nas finalidades que diz perseguir,
colocando como primeiro objetivo 'a manutenção da fonte produtora', ou seja, a
manutenção da atividade empresarial em sua plenitude tanto quanto possível,
com o que haverá possibilidade de manter o 'emprego dos trabalhadores'.
Mantida a atividade empresarial e o trabalho dos empregados, será possível
então satisfazer o 'interesse dos credores'. Esta é a ordem de prioridades que a
Lei estabeleceu. (Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada, 3ª ed.,
Editora RT, pp. 130/131).”
Em suma, para as finalidades da LFRE, o primordial é que o empresário ou a
sociedade empresária economicamente viáveis sejam mantidos em atividade,
uma vez sopesados, obviamente, os benefícios, riscos e prejuízos a serem
suportados por ela, por seus credores e pelos empregados. De fato, não se pode
perder de vista os propósitos salutares que animaram o legislador e que fizeram
da Lei 11.101/05 uma efetiva ferramenta em prol do soerguimento das entidades
empresárias em crise econômico-financeira, atentando-se à preservação dos
postos de trabalho e à continuidade da geração de riquezas.
 
Transborda dos autos, segundo avalanche de documentos, a função social
relevante da autora e o grave prejuízo social se mantida a negativa do auxílio legal e judicial
da recuperação, o que poderá acarretar em breve prazo, inclusive, o risco da decretação da
falência.Não posso desconsiderar que no Complexo ULBRA funciona o HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO e o HOSPITAL VETERINÁRIO. O Hospital Universitário, está
localizado na entrada do campus da Ulbra. Atualmente, o Hospital Universitário pertence à
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Prefeitura de Canoas e é administrado pelo Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde
Pública (GAMP). As suas amplas instalações estão equipadas com modernas tecnologias para
a saúde, permitem aos alunos da Ulbra acompanhar o atendimento integrado de pacientes,
tanto no setor ambulatorial quanto em internação. Nele, além de profissionais de mercado,
estudantes e professores dos cursos de Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Odontologia,
Fonoaudiologia e Medicina colocam em prática o conhecimento e atendem à população
canoense. O Hospital Universitário também está credenciado em programas de residência,
aprovados pelo MEC, nas áreas de Cirurgia Geral, Clínica Médica, Obstetrícia e Ginecologia,
Medicina Familiar, Otorrinolaringologia, Patologia e Pediatria.
Portanto, o Hospital é o laboratório de estudo dos universitários da autora.
Ademais disso, ainda há o Hospital Veterinário, pois os animais merecem
carinho e dedicação, principalmente no que diz respeito à saúde. No Hospital Veterinário da
Ulbra, alunos e professores de graduação e da Residência Médica Veterinária participam das
aulas práticas e realizam projetos de pesquisa e extensão. 
Além de atuar como clínica-escola, o Hospital Veterinária está de portas abertas,
disponibilizando atendimento clínico e cirúrgico, internação, odontologia, oncologia,
fisioterapia e acupuntura em animais de pequeno, médio e grande porte. No local, funcionam
os laboratórios de análises clínicas, microbiológicas, parasitológicas, biotecnológicas,
histopatológicas e o único centro de diagnóstico por imagens em clínica veterinária no Rio
Grande do Sul, contando com um aparelho de tomografia. Projetos de extensão universitária
estão incluídos nos programas de aprimoramento acadêmico onde se encontram: Projeto
Castração de Pequenos Animais, Projeto Odonto e Projeto Equinos, sendo oferecidos à
comunidade com valores diferenciados. 
Afora esses dois tópicos - Hospital Universitário e Hospital Veterinário, é
importante pesquisar no site da ULBRA para perceber a grandeza do complexo e dos serviços
prestados. Por exemplo na aba INFRAESTRUTURA E SERVIÇOS prestados aparece, dentre
outros: apart-hotel, biblioteca, biblioteca virtual, complexo esportivo, editora ulbra,
hemeroteca, laboratórios, museu, rádio, tv, capela e muitos outros serviços, cada qual com
suas peculiaridades e envolvimento de pessoas e comunidade.
A guisa de colaboração, uma vez que a documentação acostada é volumosa,
destaco que na parte do ensino, o quadro de lotação, dos 4.000 empregados e professores,
está espalhado da seguinte maneira:
 
- AELBRA
- Campus Gravataí/RS
- Campus Cachoeira do Sul/RS
- Campus Santa Maria/RS
- Campus Carazinho/RS
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- Campus Porto Alegre/RS
- EAD
 
ENSINO SUPERIOR – SUL
- Campus Canoas
- Veterinário Canoas
- Campus Torres
- Campus Guaíba
- Campus São Jerônimo
 
ENSINO SUPERIOR – NORTE
- Centro Universitário Santarem – PA
- Centro Universitário Manaus – AM
- Centro Universitário Palmas – TO
 
ENSINO SUPERIOR – CENTRO-OESTE
- Instituto Itumbiara
- Campo Exp. Itumbiára
 
EDUCAÇÃO BÁSICA – SUL
- Escola Paz – RS
- Escola São Marcos - RS
- Colégio Cristo Redentor - RS
- Colégio São João - RS
- Colégio São Lucas - RS
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- Colégio São Mateus - RS
- Escola Especial Concordia - RS
- Colégio Martinho Lutero - RS
- Colégio São Pedro – RS
 
EDUCAÇÃO BÁSICA – CENTRO-OESTE
- Colégio Antares – GO
- Colégio Aplicação – GO
 
EDUCAÇÃO BÁSICA – NORTE
- Colégio São Paulo – RO
- Colégio Cristo Salvador – PA
- Colégio Palmas – TO
- Colégio Concordia de Manaus – AM
 
Percebe-se, assim, de modo mais claro, a extensão dos efeitos da decisão a ser
lançada e, para situações excepcionais e peculiares, como é o caso retratado, há a necessidade
de um olhar também especial.
 
4.1. Relatório Social da Instituição – exercício 2018 -
A leitura do relatório social da empresa – exercício de 2018, a análise de sua
atuação de mercado e a avaliação de sua importância no Estado e região, infirma
categoricamente a conclusão de que não se pode abrir mão de tentar salvar o empreendimento
societário da autora diante da magnitude e o tamanho da importância que a mesma representa
para a economia local, estadual e, quiçá nacional.
Destaquei esse tópico a fim de estruturar o pensamento no sentido de evidenciar
a importância social da autora. Contudo, confesso e admito minha incapacidade de fazê-lo em
breves linhas, por isso, sem embargo, remeto meus eminentes colegas à leitura do
RELATÓRIO SOCIAL/2018, encartado na documentação acostada à exordial, onde estão
condensadas as linhas mestras da atuação e a penetração da Instituição não só no Rio Grande
do Sul, mas, sobretudo, no País. Essa dimensão de conjunto e do todo é imprescindível para
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uma tomada de decisão e, justamente daí, desse cotejo, é que enxergo como atomística e
puramente formalista a exigência dos dois anos de exercício societário preconizada no art.48,
caput, da Lei Federal n.11.101/2005, quando, na verdade, a história de vida da instituição se
confunde com a própria história do ensino e educação no Rio Grande. É claro que esse
requisito temporal pode ser afastado e encaminhar, via processamento da recuperação
judicial, a salvação dessa Instituição de Ensino. Pode ser a última tentativa, antes da falência
total, mas é imprescindível que agimos com menos rigor na exegese formal, dando vida e
utilidade prática e preponderância aos fins elencados no art.47 da LRJ.
Com efeito, este é o caso clássico de aplicação do art.47 da Lei Federal
n.11.101/2005, pois a função social e o estímulo à atividade econômica transbordam das
provas dos autos. O caso presente é a hipótese legal clássica e típica da necessidade da
concessão da recuperação judicial diante da gigantesca função social, mas, sobretudo, para
permitir a manutenção da fonte produtora, para manter os empregos diretos e indiretos e para
permitir e viabilizar a superação da crise financeira com a adimplência dos credores, pois a
crise é essencialmente econômica e não mais operacional.
Nos termos do art. 52 da Lei 11.101/05, o juiz deferirá o processamento da
recuperação judicial quando julgar em termos a documentação reclamada no art. 51 do
mesmo diploma legal. Dentro do extenso rol constante do referido dispositivo está a
exigência de apresentação da certidão de regularidade do devedor no Registro Público de
Empresas, do ato constitutivo atualizado e das atas de nomeação dos atuais administradores.
Dessa forma, é na fase postulatória que se examina a empresa qualificação jurídica necessária
para requisição do benefício, conforme ensina FÁBIO ULHOA COELHO, de novo, com
precisão de cirurgião, (Comentários à Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas,
5ª ed - São Paulo: Saraiva, 2008, p. 153 e 154), in verbis:
"Estando em termos a documentação exigida para a instrução da petição
inicial, o juiz proferirá o despacho mandando processar a recuperação judicial.
Note-se que esse despacho, cujos efeitos são mais amplos que os da
distribuição do pedido, não se confunde com a ordem de autuação ou outros
despachos de mero expediente. Normalmente, quando a instrução não está
completa e a requerente solicita prazo para emendá-la, a petição inicial recebe
despacho com ordem de autuação e deferimento do pedido. Estes atos judiciais
não

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