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5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26 Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906 APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000461-37.2019.8.21.0008/RS TIPO DE AÇÃO: Administração judicial RELATOR:Gab. Des. Niwton Carpes da Silva APELANTE: ASSOCIACAO EDUCACIONAL LUTERANA DO BRASIL - AELBRA (AUTOR) APELADO: OS MESMOS EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXERCÍCIO REGULAR DE ATIVIDADES COMERCIAIS HÁ MAIS DE DOIS ANOS. PRESSUPOSTO PROCESSUAL DE LEGALIDADE ESTRITA. REALIDADE MATERIAL QUE INFIRMA A PRESENÇA SUPERIOR DO BIENIO EXIGIDO EM LEI. PREPONDERÂNCIA DOS PRINCÍPIOS ASSECURATÓRIOS DE SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE CRISE. MANUTENÇÃODA FONTE PRODUTORA, DO EMPREGO E DOS INTERESSES DOS CREDORES. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. TRATA-SE DE PEDIDO DE PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E POS-GRADUAÇÃO S.A., MANTENEDORA DA ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, JULGADA EXTINTA NA ORIGEM, EM FACE DO NÃO PREENCHIMENTO DO PRESSUPOSTO LEGAL E PROCESSUAL DO EXERCÍCIO DE PELO MENOS DOIS (2) ANOS DO EXERCÍCIO DO COMÉRCIO. 2. A REALIDADE DA VIDA NÃO PODE SER SUBTRAÍDA NA CONSIDERAÇÃO DO ATO DE JULGAMENTO, MORMENTE QUANDO REVELADA NOS AUTOS DO PROCESSO. A AUTORA É A MANTENEDORA DA UNIVERSIDADE ULBRA, COM SEDE NA COMARCA DE CANOAS/RS, CONCEITUADA COMO A MAIOR INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO ESTADO, MAS, POR SUA GRANDEZA, POSSUI UNIDADES DE ENSINO POR TODO O PAÍS. FOI FUNDADA COMO UNIVERSIDADE EM 1988, MAS JÁ EXISTIA, COMO INSTITUIÇÃO DE ENSINO, DESDE 1972. POSSUI RAMIFICAÇÕES EM VÁRIAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO, TAIS COMO: RIO GRANDE DO SUL, RORAIMA, PARÁ, AMAZONAS, GOIÁS E TOCANTINS. ALÉM DISSO, CONTA COM MAIS DE 60.000 ALUNOS E UNIVERSITÁRIOS EM SUAS DIVERSAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO, SENDO 45.000 SOMENTE NO RIO GRANDE DO SUL E MANTÉM MAIS DE 4.000 EMPREGOS DIRETOS ENTRE FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES NO ESTADO. CONTABILIZA O ENVOLVIMENTO DE MAIS DE 100.000 PESSOAS EM EMPREGOS PERIFÉRICOS E INDIRETOS, QUE DEPENDEM DIRETAMENTE DA ATIVIDADE DA INSTITUIÇÃO. HÁ ESTIMATIVA DE QUE MAIS DE 1.000.000 (UM MILHÃO) DE PESSOAS SEJAM BENEFICIADAS Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26 PELO CONJUNTO DE SERVIÇOS PRESTADOS DIRETAMENTE PELA AUTORA NOS SERVIÇOS MÉDICOS, ODONTOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS, VETERINÁRIOS, JURÍDICOS E SOCIAIS QUE PRESTA À POPULAÇÃO, EM ESPECIAL A MAIS CARENTE. ALÉM DISSO, SEM EMBARGO, NÃO POSSO DESCONSIDERAR A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS UNIVERSITÁRIOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E TAMBÉM OS SERVIÇOS PRESTADOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO, EM ESPECIAL À POPULAÇÃO CARENTE DE RECURSOS. 3. OS DOCUMENTOS COMPROVAM, AINDA, QUE HOUVE A TRANSFORMAÇÃO SOCIETÁRIA DA AUTORA, QUANDO PASSOU DE ASSOCIAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS PARA SOCIEDADE COMERCIAL (SOCIEDADE ANÔNIMA DE CAPITAL FECHADO), EM OUT/2018, REGISTRADA NA JUNTA COMERCIAL EM ABR/2019. TODAVIA, NÃO É MENOS VERDADE, EIS A QUESTÃO, QUE A UNIVERSIDADE EXISTE COMO ASSOCIAÇÃO CIVIL DE CUNHO EDUCACIONAL HÁ QUASE MEIO SÉCULO ANTES DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO E, MAIS, SEMPRE EXERCEU A MESMA ATIVIDADE DE ENSINO E PESQUISA, ALÉM DE MANTER ATIVO O HOSPITAL DE CANOAS. EM OUT/2018, ATRAVÉS DE AGE HOUVE APENAS UMA MODIFICAÇÃO ESTATUTÁRIA, NADA ALÉM DISSO. LOGO, EM QUE PESE A MODIFICAÇÃO ESTATUTÁRIA, NÃO POSSO OLVIDAR QUE A NATUREZA DAS ATIVIDADES DA AUTORA SEMPRE, DURANTE TODA SUA EXISTÊNCIA, FOI VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO E O ENSINO PRIVADO SITUAÇÃO QUE NÃO SE MODIFICOU APÓS A ALTERAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL. LOGO, NÃO ME PARECE CORRETO CONSIDERAR O LAPSO TEMPORAL PARA EFEITO DE PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL APENAS O PERÍODO APÓS A MODIFICAÇÃO ESTATUTÁRIA E REGISTRO, QUANDO A REALIDADE DE FATO SEMPRE FOI A MESMA. ASSIM, ENTENDO COMO PREENCHIDO O PRESSUPOSTO TEMPORAL DO ART.48, “CAPUT” DA LEI FEDERAL N.11.101/2005 PARA O FIM DE DETERMINAR O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AUTORA. 4. AFORA ISSO, A SITUAÇÃO É ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL E, NESSA CONDIÇÃO, DE EXCEPCIONALIDADE, É QUE DEVE SER EXAMINADA E JULGADA A DEMANDA. A CRISE FINANCEIRA E O SALDAMENTO DO PASSIVO, MANTENDO O PATRIMÔNIO E A REORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL PASSAM INEXORAVELMENTE PELA VIABILIZAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AUTORA, SOB PENA DE EMPURRAR A INSTITUIÇÃO, QUE POSSUI PATRIMÔNIO ATIVO SUPERIOR AO PASSIVO, AO DRAMA SOCIAL DO PROCESSO DE FALÊNCIA, GERANDO CAOS SOCIAL E DILAPIDAÇÃO DO ACERVO COM A LIQUIDAÇÃO EXTREMAMENTE GRAVOSA, JOGANDO MILHARES DE FAMÍLIAS AO DESEMPREGO E PREJUDICANDO AINDA MAIS SEUS Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22514 .V26 CREDORES COBRINDO DE INSEGURANÇA UMA RELAÇÃO QUE PODE SOERGUER E VOLTAR A PROSPERAR. DE ACORDO COM ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, "O ART.47 DA LEI DE FALÊNCIAS SERVE COMO UM NORTE A GUIAR A OPERACIONALIDADE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL, SEMPRE COM VISTAS AO DESÍGNIO DO INSTITUTO, QUE É VIABILIZAR A SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE CRISE ECONÔMICO- FINANCEIRA DO DEVEDOR, A FIM DE PERMITIR A MANUTENÇÃO DA FONTE PRODUTORA, DO EMPREGO DOS TRABALHADORES E DOS INTERESSES DOS CREDORES, PROMOVENDO, ASSIM, A PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, SUA FUNÇÃO SOCIAL E O ESTÍMULO À ATIVIDADE ECONÔMICA" (RESP 1207117/MG, REL. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, JULGADO EM 10/11/2015, DJE 25/11/2015). 5. SENTENÇA MODIFICADA E DETERMINADO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA AUTORA, NOS TERMOS E FORMALIDADES LEGAIS EX VI DA LEI FEDERAL N.11.101/2005. 6. APELAÇÃO PROVIDA ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul decidiu, por maioria, vencidos a Desembargadora ELIZIANA DA SILVEIRA PEREZ e o Desembargador JORGE LUIZ LOPES DO CANTO, DAR PROVIMENTO AO APELO, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Porto Alegre, 13 de dezembro de 2019. Documento assinado eletronicamente por NIWTON CARPES DA SILVA, em 13/12/2019, às 17:48:58, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 22514v26 e o código CRC 84e47643. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): NIWTON CARPES DA SILVA Data e Hora: 13/12/2019, às 17:48:58 Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906 APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000461-37.2019.8.21.0008/RS TIPO DE AÇÃO: Administração judicial RELATOR:Gab. Des. Niwton Carpes da Silva APELANTE: ASSOCIACAO EDUCACIONAL LUTERANA DO BRASIL - AELBRA (AUTOR) APELADO: OS MESMOS RELATÓRIO AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E PÓS- GRADUAÇÃO S.A. aforou pedido de processamento de sua recuperação judicial perante o ilustre juízo da Comarca de Canoas mas o processo foi julgado extinto, de modo prematuro, sob a alegação de ausência de pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, forte no art. 485, inc. do CPC/15, pois não tem dois anos de exercício de comercio. Alega a requerente que passa por grave crise financeira e ser a recuperação judicial o meio mais propício para alcançar sua reorganização e saldar o seu passivo. Alega possuir um passivo de R$2.428.684.827,40(...) sujeito à recuperação judicial. A Fazenda Nacional, por seu turno, insurgiu-se ao pedido de recuperação judicial e alega que é credora da requerente por débito tributário superior a R$5.148.585.828,74(...), além de a mesma não ser sociedade empresária e por conta disso não pode se valer do benefício da Lei da Recuperação Judicial. Sustenta ainda que a transformação em Sociedade Anônima de capital fechado somente ocorreu em OUT/2018, levada a registro em ABR/2019 e que a pretensão significa uma burla à Lei n.11.101/2005. Outro credor, o EXPORT IMPORT BANK OF THE UNITED STATESratificou a impugnação do Fisco Nacional e concluiu pelo indeferimento do pedido de recuperação judicial da autora. Após isso, adveio a decisão judicial de extinção do processo em face da ausência do pressuposto processual, a pretexto de não se tratar de sociedade empresária há mais de dois anos, sem adentrar na consideração, levantada pela Fazenda Nacional, de que teria havido ilicitude na transformação da associação em sociedade anônima, forte no art.13 do estatuto social. A autora apresentou recurso de apelação, através do qual repete os argumentos da exordial e pede o processamento da recuperação. O Ministério Público oferta parecer pelo improvimento recursal. Após, os autos vieram-me conclusos. VOTO Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Eminentes colegas. Trata-se, consoante positivado no sumário relatório, de pedido de recuperação judicial julgado extinto na origem em face de que a sociedade empresária não está constituída há mais de dois anos, conforme exige o art.48, caput da Lei de Regência. Presentes os pressupostos de recorribilidade. O recurso de apelação se deve à situação jurídica da extinção da ação, ao contrário do disposto no art.17 da LRJ, quando, então, caberia a interposição do recurso de agravo. A situação retratada nos autos é excepcionalíssima e, por isso requer e exige um olhar especial dotado de conhecimento técnico, capacidade de abstração para perceber as nefastas consequências do pedido, em especial se denegado, haja vista a repercussão social, o desemprego em massa e, por arrasto, o fechamento de várias fontes de trabalho, pois a ULBRA, em radiografia superficial, congrega os seguintes dados, dentre outros: 1. 60.000 Alunos no Brasil, 2. 45.000 Alunos no RS 3. 4.000 Funcionários/professores 4. 100.000 Empregos Periféricos 5. 1.000.000 de Pessoas Beneficiadas Pelos Serviços Sociais Desenvolvidos Com a Extensão Acadêmica (Serviços Médicos, Odontológicos, Psicológicos, Veterinários, Atendimentos Sociais e Jurídicos) Essa é a dimensão viva do processo que ora se analisa com suas nefastas consequências, especialmente em caso de manutenção da negativa do pedido de recuperação. Aliado a isso, mister assentar, que da listagem dos credores da autora, apenas dois não concordam com o deferimento da recuperação, em manifestação explícita. Os demais, ou silenciam (no sentido de que é melhor a recuperação do que a falência total, com o fechamento das atividades), ou são expressamente concordes. Os contrários, não tenho a menor dúvida, o primeiro deles é o Fisco, que sequer seu crédito é prejudicado com eventual deferimento da recuperação, o que evidencia sua atividade voraz e confiscatória que abafa a atividade produtiva. De resto, até mesmo os credores são favoráveis ao favor legal da recuperação judicial. Também endossam o coro e a torcida pela recuperação judicial e salvação da empresa autora estão as manifestações dos Sindicatos de Professores e Funcionários da Instituição de Ensino, ora em situação periclitante. No mesmo sentido são as manifestações dos Sindicatos que representam a legião de alunos e universitários que torcem e estão preocupados com a situação financeiro-econômica da autora e eventual falência com rompimento dos contratos de ensino. Ainda congregam apoio e ratificam o pedido as forças ativas, sociais e políticas das sociedades por onde corre o caudal da autora, basta ver as manifestações dos agentes políticos juntados aos autos, em especial as originárias dos Municípios de Canoas e Esteio, como também o pronunciamento do augusto magistrado Dr. Telmo dos Santos Abech, juiz decano da Comarca de Canoas. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 A fim de melhor compreender a presente decisão e voto, esquadrinho o voto separando por tópicos, como segue: 1.Considerações Gerais sobre a ULBRA e seus débitos - Antes de adentrar ao tema específico da análise do processo e da situação financeira da autora, me parece transcendental que ofereça aos colegas de bancada uma visão panorâmica sobre a Instituição ULBRA, nos seus mais ricos e variados compromissos sociais e alcance institucional, os quais, no conjunto, agora estão a pedir o socorro judiciário, pois a empresa travessa profunda crise financeira e de gestão. Ao menos no Rio Grande do Sul, tenho quase certeza, não há nenhum gaúcho que não conheça a ULBRA – Universidade Luterana do Brasil, instituição de ensino superior, de caráter privado, sediada na cidade de Canoas, fundada em 1988, mas que começou a funcionar através da CELSP (Comunidade Evangélica Luterana São Paulo) em 16/AGO/1972, com a implantação de seus primeiros cursos na antiga Faculdade Canoense de Ciências Administrativas, em Canoas, de caráter filantrópico-confessional e que possui atualmente mais de 60.000 alunos em todo o Brasil e com ramificações em vários Estados da Federação (Rio Grande do Sul, Rondônia, Pará, Amazonas, Goiás e Tocantins). Aqui no Rio Grande do Sul, através de pesquisa no site www.ulbra.com.br pude perceber que existem nove (9) campi universitários e mais de 70 polos de educação a distância (EAD), distribuídos nas diversas regiões brasileiras. Possui cursos de graduação, pós-graduação e extensão, nas modalidades presencial e à distância. A Universidade, segundo o seu site, é também reconhecida por seus programas comunitários inclusivos, que destacam o meio ambiente, a sustentabilidade e a participação da comunidade. Mantém uma rede de cooperação permanente com entidades, instituições e empresas voltadas para o apoio ao desenvolvimento científico, tecnológico e social. A Universidade ainda incentiva e promove atividades culturais, através de vários núcleos – Orquestra de Câmara, coral, teatro, dança e literatura. Consta do site, ainda, que “Alunos e professores da Ulbra Canoas podem participar de programas de intercâmbio acadêmico, científico e de cooperação, com universidades estrangeiras de diversos países. A universidade também recebe alunos do exterior, proporcionando a troca de experiências. A produção científica realizada abrange todas as áreas do conhecimento previstas pela CAPES e CNPq. Afora isso, a Rede Ulbra de Inovação está implantando seu Parque Tecnológico e a Incubadora Tecnológica ULBRATECH com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do município de Canoas. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível http://www.ulbra.com.br/ 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 A atual mantenedora da ULBRA é a ora requerente, AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO S.A. Portanto, como se percebe, numa singela e superficial análise, não se está a deliberar sobre o processamento de uma recuperação de uma pequena empresa com meia dúzia de empregados e alguns milhares de reais de passivo, sem qualquer demérito. Muito pelo contrário, o cenário desenhado nos parágrafos anteriores já evidencia a repercussão e a dimensão da pretensão deduzida pela autora, já que produzirá efeitos em vários Estados da Federação, dezenas de milhares de estudantes, milhares de Professores e empregados. Aliás, a documentação produzida e que instrui o pedido já se pode perceber do volume e peso financeiro da pretensão e do profundo reflexo que produzirá a decisão judicial lançada nos autos, a qual, destarte, sem embargo, pode significar a possibilidade de soerguimento ou da iminente falência da empresa autora. A situação envolve dezenas de milhares de estudantes, ou seja, em torno de 60.000 estudantes universitários no Brasil todo e mais de 40.000 só no RS. Mas eles não estão só, também devo ponderar que qualquer que seja a decisão adotada atingirá mais de 4.000. professores e empregados, sem falar nos empregos indiretos. O patrimônio imobiliário se estende por vários estados da federação, como já referido e, avaliado, a grosso modo, perpassa a casa dos dois bilhões de reais. A negativado processamento da recuperação judicial, diante do quadro financeiro comprovado nos autos e a grave crise estrutural porque atravessa a Universidade, não se trata de premonição, mas, com certeza, se mantida, vai jogá-la na vala comum da falência, hipótese que afetaria diretamente todas as operações da universidade, prejudicando milhares de pessoas e acarretando um caos social de alcance multiestadual, cujo impacto não pode ser previsto e imaginado neste momento, mas de espectro nada positivo para a economia gaúcha e também para o sistema de ensino brasileiro. Por outro lado, é verdade que a autora acumula dívida bilionária, onde os débitos trabalhistas totalizam R$315 milhões de reais e os financeiros em torno de R$2,1 bilhões, mas o endividamento total da ULBRA chega a 8,2 bilhões, dentre este, R$5,8 de dívidas tributárias. É verdade que investimentos substanciais focados em outras áreas que não a educação, pode ter iniciado o endividamento a níveis acima da capacidade de pagamento da instituição, além de desvios de patrimônio e má-gestão administrativa. A crise afeta os quatro hospitais mantidos pela autora: Porto Alegre, Canoas e Tramandaí onde o funcionamento é precário, com fechamento de leitos, fechando UTIs e suspensão de cirurgias. Todavia, a autora não pode continuar sangrando em doses homeopáticas perante a Justiça do Trabalho através de penhoras on line que desorganizam os já combalidos planos estruturais da entidade, muito menos pode continuar ad perpetuam a vender ativos valiosos por preços bem abaixo de mercado na tentativa de apagar focos localizados de débitos ajuizados. É imprescindível uma revisão estrutural, que açambarque integralmente o Sistema Ulbra com a projeção de uma solução também conjuntural. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Nesse sentido, com muita propriedade, as contrarrazões da FAZENDA NACIONAL que, em primeira mão, manifestou repúdio ao pedido de recuperação, acabou por confirmar, embora com outras palavras, que se nada for feito, o patrimônio da autora vai desidratar e os débitos continuarão impagáveis, quando fala expressamente: “No entanto, não obstante a temporária regularização de seu passivo tributário perante a União, a autora manteve uma situação de inadimplência contumaz perante seus credores trabalhistas. Em 2017, seu passivo trabalhista alcançou o montante de quase 500 milhões de reais. Tal situação levou o Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Canoas, nos autos da execução trabalhista 0184000- 97.2008.5.04.0203, a penhorar TODOS os estabelecimentos de ensino da autora. Seu objetivo era realizar um leilão conjunto de todos os estabelecimentos, quitar os débitos trabalhistas e o saldo ser remetido à Justiça Federal, para amortização do passivo tributário com a União. Na ocasião, a União esclareceu que os débitos da devedora estavam no POIES e, portanto, com exigibilidade suspensa. Assim, apenas alguns campis da autora no norte do país foram a leilão e amortizaram o passivo trabalhista, o qual, hoje, segundo a autora, seria de quase 326 milhões de reais. ” Percebe-se, da leitura da própria impugnação do credor, que não deseja a concessão à autora da recuperação judicial, a urgência da situação e a necessidade premente de uma solução conjuntural. Não se trata de crítica, mas a venda parcial, não uniforme, de ativos valiosos apenas contribui para aprofundar ainda mais a crise financeira da autora e para aumentar a dificuldade da tarefa recuperacional. É necessário sim, data vênia, um processo universal de recomposição gerencial e financeira da autora, o que só se revela ou pela recuperação judicial ou pela falência. Este é o momento derradeiro, já tardio, de inaugurar o processo recuperacional. É a chance única do soerguimento, pena de abertura do procedimento falimentar em breve tempo. Não se pode esconder que a administração do então Reitor Ruben Becker foi desastrosa e fugiu completamente da finalidade do ensino, desfocando para outros propósitos e finalidade, tanto assim que a Justiça Federal (7ª Vara Federal de Porto Alegre) condenou o ex-reitor e a filha, Ana Lúcia Becker por crime de lavagem de dinheiro. Afora isso, lamentavelmente, não posso deixar de destacar, até porque materialmente comprovado, que a autora também foi vítima de desvios de verbas, em valores superiores a 63 milhões de reais, comprovado e apurado pela Polícia Federal e Receita Federal através da “Operação Kollector” (colecionador, em alemão), o que infirma concluir que, além da má-gestão, ainda a autora foi vítima e alvo de severa lesão patrimonial. 2. Da sentença de extinção da ação – Não censuro a douta decisão judicial singular que extinguiu o processo de recuperação judicial e denegou o pedido em favor da autora, ao menos agora, pois não teria comprovado a prática comercial por dois anos, haja vista que a transformação societária da Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 autora ocorreu em ABR/2019, data do registro na Junta Comercial, a partir da qual, passou a ser sociedade empresária, quando, antes, era apenas uma associação civil de cunho educacional, sem fins lucrativos. Ademais, a douta sentença ainda prevê a hipótese de a autora retornar mais tarde, com o mesmo pedido, de recuperação judicial, quando, então, completasse os dois anos de comprovação de exercício de atividade comercial exigidos no art.48 da Lei Federal n.11.101/2005, pois, quando da propositura da ação, em 06/MAI/2019 a autora contava apenas com 1 (um) mês de registro societário, quando a lei exigiria dois anos para requerer o soerguimento via recuperação judicial, nos termos do art.48 do Diploma de Regência. Sob o enfoque objetivo e literal a douta sentença singular aparentemente estaria correta, pois, de fato, a autora não cumpre com o prazo de dois anos preconizado no art.48 do Diploma de Regência. Logo, sob esse prisma, não se lhe abririam as portas da recuperação judicial, tal como infirmado no veredito sentencial. De modo objetivo e linear a r. sentença foi categórica em seus fundamentos, quando obtemperou, in verbis: Assim, a teor da legislação vigente e do quadro fático-jurídico posto, sem adentrar-se na discussão acerca da licitude ou ilicitude da sua transformação de associação em sociedade anônima, por suposta afronta ao disposto no artigo 13 do seu então Estatuto, pode-se concluir que a requerente - AELBRA EDUCAÇÃO SUPERIOR – GRADUAÇÃO E POSGRADUAÇÃO S.A. -, ao tempo do ajuizamento desta Ação de Recuperação Judicial estava e está constituída como sociedade empresária, uma vez que transformada em sociedade anônima por meio de Assembleia Geral Extraordinária realizada em 23 de outubro de 2018 e registrada sua nova forma na Junta Comercial no mês de abril de 2019, conforme se pode verificar dos documentos juntados com a exordial (contratos sociais 3 e 4, e CNPJ 5). Deste modo, por força do artigo 1º acima transcrito, a requerente submete-se aos ditames da Lei nº 11.101/2005 e, por via de consequência, deve observar as respectivas normas para valer-se do instituto jurídico da recuperação judicial ora pleiteado. A Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 48, dispõe que o devedor, ou seja, o empresário ou sociedade empresária, poderá requerer a recuperação judicial, desde que ao tempo do pedido, “exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos” e “atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei”. PoderJudiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Extrai-se dos elementos de cognição carreados ao sistema que a requerente, embora esteja atualmente constituída como sociedade anônima, portanto, como sociedade empresária, não logrou comprovar o preenchimento do requisito legal consistente no exercício regular da atividade empresária por mais de dois anos, o qual se mostra indispensável para fins de êxito no deferimento do pedido de processamento da recuperação judicial. Isto, porque a requerente, desde sua existência e até meados de outubro de 2018 (observada a alteração da denominação), quando transformou-se em sociedade anônima por deliberação e aprovação em Assembleia Geral Extraordinária, sempre existiu, perante a Sociedade e Poderes Públicos, como associação civil de cunho educacional e sem fins lucrativos, ou seja, como pessoa jurídica de direito privado, sem fins econômicos, filantrópica, de natureza educativa, cultural, assistencial beneficente e de ação social, como se pode verificar do artigo 1º do respectivo Estatuto (evento 4, estatuto 2). Tanto que nesta condição, como associação educacional, assistencial e sem fins econômicos, beneficiou-se de imunidade tributária (art. 150, VI, “c”, CF/1988; arts. 9º, IV, “c”, e 14 CTN) e de benefícios governamentais, como, por exemplo, o próprio FIES relacionado na exordial. Deste modo, embora em atividade há várias décadas, somente com a transformação da requerente, de associação civil, filantrópica, de cunho educacional, assistencial e sem fins econômicos em sociedade anônima – sociedade empresária independentemente do seu objeto (art. 982, p.ú., CCv/2002) – é que podemos admiti-la como sociedade empresária e, por via de consequência, ter como iniciado o prazo de no mínimo dois anos de atividade empresária para fins de processamento de sua recuperação judicial, sob pena de criar-se temerário precedente. Todavia, em tese, nada impede que a requerente, após o transcurso do prazo legal mínimo de dois anos de efetivo e regular exercício da atividade empresarial, contado da sua efetiva transformação em sociedade empresária, formule novo pedido de processamento de recuperação judicial e comprove o preenchimento de todos os pressupostos/requisitos legais para fins de ser analisado e, eventualmente, deferido seu pleito. Destarte, em que pese a sensível situação dos professores, dos funcionários e, em especial, dos alunos da requerente, que, juntamente com seus familiares, depositam no curso de graduação um sonho e toda expectativa profissional, o pedido de processamento da recuperação judicial não merece guarida, uma vez que não atendido o pressuposto/requisito legal indispensável previsto no “caput” do artigo 48 da Lei nº 11.101/2005, consistente na comprovação do efetivo e regular exercício de atividade empresária por mais de dois anos. Em face do exposto, indefiro o pedido de processamento da recuperação judicial da requerente e julgo extinto o Processo, por ausência de pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, com fundamento no artigo 485, inciso IV, do Código de Processo Civil. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Não há erro objetivo a ser consertado na r. sentença, está fielmente de acordo com a letra fria da lei de regência e espelha o entendimento do magistrado sentenciante. Não há o preenchimento dos dois anos de atividade empresária, então, não tem o direito subjetivo público de acesso ao instituto da recuperação judicial. Essa é a conclusão sentencial, tollitur quaestio. Todavia, em que pese aparentemente se trate de uma decisão simples e singela, corriqueira até, de simples aferição de prazo da atividade comerciária há a possibilidade de uma releitura do referido dispositivo, mormente diante da situação retratada nos autos, em riqueza de detalhes e provas exuberantes, fatos que exigem um outro olhar sobre os reflexos, os impactos e as consequências dessa decisão de fechamento das portas da Recuperação Judicial à autora, neste momento crucial da pretensão colocada em juízo. É verdade, está certo o magistrado singular, para dizer o mínimo, quando refere, em fls.10/11 do decisum, que após dois anos “...a autora poderá formular novo pedido de processamento de recuperação judicial e comprove o preenchimento de todos os pressupostos...”. Todavia, o mundo não fica congelado por dois (2) anos. Os credores têm pressa para receberem os seus créditos, novas penhoras on line, novas demandas pesarão sobre o patrimônio geral da autora, o Fisco está sedento para receber o crédito tributário, com os privilégios que lhes são peculiares e é preciso equalizar as contas e reorganizar a empresa, sob pena de falência iminente. Os 2 (dois) anos no mundo dos negócios, em especial negócios em risco, representam uma eternidade, tempo que certamente já escoou para a autora. A situação é, pois, urgente e emergencial. Pelo que pude examinar, data vênia, dificilmente a autora tem fôlego para um ano sob a pressão dos credores – débitos antigos – sob pena de, se não socorrida agora, de logo e de imediato, encaminhar-se para a falência total e, no fluxo da bancarrota ninguém ganha, a não ser terceiros especuladores que, com pouco mais de nada, abocanham os ativos mais valiosos da empresa e jogam a carcaça fora, sobrando o caos social, o desemprego e quebra da confiança. Nesse cenário, então, concessa vênia, a sentença de extinção merece reforma, pois há mais nos autos do que a simples consideração fria da lei, existe, no mínimo, uma resposta de esperança há mais de 60.000 estudantes, 4 ou 5 mil professores e funcionários e centenas de credores. Negar a chance do soerguimento empresarial à autora é empurrá-la em direção à bancarrota, quando, então, como se sabe, só haverá perdedores. É imprescindível uma releitura ao art.48 da Lei Federal n.11.101/2005. 3. Da modificação do julgado – processamento da RJ - Sem embargo da decisão de Primeiro Grau que, no plano da legalidade estrita e literal, está correta, é possível o julgamento de forma diferente, sem arranhar o mesmo Texto Legal – Lei Federal n.11.101/2005 – basta que se dê ênfase e eficácia à outros princípios e comandos legais do que a quantificação do prazo estrito do exercício do comércio. A Lei de Regência, no art.48, caput, diz o seguinte, sic: Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Art.48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente Ora, como já destaquei, o juízo de indeferimento e extinção do processo centrou-se única e exclusivamente ao fato de que a autora não possuía os 2 (dois) anos de exercícios do comércio, após registro. Todavia, como sempre, os requisitos temporais previstos em lei são todos aleatórios, fixam-se em parâmetros que não se sustentam e que infirmam pouca cognoscibilidade e precisão e, por isso merecem sopesamento pontual, pois basta pensar que ao invés de 2 (dois) anos como previu o legislador no artigo em referência (art.48), poderia ter exigido 3 (três) anos, mas, sem assombro de quem quer que seja, poderia ter sido menos, talvez 1 (um) ano ou um ano e meio. Outra questão é se esses dois (2) anos referidos no pergaminho legal é contado do registro ou é de mesma e regular atividade. Esse simples raciocínio, não colocado à prova pela doutrina ou pela jurisprudência, no mais das vezes cordata no ponto, já é suficiente para balançar o requisito temporal do exercício das atividades, como marco imprescindível e inarredável ao processamento da recuperação judicial. No particular, tanto a doutrina, como a jurisprudência, apenas limita-se a responder e a aquiescer com o marco temporal de 2 (dois) anos, previsto no caput do art.48, sob comento, semgrandes considerações e questionamento a respeito de sua inafastabilidade, ao argumento que o biênio serve e tem como objetivo principal conceder a recuperação judicial apenas a empresários ou a sociedades empresárias que se achem, de certo modo, consolidadas no mercado e que apresentem certo grau de viabilidade econômico-financeira capazes de justificar o sacrifício dos credores. Segundo a lição de MARLON TOMAZZETE, apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis é que se justifica a concessão da recuperação, quando refere: "...esse exercício regular da atividade deve ocorrer há mais de dois anos, para que se possa pedir a recuperação judicial. Tal prazo tem por objetivo aferir a seriedade do exercício da empresa, a sua relevância para economia e especialmente a viabilidade de sua continuação. Apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis é que se justifica o sacrifício dos credores em uma recuperação judicial. Uma empresa Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 exercida há menos de dois anos ainda não possui relevância para a economia que justifique a recuperação."" (Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas. São Paulo: Atlas, 2011, pág. 60). Em idêntica linha de raciocínio, FÁBIO ULHOA COELHO leciona que "não concede a lei acesso à recuperação judicial aos que exploram empresas há menos tempo, por presumir que a importância desta para a economia local, regional ou nacional ainda não pode ter-se consolidado." (Comentários à lei de falências e de recuperação judicial. São Paulo: 2011, pág. 181). (grifei). Evidente que se trata de um prazo aleatório, presuntivo e sem firmeza como marco legal inarredável, se trata de uma mera projeção temporal. Ainda, no mesmo diapasão são as lições de ARNOLDO WALD E IVO WAISBERG: "(...) O prazo de 2 anos de vida foi estabelecido pelo legislador como o marco temporal necessário para separar os casos de crise dos empreendimentos iniciantes, correspondendo à mortalidade infantil, daquela por que passa uma empresa já estável no mercado. Se, na lei anterior, o intuito era afastar possíveis aventureiros, a razão da manutenção do prazo em 2 anos na lei atual é o reconhecimento do fato de que, na economia brasileira, empreendimentos iniciantes estão mais suscetíveis à quebra do que ao sucesso. O requisito mínimo de existência contribui para a credibilidade da recuperação judicial, na medida em que só autoriza a concessão do pedido às empresas que já tenham adquirido certo nível de consolidação e maturidade no mercado." (Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. Coord. Osmar Brina Corrêa-Lima e Sérgio Mourão Corrêa Lima. Rio de Janeiro: Forense, 2009, pág. 328). Não penso, confesso, que essa argumentação tenha algum fôlego jurídico-legal. Entendo que o prazo de 2 (dois) anos fixados na lei de regência tem por escopo mensurar a possibilidade de repercussão da empresa no mercado empresarial e no ambiente de trabalho, isto é, para ser mais explícito, se a empresa existir há menos de 2 (dois) anos a probabilidade de ela ser pequena e/ou quase insignificante é bastante grande, de tal modo que não se justificaria o sacrifício dos credores, por isso a negativa da recuperação judicial, sobrando como única alternativa a falência da empresa. Agora, empresas com mais de 2 (dois) anos de atividade, de regra, é empresa que apresenta um número maior de empregados, já está mais estabilizada no mercado e pode causar maior impacto na sociedade em caso de falência, por isso, permite-lhe um caminho menos rigoroso, qual seja, a recuperação. Portanto, com o máximo respeito, mas não vejo o prazo de 2 (dois) anos como algo muito importante, menos ainda para impedir a concessão da recuperação judicial de uma empresa sólida e em plena atividade há mais de 40 anos, apenas revestida sob outra Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 roupagem jurídica, até porque existem outros requisitos/pressupostos que são muito mais importantes e indispensáveis para a aferição da necessidade da concessão do favor legal, como por exemplo as demais exigências do próprio art.48, nos seus 4 (quatro) incisos e também a necessária instrução com os documentos do art.51 do mesmo Diploma Legal. Esses, eu admito, como de maior relevo do que o isolado prazo de 2 (dois) anos do art.48, caput da LRJ. Mas, vou mais longe ainda, até porque o caso concreto cria uma peculiar e diferenciada situação sui generis, que também não foi considerada na decisão judicial da origem. Numa breve retrospectiva, por isso fiz questão de engendrar no voto o tópico anterior nominado de “considerações gerais”, está assentada uma outra reflexão não realizada, qual seja, a ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL foi criada e está em plena atuação no mesmo ramo de atividade desde 1972, na época mantida pela CELPS (Comunidade Evangélica Luterana São Paulo), embora fundada efetivamente e documentalmente como ULBRA em 1988. Logo, apenas para ser literal, a autora está no exercício regular de suas atividades desde 1972, como Instituição de ensino, enquanto que o artigo violado exige, na literalidade, 2 (dois) anos de "atividade". Portanto, destarte, entendo como devidamente cumprido o requisito legal dos dois (2) anos exigido pelo art.48 da LRJ, posto que a devedora atua no mercado, exatamente na mesma atividade, há mais de quarenta (40) anos. Mas o apego à literalidade da lei leva, algumas vezes, não só à injustiça, como no caso presente, mas, também, a ciladas jurídicas quase intransponíveis. Acontece que o art.1º fala expressamente que a Lei n.11.101/2005 se aplica ao “empresário e sociedade empresária”. Todavia, o art.2º diz que a Lei não se aplica à empresa pública, sociedade de economia mista, instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Ora, sociedades de ensino e associações não foram excluídas diretamente do Texto legal que é específico a quem não se aplica a lei, o que em tese, se aplicaria à autora, mesmo sem considerar a sua transformação social ocorrida em ABR/2019. Com efeito, a devedora atua no mercado no mesmo ramo de atividade há mais de quarenta (40) anos (cumprido o requisito temporal do art.48) e não é das espécies societárias a quem a lei veda o acesso ao Instituto da Recuperação Judicial ex vi do art.2º da mesma lei. É verdade que a autora passou, em ABR/2019, por modificações de seus atos constitutivos, pois, em tese, como associação sem fins lucrativos teria maior dificuldade de acesso aos benefícios da LRJ (Lei de Recuperação Judicial) e, por conta disso, passou à Sociedade Anônima de capital fechado, por força de aprovação em Assembleia Geral Extraordinária de OUT/2018, com registro na Junta Comercial em ABR/2019. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Por conta dessa mutação estatutária, a contabilidade do biênio exigido pelo art.48, caput, da Lei de Regência, conforme sentença singular, passou a incidir a partir do registro na Junta Comercial, ocorrido em ABR/2019. Como a ação foi distribuída em 06/MAI/2019, por evidente não “completou” o prazo de 2 (dois) anos exigidos na lei. Mas, como expendido, esse prazo não pode ser interpretado como inflexível e intransponível, depende da situação peculiar do caso concreto e da leitura do dispositivo Outro injustificável e inexplicável formalismo. A lei merece ponderação e interpretação à luz dos fatos sociais que, como se sabe, são mais ricos e em plena evolução e efervecência. Ora, repito, a ULBRA sempre exerceu as mesmas funções e atividades, desde sua criação (1972) ou desde sua fundação (1988). As funções exercidas erame são exatamente as mesmas, atividade de ensino e educação. Nesse aspecto nada mudou, desde sempre. Logo, literalmente desempenha a mesma "atividade". Também não foge ao debate a consideração de que a atuação da autora sempre teve, senão integralmente, mas em boa dose, a ideia de lucro e a ideia de empresa, com autonomia e gestão, tanto que arregimentou um vultoso patrimônio, com capacidade de gestão e investimento. Cabe realçar, também, agora com apoio na doutrina abalizada do Prof. ARNOLD WALD, que a caracterização de empresa reside no "exercício de uma atividade econômica ... que tenha por fim a criação ou circulação de riquezas, bens ou serviços", estando a idéia de empresa "relacionada com o princípio de economicidade, ou seja com o desenvolvimento de uma atividade capaz de cobrir os próprios custos, ainda que não existam finalidades lucrativas" (ob.cit. pág. 365). Nesse vértice, agrego referência às ponderações lançadas pela eminente MIN. NANCY ANDRIGHI, transcritas nas razões de apelo, quando menciona, em coletânea organizada em homenagem ao Prof. Peter Walter Ashton – Estudos de Direito Empresarial (org. André Fernandes Estevez e Marcio Felix Jobim – Ed. Saraiva), teve artigo publicado, onde diz, in verbis: “...sempre que for verificada alguma dissonância entre os efeitos produzidos pela interpretação literal dos dispositivos legais e a intenção do legislador, deve o interprete analisar teleologicamente a norma aplicável à espécie de julgamento. No que diz respeito ao biênio legal e exercício do comércio, apto a legitimar o pedido de recuperação judicial, é sempre necessário observar o princípio constitucional da função social da propriedade e também o postulado da manutenção dos meios de produção.” (pág.626). Em sequência dos fatos, em OUT/2018 através de AGE, foi aprovada a modificação estatutária da autora transformando-a, de associação civil sem fins lucrativos, para sociedade anônima de capital fechado, levada a registro em ABR/2019. Logo, a única coisa que sofreu modificação foi seu estatuto, não a atividade desenvolvida, que perpassa mais de 47 (quarenta e sete) anos, isto é, há quase meio século a ULBRA, pela mantenedora autora, é Universidade destinada ao ensino, mas, de fato e de direito, mudou seu estatuto no Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 ano em curso (ABR/2019, data registral). Todavia, mudou o estatuto, o batismo, a natureza jurídica da sociedade, mas, o que é importante, permaneceu o mesmo ofício, a mesma atividade e as mesmas funções, desde sempre. A esse propósito, devo agregar o escólio doutrinário de SÉRGIO CAMPINHO que, em caso de transformação societária, poderá haver o cômputo do exercício anterior para atingir o prazo de 2 (dois) anos, desde que não haja a descontinuidade da empresa: "(...) A transformação registral garante, dessa forma, a permanência da regularidade da atividade empresária, que não sofre relação de continuidade diante da alteração do titular da empresa. Em sendo assim, haverá o cômputo do exercício anterior para que se possa atingir o prazo de mais de dois anos de exercício regular da atividade por lei exigido. Em outros termos, o empresário individual ou a sociedade empresária (pluripessoal ou unipessoal) requerente da recuperação judicial poderá legitimamente aproveitar o período de exercício regular anterior à implementação registral, para somá-la àquele realizado após o evento" (Curso de direito comercial: falência e recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, pág. 136). Pois bem, acena-se com a possível existência de fraude. Não provada diga-se de passagem. Não vai faltar quem grite aos estertores que a S.A., na qual se transformou a autora, não tem 2 (dois) anos e, por isso, não poderia ser beneficiária da recuperação judicial e, mais, que a modificação operada por AGE (Assembleia Geral Extraordinária), teria ocorrido em fraude, para ludibriar a lei e obter vantagem indevida, tanto que operada a modificação estatutária em OUT/2018 e o registro se deu apenas em ABR/2019 e o pedido de recuperação é de MAI/2019. Realmente, as datas são próximas, entre a mutação estatutária, o registro e a propositura da ação. Mas, volto a repetir, a “empresa” é a mesma, as “funções” são as mesmas, “as atividades” são as mesmas”, o patrimônio não foi desviado, é exatamente o mesmo, as “garantias” são exatamente as mesmas. Então, qual a “fraude” ?? mais uma alegação sem substrato fático-jurídico, mera especulação ao sabor das conveniências de alguns credores. Poder-se-ia questionar de fraude se a empresa autora, em vias de pedir recuperação judicial transferisse seu patrimônio ou parte dele, trespassasse seus ativos ou parte deles, para uma outra empresa com menos de 2 (dois) anos para deixá-los fora da recuperação ou das responsabilidades. Posso assinar o meu atestado de superficialidade intelectual, mas não vejo coexistência de fraude, mas, ao contrário, quase uma conduta desesperadora lançada pela autora de tentar salvar seu patrimônio e exaurir a última gota de energia na persecução do soerguimento empresarial, com a menor perda possível, sem descurar de seus compromissos, quer com credores quirografários, tributários, financeiros, alunos e professores e empregados de modo geral, ginástica que pode ser alcançada única e exclusivamente pela via da recuperação judicial. Adito e considero primordial que o pedido de recuperação judicial tem por objetivo atender não somente os interesses da sociedade recuperanda, mas principalmente os interesses dos empregados, dos credores e da sociedade em geral. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Diante dessa radiografia do processo e da situação retratada nos autos, vislumbro, modo respeitoso, a possibilidade jurídica e legal de permitir o processamento da recuperação judicial da autora. 4. Objetivo nobre da Recuperação Judicial – art.47 da Lei n.11.101/2005 - A recuperação judicial, agora em debate apenas o processamento, é que poderá dar curso e fôlego à autora para enfrentar a crise financeira e, eventualmente, captar novos investimentos, novos sócios, novos ativos para fazer frente a crise, de modo a manter os empregos e a atividade como fonte produtora. É, nesta linha de raciocínio, adequado e oportuno o ensinamento de JOSÉ DA SILVA PACHECO, para quem o escopo da Lei 11.101, de 2005, foi "atender os anseios e tendências manifestas na segunda metade do século XX e princípio deste século XXI, no sentido de salvaguardar a empresa, que tem uma função social e, por isso, deve subsistir às crises, em benefício dos que nela trabalham, da comunidade em que atua, dos mercados de fatores de produção e de consumo do local, da Região, do Estado e do País". (A Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas - Lei nº 11.101/05 - Forense - 2006 - Coordenador PAULO PENALVA SANTOS - pág. 5). Aliás, essa é a dicção do art.47 da Lei Federal n.11.101/2005, que encerra a nobreza do instituto da Recuperação Judicial, qual seja: “Art.47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. ” É de sabença geral que a falência da empresa não interessa a quase ninguém, pois, senão todos, praticamente todos, perdem. Perde o empresário, perde a sociedade, perdem os empregados, perde o fisco, enfim, representa a falência completa da cadeia produtiva. Os que ganham são poucos, apenas aqueles que compram e assumem os ativos ainda valiosos da empresa e o fazem por valores normalmente irrisórios, daí advém o lucro e o ganho fácil, é a chamada rapinagem empresarial. De resto, sem dúvida, todos experimentam prejuízos, alguns mais outros menos, mas todosficam ao desamparo. Por isso, tendo sempre presente que o remédio amargo da falência é indiscutivelmente o pior e mais gravoso, a Lei de Regência estabeleceu que o objetivo primário, fundamental e principal é a concessão da recuperação, que tem por escopo, objetivos bem definidos, quais sejam, in verbis: Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 1. Viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor; 2. Permitir a manutenção da fonte produtora e do emprego dos trabalhadores e, ainda 3. Manter o interesse dos credores, com 4. A preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. A preservação da empresa, sua função social e o estímulo à continuidade do engenho produtivo é o alvo mais nobre do instituto da recuperação judicial. E o que se vê dos autos, examinando o conjunto probatório, é que várias espécies de credores desejam e almejam a concessão da recuperação judicial da autora, pois percebem e entendem a importância social da Instituição de Ensino e a necessidade da manutenção dos empregos dos empregados e professores. Nesse iter, com efeito, situação bastante peculiar e de extraordinária importância deve ser considerada e pode ser extraída a partir da nota do SINPRO/RS (Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul), publicada no Jornal Correio do Povo, da edição do dia 20/05/2019, trazida à colação do processo, onde clama pela atenção do Poder Judiciário para o fim de conceder a recuperação judicial à autora, como o mal menor, da antessala da falência, quando refere, sic: MILHARES DE ALUNOS, PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS NA EXPECETATIVA DA SENSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO A rede ULBRA de Educação, com 9 campi para a educação superior e mais 9 escolas que atendem à educação básica, contando apenas as unidades do Rio Grande do Sul (Cachoeira do Sul, Cachoeirinha, Canoas Carazinho, Gravataí, Guaíba, Porto Alegre, Santa Maria São Jerônimo, Sapucaia do Sul e Torres) é responsável pela contratação de cerca de 1300 professores e 2000 funcionários, que atendem a milhares de alunos de todos os estratos sociais. Como já é do conhecimento da opinião publica, a Ulbra, maior instituição privada do RS, há algum tempo luta para superar uma profunda crise financeira advinda de um passado de má gestão administrativa. No último dia 6 de maio, a Aelbra, mantenedora da Ulbra, ingressou no Judiciário com um pedido de Recuperação Judicial, medida que visa a garantir a continuidade do funcionamento da instituição. O que parece uma discussão técnico-jurídica vai muito além e tem impacto social extremamente relevante. Basta refletir sobre os efeitos de uma eventual descontinuidade dos serviços prestados pela Ulbra e suas escolas no RS na vida dos cerca de 22 mil alunos atendidos, das mais de 3 mil famílias que estão Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 ligadas às instituições, em virtude dos empregos diretos e indiretos. Um enorme prejuízo para toda as comunidades locais que interagem com essa importante estrutura educacional de ensino e pesquisa em diversas áreas do conhecimento, além do expressivo atendimento comunitário que presta, em especial na área da saúde. Os sindicatos de professores e funcionários técnicos e administrativos sempre atuaram para proteger os direitos dos trabalhadores e defender a qualidade do ensino com a responsabilidade de serem propositivos no sentido de encontrar meios para manutenção dos empregos e para a sequencia do projeto educacional Ulbra. Com essas credenciais, os sindicatos manifestam sua expectativa quanto à sensibilidade do Poder Judiciário para que conceda à Aelbra/Ulbra, através do deferimento da Recuperação Judicial, a possibilidade de honrar seus compromissos com credores e solucionar em definitivo seus problemas administrativos e financeiros. Em um momento tão conturbado da nossa economia e da educação em nosso país, podemos juntos sinalizar o quanto esse tema é relevante e estratégico para o desenvolvimento da nossa sociedade. ” Esse pronunciamento dos Sindicatos dos Professores e dos Funcionários bem dimensiona o tamanho da importância da ULBRA, como instituição de ensino e saúde, mas, principalmente, evidencia preocupação gritante com a manutenção da fonte produtiva e empregadora, dos empregos e renda, exatamente os fins sociais proclamados no art.47 da Lei Federal n.11.101/2005, sem olvidar, por imprescindível, a existência de milhares de ações trabalhistas em curso. Nesse sentido, repito, também são os pronunciamentos dos agentes políticos dos Municípios de Canoas e Esteio. Insta obtemperar que o endividamento maior, percebe-se, já transcrevi alhures, é decorrente de imposição fiscal e tributária, a qual, mais uma vez ressalto, é resultante de uma antiga administração problemática, irresponsável e que já foi condenada judicialmente, inclusive, por crime de lavagem de dinheiro. Todavia, essa mesma administração, sem embargo da condenação criminal e cível, deixou um rastro de débitos que compromete a saúde financeira da autora até os dias de hoje, pois comprova-se que o débito fiscal é o mais volumoso, perpassando o valor de R$5 bilhões de reais. Nesse mesmo diapasão se pode classificar as demais dívidas. Por exemplo, as dívidas trabalhistas, já transitadas em julgado, datam de mais de dez anos passados, na mesma toada as dívidas financeiras. Portanto, os débitos pendentes são débitos antigos, haja vista que os débitos correntes e recentes estão bem administrados e saldados, justamente por isso há referência de plena operacionalidade da autora. Adoto a conclusão da apelante que, em razões de recurso, afirmou que a mesma apresenta problemas econômicos e financeiros, mas não operacional, quando diz, expressis verbis: Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 “E quando se faz referência à perda parcial de sua viabilidade (repita-se, parcial), é importante que sejam feitas, em tempo, resslavas: a AELBRA enfrenta esta situação há longos anos sem nunca ter perdido sua capacidade de geração de resultado operacional e, também, sem que tenha sido afetada sua excelência acadêmica (é bom que se faça referência a isto, prestando as devidas homenagens aos funcionários que a sustentam e que dão azo às as mais relevantes e bem conceituadas avaliações pelos órgãos de regulação e controle da atividade – tais como, e.g. MEC e Capes). E há geração de resultado. Insuficiente, no entanto, para solucionar, no curto prazo, o seu passivo, sem um plano de recuperação judicial que lhe dê tratamento adequado. A bem da verdade, este é um dos objetivos de uma recuperação judicial – i.e. dar tratamento ao passivo em prazo adequado. Há também um estoque de ativos suficientes e de inegável valor que servirá na busca da solução (em alguma extensão). São estimados alguns bilhões de reais em ativos imobiliários que irão contribuir, entre outros meios, com a solução – e isso será decidido pelos maiores interessados: os credores. ...Se está diante, sim, de um negócio viável operacionalmente e de ativos valiosos... ...ocorre que, a despeito de as expropriações incidirem sobre bens materiais, os mais valiosos ativos da AELBRA são absolutamente imateriais. São seus alunos e sua capacidade operacional. Ou seja, é a atividade. E é através da atividade que haverá de pagar os seus credores...” Pelo que se observa da documentação acostada é que a autora possui capacidade de geração de caixa suficiente para manter suas operações, sem qualquer sacrifício à qualidade acadêmica, mas são os débitos passados é que estão fora do controle da empresa. Ademais consta do Relatório Social da Instituição (exercício 2018), o fornecimento de bolsas para funcionários portadores de necessidades especiais (29 funcionários com bolsas integrais), 91 alunos portadores de deficiências: surdez (13alunos), deficiências físico-motoras (25), cegueira (9), autismo (3). Adito, ainda, que a autora marca presença em 9 (nove) municípios do Rio Grande do Sul (Cachoeira do Sul, Canoas, Carazinho, Gravataí, Guaíba, Porto Alegre, São Jerônimo, Santa Maria e Torres. Afora isso, consta a concessão de 14.458 bolsas de estudo pelos programas PROIES e PROUNI. Em acréscimo, ainda, mister considerar que a AELBRA em seu programa de residência hospitalar, é responsável pelo atendimento de, aproximadamente, 30% de todas as ocorrências hospitalares do município de Canoas. A orientação jurisprudencial é torrencial em prestigiar a finalidade nobre do instituto da Recuperação Judicial, que é a mantença da função social, da fonte produtora e do emprego, nos exatos termos do art.47 da Lei n.11.101/2005. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 No egrégio TJRS, esta colenda Câmara tem assente esse posicionamento, ipsis verbis: Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Insurgência contra a decisão que homologou o Plano de Recuperação Judicial, aprovado pela maioria dos credores presentes na Assembléia Geral, consoante do artigo 58 da Lei nº 11.101/2005. Dispõe o artigo 47 da Lei nº 11.101/05: “a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”. Deságio, prazo de pagamento e taxa de juros mantidos em razão de que a preservação da empresa deve prevalecer sobre o interesse individual de cada um dos credores. Por outro lado, são consideradas invalidas as disposições do plano de recuperação que dispõem acerca da alienação do patrimônio sem controle e a extensão dos efeitos da recuperação aos coobrigados Agravo de instrumento parcialmente provido.(Agravo de Instrumento, Nº 70079416459, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em: 14-03-2019) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE. IMPOSSIBILIDADE. BENS ESSENCIAIS À ATIVIDADE EMPRESARIAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. ARTIGO 47, LEI Nº. 11.101/2005. Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão que deferiu o pedido liminar formulado pelo ora agravado e determinou a suspensão de eventual procedimento de consolidação da propriedade decorrente de alienação fiduciária, referente aos imóveis de matrículas nºs. 24.501, 24.498, 24.499 e 60.314. O artigo 47, da Lei nº. 11.101/2005 estabelece que a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. No caso em comento, a recorrente sustentou que a decisão agravada não merece ser mantida, uma vez atingiu a disponibilidade de bens que não se sujeitam à recuperação judicial, bem como afrontou o disposto no artigo 49, § 3º, da LRF, tendo em vista que impôs a impossibilidade de consolidação da propriedade, pelo que, pugnou pela reforma da referida decisão. O agravado se encontra em recuperação judicial, razão pela qual, em que pese os imóveis em questão, referentes às matrículas nºs. 24.501, 24.498, 24.499 e 60.314, serem garantia da alienação fiduciária, são essenciais para a preservação da atividade empresária, tendo em vista que se referem à sede da Empresa, bem como a terrenos situados no entorno, motivo pelo qual resta inequívoco que os referidos bens devem ser mantidos na posse do recorrido. Dessa forma, imperiosa a manutenção da decisão agravada, uma vez que o Juiz Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 singular agiu com irretocável acerto ao determinar a suspensão de eventual procedimento de consolidação da propriedade decorrente de alienação fiduciária. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70075652065, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em: 14-12-2017). AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONCESSÃO. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO RECUPERACIONAL. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. APLICAÇÃO DO ART. 47, LEI Nº 11.101/05. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO PARS CONDITIO CREDITORUM EM FACE DA CRIAÇÃO DA SUBCLASSE "CREDOR PARCEIRO". ILEGALIDADE NA PROPOSTA DE CARÊNCIA DE 18 MESES, DESÁGIO DE 30% E PRAZO DE PAGAMENTO EM 144 PARCELAS. INOCORRÊNCIA. 1 Conforme artigo 47 da Lei nº 11.101/05, a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica, isto é, a recuperação judicial busca não apenas satisfazer os credores, mas, também, manter a sociedade empresária em atividade, sendo o princípio da preservação da empresa norteador na aplicação do instituto. 2 Tal dispositivo gera complexa tarefa ao Judiciário, o qual, diante de tantos objetivos, junto ao procedimento inerente, submetido ao crivo dos credores, deve harmonizá-los com intuito de manter a função social, o estímulo à atividade econômica e a preservação da empresa. 3 A partir dessa convergência de objetivos, quando a questão chega à Justiça desenvolve-se a função técnica do julgador, adstrita ao controle de legalidade e viabilidade técnica do plano recuperacional, matéria que apresenta algumas divergências entre os doutrinadores, deve apreciar, além das questões processuais atinentes a qualquer demanda, a adequação do plano, a deliberação dos credores e a ponderação judicial fundamentada. 4 Levando em consideração o exposto, bem como as questões suscitadas pela parte agravante, após análise do plano recuperacional, convenci-me pela manutenção da homologação. 5 A orientação mais moderna sobre o tema autoriza a criação de subclasses dentro de determinada classe de credores quando observada a homogeneidade, justamente pelo fato de um grupo ter interesses diversos de outro grupo no desenvolver da recuperação judicial. 6 A carência fixada, bem como o índice de deságio e período de satisfação das dívidas são usualmente utilizados em planos de recuperação judicial de outras empresas. 7 Além disso, as condições foram aprovadas em Assembleia Geral de Credores, de maneira que a ingerência do Poder Judiciário nas condições previstas excede o controle de legalidade previsto na legislação sobre o tema. À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.(Agravo de Instrumento, Nº 70073546582, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, Julgado em: 24-08-2017) Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 No egrégio STJ, por seu turno, não há discrepância de entendimento, ad litteram: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DO AGRAVANTE. 1. Na hipótese, a Corte Estadual, após análise do contexto fático-probatório dos autos, concluiu que, para a decretação da falência, seria imprescindível a constatação de que a crise econômica instalada fosse insuperável, o que não ocorre na hipótese, pois, como ressaltou, "as circunstâncias dos autos são favoráveis" à recuperanda, e "essa solução atende mais adequadamente ao princípio da preservação da empresa" (art. 47 da Lei 11.101/05). 1.1. A ausência de impugnação a fundamento do acórdão recorrido atrai o óbice da Súmula 283/STF,aplicável por analogia. 2. Para rever tais conclusões, seria imprescindível a incursão na seara probatória dos autos, o que não é permitido nesta instância especial, nos termos da Súmula 7 do STJ. 3. De acordo com orientação do Superior Tribunal de Justiça, "o art.47 da Lei de Falências serve como um norte a guiar a operacionalidade da recuperação judicial, sempre com vistas ao desígnio do instituto, que é viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica" (REsp 1207117/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe 25/11/2015). 4. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 1433265/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 26/08/2019, DJe 30/08/2019) Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO TRABALHISTA. EMPRESA SUBSIDIÁRIA. ART. 535 DO CPC/73. OMISSÃO CONFIGURADA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS. EFEITOS INFRINGENTES. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO SOERGUIMENTO. ... 3. A recuperação judicial visa criar condições de negociação para a superação da crise econômica da empresa, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica (art. 47 da Lei nº 11.101/2005). 4. O art. 50, II, da Lei nº 11.101/2005 possibilitou a criação de empresa subsidiária integral como um meio de viabilização do restabelecimento da atividade econômica da sociedade controladora, visando reverter a situação de crise econômica e financeira da recuperanda. 5. Hipótese em que a criação da subsidiária integral foi autorizada pelo Juízo do soerguimento com a finalidade de auxiliar na reabilitação da empresa em crise econômico-financeira, com a observação de que a subsidiária não responderia pelo passivo da recuperanda. 6. Embargos de declaração acolhidos, com efeito infringente, para conhecer do conflito e declarar a competência do juízo da recuperação judicial. (EDcl no AgRg no CC 138.936/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 19/02/2019, DJe 21/02/2019) ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PARTICIPAÇÃO. POSSIBILIDADE. CERTIDÃO DE FALÊNCIA OU CONCORDATA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. DESCABIMENTO. APTIDÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA. COMPROVAÇÃO. OUTROS MEIOS. NECESSIDADE. ... 4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a automática inabilitação de empresas submetidas à Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não apresentação de certidão negativa de recuperação judicial, principalmente considerando o Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 disposto no art. 52, I, daquele normativo, que prevê a possibilidade de contratação com o poder público, o que, em regra geral, pressupõe a participação prévia em licitação. 5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos termos do art. 47, é viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 6. A interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n.8.666/1993 e n. 11.101/2005 leva à conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada dos princípios nelas contidos, pois a preservação da empresa, de sua função social e do estímulo à atividade econômica atendem também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se busca a manutenção da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores. ... 8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial. (AREsp 309.867/ES, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 08/08/2018) Nesse ponto sensível, que diz com o princípio da preservação da empresa, expresso no art. 47 da Lei de Recuperações Judiciais e Falências, tem como objetivo a proteção da atividade da empresa, do empreendimento, e não do empresário, como ensina o festejado jurista FÁBIO ULHOA COELHO, quando professoralmente ensina, sic: "Quando se assenta, juridicamente, o princípio da preservação da empresa, o que se tem em vista é a proteção da atividade econômica, como objeto de direito cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao empresário, ou aos sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem maior de sujeitos. Na locução identificadora do princípio, "empresa" é conceito de sentido técnico bem específico e preciso. Não se confunde nem com o seu titular (empresário), nem com o lugar em que é explorada ("estabelecimento empresarial"). O que se busca preservar, na aplicação do princípio da preservação da empresa, é, portanto, a atividade, o empreendimento." (in Princípios do Direito Comercial: com anotações ao projeto de código comercial. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 40) Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Extraio, por imprescindível e bastante atual, excerto do voto da eminente MIN. NANCY ANDRIGHI, no REsp. n.1.193.115/MT, quando referiu e destacou expressamente o ponto nuclear que deve ser ponderado em matéria de recuperação judicial, qual seja, in verbis: “ Por derradeiro, é imprescindível reconhecer que o foco do aplicador do Direito, no que se refere à questão discutida, deve estar voltado ao atendimento precípuo das finalidades a que se destina a Lei 11.101/05. Os princípios que orientaram a elaboração e que devem direcionar a interpretação e a aplicação dessa lei objetivam garantir, antes de tudo, o atendimento dos escopos maiores do instituto da recuperação de empresas, tais como a manutenção do ente no sistema de produção e circulação de bens e serviços, o resguardo do direito dos credores e a preservação das relações de trabalho envolvidas, direta ou indiretamente na atividade. É o que se dessume do texto expresso da norma constante no art. 47 da LFRE. Sobre a matéria, aliás, valiosa a lição de Manoel Justino Bezerra Filho: “A Lei estabelece uma ordem de prioridade nas finalidades que diz perseguir, colocando como primeiro objetivo 'a manutenção da fonte produtora', ou seja, a manutenção da atividade empresarial em sua plenitude tanto quanto possível, com o que haverá possibilidade de manter o 'emprego dos trabalhadores'. Mantida a atividade empresarial e o trabalho dos empregados, será possível então satisfazer o 'interesse dos credores'. Esta é a ordem de prioridades que a Lei estabeleceu. (Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada, 3ª ed., Editora RT, pp. 130/131).” Em suma, para as finalidades da LFRE, o primordial é que o empresário ou a sociedade empresária economicamente viáveis sejam mantidos em atividade, uma vez sopesados, obviamente, os benefícios, riscos e prejuízos a serem suportados por ela, por seus credores e pelos empregados. De fato, não se pode perder de vista os propósitos salutares que animaram o legislador e que fizeram da Lei 11.101/05 uma efetiva ferramenta em prol do soerguimento das entidades empresárias em crise econômico-financeira, atentando-se à preservação dos postos de trabalho e à continuidade da geração de riquezas. Transborda dos autos, segundo avalanche de documentos, a função social relevante da autora e o grave prejuízo social se mantida a negativa do auxílio legal e judicial da recuperação, o que poderá acarretar em breve prazo, inclusive, o risco da decretação da falência.Não posso desconsiderar que no Complexo ULBRA funciona o HOSPITAL UNIVERSITÁRIO e o HOSPITAL VETERINÁRIO. O Hospital Universitário, está localizado na entrada do campus da Ulbra. Atualmente, o Hospital Universitário pertence à Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 Prefeitura de Canoas e é administrado pelo Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (GAMP). As suas amplas instalações estão equipadas com modernas tecnologias para a saúde, permitem aos alunos da Ulbra acompanhar o atendimento integrado de pacientes, tanto no setor ambulatorial quanto em internação. Nele, além de profissionais de mercado, estudantes e professores dos cursos de Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Odontologia, Fonoaudiologia e Medicina colocam em prática o conhecimento e atendem à população canoense. O Hospital Universitário também está credenciado em programas de residência, aprovados pelo MEC, nas áreas de Cirurgia Geral, Clínica Médica, Obstetrícia e Ginecologia, Medicina Familiar, Otorrinolaringologia, Patologia e Pediatria. Portanto, o Hospital é o laboratório de estudo dos universitários da autora. Ademais disso, ainda há o Hospital Veterinário, pois os animais merecem carinho e dedicação, principalmente no que diz respeito à saúde. No Hospital Veterinário da Ulbra, alunos e professores de graduação e da Residência Médica Veterinária participam das aulas práticas e realizam projetos de pesquisa e extensão. Além de atuar como clínica-escola, o Hospital Veterinária está de portas abertas, disponibilizando atendimento clínico e cirúrgico, internação, odontologia, oncologia, fisioterapia e acupuntura em animais de pequeno, médio e grande porte. No local, funcionam os laboratórios de análises clínicas, microbiológicas, parasitológicas, biotecnológicas, histopatológicas e o único centro de diagnóstico por imagens em clínica veterinária no Rio Grande do Sul, contando com um aparelho de tomografia. Projetos de extensão universitária estão incluídos nos programas de aprimoramento acadêmico onde se encontram: Projeto Castração de Pequenos Animais, Projeto Odonto e Projeto Equinos, sendo oferecidos à comunidade com valores diferenciados. Afora esses dois tópicos - Hospital Universitário e Hospital Veterinário, é importante pesquisar no site da ULBRA para perceber a grandeza do complexo e dos serviços prestados. Por exemplo na aba INFRAESTRUTURA E SERVIÇOS prestados aparece, dentre outros: apart-hotel, biblioteca, biblioteca virtual, complexo esportivo, editora ulbra, hemeroteca, laboratórios, museu, rádio, tv, capela e muitos outros serviços, cada qual com suas peculiaridades e envolvimento de pessoas e comunidade. A guisa de colaboração, uma vez que a documentação acostada é volumosa, destaco que na parte do ensino, o quadro de lotação, dos 4.000 empregados e professores, está espalhado da seguinte maneira: - AELBRA - Campus Gravataí/RS - Campus Cachoeira do Sul/RS - Campus Santa Maria/RS - Campus Carazinho/RS Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 - Campus Porto Alegre/RS - EAD ENSINO SUPERIOR – SUL - Campus Canoas - Veterinário Canoas - Campus Torres - Campus Guaíba - Campus São Jerônimo ENSINO SUPERIOR – NORTE - Centro Universitário Santarem – PA - Centro Universitário Manaus – AM - Centro Universitário Palmas – TO ENSINO SUPERIOR – CENTRO-OESTE - Instituto Itumbiara - Campo Exp. Itumbiára EDUCAÇÃO BÁSICA – SUL - Escola Paz – RS - Escola São Marcos - RS - Colégio Cristo Redentor - RS - Colégio São João - RS - Colégio São Lucas - RS Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 - Colégio São Mateus - RS - Escola Especial Concordia - RS - Colégio Martinho Lutero - RS - Colégio São Pedro – RS EDUCAÇÃO BÁSICA – CENTRO-OESTE - Colégio Antares – GO - Colégio Aplicação – GO EDUCAÇÃO BÁSICA – NORTE - Colégio São Paulo – RO - Colégio Cristo Salvador – PA - Colégio Palmas – TO - Colégio Concordia de Manaus – AM Percebe-se, assim, de modo mais claro, a extensão dos efeitos da decisão a ser lançada e, para situações excepcionais e peculiares, como é o caso retratado, há a necessidade de um olhar também especial. 4.1. Relatório Social da Instituição – exercício 2018 - A leitura do relatório social da empresa – exercício de 2018, a análise de sua atuação de mercado e a avaliação de sua importância no Estado e região, infirma categoricamente a conclusão de que não se pode abrir mão de tentar salvar o empreendimento societário da autora diante da magnitude e o tamanho da importância que a mesma representa para a economia local, estadual e, quiçá nacional. Destaquei esse tópico a fim de estruturar o pensamento no sentido de evidenciar a importância social da autora. Contudo, confesso e admito minha incapacidade de fazê-lo em breves linhas, por isso, sem embargo, remeto meus eminentes colegas à leitura do RELATÓRIO SOCIAL/2018, encartado na documentação acostada à exordial, onde estão condensadas as linhas mestras da atuação e a penetração da Instituição não só no Rio Grande do Sul, mas, sobretudo, no País. Essa dimensão de conjunto e do todo é imprescindível para Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 6ª Câmara Cível 5000461-37.2019.8.21.0008 22513 .V46 uma tomada de decisão e, justamente daí, desse cotejo, é que enxergo como atomística e puramente formalista a exigência dos dois anos de exercício societário preconizada no art.48, caput, da Lei Federal n.11.101/2005, quando, na verdade, a história de vida da instituição se confunde com a própria história do ensino e educação no Rio Grande. É claro que esse requisito temporal pode ser afastado e encaminhar, via processamento da recuperação judicial, a salvação dessa Instituição de Ensino. Pode ser a última tentativa, antes da falência total, mas é imprescindível que agimos com menos rigor na exegese formal, dando vida e utilidade prática e preponderância aos fins elencados no art.47 da LRJ. Com efeito, este é o caso clássico de aplicação do art.47 da Lei Federal n.11.101/2005, pois a função social e o estímulo à atividade econômica transbordam das provas dos autos. O caso presente é a hipótese legal clássica e típica da necessidade da concessão da recuperação judicial diante da gigantesca função social, mas, sobretudo, para permitir a manutenção da fonte produtora, para manter os empregos diretos e indiretos e para permitir e viabilizar a superação da crise financeira com a adimplência dos credores, pois a crise é essencialmente econômica e não mais operacional. Nos termos do art. 52 da Lei 11.101/05, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial quando julgar em termos a documentação reclamada no art. 51 do mesmo diploma legal. Dentro do extenso rol constante do referido dispositivo está a exigência de apresentação da certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, do ato constitutivo atualizado e das atas de nomeação dos atuais administradores. Dessa forma, é na fase postulatória que se examina a empresa qualificação jurídica necessária para requisição do benefício, conforme ensina FÁBIO ULHOA COELHO, de novo, com precisão de cirurgião, (Comentários à Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas, 5ª ed - São Paulo: Saraiva, 2008, p. 153 e 154), in verbis: "Estando em termos a documentação exigida para a instrução da petição inicial, o juiz proferirá o despacho mandando processar a recuperação judicial. Note-se que esse despacho, cujos efeitos são mais amplos que os da distribuição do pedido, não se confunde com a ordem de autuação ou outros despachos de mero expediente. Normalmente, quando a instrução não está completa e a requerente solicita prazo para emendá-la, a petição inicial recebe despacho com ordem de autuação e deferimento do pedido. Estes atos judiciais não
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