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A vingança adormecida Ano: 1996 Diretor: Barry Levinson. Com: Kevin Bacon, Robert De Niro, Jason Patric, Brad Pitt, Dustin Hoffman, Bruno Kirby. Roteiro, baseado no livro de Lorenzo Carcaterra. Resumo da obra: O filme se baseia na história de quatro meninos, os quais viviam no bairro de Hell 's Kitchen, conhecido por ter a “justiça da rua”. O início do filme conta a infância dessas pequenas crianças, que vivem em um contexto familiar conturbado: uma delas vê frequentemente sua mãe sofrendo violência doméstica e outra, possui um padrasto que a agride fisicamente. Como válvula de escape a possível dor, os meninos aprontam nas ruas roubando cachorros-quentes, “arrumando confusão” ou jogando beisebol e basquete. Entre esses conflitos, um padre é o grande conselheiro, o qual tenta solucionar as pequenas aventuras. Além disso, ele os acompanha nas missas e desenvolve um grande afeto(paternal) pelas crianças. Já a problemática ocorre justamente quando essas crianças tentam furtar um carrinho de cachorro quente e após o ato, acabam o derrubando em uma escadaria e atingindo, acidentalmente, um homem que passava no local. Essa questão é levada ao tribunal e a sentença é dada como até dezoito meses e não menos que um ano de convívio no reformatório Wilkinson. Nesse reformatório, os meninos residem os piores momentos de suas vidas. É nele que acontecem todas as torturas psicológicas, físicas e os abusos sexuais promovidos pelos quatro guardas do local. Como demonstrado no longa-metragem, o pior de tudo é o modo sádico, impiedoso e violento que os estupros são realizados. Dia após dia e noite após noite, os jovens convivem com os seus abusadores e passam a registrar traumas extremamente pesados que o marcaram até os 30 anos, visto que nenhum deles ultrapassa essa idade. Ademais, os efeitos visuais e sonoros aumentam o drama das cenas intercaladas em cronológicas e flashbacks. É retratado os relatos das vítimas que repetem que o melhor não é falar sobre o que ocorre, mas sim esconder os sentimentos e fingir que nunca ocorreu. As sensações de vergonha e medo são comuns, a ausência de contato visual também. O filme não peca em demonstrar o quão grave são as consequências de uma infância renegada e dolorida, marcada por tortura do corpo e da mente. Retomando o enredo, apesar de todo o sofrimento, um livro motiva a luta pela vida dos meninos: “O conde de Monte Cristo”. A vingança retratada na obra literária serve de combustível para a batalha que enfrentarão no instante em que saírem da “prisão”. Quando a tão almejada saída ocorre, dois dos moços se tornam assassinos de aluguel, outro estuda direito e se torna advogado e o último, é responsável por publicar o horário dos filmes do cinema. Certa noite, os matadores de aluguel encontram em um bar um dos guardas que os abusava e movidos pelo desejo da vingança, matam-o com tiros. Este crime os leva ao tribunal novamente, mas dessa vez seu amigo advogado planeja um modo de saírem “inocentes” do caso e conquistarem a revanche dos outros três estupradores. Por isso, o filme passa a focar no quesito do julgamento do caso e aos poucos, os outros abusadores sofrem as devidas consequências: dois são assassinados por outras pessoas e outro é descrito como acusado de matar o companheiro de trabalho, sob a justificativa de uma vingança (suspeita que seu filho havia sido abusado pelo amigo). Bem como, no meio do tribunal os horrendos casos são revelados ao júri por meio do advogado de defesa (alcoólatra) que conduz o interrogatório com base no plano. O fim é esperado: todos recebem a vingança e acabam vivendo vidas frustrantes e amargas. Os traumas permaneciam, só o desejo de retaliação que foi saciado. A justiça da rua e a da lei foram cumpridas conforme suas condições. Criminalidade e poder disciplinar: Ainda referente ao longa metragem, é possível identificar a ineficácia do sistema de reformatórios. Os detentos, que tecnicamente deveriam retornar a sociedade como pessoas melhores, saem da instituição com um desejo ainda maior de vingança e ódio. A punição do modo visto no longa, não traz melhorias, mas sim traumas e a presença de vigilantes mal-intencionados piora a situação. Não há ressocialização, há destruição do corpo e da mente dos jovens do reformatório. Minha opinião: O script é tenso e dramático, cumprindo totalmente o esperado. Já a parte visual e sonora são impecáveis, o que explica a indicação ao Oscar de melhor trilha sonora. Acredito que trazer sob a ótica cinematográfica os casos de violência física e sexual demonstram o quanto cruel é a realidade. Constantemente são feitas fugas e tentativas de esquecer os problemas que assombram a sociedade. Ao ser trazido às telas, o diretor dá voz a todos aqueles que passaram pelas mesmas situações e tiveram o temor e a vontade de dar revanche pelo martírio que padeceram. Além da pedofilia e da violência, o debate é aberto ao ditado “Olhos por olhos, dentes por dentes”. Discretamente, há uma apologia à legitimidade da justiça com as próprias mãos, visto que se as vítimas tivessem ignorado a situação, seus abusadores não teriam nenhuma penitência. Por fim, destaco o quão essencial é combater a violência, principalmente quando se trata de crianças. Traumas perduram durante toda vida e dificilmente são deixados no passado. Proteger as crianças significa dar a oportunidade de se tornarem cidadãos saudáveis e bons. Uma infância traumática gera um adulto turbulento e possivelmente, criminoso.
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