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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: HISTÓ-
RIA DO BRASIL COLONIAL 
E IMPERIAL 
 
Caroline Garcia Mendes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite 
 Fernanda Cristine Barbosa 
 Guilherme Prado Salles 
 Lívia Batista Rodrigues 
Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Eliza Perboyre Campos 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor. 
 
 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
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teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor-
dado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im-
portantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de determi-
nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques-
tões citadas em cada unidade, associando-o a suas 
ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi-
ano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
SUMÁRIO 
DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E IMAGINÁRIO CULTURAL ................. 7 
1.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7 
1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS ....................................................................................... 7 
1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE ........................................ 7 
1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES .............................................................................. 9 
1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS ............................................................................... 9 
1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA ............................................................. 11 
1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL .................................................................................... 12 
1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO .................................................................. 14 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 16 
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO TERRITÓRIO .............. 18 
2.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18 
2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO ... 19 
2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” ............................................... 20 
2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR ............................................................................... 23 
2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO .............................. 25 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 28 
O CONTINENTE AFRICANO E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .................... 31 
3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 31 
3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO .............................................................. 31 
3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO .... 34 
3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL ......... 38 
3.5 QUILOMBO DE PALMARES ................................................................................. 39 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 42 
A DESCOBERTA DE OURO NAS MINAS ................................................... 45 
4.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 45 
4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE ......................................... 45 
4.3 UMA SOCIEDADE IMPROVISADA ...................................................................... 49 
4.4 A DESCOBERTA DE DIAMANTES E O GOVERNADOR DOM LOURENÇO ......... 52 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 56 
SOCIEDADE E REVOLTAS COLONIAIS .................................................... 59 
5.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 59 
5.2 COTIDIANO NA COLÔNIA ................................................................................ 59 
5.3 O PÚBLICO E O PRIVADO: O DOMICÍLIO E A FAMÍLIA .................................... 60 
5.4 LÍNGUA E ENSINO NA COLÔNIA ...................................................................... 62 
5.5 A RELIGIÃO NO BRASIL ...................................................................................... 63 
5.6 REVOLTAS COLONIAIS ....................................................................................... 65 
5.7 REVOLTAS NATIVISTAS ....................................................................................... 66 
5.8 REVOLTA DE BECKMAN (1684-5 MARANHÃO) ................................................ 66 
5.9 GUERRA DOS MASCATES (1710, PERNAMBUCO) ............................................ 67 
5.10 REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS (MINAS GERAIS, 1720) ................................ 68 
5.11 REVOLTAS SEPARATISTAS ................................................................................... 69 
5.12 INCONFIDÊNCIA MINEIRA (MINAS GERAIS, 1789) .......................................... 70 
5.13 CONJURAÇÃO DOS ALFAIATES (BAHIA, 1798) ............................................... 71 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 74 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O PROCESSO E INDEPENDÊNCIA ........... 77 
6.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 77 
6.2 CONJUNTURA MUNDIAL .................................................................................... 77 
6.3 A FAMÍLIA REAL NO BRASIL ............................................................................... 79 
6.4 REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817) ............................................................ 81 
6.5 DOM JOÃO: A ACLAMAÇÃO E O RETORNO A PORTUGAL ............................ 82 
6.6 A PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA ......................................................... 83 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 86 
OS PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL IMPERIAL ......................................... 89 
7.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 89 
7.2 OS PRIMEIROS ANOS .........................................................................................89 
7.3 ASSEMBLEIA CONSTITUINTE ............................................................................... 91 
7.3.1 A Constituição de 1824 .................................................................................92 
7.3.3 O que é ser brasileiro na nova Constituição? ...................................... 94 
7.4 CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR (1824) .......................................................... 96 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 98 
PRIMEIRO REINADO E CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO ........................ 101 
8.1 A LEGISLAÇÃO APÓS A CONSTITUIÇÃO........................................................ 101 
8.2 OPOSIÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA .................................................................... 102 
8.3 PROBLEMAS INTERNOS E EXTERNOS: ABDICAÇÃO DE DOM PEDRO ............ 105 
FIXANDO CONTEÚDO ...................................................................................... 108 
PERÍODO REGENCIAL ............................................................................ 111 
9.1 LIBERAIS MODERADOS NO PODER ................................................................. 111 
9.1.1 AS REFORMAS LIBERAIS ........................................................................... 112 
9.2 AS REVOLTAS REGENCIAIS .............................................................................. 115 
9.3 REFORMAS, RUPTURA E O FIM DO PERÍODO REGENCIAL .............................. 120 
FIXANDO CONTEÚDO ...................................................................................... 123 
POLÍTICA E ECONOMIA NO SEGUNDO REINADO ............................... 126 
10.1 LUZIAS E SAQUAREMAS NO PODER ................................................................ 126 
10.2 A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO CAFEEIRA ...................................................... 129 
10.2.1 Auge e declínio no Vale do Paraíba e a expansão para o Oeste 
Paulista ...................................................................................................... 131 
10.3 SURTO INDUSTRIAL E URBANIZAÇÃO .............................................................. 132 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 136 
ESCRAVIDÃO E IMIGRAÇÃO ................................................................ 139 
11.1 A ESCRAVIDÃO NO BRASIL ............................................................................. 139 
11.1.1 Fim do tráfego negreiro ......................................................................... 141 
11.2 IMIGRAÇÃO E SISTEMA DE PARCERIAS .......................................................... 143 
11.2.1 Imigrantes e a urbanização .................................................................. 146 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 147 
GUERRA DO PARAGUAI E A CHEGADA DA REPÚBLICA ...................... 151 
12.1 GUERRA DO PARAGUAI .................................................................................. 151 
12.1.1 Os países envolvidos na guerra ............................................................ 153 
12.1.2 A aliança e a guerra .............................................................................. 154 
12.2 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO ......................................................................... 157 
UNIDADE 
06 
UNIDADE 
07 
UNIDADE 
08 
UNIDADE 
09 
UNIDADE 
10 
UNIDADE 
11 
UNIDADE 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 163 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 166 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 168 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E 
IMAGINÁRIO CULTURAL 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
Seja bem-vindo à primeira unidade de nosso livro sobre História do Brasil Colô-
nia . Nela começaremos nossa caminhada no conhecimento acerca do período Co-
lonial que é muito importante para a história do nosso país. Esse trajeto se inicia ainda 
em Portugal, onde iremos conhecer um pouco mais sobre como esse pequeno país 
se transformou em centro de um dos grandes impérios dos séculos XVII e XVIII. Como 
uma nação com cerca de um milhão de habitantes chegou à América, à África e à 
Ásia, estabelecendo centros administrativos, locais de produção de mercadorias e 
se instalando em diferentes partes do mundo? É o que pretendemos responder na 
primeira parte dessa unidade. 
A seguir traremos uma provocação: o que significava para aquelas pessoas 
chegar a um local ainda inexplorado e já habitado como a América? No interior do 
imaginário medieval e religioso, os portugueses pensaram ter encontrado o Éden ao 
mesmo tempo em que se deparavam com monstros fantásticos que povoavam as 
histórias desde a época clássica. Como lidar com esse novo território e seu povo a 
partir desses pensamentos? Veremos tudo isso nas páginas que se seguem. Não se 
esqueça de responder às questões de fixação ao fim do livro. 
 
1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS 
Para compreendermos como se desenvolveu a relação entre Portugal e seus 
domínios no além-mar, voltaremos nossa análise para antes da chamada “expansão 
ultramarina” portuguesa. Veremos então como se deu a unificação desse reino, as 
principais características que levaram a Coroa e a burguesia a buscarem um novo 
caminho para as Índias e a chegada à América. 
 
1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE 
Diferente da maioria dos atuais países europeus, Portugal teve uma unificação 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
precoce e desde o século XIII possuía basicamente o mesmo território dos dias de 
hoje. Isso se deveu a uma série de conflitos envolvendo o reino de Leão e Castela – 
donos iniciais da parte oeste da Península Ibérica – e a família de Borgonha, nome-
ada para governar o Condado Portucalense (entre os rios Douro e Minho) no ano de 
1096. Menos de um século depois seu herdeiro, Dom Afonso Henriques era aclamado 
rei de Portugal após importante vitória contra os mouros na Batalha de Ourique 
(1139), cuja independência fora reconhecida oito anos depois por Leão e Castela no 
tratado de Zamorra. Iniciava-se, assim, a primeira dinastia do reino português, com 
sede em Coimbra. 
 
 
 
Com o sul da região tomado pelos mouros, os reis portugueses envolveram-se 
em várias batalhas que duraram muitos anos com o intuito de expulsar quem consi-
deravam invasores e conquistar esses territórios. Em 1249, Dom Afonso III concluía a 
conquista da região do Algarve, extremo sul da Península e no fim do mesmo século 
a língua portuguesa era adotada como oficial e as fronteiras com Leão e Castela já 
estavam estabelecidas. Os conflitos com os castelhanos, porém, continuariam a 
ocorrer e no decorrer dos séculos importantes investidas aconteceriam do outro lado 
da fronteira no intuito de retomar o reino português para suas posses. Uma nova ten-
tativa de reunificar os reinos levou à mudança da dinastia no poder no reino portu-
guês com a ascensão de Dom João I de Avis. Na batalha de Aljubarrota (1385), Por-
tugal derrotou os castelhanos e garantiu sua independência diante de Leão e Cas-
tela. Será essa dinastia que irá lançar-se às Grandes Navegações, cujas caravelas 
aportarão na pequena ilha que se mostrará um continente de grandes proporções 
anos depois. 
Batalha de Ourique: A batalha ocorrida em 1139 entrou para o imaginário português de-
pois que o testamento de Dom Afonso Henriques foi encontrado no Cartório Real do Mos-
teiro de Alcobaça no ano de 1596. Segundo o documento, Jesus Cristo teria aparecido 
para Afonso enquanto o exército português acampava às vésperas da grande batalha. 
Cristo teria ditoque estava ali para “fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os 
princípios de teu Reino sobre pedra firme [...]” (LIMA, 2010, p. 101). A fundação de Portugal, 
assim, é marcada por um milagre que povoará o imaginário português ao longo dos sé-
culos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES 
A luta contra os mouros que moveu o reino português rumo ao sul não parou 
com a conquista do Algarve, mas continuou em direção ao norte da África che-
gando a Ceuta no ano de 1415. Iniciava-se ali a expansão portuguesa que chegaria 
três anos depois ao arquipélago da Madeira. Holanda (2007) enumera o caminho 
percorrido pelas caravelas portuguesas nos anos subsequentes, que chegaram às 
ilhas Canárias (domínio espanhol), ao Açores no ano de 1431 e três anos mais tarde 
ultrapassavam o cabo do Bojador: 
 
A falta de interesse, a descrença na possibilidade de lucro imediato 
estariam, efetivamente na origem das hesitações dos portugueses, até 
que, em 1434, Gil Eanes resolveu ultrapassar o Bojador, marcando 
nova etapa ao reconhecimento da costa da África (HOLANDA, 2007, 
p. 35). 
 
É certo que a busca por metais preciosos e a cobiça por escravos foi o que 
moveu os primeiros descobrimentos portugueses na costa africana. Holanda (2007) 
identifica que, além da mão de obra, aquelas embarcações buscavam apropriar-se 
de diferentes mercadorias de alto valor na Europa como o marfim e a malagueta – 
chamado de “grão do paraíso”. Ao final do século XV, Diogo Cão despontava como 
a grande figura da navegação no novo reinado que se iniciara em 1481 com Dom 
João II, chegando ao Zaire e à Angola. Seus esforços são continuados por Bartolomeu 
Dias, que em 1487 finalmente ultrapassa o Cabo das Tormentas (chamado depois de 
Cabo da Boa Esperança) e consegue chegar ao Oceano Índico. Holanda conclui 
que “o eixo do comércio mundial se prepara, assim, para deixar as margens do Me-
diterrâneo em favor do Atlântico. Esse deslocamento só se processará, contudo, no 
decorrer do século XVI”. 
 
1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS 
De que maneira um pequeno reino como Portugal foi o responsável por tantas 
descobertas de maneira tão precoce? Algumas considerações podem ser aqui elen-
cadas. Em primeiro lugar, como vimos, a unificação do reino português ocorreu muito 
antes que a maioria dos demais países, o que levou a uma organização de governo 
e centralização que contribuíram sobremaneira para a atividade. A localização do 
reino no extremo ocidente do continente europeu é outro ponto a ser considerado, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
com enorme área litorânea que facilitava a saída para o mar. 
De acordo com Holanda (2007), a glória dos descobrimentos foi durante muito 
tempo quase exclusivamente associada à figura do Infante D. Henrique, que se fixara 
na ponta de Sagres, no Algarve, para melhor gerir o movimento. Ainda que para essa 
localidade tenham se dirigido importantes estudiosos e práticos da arte da navega-
ção, o historiador afirma que não foi fundada ali uma escola, como durante muito 
tempo diversos estudiosos afirmaram. Mesmo assim, foi de extrema importância o pa-
pel daquele local no desenvolvimento da expansão marítima. 
 
 
 
Acerca dos progressos da marinha na época dos descobrimentos, os portu-
gueses contribuíram ainda com a arquitetura naval, desenvolvendo a caravela 
como um meio mais apropriado de navegação do que as primitivas barcas ou os 
barinéis. 
A utilização das caravelas nas expedições rumo à África começou no ano de 
1441. Segundo Holanda (2007, p. 38) “trata-se de embarcação ligeira, de pequeno 
calado, apta a aproximar-se de terra sem maior perigo. Isso a indica especialmente 
para as expedições em mares incógnitos”. 
Ainda sobre os progressos técnicos que ocorrem no período, a maneira de lo-
calizar-se em alto mar também sofreu modificações. Antes, as chamadas “cartas de 
marear” não indicavam longitude ou latitude, apenas rumos e distâncias, o que fazia 
com que, em alto mar, marinheiros e comandantes guiassem-se apenas por obser-
vações e estimativas precárias. O aperfeiçoamento de instrumentos como o astrolá-
bio e o quadrante em finais do século XV auxiliou, assim, no progresso das navega-
ções no período. 
 
[...] consideramos justo admitir que a iniciativa não partiu de qualquer 
particular: efetivamente, para que se encetasse e prosseguisse, poder-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
se-ia julgar indispensável uma prévia acumulação de capitais em es-
cala não reduzida, de maneira a manter uma despesa que não se 
sabia quando seria compensada por futuros proventos. Tanto assim 
que o primeiro ato da expansão portuguesa só pelo Estado pôde ser 
organizado [...]não existe, por conseguinte, uma diretriz única de ex-
pansão. Na convergência das necessidades de expansão comercial 
para a burguesia e de expansão guerreira para a nobreza reside plau-
sivelmente a causa dos descobrimentos e conquistas (GODINHO, 
1944, p. 85). 
 
Como podemos, há certo consenso em compreender que a iniciativa dos des-
cobrimentos não foi individual, mas coletiva: era necessário o acúmulo financeiro que 
vinha não só da Coroa, mas também dos mercadores para dar conta de um empre-
endimento de alto custo e sem perspectivas imediatas de retorno. Além disso, os no-
bres portugueses almejavam ganhar batalhas e conquistar territórios para ascender 
através de títulos e mercês pelos serviços prestados à Coroa. O litoral africano foi o 
primeiro passo em que todos esses anseios se convergiram, levando ainda às Índias 
para depois se deparar com uma terra até então desconhecida pelos europeus. 
 
1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA 
O navegador genovês chamado Cristóvão Colombo procurou o rei português 
pedindo navios para realizar uma expedição, um pedido que foi recusado por Dom 
João II. Anos depois, em 1493, passava por Lisboa em direção à Castela o mesmo 
navegador, com notícias de que havia encontrado ilhas desconhecidas à ocidente 
e levando a informação ao rei que financiara sua expedição, o de Castela. Trazia 
consigo nativos que lembravam mais os naturais das Índias do que os da Guiné. O 
abalo de Dom João II com a notícia se agravara ao saber que pouco tempo depois 
três Bulas papais concediam de fato o direito daquelas terras à Castela, traçando 
um meridiano a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde. Discordando 
do que foi proposto pelo papa Alexandre VI, novas negociações foram realizadas e 
o Tratado de Tordesilhas (1494) assinado, no qual um meridiano a 370 léguas a oeste 
das ilhas de Cabo Verde delimitava que as terras que estivessem a ocidente seriam 
castelhanas e a oriente, portuguesas. 
Dom Manuel, sucessor de Dom João II, é quem veria a expansão marítima se 
consolidar. Em julho de 1497, Vasco da Gama partiu do rio Tejo com quatro embar-
cações e ao fim do mesmo ano dobrava o Cabo da Boa Esperança, chegando em 
seguida a Moçambique, Melinde, Mombaça, e alcançando Calecute. Vasco da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
Gama colocava Portugal, assim, em contato direto com as especiarias, com as pe-
dras preciosas e com o ouro, conquistando o monopólio desses produtos na Europa: 
“a abertura da rota marítima das Índias assume, assim, importância verdadeiramente 
revolucionária na época [...]” (HOLANDA, 2007, p. 42). 
A empolgação do novo trajeto fez com que muitos navegantes buscassem 
percorrer o mesmo caminho, e um deles sairia do rio Tejo no dia 9 de março com 13 
caravelas rumo às Índias. No caminho, porém, Pedro Álvares Cabral chegaria no dia 
22 de abril à terra que chamou de Vera Cruz, local em que aportaria e em que seria 
realizada a primeira missa do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha, escritor que 
participava da viagem, é considerada a Certidão de Nascimento do nosso país. So-
bre os nativos que avistaram de suas embarcações, Caminha escreveu: 
 
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas ver-
gonhas. Nas mãostraziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos so-
bre o batel [...]. Um deles deu-lhes um sombreiro de penas de ave, 
compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como 
de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, 
miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o 
Capitão manda a Vossa Alteza [...] (VAZ DE CAMINHA, 1500, p. 02) 
 
Como vimos com a citação da carta de Pero Vaz de Caminha, a partir do 
contato, os portugueses tiveram muitas dúvidas: que terras eram essas, tão distantes 
e encontradas “por acaso”? Quem eram essas pessoas que não conheciam seu Deus 
e viviam em pecado? Assim como Caminha compara os objetos indígenas que pos-
suíam contas brancas com a aljaveira (uma árvore com sementes utilizadas como 
contas na Europa), toda a relação entre portugueses e nativos será baseada nos 
pensamentos que os europeus já traziam consigo: tudo será interpretado a partir de 
seus próprios valores e durante muito tempo o homem europeu não conseguirá ver 
os nativos como seus iguais. A seguir, vamos ver como alguns desses valores fantásti-
cos e religiosos afetaram a maneira como os portugueses viam as novas terras. 
 
1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL 
Tema muito comum na literatura europeia, a busca pelo paraíso na Terra en-
contrará terreno fértil a partir da chegada às terras desconhecidas. Todo o imaginário 
de monstros, sereias e deuses que remetem à Antiguidade também acompanhou 
capitães e marinheiros rumo ao Novo Mundo. 
De acordo com a Souza (1986, p. 24), “todo um universo imaginário acoplava-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
se ao novo fato, sendo, simultaneamente, fecundado por ele: os olhos europeus pro-
curavam a confirmação do que já sabiam, relutantes ante o reconhecimento do ou-
tro”. 
A historiadora explica que, se antes o Índico possuía um grande papel no ima-
ginário fantástico europeu, após várias viagens e aumento do conhecimento sobre 
ele, “[...] o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu qua-
trocentista [...]” (SOUZA, 1986, p. 26), desde reduto de criaturas monstruosas até o 
Paraíso na Terra. A aventura marítima, assim, se desenvolveu sob a influência do ima-
ginário europeu na vertente positiva, mas também na negativa, pois religiosos como 
frei Vicente de Salvador interpretavam o Novo Mundo como um local demoníaco. 
Apesar disso, o predomínio dentre os desbravadores que chegavam era de que essa 
região poderia ser o Paraíso na Terra. 
 
Era, pois, generalizada, sobretudo entre eclesiásticos, a ideia de que o 
descobrimento do Brasil fora ação divina; de que, dentre os povos, 
Deus escolhera os portugueses [...] Ação divina, o descobrimento do 
Brasil desvendou aos portugueses a natureza paradisíaca que tantos 
aproximariam do Paraíso Terrestre: buscavam, assim, no acervo imagi-
nário, os elementos de identificação da nova terra. Associar a fertili-
dade, a vegetação luxuriante, a amenidade do clima às descrições 
tradicionais do Paraíso Terrestre tornava mais próxima e familiar para 
os europeus a terra tão distante e desconhecida (SOUZA, 1986, p. 35). 
 
 
 
Uma das missões dos “descobridores” portugueses, assim, seria a de catequizar 
os nativos do Novo Mundo, já que a expansão da fé e a colonização caminhavam 
juntas no imaginário europeu. A edenização da natureza foi acompanhada pela 
desconsideração do nativo, visto enquanto bárbaro e demoníaco e, portanto, passí-
vel de ser inclusive escravizado – tempos depois os jesuítas se organizaram contra isso, 
indo de encontro a grupos que buscavam manter seus privilégios de escravizar os 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
naturais da terra. 
 
1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO 
A população ameríndia que povoava todo o território onde os portugueses 
chegaram era bastante heterogênea, sendo impossível falarmos em uma “cultura 
indígena”. Havia dois grandes blocos que dividiam essa população: os tupis-guaranis 
e os tapuias. De acordo com Fausto (2015), os tupis-guaranis habitavam quase toda 
a costa brasileira, desde o Ceará até o extremo sul. Em alguns pontos do litoral havia 
ainda a presença de outros grupos indígenas, como os Goitacazes, os Aimorés e os 
Tremembés, todos denominados pelos tupis-guaranis de tapuias, ou seja, indígenas 
que falavam uma língua diferente. 
As informações que temos nos dias de hoje sobre essa grande população 
ainda são muito escassas e baseadas em sua maioria nos relatos de religiosos e via-
jantes da época. Isso faz com que os nativos fossem divididos entre “bons” e “ruins” 
conforme sua afinidade ou desavença em relação aos portugueses. Os grupos tupis 
praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutos e a agricultura. Plantavam feijão, 
milho, abóbora e principalmente mandioca, influenciando a alimentação da colônia 
com a farinha dessa raiz. Viviam em grupos separados, mas mantinham contato com 
outras aldeias para a troca de mulheres e bens de luxo, o que resultava em alianças, 
mas também em conflitos e guerras (FAUSTO, 2015). 
 Segundo Fausto (2015), assim como na América espanhola, a chegada dos 
portugueses representou uma catástrofe para a população nativa. Os conflitos entre 
as aldeias também significaram alianças entre europeus e indígenas na submissão 
dos grupos inimigos. O contato com os portugueses trouxe violência, epidemias de 
doenças desconhecidas até então e morte. De milhões de moradores nativos na 
América portuguesa, hoje encontramos cerca de 250 mil indígenas no Brasil, que 
ainda sofrem com falta de políticas públicas para a manutenção de suas terras e 
para que suas culturas sejam preservadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O documentário “Caravelas e Naus: um choque tecnológico no século XVI” produzido 
pela Panavideo Produções traz a visão de diferentes pesquisadores que nos ajudam a 
desvendar como ocorreram os avanços tecnológicos do século XVI que transformaram 
Portugal em um dos maiores impérios ultramarinos daquela época. Você verá como 
eram construídas as caravelas e suas vantagens diante das outras embarcações do 
período. Disponível em: https://bit.ly/2CFxgtR. Acesso em: 12 out. 2020; 
 “O Descobrimento do Brasil” é um debate que foi ao ar no 22/04/2016 pela TV Cultura, 
onde você pode assistir dois especialistas discutindo sobre diferentes questões relativas 
ao descobrimento/ conquista do atual Brasil. Disponível em: https://bit.ly/39jUGkh. 
Acesso em: 12 out. 2020; 
 Leia o artigo “Descobrimento do Brasil: ‘achamento’ do país tropical”. Neste artigo, Ve-
rardi (2018) discorre sobre as grandes navegações portuguesas e a conquista perpe-
trada por eles no atual Brasil. Ela trata ainda da nomenclatura utilizada ao longo do 
tempo: se já existiam habitantes, como chamar de ‘descobrimento’? Disponível em: 
https://bit.ly/32Lhbh0. Acesso em: 12 out. 2020; 
 Assista ao 1º episódio da série de documentários “Guerras do Brasil Episódio: 1 “Guerras 
de Conquista”. Nesse episódio você poderá entender melhor como era a cultura dos 
indígenas tupi-guarani e como foi o contato com os portugueses. Além da entrevista 
de antropólogos e historiadores, o documentário também traz diversas imagens e do-
cumentos para explicar esse momento da nossa História. Disponível em: 
https://bit.ly/3ho9vFl. Acesso em: 12 out. 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Leia as asserções abaixo que exibem os motivos para o pioneirismo português nas 
Grandes Navegações: 
 
I. A unificação precoce do reino. 
II. A tradição milenar que remete aos romanos. 
III. O interesse da Coroa. 
IV. Os avanços tecnológicos. 
V. A geografia. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) I,III,IV e V. 
b) II,III e IV. 
c) I e III. 
d) IV e V. 
e) II apenas. 
 
2. Quais eram os principais interesses dos portugueses ao iniciarem a navegação ao 
redor do litoral africano? 
 
a) Escravos e mercadorias valiosas para a Europa. 
b)Ouro e colonizar o continente. 
c) Expulsar os muçulmanos de todo o território. 
d) Estabelecer redes de comércio com os povos africanos. 
e) Catequizar os povos africanos. 
 
3. Antes do Atlântico ser palco do universo fantástico dos europeus, qual era a re-
gião que povoava seu imaginário com criaturas monstruosas e até com o Paraíso 
na Terra? 
 
a) O norte da Ásia. 
b) O sul da África. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
c) O Índico. 
d) A América do Norte. 
e) O atual continente australiano. 
 
4. Como Vitorino Magalhães Godinho entende que se deu a expansão portuguesa? 
 
a) Através de investimentos da Coroa. 
b) Pela busca da nobreza em prestar serviços ao rei. 
c) Com o interesse mercantil da burguesia. 
d) Pela busca de escravos e mercadorias valiosas. 
e) Todas as anteriores. 
 
5. Como se deu o primeiro contato entre os portugueses e o Novo Mundo? 
 
a) De maneira pacífica e ordeira na colonização. 
b) Respeitando a cultura dos nativos e aprendendo com eles. 
c) Com os portugueses impondo sua visão de mundo europeia. 
d) Assimilando a cultura nativa para conviver melhor em terras estranhas. 
e) Com a admiração portuguesa diante de um mundo perfeito. 
 
6. Fausto divide os indígenas nativos do Brasil entre tupis-guaranis e tapuias. De 
acordo com o historiador, por que os tupis denominavam o outro grupo indígena 
de tapuias? 
 
a) Porque tapuia significa “antropófago”, ou seja, que come carne humana. 
b) Porque todos que eram inimigos dos tupis eram chamados por eles de tapuias. 
c) Porque tapuia remetia à região que esses grupos ocupavam. 
d) Porque tapuia significava que esses grupos não falavam tupi. 
e) Porque o português estabeleceu essa diferença entre os dois grupos e os tupis 
assimilaram a nomenclatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E 
ECONÔMICA DO TERRITÓRIO 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
Na segunda unidade de nosso livro, iremos discorrer sobre como a Coroa por-
tuguesa organizou sua colônia no continente americano. Assim, trataremos em pri-
meiro lugar da divisão do território em capitanias hereditárias e depois do envio de 
governadores-gerais para administrarem o Estado do Brasil. Em seguida, aprendere-
mos sobre a importância da “cidade da Bahia”, atual cidade de Salvador, na cen-
tralização da administração da Coroa de Portugal. Veremos ainda como se estabe-
leceram os primeiros engenhos de açúcar (Figura 1) em Pernambuco e na Bahia e 
a inserção desse produto na economia europeia. Você compreenderá, assim, a es-
colha da Bahia como sede do governo geral e a preponderância de Pernambuco 
como maior produtor açucareiro do período. 
Nos primeiros trinta anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral, foram re-
alizadas apenas viagens esporádicas ao novo território para a extração de pau-bra-
sil. Com receio de que outras Coroas europeias tomassem a região recém-desco-
berta, o rei português começa a pensar em maneiras de povoar o território. A pri-
meira tentativa de estabelecer seus domínios no continente americano começou 
com as capitanias hereditárias. 
 
Figura 1: Engenho de Itamaracá 
 
Fonte: Herkenhoff (1999, p. 252) 
 
 
 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
encon-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO 
Após a divisão do novo continente entre Portugal e Espanha com o Tratado 
de Tordesilhas, entre os anos 1534 e 1535 o rei português Dom João III dividiu o novo 
território em quinze lotes denominados capitanias hereditárias – sistema já empre-
gado nas ilhas do Atlântico e que havia alcançado bons resultados. Todas as capi-
tanias receberam a mesma carta de doação e o mesmo foral: enquanto a carta de 
doação detalhava a questão jurídica da doação de fato e especificava o nome do 
favorecido e o direito desse e de seus sucessores, o foral trazia as regras gerais de 
natureza econômica, fiscal, militar e administrativa (KAHN, 1972). 
A partir desses documentos, os capitães-donatários e seus herdeiros (por isso 
a denominação de “hereditária”) teriam total direito sobre as terras, ainda que elas 
continuassem pertencendo à Coroa portuguesa. Poderiam distribuir pequenos lotes 
denominados sesmarias e fundar vilas, além de possuir o monopólio da navegação 
fluvial, das moendas e engenhos. Deveriam ainda exercer o comando militar, fisca-
lizar o comércio e aplicar ou delegar o cumprimento da lei (SALGADO, 1985). 
 
Como se observa, o sistema das capitanias hereditárias já implantara 
uma certa base administrativa, que orientaria o donatário, pelo me-
nos, no aspecto legal em sua parceria com a Coroa nessa primeira 
etapa do empreendimento ultramarino, o qual seria caracterizado, 
como vimos, pela ação da política portuguesa na busca da iniciativa 
particular a fim de garantir a sua realização (SALGADO, 1985, p. 51). 
 
Para Salgado (1985), ainda que muitos pesquisadores falem do “fracasso” do 
sistema de capitanias no Brasil, foi com sua instituição que as bases administrativas 
da colônia começaram a ser estabelecidas. Do ponto de vista comercial, foi a partir 
das capitanias de Pernambuco e São Vicente que as possibilidades de exploração 
mercantil da colônia foram vislumbradas. 
Antes do estabelecimento do Estado do Brasil diversas vilas foram criadas 
ainda durante os anos em que vigoravam apenas as capitanias hereditárias. São 
Vicente, por exemplo, foi fundada no ano de 1532 e foi o primeiro município da 
América portuguesa (PUNTONI, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
Figura 2: Mapa Histórico de Luís Teixeira das capitanias hereditárias 
 
Fonte: Cintra (2015, p. 14) 
 
 
 
2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” 
Em mais um ajustamento nas relações entre Portugal e sua colônia, no ano de 
1548 foi instituído no Brasil o governo-geral. Os governadores-gerais eram nomeados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
pelo próprio rei e eram homens socialmente bem qualificados através do nasci-
mento e da prestação de serviços à Coroa. Recebiam cartas-patentes e regimentos 
com todas as regras que deveriam seguir e os poderes que iriam exercer. 
 
 
 
O primeiro governador-geral enviado para o Brasil foi Tomé de Sousa. A partir 
de seu regimento, podemos ler que esse oficial possuía função militar nas áreas de 
defesa interna e externa e poderia atuar também na esfera fazendária (cobrança 
de tributos e fiscalização), ainda que para essa função existisse também o Provedor-
mor, responsável pela administração geral da Fazenda. O governador-geral deveria 
também fiscalizar o cumprimento da lei, sendo que sua aplicação estava a cargo 
do Ouvidor-geral, um funcionário designado pela Coroa (SALGADO, 1985). 
Como podemos ver, a Coroa portuguesa organizou todo o funcionamento 
da colônia a partir da “cidade da Bahia”, atual Salvador, cuja fundação constava 
entre os deveres do primeiro governador-geral do Brasil. 
Para Puntoni (2013), a escolha da Bahia era “quase natural” devido não só à 
sua localização geográfica e às qualidades naturais de baía – que facilitavam sua 
defesa – mas também pela conjuntura do domínio, já que seu donatário (Francisco 
Pereira Coutinho) havia falecido e coube à Coroa portuguesa apenas pagar aos 
seus herdeiros para a retomada da terra. A fundação da cidade foi um grande em-
preendimento logístico e contou com uma equipe de técnicos: 14 pedreiros, 8 car-
pinteiros, caiadores e taipeiros. Pela primeira vez uma capital inteira era transplan-
tada para o outro lado do oceano. 
Conforme os relatos de Gabriel Soares de Souza do ano de 1587, após mandar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
cercar a cidade, o governador fundou a Sé, o colégio dos padres para a Compa-
nhia de Jesus e outras igrejas, e ordenou a construção de diversas casas que iriam 
abrigar os governadores, a Câmara, a cadeia, a Alfândega, etc. No mesmo regi-
mento de Tomé de Souza era possível ler ainda que a povoação das “terrasdo Brasil” 
era necessária para converter “a gente dela” à fé católica. Assim, a cidade de Sal-
vador também foi projetada para desempenhar o papel de centro de missionação. 
A bula para a criação do bispado data do dia 25 de fevereiro de 1551 e o bispo 
escolhido foi Pero Fernandes Sardinha, bispo de Évora (PUNTONI, 2013). 
Com o primeiro governador-geral também vieram os primeiros jesuítas, como 
Manuel de Nobrega, com a função de catequizar os índios e disciplinar um clero 
que já contava com má fama na colônia (FAUSTO, 2015). 
 
Figura 3: Busto em homenagem a Tomé de Sousa 
 
Fonte: Wikimedia Commons (2013, online) 
 
No ano de 1549, a Câmara já funcionava na cidade, composta por um mo-
desto Corpo de oficiais: eram dois juízes ordinários, três vereadores e um procurador. 
Em 1581 foi incluída a figura do mestre, um representante dos ofícios mecânicos. 
Desde o início, o papel da Câmara foi muito importante por reunir os interesses das 
elites econômicas e políticas do Recôncavo, os produtores de açúcar (PUNTONI, 
2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
Salvador, até meados do século XVIII, desempenharia então um pa-
pel central no sistema político do Estado do Brasil. Sua preeminência 
seria mantida pelas relações especiais que seus oficiais mantinham 
com os outros corpos mais elevados da República, e, em particular, 
com o próprio governo geral. Em vários momentos de crise, a Câmara 
de Salvador fora uma das principais protagonistas na política ameri-
cana de Portugal (PUNTONI, 2013, p. 97). 
 
Da mesma forma que a América espanhola, os portugueses no Brasil organi-
zaram sua colônia com a finalidade de fornecer gêneros alimentícios e minérios de 
valor para a metrópole. No litoral começavam a se organizar as grandes proprieda-
des e os engenhos que iriam produzir o açúcar que seria enviado para Portugal. Se 
até 1530 esse território fornecia basicamente pau-brasil para a Europa, após a vinda 
do governador-geral e a fundação de Salvador, a colônia passaria a fornecer uma 
mercadoria de grande valor no mercado europeu. 
 
2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR 
Segundo Schwartz (1988), durante os séculos XV e XVI quase todas as ilhas do 
Atlântico exportavam açúcar para os mercados europeus. A ilha da Madeira, por 
exemplo, era o maior monocultor de açúcar do Ocidente no final do século XV. No 
Novo Mundo, portugueses e espanhóis tinham ciência de que o açúcar provavel-
mente seria o produto mais lucrativo. Mesmo Cristóvão Colombo, que se casara na 
ilha da Madeira, levou mudas de cana-de-açúcar para as Antilhas já em sua se-
gunda viagem, no ano de 1493. 
Apesar de algumas tentativas de engenhos de açúcar nos primeiros anos do 
século XVI, foi apenas entre as décadas de 1530 e 1540 que a produção estabele-
ceu bases sólidas no Brasil. 
De acordo com Schwartz (1988), a cana-de-açúcar foi plantada em todas 
as capitanias, com mudas trazidas da Madeira e de São Tomé. Engenhos foram 
construídos em Porto Seguro, Ilhéus e na Bahia e também houve grande produção 
em São Vicente, ainda que essa região não tenha sido uma importante área açu-
careira durante todo o período colonial – até o século XVII sua produção de aguar-
dente era relevante enquanto produto de troca. 
Pernambuco se tornou a mais bem-sucedida das capitanias. Seu donatário se 
chamava Duarte Coelho e se mudou com toda a família para gerir o povoamento 
e desenvolvimento da colônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
Schwartz (1988) explica que as importantes relações que a família estabele-
ceu com os indígenas através de casamentos com mulheres nativas foram valiosas 
para lidar com a resistência dos nativos. O cunhado do donatário, chamado Jerô-
nimo de Albuquerque foi um dos homens que se casou com uma indígena. As cartas 
de Duarte Coelho informam à Coroa que no ano de 1542 ele havia plantado muitos 
pés de cana e solicitava o direito de importar escravos africanos. Na década de 
1580 Pernambuco já possuía 66 engenhos e era a principal região produtora de açú-
car no Brasil. 
Depois de Pernambuco, a Bahia se constituiu como importante produtora de 
açúcar. Seu litoral era apropriado para o cultivo da cana, mas o centro da produ-
ção canavieira concentrava-se no Recôncavo, ao redor da Baía de Todos os Santos. 
 
 
 
Figura 4: Engenho de Pernambuco 
 
Fonte: Post [Séc. XVII] 
 
 
O donatário Francisco Pereira Coutinho chegou ao Brasil em 1536 e mesmo 
com a vantagem de ter ao seu lado o Caramuru e as boas relações com os indíge-
nas, não exerceu uma boa liderança dos colonos. Sitiados, acabaram mortos em 
um naufrágio ao tentar retornar à Baía de Todos os Santos depois de refugiarem-se 
em Porto Seguro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
A criação de uma capital diretamente controlada pela Coroa e de 
instituições para viabilizar o governo colonial não substituíram de ime-
diato o preexistente sistema de donatarias. A Coroa tencionava rea-
ver gradualmente os direitos de governo que concedera aos dona-
tários. Na próspera capitania de Pernambuco a princípio teve pouco 
sucesso, entretanto a construção de Salvador foi, sem dúvida, um 
grande passo no processo de aumento do controle exercido pelo mo-
narca (SCHWARTZ, 1988, p. 34-35). 
 
Os primeiros engenhos construídos no Brasil são descritos como pequenos e 
do tipo de trapiche, ou seja, movidos por cavalos ou bois. Os próprios donatários as 
vezes construíam engenhos movidos à força hidráulica, mas os custos envolvidos 
nesse tipo de construção – grandes rodas d’água e um sistema de calhas para con-
duzir a água ao local apropriado – eram muito elevados para a maioria dos colonos. 
Diferentes fatores contribuíram para que essa situação começasse a se modificar na 
região do Nordeste, como a disponibilidade de capital – vindo dos lucros anteriores 
ou de investimentos estrangeiros –, a expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoa-
mento administrativo e a maior produtividade da força de trabalho. No século XVII 
também houve melhoramentos técnicos que aumentaram a produção global de 
açúcar (SCHWARTZ, 1988). 
Como vimos, cada donatário poderia distribuir terras aos seus colonos para 
que fossem exploradas na forma de roças, fazendas (lotes maiores que poderiam ser 
utilizados para criar gado, cultivar cana ou outros produtos exportáveis como gen-
gibre e algodão), e também engenhos. Através da carta de sesmaria, assim, eles 
eram autorizados a distribuir territórios recém-conquistados ou retomados. Outra 
forma de estimular a colonização e o desenvolvimento da economia açucareira 
eram os sistemas de arrendamento, parceria e outras formas de associação entre os 
engenhos e os lavradores que deveriam plantar a cana sem transformá-la, eles mes-
mos, em açúcar. 
 
2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO 
No início do século XVII, a Holanda despontava como uma das maiores po-
tências marítimas europeias. De acordo com Françozo (2014), naquela época os ho-
landeses possuíam mais navios do que todo o restante da Europa combinado, reali-
zavam transações comerciais nos quatro cantos do globo e já no início daquele sé-
culo haviam se tornado o centro comercial do Velho Mundo. Por volta do ano de 
1620 os holandeses controlavam entre metade e dois terços do comércio marítimo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
entre Brasil e Europa. 
Ainda segundo Françozo (2014, p. 50) com “a intensificação desse comércio 
e o aumento de sua importância, somados ao conflito político-militar entre as Pro-
víncias Unidas e a Espanha, criaram ocasião e ensejo para a instituição de uma 
única companhia privada que controlaria o comércio com o oeste [...]”. 
Assim, a criação da Companhia das Índias Ocidentais (conhecida pela sigla 
de WIC, do holandês West-Indische Compagnie) possuía o intuito de organizar e au-
mentar o comércio holandês no Atlântico, avançando contra o domínio ibérico nas 
Américas. 
 
 
 
Os holandeses fizeram uma primeira tentativa de domínio da regiãoNordeste 
atacando a Bahia no ano de 1624, mas foram expulsos pelos portugueses no ano 
seguinte. Em 1630, porém, os holandeses obtiveram sucesso no ataque às cidades 
de Olinda e Recife, na capitania de Pernambuco, grande produtora de açúcar. 
Apesar da resistência portuguesa, os holandeses conquistaram outras cidades im-
portantes da região e permaneceram no Nordeste por 24 anos. 
Mello (2009) sugere três momentos da ocupação holandesa: uma fase inicial 
de conquista para os holandeses e de resistência luso-brasileira (1630-1637); um pe-
ríodo de paz associado à chegada e ao governo de João Maurício de Nassau (1638-
1645); uma etapa final de guerra, de restauração na perspectiva luso-brasileira e de 
repressão do levante restaurador na ótica holandesa (1645-1654). O governador ho-
landês Maurício de Nassau organizou ainda a tomada da cidade de Luanda, capital 
de Angola, demonstrando compreender a importante relação que se estabelecia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
entre os dois lados do Atlântico na provisão de mão de obra para o Brasil. 
A retomada de Luanda foi organizada pelos próprios moradores do Brasil e 
pelo reio Dom João IV, liderada pelo governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia 
de Sá e Benavides no ano de 1648. A guerra também começara em Pernambuco 
no ano de 1645, levando nove anos para finalmente os portugueses conseguirem 
expulsar os holandeses do território. A administração de Maurício de Nassau ficou 
conhecida como bastante avançada para aquele período, retomando a produção 
de açúcar que havia sido afetada pela resistência nos anos iniciais, promovendo 
melhorias urbanas e renomeando a capitania de Pernambuco como Nova Holanda 
e a cidade de Recife como Cidade Maurícia, em sua própria homenagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. O que foram as capitanias hereditárias? 
 
a) Foi uma tentativa da Coroa Portuguesa de povoar o interior do território distribu-
indo terras que deveriam ser colonizadas longe da costa. 
b) Foram espécies de caravelas construídas em Portugal que facilitavam a circula-
ção entre Lisboa, Salvador e Angola. 
c) Foi a divisão do território da América Portuguesa em 15 lotes para serem coloniza-
dos por particulares. 
d) Foram pequenos terrenos divididos entre particulares no Recôncavo Baiano para 
que fossem instalados os primeiros engenhos de açúcar. 
e) Eram construções fortificadas no litoral do continente africano que auxiliavam as 
embarcações portuguesas com mantimentos e compra de escravos. 
 
2. Quais as características dos governadores-gerais do Brasil? 
 
a) Foram os primeiros homens degredados para o Novo Mundo que acabaram as-
sumindo uma função administrativa importante no Brasil. 
b) Eram sempre membros da realeza e representavam o rei português no Novo 
Mundo. 
c) Eram nomeados pelos comandantes das caravelas para cuidarem da região 
onde aportavam até que fosse nomeado um vice-rei para o Brasil. 
d) Eram homens escolhidos pela Coroa portuguesa por serem bem qualificados não 
só pelo nascimento, mas também pela prestação de serviços. 
e) Eram nomeados pelo rei português para administrar o Brasil, prestando contas 
para os jesuítas que vieram na mesma época como Manuel de Nóbrega. 
 
3. Quais as funções do Provedor-mor e do Ouvidor-geral no Brasil? 
 
a) Cuidar da defesa do território e aplicar a justiça. 
b) Administrar as finanças e aplicar a justiça. 
c) Os dois possuíam funções semelhantes na defesa do território. 
d) Aplicar a justiça e cuidar das finanças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
e) Prover os mantimentos e enviar informações sobre a colônia ao rei. 
 
4. Por que o historiador Pedro Puntoni entende que a escolha da Bahia como sede 
do governo-geral foi algo “natural”? 
 
a) Porque foi o primeiro lugar em que os portugueses aportaram e, portanto, fazia 
sentido começarem por ali. 
b) Porque o restante do litoral do atual nordeste era acidentado e de difícil acesso, 
e a Bahia era o único lugar que daria para estabelecer uma cidade para a capi-
tal. 
c) Porque era o local mais perto geograficamente de Lisboa em toda a América 
Portuguesa. 
d) Porque além de suas qualidades geográficas e que facilitavam a defesa do terri-
tório, seu donatário havia morrido e cabia à Coroa apenas pagar o valor para 
seus herdeiros. 
e) Porque ali já havia grandes plantações de cana-de-açúcar, o que facilitava a 
instalação dos primeiros engenhos no Brasil. 
 
5. Quais motivos Stuart Schwartz identifica para o sucesso da capitania de Pernam-
buco? 
 
a) A utilização de mão de obra escrava indígena e a proximidade com Lisboa. 
b) A vinda do donatário com toda a família e a boa relação com os indígenas. 
c) A invasão holandesa que modernizou a fabricação do açúcar e aumentou a pro-
dução. 
d) Os investimentos da Coroa portuguesa nos primeiros engenhos de açúcar da re-
gião. 
e) A habilidade de Duarte de Coelho em submeter os indígenas para trabalharem 
nos engenhos de açúcar. 
 
6. Quais os motivos que fizeram com que a produção de açúcar em Pernambuco 
começasse a aumentar a partir do século XVII? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
a) Os investimentos financeiros da Coroa portuguesa, que assumiu o controle da pro-
dução açucareira. 
b) A baixa no consumo de açúcar na Europa, o que fez com que a produção em 
Pernambuco aumentasse. 
c) A vinda de portugueses ricos que financiaram o aumento da produção. 
d) A expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoamento administrativo e a maior 
produtividade da força de trabalho. 
e) A utilização de mão de obra assalariada na produção, o que modificou as rela-
ções de trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
O CONTINENTE AFRICANO E A 
ESCRAVIDÃO NO BRASIL 
 
 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
Além disso, vamos aprender sobre o trabalho na colônia e o que significou 
para essas pessoas a vinda para o Brasil: como era trabalhar em um engenho, a 
violência empregada pelos senhores de escravos e as formas de resistência. Por fim, 
discutiremos como a utilização da mão de obra escrava impactou o a sociedade 
brasileira até os dias de hoje e o que vem sendo feito para diminuir as desigualdades 
sociais causadas pelo sistema escravagista. 
 
3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO 
Quando falamos em migração forçada, devemos ter em mente que o conti-
nente africano passou por diversos fluxos migratórios compulsórios durante sua histó-
ria, conectando a África com o Oriente Médio, o Mediterrâneo e o Oceano Índico. 
Segundo Ferreira (2018), porém, em nenhum momento o custo humano foi 
tão alto quanto no tráfico Atlântico, responsável pela transferência forçada de 
cerca de 12 milhões de pessoas entre os séculos XVI e XIX.. 
Essa migração forçada começou a se desenvolver com a colonização das 
Américas no século XVI. Portugueses e espanhóis utilizavam a mão de obra africana 
na mineração e na agricultura comercial, sendo impossível dissociar essa demanda 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
Nessa unidade iremos discutir as relações que se estabeleceram entre algu-
mas regiões do continente africano, Portugal e o Brasil. A economia açucareira foi 
totalmente baseada na mão de obra de africanos escravizados, comprados na 
África e trazidos para a colônia portuguesa, o que significou uma gigantesca migra-
ção forçada para esse território. Veremos como funcionava a escravidão naquela 
sociedade e como ela foi modificada a partir do contato com o europeu, resultando 
no tráfico atlântico que enriquecia não só portugueses, mas diferentes Coroas da 
Europa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
por mão de obra do tráfico Atlântico. O estudo sobre a utilização de africanos es-
cravizados na América é bastante difundido em materiais escolares e nas universi-
dades. No início, porém, os europeus começaram fornecendo mão de obraescrava 
dentro da própria África e também para Portugal e Espanha, locais em que a escra-
vidão tinha caráter mais urbano. De acordo com Ferreira (2018), tanto Lisboa como 
Sevilha possuíam considerável população de origem africana no século XVI. 
Atualmente algum revisionismo tenta transferir para os próprios africanos as 
mazelas decorridas do tráfico de escravos, argumentando que a escravidão já exis-
tia naquele continente e que os africanos escravizados eram vendidos pela própria 
população daquela região. Convém ressaltar que o contato com os europeus mo-
dificou profundamente as relações africanas, impondo uma quantidade de escra-
vos enorme e estabelecendo a ideia de mercadoria que não condizia com os cos-
tumes daquela sociedade. 
Ferreira (2018) explica que, no curto prazo, o tráfico Atlântico significou a cen-
tralização política dos reinos africanos que dominaram o fornecimento de escravos 
para mercadores europeus, o que levou a um quadro de instabilidade nas socieda-
des africanas, já que vários grupos se insurgiam contra essa centralização. Além 
disso, o direito costumeiro em vigor também foi modificado, já que o que constituía 
transgressão ou crime passível de escravização se ampliou para satisfazer a necessi-
dade de produzir mais e mais cativos. Por exemplo: antes, crimes como roubo e adul-
tério eram punidos com multa ou prisão; com a necessidade cada vez maior de 
escravos para abastecer o mercado atlântico, essas transgressões passaram a ser 
punidas com a escravidão. 
Nem todas as regiões do continente africano fizeram parte do tráfico Atlân-
tico de escravos. As regiões mais afetadas foram a Costa da Mina (entre Gana e 
Nigéria) e a África Central (do Gabão até o sul de Angola). Ferreira (2018) afirma 
que essas duas regiões responderam por quase 80% das vítimas do tráfico Atlântico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Figura 5: A relação comercial que se estabelecia entre a Europa, África e América. 
 
Fonte: Wikimedia Commons (2011, online) 
 
Nas duas regiões, os embarques de escravos eram em sua grande maioria 
direcionados ao Brasil que recebeu quase dez vezes mais africanos cativos do que 
as colônias inglesas da América do Norte. A proeminência brasileira se devia a di-
versos fatores: à proximidade geográfica entre as duas regiões; à facilidade do con-
tato marítimo devido às correntes e regimes de ventos; à relação comercial que se 
estabeleceu entre Costa da Mina e África Central e a sociedade luso-brasileira. 
Ferreira (2018) argumenta que a interação direta entre as duas colônias por-
tuguesas com a troca de mercadorias entre Brasil e Angola, estimulou a economia 
do tráfico atlântico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
No Brasil, os dois grandes centros importadores de escravos foram a Bahia e 
depois o Rio de Janeiro. Os traficantes baianos possuíam uma importante moeda de 
troca no litoral africano, o fumo produzido no Recôncavo. De acordo com Fausto 
(2015), essa região estava mais ligada à Costa da Mina, à Guiné e ao golfo de Benim. 
Já o Rio de Janeiro recebia em sua maioria escravos de Angola, superando a Bahia 
após a descoberta das minas de ouro, com o avanço da economia açucareira e o 
crescimento urbano da capital a partir do século XIX. 
 
3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO 
Desde o início da colonização, houve três modos de apropriação de indíge-
nas pelos portugueses: o resgate, o cativeiro e os descimentos. De acordo Alencastro 
(2000), os resgates eram a troca de mercadorias por índios prisioneiros de outros ín-
dios. A lei portuguesa estabelecia que apenas índios “à corda”, ou seja, que já fos-
sem prisioneiros e que seriam mortos, poderiam ser objeto de um resgaste pela po-
pulação. Além disso, esses indivíduos teriam seu cativeiro limitado a dez anos. Os 
índios escravizados via categoria de cativeiro deveriam ser apresados na chamada 
“guerra justa”, obrigatoriamente consentida e determinada pelas autoridades ré-
gias, por períodos estabelecidos e contra certas etnias. Nesse contexto, os índios 
capturados seriam escravos por toda a vida. Por fim, os descimentos eram os deslo-
camentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e agrupamentos euro-
peus. 
 
À primeira vista secundários, os descimentos – pela dimensão que to-
maram no âmbito da América portuguesa – aparecem como as inici-
ativas de consequências mais catastróficas para os indígenas. Acua-
das pelos reides das entradas nas aldeias, e pelas pressões das autori-
dades civis e religiosas, as tribos do sertão foram sendo ‘descidas’ e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
aldeadas na vizinhança dos portos, das vilas e cidades. Mal alimenta-
dos, expostos ao trabalho forçado num ambiente epidemiológico que 
lhes era particularmente hostil, os índios aldeados pereciam em 
grande número (ALENCASTRO, 2000, p. 120). 
 
Figura 6: “Os invasores” (1936) 
 
Fonte: Parreiras (1936) 
 
Alencastro (2000) ainda argumenta, por fim, que a maior parte dos textos pro-
ibindo o cativeiro indígena não surtiu efeito na colônia, e utiliza o trabalho do profes-
sor Monteiro (2002) para demonstrar como em meados do século XVII os índios eram 
citados como bens nos testamentos dos paulistas. Um dos testamentos analisados 
pelo historiador informa que transferia a herança dos índios, que eram declarados 
como “livres pelas leis do reino e só pelo uso e costume da terra são de serviços 
obrigatórios”. Ou seja, apesar da lei, os indígenas escravizados constavam até em 
documentos oficiais como testamentos, burlando a proibição utilizando termos 
como “serviços obrigatórios”. 
Apesar desses documentos que comprovam o “costume” de manter indíge-
nas escravizados, a Coroa portuguesa o proibia desde o ano de 1570, reproduzindo 
a noção defendida pela Bula de Paulo II do ano de 1537. Pela lei de 20 de março 
de 1570, só seria lícita a escravização dos índios conseguidos em “guerra justa”, ou 
seja, autorizada pelo rei ou pelo governador do Brasil, e caso os indígenas praticas-
sem a antropofagia. Diferente das sofisticadas discussões encontradas na Espanha 
como a Controvérsia de Valladolid, em Portugal a definição de guerra justa era a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
mesma desde o século XIV, e afirmava o direito da Igreja ou do Estado em declarar 
guerra contra os infiéis – a guerra declarada por particulares, portanto, deveria ser 
condenada. No período filipino a lei de 24 de fevereiro de 1587 regulamentava o 
uso dos índios trazidos do sertão, entradas que só poderiam ser realizadas com a 
licença do governador geral – menos de 10 anos depois, elas só poderiam ser auto-
rizadas pelo rei. Mas foi a lei de 30 de julho de 1609 que declarou que todos os índios 
seriam efetivamente livres, fossem cristãos ou pagãos. A reclamação de toda a po-
pulação, porém, fez com que dois anos depois a legalidade do cativeiro em caso 
de guerra justa fosse retomada (PUNTONI, 2002). 
A lei de 1611 consolidava o “regime das missões” tal como havia sido elabo-
rado pelos jesuítas, onde os índios deveriam ser fixados em um povoado com os prin-
cípios pedagógicos dos religiosos. Segundo Puntoni (2002), índios de diferentes na-
ções eram reunidos nesses povoados para serem submetidos a várias formas de res-
socialização e aculturação. Para trazer os indígenas aos povoados, os jesuítas pro-
cediam aos descimentos das tribos indígenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
 
Figura 7: Monumento às Bandeiras (1954) do artista Victor Brecheret, localizado no Parque 
Ibirapuera na cidade de São Paulo 
 
Fonte: Imbroisi (2016, online) 
 
Para além de servirem como mão de obra, os indígenas também foram utiliza-
dos pelos portugueses como povoadores necessários na manutenção de seu domí-
nio, especialmente diante das tentativas de conquistas ou de invasão de outras po-
tências europeias. 
Segundo Puntoni (2002),os nativos eram os únicos capazes de ensinar sobre os 
novos territórios e contribuir com o envio de homens para que as tropas portuguesas 
conseguissem enfrentar não só as tribos hostis, mas também os ataques de outras 
nações. 
Não só os portugueses perceberam a vantagem de aliar-se aos nativos do 
Novo Mundo, mas mesmo os invasores holandeses sabiam da importância de trazer 
os indígenas para perto. O conde de Nassau reconhecia em relatório de 1644 que 
era da amizade com os índios que dependia o sossego e a conservação da colônia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
do Brasil. O importante era, manter as alianças com as tribos indígenas do país, seja 
para fins militares e conservação do domínio, seja para o serviço da empresa colo-
nial. 
 
3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL 
Durante muito tempo era possível encontrar nos manuais didáticos brasileiros 
a afirmação de que os escravos africanos eram melhores para o trabalho e que os 
índios teriam sido deixados de lado porque eram “preguiçosos” e não se adaptavam 
ao serviço. Hoje sabemos não só que o trabalho indígena foi utilizado por muito 
tempo, mas também que a mão de obra de africanos escravizados foi empregada 
pelo lucro que o tráfico negreiro trazia tanto para a Coroa como para particulares. 
Além disso, essa população trazida para a América de maneira compulsória não 
aceitou de maneira passiva seu destino, atuando de diferentes formas como através 
da diminuição do trabalho, pela agressão a seus senhores, através das fugas indivi-
duais ou em massa, com a formação de quilombos e mesmo pela autodestruição 
através do infanticídio e suicídio. 
De acordo com Schwartz (1987), a geografia e a ecologia de grande parte 
do litoral baiano favoreciam a fuga dos escravos, que floresceu em quase todas as 
áreas da capitania. O historiador argumenta que uma série de características con-
tribuiu para a fuga de escravos e a formação de comunidades de fugitivos na Bahia, 
como o fato de ser um dos principais terminais do comércio atlântico de escravos e 
uma importante zona de agricultura e exportação. Nas zonas das grandes planta-
ções, a quantidade de escravos poderia chegar a mais de 60% dos habitantes. A 
maioria dessa população era formada por homens, já que eram os preferidos para 
o trabalho pesado nos engenhos. Depois de fugirem, formavam comunidades den-
tro da mata, mas próximo aos povoados, chamadas de mocambos. Viviam da agri-
cultura, mas também do assalto às estradas e do roubo de gado. O mocambo re-
presentava uma expressão de protesto social numa sociedade escravista. 
Nas regiões das minas de ouro do centro-sul (que estudaremos na próxima 
unidade) parte do que ocorria no Nordeste açucareiro também se reproduzia. Os 
escravos também eram grande parte da população – entre um terço e metade da 
quantidade de moradores da região – mas pessoas chamadas “de cor” considera-
das livres constituíam cerca de 40% dos moradores já ao final do período colonial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
Assim, o autor ainda argumenta que a população afro-brasileira nessa região já era 
quase três quartos dos habitantes, com a diferença de que os escravos possuíam 
relativa autonomia em seu trabalho: contanto que fossem produtivos e entregassem 
o ouro encontrado podiam se movimentar pela região mineradora. 
 
O vasto mar de escravos e pessoas de cor livres forneciam um ambi-
ente potencialmente simpático aos fugitivos. A natureza descontinua 
dos povoados e a topografia montanhosa forneciam grandes tratos 
inacessíveis, próprios para os esconderijos e, mesmo em muitas con-
centrações urbanas, a grande população de cor livre tornava difícil 
a descoberta dos fugitivos. Ademais, como estes eram frequente-
mente capazes de fornecer ouro que haviam roubado ou encon-
trado, alguns brancos dispunham-se a cooperar com os mocambos 
ou proteger foragidos (SCHWARTZ, 1987, p. 77). 
 
Os escravos que fugiam acabavam se organizando nos chamados quilombos 
ou mocambos, que poderiam ser muito diversos naquele período. De acordo com 
Gomes (2018), havia quilombos que constituíam comunidades independentes com 
atividades camponesas que se integravam à economia local; havia os que se ca-
racterizavam pelo protesto reivindicatório dos escravos; havia ainda os formados por 
pequenos grupos quilombolas que se dedicavam ao assalto das fazendas próximas; 
havia por fim os que aceitavam voltar à situação de escravo desde que suas exi-
gências fossem atendidas . O mais famoso quilombo do Brasil é, sem dúvida, o Qui-
lombo de Palmares. 
 
3.5 QUILOMBO DE PALMARES 
O Quilombo de Palmares era uma rede de povoados na região que hoje cor-
responde a parte do estado de Alagoas e chegou a agregar milhares de moradores. 
Ele se formou no início do século XVII e perdurou por quase cem anos (1605-1694). 
Segundo Schwartz (1987), os administradores régios transformaram Palmares 
em um símbolo de como qualquer comunidade de fugitivos poderia ameaçar uma 
sociedade baseada na mão de obra escrava. Devido ao tamanho que alcançou 
com o passar dos anos, é possível encontrar documentação sobre o período, ainda 
que ela se relacione mais com sua última década de existência e destruição. O his-
toriador explica que Palmares não era uma comunidade única, mas uma série de 
mocambos unidos em um único reino neo-africano. A partir dos relatos de observa-
dores europeus, entende-se que Palmares era um estado organizado sob o controle 
de um rei, com chefes subordinados e povoados apartados. A liderança se dava 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
aparentemente por uma linhagem régia. Os fugitivos de Palmares viviam da agricul-
tura, embora também houvesse a negociação de armas e outros produtos com ha-
bitantes brancos da região. Como nas sociedades africanas, em Palmares também 
havia escravidão. Palmares parece ter sido uma adaptação de formas culturais afri-
canas à situação em que esses escravos de diversas origens se encontravam, 
unindo-se em oposição à escravidão colonial. 
Durante toda a sua história, o quilombo esteve sob constante ataque: mesmo 
os holandeses quando ocuparam a região de Pernambuco organizaram três expe-
dições contra Palmares; entre os anos de 1672 e 1680 houve praticamente uma ex-
pedição a cada ano. 
Segundo Schwartz (1987), a cada novo governador, o “rei” de Palmares, cha-
mado Ganga Zumba, reiterava os pedidos de paz, prometendo lealdade à coroa 
portuguesa e devolução de novos fugitivos em troca do reconhecimento da liber-
dade do quilombo. Os portugueses teriam aceitado essas condições, mas logo as 
violadas, ocorrendo dentro de Palmares uma revolta contra Ganga Zumba, que foi 
deposto e morto por seu sobrinho, Zumbi. Os administradores portugueses continua-
ram as investidas contra o quilombo, buscando os bandeirantes paulistas para elimi-
nar Palmares. 
De acordo com Gomes (2018), no fim da década de 1680 e começo dos anos 
1690 começou a preparação das grandes expedições militares comandadas pelo 
bandeirante Domingos Jorge Velho. Além de numerosos, os bandeirantes levaram 
potentes canhões e considerável aparato militar. A batalha final ocorreu em feve-
reiro de 1694 com a destruição do quilombo e morte de Zumbi. 
 
Figura 8: Zumbi (1927) 
 
Fonte: Parreiras (1927) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://bit.ly/32KFZpi. 
https://bit.ly/2ZSgpfW. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Quando os primeiros contatos entre europeus e africanos começam, a escravi-
dão já existia na África. Qual mudança se estabeleceu a partir desse contato e 
da demanda por mão de obra escrava na América? 
 
a) A alta demanda fez com que ocorressem mudanças nos costumes e cada vez 
mais transgressões eram passíveis de escravidão. 
b) A baixa demanda de mão de obra na América praticamente acabou com a 
escravidão que já existia na África. 
c) Os chefes das sociedades africanascederam seu lugar para que os portugueses 
administrassem a oferta de escravos. 
d) As principais sociedades africanas entraram no comércio e distribuição de escra-
vos, fabricando embarcações que chegavam até a América. 
e) Os portugueses fundaram vilas e enviaram governadores para aumentarem a 
quantidade de escravos enviados para a América. 
 
2. Quais as principais regiões africanas que participaram do tráfico atlântico de es-
cravos? 
 
a) A região norte da África, atual Marrocos e deserto do Saara, ofereceu grande 
parte dos escravos enviados para a América. 
b) Especialmente o interior africano foi responsável pela grande quantidade de es-
cravos que serviram de mão de obra para os portugueses. 
c) Os escravos enviados para o Brasil saíram em sua maioria da Costa da Mina e da 
África Central (do Gabão até o sul de Angola). 
d) A região sul, especialmente Botsuana e Namíbia, foi a que mais enviou escravos 
para o Brasil. 
e) A região da África Oriental, próxima à Índia, foi a maior fornecedora de escravos 
para o Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
3. Explique o que foram os descimentos. 
 
a) Era o envio de indígenas para o sul do país para incentivar o povoamento do 
território. 
b) Eram os deslocamentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e 
agrupamentos europeus. 
c) Eram trajetos percorridos de barco para o interior do território com o auxílio dos 
indígenas que conheciam a região. 
d) Eram as entradas de portugueses para o interior em busca de indígenas para 
servirem de mão de obra na região centro-sul. 
e) Era a busca por metais preciosos no interior do país através do envio de indígenas 
que conheciam o território. 
 
4. Quem foi Raposo Tavares e qual sua importância na história do Brasil? 
 
a) Foi um importante governador-geral que auxiliou na expulsão dos holandeses em 
Pernambuco no século XVII. 
b) Foi um donatário que fundou a cidade de Recife e contribuiu para o desenvolvi-
mento da agricultura na região. 
c) Foi um senhor de engenho cuja fazenda foi uma das principais produtoras de 
açúcar do século XVII em Pernambuco. 
d) Foi um bandeirante paulista responsável por uma grande bandeira que aprisio-
nou entre 40 e 60 mil guaranis no século XVII. 
e) Foi o responsável por destruir o Quilombo de Palmares no final do século XVII em 
Alagoas. 
 
5. Qual dessas formas de resistência foram utilizadas pelos escravos no Brasil durante 
o período colonial? 
 
a) Respeitavam seus senhores para um dia serem libertos. 
b) Obediência contra os senhores de engenho. 
c) Fuga, formação de quilombos e suicídio. 
d) Fuga de navio de volta para a África. 
e) Aumento da produção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
6. O que foi o Quilombo de Palmares? 
 
a) Foi um local fundado por escravos na Bahia no qual os filhos dos cativos nasciam 
livres. 
b) Foi o maior quilombo do período colonial, que existiu na região do atual estado 
de Alagoas. 
c) Foi uma importante fazenda produtora de açúcar na região do atual estado de 
Alagoas. 
d) Foi um movimento de escravos a favor da abolição, que surgiu no período colo-
nial 
e) Foi um local de fuga de escravos, liderado por Palmares, próximo ao Recôncavo 
Baiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
A DESCOBERTA DE OURO NAS 
MINAS 
 
 
 
4.1 INTRODUÇÃO 
Depois de estudarmos a utilização da mão de obra de africanos escravizados 
e de indígenas no Brasil colonial, veremos agora outro momento importante da His-
tória, que se iniciou no final do século XVII: a descoberta do ouro na região das Minas 
Gerais. Os primeiros relatos de ouro surgiram com as incursões dos bandeirantes ao 
interior, no ano de 1693 na região da capitania de São Paulo – que depois seria des-
membrada como Minas Gerais a partir do desenvolvimento trazido pela mineração 
(SOUZA, 2006). 
A notícia que se espalhou rapidamente e trouxe milhares de aventureiros para 
a região, modificou profundamente as relações estabelecidas entre a metrópole e a 
colônia, bem como inverteu o centro econômico do Brasil do Nordeste para a região 
Sudeste. Estudaremos nessa unidade como se deu esse processo, como foi a instala-
ção de uma nova rede burocrática na região, a cobrança de impostos e o cotidiano 
da população que buscava ascensão social a partir do enriquecimento trazido pelo 
ouro. 
 
4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE 
Em meados do século XVII, quando começou a circular a notícia da desco-
berta de ouro pelos bandeirantes paulistas na região do atual estado de Minas Ge-
rais, aquela área contava apenas com um superintendente e um guarda-mor, não 
possuindo qualquer fiscalização da arrecadação dos mineiros a não ser nos portos 
do Rio de Janeiro, Santos e Paraty, onde foram construídas Casas de Fundição. A 
primeira medida realizada pela Coroa portuguesa foi, então, a compra da capitania 
de São Vicente (que ainda era de um donatário) no ano de 1709 como maneira de 
iniciar a fiscalização da região (SILVA, 2005). 
A agilidade para organizar a arrecadação de impostos se devia à grande 
quantidade de pessoas que se dirigiram para a região logo nos primeiros indícios de 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
que o ouro havia sido encontrado. Para se ter uma ideia de como a notícia se alas-
trou rapidamente, entre os anos de 1693 e 1709, André João Antonil (nome falso do 
jesuíta italiano João Antônio Andreoni, por duas vezes reitor do Colégio da Bahia) 
escrevia o livro chamado Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, onde 
discorria sobre as quatro fontes de riqueza da colônia, incluindo o ouro. Publicado no 
início do mês de março de 1711, dias depois o Conselho Ultramarino de Portugal pro-
curou o rei para proibir sua circulação, argumentando que o livro expunha “muito 
distintamente todos os caminhos que há para as minas de ouro descobertas” (SOUZA, 
2006). 
 
 
 
 
 
Antonil era um apologista das culturas do açúcar e do tabaco que se desen-
volviam no Nordeste, e via apreensivo os possíveis benefícios trazidos pela exploração 
do ouro. Souza (2006) explica que o ouro das Gerais afetava diretamente os produ-
tores de açúcar ao roubar-lhes escravos e desviando os gêneros necessários à subsis-
tência dos engenhos. Após dois séculos de dominação inconteste, a açucarocracia 
Casas de Fundição: As Casas de Fundição eram locais estabelecidos pela Coroa com a 
função de fundir o ouro e retirar a quinta parte dele como imposto para o rei – conhecido 
assim como “o quinto”, ou seja, 20% do ouro que seria fundido deveria ser retirado do mon-
tante. O contrabando era muito comum no período devido à facilidade em se esconder o 
ouro e movê-lo de lugar. A maneira que a coroa tentou resolver o problema foi proibindo 
que o ouro circulasse pelas vilas e cidades sem o selo real cunhado na barra de ouro depois 
de fundida. Era o ouro “quintado”. 
O Conselho Ultramarino foi fundado pelo rei Dom João IV pouco tempo depois da Restau-
ração Portuguesa, no ano de 1643. Esse Conselho era responsável por tudo o que se rela-
cionava às finanças e à administração dos territórios do além-mar: primeiro a África, depois 
as Índias e o Brasil. Dessa forma, a autorização de publicação de livros em Portugal não era 
de sua alçada, mas após o livro de Antonil, seus conselheiros entenderam que deveria pas-
sar por eles qualquer livro que contivesse “matérias pertencentes às Conquistas” (SOUZA, 
2006, p. 85). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
via-se abalada por levas de aventureiros frequentemente malnascidos e malcompor-
tados. 
O eixo da vida da colônia se deslocou, assim, para o centro-sul, especialmente 
para o Rio de Janeiro, por onde entravam escravos e suprimentos e saía o ouro das 
minas. Antes de terminar o século XVIII (no ano de 1763), a capital seria transferida de 
Salvador para o Rio de Janeiro (FAUSTO,

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