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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: HISTÓ-
RIA DO BRASIL COLONIAL 
E IMPERIAL 
 
Caroline Garcia Mendes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite 
 Fernanda Cristine Barbosa 
 Guilherme Prado Salles 
 Lívia Batista Rodrigues 
Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Eliza Perboyre Campos 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor. 
 
 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
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fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou 
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio-
teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor-
dado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im-
portantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de determi-
nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques-
tões citadas em cada unidade, associando-o a suas 
ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi-
ano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
SUMÁRIO 
DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E IMAGINÁRIO CULTURAL ................. 7 
1.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7 
1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS ....................................................................................... 7 
1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE ........................................ 7 
1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES .............................................................................. 9 
1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS ............................................................................... 9 
1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA ............................................................. 11 
1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL .................................................................................... 12 
1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO .................................................................. 14 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 16 
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO TERRITÓRIO .............. 18 
2.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18 
2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO ... 19 
2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” ............................................... 20 
2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR ............................................................................... 23 
2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO .............................. 25 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 28 
O CONTINENTE AFRICANO E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .................... 31 
3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 31 
3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO .............................................................. 31 
3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO .... 34 
3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL ......... 38 
3.5 QUILOMBO DE PALMARES ................................................................................. 39 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 42 
A DESCOBERTA DE OURO NAS MINAS ................................................... 45 
4.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 45 
4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE ......................................... 45 
4.3 UMA SOCIEDADE IMPROVISADA ...................................................................... 49 
4.4 A DESCOBERTA DE DIAMANTES E O GOVERNADOR DOM LOURENÇO ......... 52 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 56 
SOCIEDADE E REVOLTAS COLONIAIS .................................................... 59 
5.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 59 
5.2 COTIDIANO NA COLÔNIA ................................................................................ 59 
5.3 O PÚBLICO E O PRIVADO: O DOMICÍLIO E A FAMÍLIA .................................... 60 
5.4 LÍNGUA E ENSINO NA COLÔNIA ...................................................................... 62 
5.5 A RELIGIÃO NO BRASIL ...................................................................................... 63 
5.6 REVOLTAS COLONIAIS ....................................................................................... 65 
5.7 REVOLTAS NATIVISTAS ....................................................................................... 66 
5.8 REVOLTA DE BECKMAN (1684-5 MARANHÃO) ................................................ 66 
5.9 GUERRA DOS MASCATES (1710, PERNAMBUCO) ............................................ 67 
5.10 REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS (MINAS GERAIS, 1720) ................................ 68 
5.11 REVOLTAS SEPARATISTAS ................................................................................... 69 
5.12 INCONFIDÊNCIA MINEIRA (MINAS GERAIS, 1789) .......................................... 70 
5.13 CONJURAÇÃO DOS ALFAIATES (BAHIA, 1798) ............................................... 71 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 74 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O PROCESSO E INDEPENDÊNCIA ........... 77 
6.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 77 
6.2 CONJUNTURA MUNDIAL .................................................................................... 77 
6.3 A FAMÍLIA REAL NO BRASIL ............................................................................... 79 
6.4 REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817) ............................................................ 81 
6.5 DOM JOÃO: A ACLAMAÇÃO E O RETORNO A PORTUGAL ............................ 82 
6.6 A PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA ......................................................... 83 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 86 
OS PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL IMPERIAL ......................................... 89 
7.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 89 
7.2 OS PRIMEIROS ANOS .........................................................................................89 
7.3 ASSEMBLEIA CONSTITUINTE ............................................................................... 91 
7.3.1 A Constituição de 1824 .................................................................................92 
7.3.3 O que é ser brasileiro na nova Constituição? ...................................... 94 
7.4 CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR (1824) .......................................................... 96 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 98 
PRIMEIRO REINADO E CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO ........................ 101 
8.1 A LEGISLAÇÃO APÓS A CONSTITUIÇÃO........................................................ 101 
8.2 OPOSIÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA .................................................................... 102 
8.3 PROBLEMAS INTERNOS E EXTERNOS: ABDICAÇÃO DE DOM PEDRO ............ 105 
FIXANDO CONTEÚDO ...................................................................................... 108 
PERÍODO REGENCIAL ............................................................................ 111 
9.1 LIBERAIS MODERADOS NO PODER ................................................................. 111 
9.1.1 AS REFORMAS LIBERAIS ........................................................................... 112 
9.2 AS REVOLTAS REGENCIAIS .............................................................................. 115 
9.3 REFORMAS, RUPTURA E O FIM DO PERÍODO REGENCIAL .............................. 120 
FIXANDO CONTEÚDO ...................................................................................... 123 
POLÍTICA E ECONOMIA NO SEGUNDO REINADO ............................... 126 
10.1 LUZIAS E SAQUAREMAS NO PODER ................................................................ 126 
10.2 A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO CAFEEIRA ...................................................... 129 
10.2.1 Auge e declínio no Vale do Paraíba e a expansão para o Oeste 
Paulista ...................................................................................................... 131 
10.3 SURTO INDUSTRIAL E URBANIZAÇÃO .............................................................. 132 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 136 
ESCRAVIDÃO E IMIGRAÇÃO ................................................................ 139 
11.1 A ESCRAVIDÃO NO BRASIL ............................................................................. 139 
11.1.1 Fim do tráfego negreiro ......................................................................... 141 
11.2 IMIGRAÇÃO E SISTEMA DE PARCERIAS .......................................................... 143 
11.2.1 Imigrantes e a urbanização .................................................................. 146 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 147 
GUERRA DO PARAGUAI E A CHEGADA DA REPÚBLICA ...................... 151 
12.1 GUERRA DO PARAGUAI .................................................................................. 151 
12.1.1 Os países envolvidos na guerra ............................................................ 153 
12.1.2 A aliança e a guerra .............................................................................. 154 
12.2 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO ......................................................................... 157 
UNIDADE 
06 
UNIDADE 
07 
UNIDADE 
08 
UNIDADE 
09 
UNIDADE 
10 
UNIDADE 
11 
UNIDADE 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................. 163 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 166 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 168 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E 
IMAGINÁRIO CULTURAL 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
Seja bem-vindo à primeira unidade de nosso livro sobre História do Brasil Colô-
nia . Nela começaremos nossa caminhada no conhecimento acerca do período Co-
lonial que é muito importante para a história do nosso país. Esse trajeto se inicia ainda 
em Portugal, onde iremos conhecer um pouco mais sobre como esse pequeno país 
se transformou em centro de um dos grandes impérios dos séculos XVII e XVIII. Como 
uma nação com cerca de um milhão de habitantes chegou à América, à África e à 
Ásia, estabelecendo centros administrativos, locais de produção de mercadorias e 
se instalando em diferentes partes do mundo? É o que pretendemos responder na 
primeira parte dessa unidade. 
A seguir traremos uma provocação: o que significava para aquelas pessoas 
chegar a um local ainda inexplorado e já habitado como a América? No interior do 
imaginário medieval e religioso, os portugueses pensaram ter encontrado o Éden ao 
mesmo tempo em que se deparavam com monstros fantásticos que povoavam as 
histórias desde a época clássica. Como lidar com esse novo território e seu povo a 
partir desses pensamentos? Veremos tudo isso nas páginas que se seguem. Não se 
esqueça de responder às questões de fixação ao fim do livro. 
 
1.2 CONTEXTO PORTUGUÊS 
Para compreendermos como se desenvolveu a relação entre Portugal e seus 
domínios no além-mar, voltaremos nossa análise para antes da chamada “expansão 
ultramarina” portuguesa. Veremos então como se deu a unificação desse reino, as 
principais características que levaram a Coroa e a burguesia a buscarem um novo 
caminho para as Índias e a chegada à América. 
 
1.3 O REINO PORTUGUÊS: UMA UNIFICAÇÃO PRECOCE 
Diferente da maioria dos atuais países europeus, Portugal teve uma unificação 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
precoce e desde o século XIII possuía basicamente o mesmo território dos dias de 
hoje. Isso se deveu a uma série de conflitos envolvendo o reino de Leão e Castela – 
donos iniciais da parte oeste da Península Ibérica – e a família de Borgonha, nome-
ada para governar o Condado Portucalense (entre os rios Douro e Minho) no ano de 
1096. Menos de um século depois seu herdeiro, Dom Afonso Henriques era aclamado 
rei de Portugal após importante vitória contra os mouros na Batalha de Ourique 
(1139), cuja independência fora reconhecida oito anos depois por Leão e Castela no 
tratado de Zamorra. Iniciava-se, assim, a primeira dinastia do reino português, com 
sede em Coimbra. 
 
 
 
Com o sul da região tomado pelos mouros, os reis portugueses envolveram-se 
em várias batalhas que duraram muitos anos com o intuito de expulsar quem consi-
deravam invasores e conquistar esses territórios. Em 1249, Dom Afonso III concluía a 
conquista da região do Algarve, extremo sul da Península e no fim do mesmo século 
a língua portuguesa era adotada como oficial e as fronteiras com Leão e Castela já 
estavam estabelecidas. Os conflitos com os castelhanos, porém, continuariam a 
ocorrer e no decorrer dos séculos importantes investidas aconteceriam do outro lado 
da fronteira no intuito de retomar o reino português para suas posses. Uma nova ten-
tativa de reunificar os reinos levou à mudança da dinastia no poder no reino portu-
guês com a ascensão de Dom João I de Avis. Na batalha de Aljubarrota (1385), Por-
tugal derrotou os castelhanos e garantiu sua independência diante de Leão e Cas-
tela. Será essa dinastia que irá lançar-se às Grandes Navegações, cujas caravelas 
aportarão na pequena ilha que se mostrará um continente de grandes proporções 
anos depois. 
Batalha de Ourique: A batalha ocorrida em 1139 entrou para o imaginário português de-
pois que o testamento de Dom Afonso Henriques foi encontrado no Cartório Real do Mos-
teiro de Alcobaça no ano de 1596. Segundo o documento, Jesus Cristo teria aparecido 
para Afonso enquanto o exército português acampava às vésperas da grande batalha. 
Cristo teria ditoque estava ali para “fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os 
princípios de teu Reino sobre pedra firme [...]” (LIMA, 2010, p. 101). A fundação de Portugal, 
assim, é marcada por um milagre que povoará o imaginário português ao longo dos sé-
culos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
1.4 AS GRANDES NAVEGAÇÕES 
A luta contra os mouros que moveu o reino português rumo ao sul não parou 
com a conquista do Algarve, mas continuou em direção ao norte da África che-
gando a Ceuta no ano de 1415. Iniciava-se ali a expansão portuguesa que chegaria 
três anos depois ao arquipélago da Madeira. Holanda (2007) enumera o caminho 
percorrido pelas caravelas portuguesas nos anos subsequentes, que chegaram às 
ilhas Canárias (domínio espanhol), ao Açores no ano de 1431 e três anos mais tarde 
ultrapassavam o cabo do Bojador: 
 
A falta de interesse, a descrença na possibilidade de lucro imediato 
estariam, efetivamente na origem das hesitações dos portugueses, até 
que, em 1434, Gil Eanes resolveu ultrapassar o Bojador, marcando 
nova etapa ao reconhecimento da costa da África (HOLANDA, 2007, 
p. 35). 
 
É certo que a busca por metais preciosos e a cobiça por escravos foi o que 
moveu os primeiros descobrimentos portugueses na costa africana. Holanda (2007) 
identifica que, além da mão de obra, aquelas embarcações buscavam apropriar-se 
de diferentes mercadorias de alto valor na Europa como o marfim e a malagueta – 
chamado de “grão do paraíso”. Ao final do século XV, Diogo Cão despontava como 
a grande figura da navegação no novo reinado que se iniciara em 1481 com Dom 
João II, chegando ao Zaire e à Angola. Seus esforços são continuados por Bartolomeu 
Dias, que em 1487 finalmente ultrapassa o Cabo das Tormentas (chamado depois de 
Cabo da Boa Esperança) e consegue chegar ao Oceano Índico. Holanda conclui 
que “o eixo do comércio mundial se prepara, assim, para deixar as margens do Me-
diterrâneo em favor do Atlântico. Esse deslocamento só se processará, contudo, no 
decorrer do século XVI”. 
 
1.5 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS 
De que maneira um pequeno reino como Portugal foi o responsável por tantas 
descobertas de maneira tão precoce? Algumas considerações podem ser aqui elen-
cadas. Em primeiro lugar, como vimos, a unificação do reino português ocorreu muito 
antes que a maioria dos demais países, o que levou a uma organização de governo 
e centralização que contribuíram sobremaneira para a atividade. A localização do 
reino no extremo ocidente do continente europeu é outro ponto a ser considerado, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
com enorme área litorânea que facilitava a saída para o mar. 
De acordo com Holanda (2007), a glória dos descobrimentos foi durante muito 
tempo quase exclusivamente associada à figura do Infante D. Henrique, que se fixara 
na ponta de Sagres, no Algarve, para melhor gerir o movimento. Ainda que para essa 
localidade tenham se dirigido importantes estudiosos e práticos da arte da navega-
ção, o historiador afirma que não foi fundada ali uma escola, como durante muito 
tempo diversos estudiosos afirmaram. Mesmo assim, foi de extrema importância o pa-
pel daquele local no desenvolvimento da expansão marítima. 
 
 
 
Acerca dos progressos da marinha na época dos descobrimentos, os portu-
gueses contribuíram ainda com a arquitetura naval, desenvolvendo a caravela 
como um meio mais apropriado de navegação do que as primitivas barcas ou os 
barinéis. 
A utilização das caravelas nas expedições rumo à África começou no ano de 
1441. Segundo Holanda (2007, p. 38) “trata-se de embarcação ligeira, de pequeno 
calado, apta a aproximar-se de terra sem maior perigo. Isso a indica especialmente 
para as expedições em mares incógnitos”. 
Ainda sobre os progressos técnicos que ocorrem no período, a maneira de lo-
calizar-se em alto mar também sofreu modificações. Antes, as chamadas “cartas de 
marear” não indicavam longitude ou latitude, apenas rumos e distâncias, o que fazia 
com que, em alto mar, marinheiros e comandantes guiassem-se apenas por obser-
vações e estimativas precárias. O aperfeiçoamento de instrumentos como o astrolá-
bio e o quadrante em finais do século XV auxiliou, assim, no progresso das navega-
ções no período. 
 
[...] consideramos justo admitir que a iniciativa não partiu de qualquer 
particular: efetivamente, para que se encetasse e prosseguisse, poder-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
se-ia julgar indispensável uma prévia acumulação de capitais em es-
cala não reduzida, de maneira a manter uma despesa que não se 
sabia quando seria compensada por futuros proventos. Tanto assim 
que o primeiro ato da expansão portuguesa só pelo Estado pôde ser 
organizado [...]não existe, por conseguinte, uma diretriz única de ex-
pansão. Na convergência das necessidades de expansão comercial 
para a burguesia e de expansão guerreira para a nobreza reside plau-
sivelmente a causa dos descobrimentos e conquistas (GODINHO, 
1944, p. 85). 
 
Como podemos, há certo consenso em compreender que a iniciativa dos des-
cobrimentos não foi individual, mas coletiva: era necessário o acúmulo financeiro que 
vinha não só da Coroa, mas também dos mercadores para dar conta de um empre-
endimento de alto custo e sem perspectivas imediatas de retorno. Além disso, os no-
bres portugueses almejavam ganhar batalhas e conquistar territórios para ascender 
através de títulos e mercês pelos serviços prestados à Coroa. O litoral africano foi o 
primeiro passo em que todos esses anseios se convergiram, levando ainda às Índias 
para depois se deparar com uma terra até então desconhecida pelos europeus. 
 
1.6 A CHEGADA ÀS ÍNDIAS E À AMÉRICA 
O navegador genovês chamado Cristóvão Colombo procurou o rei português 
pedindo navios para realizar uma expedição, um pedido que foi recusado por Dom 
João II. Anos depois, em 1493, passava por Lisboa em direção à Castela o mesmo 
navegador, com notícias de que havia encontrado ilhas desconhecidas à ocidente 
e levando a informação ao rei que financiara sua expedição, o de Castela. Trazia 
consigo nativos que lembravam mais os naturais das Índias do que os da Guiné. O 
abalo de Dom João II com a notícia se agravara ao saber que pouco tempo depois 
três Bulas papais concediam de fato o direito daquelas terras à Castela, traçando 
um meridiano a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde. Discordando 
do que foi proposto pelo papa Alexandre VI, novas negociações foram realizadas e 
o Tratado de Tordesilhas (1494) assinado, no qual um meridiano a 370 léguas a oeste 
das ilhas de Cabo Verde delimitava que as terras que estivessem a ocidente seriam 
castelhanas e a oriente, portuguesas. 
Dom Manuel, sucessor de Dom João II, é quem veria a expansão marítima se 
consolidar. Em julho de 1497, Vasco da Gama partiu do rio Tejo com quatro embar-
cações e ao fim do mesmo ano dobrava o Cabo da Boa Esperança, chegando em 
seguida a Moçambique, Melinde, Mombaça, e alcançando Calecute. Vasco da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
Gama colocava Portugal, assim, em contato direto com as especiarias, com as pe-
dras preciosas e com o ouro, conquistando o monopólio desses produtos na Europa: 
“a abertura da rota marítima das Índias assume, assim, importância verdadeiramente 
revolucionária na época [...]” (HOLANDA, 2007, p. 42). 
A empolgação do novo trajeto fez com que muitos navegantes buscassem 
percorrer o mesmo caminho, e um deles sairia do rio Tejo no dia 9 de março com 13 
caravelas rumo às Índias. No caminho, porém, Pedro Álvares Cabral chegaria no dia 
22 de abril à terra que chamou de Vera Cruz, local em que aportaria e em que seria 
realizada a primeira missa do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha, escritor que 
participava da viagem, é considerada a Certidão de Nascimento do nosso país. So-
bre os nativos que avistaram de suas embarcações, Caminha escreveu: 
 
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas ver-
gonhas. Nas mãostraziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos so-
bre o batel [...]. Um deles deu-lhes um sombreiro de penas de ave, 
compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como 
de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, 
miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o 
Capitão manda a Vossa Alteza [...] (VAZ DE CAMINHA, 1500, p. 02) 
 
Como vimos com a citação da carta de Pero Vaz de Caminha, a partir do 
contato, os portugueses tiveram muitas dúvidas: que terras eram essas, tão distantes 
e encontradas “por acaso”? Quem eram essas pessoas que não conheciam seu Deus 
e viviam em pecado? Assim como Caminha compara os objetos indígenas que pos-
suíam contas brancas com a aljaveira (uma árvore com sementes utilizadas como 
contas na Europa), toda a relação entre portugueses e nativos será baseada nos 
pensamentos que os europeus já traziam consigo: tudo será interpretado a partir de 
seus próprios valores e durante muito tempo o homem europeu não conseguirá ver 
os nativos como seus iguais. A seguir, vamos ver como alguns desses valores fantásti-
cos e religiosos afetaram a maneira como os portugueses viam as novas terras. 
 
1.7 IMAGINÁRIO CULTURAL 
Tema muito comum na literatura europeia, a busca pelo paraíso na Terra en-
contrará terreno fértil a partir da chegada às terras desconhecidas. Todo o imaginário 
de monstros, sereias e deuses que remetem à Antiguidade também acompanhou 
capitães e marinheiros rumo ao Novo Mundo. 
De acordo com a Souza (1986, p. 24), “todo um universo imaginário acoplava-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
se ao novo fato, sendo, simultaneamente, fecundado por ele: os olhos europeus pro-
curavam a confirmação do que já sabiam, relutantes ante o reconhecimento do ou-
tro”. 
A historiadora explica que, se antes o Índico possuía um grande papel no ima-
ginário fantástico europeu, após várias viagens e aumento do conhecimento sobre 
ele, “[...] o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu qua-
trocentista [...]” (SOUZA, 1986, p. 26), desde reduto de criaturas monstruosas até o 
Paraíso na Terra. A aventura marítima, assim, se desenvolveu sob a influência do ima-
ginário europeu na vertente positiva, mas também na negativa, pois religiosos como 
frei Vicente de Salvador interpretavam o Novo Mundo como um local demoníaco. 
Apesar disso, o predomínio dentre os desbravadores que chegavam era de que essa 
região poderia ser o Paraíso na Terra. 
 
Era, pois, generalizada, sobretudo entre eclesiásticos, a ideia de que o 
descobrimento do Brasil fora ação divina; de que, dentre os povos, 
Deus escolhera os portugueses [...] Ação divina, o descobrimento do 
Brasil desvendou aos portugueses a natureza paradisíaca que tantos 
aproximariam do Paraíso Terrestre: buscavam, assim, no acervo imagi-
nário, os elementos de identificação da nova terra. Associar a fertili-
dade, a vegetação luxuriante, a amenidade do clima às descrições 
tradicionais do Paraíso Terrestre tornava mais próxima e familiar para 
os europeus a terra tão distante e desconhecida (SOUZA, 1986, p. 35). 
 
 
 
Uma das missões dos “descobridores” portugueses, assim, seria a de catequizar 
os nativos do Novo Mundo, já que a expansão da fé e a colonização caminhavam 
juntas no imaginário europeu. A edenização da natureza foi acompanhada pela 
desconsideração do nativo, visto enquanto bárbaro e demoníaco e, portanto, passí-
vel de ser inclusive escravizado – tempos depois os jesuítas se organizaram contra isso, 
indo de encontro a grupos que buscavam manter seus privilégios de escravizar os 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
naturais da terra. 
 
1.8 OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO 
A população ameríndia que povoava todo o território onde os portugueses 
chegaram era bastante heterogênea, sendo impossível falarmos em uma “cultura 
indígena”. Havia dois grandes blocos que dividiam essa população: os tupis-guaranis 
e os tapuias. De acordo com Fausto (2015), os tupis-guaranis habitavam quase toda 
a costa brasileira, desde o Ceará até o extremo sul. Em alguns pontos do litoral havia 
ainda a presença de outros grupos indígenas, como os Goitacazes, os Aimorés e os 
Tremembés, todos denominados pelos tupis-guaranis de tapuias, ou seja, indígenas 
que falavam uma língua diferente. 
As informações que temos nos dias de hoje sobre essa grande população 
ainda são muito escassas e baseadas em sua maioria nos relatos de religiosos e via-
jantes da época. Isso faz com que os nativos fossem divididos entre “bons” e “ruins” 
conforme sua afinidade ou desavença em relação aos portugueses. Os grupos tupis 
praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutos e a agricultura. Plantavam feijão, 
milho, abóbora e principalmente mandioca, influenciando a alimentação da colônia 
com a farinha dessa raiz. Viviam em grupos separados, mas mantinham contato com 
outras aldeias para a troca de mulheres e bens de luxo, o que resultava em alianças, 
mas também em conflitos e guerras (FAUSTO, 2015). 
 Segundo Fausto (2015), assim como na América espanhola, a chegada dos 
portugueses representou uma catástrofe para a população nativa. Os conflitos entre 
as aldeias também significaram alianças entre europeus e indígenas na submissão 
dos grupos inimigos. O contato com os portugueses trouxe violência, epidemias de 
doenças desconhecidas até então e morte. De milhões de moradores nativos na 
América portuguesa, hoje encontramos cerca de 250 mil indígenas no Brasil, que 
ainda sofrem com falta de políticas públicas para a manutenção de suas terras e 
para que suas culturas sejam preservadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O documentário “Caravelas e Naus: um choque tecnológico no século XVI” produzido 
pela Panavideo Produções traz a visão de diferentes pesquisadores que nos ajudam a 
desvendar como ocorreram os avanços tecnológicos do século XVI que transformaram 
Portugal em um dos maiores impérios ultramarinos daquela época. Você verá como 
eram construídas as caravelas e suas vantagens diante das outras embarcações do 
período. Disponível em: https://bit.ly/2CFxgtR. Acesso em: 12 out. 2020; 
 “O Descobrimento do Brasil” é um debate que foi ao ar no 22/04/2016 pela TV Cultura, 
onde você pode assistir dois especialistas discutindo sobre diferentes questões relativas 
ao descobrimento/ conquista do atual Brasil. Disponível em: https://bit.ly/39jUGkh. 
Acesso em: 12 out. 2020; 
 Leia o artigo “Descobrimento do Brasil: ‘achamento’ do país tropical”. Neste artigo, Ve-
rardi (2018) discorre sobre as grandes navegações portuguesas e a conquista perpe-
trada por eles no atual Brasil. Ela trata ainda da nomenclatura utilizada ao longo do 
tempo: se já existiam habitantes, como chamar de ‘descobrimento’? Disponível em: 
https://bit.ly/32Lhbh0. Acesso em: 12 out. 2020; 
 Assista ao 1º episódio da série de documentários “Guerras do Brasil Episódio: 1 “Guerras 
de Conquista”. Nesse episódio você poderá entender melhor como era a cultura dos 
indígenas tupi-guarani e como foi o contato com os portugueses. Além da entrevista 
de antropólogos e historiadores, o documentário também traz diversas imagens e do-
cumentos para explicar esse momento da nossa História. Disponível em: 
https://bit.ly/3ho9vFl. Acesso em: 12 out. 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Leia as asserções abaixo que exibem os motivos para o pioneirismo português nas 
Grandes Navegações: 
 
I. A unificação precoce do reino. 
II. A tradição milenar que remete aos romanos. 
III. O interesse da Coroa. 
IV. Os avanços tecnológicos. 
V. A geografia. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) I,III,IV e V. 
b) II,III e IV. 
c) I e III. 
d) IV e V. 
e) II apenas. 
 
2. Quais eram os principais interesses dos portugueses ao iniciarem a navegação ao 
redor do litoral africano? 
 
a) Escravos e mercadorias valiosas para a Europa. 
b)Ouro e colonizar o continente. 
c) Expulsar os muçulmanos de todo o território. 
d) Estabelecer redes de comércio com os povos africanos. 
e) Catequizar os povos africanos. 
 
3. Antes do Atlântico ser palco do universo fantástico dos europeus, qual era a re-
gião que povoava seu imaginário com criaturas monstruosas e até com o Paraíso 
na Terra? 
 
a) O norte da Ásia. 
b) O sul da África. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
c) O Índico. 
d) A América do Norte. 
e) O atual continente australiano. 
 
4. Como Vitorino Magalhães Godinho entende que se deu a expansão portuguesa? 
 
a) Através de investimentos da Coroa. 
b) Pela busca da nobreza em prestar serviços ao rei. 
c) Com o interesse mercantil da burguesia. 
d) Pela busca de escravos e mercadorias valiosas. 
e) Todas as anteriores. 
 
5. Como se deu o primeiro contato entre os portugueses e o Novo Mundo? 
 
a) De maneira pacífica e ordeira na colonização. 
b) Respeitando a cultura dos nativos e aprendendo com eles. 
c) Com os portugueses impondo sua visão de mundo europeia. 
d) Assimilando a cultura nativa para conviver melhor em terras estranhas. 
e) Com a admiração portuguesa diante de um mundo perfeito. 
 
6. Fausto divide os indígenas nativos do Brasil entre tupis-guaranis e tapuias. De 
acordo com o historiador, por que os tupis denominavam o outro grupo indígena 
de tapuias? 
 
a) Porque tapuia significa “antropófago”, ou seja, que come carne humana. 
b) Porque todos que eram inimigos dos tupis eram chamados por eles de tapuias. 
c) Porque tapuia remetia à região que esses grupos ocupavam. 
d) Porque tapuia significava que esses grupos não falavam tupi. 
e) Porque o português estabeleceu essa diferença entre os dois grupos e os tupis 
assimilaram a nomenclatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E 
ECONÔMICA DO TERRITÓRIO 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
Na segunda unidade de nosso livro, iremos discorrer sobre como a Coroa por-
tuguesa organizou sua colônia no continente americano. Assim, trataremos em pri-
meiro lugar da divisão do território em capitanias hereditárias e depois do envio de 
governadores-gerais para administrarem o Estado do Brasil. Em seguida, aprendere-
mos sobre a importância da “cidade da Bahia”, atual cidade de Salvador, na cen-
tralização da administração da Coroa de Portugal. Veremos ainda como se estabe-
leceram os primeiros engenhos de açúcar (Figura 1) em Pernambuco e na Bahia e 
a inserção desse produto na economia europeia. Você compreenderá, assim, a es-
colha da Bahia como sede do governo geral e a preponderância de Pernambuco 
como maior produtor açucareiro do período. 
Nos primeiros trinta anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral, foram re-
alizadas apenas viagens esporádicas ao novo território para a extração de pau-bra-
sil. Com receio de que outras Coroas europeias tomassem a região recém-desco-
berta, o rei português começa a pensar em maneiras de povoar o território. A pri-
meira tentativa de estabelecer seus domínios no continente americano começou 
com as capitanias hereditárias. 
 
Figura 1: Engenho de Itamaracá 
 
Fonte: Herkenhoff (1999, p. 252) 
 
 
 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
encon-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
2.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: A PRIMEIRA DIVISÃO DO NOVO TERRITÓRIO 
Após a divisão do novo continente entre Portugal e Espanha com o Tratado 
de Tordesilhas, entre os anos 1534 e 1535 o rei português Dom João III dividiu o novo 
território em quinze lotes denominados capitanias hereditárias – sistema já empre-
gado nas ilhas do Atlântico e que havia alcançado bons resultados. Todas as capi-
tanias receberam a mesma carta de doação e o mesmo foral: enquanto a carta de 
doação detalhava a questão jurídica da doação de fato e especificava o nome do 
favorecido e o direito desse e de seus sucessores, o foral trazia as regras gerais de 
natureza econômica, fiscal, militar e administrativa (KAHN, 1972). 
A partir desses documentos, os capitães-donatários e seus herdeiros (por isso 
a denominação de “hereditária”) teriam total direito sobre as terras, ainda que elas 
continuassem pertencendo à Coroa portuguesa. Poderiam distribuir pequenos lotes 
denominados sesmarias e fundar vilas, além de possuir o monopólio da navegação 
fluvial, das moendas e engenhos. Deveriam ainda exercer o comando militar, fisca-
lizar o comércio e aplicar ou delegar o cumprimento da lei (SALGADO, 1985). 
 
Como se observa, o sistema das capitanias hereditárias já implantara 
uma certa base administrativa, que orientaria o donatário, pelo me-
nos, no aspecto legal em sua parceria com a Coroa nessa primeira 
etapa do empreendimento ultramarino, o qual seria caracterizado, 
como vimos, pela ação da política portuguesa na busca da iniciativa 
particular a fim de garantir a sua realização (SALGADO, 1985, p. 51). 
 
Para Salgado (1985), ainda que muitos pesquisadores falem do “fracasso” do 
sistema de capitanias no Brasil, foi com sua instituição que as bases administrativas 
da colônia começaram a ser estabelecidas. Do ponto de vista comercial, foi a partir 
das capitanias de Pernambuco e São Vicente que as possibilidades de exploração 
mercantil da colônia foram vislumbradas. 
Antes do estabelecimento do Estado do Brasil diversas vilas foram criadas 
ainda durante os anos em que vigoravam apenas as capitanias hereditárias. São 
Vicente, por exemplo, foi fundada no ano de 1532 e foi o primeiro município da 
América portuguesa (PUNTONI, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
Figura 2: Mapa Histórico de Luís Teixeira das capitanias hereditárias 
 
Fonte: Cintra (2015, p. 14) 
 
 
 
2.3 O GOVERNO-GERAL E A “CIDADE DA BAHIA” 
Em mais um ajustamento nas relações entre Portugal e sua colônia, no ano de 
1548 foi instituído no Brasil o governo-geral. Os governadores-gerais eram nomeados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
pelo próprio rei e eram homens socialmente bem qualificados através do nasci-
mento e da prestação de serviços à Coroa. Recebiam cartas-patentes e regimentos 
com todas as regras que deveriam seguir e os poderes que iriam exercer. 
 
 
 
O primeiro governador-geral enviado para o Brasil foi Tomé de Sousa. A partir 
de seu regimento, podemos ler que esse oficial possuía função militar nas áreas de 
defesa interna e externa e poderia atuar também na esfera fazendária (cobrança 
de tributos e fiscalização), ainda que para essa função existisse também o Provedor-
mor, responsável pela administração geral da Fazenda. O governador-geral deveria 
também fiscalizar o cumprimento da lei, sendo que sua aplicação estava a cargo 
do Ouvidor-geral, um funcionário designado pela Coroa (SALGADO, 1985). 
Como podemos ver, a Coroa portuguesa organizou todo o funcionamento 
da colônia a partir da “cidade da Bahia”, atual Salvador, cuja fundação constava 
entre os deveres do primeiro governador-geral do Brasil. 
Para Puntoni (2013), a escolha da Bahia era “quase natural” devido não só à 
sua localização geográfica e às qualidades naturais de baía – que facilitavam sua 
defesa – mas também pela conjuntura do domínio, já que seu donatário (Francisco 
Pereira Coutinho) havia falecido e coube à Coroa portuguesa apenas pagar aos 
seus herdeiros para a retomada da terra. A fundação da cidade foi um grande em-
preendimento logístico e contou com uma equipe de técnicos: 14 pedreiros, 8 car-
pinteiros, caiadores e taipeiros. Pela primeira vez uma capital inteira era transplan-
tada para o outro lado do oceano. 
Conforme os relatos de Gabriel Soares de Souza do ano de 1587, após mandar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
cercar a cidade, o governador fundou a Sé, o colégio dos padres para a Compa-
nhia de Jesus e outras igrejas, e ordenou a construção de diversas casas que iriam 
abrigar os governadores, a Câmara, a cadeia, a Alfândega, etc. No mesmo regi-
mento de Tomé de Souza era possível ler ainda que a povoação das “terrasdo Brasil” 
era necessária para converter “a gente dela” à fé católica. Assim, a cidade de Sal-
vador também foi projetada para desempenhar o papel de centro de missionação. 
A bula para a criação do bispado data do dia 25 de fevereiro de 1551 e o bispo 
escolhido foi Pero Fernandes Sardinha, bispo de Évora (PUNTONI, 2013). 
Com o primeiro governador-geral também vieram os primeiros jesuítas, como 
Manuel de Nobrega, com a função de catequizar os índios e disciplinar um clero 
que já contava com má fama na colônia (FAUSTO, 2015). 
 
Figura 3: Busto em homenagem a Tomé de Sousa 
 
Fonte: Wikimedia Commons (2013, online) 
 
No ano de 1549, a Câmara já funcionava na cidade, composta por um mo-
desto Corpo de oficiais: eram dois juízes ordinários, três vereadores e um procurador. 
Em 1581 foi incluída a figura do mestre, um representante dos ofícios mecânicos. 
Desde o início, o papel da Câmara foi muito importante por reunir os interesses das 
elites econômicas e políticas do Recôncavo, os produtores de açúcar (PUNTONI, 
2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
Salvador, até meados do século XVIII, desempenharia então um pa-
pel central no sistema político do Estado do Brasil. Sua preeminência 
seria mantida pelas relações especiais que seus oficiais mantinham 
com os outros corpos mais elevados da República, e, em particular, 
com o próprio governo geral. Em vários momentos de crise, a Câmara 
de Salvador fora uma das principais protagonistas na política ameri-
cana de Portugal (PUNTONI, 2013, p. 97). 
 
Da mesma forma que a América espanhola, os portugueses no Brasil organi-
zaram sua colônia com a finalidade de fornecer gêneros alimentícios e minérios de 
valor para a metrópole. No litoral começavam a se organizar as grandes proprieda-
des e os engenhos que iriam produzir o açúcar que seria enviado para Portugal. Se 
até 1530 esse território fornecia basicamente pau-brasil para a Europa, após a vinda 
do governador-geral e a fundação de Salvador, a colônia passaria a fornecer uma 
mercadoria de grande valor no mercado europeu. 
 
2.4 A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR 
Segundo Schwartz (1988), durante os séculos XV e XVI quase todas as ilhas do 
Atlântico exportavam açúcar para os mercados europeus. A ilha da Madeira, por 
exemplo, era o maior monocultor de açúcar do Ocidente no final do século XV. No 
Novo Mundo, portugueses e espanhóis tinham ciência de que o açúcar provavel-
mente seria o produto mais lucrativo. Mesmo Cristóvão Colombo, que se casara na 
ilha da Madeira, levou mudas de cana-de-açúcar para as Antilhas já em sua se-
gunda viagem, no ano de 1493. 
Apesar de algumas tentativas de engenhos de açúcar nos primeiros anos do 
século XVI, foi apenas entre as décadas de 1530 e 1540 que a produção estabele-
ceu bases sólidas no Brasil. 
De acordo com Schwartz (1988), a cana-de-açúcar foi plantada em todas 
as capitanias, com mudas trazidas da Madeira e de São Tomé. Engenhos foram 
construídos em Porto Seguro, Ilhéus e na Bahia e também houve grande produção 
em São Vicente, ainda que essa região não tenha sido uma importante área açu-
careira durante todo o período colonial – até o século XVII sua produção de aguar-
dente era relevante enquanto produto de troca. 
Pernambuco se tornou a mais bem-sucedida das capitanias. Seu donatário se 
chamava Duarte Coelho e se mudou com toda a família para gerir o povoamento 
e desenvolvimento da colônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
Schwartz (1988) explica que as importantes relações que a família estabele-
ceu com os indígenas através de casamentos com mulheres nativas foram valiosas 
para lidar com a resistência dos nativos. O cunhado do donatário, chamado Jerô-
nimo de Albuquerque foi um dos homens que se casou com uma indígena. As cartas 
de Duarte Coelho informam à Coroa que no ano de 1542 ele havia plantado muitos 
pés de cana e solicitava o direito de importar escravos africanos. Na década de 
1580 Pernambuco já possuía 66 engenhos e era a principal região produtora de açú-
car no Brasil. 
Depois de Pernambuco, a Bahia se constituiu como importante produtora de 
açúcar. Seu litoral era apropriado para o cultivo da cana, mas o centro da produ-
ção canavieira concentrava-se no Recôncavo, ao redor da Baía de Todos os Santos. 
 
 
 
Figura 4: Engenho de Pernambuco 
 
Fonte: Post [Séc. XVII] 
 
 
O donatário Francisco Pereira Coutinho chegou ao Brasil em 1536 e mesmo 
com a vantagem de ter ao seu lado o Caramuru e as boas relações com os indíge-
nas, não exerceu uma boa liderança dos colonos. Sitiados, acabaram mortos em 
um naufrágio ao tentar retornar à Baía de Todos os Santos depois de refugiarem-se 
em Porto Seguro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
A criação de uma capital diretamente controlada pela Coroa e de 
instituições para viabilizar o governo colonial não substituíram de ime-
diato o preexistente sistema de donatarias. A Coroa tencionava rea-
ver gradualmente os direitos de governo que concedera aos dona-
tários. Na próspera capitania de Pernambuco a princípio teve pouco 
sucesso, entretanto a construção de Salvador foi, sem dúvida, um 
grande passo no processo de aumento do controle exercido pelo mo-
narca (SCHWARTZ, 1988, p. 34-35). 
 
Os primeiros engenhos construídos no Brasil são descritos como pequenos e 
do tipo de trapiche, ou seja, movidos por cavalos ou bois. Os próprios donatários as 
vezes construíam engenhos movidos à força hidráulica, mas os custos envolvidos 
nesse tipo de construção – grandes rodas d’água e um sistema de calhas para con-
duzir a água ao local apropriado – eram muito elevados para a maioria dos colonos. 
Diferentes fatores contribuíram para que essa situação começasse a se modificar na 
região do Nordeste, como a disponibilidade de capital – vindo dos lucros anteriores 
ou de investimentos estrangeiros –, a expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoa-
mento administrativo e a maior produtividade da força de trabalho. No século XVII 
também houve melhoramentos técnicos que aumentaram a produção global de 
açúcar (SCHWARTZ, 1988). 
Como vimos, cada donatário poderia distribuir terras aos seus colonos para 
que fossem exploradas na forma de roças, fazendas (lotes maiores que poderiam ser 
utilizados para criar gado, cultivar cana ou outros produtos exportáveis como gen-
gibre e algodão), e também engenhos. Através da carta de sesmaria, assim, eles 
eram autorizados a distribuir territórios recém-conquistados ou retomados. Outra 
forma de estimular a colonização e o desenvolvimento da economia açucareira 
eram os sistemas de arrendamento, parceria e outras formas de associação entre os 
engenhos e os lavradores que deveriam plantar a cana sem transformá-la, eles mes-
mos, em açúcar. 
 
2.5 INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO 
No início do século XVII, a Holanda despontava como uma das maiores po-
tências marítimas europeias. De acordo com Françozo (2014), naquela época os ho-
landeses possuíam mais navios do que todo o restante da Europa combinado, reali-
zavam transações comerciais nos quatro cantos do globo e já no início daquele sé-
culo haviam se tornado o centro comercial do Velho Mundo. Por volta do ano de 
1620 os holandeses controlavam entre metade e dois terços do comércio marítimo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
entre Brasil e Europa. 
Ainda segundo Françozo (2014, p. 50) com “a intensificação desse comércio 
e o aumento de sua importância, somados ao conflito político-militar entre as Pro-
víncias Unidas e a Espanha, criaram ocasião e ensejo para a instituição de uma 
única companhia privada que controlaria o comércio com o oeste [...]”. 
Assim, a criação da Companhia das Índias Ocidentais (conhecida pela sigla 
de WIC, do holandês West-Indische Compagnie) possuía o intuito de organizar e au-
mentar o comércio holandês no Atlântico, avançando contra o domínio ibérico nas 
Américas. 
 
 
 
Os holandeses fizeram uma primeira tentativa de domínio da regiãoNordeste 
atacando a Bahia no ano de 1624, mas foram expulsos pelos portugueses no ano 
seguinte. Em 1630, porém, os holandeses obtiveram sucesso no ataque às cidades 
de Olinda e Recife, na capitania de Pernambuco, grande produtora de açúcar. 
Apesar da resistência portuguesa, os holandeses conquistaram outras cidades im-
portantes da região e permaneceram no Nordeste por 24 anos. 
Mello (2009) sugere três momentos da ocupação holandesa: uma fase inicial 
de conquista para os holandeses e de resistência luso-brasileira (1630-1637); um pe-
ríodo de paz associado à chegada e ao governo de João Maurício de Nassau (1638-
1645); uma etapa final de guerra, de restauração na perspectiva luso-brasileira e de 
repressão do levante restaurador na ótica holandesa (1645-1654). O governador ho-
landês Maurício de Nassau organizou ainda a tomada da cidade de Luanda, capital 
de Angola, demonstrando compreender a importante relação que se estabelecia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
entre os dois lados do Atlântico na provisão de mão de obra para o Brasil. 
A retomada de Luanda foi organizada pelos próprios moradores do Brasil e 
pelo reio Dom João IV, liderada pelo governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia 
de Sá e Benavides no ano de 1648. A guerra também começara em Pernambuco 
no ano de 1645, levando nove anos para finalmente os portugueses conseguirem 
expulsar os holandeses do território. A administração de Maurício de Nassau ficou 
conhecida como bastante avançada para aquele período, retomando a produção 
de açúcar que havia sido afetada pela resistência nos anos iniciais, promovendo 
melhorias urbanas e renomeando a capitania de Pernambuco como Nova Holanda 
e a cidade de Recife como Cidade Maurícia, em sua própria homenagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. O que foram as capitanias hereditárias? 
 
a) Foi uma tentativa da Coroa Portuguesa de povoar o interior do território distribu-
indo terras que deveriam ser colonizadas longe da costa. 
b) Foram espécies de caravelas construídas em Portugal que facilitavam a circula-
ção entre Lisboa, Salvador e Angola. 
c) Foi a divisão do território da América Portuguesa em 15 lotes para serem coloniza-
dos por particulares. 
d) Foram pequenos terrenos divididos entre particulares no Recôncavo Baiano para 
que fossem instalados os primeiros engenhos de açúcar. 
e) Eram construções fortificadas no litoral do continente africano que auxiliavam as 
embarcações portuguesas com mantimentos e compra de escravos. 
 
2. Quais as características dos governadores-gerais do Brasil? 
 
a) Foram os primeiros homens degredados para o Novo Mundo que acabaram as-
sumindo uma função administrativa importante no Brasil. 
b) Eram sempre membros da realeza e representavam o rei português no Novo 
Mundo. 
c) Eram nomeados pelos comandantes das caravelas para cuidarem da região 
onde aportavam até que fosse nomeado um vice-rei para o Brasil. 
d) Eram homens escolhidos pela Coroa portuguesa por serem bem qualificados não 
só pelo nascimento, mas também pela prestação de serviços. 
e) Eram nomeados pelo rei português para administrar o Brasil, prestando contas 
para os jesuítas que vieram na mesma época como Manuel de Nóbrega. 
 
3. Quais as funções do Provedor-mor e do Ouvidor-geral no Brasil? 
 
a) Cuidar da defesa do território e aplicar a justiça. 
b) Administrar as finanças e aplicar a justiça. 
c) Os dois possuíam funções semelhantes na defesa do território. 
d) Aplicar a justiça e cuidar das finanças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
e) Prover os mantimentos e enviar informações sobre a colônia ao rei. 
 
4. Por que o historiador Pedro Puntoni entende que a escolha da Bahia como sede 
do governo-geral foi algo “natural”? 
 
a) Porque foi o primeiro lugar em que os portugueses aportaram e, portanto, fazia 
sentido começarem por ali. 
b) Porque o restante do litoral do atual nordeste era acidentado e de difícil acesso, 
e a Bahia era o único lugar que daria para estabelecer uma cidade para a capi-
tal. 
c) Porque era o local mais perto geograficamente de Lisboa em toda a América 
Portuguesa. 
d) Porque além de suas qualidades geográficas e que facilitavam a defesa do terri-
tório, seu donatário havia morrido e cabia à Coroa apenas pagar o valor para 
seus herdeiros. 
e) Porque ali já havia grandes plantações de cana-de-açúcar, o que facilitava a 
instalação dos primeiros engenhos no Brasil. 
 
5. Quais motivos Stuart Schwartz identifica para o sucesso da capitania de Pernam-
buco? 
 
a) A utilização de mão de obra escrava indígena e a proximidade com Lisboa. 
b) A vinda do donatário com toda a família e a boa relação com os indígenas. 
c) A invasão holandesa que modernizou a fabricação do açúcar e aumentou a pro-
dução. 
d) Os investimentos da Coroa portuguesa nos primeiros engenhos de açúcar da re-
gião. 
e) A habilidade de Duarte de Coelho em submeter os indígenas para trabalharem 
nos engenhos de açúcar. 
 
6. Quais os motivos que fizeram com que a produção de açúcar em Pernambuco 
começasse a aumentar a partir do século XVII? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
a) Os investimentos financeiros da Coroa portuguesa, que assumiu o controle da pro-
dução açucareira. 
b) A baixa no consumo de açúcar na Europa, o que fez com que a produção em 
Pernambuco aumentasse. 
c) A vinda de portugueses ricos que financiaram o aumento da produção. 
d) A expansão das terras cultivadas, o aperfeiçoamento administrativo e a maior 
produtividade da força de trabalho. 
e) A utilização de mão de obra assalariada na produção, o que modificou as rela-
ções de trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
O CONTINENTE AFRICANO E A 
ESCRAVIDÃO NO BRASIL 
 
 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
Além disso, vamos aprender sobre o trabalho na colônia e o que significou 
para essas pessoas a vinda para o Brasil: como era trabalhar em um engenho, a 
violência empregada pelos senhores de escravos e as formas de resistência. Por fim, 
discutiremos como a utilização da mão de obra escrava impactou o a sociedade 
brasileira até os dias de hoje e o que vem sendo feito para diminuir as desigualdades 
sociais causadas pelo sistema escravagista. 
 
3.2 A ÁFRICA E O COMÉRCIO NEGREIRO 
Quando falamos em migração forçada, devemos ter em mente que o conti-
nente africano passou por diversos fluxos migratórios compulsórios durante sua histó-
ria, conectando a África com o Oriente Médio, o Mediterrâneo e o Oceano Índico. 
Segundo Ferreira (2018), porém, em nenhum momento o custo humano foi 
tão alto quanto no tráfico Atlântico, responsável pela transferência forçada de 
cerca de 12 milhões de pessoas entre os séculos XVI e XIX.. 
Essa migração forçada começou a se desenvolver com a colonização das 
Américas no século XVI. Portugueses e espanhóis utilizavam a mão de obra africana 
na mineração e na agricultura comercial, sendo impossível dissociar essa demanda 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
Nessa unidade iremos discutir as relações que se estabeleceram entre algu-
mas regiões do continente africano, Portugal e o Brasil. A economia açucareira foi 
totalmente baseada na mão de obra de africanos escravizados, comprados na 
África e trazidos para a colônia portuguesa, o que significou uma gigantesca migra-
ção forçada para esse território. Veremos como funcionava a escravidão naquela 
sociedade e como ela foi modificada a partir do contato com o europeu, resultando 
no tráfico atlântico que enriquecia não só portugueses, mas diferentes Coroas da 
Europa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
por mão de obra do tráfico Atlântico. O estudo sobre a utilização de africanos es-
cravizados na América é bastante difundido em materiais escolares e nas universi-
dades. No início, porém, os europeus começaram fornecendo mão de obraescrava 
dentro da própria África e também para Portugal e Espanha, locais em que a escra-
vidão tinha caráter mais urbano. De acordo com Ferreira (2018), tanto Lisboa como 
Sevilha possuíam considerável população de origem africana no século XVI. 
Atualmente algum revisionismo tenta transferir para os próprios africanos as 
mazelas decorridas do tráfico de escravos, argumentando que a escravidão já exis-
tia naquele continente e que os africanos escravizados eram vendidos pela própria 
população daquela região. Convém ressaltar que o contato com os europeus mo-
dificou profundamente as relações africanas, impondo uma quantidade de escra-
vos enorme e estabelecendo a ideia de mercadoria que não condizia com os cos-
tumes daquela sociedade. 
Ferreira (2018) explica que, no curto prazo, o tráfico Atlântico significou a cen-
tralização política dos reinos africanos que dominaram o fornecimento de escravos 
para mercadores europeus, o que levou a um quadro de instabilidade nas socieda-
des africanas, já que vários grupos se insurgiam contra essa centralização. Além 
disso, o direito costumeiro em vigor também foi modificado, já que o que constituía 
transgressão ou crime passível de escravização se ampliou para satisfazer a necessi-
dade de produzir mais e mais cativos. Por exemplo: antes, crimes como roubo e adul-
tério eram punidos com multa ou prisão; com a necessidade cada vez maior de 
escravos para abastecer o mercado atlântico, essas transgressões passaram a ser 
punidas com a escravidão. 
Nem todas as regiões do continente africano fizeram parte do tráfico Atlân-
tico de escravos. As regiões mais afetadas foram a Costa da Mina (entre Gana e 
Nigéria) e a África Central (do Gabão até o sul de Angola). Ferreira (2018) afirma 
que essas duas regiões responderam por quase 80% das vítimas do tráfico Atlântico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Figura 5: A relação comercial que se estabelecia entre a Europa, África e América. 
 
Fonte: Wikimedia Commons (2011, online) 
 
Nas duas regiões, os embarques de escravos eram em sua grande maioria 
direcionados ao Brasil que recebeu quase dez vezes mais africanos cativos do que 
as colônias inglesas da América do Norte. A proeminência brasileira se devia a di-
versos fatores: à proximidade geográfica entre as duas regiões; à facilidade do con-
tato marítimo devido às correntes e regimes de ventos; à relação comercial que se 
estabeleceu entre Costa da Mina e África Central e a sociedade luso-brasileira. 
Ferreira (2018) argumenta que a interação direta entre as duas colônias por-
tuguesas com a troca de mercadorias entre Brasil e Angola, estimulou a economia 
do tráfico atlântico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
No Brasil, os dois grandes centros importadores de escravos foram a Bahia e 
depois o Rio de Janeiro. Os traficantes baianos possuíam uma importante moeda de 
troca no litoral africano, o fumo produzido no Recôncavo. De acordo com Fausto 
(2015), essa região estava mais ligada à Costa da Mina, à Guiné e ao golfo de Benim. 
Já o Rio de Janeiro recebia em sua maioria escravos de Angola, superando a Bahia 
após a descoberta das minas de ouro, com o avanço da economia açucareira e o 
crescimento urbano da capital a partir do século XIX. 
 
3.3 OS INDÍGENAS: ESCRAVIDÃO, POVOAMENTO E DEFESA DO TERRITÓRIO 
Desde o início da colonização, houve três modos de apropriação de indíge-
nas pelos portugueses: o resgate, o cativeiro e os descimentos. De acordo Alencastro 
(2000), os resgates eram a troca de mercadorias por índios prisioneiros de outros ín-
dios. A lei portuguesa estabelecia que apenas índios “à corda”, ou seja, que já fos-
sem prisioneiros e que seriam mortos, poderiam ser objeto de um resgaste pela po-
pulação. Além disso, esses indivíduos teriam seu cativeiro limitado a dez anos. Os 
índios escravizados via categoria de cativeiro deveriam ser apresados na chamada 
“guerra justa”, obrigatoriamente consentida e determinada pelas autoridades ré-
gias, por períodos estabelecidos e contra certas etnias. Nesse contexto, os índios 
capturados seriam escravos por toda a vida. Por fim, os descimentos eram os deslo-
camentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e agrupamentos euro-
peus. 
 
À primeira vista secundários, os descimentos – pela dimensão que to-
maram no âmbito da América portuguesa – aparecem como as inici-
ativas de consequências mais catastróficas para os indígenas. Acua-
das pelos reides das entradas nas aldeias, e pelas pressões das autori-
dades civis e religiosas, as tribos do sertão foram sendo ‘descidas’ e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
aldeadas na vizinhança dos portos, das vilas e cidades. Mal alimenta-
dos, expostos ao trabalho forçado num ambiente epidemiológico que 
lhes era particularmente hostil, os índios aldeados pereciam em 
grande número (ALENCASTRO, 2000, p. 120). 
 
Figura 6: “Os invasores” (1936) 
 
Fonte: Parreiras (1936) 
 
Alencastro (2000) ainda argumenta, por fim, que a maior parte dos textos pro-
ibindo o cativeiro indígena não surtiu efeito na colônia, e utiliza o trabalho do profes-
sor Monteiro (2002) para demonstrar como em meados do século XVII os índios eram 
citados como bens nos testamentos dos paulistas. Um dos testamentos analisados 
pelo historiador informa que transferia a herança dos índios, que eram declarados 
como “livres pelas leis do reino e só pelo uso e costume da terra são de serviços 
obrigatórios”. Ou seja, apesar da lei, os indígenas escravizados constavam até em 
documentos oficiais como testamentos, burlando a proibição utilizando termos 
como “serviços obrigatórios”. 
Apesar desses documentos que comprovam o “costume” de manter indíge-
nas escravizados, a Coroa portuguesa o proibia desde o ano de 1570, reproduzindo 
a noção defendida pela Bula de Paulo II do ano de 1537. Pela lei de 20 de março 
de 1570, só seria lícita a escravização dos índios conseguidos em “guerra justa”, ou 
seja, autorizada pelo rei ou pelo governador do Brasil, e caso os indígenas praticas-
sem a antropofagia. Diferente das sofisticadas discussões encontradas na Espanha 
como a Controvérsia de Valladolid, em Portugal a definição de guerra justa era a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
mesma desde o século XIV, e afirmava o direito da Igreja ou do Estado em declarar 
guerra contra os infiéis – a guerra declarada por particulares, portanto, deveria ser 
condenada. No período filipino a lei de 24 de fevereiro de 1587 regulamentava o 
uso dos índios trazidos do sertão, entradas que só poderiam ser realizadas com a 
licença do governador geral – menos de 10 anos depois, elas só poderiam ser auto-
rizadas pelo rei. Mas foi a lei de 30 de julho de 1609 que declarou que todos os índios 
seriam efetivamente livres, fossem cristãos ou pagãos. A reclamação de toda a po-
pulação, porém, fez com que dois anos depois a legalidade do cativeiro em caso 
de guerra justa fosse retomada (PUNTONI, 2002). 
A lei de 1611 consolidava o “regime das missões” tal como havia sido elabo-
rado pelos jesuítas, onde os índios deveriam ser fixados em um povoado com os prin-
cípios pedagógicos dos religiosos. Segundo Puntoni (2002), índios de diferentes na-
ções eram reunidos nesses povoados para serem submetidos a várias formas de res-
socialização e aculturação. Para trazer os indígenas aos povoados, os jesuítas pro-
cediam aos descimentos das tribos indígenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
 
Figura 7: Monumento às Bandeiras (1954) do artista Victor Brecheret, localizado no Parque 
Ibirapuera na cidade de São Paulo 
 
Fonte: Imbroisi (2016, online) 
 
Para além de servirem como mão de obra, os indígenas também foram utiliza-
dos pelos portugueses como povoadores necessários na manutenção de seu domí-
nio, especialmente diante das tentativas de conquistas ou de invasão de outras po-
tências europeias. 
Segundo Puntoni (2002),os nativos eram os únicos capazes de ensinar sobre os 
novos territórios e contribuir com o envio de homens para que as tropas portuguesas 
conseguissem enfrentar não só as tribos hostis, mas também os ataques de outras 
nações. 
Não só os portugueses perceberam a vantagem de aliar-se aos nativos do 
Novo Mundo, mas mesmo os invasores holandeses sabiam da importância de trazer 
os indígenas para perto. O conde de Nassau reconhecia em relatório de 1644 que 
era da amizade com os índios que dependia o sossego e a conservação da colônia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
do Brasil. O importante era, manter as alianças com as tribos indígenas do país, seja 
para fins militares e conservação do domínio, seja para o serviço da empresa colo-
nial. 
 
3.4 VIVÊNCIA E RESISTÊNCIA AFRO-BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL 
Durante muito tempo era possível encontrar nos manuais didáticos brasileiros 
a afirmação de que os escravos africanos eram melhores para o trabalho e que os 
índios teriam sido deixados de lado porque eram “preguiçosos” e não se adaptavam 
ao serviço. Hoje sabemos não só que o trabalho indígena foi utilizado por muito 
tempo, mas também que a mão de obra de africanos escravizados foi empregada 
pelo lucro que o tráfico negreiro trazia tanto para a Coroa como para particulares. 
Além disso, essa população trazida para a América de maneira compulsória não 
aceitou de maneira passiva seu destino, atuando de diferentes formas como através 
da diminuição do trabalho, pela agressão a seus senhores, através das fugas indivi-
duais ou em massa, com a formação de quilombos e mesmo pela autodestruição 
através do infanticídio e suicídio. 
De acordo com Schwartz (1987), a geografia e a ecologia de grande parte 
do litoral baiano favoreciam a fuga dos escravos, que floresceu em quase todas as 
áreas da capitania. O historiador argumenta que uma série de características con-
tribuiu para a fuga de escravos e a formação de comunidades de fugitivos na Bahia, 
como o fato de ser um dos principais terminais do comércio atlântico de escravos e 
uma importante zona de agricultura e exportação. Nas zonas das grandes planta-
ções, a quantidade de escravos poderia chegar a mais de 60% dos habitantes. A 
maioria dessa população era formada por homens, já que eram os preferidos para 
o trabalho pesado nos engenhos. Depois de fugirem, formavam comunidades den-
tro da mata, mas próximo aos povoados, chamadas de mocambos. Viviam da agri-
cultura, mas também do assalto às estradas e do roubo de gado. O mocambo re-
presentava uma expressão de protesto social numa sociedade escravista. 
Nas regiões das minas de ouro do centro-sul (que estudaremos na próxima 
unidade) parte do que ocorria no Nordeste açucareiro também se reproduzia. Os 
escravos também eram grande parte da população – entre um terço e metade da 
quantidade de moradores da região – mas pessoas chamadas “de cor” considera-
das livres constituíam cerca de 40% dos moradores já ao final do período colonial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
Assim, o autor ainda argumenta que a população afro-brasileira nessa região já era 
quase três quartos dos habitantes, com a diferença de que os escravos possuíam 
relativa autonomia em seu trabalho: contanto que fossem produtivos e entregassem 
o ouro encontrado podiam se movimentar pela região mineradora. 
 
O vasto mar de escravos e pessoas de cor livres forneciam um ambi-
ente potencialmente simpático aos fugitivos. A natureza descontinua 
dos povoados e a topografia montanhosa forneciam grandes tratos 
inacessíveis, próprios para os esconderijos e, mesmo em muitas con-
centrações urbanas, a grande população de cor livre tornava difícil 
a descoberta dos fugitivos. Ademais, como estes eram frequente-
mente capazes de fornecer ouro que haviam roubado ou encon-
trado, alguns brancos dispunham-se a cooperar com os mocambos 
ou proteger foragidos (SCHWARTZ, 1987, p. 77). 
 
Os escravos que fugiam acabavam se organizando nos chamados quilombos 
ou mocambos, que poderiam ser muito diversos naquele período. De acordo com 
Gomes (2018), havia quilombos que constituíam comunidades independentes com 
atividades camponesas que se integravam à economia local; havia os que se ca-
racterizavam pelo protesto reivindicatório dos escravos; havia ainda os formados por 
pequenos grupos quilombolas que se dedicavam ao assalto das fazendas próximas; 
havia por fim os que aceitavam voltar à situação de escravo desde que suas exi-
gências fossem atendidas . O mais famoso quilombo do Brasil é, sem dúvida, o Qui-
lombo de Palmares. 
 
3.5 QUILOMBO DE PALMARES 
O Quilombo de Palmares era uma rede de povoados na região que hoje cor-
responde a parte do estado de Alagoas e chegou a agregar milhares de moradores. 
Ele se formou no início do século XVII e perdurou por quase cem anos (1605-1694). 
Segundo Schwartz (1987), os administradores régios transformaram Palmares 
em um símbolo de como qualquer comunidade de fugitivos poderia ameaçar uma 
sociedade baseada na mão de obra escrava. Devido ao tamanho que alcançou 
com o passar dos anos, é possível encontrar documentação sobre o período, ainda 
que ela se relacione mais com sua última década de existência e destruição. O his-
toriador explica que Palmares não era uma comunidade única, mas uma série de 
mocambos unidos em um único reino neo-africano. A partir dos relatos de observa-
dores europeus, entende-se que Palmares era um estado organizado sob o controle 
de um rei, com chefes subordinados e povoados apartados. A liderança se dava 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
aparentemente por uma linhagem régia. Os fugitivos de Palmares viviam da agricul-
tura, embora também houvesse a negociação de armas e outros produtos com ha-
bitantes brancos da região. Como nas sociedades africanas, em Palmares também 
havia escravidão. Palmares parece ter sido uma adaptação de formas culturais afri-
canas à situação em que esses escravos de diversas origens se encontravam, 
unindo-se em oposição à escravidão colonial. 
Durante toda a sua história, o quilombo esteve sob constante ataque: mesmo 
os holandeses quando ocuparam a região de Pernambuco organizaram três expe-
dições contra Palmares; entre os anos de 1672 e 1680 houve praticamente uma ex-
pedição a cada ano. 
Segundo Schwartz (1987), a cada novo governador, o “rei” de Palmares, cha-
mado Ganga Zumba, reiterava os pedidos de paz, prometendo lealdade à coroa 
portuguesa e devolução de novos fugitivos em troca do reconhecimento da liber-
dade do quilombo. Os portugueses teriam aceitado essas condições, mas logo as 
violadas, ocorrendo dentro de Palmares uma revolta contra Ganga Zumba, que foi 
deposto e morto por seu sobrinho, Zumbi. Os administradores portugueses continua-
ram as investidas contra o quilombo, buscando os bandeirantes paulistas para elimi-
nar Palmares. 
De acordo com Gomes (2018), no fim da década de 1680 e começo dos anos 
1690 começou a preparação das grandes expedições militares comandadas pelo 
bandeirante Domingos Jorge Velho. Além de numerosos, os bandeirantes levaram 
potentes canhões e considerável aparato militar. A batalha final ocorreu em feve-
reiro de 1694 com a destruição do quilombo e morte de Zumbi. 
 
Figura 8: Zumbi (1927) 
 
Fonte: Parreiras (1927) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://bit.ly/32KFZpi. 
https://bit.ly/2ZSgpfW. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Quando os primeiros contatos entre europeus e africanos começam, a escravi-
dão já existia na África. Qual mudança se estabeleceu a partir desse contato e 
da demanda por mão de obra escrava na América? 
 
a) A alta demanda fez com que ocorressem mudanças nos costumes e cada vez 
mais transgressões eram passíveis de escravidão. 
b) A baixa demanda de mão de obra na América praticamente acabou com a 
escravidão que já existia na África. 
c) Os chefes das sociedades africanascederam seu lugar para que os portugueses 
administrassem a oferta de escravos. 
d) As principais sociedades africanas entraram no comércio e distribuição de escra-
vos, fabricando embarcações que chegavam até a América. 
e) Os portugueses fundaram vilas e enviaram governadores para aumentarem a 
quantidade de escravos enviados para a América. 
 
2. Quais as principais regiões africanas que participaram do tráfico atlântico de es-
cravos? 
 
a) A região norte da África, atual Marrocos e deserto do Saara, ofereceu grande 
parte dos escravos enviados para a América. 
b) Especialmente o interior africano foi responsável pela grande quantidade de es-
cravos que serviram de mão de obra para os portugueses. 
c) Os escravos enviados para o Brasil saíram em sua maioria da Costa da Mina e da 
África Central (do Gabão até o sul de Angola). 
d) A região sul, especialmente Botsuana e Namíbia, foi a que mais enviou escravos 
para o Brasil. 
e) A região da África Oriental, próxima à Índia, foi a maior fornecedora de escravos 
para o Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
3. Explique o que foram os descimentos. 
 
a) Era o envio de indígenas para o sul do país para incentivar o povoamento do 
território. 
b) Eram os deslocamentos forçados dos índios para as proximidades das vilas e 
agrupamentos europeus. 
c) Eram trajetos percorridos de barco para o interior do território com o auxílio dos 
indígenas que conheciam a região. 
d) Eram as entradas de portugueses para o interior em busca de indígenas para 
servirem de mão de obra na região centro-sul. 
e) Era a busca por metais preciosos no interior do país através do envio de indígenas 
que conheciam o território. 
 
4. Quem foi Raposo Tavares e qual sua importância na história do Brasil? 
 
a) Foi um importante governador-geral que auxiliou na expulsão dos holandeses em 
Pernambuco no século XVII. 
b) Foi um donatário que fundou a cidade de Recife e contribuiu para o desenvolvi-
mento da agricultura na região. 
c) Foi um senhor de engenho cuja fazenda foi uma das principais produtoras de 
açúcar do século XVII em Pernambuco. 
d) Foi um bandeirante paulista responsável por uma grande bandeira que aprisio-
nou entre 40 e 60 mil guaranis no século XVII. 
e) Foi o responsável por destruir o Quilombo de Palmares no final do século XVII em 
Alagoas. 
 
5. Qual dessas formas de resistência foram utilizadas pelos escravos no Brasil durante 
o período colonial? 
 
a) Respeitavam seus senhores para um dia serem libertos. 
b) Obediência contra os senhores de engenho. 
c) Fuga, formação de quilombos e suicídio. 
d) Fuga de navio de volta para a África. 
e) Aumento da produção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
6. O que foi o Quilombo de Palmares? 
 
a) Foi um local fundado por escravos na Bahia no qual os filhos dos cativos nasciam 
livres. 
b) Foi o maior quilombo do período colonial, que existiu na região do atual estado 
de Alagoas. 
c) Foi uma importante fazenda produtora de açúcar na região do atual estado de 
Alagoas. 
d) Foi um movimento de escravos a favor da abolição, que surgiu no período colo-
nial 
e) Foi um local de fuga de escravos, liderado por Palmares, próximo ao Recôncavo 
Baiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
A DESCOBERTA DE OURO NAS 
MINAS 
 
 
 
4.1 INTRODUÇÃO 
Depois de estudarmos a utilização da mão de obra de africanos escravizados 
e de indígenas no Brasil colonial, veremos agora outro momento importante da His-
tória, que se iniciou no final do século XVII: a descoberta do ouro na região das Minas 
Gerais. Os primeiros relatos de ouro surgiram com as incursões dos bandeirantes ao 
interior, no ano de 1693 na região da capitania de São Paulo – que depois seria des-
membrada como Minas Gerais a partir do desenvolvimento trazido pela mineração 
(SOUZA, 2006). 
A notícia que se espalhou rapidamente e trouxe milhares de aventureiros para 
a região, modificou profundamente as relações estabelecidas entre a metrópole e a 
colônia, bem como inverteu o centro econômico do Brasil do Nordeste para a região 
Sudeste. Estudaremos nessa unidade como se deu esse processo, como foi a instala-
ção de uma nova rede burocrática na região, a cobrança de impostos e o cotidiano 
da população que buscava ascensão social a partir do enriquecimento trazido pelo 
ouro. 
 
4.2 OURO: DESCOBERTA, EXPLORAÇÃO E CONTROLE 
Em meados do século XVII, quando começou a circular a notícia da desco-
berta de ouro pelos bandeirantes paulistas na região do atual estado de Minas Ge-
rais, aquela área contava apenas com um superintendente e um guarda-mor, não 
possuindo qualquer fiscalização da arrecadação dos mineiros a não ser nos portos 
do Rio de Janeiro, Santos e Paraty, onde foram construídas Casas de Fundição. A 
primeira medida realizada pela Coroa portuguesa foi, então, a compra da capitania 
de São Vicente (que ainda era de um donatário) no ano de 1709 como maneira de 
iniciar a fiscalização da região (SILVA, 2005). 
A agilidade para organizar a arrecadação de impostos se devia à grande 
quantidade de pessoas que se dirigiram para a região logo nos primeiros indícios de 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
que o ouro havia sido encontrado. Para se ter uma ideia de como a notícia se alas-
trou rapidamente, entre os anos de 1693 e 1709, André João Antonil (nome falso do 
jesuíta italiano João Antônio Andreoni, por duas vezes reitor do Colégio da Bahia) 
escrevia o livro chamado Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, onde 
discorria sobre as quatro fontes de riqueza da colônia, incluindo o ouro. Publicado no 
início do mês de março de 1711, dias depois o Conselho Ultramarino de Portugal pro-
curou o rei para proibir sua circulação, argumentando que o livro expunha “muito 
distintamente todos os caminhos que há para as minas de ouro descobertas” (SOUZA, 
2006). 
 
 
 
 
 
Antonil era um apologista das culturas do açúcar e do tabaco que se desen-
volviam no Nordeste, e via apreensivo os possíveis benefícios trazidos pela exploração 
do ouro. Souza (2006) explica que o ouro das Gerais afetava diretamente os produ-
tores de açúcar ao roubar-lhes escravos e desviando os gêneros necessários à subsis-
tência dos engenhos. Após dois séculos de dominação inconteste, a açucarocracia 
Casas de Fundição: As Casas de Fundição eram locais estabelecidos pela Coroa com a 
função de fundir o ouro e retirar a quinta parte dele como imposto para o rei – conhecido 
assim como “o quinto”, ou seja, 20% do ouro que seria fundido deveria ser retirado do mon-
tante. O contrabando era muito comum no período devido à facilidade em se esconder o 
ouro e movê-lo de lugar. A maneira que a coroa tentou resolver o problema foi proibindo 
que o ouro circulasse pelas vilas e cidades sem o selo real cunhado na barra de ouro depois 
de fundida. Era o ouro “quintado”. 
O Conselho Ultramarino foi fundado pelo rei Dom João IV pouco tempo depois da Restau-
ração Portuguesa, no ano de 1643. Esse Conselho era responsável por tudo o que se rela-
cionava às finanças e à administração dos territórios do além-mar: primeiro a África, depois 
as Índias e o Brasil. Dessa forma, a autorização de publicação de livros em Portugal não era 
de sua alçada, mas após o livro de Antonil, seus conselheiros entenderam que deveria pas-
sar por eles qualquer livro que contivesse “matérias pertencentes às Conquistas” (SOUZA, 
2006, p. 85). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
via-se abalada por levas de aventureiros frequentemente malnascidos e malcompor-
tados. 
O eixo da vida da colônia se deslocou, assim, para o centro-sul, especialmente 
para o Rio de Janeiro, por onde entravam escravos e suprimentos e saía o ouro das 
minas. Antes de terminar o século XVIII (no ano de 1763), a capital seria transferida de 
Salvador para o Rio de Janeiro (FAUSTO,2015). 
Em poucos anos, a grande quantidade de pessoas que se deslocou até a re-
gião mineradora gerou a insatisfação dos paulistas, que se consideravam com mais 
direitos sobre a extração do que os forasteiros. Chamada de Guerra dos Emboabas 
(1707-1709), o conflito entre paulistas e estrangeiros significou não a luta contra a me-
trópole ou seus oficiais – cujas revoltas já haviam começado e iriam se multiplicar no 
século XVIII – mas sim entre os colonos. 
 
Tratava-se, no caso emboaba, da luta da rotina contra a aventura, e 
surpreendentemente os conservadores de então eram os aventureiros 
da véspera, isto é, os paulistas desbravadores que, uma vez fixados 
nos arraiais auríferos, desejavam explorar com exclusividade os veios 
sobre os quais tinham sido os primeiros a deitar os olhos. [...] os adver-
sários, batizados pelos paulistas de emboabas – palavra cujo signifi-
cado é obscuro mas tinha indiscutível conotação pejorativa – iam in-
troduzindo técnicas novas e mais sofisticadas [...] (SOUZA, 2006, p. 82). 
 
Figura 9: Lavagem do minério de ouro, proximidades da montanha de Itacolomi 
 
Fonte: Rugendas (1835) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
 Silva (2005) retrata que em decorrência da Guerra, o monarca português 
criou a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, cujo governador António de Albu-
querque Coelho de Carvalho tomou posso em 12 de junho de 1710. É possível perce-
ber, assim, que enquanto a região do atual nordeste possuía o governo-geral e todo 
o aparato burocrático vindo de Portugal no intuito de administrar a produção açu-
careira, mais ao sul e especialmente no interior da colônia, muito pouco vinha sendo 
feito pelo governo central. Com a descoberta do ouro pelos paulistas, porém, em 
muito pouco tempo as coisas mudariam naquela região. 
 
 
 
Com as dificuldades em construir uma Casa de Fundição na região – pedida 
por Dom João V, mas recusada pelos moradores das Minas – no ano de 1720 o rei 
decidiu dividir ainda mais a região, criando a capitania autônoma de Minas Gerais e 
desligando-a de São Paulo. Em 1721, chegava o governador Dom Lourenço de Al-
meida, com amplos poderes para organizar a cobrança do quinto. Em 1724 final-
mente o governador conseguiu instalar na região a Casa de Fundição (SILVA, 2005). 
Apesar da arrecadação não diminuir com o passar dos anos, o governador 
alertava em carta que sabia da grande quantidade de ouro que era contrabande-
ado para a Bahia, para o Rio de Janeiro e para Pernambuco. Com seus poucos sol-
dados, ele explicava que era impossível controlar a mineração e os caminhos que 
tomavam o ouro em pó extraído dos rios e dos morros. 
Tempos antes da descoberta do ouro na região das minas, teria ocorrido em São Paulo a 
Aclamação de Amador Bueno, narrada por diferentes personagens como Frei Gaspar da 
Madre de Deus (1715-1800). Segundo ele, com a chegada da notícia de que Portugal ha-
via se separado da Espanha com a Restauração de 1640, os espanhóis moradores da re-
gião de São Paulo teriam tentado aclamar um novo ‘rei paulista’ e escolheram Amador 
Bueno para tal posto. Esse português, porém, teria se recusado a encabeçar o motim, se 
escondendo no mosteiro de São Bento até que toda a cidade se arrependesse e acla-
masse Dom João IV como rei também daquela região. Apesar de constar em outros relatos 
e manuais de história, não há registros coevos que confirmem esse acontecimento, que 
talvez tenha sido enfatizado tantas vezes justamente para demonstrar a fidelidade paulista 
à Coroa (MONTEIRO, 2002). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
 
 
 
Outras medidas foram tomadas para assegurar a lei e a ordem na região. A 
Coroa criou juntas de julgamento e nomeou ouvidores, muitas vezes incumbidos não 
só de julgar alguma questão, mas também de supervisionar a arrecadação do quinto 
do ouro. Par controlar os escravos, escoltar o transporte do ouro e reprimir conflitos, 
Fausto (2015) explica ainda que duas companhias de Dragões – forças militares pro-
fissionais – vieram de Portugal para Minas Gerais em 1719. Ainda foram criadas milícias 
para enfrentar emergências, lideradas por brancos, mas compostas também por ne-
gros e mulatos livres. 
 
4.3 UMA SOCIEDADE IMPROVISADA 
Comparando com o Nordeste, Souza (2006) descreve São Paulo e Minas Ge-
rais no século XVIII como uma “sociedade improvisada”. Segundo o autor o “Estado 
e sociedade andaram juntos, e juntos se sedimentaram e estruturaram”, diferente das 
capitanias mais antigas da América portuguesa, onde desde 1549, os paulistas – e 
depois os mineiros – eram avaliados de maneira ambígua pela Coroa: rebeldes, po-
rém indispensáveis para proteger o território e povoar aquela região. Uma sociedade 
específica se formou no Planalto do Piratininga, com uma elite mestiça e uma auto-
nomia contraditória diante do Estado. 
Enquanto os paulistas estavam afastados geograficamente não só da capital, 
mas mesmo do litoral devido às dificuldades impostas pela travessia da Serra do Mar 
– o que dificultava a comunicação e os tornou bastante independentes do governo-
geral e da Coroa –, a situação da região das minas se agravava por outros motivos. 
O principal deles foi a rapidez com que o povoamento ocorreu na região: após as 
Chamado pela documentação de “descaminho do ouro”, o contrabando foi muito fre-
quente durante todo o período de extração do ouro, e depois dos diamantes, na região 
de Minas Gerais. O pouco controle somado à facilidade em transportar as pequenas quan-
tidades por diferentes caminhos fazia com que o ouro chegasse não só ao nordeste do 
Brasil como até a Buenos Aires. O ouro contrabandeado poderia, inclusive, chegar até Por-
tugal: “ouro clandestino era escondido em caixas de açúcar e no próprio navio [...]. Ao 
chegarem as embarcações à barra de Lisboa, desembarcavam o ouro para barcos de 
pesca que, sob o pretexto de pescarem, andavam no mar” (SILVA, 2005, p. 03). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
primeiras notícias oficiais da descoberta do ouro em 1694, logo em 1710 já eram fun-
dadas as primeiras vilas e em 1745 o primeiro bispado. Em menos de cem anos, assim, 
o número de habitantes vindos de diferentes locais em busca do ouro já era estimado 
em cerca de 380 mil (SOUZA, 2006). 
 
Figura 10: Cidade de Ouro Preto, fundada durante o chamado “Ciclo do Ouro” 
 
Fonte: Wikimedia Commons (2009, online) 
 
 
Essa grande quantidade de pessoas que se deslocou para a região das minas 
de ouro veio de diversas partes da colônia e da metrópole, o que significou a primeira 
grande onda de imigração para o Brasil. De acordo com Fausto (2015), durante os 
primeiros sessenta anos do século XVIII cerca de 600 mil pessoas saíram das ilhas do 
Atlântico e de Portugal rumo ao Brasil, o que significou uma média de 8 a 10 mil pes-
soas, das mais variadas condições, chegando a cada ano. 
Esses metais preciosos auxiliariam Portugal de seus problemas financeiros cau-
sados por uma balança comercial desequilibrada com a Inglaterra. O Tratado de 
Methuen é um grande exemplo: firmado em 1703 entre os dois países, demonstrava 
a diferença entre um Portugal predominantemente agrícola e uma Inglaterra cami-
nhando a passos largos rumo à industrialização. Por esse tratado, enquanto Portugal 
permitia a livre entrada de tecido inglês, a Inglaterra se comprometia em diminuir a 
taxação do vinho português em seu território. O ouro vindo do Brasil assim, ajudou a 
equilibrar as contas portuguesas por algum tempo (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
 
Os metais preciosos realizaram assim um circuito triangular: uma parte 
ficou no Brasil, dando origem à relativa riqueza da região das minas; 
outra seguiu para Portugal, onde foi consumida no longo reinado de 
dom João V (1706-1750), em especial nos gastos da corte e em obras 
como o gigantesco palácio-convento de Mafra; a terceira parte, fi-
nalmente, de forma direta, por via de contrabando, ou indireta, foi 
parar em mãos britânicas,acelerando a acumulação de capitais na 
Inglaterra (FAUSTO, 2015, p. 86-87). 
 
Dentro da colônia, a economia mineradora também gerou uma inédita arti-
culação entre áreas distantes. Entre a Bahia e Minas iniciou-se o transporte de gado 
e de alimentos, estabelecendo-se um comércio no sentido inverso. Do Sul vinham 
ainda não apenas o gado, mas as mulas, fundamentais no transporte das mercado-
rias. Sorocaba ficaria famosa naquela época por sua feira, transformando-se em pas-
sagem obrigatória dos comboios de animais (FAUSTO, 2015). 
A vida social nas Minas se concentrou nas cidades. Fausto (2015) afirma que 
era nas cidades onde ocorriam manifestações culturais notáveis no campo das artes, 
das letras e da música. Foi nas cidades também que surgiram as associações religio-
sas leigas – já que a Coroa portuguesa havia proibido o ingresso de ordens religiosas 
na região, acusadas de contrabando – chamadas de Irmandades ou Ordens Tercei-
ras. Foram elas que financiaram a construção das igrejas barrocas mineiras e onde 
se destacou o mulato Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, famoso escultor do 
período. 
 
Figura 11: Detalhe do profeta Isaías, parte do conjunto em pedra-sabão chamado Os Doze 
Profetas, localizado no Santuário de Bom Jesus de Matosinho 
 
Fonte: Guerini (2016, online) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
 
 
 
Infelizmente, tempos depois a mesma empresa nomeada por Drummond, seria 
responsável por grandes desastres ambientais no estado de Minas Gerais: na cidade 
de Mariana em 2015 e em Brumadinho no ano de 2019. Mesmo que essa atividade 
seja fundamental para a economia do estado, o governo brasileiro ainda não con-
seguiu legislar em prol da população e do meio ambiente e segue com descaso di-
ante de um tema tão importante. 
 
4.4 A DESCOBERTA DE DIAMANTES E O GOVERNADOR DOM LOURENÇO 
A descoberta de diamantes na região das Minas ocorreu nas primeiras déca-
das do século XVIII e foi marcada por denúncias de ocultamento do achado por 
A mineração ainda é fonte de renda de muitas cidades no atual estado de Minas Gerais. 
Desde a época colonial até os dias de hoje a degradação ambiental caminha junto à essa 
atividade econômica. Carlos Drummond de Andrade, de 1984, já denunciava em seus po-
emas décadas atrás o descaso com a população e com o meio ambiente: 
Lira Itabirana 
I 
O Rio? É doce. 
A Vale? Amarga. 
Ai se fosse 
Mais leve a carga. 
II 
Entre estatais 
E multinacionais, 
Quantos ais! 
III 
A dívida interna. 
A dívida externa 
A dívida eterna. 
IV 
Quantas toneladas exportamos 
De ferro? 
Quantas lágrimas disfarçamos 
Sem berro? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
 
 
parte do governador. Quando Dom Lourenço de Almeida escreveu ao Conselho Ul-
tramarino no ano de 1729 sobre terem encontrado na comarca de Serro do Frio 
“umas pedrinhas brancas”, as ditas pedrinhas já haviam invadido o mercado euro-
peu e circulavam livremente não só por Lisboa, mas também nos principais centros 
de lapidação como a Inglaterra e a Holanda. A resposta que recebeu diretamente 
do rei foi dura e acusava-o de negligência, reprovando a “indesculpável omissão” 
diante de tamanha novidade (ROMEIRO, 2018). 
Segundo Romeiro (2018), os contemporâneos do governador discorriam sobre 
a ironia de um homem que havia trabalhado nas Índias por quase vinte anos – local 
famoso pela exportação de diamantes – ter dificuldades em identificar as pedras do 
Serro. O próprio governador-geral do Brasil, Vasco Fernandes César de Meneses es-
crevia que, se ele mesmo havia ficado “tão prático” em reconhecer os diamantes 
tendo trabalhado por apenas cinco anos em Goa, como o governador das Minas 
não as reconhecia após 17 anos nas Índias? O mesmo autor explica que se hoje te-
mos certeza sobre a omissão mal-intencionada do governador, ainda há dúvidas so-
bre quanto tempo ele se beneficiou da descoberta antes de avisar a Coroa portu-
guesa. 
Existem diferentes versões sobre quem teria sido a primeira pessoa a encontrar 
diamantes nas Minas. Em uma delas lemos que fora um frade de nome desconhe-
cido, que teria visto na região do Tijuco homens utilizando as “pedrinhas brancas” 
para marcar a pontuação de um jogo, reconhecendo imediatamente que eram di-
amantes. Nessa versão, teria sido Bernardo Fonseca Lobo que se valeu da informa-
ção para partir para Portugal e informar ao rei. Outra versão remete a descoberta a 
1714, ano em que Francisco Machado da Silva teria encontrado os diamantes. Muitos 
reivindicaram o título oficial de descobridor dos diamantes, mas quem o obteve foi o 
português já citado, Bernardo Vieira Lobo, que recebeu diversas mercês como remu-
neração pela descoberta. A versão de Lobo, que consta como oficial nos papéis que 
documentam sua mercê, incrimina ainda mais o governador das minas, pois informa 
que ele já havia enviado amostras das pedras para Dom Lourenço remetê-las ao rei 
no ano de 1724, mas que este apenas pedia maiores quantidades para avaliar sua 
qualidade (ROMEIRO, 2018). 
O citado Tijuco ou Tejuco era situado no Distrito Diamantino, demarcado no 
ano de 1734 e que correspondia a um quadrilátero que incluía outros arraiais e po-
voados, como Gouveia, Milho Verde, São Gonçalo, Chapada, Rio Manso, Picada e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
 
 
Pé do Morro. Foi ali que a Coroa criou uma administração específica para a explora-
ção dos diamantes, denominada Intendência dos Diamantes. Segundo Júnia Fur-
tado, a sociedade diamantina seguia os contornos da capitania, sendo composta 
por uma grande camada de escravos, outra menor de homens e mulheres libertos e 
uma pequena classe dominante branca, de maioria portuguesa, que ocupava os 
postos administrativos e monopolizava as patentes militares e honrarias. Porém, é de-
monstrado por meio de documentos encontrados sobre o arraial, que naquela região 
muitos brancos e negros moravam lado a lado, o que denota a ascensão de negros 
e pardos na sociedade das minas que conseguiam a alforria, sobretudo as mulheres 
(FURTADO, 2001). 
Assim como o ouro, a descoberta de diamantes significou o envio de maiores 
riquezas para a Coroa portuguesa, além do enriquecimento dos habitantes da região 
e das vilas que abasteciam os mineradores. O Tijuco citado foi o primeiro nome da 
cidade de Diamantina, região que se tornou uma das maiores exportadoras de dia-
mantes do mundo ocidental no século XVIII. A riqueza gerada na região deu origem 
ainda a personagens interessantes que hoje fazem parte da história popular brasileira, 
como Chica da Silva. 
 
 
 
Francisca da Silva de Oliveira chegou aos dias de hoje conhecida como Chica da Silva. Já 
foi personagem de novelas, filmes e livros, em grande parte das vezes personificando o 
estereótipo com o qual a mulher negra é encarada pela sociedade contemporânea. Fur-
tado (2001) explica que Chica era uma escrava parda que conseguiu sua alforria após ser 
comprada pelo desembargador João Fernandes de Oliveira, homem rico e responsável 
pela arrecadação de diamantes no arraial do Tejuco. A historiadora explica que a alforria 
imediata após a compra era algo incomum ao período, o que poderia significar que já 
havia uma relação afetiva entre os dois. Após o nascimento do primeiro filho, Francisca já 
era chamada de Dona – importante sinal de prestígio – e seu nome já aparecia com o 
sobrenome Oliveira, “sugerindo um pacto informal entre os consortes, já que não era ade-
quado e até mesmo possível legalizar sua relação” (FURTADO, 2001, p. 54). No ano de 1754, 
Chica já era livre e proprietária de casa e escravos. Durante 15 anos, entre 1755, ano de 
nascimento de sua primeira filha, e 1770, quando João Fernandes voltou a Portugal, os dois 
mantiveram um relacionamento estável e tiveram treze filhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A 1ª sugestão para você caro aluno (a) e assistir o episódio “300 anos Vila Rica/Ouro 
Preto” do programa“Expedições” produzido pela TV Brasil. Nesse programa você irá co-
nhecer um pouco mais sobre a fundação e desenvolvimento de Vila Rica, depois co-
nhecida como Ouro Preto. Disponível em: https://bit.ly/2OOGHJN. Acesso em: 23 jan. 
2020 
 Assista outro episódio programa “Expedições” intitulado “Barroco Mineiro e Aleijadinho”. 
Nesta produção você poderá conhecer mais sobre a arte barroca que se desenvolveu 
na região de Vila Rica, e compreender como a descoberta do ouro tornou possível o 
dinamismo dessa sociedade. Disponível em: https://bit.ly/2OLF8fI. Acesso em: 23 jan. 
2020; 
 Ouça o podcast “Orelha de livro: EP05 Vila Rica em Sátiras”. Nessa espécie de podcast 
produzido pela Editora da Unicamp, seus apresentadores vão discorrer sobre o livro Vila 
Rica em Sátiras, utilizado em nosso livro para tratar da descoberta dos diamantes em 
Minas Gerais. Você aprenderá mais sobre o cotidiano do século XVIII e sobre a impor-
tância das sátiras enquanto fonte de pesquisa. Disponível em: https://bit.ly/30ILIJH. 
Acesso em: 23 jan. 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. O que era as Casas de Fundição instaladas no Rio de Janeiro e no litoral do atual 
estado de São Paulo na época do Ciclo do Ouro? 
 
a) Eram espécies de alfândegas que controlavam a saída dos navios de açúcar em 
direção a Lisboa. 
b) Eram locais de compra e venda de ouro onde a Coroa conseguia controlar esse 
comércio e cobrar os impostos em dinheiro. 
c) Eram casas de ourives cuja habilidade transformava o ouro encontrado nas minas 
em peças finas que eram enviadas para a Europa. 
d) Eram locais onde todo o ouro encontrado deveria passar para ser derretido, trans-
formado em barra e “quintado”. 
e) Eram espécies de hospedarias nas quais os mineradores e seus escravos podiam 
passar a noite sem ter de se afastar dos locais de mineração. 
 
2. Qual era a função do Conselho Ultramarino na administração portuguesa? 
 
a) Era um Conselho instalado em Salvador cuja função era coordenar a colonização 
do Brasil. 
b) Era um Conselho gerido pelos bispos portugueses enviados para o Brasil com o 
intuito de catequizar a população indígena. 
c) Era um Conselho que funcionava em Lisboa e administrava todas as questões re-
ferentes às terras portuguesas fora da Europa. 
d) Era o principal Conselho português, responsável pela defesa do território e pelas 
alianças com diferentes reinos europeus. 
e) Era um Conselho presidido pelo governador geral em Salvador, responsável pela 
arrecadação de impostos e pela defesa do território. 
 
3. Qual a reação dos defensores da economia açucareira com a descoberta do 
ouro em Minas Gerais? 
 
a) Apoiaram os paulistas na busca pelo ouro e ajudaram com investimentos na re-
gião, buscando trazer melhorias para a colônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
57 
 
 
b) Se mostraram apreensivos com o desvio de escravos e de produtos de subsistên-
cia para a região das minas de ouro. 
c) Não concordavam com o direcionamento dos investimentos para aquela região 
e reagiram diante do Conselho Ultramarino. 
d) Abandonaram as fazendas açucareiras na região nordeste e se dirigiram para as 
minas de ouro, o que prejudicou a produção de açúcar no século XVIII. 
e) Investiram na busca por ouro também na região nordeste, recebendo o apoio da 
Coroa em suas atividades. 
 
4. O que foi a Guerra dos Emboabas? 
 
a) Foi uma guerra entre os paulistas que descobriram o ouro na região das minas e 
os forasteiros que chegavam em busca de riqueza. 
b) Foi a disputa por território entre os paulistas e os indígenas da região da capitania 
de São Paulo. 
c) Foi uma guerra que ocorreu após a Restauração portuguesa entre os espanhóis 
que moravam na região de São Paulo e os paulistas. 
d) Foi um movimento que buscou a separação da capitania de São Paulo do res-
tante do território da colônia portuguesa. 
e) Foi a aclamação de um paulista como rei da região após a Restauração portu-
guesa. 
 
5. O que foi o Tratado de Methuen, assinado entre Portugal e a Inglaterra no início 
do século XVIII? 
 
a) O Tratado de Methuen foi o acordo no qual os tecidos ingleses poderiam entrar 
livremente em Portugal enquanto a produção agrícola portuguesa não era ta-
xada ao entrar na Inglaterra. 
b) Esse tratado significou a abertura dos portos da América portuguesa aos produtos 
ingleses, o que significou a falência das indústrias do setor no Brasil. 
c) O Tratado de Methuen previa que os tecidos ingleses entrariam sem taxação em 
Portugal, enquanto os vinhos portugueses não seriam taxados ao serem vendidos 
na Inglaterra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
 
 
d) O Tratado de Methuen foi um acordo de auxílio entre Portugal e Inglaterra na 
colonização das Índias, que ao final significou o domínio inglês sobre parte das 
colônias orientais portuguesas. 
e) Esse tratado previu uma aliança entre Portugal e Inglaterra contra seu inimigo co-
mum, a Espanha, que acabou se aliando à França para bloquear o avanço dos 
dois países na colonização da América. 
 
6. Segundo a historiografia, como agiu o governador das Minas Dom Lourenço de 
Almeida ao perceber os primeiros indícios de que haviam encontrado diamantes 
naquela região? 
 
a) Informou à Coroa portuguesa com rapidez, enviando amostras do material en-
contrado e sendo parabenizado pelo rei com mercês. 
b) Guardou para si a informação e nunca avisou o rei da descoberta, sendo enviado 
preso para Portugal anos depois. 
c) Fugiu da região das Minas levando consigo grande quantidade de diamantes. 
d) Ocultou o quanto pode a informação até escrever ao rei, alguns anos depois, 
afirmando não ter certeza de que as pedras eram de fato diamantes. 
e) Viajou até Portugal levando consigo amostras do material para ter certeza que 
eram de fato diamantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
59 
 
 
SOCIEDADE E REVOLTAS COLONIAIS 
 
 
 
5.1 INTRODUÇÃO 
Depois de estudarmos como se organizava a administração e a economia na 
América portuguesa, iremos apresentar agora como era morar no Brasil: as questões 
de público e privado, a instrução de crianças e jovens e o acesso à escrita. Aborda-
remos ainda o poder que a Igreja Católica exercia na colônia, já que diferentes or-
dens religiosas se instalaram desde o início do século XVI na região. Nos locais onde 
elas não eram permitidas, a sociedade civil se organizou e fundou ordens religiosas 
leigas, que exerceram importante influência na região das minas. Por fim, encerra-
remos essa unidade discutindo o que foram e quais foram as principais revoltas que 
ocorreram no período colonial. A população poderia se organizar para lutar contra 
algo específico que ocorria em sua sociedade e de que discordava ou contra toda 
a estrutura colonial, exigindo a separação de Portugal. 
Nessa unidade tentaremos, assim, aproximar o aluno (a) dos moradores da 
colônia, não só dos oficiais enviados pela Coroa e de suas ações administrativas, 
mas da população que saía da Europa ou que nascia na América: como ela vivia, 
a que tinha acesso e os motivos pelos quais ela se organizava em prol de sua comu-
nidade. 
 
5.2 COTIDIANO NA COLÔNIA 
Viver na América portuguesa possuía algumas caraterísticas bastante peculi-
ares. Ainda que a ideia dos colonizadores fosse a de que o Brasil se tornasse uma 
continuação da metrópole, o cotidiano no além-mar significava novas organizações 
e diferentes interações entre seus habitantes. Em primeiro lugar, o Novais (1997) en-
tende como principal característica do Novo Mundo a intensa mobilidade de seus 
moradores, contrapondo à relativa estabilidade encontrada no mundo europeu. 
Não era só a constante chegada de portugueses à América que trazia a sensação 
de inconstância, mas dentro do território os deslocamentos também eram frequen-
tes. A exceção se dava com o Nordeste açucareiro, onde a extraordinária fertilidade 
Erro! 
Fonte de 
referência 
não en-60 
 
 
do solo garantiu, de acordo com Novais (1997), uma permanência multissecular da 
lavoura canavieira. Para ele, de maneira geral, a economia predatória levava à iti-
nerância e à dispersão da população pelo território. 
 
E note-se o paradoxo: a sociedade mais estável, permanente, enrai-
zada, está voltada para fora – a economia açucareira organiza-se 
para a exportação; e a economia de subsistência (como a de São 
Paulo, ou a pecuária nordestina), que está voltada para dentro, dá 
lugar a uma formação social instável, móvel, sem implantação 
(NOVAIS, 1997, p. 25). 
 
5.3 O PÚBLICO E O PRIVADO: O DOMICÍLIO E A FAMÍLIA 
Não só o tamanho da América portuguesa, mas também o longo período em 
que o Brasil permaneceu enquanto colônia, tornam impossível analisar essa época 
de maneira uniforme. A ideia de privacidade, por exemplo, se modifica com o pas-
sar do tempo e depende do local que descrevemos. 
Algranti (1997) explica que o significado de uma “vida privada” nas primeiras 
décadas do século XVI – momento em que as pessoas podiam morar afastadas 
umas das outras por quilômetros de distância – é diferente de se pensar a vida de 
um morador de Salvador no século XVIII ou da cidade do Rio de Janeiro no início do 
século XIX. A vida se transformava não só pelo povoamento e pelo passar do tempo, 
mas também se sofisticava a partir dos costumes trazidos pelos emigrados. O que é 
importante deixar claro, contudo, é que a separação entre público e privado que 
conhecemos não se aplica à vida colonial que estamos estudando. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
 
O primitivismo da maioria dos lares coloniais se devia ao trabalho árduo para 
a sobrevivência, que significava pouco tempo livre para se pensar em requintes na 
moradia. Além disso, para a maior parte da população, os espaços de sociabilidade 
não se davam no interior dos domicílios, mas nas ruas e Igrejas em festas religiosas 
como procissões e missas. Outra característica que distancia essas pessoas dos cos-
tumes atuais é a organização do cotidiano a partir da luz solar: levantava-se com o 
nascer do sol, descansava-se quando ele estava a pino e dormia-se quando ele se 
punha. A iluminação pública e mesmo os candeeiros de querosene trariam mudan-
ças nas práticas sociais com o passar do tempo (ALGRANTI, 1997). 
 
 
 
Figura 12: Fiel retrato do interior de uma casa brasileira (1814) 
 
Fonte: Guillobel (1814) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
 
A família no período colonial poderia ser concebida a partir dos casamentos 
dos membros das elites, cujas mulheres brancas muitas vezes vinham de Portugal 
com esse propósito, ou também pelos frequentes concubinatos e relacionamentos 
que fugiam à norma imposta pela Igreja e pelo Estado. Havia grande quantidade 
de filhos ilegítimos, cuja historiografia atualmente consegue mapear com auxílio dos 
registros paroquiais e notariais, além de serem muito frequentes os filhos concebidos 
através do estupro ou da relação consensual com índias e escravas (ALGRANTI, 
1997). 
 
5.4 LÍNGUA E ENSINO NA COLÔNIA 
O contato com os povos nativos do Brasil revelou uma grande quantidade de 
línguas faladas por diferentes grupos em todo o território. Villalta (1997) estipula que 
no alvorecer do período colonial existiam cerca de 340 línguas indígenas no Brasil. 
Segundo o historiador, os europeus manipularam essa diversidade linguística e pro-
curaram conhece-las. Por outro lado, no início do século XVI era relativamente co-
mum encontrar as línguas portuguesa, francesa e castelhana: “portugueses, france-
ses e espanhóis miscigenaram-se com os brasis, indianizando-se: adotaram seus cos-
tumes e suas línguas, sobretudo as do tronco tupi” (VILLALTA, 1997, p. 335). 
Com o avanço do processo colonizador, a indianização recuou, mas os por-
tugueses não deixaram de miscigenar-se às chamadas “línguas gerais” de origem 
tupi. O que também auxiliou a primazia das línguas gerais foi a presença dos missio-
nários jesuítas, que compreenderam que deveriam catequizar os indígenas em suas 
próprias línguas, aprendendo o idioma dos nativos (VILLALTA, 1997). 
 
Os jesuítas compuseram gramáticas da língua tupinambá (a de José 
de Anchieta, em 1595, e a do padre Luís Figueira, em 1621), publica-
ram em 1575 traduções do pai-nosso, da ave-maria e do credo, e tra-
balharam coletivamente na elaboração de um catecismo em língua 
tupinambá, editado em 1618 com o nome Catecismo na língua bra-
sílica (VILLALTA, 1997, p. 338). 
 
A língua portuguesa, por outro lado, era a que existia no espaço público, 
aprendida pelos que conseguiam frequentar a escola dos padres, sendo a língua 
utilizada nos documentos escritos e nas cerimônias. Mesmo assim, era comum a ne-
cessidade de utilizar o tupi para que parte da população entendesse os comunica-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
 
dos públicos. As línguas africanas faladas pelos escravos, por outro lado, não rece-
beram qualquer concessão por parte do colonizador e eram muitas vezes descritas 
nos documentos como “língua que ninguém entendia”. Na segunda metade do sé-
culo XVIII sob o governo de Dom José e seu secretário, o marquês de Pombal, o uso 
do português passou a ser imposto e priorizado o ensino de sua gramática (VILLALTA, 
1997). 
Quanto ao ensino na colônia, até o ano de 1759, a Companhia de Jesus foi a 
principal responsável pela educação, possuindo várias escolas voltadas para a for-
mação de clérigos e leigos. O rei manteve, porém, a dependência em relação às 
universidades do reino e não permitiu a instalação de universidades na América por-
tuguesa. Como já dissemos, foi com Pombal que se iniciou uma fase de reformas 
educacionais: com a expulsão dos jesuítas no dito ano de 1759, o Estado assumiu a 
responsabilidade sobre a instrução escolar. O desenvolvimento de pesquisa cientí-
fica na colônia seria ainda mais dinamizado a partir da vinda da família real para o 
Brasil. Isso não significou, porém, grandes avanços, já que tanto Estado como Igreja 
adotavam uma perspectiva da educação reprodutivista e voltada para a perpetu-
ação de uma ordem patriarcal, estamental e colonial. Na falta de escolas públicas, 
ou seja, organizadas e financiadas pelo Estado, a instrução escolar ficou relegada 
aos espaços privados e na relação entre mestres e aprendizes (VILLALTA, 1997). 
 
5.5 A RELIGIÃO NO BRASIL 
A primeira missa realizada na América portuguesa ocorreu dias após a che-
gada de Pedro Álvares Cabral no Novo Mundo. A Igreja Católica demonstrava, as-
sim, a predominância que teria na fundação e organização da nova colônia portu-
guesa ao longo de todo o período. A Companhia de Jesus, fundada no ano de 1541, 
teria enorme influência na catequização dos indígenas (como vimos no tópico an-
terior), e seria responsável por missões ao longo do território visando sua conversão 
ao catolicismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
 
 
Figura 13: A primeira missa no Brasil 
 
Fonte: Meirelles (1860) 
 
Os jesuítas chegaram à América portuguesa no ano de 1549 junto ao primeiro 
governador-geral, liderados pelo padre Manoel da Nóbrega. Aqui, tiveram de lidar 
não só com as crenças e costumes dos diversos grupos indígenas, mas também com 
os próprios europeus, afastados de suas origens e seguindo um catolicismo muitas 
vezes adaptado às vivências locais. No ano de 1553 o Brasil se tornou uma Província 
da Companhia de Jesus e Nóbrega foi indicado como seu provincial. No mesmo 
ano, viria para a América Portuguesa José de Anchieta, famoso jesuíta que ajudou 
na fundação da vila de São Paulo e passou o restante de sua vida nessa região 
trabalhando na catequização dos indígenas e utilizando o teatro como meio de en-
sinar a religião aos nativos (HERNANDES, 2010). 
Até o ano de 1580, apenas os jesuítas tinham autorização para estabelece-
rem sua ordem na colônia, regra que se modificou com a anexação de Portugal à 
Espanha durante a União Ibérica, o que propicioua vinda de Franciscanos, Carme-
litas, Beneditinos, Mercedários e Capuchinhos. Essas ordens tinham o objetivo de ex-
pandir suas obras em novos territórios e de responder às solicitações dos habitantes 
da colônia. Anos mais tarde, algumas ordens femininas também se instalaram na 
colônia, como as franciscanas e as carmelitas. A construção de conventos era bas-
tante solicitada por algumas famílias para o envio de suas filhas, o que por outro lado 
era reprimido pela Coroa, por transformar as mulheres brancas – indicadas como 
futuras esposas – em religiosas (GUMIEIRO, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
65 
 
 
 
 
Para além das ordens religiosas existiu ainda na América portuguesa as irman-
dades e ordens terceiras, que eram associações leigas para o culto aos santos. De 
acordo com Couto (2014), essas associações promoviam a sociabilidade, a ajuda 
mútua e a assistência espiritual e material não só durante toda a vida, mas também 
na hora da morte de seus membros. Escravos negros e libertos também se uniam em 
irmandades em regiões da Bahia e de Minas Gerais, auxiliando uns aos outros, por 
exemplo, na compra de alforrias. A existência de irmandades, assim, era bem vista 
pela Igreja e pelas autoridades. 
 
Entre 1645 e 1783, identifiquei a fundação de oito irmandades e duas 
ordens terceiras que realizavam procissões na Semana Santa para re-
presentar a Paixão, a morte e o enterro de Cristo. [...] Usando nomes 
diversos e adotando critérios sociais ou de cor para a admissão de 
seus membros, as associações estavam assim definidas: Bom Jesus 
dos Santos Passos e Vera Cruz, Bom Jesus da Cruz (pardos), Senhor 
Bom Jesus do Bonfim (brancos), Bom Jesus dos Passos dos Humildes 
(moradores da Rua do Tingui), Bom Jesus da Paciência (pardos) e 
Bom Jesus dos Navegantes (brancos), Ordem Terceira dos Carmelitas 
do Boqueirão e Ordem Terceira do Carmo (COUTO, 2014, p. 08-09). 
 
5.6 REVOLTAS COLONIAIS 
Não demorou muito após o início da colonização portuguesa para que os 
moradores de diferentes regiões da América começassem a se incomodar com si-
tuações comuns a uma sociedade subjugada economicamente a outra: excesso 
de impostos, desmandos de oficiais enviados pela Coroa, desacordo com regras e 
leis impostas por Portugal aos moradores da colônia. De acordo com Castro (2017) , 
ainda que cada episódio de contestação tivesse sua própria motivação, as revoltas 
também possuíam elementos comuns. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
66 
 
 
Para Castro (2017), todos os motins apresentavam demandas de homens in-
seridos em redes e que pleiteavam direitos diversos como espaços de gestão local, 
a substituição de governadores e até a revisão de ordens régias. 
Em sua maioria, as rebeliões tinham o intuito de resolver algo pontual que afe-
tava diretamente àquela comunidade, mas ainda sim sendo fiéis ao rei português. 
No final do século XVIII, porém, influenciados pelo que ocorria em outras partes do 
mundo, ocorreram as primeiras revoltas com o intuito de se separar da metrópole 
portuguesa. Vamos conhecer um pouco mais sobre algumas delas. 
 
5.7 REVOLTAS NATIVISTAS 
Entendemos como revoltas ou rebeliões nativistas os conflitos que ocorreram 
no intuito de modificar algum ponto específico das regras coloniais, mas não a situ-
ação de colônia do Brasil. Já estudamos uma delas: a Guerra dos Emboabas (1707-
1709), ocorrida na região das Minas Gerais após a descoberta do ouro. O conflito 
ocorreu porque os paulistas eram contra a chegada e permanência de tantos fo-
rasteiros nas minas, já que se consideravam seus descobridores e, portanto, enten-
diam ter mais direitos sobre elas. 
Outras rebeliões ocorreram no Brasil contra a cobrança de impostos ou os 
desmandos de algum oficial da Coroa. Vejamos algumas delas: 
 
5.8 REVOLTA DE BECKMAN (1684-5 MARANHÃO) 
O professor Chambouleyron (2006) identifica duas revoltas na região da Ama-
zônia (nomeada apenas como Estado do Maranhão ou somente Maranhão na do-
cumentação coeva) para o século XVII, ambas relacionadas com a mão de obra 
indígena utilizada pelos portugueses. Nesse momento nos dedicaremos apenas à 
mais conhecida delas, a rebelião ocorrida em 1684 também identificada pelo sobre-
nome de seu líder, Manuel Beckman. Naquele ano a população se levantou contra 
os jesuítas, contra a autoridade do governador que acabara de se instalar na região 
e também contra o monopólio do comércio, conhecido como estanco, que fora 
estabelecido entre a Coroa e alguns comerciantes privados dois anos antes. 
Os moradores se reuniram sob a liderança de Manuel Beckman em seu enge-
nho, onde denunciavam o estanco e especialmente as leis de 1680, que assegura-
vam a liberdade de todos os índios do Estado do Maranhão. Como o governador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
67 
 
 
era quem representava essas leis, negavam também sua autoridade. O fato dele 
morar em Belém do Pará, e não em São Luís, fazia com que também fosse respon-
sabilizado pelas misérias ocorridas em Maranhão. Após expulsar os jesuítas, os rebel-
des instauraram um novo governo, que aboliu o estanco e passou a buscar apoio 
nas Câmaras de outras cidades da região. Em pouco tempo, porém, segundo os 
dois principais cronistas da revolta, a base de apoio dos revoltosos começou a ruir, 
sobretudo com a chegada do novo governador quinze meses depois, apoiado pela 
população. Gomes Freire de Andrade ordenou a prisão de Manuel Beckman e de 
outros líderes da revolta. Ele e outro líder acabaram executados e a revolta teve fim 
ainda no final do ano de 1685 (CHAMBOULEYRON, 2006). 
 
5.9 GUERRA DOS MASCATES (1710, PERNAMBUCO) 
Durante muitos anos, a capitania de Pernambuco foi considerada a mais rica 
da América portuguesa. Além do pau-brasil, seus engenhos de cana de açúcar en-
riqueceram tanto a região que chamaram a atenção até dos holandeses, que do-
minaram a capitania por 24 anos como já vimos. Desde que os homens nobres de 
Pernambuco haviam expulsado, sozinhos, os invasores holandeses, retinham da Co-
roa portuguesa uma série de privilégios. 
Monteiro (2002) explica que o monarca os havia concedido foros, isenções e 
franquias de natureza fiscal, mas sobretudo uma autonomia que eles não abririam 
mão no passar dos anos. Além disso, o historiador identifica um ponto comum entre 
essa “nobreza” e seus congêneres europeus, que era o preconceito contra o comér-
cio e as atividades manuais. Os comerciantes reinóis que chegavam à região e tra-
balhavam com a fixação do preço do açúcar, controlando as atividades mercantis 
seriam, assim, os antagonistas dessa elite açucareira. 
 
Os filhos do reino eram os homens de negócios, os mercadores de 
loja, os caixeiros como também os mascates propriamente ditos, que 
podiam acumular todas essas tarefas, desde o grande comércio de 
exportação e importação, passando pelo de escravos até o varejo, 
o fornecimento de crédito, a construção ou o afretamento de em-
barcações (MONTEIRO, 2002, p. 251). 
 
As dificuldades financeiras pelas quais passavam a capitania na segunda me-
tade do século XVII, somadas aos imigrantes do reino e das ilhas atlânticas que che-
gavam e se transformavam em mercadores enriquecidos em pouco tempo, fez com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 
 
 
que os senhores de engenho se unissem contra um inimigo comum: os “mascates de 
Recife”. Nesse período, Recife ainda era apenas um povoado e Olinda, onde vivia 
a aristocracia açucareira, era a principal cidade de Pernambuco. Com o enriqueci-
mento desses comerciantes e o pedido de separar Recife de Olinda – que transfor-
maria o pequeno povoado em uma vila – veio a revolta dos senhores de engenho. 
Os senhores de engenho invadiram Recife e rasgaram o foral régio que o transfor-
mava em vila, fazendo com que o governador fugisse para a Bahia. Os mascates, 
porém, receberam ajuda régia e mantiveram a autonomia de Recife, igualando a 
nova vila a Olinda (MONTEIRO, 2002). 
 
Figura 14: Mapa de Luiz Teixeira (entre1582-1585) 
 
Fonte: Tinoco (2017, online) 
 
5.10 REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS (MINAS GERAIS, 1720) 
Como já vimos, a região das minas de ouro no atual estado de Minas Gerais 
seria um barril de pólvora para motins e revoltas ao longo de todo o período colonial. 
Desde a descoberta do ouro até a imposição das cobranças pela Coroa, não seria 
incomum que a população local e sua elite se organizasse contra algo que não 
aprovassem, na maioria das vezes referente à cobrança sobre a exploração do 
ouro. Foi o que ocorreu no ano de 1720 em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto. 
Entre junho e julho daquele ano organizou-se uma resistência à arrecadação 
do quinto do ouro. Outros motivos geraram ainda mais inquietação social, como as 
reformas na organização militar e a expulsão de clérigos de Minas. Ainda que Filipe 
dos Santos tenha entrado para a História como seu principal organizador, essa re-
volta na verdade teve como líderes outras pessoas, insatisfeitas sobretudo com a 
instalação da Casa de Fundição e a proibição da circulação do ouro em pó. Em 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
 
todos os momentos os rebeldes permaneceram fiéis ao rei português, se comprome-
tendo em pagar 30 arrobas de ouro anualmente para a Coroa. Enquanto isso, o 
governador das Minas, Pedro Miguel de Almeida Portugal (3º Conde de Assumar), 
tentava acalmar os ânimos, prometendo o perdão pela revolta e o atendimento 
das exigências. Com a pacificação, porém, não foi isso que ocorreu: o conde-go-
vernador acionou a Companhia dos Dragões para massacrar os envolvidos e Filipe 
dos Santos acaba enforcado e esquartejado em praça pública. 
 
5.11 REVOLTAS SEPARATISTAS 
Diferente das revoltas nativistas, as revoltas separatistas tinham o intuito de se-
parar o Brasil do controle da metrópole portuguesa. Influenciados pelos ideais ilumi-
nistas que chegavam às principais cidades da colônia, trazidos por estudantes que 
se formavam em Portugal e por estrangeiros, parte da população começou a ques-
tionar a validade de um pacto que beneficiava muito mais a Coroa do que seus 
súditos no Brasil. 
Fausto (2015) explica que diferentes estudiosos já se perguntaram qual foi o 
momento em que a sociedade colonial teria adquirido uma “consciência de ser 
brasileiro”. Ainda que não haja uma resposta única para essa questão, essa consci-
ência se iniciou principalmente devido à percepção de que os anseios da socie-
dade colonial eram distintos dos da metrópole. Não havia um pensamento homo-
gêneo sobre o tema na colônia, já que grupos diferentes acabavam buscando mu-
danças que combinavam com seus ideais: enquanto os setores dominantes não dis-
cutiam a possibilidade da abolição da escravidão, já que isso afetaria sua situação 
econômica, as camadas populares buscavam propósitos igualitários e reformas so-
ciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
70 
 
 
5.12 INCONFIDÊNCIA MINEIRA (MINAS GERAIS, 1789) 
A extração de ouro e pedras preciosas teve seu auge no início do século XVIII 
e declinou com o passar dos anos devido principalmente ao esgotamento das lavras 
e jazidas. O incômodo causado com as crescentes cobranças que não observavam 
a diminuição da produção se agravou com a chegada do governador Luís da Cu-
nha Meneses no ano de 1782. Sua chegada complicou ainda mais a situação de 
membros da elite mineira como mineradores, fazendeiros, padres, funcionários e ad-
vogados, todos vinculados às autoridades coloniais que começaram a ser margina-
lizados em prol dos amigos do novo governador. Com a substituição de Meneses 
pelo Conde de Barbacena a situação piorou. Barbacena trouxe instruções para ga-
rantir o recebimento do tributo anual de cem arrobas, estando autorizado ainda a 
decretar a derrama, um imposto a ser pago por todos os moradores da capitania, 
para garantir a arrecadação do valor (FAUSTO, 2015). 
Devido à riqueza da região de Minas Gerais, muitos de seus jovens estudavam 
nas universidades europeias e depois voltavam para administrar os negócios da fa-
mília. Para se ter uma ideia, no ano de 1787, dos dezenove estudantes saídos do 
Brasil que estudavam na Universidade de Coimbra em Portugal, dez eram de Minas. 
Ideais de liberdade discutidos nas universidades europeias eram, assim, trazidos para 
o interior da colônia, circulavam e eram lidos pelos membros de sua elite (FAUSTO, 
2015). 
Os chamados inconfidentes começaram a organizar seu movimento nos últi-
mos meses do ano de 1788, preocupados com o lançamento da derrama na região. 
Seus planos, porém, não foram colocados em prática, já que um dos conspiradores 
denunciou a todos em troca do perdão de sua dívida. Em março de 1789, assim, o 
Conde de Barbacena suspendeu a derrama e foi atrás de todos os envolvidos, pre-
sos em Minas e no Rio de Janeiro. O longo processo contra todos eles só terminaria 
em abril de 1792 (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 
 
 
 
Apesar de Tiradentes e vários outros envolvidos terem sido condenados à 
forca, horas depois uma carta de clemência da rainha dona Maria transformaria 
todas as penas em banimento do Brasil, com exceção de Tiradentes. Lembrando 
que uma carta levaria muitos dias para chegar à colônia naquele período, Fausto 
(2015) enfatiza a encenação promovida pela Coroa para desencorajar futuras re-
voltas, demonstrando clemência, mas executando o membro menos favorecido do 
movimento como exemplo: após o enforcamento, “seguiram-se a retaliação do 
corpo e a exibição de sua cabeça, na praça principal de Ouro Preto”. 
As pretensões dos inconfidentes passavam pela criação de uma República 
que seguiria o exemplo da Constituição dos Estados Unidos; um de seus membros 
governaria por três anos e depois seriam instituídas eleições anuais; haveria o incen-
tivo de manufaturas. Dentre eles não havia consenso com relação à libertação dos 
escravos, o que poderia afetar os negócios de parte da elite que organizava a re-
volta. 
 
5.13 CONJURAÇÃO DOS ALFAIATES (BAHIA, 1798) 
Diferente da Inconfidência Mineira, organizada sobretudo pela elite daquela 
sociedade, a Conjuração dos Alfaiates teve a organização e participação de mu-
latos e negros livres ou libertos, moradores ligados às profissões urbanas como arte-
sãos ou soldados e alguns escravos. Mesmo entre os brancos, a origem era em sua 
maioria popular, com exceção do médico Cipriano Barata participante ativo de vá-
rios movimentos revolucionários do Nordeste por quarenta anos (FAUSTO, 2015). 
Segundo Fausto (2015), a conspiração tem relação com as condições de vida 
da população de Salvador, que sofria com a escassez de alimentos, o que levou a 
vários motins na cidade entre os anos de 1797 e 1798. Essas pessoas defendiam a 
proclamação da República, o fim da escravidão, livre-comércio especialmente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
 
 
com a França, o aumento dos salários dos militares e a punição dos padres contrários 
à liberdade. Assim como a Inconfidência Mineira, esse movimento também não se 
concretizou, ocorrendo apenas a distribuição de panfletos e a articulação entre os 
conspiradores. Com a tentativa de conseguir apoio do governador da Bahia as pri-
sões começaram a ocorrer: os quatro principais acusados foram esforçados e es-
quartejados. 
 
A severidade das penas foi desproporcional à ação e às possibilida-
des de êxito dos conjurados. Nelas transparece a intenção de exem-
plo, um exemplo mais duro do que o proporcionado pelas condena-
ções aos inconfidentes mineiros. A dureza se explica pela origem so-
cial dos acusados e por um conjunto de outras circunstâncias ligadas 
ao temor das rebeliões de negros e mulatos (FAUSTO, 2015, p. 104). 
 
Figura 15: Cipriano Barata (1762-1838) 
 
Fonte: Failutti (1925) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
74 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Segundo a historiadora Leila Algranti, por que os lares dos moradoresda América 
portuguesa apresentavam certo “primitivismo”? 
 
a) Porque a influência indígena fazia com que os portugueses perdessem os hábitos 
europeus mesmo dentro de suas casas. 
b) Porque havia uma lei na colônia obrigando seus moradores a não ostentarem 
móveis ou ornamentos em suas casas. 
c) Porque a religião católica não permitia casas que ostentassem qualquer espécie 
de luxo especialmente na colônia. 
d) Porque a ideia de beleza era diferente naquele período e os observadores dos 
dias de hoje não compreendem aquela organização. 
e) Porque os habitantes estavam mais preocupados com o trabalho e sobrevivência 
do que com requintes para suas moradias. 
 
2. Como era a relação dos portugueses e dos jesuítas com os idiomas que não fos-
sem o português na colônia? 
 
a) Tanto governantes como jesuítas abominavam qualquer língua que não fosse a 
portuguesa, exigindo que tanto escravos africanos como indígenas aprendessem 
seu idioma. 
b) Houve bastante tolerância com as línguas nativas dos indígenas e com o idioma 
trazido com os escravos que chegavam do continente africano. Os jesuítas se es-
forçaram em aprender todos eles para se comunicar com os índios e os africanos 
escravizados. 
c) Durante muitos anos foi comum os portugueses aprenderem a se comunicar nas 
línguas nativas; os jesuítas chegaram a escrever gramáticas de tupi que auxilia-
vam na catequização dos indígenas. Os idiomas vindos com os escravos, por ou-
tro lado, eram proibidos. 
d) Portugueses e jesuítas se recusaram a aprender os idiomas dos indígenas, mas uti-
lizavam “intérpretes” para se comunicar com eles no intuito de catequizá-los e 
fazerem com que trabalhassem para eles. Os idiomas trazidos pelos africanos es-
cravizados não foram tolerados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
 
e) Enquanto os portugueses passaram a se comunicar com indígenas e africanos 
escravizados em uma língua que misturava vocabulário de vários idiomas, os je-
suítas utilizavam exclusivamente o português para catequizar os índios. 
 
3. Qual o intuito das Ordens Religiosas que vinham se instalar na América Portuguesa 
no início da colonização? 
 
a) Construir igrejas e conventos visando a conversão dos indígenas e o enriqueci-
mento da Igreja Católica em Roma. 
b) Expandir suas obras em novos territórios e responder às solicitações dos habitantes 
da colônia. 
c) Participar da colonização fundando cidades e contribuindo no governo de vilas 
no interior do território. 
d) Fugiam das regras impostas por Roma e buscavam maior liberdade para suas or-
dens no Novo Mundo. 
e) Trazer a religião protestante que começava a ganhar força na Europa após a 
Reforma proposta por Martinho Lutero. 
 
4. Por que a Revolta de Beckman (1684) foi motivada, dentre outras causas, pela lei 
que estipulava a liberdade dos indígenas? 
 
a) Porque em finais do século XVII os indígenas dominavam o comércio do Mara-
nhão e o restante da população pretendia voltar a escravizá-los para tomar sua 
produção. 
b) Porque os indígenas eram utilizados como mão-de-obra pelo restante da popula-
ção devido à falta de africanos escravizados na região. 
c) Porque a liberdade dos indígenas também significava a liberdade dos africanos 
escravizados, o que traria a falta de mão-de-obra na região. 
d) Porque muitas famílias da elite da região eram formadas exclusivamente por indí-
genas que ascenderam socialmente. 
e) Porque a venda de indígenas para outras capitanias era a principal atividade co-
mercial do Maranhão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
76 
 
 
5. Qual a aproximação possível que podemos fazer entre a Revolta dos Mascates 
ocorrida em Pernambuco e a Guerra dos Emboabas na região das Minas? 
 
a) Ambas as revoltas eram contra o contrabando de produtos coloniais (ouro e açú-
car) para outros reinos europeus como Espanha e Holanda. 
b) Tanto a dos mascates como a guerra dos emboabas buscavam a separação en-
tre o Brasil e Portugal. 
c) As duas tiveram seus principais líderes enforcados e esquartejados para servirem 
de exemplo à população. 
d) Nas duas os revoltosos se organizaram contra o governador enviado para admi-
nistrar as duas capitanias. 
e) Em ambas a população “tradicional” da região buscava afastar os forasteiros e 
manter sua vida anterior a chegada de imigrantes. 
 
6. Por que Fausto chama de “encenação” o julgamento dos envolvidos na Inconfi-
dência Mineira? 
 
a) Porque após a longa leitura do processo, uma carta de clemência da rainha 
dona Maria foi lida, retirando a pena de morte de quase todos os envolvidos. 
b) Porque de fato um teatro foi organizado, e atores encenaram trechos da Inconfi-
dência para uma população ávida pela punição dos envolvidos. 
c) Porque todos já sabiam que nenhum dos envolvidos seria enforcado devido às 
suas ligações com as autoridades locais, o que de fato ocorreu. 
d) Porque o governador das Minas já teria avisado a todos que os envolvidos seriam 
sumariamente enforcados, e foi o que aconteceu. 
e) Porque apesar de todos terem sido condenados à forca, apenas Tiradentes teve 
esse final, sendo que o restante dos envolvidos foi apenas banido da colônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
 
A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O 
PROCESSO E INDEPENDÊNCIA 
 
 
6.1 INTRODUÇÃO 
Na última unidade de nosso livro veremos grandes mudanças que ocorreram 
no início do século XIX no Brasil. Algo nunca antes visto dentre os reinos europeus 
aconteceu: toda a família real de Portugal, acompanhada por parte da corte, fugiu 
para a América e pela primeira vez um reino europeu teve sua sede em uma colô-
nia. A conjuntura europeia fez com que Dom João VI resolvesse fugir para longe de 
Lisboa e sua ação foi o início de uma série de mudanças na nova capital do Império. 
Ainda que a população gostasse da presença do rei português em suas terras, as 
revoltas que vimos na unidade anterior continuavam acontecendo e a situação eu-
ropeia também interferia nos acontecimentos e nas decisões que ocorriam no Rio 
de Janeiro. Como não podemos deixar de mencionar, essa unidade se encerrará 
com o fim do período colonial e a proclamação da independência do Brasil por 
Dom Pedro I. Tudo mudou no cotidiano do Rio de Janeiro quando as embarcações 
trazendo toda a família real portuguesa se aproximaram do porto. 
 
6.2 CONJUNTURA MUNDIAL 
Enquanto estudávamos o cotidiano dos moradores da América portuguesa e 
as revoltas que ocorriam na colônia, a conjuntura política na Europa e na América 
do Norte também não era das mais fáceis. Em 1776 as colônias inglesas declararam 
sua independência e passaram a formar os Estados Unidos, demonstrando que a 
condição colonial não era um estado permanente ou eterno. 
Pouco tempo depois a Inglaterra passaria por sua Revolução Industrial, defi-
nida por Schwarcz (2002) como “um surto da economia industrializada que gerou 
um movimento contínuo e retroalimentado: cada invento conduzia a outro, tal qual 
uma espiral sem fim”. Por fim, um dos acontecimentos mais importantes do século 
XVIII e que daria origem aos tempos contemporâneos de acordo com os historiado-
res, a Revolução Francesa no ano de 1789 derrubaria a monarquia daquele país e 
seria palco de uma grande radicalização. Todos esses acontecimentos afetariam 
Erro! 
Fonte de 
referên-
cia não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
78 
 
 
direta ou indiretamente Portugal. 
 
 
 
Após a Revolução Francesa, a política de neutralidade invocada pelos por-
tugueses se tornava cada vez mais difícil. Com a execução de Luís XVI no ano de 
1793 o restante do continente – preocupado que a revolução se espalhasse – orga-
nizou uma série de coligações e o governo inglês firmou cláusulas específicas de 
proteção com a Coroa portuguesa. A França, por outro lado, exigia que Portugal 
fechasse seus portos para a Inglaterra ou ameaçava invadir o território português. 
 
Para a França, a aliança com Portugal facilitaria a comunicação 
com a Américae barraria a entrada da Inglaterra no continente. Já 
para a Inglaterra, a garantia do comércio português era justamente 
o antídoto fácil para o isolamento que se anunciava. Para Portugal, 
um belo dilema: a paz com a França se constituía em medida pre-
mente para evitar o enfrentamento bélico, enquanto a aliança com 
a Inglaterra representava proteção e estabilidade futuras 
(SCHWARCZ, 2002, p. 189). 
 
A neutralidade portuguesa conseguiu perdurar até os primeiros anos do sé-
culo XIX, quando Napoleão começou a expandir seus territórios por terra, destituindo 
e destronando monarquias e colocando parentes ou protegidos para administrá-las. 
Um dos últimos inimigos da França era a Inglaterra, e uma maneira de derrotá-la 
seria pela economia. Assim, no ano de 1806 foi decretado o Bloqueio Continental, 
que proibia que todas as nações europeias comprassem produtos de origem da 
Grã-Bretanha. A Inglaterra, por sua vez, declarou a ilegalidade do comércio e da 
navegação em todos os portos pertencentes à França. Tendo em vista que a ideia 
de ir para o Brasil não era nova no interior da monarquia portuguesa, foi essa a de-
cisão do príncipe regente diante da marcha do exército napoleônico rumo a Lisboa. 
Enquanto na manhã de 29 de novembro de 1807 as âncoras eram levantadas, no 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
79 
 
 
mesmo dia os soldados de Napoleão entravam em Lisboa (SCHWARCZ, 2002). 
 
Figura 16: A queda da Bastilha 
 
Fonte: Houel (1789) 
 
 
 
6.3 A FAMÍLIA REAL NO BRASIL 
Em 22 de janeiro de 1808 Dom João e sua família chegavam a Salvador, sur-
preendendo até mesmo o governador João Saldanha da Gama, que não imagi-
nava que eles passariam pela antiga capital. Em poucos dias naquela cidade, Dom 
João assinou a carta de abertura dos portos às nações amigas, o que significava a 
autorização para importar qualquer produto trazido por navios estrangeiros que es-
tivessem em paz com Portugal, cumprindo os acordos previstos com a Inglaterra, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
80 
 
 
aliada que acompanhou a frota portuguesa até a América e naquele momento a 
única “nação amiga” (SCHWARCZ, 2002). 
 
Entre 25 e 27 de novembro de 1807, cerca de 10 a 15 mil pessoas em-
barcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob a proteção da 
frota inglesa. Todo um aparelho burocrático vinha para a colônia: mi-
nistros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários do Tesouro, 
patentes do Exército e da Marinha, membros do alto clero. Seguiam 
também o tesouro real, os arquivos do governo, uma máquina impres-
sora e várias bibliotecas que seriam da Biblioteca Nacional do Rio de 
Janeiro (FAUSTO, 2015, p. 105). 
 
 
 
Pouco mais de um mês depois, a esquadra levantava âncoras e seguia para 
o seu destino final, a capital Rio de Janeiro, uma cidade pequena que não possuía 
mais de 46 ruas e algumas travessas e becos. Muito foi feito para receber a família 
real, inclusive a intimação dos proprietários dos melhores prédios nas proximidades 
do palácio para que deixassem os imóveis livres para abrigar toda a corte que che-
gava junto ao príncipe regente. A chegada ocorreu no dia 7 de março e fez toda a 
cidade parar para ver o desembarque da família real em terras americanas, o que 
ocorreu apenas no dia seguinte (SCHWARCZ, 2002). 
A chegada de tantas pessoas mudou a fisionomia da cidade e pode-se falar 
em uma certa vida cultural. Fausto (2015) explica que o acesso aos livros e a circula-
ção de ideias foram marcas do período. No ano de 1808 ainda foi publicado o pri-
meiro jornal editado na colônia e nos anos seguintes foram inaugurados teatros, bi-
bliotecas, academias literárias e científicas que atendiam à uma população urbana 
em expansão. Também vieram para a colônia cientistas e viajantes estrangeiros que 
produziram trabalhos fundamentais para o conhecimento daquela época. 
A chegada de milhares de pessoas que passaram a ocupar postos de trabalho 
antes pertencentes à elite local não agradou à população. Para resolver esse pro-
blema, pouco tempo após a chegada foram criadas a Câmara do Registro de Mer-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
81 
 
 
cês e a Corporação de Armas, com o intuito de organizar o nascimento de uma no-
breza e de uma heráldica em terras brasileiras: até voltar para Portugal no ano de 
1821, Dom João concedeu 254 títulos para duques, marqueses, condes, viscondes e 
barões, além de milhares de nobres que se tornaram cavaleiros de diferentes ordens. 
Outra insatisfação popular – essa muito mais difícil de resolver – foi o grande aumento 
das taxas e impostos para sustentar tamanha quantidade de pessoas, reformas estru-
turais por toda a cidade e demais extravagâncias típicas da realeza. Se o século XVIII 
havia se encerrado com a Conjuração dos Alfaiates em Salvador, o início do século 
XIX também seria marcado por uma grande revolta (SCHWARCZ, 2002). 
 
6.4 REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817) 
Além da grande alta dos impostos, outro descontentamento da população se 
devia às forças militares, já que Dom João mandou vir para a colônia as tropas de 
Portugal, com o intuito de guarnecer as principais cidades coloniais, organizando o 
exército e reservando os melhores postos para a nobreza lusa. A desigualdade regio-
nal também incomodava a população, especialmente do atual nordeste, já que o 
centro político da colônia passara de Lisboa para o Rio de Janeiro, cidades distantes 
e estranhas à região. Quando a revolução estourou em março de 1817 todas as in-
satisfações vieram à tona, abrangendo uma ampla camada da população, como 
militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes e muitos sacerdotes, o que 
ajudou ao movimento a também ser reconhecido como “revolução dos padres” 
(FAUSTO, 2015). 
O tamanho que a revolução atingiu em pouco tempo: começando na cidade 
de Recife, chegou ao sertão e estendeu-se para Alagoas, Paraíba e Rio Grande do 
Norte. As demandas eram das mais diversas e não eram homogêneas, existindo gru-
pos que bradavam por liberdade e igualdade outros que brigavam para acabar 
com a centralização que vinha do Rio de Janeiro e tomar frente do governo do Nor-
deste. Assim, os revolucionários tomaram o Recife e implantaram um governo provi-
sório que proclamou a República, estabelecendo a igualdade de direitos e a tole-
rância religiosa – sem tratar, porém, da escravidão. Logo no mês de maio as tropas 
portuguesas ocuparam o Recife, prendendo e executando os líderes da rebelião. 
Ainda que tenha durado apenas dois meses, esse movimento deixou profundas mar-
cas no Nordeste (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
82 
 
 
Figura 17: José Peregrino, Revolução Pernambucana – 1817 
 
Fonte: Parreiras (1918) 
 
6.5 DOM JOÃO: A ACLAMAÇÃO E O RETORNO A PORTUGAL 
Após a paz no Nordeste, começou a ser organizada a aclamação de Dom 
João como rei de Portugal, já que até então ele era o príncipe regente de sua mãe, 
Dona Maria, considerada “louca” e inapta para o governo já há muitos anos. Pas-
sado um pouco mais de um ano da morte de Dona Maria, assim, uma grande festa 
foi organizada para celebrar a concórdia entre rei e vassalos. Em 6 de fevereiro de 
1818 o Paço Real foi preparado para a celebração, que contou com a participação 
dos artistas franceses na construção de arcos e obeliscos suntuosos (SCHWARCZ, 
2002). 
Enquanto isso, os portugueses começavam a reclamar a volta de Dom João 
VI a Lisboa, já que não havia mais motivos para permanecer em terras americanas 
desde o ano de 1814. Em 1815, outro golpe aumentou os anseios portugueses: Dom 
João elevou a condição do Brasil à Reino Unido a Portugal e Algarves, sem contar 
sua coroação como rei ainda em solo americano. Para além da situação política, 
uma crise no comércio e na indústria se iniciou em Portugal após as invasões. Essas 
pendências se aglutinariam na Revolução Liberal do Porto, que erguia as bandeiras 
do constitucionalismo e da soberania nacional, que implicava na volta de Dom João 
VI e da famíliareal para Portugal (SCHWARCZ, 2002). 
[...] na manhã do dia 24 de agosto de 1820 as tropas tomaram o 
Campo de Santo Ovídio, no Porto. Após a formação de um governo 
provisório, as Cortes – reunidas pela última vez em 1698 – seriam con-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
83 
 
 
vocadas para preparar uma nova Constituição. A dinastia dos Bra-
gança seria poupada, mas a volta da Família Real virava tema de 
pauta e de orgulho nacional [...] começava a Regeneração de 1820, 
mais conhecida como Revolução Liberal do Porto (SCHWARCZ, 2002, 
p. 349). 
 
Era praticamente unânime entre os portugueses o repúdio em terem se tor-
nado a colônia de uma colônia, ou uma metrópole com o rei ausente. No mês se-
guinte, Lisboa se juntava ao movimento e em pouco tempo as Cortes (reunidas pela 
última vez em 1698) seriam convocadas, exigindo que o rei retornasse a Portugal. Em 
26 de abril de 1821 o monarca voltaria à Europa com toda a família e cerca de 4 mil 
membros da corte, com exceção de Dom Pedro, que ficava como um braço da 
monarquia no Brasil enquanto príncipe regente. 
 
6.6 A PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA 
As Cortes eram um encontro que reunia representantes dos membros da so-
ciedade e remetia à Idade Média. Para as cortes propostas para o ano de 1821, 
deputados “brasileiros” foram convocados para a principal função daquele encon-
tro, que era a elaboração de uma Constituição. Mesmo assim, elas começaram an-
tes da chegada dos deputados “brasileiros” e foram permeadas de referências des-
denhosas e pejorativas ao Brasil. Ficava clara a ideia de que o Brasil deveria voltar 
ao estatuto de colônia e que o equilíbrio entre as propostas de portugueses e “bra-
sileiros” era impossível de ser alcançado. 
Pela nova constituição que estava sendo escrita, o Brasil era dividido em sim-
ples províncias de Portugal, significando que o Rio de Janeiro não era mais capital e 
nem era mais necessário Dom Pedro como regente. Em 9 de dezembro, assim, che-
gava ao Rio de Janeiro o decreto que ordenava o retorno do príncipe a Portugal, o 
que levaria o regente um mês depois a Um de seus pontos decisivos, rebatido pelo 
“partido brasileiro”, era o retorno do príncipe regente a Portugal. Um mês depois, 
movido pelo apelo da população do Rio de Janeiro, Dom Pedro teria dito o famoso 
“Fico”, marcando o 9 de janeiro como um caminho sem volta, nas palavras de 
Fausto (2015). 
Schwarcz (2002) argumenta que, não fosse a política das Cortes, teria sido 
difícil criar no Brasil um sentimento nacional. Havia muitas diferenças entre regiões 
muito distantes, mas mesmo “a mais estabelecida divisão interna tende a ceder di-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
84 
 
 
ante de um inimigo externo”. As disparidades regionais também suscitaram uma re-
ação conservadora por parte das pessoas ao redor de Dom Pedro, que afirmavam 
que só em torno da figura de um rei se evitariam os separatismos. 
As disputas entre as Cortes portuguesas e Dom Pedro e seus ministros continu-
ariam por todo o ano, até que, em uma viagem a São Paulo, o príncipe foi surpre-
endido por uma carta de José Bonifácio, o presidente de seu Conselho de Ministros. 
Nessa carta Bonifácio informava que uma nova embarcação portuguesa chegara 
ao Rio de Janeiro exigindo o retorno do príncipe e revogando várias medidas que 
consideravam privilégios brasileiros, acusando ainda de traição os ministros que cer-
cavam o regente. Seria a partir da leitura dessas cartas que Dom Pedro se decidiria 
pela separação definitiva do Brasil. Às margens do riacho do Ipiranga, uma das ver-
sões do evento é de que ele teria desembainhado sua espada e gritado “é tempo! 
[...] Independência ou morte! [...] estamos separados de Portugal! ” (SCHWARCZ, 
2002). 
Meses depois no dia primeiro de dezembro, Dom Pedro era coroado Impera-
dor do Brasil, o primeiro de seu nome, com apenas 24 anos. A independência final-
mente fora alcançada, mas mantida a monarquia e a ligação com Portugal. 
 
Figura 18: Dom Pedro I 
 
Fonte: Rodrigues de Sá (1816) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
85 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Quais os principais acontecimentos mundiais que ocorreram entre o final do sé-
culo XVIII e início do XIX que influenciaram diretamente a América portuguesa? 
 
a) A independência dos Estados Unidos, a Primeira Guerra Mundial e as invasões na-
poleônicas. 
b) A Revolução Francesa, A Revolução Industrial e a Reforma Protestante. 
c) A Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos e a Revolução Indus-
trial. 
d) A Primeira Guerra Mundial, A Reforma Protestante e a Revolução Industrial. 
e) A Revolução Industrial, A Guerra do Paraguai e a Revolução Francesa. 
 
2. O que foi o Bloqueio Continental? 
 
a) oi a proibição da venda de produtos de outros países que não fossem Portugal 
no Brasil. 
b) Foi bloqueio comercial imposto por Napoleão Bonaparte a Portugal, que ficou 
proibido de vender seus produtos para outros países europeus. 
c) Foi o fechamento do porto do Rio de Janeiro, maior da América portuguesa, en-
quanto o tráfico negreiro não fosse extinto. 
d) Foi o fechamento das fronteiras portuguesas pelo exército de Napoleão Bona-
parte, impedindo a entrada e saída para o interior do continente. 
e) Foi o bloqueio imposto por Napoleão, impedindo que qualquer país realizasse co-
mércio com a Inglaterra. 
 
3. Qual foi o motivo que fez com que a família real portuguesa deixasse Lisboa e 
viesse para a cidade do Rio de Janeiro? 
 
a) Um surto incontrolável de doenças que afligiu o país fez com que a família real se 
preocupasse com seus herdeiros. 
b) As ameaças espanholas de invasão de suas fronteiras, tendo em vista o pouco 
poder bélico português. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
87 
 
 
c) A invasão napoleônica, causada pelo descumprimento do bloqueio continental 
por parte da Coroa portuguesa. 
d) As ameaças inglesas de invasão devido ao descumprimento da Coroa portu-
guesa em acabar com o tráfico negreiro. 
e) O aumento da importância política da América portuguesa em comparação 
com o declínio da economia portuguesa. 
 
4. Uma das primeiras medidas de Dom João ao chegar ao Brasil foi a Abertura dos 
Portos. Qual foi essa medida? 
 
a) Foi a abertura do comércio da colônia para as “nações amigas”, que naquele 
momento significava Inglaterra. 
b) Foi a abertura do comércio da colônia com os países europeus, sendo proibidas 
as relações comerciais com os Estados Unidos e as demais colônias americanas. 
c) Foi a inauguração de portos em diferentes locais do litoral da colônia, que facili-
tavam o comércio com a Europa. 
d) Foi a contratação de mais oficiais para operarem os portos da colônia, já que 
muitos deles estavam fechados por falta de trabalhadores especializados. 
e) Foi a abertura do comércio da colônia para as “nações amigas”, sobretudo Es-
panha e França. 
 
5. O que foi a Revolução pernambucana, importante movimento que ocorreu no 
Recife durante a permanência da família real no Brasil? 
 
a) Foi um movimento que começou em Recife, mas depois se espalhou pelo Nor-
deste, em uma tentativa de restabelecer a capital da colônia na cidade de Sal-
vador. 
b) Foi uma revolta que reforçava a necessidade de a família real permanecer no 
Brasil, diante dos pedidos dos portugueses de que o rei retornasse. 
c) Foi um movimento organizado pela elite de Recife que buscava um aumento do 
preço do açúcar, cuja desvalorização os prejudicava. 
d) Foi uma revolta que buscou a separação do nordeste do restante da colônia; os 
rebeldes proclamaram uma república cuja capital era Recife. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
88 
 
 
e) Foi a revolta da população pernambucana contra o ataque dos ingleses ao seu 
litoral, expulsando o invasor e apoiando o rei português no Brasil. 
 
6. Explique como as resoluções das Cortes de 1821 atingiram a América portuguesa. 
 
a) Nessas cortes estavasendo discutido o futuro do Brasil, que seria dividido em pro-
víncias menores, não sendo necessário que o príncipe regente permanecesse no 
Rio de Janeiro. 
b) Elas significaram a autonomia da colônia diante de Portugal e auxiliaram na inde-
pendência do Brasil no ano de 1822. 
c) As cortes ampliaram o acordo comercial envolvendo a Inglaterra para outros pa-
íses europeus, o que trouxe melhoras para a economia colonial mas criou inimiza-
des com os ingleses. 
d) As cortes convocaram representantes do Brasil, que levaram vários pedidos de 
autonomia para as maiores cidades como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, 
todos atendidos pelos portugueses. 
e) Essas cortes provocaram a desuniam dos portugueses porque Lisboa discordava 
da predominância da cidade do Porto, o que fez com que Dom João VI retor-
nasse para Portugal para apaziguar os ânimos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
89 
 
 
OS PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL 
IMPERIAL 
 
 
7.1 INTRODUÇÃO 
Conforme aponta Dolhnikoff, (2017, p. 08), “O Brasil, tal como o conhecemos 
hoje, foi uma construção que resultou de disputas entre projetos e interesses diversos 
que se deram ao longo do século XIX, após a independência”. 
Será a partir dessa frase anterior que abordaremos os primeiros anos do Brasil 
Imperial. Dentre as muitas desavenças que existiam entre as elites de diferentes regi-
ões do Império, havia alguns consensos, como a manutenção da escravidão e da 
monocultura voltada para a exportação. Foi com base na escravidão e na planta-
ção de cana-de-açúcar, e depois de café, que se estruturou economicamente esse 
novo Estado, mantendo o que já trazia da época em que ainda era América portu-
guesa. Nesse momento, porém, novas questões surgiriam, relativas não só a grupos 
da sociedade que se posicionaram contra a separação de Portugal, mas sobretudo 
o que seria, a partir da independência, ser um brasileiro. A organização política dos 
primeiros anos, assim, será fundamental para estabelecer as diretrizes pelas quais o 
novo governo iria caminhar ao longo de todo o século XIX. 
 
7.2 OS PRIMEIROS ANOS 
Em poucos anos, a consolidação da independência estaria finalizada, sem 
antes, contudo, da eclosão de alguns conflitos bélicos. Desde a vinda da família real 
para a América, no ano de 1808, tropas portuguesas permaneciam em suas princi-
pais cidades. Alguns comandantes europeus se destacaram na mobilização das tro-
pas (agora) brasileiras que lutariam contra os portugueses, como o oficial francês Pe-
dro Labatut e o aristocrata inglês lorde Cochrane. 
De acordo com Fausto (2015), os principais conflitos ocorreram no Sul do país 
e na Bahia. Na Província Cisplatina (atual Uruguai), as tropas portuguesas que ainda 
resistiam acabaram se retirando em novembro de 1823. Já na Bahia, tropas vindas 
do Rio de Janeiro e de Lisboa foram reunidas para conquistar Salvador, enquanto 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
90 
 
 
uma esquadra portuguesa dominava a cidade pelo mar. A retirada final dos portu-
gueses se deu no dia 2 de julho de 1823, data tão significativa para os moradores da 
Bahia como o 7 de setembro de 1822. Essa ação se estendeu ainda para o Maranhão 
e para o Pará, províncias mais ligadas a Portugal do que ao restante do Brasil. 
Além disso, a independência necessitava do reconhecimento do restante do 
mundo. Os Estados Unidos o fizeram em maio de 1824. Informalmente a Inglaterra já 
havia feito o mesmo, auxiliando ainda no reconhecimento da nova nação por Por-
tugal, em agosto de 1825, o que não ocorreu sem o pagamento de 2 milhões de 
libras para a antiga metrópole. 
O novo Estado começava, assim, a ser forjado pelas antigas elites da América 
portuguesa. Como vimos, não houve participação política da população na procla-
mação da independência e nem haveria interferência sua na construção do novo 
governo. A elite política se confundia com a elite econômica como os senhores de 
engenho, cafeicultores, criadores de gado, exportadores dos produtos extraídos da 
selva amazônica, grandes comerciantes e traficantes de escravos. Dessa elite polí-
tica faziam parte ainda jornalistas, advogados, magistrados, militares, padres e ho-
mens de letras. Apesar de formarem um grupo heterogêneo e com diferentes anseios 
com relação ao Estado que começava a se construir, havia entre eles alguns interes-
ses comuns, o principal deles a manutenção da escravidão. Para tanto, teriam de 
enfrentar a Inglaterra – grande potência que se colocava contrária ao tráfico ne-
greiro – e necessitavam de um forte aparato repressivo para manter a ordem interna. 
A unidade da América portuguesa sob a direção de um único Estado, assim, corres-
pondia a essas expectativas (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
No que dizia respeito ao Estado a ser construído, genericamente o mo-
delo disponível era aquele que prevalecia no mundo ocidental. Tra-
tava-se de organizar um aparato político-administrativo com jurisdi-
ção sobre um território definido, que exercia as competências de ditar 
as normas que deveriam regrar todos os aspectos da vida na socie-
dade, cobrar compulsoriamente tributos para financiá-lo e às suas po-
líticas, exercer o poder punitivo para aqueles que não respeitassem as 
normas por ele ditadas (DOLHNIKOFF, 2017, p. 33) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
91 
 
 
 
 
7.3 ASSEMBLEIA CONSTITUINTE 
Em maio de 1823 já começavam a se organizar no Rio de Janeiro as reuniões 
que discutiriam uma Constituição, com representantes de todas as províncias. Ao 
abrir os trabalhos, Dom Pedro utilizou uma frase – copiada da carta constitucional 
francesa de 1814 na qual o rei Luís XVIII tentava retomar a tradição monárquica – 
indicativa de como o poder se organizaria na nova nação: Dom Pedro defenderia a 
Constituição “se fosse digna do Brasil e dele próprio” (FAUSTO, 2015). 
Os membros que integrariam a Constituinte eram liberais, mas não o suficiente 
para sequer discutir o fim da escravidão. Estavam preocupados em defender uma 
Constituição que privilegiasse o federalismo, com as províncias sendo capazes de 
decidir e fazer parte do governo central. Em pouco tempo as desavenças entre a 
Assembleia e Dom Pedro começariam, dizendo respeito sobretudo às atribuições do 
Poder Executivo e do Legislativo: enquanto os constituintes esperavam que o impe-
rador não pudesse dissolver a futura Câmara dos Deputados nem o poder de veto 
absoluto, para o imperador e seus apoiadores era necessário um Executivo forte que 
concentrasse maiores atribuições (FAUSTO, 2015). 
 
 
 Visite o site MultiRio, da prefeitura do Rio de Janeiro, e leia sobre a coroação de Dom 
Pedro I no dia primeiro de dezembro de 1822. Aproveite para aprender sobre as Ordens 
fundadas por ele e o papel político e artístico de Jean Baptiste-Debret, pintor francês 
que veio ao Brasil junto à Missão Artística Francesa e que foi responsável pela criação 
de vários símbolos imperiais. Disponível em: https://bit.ly/3hrc5Lbi. Acesso em: 20 maio 
2020. 
 Os habitantes do novo Império. No livro História do Brasil Império, da historiadora Miriam 
Dolhnikoff e disponível na Biblioteca Virtual, é possível encontrar entre as páginas 29 e 
30 o quadro “Os habitantes do Império”. Nele você poderá ler como viviam as pessoas 
escravizadas, os homens e as mulheres livres espalhados pelas zonas urbanas e rurais, 
além de conhecer a situação dos indígenas e como eles eram tratados pelo novo go-
verno. Disponível em: https://bit.ly/32lHrfK Acesso em: 20 maio 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
92 
 
 
Figura 19: Vista do Paço Imperial (a esquerda) de onde Dom Pedro assistia os trabalhos da 
constituintes no prédio ao lado (autoria de Jean-Baptiste Debret, por volta de 1830) 
 
Fonte: Cavalcanti (1999) 
 
Essa disputa entre os poderes levou à dissolução da Assembleia Constituinte 
por Dom Pedro, com apoio dos militares. Na sequência, foi elaborado um projeto de 
Constituição, que foi promulgada em 25 de março de 1824. Aindaque não fosse 
muito diferente do que vinha sendo discutido pela Constituinte, temos de ter em 
mente que a primeira Constituição brasileira nasceu de cima para baixo, imposta por 
Dom Pedro ao “povo” – entre aspas, já que naquela época esse povo com partici-
pação política era apenas uma minoria de brancos e mestiços com boa condição 
financeira (FAUSTO, 2015). 
 
7.3.1 A Constituição de 1824 
 
Essa Constituição vigorou com algumas modificações até o fim do Império. O 
Brasil do século XIX foi definido, assim, como uma monarquia, cujo poder era heredi-
tário e baseado em uma constituição – ou seja, constitucional. O historiador Fausto 
(2015, p. 128-130) explica que o Império teria uma nobreza, porém não uma aristo-
cracia, já que “existiriam nobres por títulos concedidos pelo imperador (barão, 
conde, duque, etc.), porém os títulos não seriam hereditários, eliminando [...] uma 
‘aristocracia de sangue’”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
93 
 
 
Outra definição importante trazida pela Constituição de 1824 foi a divisão do 
poder Legislativo entre a Câmara e o Senado, cujos membros seriam escolhidos por 
uma eleição, com a diferença de que os deputados seriam temporários, mas os se-
nadores ocupariam cargos vitalícios. A cadeira no Senado também possuía uma par-
ticularidade: a eleição para senador de cada província escolheria uma lista com três 
nomes, cuja palavra final seria do imperador – que, na prática, tornou-se o responsá-
vel por escolher um senador que permaneceria na função de maneira vitalícia. 
O voto foi definido como indireto e censitário, ou seja: os votantes teriam de 
eleger um corpo eleitoral (de fato o eleitor) nas eleições primárias e seria esse corpo 
eleitoral o responsável por eleger os deputados. Além disso, para participar de todo 
esse processo como votar, fazer parte do corpo eleitoral e se eleger, era necessário 
cumprir alguns requisitos, inclusive de natureza econômica, chamados de ‘censo’. 
Esses votantes escolhiam de maneira direta apenas os vereadores das Câmaras mu-
nicipais (FAUSTO, 2015). 
Ainda que uma pessoa escravizada se tornasse livre e preenchesse os requisi-
tos constitucionais, era vedado a ela tornar-se eleitor ou candidato, podendo apenas 
participar da política como votante. Como a Constituição estabeleceu o padroado, 
ou seja, a inclusão da Igreja Católica como parte do Estado, indivíduos que profes-
sassem outra religião não poderiam ser eleitores nem candidatos – ainda que lhes 
fosse permitido o culto particular. 
A historiadora Dolhnikoff (2017) lembra ainda que a Constituição de 1824 dife-
renciava a cidadania civil da cidadania política. Segundo ela, todos os homens e 
mulheres livres, nascidos no Brasil (com exceção dos indígenas), possuíam a cidada-
nia civil, reconhecidos como indivíduos e portadores de direitos. Como vimos, porém, 
a cidadania política – que trazia consigo o direito de votar e ser votado – só seria 
concedida para as pessoas que preenchessem alguns requisitos 
 
A Constituição de 1824 manteve a exigência de renda. Para ser vo-
tante era preciso ter renda líquida anual de 100 mil réis, para ser eleitor 
200 mil réis, para deputado 400 mil réis e para senador 800 mil réis. Tam-
bém nesse ponto, a Constituição seguia os padrões dos governos libe-
rais do século XIX. Exigir renda ou propriedade era considerado um cri-
tério legítimo para garantir o que se considerava ser um eleitorado ca-
paz de tomar as melhores decisões (DOLHNIKOFF, 2017, p. 40) 
 
 
 
Figura 20: Dom Pedro I junto à coroa imperial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
94 
 
 
 
Fonte: Pintura de Henrique José 
da Silva (1822) 
 
Por fim, um quarto poder foi instituído a partir da nova Constituição, o poder 
Moderador. Além disso, um Conselho de Estado, de caráter apenas consultivo, tam-
bém foi estabelecido para auxiliar o imperador na tomada de decisões. Esse conse-
lho era composto por conselheiros vitalícios escolhidos pelo imperador, com mais de 
40 anos e renda superior a 800 mil réis. As principais atribuições do poder Moderador, 
exercido pelo imperador, eram nomear os senadores a partir da lista tríplice, nomear 
e demitir ministros e dissolver a Câmara dos Deputados – desde que convocadas 
novas eleições. 
 
 
 
7.3.2 O que é ser brasileiro na nova Constituição? 
 
O critério de nascimento, utilizado em grande parte das nações, não seria su-
ficiente para que a primeira constituição do país definisse quem seriam os “brasilei-
ros”. Com a escravidão em vigor no Brasil, filhos de escravos nascidos aqui – portanto 
também escravizados – seriam brasileiros? Dolhnikoff (2017, p. 35) explica que “a de-
finição da nacionalidade estava associada ao exercício da cidadania civil, ou seja, 
História: Representação Eleitoral no Império com a historiadora Miriam Dolhnikoff. Para sa-
ber um pouco mais sobre o processo eleitoral no período imperial, acompanhe a entre-
vista com a professora Dolhnikoff no Canal da Univesp. Disponível em: 
https://bit.ly/2G13Fwg. Acesso em: 03 jun. 2020.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
95 
 
 
ser portador dos direitos considerados naturais, como liberdade e o direito à proprie-
dade”. O escravo, porém, não é portador de nenhum direito! Além disso, não seria 
possível justificar a manutenção de brasileiros na condição de escravos.... Acres-
cente-se a isso que atribuir nacionalidade não significava gozar de cidadania polí-
tica, como participar das eleições. Eram necessários critérios específicos para que 
esses cidadãos pudessem votar ou se candidatar em uma eleição. 
 
 
 
Um dos capítulos definia como membros da sociedade do Brasil os brasileiros, 
entendidos como os homens nascidos no Brasil, escravos libertos, portugueses resi-
dentes no Brasil antes da independência, estrangeiros naturalizados e filhos de brasi-
leiros nascidos em países estrangeiros. A questão se complicava quando se pensava 
nos escravos e nos indígenas de tribos não assimiladas. Era consenso de que eles de-
veriam ser excluídos da nova sociedade nacional, mas como fazer isso na nova Cons-
tituição, não relacionando seu critério de nascimento com a cidadania? Dois cami-
nhos foram pensados: para o deputado Nicolau de Campos Vergueiro, a palavra 
“brasileiros” como membros da comunidade nacional deveria ser substituída pela 
palavra “cidadãos”. O deputado entendia, assim, que escravos e indígenas eram 
brasileiros, porque nascidos no Brasil, mas não eram membros da sociedade que se 
queria construir a partir da independência – não eram sujeitos portadores de direitos, 
não sendo, portanto, cidadãos; outro grupo negava que escravos e indígenas “sel-
vagens” fossem considerados brasileiros. Assim, a nacionalidade não se definia so-
mente pelo nascimento, “mas também pela condição de homem livre que integrava 
a sociedade considerada civilizada” (DOLHNIKOFF, 2017, p. 37). Dessa maneira, não 
havia necessidade de alterar o artigo do projeto original. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
96 
 
 
Ficou definido, assim, que os membros da comunidade nacional seriam os ci-
dadãos. No momento em que um indivíduo deixasse a condição que o impedia de 
exercer sua cidadania – como ser escravo ou ser um indígena que vivesse em seu 
modo de vida tradicional – ele passaria a fazer parte da sociedade legalmente re-
conhecida e estaria sujeito às suas normas (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
7.4 CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR (1824) 
Mais uma vez Pernambuco foi palco de uma insurreição, a primeira após a 
proclamação da independência. Denominada Confederação do Equador devido 
à proximidade com a linha que divide os hemisférios, o clima de insatisfação contra 
o governo central já vinha de longa data, mas acentuou-se com a imposição da 
Constituição por Dom Pedro I. A revolta foi eminentemente urbana, e contou com a 
participação de senhores de engenho, comerciantes, traficantes de escravos, ma-
gistrados e padres, além de camadas de homens livres e pobres, insatisfeitos com a 
criação do poderModerador e à falta de autonomia dos governos das províncias. 
No dia 2 de julho de 1824, assim, foi proclamada a Confederação do Equador, 
que deveria reunir sob a forma federativa e republicana não só Pernambuco, como 
também a Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e possivelmente Piauí e Pará. Seu 
líder mais proeminente foi Frei Caneca, cuja origem humilde de vendedor de cane-
cas era lembrada no apelido. Frei Joaquim do Amor Divino estudou no Seminário de 
Olinda, um centro de difusão de ideias liberais que o converteu em um grande inte-
lectual e erudito (FAUSTO, 2015). 
 
Os rebeldes de 1824 não eram desde sempre separatistas. Apoiaram 
a Constituinte e aceitavam a unidade da América sob o governo do 
Rio de Janeiro. Não eram sequer irredutivelmente republicanos. Con-
cordavam com a opção monárquica, desde que adotada a federa-
ção. Derrotados com o fechamento da Assembleia e a outorga da 
Carta, optaram pela separação (DOLHNIKOFF, 2017, p. 42) 
 
Em novembro do mesmo ano as tropas do governo já haviam derrotado a 
Confederação em todas as províncias. Dentre vários condenados à morte estava Frei 
Caneca, que acabou fuzilado porque seu carrasco se recusou a realizar o enforca-
mento que havia recebido como punição. Como é possível perceber, Pernambuco 
trazia desde o período colonial um espírito contestador que iria permanecer ao longo 
dos séculos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
97 
 
 
 
Figura 21: A Execução de Frei Caneca 
 
Fonte: Pintura de Murilo La Greca (1924) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
98 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Unesp) A respeito da independência do Brasil, pode-se afirmar que 
 
a) consubstanciou os ideais propostos na Confederação do Equador. 
b) instituiu a monarquia como forma de governo, a partir de amplo movimento po-
pular. 
c) propôs, a partir das ideias liberais das elites políticas, a extinção do tráfico de es-
cravos, contrariando os interesses da Inglaterra. 
d) provocou, a partir da Constituição de 1824, profundas transformações na estrutu-
ras econômicas e sociais do País. 
e) implicou na adoção da forma monárquica de governo e preservou os interesses 
básicos dos proprietários de terras e de escravos. 
 
2. (Fuvest) A organização do Estado brasileiro que se seguiu à Independência resul-
tou no projeto do grupo 
 
a) liberal-conservador, que defendia a monarquia constitucional, a integridade terri-
torial e o regime centralizado. 
b) maçônico, que pregava a autonomia provincial, o fortalecimento do executivo e 
a extinção da escravidão. 
c) liberal-radical, que defendia a convocação de uma Assembleia Constituinte, a 
igualdade de direitos políticos e a manutenção da estrutura social. 
d) cortesão, que defendia os interesses recolonizadores, as tradições monárquicas e 
o liberalismo econômico. 
e) liberal-democrático, que defendia a soberania popular, o federalismo e a legitimi-
dade monárquica. 
 
3. (Cesgranrio) A concretização da emancipação política do Brasil, em 1822, foi se-
guida de divergências entre os diversos setores da sociedade, em torno do projeto 
constitucional, culminando com o fechamento da Assembleia Constituinte. Assi-
nale a opção que relaciona corretamente os preceitos da Constituição Imperial 
com as características da sociedade brasileira: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
99 
 
 
a) A autonomia das antigas Capitanias atendia aos interesses das oligarquias agrá-
rias. 
b) O Poder Moderador conferia ao Imperador a proeminência sobre os demais Po-
deres. 
c) A abolição do Padroado, por influência liberal, assegurou ampla liberdade religi-
osa. 
d) A abolição progressiva da escravidão, proposta de José Bonifácio, foi uma das 
principais razões da oposição ao Imperador D. Pedro I. 
e) A introdução do sufrágio universal permitiu a participação política das camadas 
populares, provocando rebeliões em várias partes do país. 
 
4. (Ufes) "Confederação do Equador: Manifesto Revolucionário 
Brasileiros do Norte! Pedro de Alcântara, filho de D. João VI, rei de Portugal, a quem 
vós, após uma estúpida condescendência com os Brasileiros do Sul, aclamastes 
vosso imperador, quer descaradamente escravizar-vos. Que desaforado atrevi-
mento de um europeu no Brasil. Acaso pensará esse estrangeiro ingrato e sem cos-
tumes que tem algum direito à Coroa, por descender da casa de Bragança na 
Europa, de quem já somos independentes de fato e de direito? Não há delírio igual 
[...]". 
Ulysses de Carvalho Brandão. A confederação do Equador. Pernambuco: Publicações Oficiais, 
1924. 
O texto dos Confederados de 1824 revela um momento de insatisfação política 
contra a 
 
a) extinção do Poder Legislativo pela Constituição de 1824 e sua substituição pelo 
Poder Moderador. 
b) mudança do sistema eleitoral na Constituição de 1824, que vedava aos brasileiros 
o direito de se candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos portugueses. 
c) atitude absolutista de D. Pedro I, ao dissolver a Constituinte de 1823 e outorgar uma 
Constituição que conferia amplos poderes ao Imperador. 
d) liberalização do sistema de mão de obra nas disposições constitucionais, por pres-
são do grupo português, que já não detinha o controle das grandes fazendas e da 
produção de açúcar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
100 
 
 
e) restrição às vantagens do comércio do açúcar pelo reforço do monopólio portu-
guês e aumento dos tributos contidos na Carta Constitucional. 
 
5. (Fuvest) O reconhecimento da independência brasileira por Portugal foi devido 
principalmente 
 
a) à mediação da França e dos Estados Unidos e à atribuição do título de Imperador 
Perpétuo do Brasil a D. João VI. 
b) à mediação da Espanha e à renovação dos acordos comerciais de 1810 com a 
Inglaterra. 
c) à mediação de Lord Strangford e ao fechamento das Cortes Portuguesas. 
d) à mediação da Inglaterra e à transferência para o Brasil de dívida em libras con-
traída por Portugal no Reino Unido. 
e) à mediação da Santa Aliança e ao pagamento à Inglaterra de indenização pelas 
invasões napoleônicas. 
 
6. (Cesgranrio) A Constituição imperial brasileira, promulgada em 1824, estabeleceu 
linhas básicas da estrutura e do funcionamento do sistema político imperial tais 
como o(a) 
 
a) equilíbrio dos poderes com o controle constitucional do Imperador e as ordens so-
ciais privilegiadas. 
b) ampla participação política de todos os cidadãos, com exceção dos escravos. 
c) laicização do Estado por influência das ideias liberais. 
d) predominância do poder do imperador sobre todo o sistema através do Poder 
Moderador. 
e) autonomia das Províncias e, principalmente, dos Municípios, reconhecendo-se a 
formação regionalizada do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
101 
 
 
PRIMEIRO REINADO E 
CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO 
 
 
8.1 A LEGISLAÇÃO APÓS A CONSTITUIÇÃO 
Logo nos primeiros anos após a elaboração da Constituição, era necessário 
estabelecer a normativa que vigoraria em todo o país sobre diferentes temas. Uma 
das primeiras leis, aprovada no ano de 1827, foi a criação dos Juízes de paz, eleitos 
localmente com funções policiais e responsáveis pelo recrutamento militar. Qualquer 
cidadão poderia se candidatar ao cargo, não sendo exigida nenhuma formação 
técnica para exercê-lo. Os Juízes de paz poderiam organizar diligências, ordenar bus-
cas em residências e determinar prisões, o que lhes conferia certo poder local – esse 
cargo era muitas vezes ocupado por um fazendeiro poderoso da região ou alguém 
sob seu comando (DOLHNIKOFF, 2017). 
Enquanto senadores e ministros eram escolhidos diretamente pelo poder Mo-
derador, nos municípios os votantes poderiam escolher seus representantes locais, re-
gulados pela legislação do ano de 1828 sobre o funcionamento das Câmaras Muni-
cipais. Os vereadores deveriam se ocupar apenas de questões relativas ao seu mu-
nicípio, como a manutenção das ruas e a regulamentação de mercados e feiras. O 
Conselhoda Província, previsto pela Constituição e cuja legislação foi aprovada pe-
los deputados no mesmo ano, era o responsável por aprovar as decisões dos verea-
dores, garantindo certa autonomia ao governo das províncias. 
Outra legislação fundamental estabelecida ainda na primeira década do Im-
pério foi o Código Criminal, promulgado no ano de 1830. É importante lembrar que, 
ainda que os deputados buscassem adequar à legislação penal as ideias liberais em 
vigor, esse Código preservava a escravidão, que perduraria até o penúltimo ano do 
Império. 
 
 
UNIDADE 
Err
 
 
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
 
 
Figura 22: Mapa do Império do Brasil (1868) 
 
Fonte: Mendes (1868, p. 39) 
 
 
Os governos municipais e provincial, tal qual estabelecidos em 1828, 
eram limitados pela Constituição de 1824 e, por esse motivo, ficaram 
bem aquém do que desejava a maioria dos parlamentares. [...] Trans-
formações mais profundas só seriam possíveis com uma reforma cons-
titucional e com a imposição de derrotas ao imperador e seus aliados 
(DOLHNIKOFF, 2017, p. 45). 
 
8.2 OPOSIÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA 
A divisão atual dos estados brasileiros já se desenhava no período imperial. Em 1850 o Im-
pério era dividido em dezoito províncias: Grão-Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande 
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, 
São Paulo, Santa Catarina, São Pedro do Rio Grande, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. 
No mapa de Cândido Mendes podemos identificar ainda as províncias do Amazonas (em 
verde) e do Paraná (em vermelho), criadas por processo decisório posterior (GREGÓRIO, 
2012). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
103 
 
 
A excessiva centralização do governo provocou crescente oposição a Dom 
Pedro I e suas decisões. De acordo Dolhnikoff (2017), a disputa política foi se acirrando 
com o passar dos anos devido às discordâncias com os Ministérios e os focos de ten-
são causados por temas específicos entre os parlamentares e o imperador, como a 
continuidade do tráfico negreiro. Para que a independência brasileira fosse reconhe-
cida pela Inglaterra, Dom Pedro I assinou no ano de 1826 um tratado com o governo 
britânico que previa o fim do tráfico negreiro – o que causou grande descontenta-
mento no Parlamento, não só porque não foi consultado, como porque era, em sua 
grande maioria, formado por fazendeiros diretamente interessados na manutenção 
da escravidão. 
Outro tema que levou ao aumento da oposição a Dom Pedro I foi a guerra 
com Buenos Aires, causada pela disputa da Província Cisplatina, anexada ao Império 
português no ano de 1821. Buenos Aires pretendia integrar a região ao território do 
novo país que surgia após sua independência (as Províncias Unidas do Rio da Prata, 
futura Argentina), levando a um conflito que se iniciou no ano de 1825 e que terminou 
apenas em 1828, com a intervenção da Inglaterra. A guerra foi abastecida não só 
por tropas do exterior contratadas por Dom Pedro I como pelo recrutamento forçado 
da população. Essas tropas foram formadas, assim, por pessoas pobres, que não 
eram militares profissionais e estavam interessadas em se tornar pequenos proprietá-
rios de terra no Brasil – e que, obviamente, não contribuíram para a guerra contra 
Buenos Aires (FAUSTO, 2015). 
Assinado o acordo mediado pela Inglaterra, a província não seria mais ane-
xada a nenhum dos dois territórios, tornando-se a partir daquele momento um novo 
país, denominado Uruguai. 
 
 
O conflito na região da Província Cisplatina começara muitos anos antes da guerra entre 
Brasil e Buenos Aires, marcada por invasões e anexações ao longo das décadas. As Guer-
ras Cisplatinas foram, assim, um conjunto de conflitos militares que envolveram luso-brasi-
leiros e hispano-americanos nas fronteiras entre o Brasil e o Rio do Prata, que começaram 
desde a primeira invasão luso-brasileira no ano de 1811, a anexação pelo Império portu-
guês no ano de 1821 até a fatídica guerra que se iniciou no ano de 1825 e que terminou 
com a intermediação inglesa para a assinatura da Convenção Preliminar de Paz, criando 
a República Oriental do Uruguai no ano de 1828 (ALADRÉN, 2009).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
104 
 
 
No Brasil, o acordo foi visto como uma derrota. Afinal, o império havia 
perdido uma de suas províncias. Depois de anos de disputa que cus-
tara ao país vidas, gastos vultuosos, aumento do custo de vida, enfim, 
o ônus por enfrentar uma guerra de quatro anos, para, no final, perder 
a província. Essa derrota acabou por desgastar ainda mais o impera-
dor (DOLHNIKOFF, 2017, p. 47). 
 
Com o fim do primeiro mandato da Câmara dos Deputados no ano de 1829, 
novas eleições foram realizadas e grande parte do legislativo que assumiu no ano 
seguinte era de oposição ao governo de Dom Pedro I. Essa elite política que coman-
dava o governo se dividia entre liberais e absolutistas. Ambos defendiam a ordem e 
a propriedade, mas os primeiros se caracterizavam pela ideia da liberdade constitu-
cional para garanti-las, enquanto os absolutistas esperavam um governo que fosse 
forte e respeitado – a “liberdade excessiva” era rechaçada por eles, que temiam 
colocar em risco seus privilégios. Dolhnikoff (2017) divide ainda os liberais entre exal-
tados e moderados: enquanto os exaltados buscava reformas mais abrangentes de-
fendendo a igualdade social, a melhor distribuição de renda e uma cidadania plena, 
os moderados mantinham-se fiéis à monarquia, opondo-se ao imperador, mas não 
ao regime. 
Segundo Fausto (2015), houve uma certa “divisão” entre portugueses e brasi-
leiros, na qual os primeiros buscavam o lado do imperador enquanto os segundos se 
alinhavam às ideias liberais. A desconfiança diante do governo aumentava também 
desde a morte de Dom João VI (ainda no ano de 1826) em Portugal e a possibilidade 
de Dom Pedro I assumir o governo português, unindo novamente o Brasil em seus 
domínios. 
 
 
O A Aurora Fluminense (Figura 5) foi um periódico de bastante importância na 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
105 
 
 
cidade do Rio de Janeiro. Apesar de possuir outros fundadores, em pouco tempo 
Evaristo da Veiga tornou-se seu único redator. Todos os números deste periódico es-
tão disponíveis para consulta online no site da Hemeroteca Digital Brasileira. 
 
Figura 23: O A Aurora Fluminense 
 
Fonte: Hemeroteca Digital 
Brasileira (1829, online) 
8.3 PROBLEMAS INTERNOS E EXTERNOS: ABDICAÇÃO DE DOM PEDRO 
Além das questões citadas acima, a oposição crescia ainda devido aos diver-
sos problemas econômicos pelos quais passava o país. Além dos gastos militares com 
a guerra pela Província da Cisplatina, os preços de diversos produtos exportados pelo 
Brasil caíram consideravelmente ao longo da década de vinte, como o algodão, o 
couro, o cacau, o fumo e até o café – principal produto produzido para a exporta-
ção. Pouco antes de voltar para Portugal, Dom João VI ainda esvaziara os cofres do 
Banco do Brasil, o que fez com que o Império já iniciasse com problemas financeiros. 
Tentando salvar a economia, Dom Pedro emitiu grande quantidade de moedas de 
cobre, o que levou às falsificações e ao aumento do custo de vida nos centros urba-
nos. A moeda brasileira se desvalorizava diante da libra, o que favorecia as exporta-
ções, mas também encarecia muito a compra de bens de consumo importados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
106 
 
 
Com a crise financeira, o Banco do Brasil chegou a ser fechado no ano de 1829 
(FAUSTO, 2015). 
Com a morte de Dom João VI em Portugal, Dom Pedro I do Brasil passava a 
ser, também, o IV de Portugal. Como não estava autorizado a seguir no trono dos 
dois lados do Atlântico, o imperador abdicou para que sua filha, Dona Maria, se tor-
nasse a rainha de Portugal. Porém, apoiado por parte da população, Dom Miguel – 
irmão de Dom Pedro e tio de Dona Maria – entra na disputa pelo trono português e 
é declarado rei de Portugal no ano de 1828. 
 
 
 
A insatisfação com o governode Dom Pedro I chegou a tomar as ruas na co-
nhecida “Noite das Garrafadas” quando, voltando de uma viagem a Minas Gerais 
em março de 1831, o imperador fora recebido por uma comemoração organizada 
por portugueses em seu apoio. A reação dos brasileiros foi imediata e os tumultos 
duraram cinco dias, dentre os quais, em uma noite, o conflito teve como armas gar-
rafas e cacos de vidro (FAUSTO, 2015). 
Tendo em vista as questões internas e externas envolvendo não só um, mas 
dois tronos, Dom Pedro I resolveu abdicar do governo do Império do Brasil em nome 
de seu filho mais velho, também de nome Pedro, e voltar a Portugal para disputar a 
coroa com seu irmão, Como mostra a Figura 6 “Usando do direito que a Constituição 
me concede, declaro que hei de muito voluntariamente abdicado na pessoa de 
meu muito amado e prezado filho o Senhor D. Pedro de Alcântara”. O menino possuía 
apenas cinco anos de idade e, conforme a Constituição, só poderia assumir o trono 
quando completasse dezoito anos. Em 7 de abril de 1831 chegava ao fim o Primeiro 
Reinado. Dali em diante, regentes teriam de ser escolhidos para governar enquanto 
o jovem imperador não pudesse assumir o trono brasileiro. 
 
Figura 24: Trecho da Carta de abdicação de D. Pedro I do Brasil, em 1831 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
107 
 
 
 
Fonte: Pedro I do Brasil (1831) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
 
 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (UFV) O mapa abaixo retrata o contorno do território brasileiro logo após a Decla-
ração de Independência. Em 1828 esse contorno sofreu grandes modificações em 
virtude de uma revolução de caráter separatista fomentada pela Argentina. Esse 
episódio, além de mudar o contorno do território brasileiro, deu origem a um novo 
país, o Uruguai, que hoje se integra ao Brasil, Argentina e Paraguai na constituição 
do MERCOSUL. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Revolução Farroupilha. 
b) Revolta do Chaco. 
c) Questão Cisplatina. 
d) Guerra dos Farrapos. 
e) Confederação do Equador. 
 
2. (Mackenzie) O episódio conhecido como "A Noite das Garrafadas", briga entre 
portugueses e brasileiros, relaciona-se com 
 
a. a promulgação da Constituição da Mandioca pela Assembleia Constituinte. 
b. a instituição da Tarifa Alves Branco, que aumentava as taxas de alfândega, acir-
rando as disputas entre portugueses e brasileiros. 
c. o descontentamento da população do Rio de Janeiro contra as medidas sanea-
doras de Oswaldo Cruz. 
d. a manifestação dos brasileiros contra os portugueses ligados à sociedade "Colunas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
109 
 
 
do Trono" que apoiavam Dom Pedro I. 
e. a vinda da Corte Portuguesa e o confisco de propriedades residenciais para alojá-
la no Brasil. 
 
3. (Mackenzie) A abdicação de Pedro I, a 7 de abril de 1831, resultou 
 
a. na vitória do partido português, em seu projeto de restabelecer o Reino Unido. 
b. na consolidação de nossa independência e do poder dos grandes proprietários, 
à frente do Estado Brasileiro. 
c. no declínio da elite rural, em virtude de amplas reformas sociais após a queda do 
imperador. 
d. em maior estabilidade política, traço que caracterizou o Período Regencial. 
e. na superação imediata da crise econômica que afligia o país. 
 
4. (Mackenzie) Como em 1822, a união contra o perigo comum levou de vencida os 
adversários. O 7 de abril aparece como o complemento necessário do 7 de se-
tembro. 
(1822 Dimensões - Carlos Guilherme Mota) 
O perigo comum a que se refere o texto e a complementação referida seriam 
 
a) a ameaça de recolonização liderada pelo partido português derrotado na Inde-
pendência e na Abdicação a 7 de abril de 1831. 
b) a oposição dos grandes proprietários, que na Independência e Abdicação pre-
tendiam liquidar com a escravidão. 
c) o apoio dos democratas do Partido Brasileiro em ambas as ocasiões à política ab-
solutista de Pedro I. 
d) a união da Maçonaria e Apostolado para implantar a República nestes dois mo-
mentos históricos. 
e) a coincidência de projeto de nação entre as elites portuguesa e brasileira em am-
bas as oportunidades. 
 
5. (Fuvest) Houve um estremecimento nas relações entre os Estados inglês e brasileiro, 
na primeira metade do século XIX, em consequência da forte pressão que a Ingla-
terra exerceu sobre o Brasil a partir do reconhecimento da Independência (1826). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
110 
 
 
Tais pressões decorreram 
 
a) da anexação do Uruguai por D. Pedro e da sua transformação em Província Cis-
platina, limitando o comércio inglês no Prata. 
b) da oposição inglesa aos privilégios alfandegários concedidos, desde 1819, aos pro-
dutos portugueses importados pelo Brasil. 
c) dos incentivos do governo brasileiro à exportação de algodão, o que tornava este 
produto mais barato do que o produzido nas colônias britânicas. 
d) do início da imigração europeia para o Brasil, fato que poderia levar à industriali-
zação e à diminuição das importações de produtos ingleses. 
e) da oposição do Estado inglês ao tráfico negreiro que o governo brasileiro, depois 
de resistir, proibiu, em 1850. 
 
6. Fuvest) No Brasil, tanto no Primeiro Reinado, quanto no período regencial 
 
a) aconteceram reformas políticas que tinham por objetivo a democratização do 
poder. 
b) ocorreram embates entre portugueses e brasileiros que chegaram a pôr em perigo 
a independência. 
c) disseminaram-se as ideias republicanas até a constituição de um partido político. 
d) mantiveram-se as mesmas estruturas institucionais do período colonial. 
e) houve tentativas de separação das províncias que puseram em perigo a unidade 
nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
111 
 
 
PERÍODO REGENCIAL 
 
 
 
 
9.1 LIBERAIS MODERADOS NO PODER 
O período regencial ficou conhecido pela historiografia como o mais tumultu-
ado do Império, devido especialmente à quantidade de revoltas que ocorreram em 
diferentes partes do território ao longo desses anos. Depois que Dom Pedro I abdicou 
e voltou para Portugal, seus opositores – os liberais moderados – chegaram ao poder 
por possuir maioria na Câmara. As reformas que defendiam, contudo, não coloca-
vam em jogo nem a monarquia, nem a Constituição de 1824, evitando abrir brechas 
que pudessem levar à radicalização ou a mobilizações sociais. Seguindo, assim, a 
Constituição, uma regência trina deveria ser escolhida para governar o país até que 
Dom Pedro II atingisse a maioridade. A Assembleia Geral, então, deveria escolher três 
cidadãos para regerem o governo no lugar do imperador. Após uma regência pro-
visória, os regentes permanentes foram escolhidos: José da Costa Carvalho, de São 
Paulo, João Bráulio Muniz, do Maranhão, e o brigadeiro Francisco de Lima e Silva 
(DOLHNIKOFF, 2017). 
Do outro lado do governo organizava-se uma oposição formada pelos liberais 
chamados de “exaltados” e os absolutistas. Os exaltados defendiam uma organiza-
ção federativa que daria efetiva autonomia às províncias e as liberdades individuais. 
Dentre eles era possível encontrar ainda nomes como Cipriano Barata e Borges da 
Fonseca, adeptos da República. Os absolutistas, por outro lado, parte deles portu-
gueses com postos na burocracia e no exército, lutavam pela volta ao trono de Dom 
Pedro I – sonho que ruiu em 1834, com a morte do antigo imperador em Portugal 
(FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 
Err
 
 
 
 
 
 
 
 
 
112 
 
 
Figura 25: Retrato de D. Pedro II na primeira infância 
 
Fonte: Pintura de Arnaud 
Julien Pallière (1830) 
 
 
9.1.1 AS REFORMAS LIBERAIS 
 
Os liberais moderados que ocupavam o Parlamento, assim, logo iniciaram as 
reformas que confeririam maior autonomia das províncias. Uma das primeiras medi-
das estabelecidas no ano de 1831 foi a criação da Guarda Nacional, que passou a 
ser a principal forma coercitiva do Império, se sobrepondo ao Exército. A Guarda, 
assim, era organizada na província,submetendo-se ao juiz de paz e ao governo pro-
vincial, considerando que todos os cidadãos deveriam defender seu país, pegando 
em armas (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
Seus oficiais, com o título de coronéis, eram escolhidos por eleição. 
Embora estivesse atrelada ao Ministério, sua organização por provín-
cia, o alistamento por uma autoridade local, o juiz de paz, a baixa hi-
erarquização (os coronéis eleitos eram os únicos oficiais) e por ser com-
posta por cidadãos que não era militares de carreira, a Guarda Naci-
onal tinha um alto grau de descentralização, contrário à hierarquia 
vertical, centralizada e nacional do Exército (DOLHNIKOFF, 2017, p. 50-
51). 
A Guarda Nacional seria formada por todos os cidadãos com direito ao voto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
113 
 
 
nas eleições primárias entre 21 e 60 anos. Ela deveria ser chamada para enfrentar 
rebeliões fora do município e também proteger as fronteiras do país. O alistamento 
obrigatório para ela acabou desfalcando os quadros do Exército, já que quem fizesse 
parte da Guarda Nacional estaria dispensado de alistar-se no segundo (FAUSTO, 
2015). 
A autonomia das províncias continuou a ser debatida na Câmara dos Depu-
tados nos anos seguintes, onde várias propostas de reforma constitucional foram ana-
lisadas. Dentre essas propostas, estabeleceu-se que o governo seria uma monarquia 
federativa, propondo ainda a extinção do Poder Moderador e do Conselho de Es-
tado; a criação de assembleias provinciais; o fim da vitaliciedade do mandato dos 
senadores; a limitação do poder de veto do Executivo e a substituição da regência 
trina pela una. Ao chegar ao Senado, porém, essas propostas não foram bem rece-
bidas, e os senadores rejeitaram – como era de se esperar – o fim da vitaliciedade de 
seus mandatos, o fim do Poder Moderador e do Conselho de Estado. Em sessão con-
junta, a historiadora Dolhnikoff (2017) explica que deputados e senadores aprovaram 
o fim do Conselho de Estado e mudanças na forma de eleger o regente, mas tanto 
a vitaliciedade do mandato de senador como o Poder Moderador foram mantidos. 
Assim, no ano de 1834 a Câmara dos Deputados aprovou uma emenda à 
Constituição, conhecida naquele período como Ato Adicional. Ainda que a expres-
são “monarquia federativa” tenha ficado de fora, se consagrava ali a autonomia das 
províncias: o governo provincial passava a ser composto por duas instâncias: as As-
sembleias Legislativas e a Presidência da província. Com a promulgação do Ato Adi-
cional, no ano de 1835, novas eleições foram convocadas para a escolha do regente 
único, sendo escolhido o padre paulista Diogo Antônio Feijó, um dos líderes dos libe-
rais moderados (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
114 
 
 
 
 
Outra reforma importante ocorrida ainda nos primeiros anos do período regen-
cial foi o Código de Processo Criminal, que fixou as normas do Código Criminal de 
1830 dois anos depois. Esse Código deu maiores poderes aos juízes de paz, autoriza-
dos a partir daquele momento a prender e julgar as pessoas acusadas de cometer 
pequenas infrações. Esse Código instituiu ainda o júri para julgar a maioria dos crimes 
e o habeas corpus para ser concedido a pessoas presas ilegalmente ou com liber-
dade ameaçada (FAUSTO, 2015). O projeto dos liberais moderados no poder, assim, 
caracterizava-se por conferir às elites provinciais e locais uma maneira de participar 
do Estado que se construía, tanto através do Ato Adicional como do processo crimi-
nal (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
115 
 
 
 
9.2 AS REVOLTAS REGENCIAIS 
O período regencial foi marcado por diversas revoltas que ocorreram por todo 
o território, lideradas tanto por populares como por parte da elite regional. Esses con-
flitos ocorriam por diferentes motivos, desde o descontentamento pela nomeação 
de um governador, até pela diminuição dos impostos ou por melhores condições de 
vida para a população. Comparando duas revoltas bastante diferentes, podemos 
entende-las um pouco melhor. 
No início do ano de 1835 a capital da província do Grão-Pará – a cidade de 
Belém – foi invadida por rebeldes que eram contra o presidente Bernardo Lobo de 
Souza, assassinado em frente ao palácio do governo. Essa revolta ficou conhecida 
como Cabanagem (1835-1840) e, apesar de no início ter sido liderada por grandes 
fazendeiros que eram contra a nomeação do governo central, em pouco tempo 
alguns populares passaram a liderar o conflito. Podemos considerar, assim, a Caba-
nagem um levante eminentemente popular. Centenas de escravos fugiram e forma-
ram quilombos, indígenas se revoltaram e muitos populares se insurgiram contra os 
comerciantes portugueses que ainda comandavam o comércio da região 
(FELDMAN, 2019). 
A independência do Pará foi proclamada pelos rebeldes e a revolta se esten-
deu pelo interior da província. Lideranças populares se sobressaíram, como Eduardo 
Angelim, um cearense de 21 anos que tentou organizar um governo e colocou como 
seu secretário um padre – uma das poucas pessoas capazes de escrever. Os caba-
nos, porém, não chegaram a oferecer uma organização alternativa para o Pará, e 
defendiam a religião católica, os brasileiros, Dom Pedro II e a liberdade. Ainda que 
houvesse centenas de escravos entre os revoltosos, não houve proposta de abolição 
da escravidão e uma insurreição de escravos chegou a ser reprimida por Angelim. A 
Cabanagem foi vencida por tropas legalistas após uma série de confrontos, que ter-
minou com a quase completa destruição da cidade de Belém e com a morte de 
cerca de 30 mil pessoas, o que somava aproximadamente 20% da população da 
província (FAUSTO, 2015). 
A Revolta Farroupilha ou Guerra dos Farrapos (1835-1845), por outro lado, foi 
um levante ocorrido na região sul do país liderado por grandes fazendeiros, também 
insatisfeitos com o governo central. A principal riqueza da província do Rio Grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
116 
 
 
do Sul era o charque, espécie de carne salgada que abastecia as fazendas do atual 
sudeste para alimentar os escravos. Os fazendeiros do Sul reclamavam dos altos im-
postos para a venda do charque enquanto as carnes estrangeiras eram vendidas por 
um preço inferior ao produto nacional. A revolta foi, assim, a maneira encontrada por 
esses fazendeiros para se fazerem ouvir em busca de maior autonomia da província 
(FELDMAN, 2019). Esses fazendeiros buscavam acabar com a taxação do gado na 
fronteira com o Uruguai, estabelecendo ainda a livre circulação dos rebanhos que 
eles possuíam nos dois países. 
 
 
 
Dentre os revoltosos, devemos destacar ainda algumas dezenas de revolucio-
nários italianos refugiados no Brasil, dentre eles Giuseppe Garibaldi. Bento Gonçalves, 
filho de um rico estancieiro e com larga experiência militar, pode ser considerado a 
figura mais importante do movimento. A luta foi levada também para o norte da 
província e chegou a assumir por algum tempo o controle de Santa Catarina. Na 
região gaúcha dominada pelos rebeldes foi proclamada no ano de 1838 a República 
de Piratini, cuja presidência coube a Bento Gonçalves. Diferente do ocorrido na ci-
dade de Belém, no norte do país, o governo central buscou negociar com os revol-
tosos do Sul que, apesar do nome, não eram “esfarrapados”, mas pessoas de posses 
na naquela região. Diante da proximidade com o Uruguai, era importante ainda es-
tabelecer relações amigáveis com os rebeldes, evitando o risco da separação total 
da província. 
 
A guerra terminou com a assinatura do Tratado do Poncho Verde, que 
fazia várias concessões aos rebeldes: o império assumia as dívidas do 
governo da República Rio-grandense, os oficiais rebeldes seriam incor-
porados ao exército imperial nos mesmos postos, exceto os generais, 
todos os prisioneiros de guerra seriam devolvidos à província. Além 
Fausto (2015) lembra que a província do Rio Grande do Sul era um caso especial dentre 
as regiões brasileiras. Devidoà sua posição geográfica, formação econômica e vínculos 
sociais, os chamados “gaúchos” possuíam uma grande relação com o mundo platino, 
especialmente com o Uruguai. De acordo com o historiador, “os chefes de grupos militari-
zados da fronteira – os caudilhos –, que eram também criadores de gado, mantinham 
extensas relações naquele país. Aí possuíam terras e se ligavam pelo casamento com mui-
tas famílias” (FAUSTO, 2015, p. 145). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
117 
 
 
disso, no ano anterior, em 1844, em uma ampla reforma aduaneira 
aprovada no Parlamento, foi incluída a elevação do tributo cobrado 
pela entrada do charque no Brasil (DOLHNIKOFF, 2017, p. 63). 
 
Feldman (2019) chama a atenção pela diferença de tratamento que recebe-
ram os rebeldes das duas revoltas. Enquanto a Cabanagem foi uma revolta popular 
que contou com a participação sobretudo de índios destribalizados, e populares em 
busca de melhores condições de vida, a Farroupilha foi acima de tudo uma desa-
vença entre as elites políticas e econômicas. O historiador ainda explica que os ca-
banos foram massacrados pelas forças legalistas e que as memórias do conflito su-
gerem até que havia quem considerasse trazer “rosários de orelhas secas de caba-
nos” para demonstrar glória. Como vimos, as lideranças farroupilhas não tiveram des-
tino semelhante. 
Os lanceiros negros (Figura 8) foram dois corpos de lanceiros da República Rio-
Grandense que se constituíam de homens negros livres ou libertos e que lutaram na 
Revolução Farroupilha. Acredita-se que o corpo de Lanceiros Negros foi traído por 
um dos líderes dos farrapos em acordo com o exército legalista e dizimado na Bata-
lha de Porongos. 
 
Figura 8: Lancero de la época de Rivera 
 
Fonte: Pintura de Juan Manuel 
Blanes (Século XIX) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
118 
 
 
Outra situação que não era bem vista pela população do período era o re-
crutamento forçado, prática prevista em lei para completar o contingente do Exér-
cito e que recaia sobre os homens pobres. 
Dolhnikoff (2017) explica que, depois de incorporados ao Exército, essas pes-
soas eram mantidas como soldados por tempo indeterminado e recebiam em troca 
um soldo muito baixo. A historiadora argumenta que não era incomum nas revoltas 
de homens livres e pobres que as lideranças cobrassem respeito à Constituição, o 
que demonstrava que conheciam o sistema político e buscavam legitimar suas 
ações. Foi o que fez um dos principais líderes da Balaiada (1838-1841), revolta iniciada 
no Maranhão e que se alastrou pela região chegando até o Piauí. Raimundo Gomes 
foi um vaqueiro que arrombou as portas da prisão onde estavam seu irmão e outros 
conhecidos, que haviam sido recrutados de maneira forçada e esperavam que um 
oficial do Exército viesse buscá-los. Começava nesse momento a revolta que duraria 
três anos 
A Balaiada mobilizou camponeses e vaqueiros, homens pobres da área rural 
como Manuel Balaio, cujo apelido relacionado à sua atividade – fazer cestas, cha-
madas também de balaios – deu nome à revolta. Dolhnikoff (2017, p. 57) chama a 
atenção para o manifesto lançado pelos revoltosos, que continham reivindicações 
como as seguintes: “Primeiro: que seja sustentada a Constituição e garantias dos ci-
dadãos. [...] Terceiro: que sejam abolidos os prefeitos, subprefeitos e comissários, fi-
cando somente em vigor as leis gerais e as provinciais, que não forem de encontro à 
Constituição do Império”. 
Ao contrário do que diziam as autoridades, é possível concluir a partir dos tre-
chos acima que os rebeldes possuíam reivindicações políticas que iam ao encontro 
do regime liberal vigente, respeitando a Constituição. Ainda que seus termos não tra-
tassem explicitamente do fim da escravidão, muitos escravos aderiram à revolta, 
como o quilombola Cosme Bento das Chagas. 
Mais uma vez, uma revolta popular foi duramente reprimida pelo governo cen-
tral. Os rebeldes foram derrotados em meados de 1840 e uma anistia foi concedida 
com a condição da reescravização dos negros rebeldes. Cosme seria enforcado no 
ano de 1842. No comando das tropas imperiais estava Luís Alves de Lima e Silva, que 
por seus esforços receberiam o título de barão de Caxias. Através dos serviços pres-
tados em outras revoltas, em poucos anos ele seria conhecido como Duque de Ca-
xias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
119 
 
 
Outra revolta do período regencial bastante conhecida foi a chamada Sabi-
nada (1837-1838), nome que se originou a partir de um de seus principais líderes cha-
mado Sabino Barroso, jornalista e professor da Escola de Medicina de Salvador. De 
acordo com Fausto (2015), a Bahia era palco de várias revoltas urbanas desde a pro-
clamação da independência e esse levante reuniu amplas bases de apoio, como 
pessoas da classe média e do comércio de Salvador, que defendiam ideias republi-
canas e federalistas. Outro ponto importante desse movimento foi o compromisso 
com os escravos, divididos entre nacionais – nascidos no Brasil – e estrangeiros: todos 
os escravos nacionais que pegassem em armas pela revolução seriam libertados. Os 
“sabinos”, porém, não conseguiram penetrar no Recôncavo Baiano, local tomado 
pelos senhores de engenho que apoiavam o governo. O cerco das forças governa-
mentais por terra e mar a cidade de Salvador resultou em cerca de 1800 mortos e no 
fim da revolta. 
Ainda que muitas vezes esquecidas pelos manuais didáticos de História, houve 
ainda no período revoltas lideradas exclusivamente por escravos, sendo a mais fa-
mosa delas a Revolta dos Malês (1835), em Salvador. O nome pelo qual ficou conhe-
cida se refere às suas lideranças, que eram originárias de sociedade africanas que 
seguiam o islamismo (“malês” era a denominação utilizada para muçulmanos na-
quela época). 
A condição de muçulmanos, segundo Dolhnikoff (2017), não só fortalecia a 
construção da identidade desses grupos como também significava a própria cisão 
com as ideias correntes, formuladas pela elite brasileira, da conversão dos escravos 
“pagãos” ao catolicismo. A religião parece ter sido um fator decisivo na organização 
da revolta, bem como as reuniões para orações certamente foram usadas para tra-
ças os planos rebeldes. Para ler o Corão, todos os muçulmanos deveriam ser alfabe-
tizados, o que dava a esses escravos uma capacidade de comunicação importante. 
Além disso, o islamismo unificava os escravos e os libertos, fazendo com que os últimos 
tivessem papel fundamental de levar e trazer informações, já que possuíam liberdade 
de ir e vir. 
Os malês tomaram as ruas de Salvador no dia 25 de janeiro. A rápida repressão 
derrotou a rebelião no mesmo dia, mas uma revolta armada previamente organi-
zada gerou um grande impacto e tornou-se referência para a elite como uma possi-
bilidade de ruptura inscrita na própria escravidão. O objetivo dos malês iam além de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
120 
 
 
apenas fugir da escravidão, mas incluíam matar todos os brancos e assumir o con-
trole da província (DOLHNIKOFF, 2017). 
A última revolta que gostaríamos de citar aqui vem recebendo atenção dos 
historiadores nos últimos anos como “um outro 13 de maio”, já que essa rebelião ocor-
reu no ano de 1833 na mesma data que anos depois a escravidão seria abolida no 
país. A Revolta de Carrancas (1833) aconteceu na cidade de mesmo nome, em Mi-
nas Gerais. Naquele 13 de maio, os escravos que trabalhavam nas plantações da 
fazenda Campo Alegre mataram toda a família do deputado Gabriel Francisco Jun-
queira, dono da propriedade e que se encontrava na capital. Partiram depois para 
a fazenda vizinha, chamada Bela Cruz, onde o grupo passou a ter entre 30 e 35 es-
cravos, matando também todos os brancos que residiam em sua sede. Em pouco 
tempo a revolta foi contida e parte dos envolvidos foi condenada à morte por enfor-
camento, na maior pena de morte coletiva aplicada à escravos que se tem notícia 
na história das insurreições escravas no Brasil(ANDRADE, 2017). 
 
 
 
9.3 REFORMAS, RUPTURA E O FIM DO PERÍODO REGENCIAL 
O Código de Processo Criminal de 1832 previa a autoridade local, delegada 
aos juízes de paz e jurados escolhidos por sorteio. Com o passar dos anos uma nova 
proposta foi sendo desenhada, prevendo uma magistratura de carreira, com juízes 
com formação técnica formados nas Faculdades de Direito e nomeados pelo go-
verno central. A reforma do Código foi aprovada em 1841 e esvaziou o poder dos 
juízes de paz, criando o cargo de delegado, que também deveriam ser formados em 
Direito e nomeados pelo governo. O Ato Adicional também foi afetado pela reforma, 
incidindo apenas sobre a implementação do novo modelo judiciário que estava 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
121 
 
 
sendo formado. A autonomia das províncias conferida pelo Ato Adicional contudo, 
não foi afetada (DOLHNIKOFF, 2017). 
A falta de consenso entre os liberais moderados quanto à estrutura do judiciá-
rio levou à uma ruptura no partido. No ano de 1837, surgiram dois partidos: os defen-
sores da nova reforma reuniram-se no Partido Conservador, enquanto seus opositores 
passaram a fazer parte do Partido Liberal. Em sua origem, de acordo com a historia-
dora Dolhnikoff (2017, p. 65) “estavam duas concepções distintas de Judiciário: a li-
beral que privilegiava os cidadãos locais, e a conservadora, que fortalecia a magis-
tratura de careira nomeada pelo governo central”. É importante ressaltar que os par-
tidos políticos do século XIX eram bastante diferentes dos partidos atuais. Ainda de 
acordo com a historiadora, não havia coesão interna ou programas claramente de-
finidos; em cada província os partidos adquiriam as feições das elites locais, não exis-
tindo diferença social entre seus membros 
Como fazia parte do grupo minoritário na Câmara dos Deputados, Feijó renun-
ciou à Regência em 1837, sendo substituído por Araújo Lima, do grupo adversário. 
Com o conflito que surgiu entre os dois grupos, os liberais que eram contra as novas 
reformas acusavam os conservadores, que eram a favor, de promover um regresso 
ao Primeiro Reinado, marcado pela centralização. É por isso que o movimento da 
década de 1840 acabou ficando conhecido como o Regresso e os conservadores 
passaram a ser chamados de regressistas. 
 
Figura 9: Caricatura de Araújo Porto-Alegre ilustrando o padre Feijó ao final de sua regência, 
retornando para São Paulo e deixando um rastro em seu caminho... 
 
Fonte: Manuel de Araújo Porto-alegre (1837) 
 
Em 1840 os conservadores conseguiram aprovar a chamada Interpretação do 
Ato Adicional. Os liberais, no intuito de tentar impedir a aprovação da Reforma do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
122 
 
 
Código de Processo Criminal passaram a defender a antecipação da maioridade de 
Dom Pedro II, que naquela data contava com apenas 15 anos. Eles esperavam um 
acordo com o novo imperador com a nomeação de um ministério do Partido Liberal 
que levaria a uma nova Câmara majoritariamente liberal. Com o intuito de fortalecer 
o poder central, os conservadores não se opuseram ao fim do período regencial e 
naquele ano Dom Pedro II assumiu a Coroa. Apesar de no início ter nomeado um 
ministério liberal conforme o combinado, no ano seguinte o imperador dissolveu a 
Câmara e substituiu os liberais por um ministério conservador, mais alinhado aos seus 
interesses (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
123 
 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (Fuvest) No Brasil, tanto no Primeiro Reinado, quanto no período regencial 
 
a) aconteceram reformas políticas que tinham por objetivo a democratização do 
poder. 
b) ocorreram embates entre portugueses e brasileiros que chegaram a pôr em perigo 
a independência. 
c) disseminaram-se as ideias republicanas até a constituição de um partido político. 
d) mantiveram-se as mesmas estruturas institucionais do período colonial. 
e) houve tentativas de separação das províncias que puseram em perigo a unidade 
nacional. 
 
2. (Unesp) O resultado da discussão política e a aprovação da antecipação da mai-
oridade de D. Pedro II representou 
 
a) o pleno congraçamento de todas as forças políticas da época. 
b) a vitória parlamentar do bloco partidário liberal. 
c) a trama bem-sucedida do grupo conservador que fundara a Sociedade Promo-
tora da Maioridade. 
d) a anulação da ordem escravista que prevalecia sobre os interesses particulares. 
e) a debandada do grupo político liderado por um proprietário rural republicano. 
 
3. (Fuvest) "Sabinada" na Bahia, "Balaiada" no Maranhão e "Farroupilha" no Rio 
Grande do Sul foram algumas das lutas que ocorreram no Brasil em um período 
caracterizado 
 
a) por um regime centralizado na figura do imperador, impedindo a constituição de 
partidos políticos e transformações sociais na estrutura agrária. 
b) pelo estabelecimento de um sistema monárquico descentralizado, o qual delegou 
às Províncias o encaminhamento da "questão servil". 
c) por mudanças na organização partidária, o que facilitava o federalismo, e por 
transformações na estrutura fundiária de base escravista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
124 
 
 
d) por uma fase de transição política, decorrente da abdicação de Dom Pedro I, 
fortemente marcada por um surto de industrialização, estimulado pelo Estado. 
e) pela redefinição do poder monárquico e pela formação dos partidos políticos, 
sem que se alterassem as estruturas sociais e econômicas estabelecidas. 
 
4. (Fuvest) Sobre a Guarda Nacional, é correto afirmar que ela foi criada 
 
a) pelo imperador, D. Pedro II, e era por ele diretamente comandada, razão pela 
qual tornou-se a principal força durante a Guerra do Paraguai. 
b) para atuar unicamente no Sul, a fim de assegurar a dominação do Império na 
Província Cisplatina. 
c) segundo o modelo da Guarda Nacional Francesa, o que fez dela o braço armado 
de diversas rebeliões no período regencial e início do Segundo Reinado. 
d) para substituir o exército extinto durante a menoridade, o qual era composto, em 
sua maioria, por portugueses e ameaçava restaurar os laços coloniais. 
e) no período regencial como instrumento dos setores conservadores destinado a 
manter e restabelecer a ordem e a tranquilidade públicas. 
 
5. (Mackenzie) Do ponto de vista político podemos considerar o período regencial 
como 
a) uma época conturbada politicamente, embora sem lutas separatistas que com-
prometessem a unidade do país. 
b) um período em que as reivindicações populares, como direito de voto, abolição 
da escravidão e descentralização política foram amplamente atendidas. 
c) uma transição para o regime republicano que se instalou no país a partir de 1840. 
d) uma fase extremamente agitada com crises e revoltas em várias províncias, gera-
das pelas contradições das elites, classe média e camadas populares. 
e) uma etapa marcada pela estabilidade política, já que a oposição ao imperador 
Pedro I aproximou os vários segmentos sociais, facilitando as alianças na regência. 
 
6. (Fuvest) A Sabinada, que agitou a Bahia entre novembro de 1837 e março de 1838 
 
a) tinha objetivos separatistas, no que diferia frontalmente das outras rebeliões do pe-
ríodo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
125 
 
 
b) foi uma rebelião contra o poder instituído no Rio de Janeiro que contou com a 
participação popular. 
c) assemelhou-se à Guerra dos Farrapos, tanto pela postura anti-escravista quanto 
pela violência e duração da luta. 
d) aproximou-se, em suas proposições políticas, das demais rebeliões do período pela 
defesa do regime monárquico. 
e) pode ser vista como uma continuidade da Rebelião dos Alfaiates, pois os dois mo-
vimentos tinham os mesmos objetivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
126 
 
 
POLÍTICA E ECONOMIA NO 
SEGUNDO REINADO 
 
 
10.1 LUZIAS E SAQUAREMAS NO PODER 
Como vimos na unidade anterior,o Partido Liberal e o Partido Conservador 
surgiram ainda no fim do período regencial, tendo os conservadores assumido o mi-
nistério no ano de 1841. Até o ano de 1844 eles permaneceram no poder e estabele-
ceram o que ficou conhecido como o “Regresso”, instaurando reformas que retor-
nassem à centralização do poder e à situação política anterior à Regência. Assim, 
eles reformaram o Código de Processo Criminal, reinterpretaram o Ato Adicional e 
promulgaram uma nova lei eleitoral. Apesar do Poder Moderador continuar em vi-
gência, Dolhnikoff (2017) argumenta que não havia controle do Executivo sobre o 
Judiciário, cabendo aos deputados negociarem entre eles para aprovar seus proje-
tos. Os liberais voltaram ao poder no ano de 1844, mas em 1848 os conservadores 
mais uma vez assumiram o ministério. 
 
 
 
Ainda que houvesse revezamento no poder, até hoje historiadores divergem 
sobre as semelhanças e diferenças dos dois partidos, tendo em vista que muitos de 
seus membros eram parte da mesma elite política que comandava o governo ao 
longo das décadas. Fausto (2015) relembra a famosa frase atribuída ao político per-
nambucano Holanda Cavalcanti: “Nada se assemelha mais a um ‘saquarema’ do 
que um ‘luzia’ no poder”. Os dois termos são bastante utilizados para se referir aos 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
127 
 
 
partidos políticos do Segundo Reinado e remetem a apelidos utilizados no próprio 
período: Saquarema representando os conservadores e remetendo ao município flu-
minense de mesmo nome, onde os principais membros do partido possuíam terras; 
Luzia aos liberais e fazendo alusão à Vila de Santa Luzia, em Minas Gerais onde os 
liberais tiveram sua maior derrota durante a Revolução de 1842. 
Fausto (2015) entende ainda que é importante compreendermos que a polí-
tica desse período não era feita com o intuito de alcançar grandes objetivos ideoló-
gicos, mas pelo prestígio e benefícios para si próprio e seus protegidos. Segundo o 
historiador, conservadores e liberais utilizavam as mesmas artimanhas para angariar 
vitórias eleitorais e chegando a empregar a violência para isso, como o que ficou 
conhecido em 1840 como “Eleição do Cacete”, quando liberais empregaram a 
força para garantir sua permanência no governo. 
A Figura 8 mostra o “Bazar Eleitoral”, em uma charge de Ângelo Agostini no 
jornal paulistano Cabrião, 1867. A venda de cédulas de voto e de armas demonstra 
a ironia com a qual as eleições do período eram vistas. A faixa onde se lê “não se 
fia”, ou seja, não se confia, também sugere que as eleições não eram confiáveis. 
Abaixo da gravura podemos ler ainda: “[...] meu partido é o cobre; voto por aquele 
que me der mais a ganhar. Isto faz muita gente boa”. 
 
Figura 26: Bazar Eleitoral (Charge) 
 
Fonte: Agostini (1867) 
 
Apesar da disputa entre os dois partidos, também houve momentos de cisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
128 
 
 
em que parte de um deles apoiava o outro no intuito de aprovar determinadas pro-
postas que os beneficiassem. Foi isso que fez surgir, no ano de 1853 a chamada Re-
conciliação, momento em que um ministério com membros liberais e conservadores 
foi formado. O ministério era chefiado pelo marquês de Paraná. 
 
Em 1856, com a morte de Paraná, o ministério passou a ser chefiado 
pelo Duque de Caxias, também ele do Partido Conservador. Na com-
posição dos ministérios seguintes, houve ainda a tentativa de acomo-
dar liberais e conservadores. Mas a ideia da conciliação havia sido 
praticamente enterrada junto com Paraná (DOLHNIKOFF, 2017, p. 97) 
 
Com o passar dos anos, algumas questões dividam de maneira mais clara – 
inclusive regionalmente – liberais e conservadores. Para Fausto (2015) é bastante 
clara a defesa das liberdades e de uma ampliação da representação política de-
fendida pelos liberais, sobretudo a partir de 1860. Houve na década seguinte a orga-
nização de um “novo” Partido Liberal, que contava ainda com a adesão de conser-
vadores como Nabuco de Araújo e Zacarias Góis, que defendiam eleições diretas 
nas grandes cidades, Senado temporário, redução das atribuições do Conselho de 
Estado, garantia das liberdades de consciência, de educação, de comércio e de 
indústria e até a abolição gradual da escravidão. 
A divisão entre os dois partidos remetia, ainda segundo Fausto (2015), às ori-
gens de seus membros, já que os conservadores eram em sua maioria proprietários 
rurais, burocratas do governo e grandes comerciantes enquanto os liberais eram pro-
prietários rurais e profissionais liberais. Outra distinção era o local de onde seus mem-
bros retiravam suas forças: enquanto os primeiros eram da Bahia e de Pernambuco, 
os liberais eram mais fortes em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Por fim, 
importante salientar que as transformações socioeconômicas pelas quais passavam 
regiões como São Paulo, com o enriquecimento ocorrido pela produção de café, 
buscavam uma autonomia provincial que começava a ser pensada fora da monar-
quia. Nascia, então, o movimento republicano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
129 
 
 
 
 
10.2 A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO CAFEEIRA 
Se a economia foi baseada na produção açucareira durante o período colo-
nial, o Império trouxe a ascensão do café e da “virada” para a região sudeste do 
Brasil. Ainda que o grão já tivesse sido introduzido no Pará no ano de 1727 por Fran-
cisco de Melo Palheta e que houvesse pés de café no Rio de Janeiro por volta do 
ano de 1760, foi apenas no período imperial e no extenso vale do Paraíba onde se 
reuniram as condições ideais para a sua primeira grande expansão em níveis comer-
ciais. Não só a área já era conhecida e cortada por caminhos e trilhas que remetiam 
à época do apogeu da mineração, a região também contava com clima e solo 
favoráveis. Outro ponto a favor era a proximidade com o porto do Rio de Janeiro, 
que facilitava o escoamento do produto (FAUSTO, 2015). 
Assim como as fazendas de cana de açúcar, a produção cafeeira se estabe-
leceu na forma de plantation e empregando a mão de obra escrava. Segundo 
Fausto (2015), durante quase todo o período monárquico o café foi produzido a partir 
do emprego de técnicas muito simples que esgotavam o solo, já que não havia pre-
ocupação com a produtividade da terra. Para implantar uma fazenda de café, os 
fazendeiros necessitavam de investimentos significativos para a derrubada da mata, 
o preparo da terra, o plantio, as instalações e a compra de escravos. Teriam de pos-
suir recursos ainda para esperar a primeira produção dos pés de café, que ocorria 
apenas 4 anos depois do plantio. Se no começo esses recursos provinham de pou-
panças obtidas com a expansão do comércio no período joanino, com o tempo os 
Tendo em vista a fragmentação da antiga América espanhola e a quantidade de países 
que surgiu após sua independência, por que o mesmo não ocorreu com a antiga colônia 
portuguesa? Utilizando os trabalhos de José Murilo de Carvalho e Luiz Felipe de Alencastro, 
Fausto (2015) explica que foram o escravismo e uma elite homogênea que se estabeleceu 
no poder os responsáveis pela unidade do território, na medida em que essa elite depen-
dia da mão de obra de africanos escravizados para sua produção agrícola e insistiu na 
centralização do poder para contar com a ajuda do Império para isso. Ainda que tenham 
ocorrido revoltas por todo o Brasil, esses grandes produtores não se arriscariam em separar-
se e ter de enfrentar sozinhos o poder inglês, que exigia o fim do tráfico e da escravidão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
130 
 
 
recursos passaram a vir da própria cafeicultura e dos capitais liberados com a extin-
ção do tráfico negreiro a partir do ano de 1850. 
Apesar do manuseio dos cafezais ser relativamente simples, tendo em vista que 
um escravo poderia cuidar de cerca de 7 mil pés de café, sua manutenção requeria 
bastante trabalho. Após o preparo do terreno e adquiridas as mudas, era necessário 
ainda carpir o matopara que não sufocasse as mudas recém-plantadas. Com a che-
gada do período de colheita – que como vimos ocorreria no mínimo 4 anos após o 
plantio das mudas – o cuidado dos trabalhadores era redobrado, já que era muito 
comum os grãos amadurecerem de maneira irregular e exigir a habilidade de seus 
responsáveis para serem colhidos da maneira correta (COSTA, 1999). 
Depois da colheita, os grãos deveriam ser expostos ao sol para a secagem e 
depois passarem pelo beneficiamento, que na maioria das vezes era realizado com 
a utilização de monjolos. Além das técnicas de produção e beneficiamento serem 
pré-industriais, o transporte até o porto também era bastante precário. Antes da 
construção das ferrovias, as sacas chegavam ao Rio de Janeiro com a utilização de 
burros e mulas (FAUSTO, 2015). 
 
Figura 27: Descascamento do café a pata do boi (1820) 
 
Fonte: Pintura de Alfredo Norfini (1922) 
 
Do ponto de vista socioeconômico, o complexo cafeeiro abrangia um 
leque de atividades que deslocou definitivamente o polo dinâmico do 
país para o Centro-Sul. Em função do café, aparelharam-se portos, cri-
aram-se empregos e novos mecanismos de crédito, revolucionaram-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
131 
 
 
se os transportes. Isso não ocorreu da noite para o dia. Houve um pro-
cesso relativamente longo de decadência do Nordeste e fortaleci-
mento do Centro-Sul, que se tornou irreversível por volta de 1870 
(FAUSTO, 2015, p. 163). 
 
10.2.1 Auge e declínio no Vale do Paraíba e a expansão para o Oeste Pau-
lista 
 
Fausto (2015) afirma que por volta do ano de 1850 a economia cafeeira no 
Vale do Paraíba chegou ao seu auge. O problema do transporte foi solucionado com 
a construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que depois foi denominada Central 
do Brasil. O historiador enumera os principais centros produtores de café dessa região: 
Vassouras, considerada a capital do café, e Cantagalo destacavam-se no vale flu-
minense; Areias e Bananal eram os principais centros da área paulista; na Zona da 
Mata Mineira as principais cidades eram Muriaé, Leopoldina, Juiz de Fora, Catagua-
ses e Carangola. 
Depois da produção extensiva de café no Vale do Paraíba, a região cafeeira 
se expandiria também pelo chamado Oeste Paulista. Essas plantações foram instala-
das para substituir a cana-de-açúcar, produto sempre presente na região. Outro 
ponto a favor da província de São Paulo era a disponibilidade de terras para a plan-
tação, que se estendiam na direção oeste chegando ao rio Paraná, na divisa com o 
Mato Grosso; a situação era diferente no Vale do Paraíba, onde havia limites geo-
gráficos que não poderiam ser ultrapassados. Para atingir seu auge, a produção no 
Oeste Paulista precisava desenvolver uma maneira de que a produção alcançasse 
o litoral, ultrapassando as dificuldades da Serra do Mar. Para isso, foi inaugurada no 
ano de 1868 a ferrovia que interligava Santos a Jundiaí, construída por uma compa-
nhia concessionária inglesa, a São Paulo Railway Co. Limited (SRP). A cidade de San-
tos já exportava pequenas quantidades de café plantado no litoral paulista desde o 
século XVIII. Com a instalação da ferrovia, a cidade se firmou como um centro ex-
portador. Com o surgimento da Companhia Paulista de Estradas de Ferro no ano de 
1868, outras companhias foram sendo fundadas, como a Mojiana, a Ituana e a Soro-
cabana – esta última se vinculou à produção de algodão na região de Sorocaba 
(FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
132 
 
 
 
 
 
 
10.3 SURTO INDUSTRIAL E URBANIZAÇÃO 
Com a proibição da exportação de escravos – ocorrida após a promulgação 
da Lei Eusébio de Queirós no ano de 1850 – uma intensa atividade de negócios e de 
especulação surgiu devido à liberação de capitais antes utilizados no tráfico. Foi a 
partir dessa época que começaram a surgir bancos, indústrias, empresas de nave-
gação a vapor, etc. Uma das figuras mais conhecidas desse período e que acabou 
simbolizando o chamado “surto industrial” da época foi Irineu Evangelista de Sousa, 
o Barão de Mauá (Figura 10) (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Oeste Paulista possuía naquela época as principais características que iriam transformá-
lo em uma potência na produção agrícola ao final do período imperial: além da disponi-
bilidade de terras, o solo e o clima eram extremamente favoráveis para a cultura do café 
– com a terra roxa encontrada na região, o cafeeiro poderia chegar a trinta anos, en-
quanto em outras regiões não chegavam aos 25 anos; foi no Oeste Paulista também que 
foram introduzidas as primeiras tecnologias voltadas para aumentar a agilidade nas plan-
tações, como o arado e o despolpador; por fim, a acumulação de capitais na região 
permitiu que os grandes fazendeiros pudessem buscar alternativas ao trabalho escravo 
após o fim do tráfico negreiro, enquanto o Vale do Paraíba era baseado exclusivamente 
na mão de obra escrava (FAUSTO, 2015) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
133 
 
 
 
Figura 28: Litografia do Barão de Mauá (1861) 
 
Fonte: Sebastien Auguste Sisson (1861) 
 
Sua história se inicia trabalhando como mensageiro de uma empresa importa-
dora inglesa no Rio de Janeiro, chegando a sócio dessa firma. Depois disso, Mauá 
montou uma fundição de ferro, aplicou seus capitais em ferrovias, navios e no serviço 
de gás da capital, tornando-se ainda um importante banqueiro. A primeira estrada 
de ferro do Brasil, inaugurada no ano de 1854, foi construída por Mauá e possuía ape-
nas 14 quilômetros, interligando o porto de Mauá, na baía de Guanabara à estação 
de Fragoso, próxima à raiz da serra, em direção a Petrópolis. Sua ideia de unir o Rio 
de Janeiro ao Vale do Paraíba e depois a Minas Gerais, porém, não se concretizou. 
Os negócios de Mauá entraram em declínio devido à perda de favores governamen-
tais e a investimentos arriscados, chegando à falência no ano de 1875 (FAUSTO, 2015). 
As estradas de ferro que foram construídas com o intuito de facilitar o escoa-
mento do café contribuíram ainda para o desenvolvimento do mercado interno e 
estimularam a urbanização. De acordo com Costa (1999), as ferrovias ajudaram no 
nascimento de algumas cidades, mas também na morte de outras. Núcleos promis-
sores do início do século que ficaram à margem das estradas de terro viram decair 
seu movimento, enquanto outros núcleos sugiram ao longo das ferrovias e estações 
de trem. 
A historiadora explica que “facilitando as comunicações, a ferrovia permitiu 
aos fazendeiros transferirem suas residências para os centros mais importantes, redu-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
134 
 
 
zindo a importância dos núcleos interioranos e reforçando a concentração nas gran-
des cidades” (COSTA, 1999, p. 255-256). 
A mudança destes fazendeiros para os grandes centros trouxe ainda melhora-
mentos urbanos como o aumento das diversões públicas, a construção de hotéis, 
jardins e passeios públicos, teatros e cafés. Além disso, foi nesse período que o sistema 
de calçamento foi melhorado, a iluminação e o abastecimento de água, além do 
transporte urbano (COSTA, 1999). 
 
O sistema de carris urbanos instalou-se em Recife em 1868. Entre 1872 
e 1895, instalaram-se redes de tráfego urbano em Salvador, Rio de Ja-
neiro, São Luís, Recife, Campinas e São Paulo. Na década de 1880, 
criam-se serviços telefônicos em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e 
Campinas (então importantes centros da área cafeeira). Na década 
anterior o telégrafo ligava o Brasil com a Europa e estabelecia comu-
nicação entre vários centros do país [...] (COSTA, 1999, p. 256). 
 
A urbanização também se deveu à chegada de imigrantes estrangeiros para 
trabalhar nas fazendas, sobretudo após o fim do tráfico negreiro, temas que veremos 
na próxima unidade desta apostila. 
Nas últimas décadas do século XIX a aparecimento das indústrias foi outro fator 
que diferenciou os grandes centros das cidades interioranas. No fim do século, um 
grande número de estabelecimentos industriaisfoi fundado, especialmente nos nú-
cleos urbanos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande 
do Sul. Até fins do século XIX, contudo, a industrialização não chegaria a afetar pro-
fundamente as estruturas socioeconômicas do país, o que ocorreria apenas no sé-
culo XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
135 
 
 
 
Figura 29: Fábrica de ferro de São João de Ipanema, em Sorocaba (1884) 
 
Fonte: Lago e Lago (2008) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
136 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (UFV) Comparando a atividade cafeeira com a atividade açucareira, no Brasil na 
primeira metade do século XIX, pode-se afirmar que 
a) as duas atividades, pela sua localização, incrementaram o comércio, as cidades 
regionais, a indústria nacional e a construção de ferrovias. 
b) as duas atividades basearam-se na grande propriedade monocultora, na mão de 
obra escrava e na utilização de recursos técnicos rudimentares. 
c) a primeira concentrou-se inicialmente no oeste paulista, apesar de a região não 
possuir relevo e solos adequados ao cultivo. 
d) na segunda, por se tratar de uma cultura temporária, havia um custo menor de 
instalação desde o plantio até a sua transformação. 
e) a primeira usou as colônias de parceria como forma de suprir a escassez de mão 
de obra, desde as primeiras áreas cultivadas no período colonial. 
 
2. (PUCSP) "A enorme visibilidade do poder era sem dúvida em parte devida à pró-
pria monarquia com suas pompas, seus rituais, com o carisma da figura real. Mas 
era também fruto da centralização política do Estado. Havia quase unanimidade 
de opinião sobre o poder do Estado como sendo excessivo e opressor ou, pelo 
menos, inibidor da iniciativa pessoal, da liberdade individual. Mas [...] este poder 
era em boa parte ilusório. A burocracia do Estado era macrocefálica: tinha ca-
beça grande, mas braços muito curtos. Agigantava-se na corte, mas não alcan-
çava as municipalidades e mal atingia as províncias. [...] Daí a observação de que, 
apesar de suas limitações no que se referia à formulação e implementação de 
políticas, o governo passava a imagem do todo-poderoso, era visto como o res-
ponsável por todo o bem e todo o mal do Império." 
Carvalho, J. Murilo de. Teatro de Sombras. Rio de Janeiro, IUPERJ/ Vértice, 1988. 
 
O fragmento acima refere-se ao II Império brasileiro, controlado por D. Pedro II e 
ocorrido entre 1840 e 1889. Do ponto de vista político, o II Império pode ser repre-
sentado como 
 
a) jogo de aparências, em que a atuação política do Imperador conheceu as mu-
danças e os momentos de indefinição acima referidos - refletindo as próprias osci-
lações e incertezas dos setores sociais hegemônicos -, como bem exemplificado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
137 
 
 
na questão da Abolição. 
b) palco de enfrentamento entre liberais e conservadores que, partindo de princípios 
políticos e ideológicos opostos, questionaram, com igual violência, essa aparente 
centralização indicada na citação acima e se uniram no Golpe da Maioridade. 
c) cenário de várias revoltas de caráter regionalista - entre elas a Farroupilha e a Ca-
banagem - devido à incapacidade do governo imperial controlar, conforme men-
cionado na citação, as províncias e regiões mais distantes da capital. 
d) universo de plena difusão das ideias liberais, o que implicou uma aceitação por 
parte do Imperador da diminuição de seus poderes, conformando a situação 
apontada na citação e oferecendo condições para a proclamação da Repú-
blica. 
e) teatro para a plena manifestação do poder moderador que, desde a Constituição 
de 1824, permitia amplas possibilidades de intervenção políticas para o Imperador 
- daí a ideia de centralização da citação - e que foi usado, no Segundo Reinado, 
para encerrar os conflitos entre liberais e socialistas. 
 
3. (UNESP) No decurso do Primeiro Reinado, vieram à tona conflitos, contradições e 
crises. No período Regencial, marcado por agitações sociais e políticas, a grave e 
prolongada crise econômica e financeira começou a ser superada com 
 
a) o auge da mineração. 
b) o surto da cafeicultura. 
c) a utilização do açúcar de beterraba. 
d) a lei e a ordem impostas pela Guarda Federal. 
e) o aumento na exportação de algodão para os Estados Unidos. 
 
4. (UNITAU) A partir do golpe da maioridade, em 1840, a vida partidária brasileira re-
sumiu-se a dois partidos: o antes partido progressista passou a chamar-se partido 
liberal e o regressista passou a chamar-se partido conservador. Pode-se considerar 
como característica desses partidos: 
 
a) Os partidos do império sempre tiveram plataformas políticas bem definidas. 
b) As divergências entre as várias classes da sociedade brasileira estavam represen-
tadas nos programas partidários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
138 
 
 
c) Do ponto de vista ideológico, não havia diferenças entre os liberais e conservado-
res, pois eram "farinha do mesmo saco". 
d) Os conservadores sempre estiveram no poder e os liberais sempre estiveram na 
oposição. 
e) Ambos tinham influência ideológica externa nos seus programas, apesar de proi-
bido por lei. 
 
5. (FUVEST-GV) Partindo do Rio de Janeiro, a cultura do café expandiu-se 
 
a) pelo litoral rumo à região açucareira de Campos e, transpondo a serra do mar, 
pelo Vale do São Francisco. 
b) pelas serras do Rio de Janeiro, Sul de Minas, Vale do Paraíba e Oeste Paulista. 
c) pelo litoral sul de São Paulo, Vale do Ribeira e Vale do Paranapanema. 
d) pelo litoral fluminense e espírito-santense rumo à Bahia. 
e) nas áreas de colonização europeia do Vale do Itajaí e da serra gaúcha. 
 
6. (UNESP) O resultado da discussão política e a aprovação da antecipação da mai-
oridade de D. Pedro II representou 
 
a) o pleno congraçamento de todas as forças políticas da época. 
b) a vitória parlamentar do bloco partidário liberal. 
c) a trama bem-sucedida do grupo conservador que fundara a Sociedade Promo-
tora da Maioridade. 
d) a anulação da ordem escravista que prevalecia sobre os interesses particulares. 
e) a debandada do grupo político liderado por um proprietário rural republicano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
139 
 
 
ESCRAVIDÃO E IMIGRAÇÃO 
 
 
 
11.1 A ESCRAVIDÃO NO BRASIL 
A utilização de mão de obra de africanos escravizados começou já nas pri-
meiras décadas do período colonial e sustentou a economia do Brasil até o fim do 
século XIX. Desde as plantações de cana-de-açúcar na região do atual nordeste, 
passando pela extração de ouro em Minas Gerais até chegar nos cafezais do Vale 
do Paraíba e do Oeste Paulista, foi a exploração do trabalho destas pessoas que 
levou o Brasil a tornar-se um grande exportador de matéria-prima e ao enriqueci-
mento de uma pequena elite que se manteve no poder ao longo dos séculos. Ainda 
que tanto governo quanto fazendeiros soubessem da dependência da economia da 
mão de obra escrava, a Inglaterra – principal credora do governo e de parte dos 
grandes proprietários de terra – ia de encontro à manutenção da escravidão no Bra-
sil. 
De acordo com os dados do historiador Fausto (2015), nos primeiros anos do 
pós-independência, o tráfico aumentou com relação ao período anterior. Os africa-
nos escravizados passaram a entrar, em sua maioria, por portos ao sul da Bahia, o 
que demonstra como a economia havia se deslocado para o centro-sul do país de-
vido às lavouras cafeeiras do Vale do Paraíba. Ainda assim, no ano de 1826, a Ingla-
terra fez o Brasil assinar um tratado pelo fim do tráfico negreiro nos próximos três anos, 
autorizando os ingleses ainda a inspecionar em alto-mar os navios suspeitos do co-
mércio ilegal. Assim, no ano de 1831 uma lei tentou colocar o tratado em prática, 
prevendo a aplicação de penas aos traficantes e visando declarar livres todos os 
africanos que entrassem no Brasil após a data de 7 de novembro. Mesmo tendo ha-
vido certa diminuiçãoda entrada de cativos no início da década de 1830, logo de-
pois o fluxo voltou a crescer e os dispositivos da lei não foram aplicados. A lei ficou 
conhecida como “para inglês ver”, e a expressão acabou sendo usada por muito 
tempo para indicar algo que que era realizado só pela aparência, sem intenção de 
aplicação real. 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
140 
 
 
 
 
Figura 30: Navio negreiro 
 
Fonte: Pintura de Johann Moritz Rugendas (1830) 
 
Diversos motivos faziam com que a Inglaterra se interessasse em extinguir o trá-
fico negreiro. Em primeiro lugar, a pressão da opinião pública inglesa, que conde-
nava a escravidão como algo intolerável contra seres humanos. Mais importante do 
que a opinião pública, porém, eram os interesses da Inglaterra na produção de pro-
dutos primários para suas indústrias no continente africano. 
A extensa rede de alianças construída ao longo de centenas de anos na África 
entre traficantes e lideranças africanas para abastecer o comércio de africanizados 
era um obstáculo aos planos ingleses. Para Dolhnikoff (2017), assim, a ideia era extin-
guir a demanda para desmantelar a rede montada pela traficantes ao longo dos 
anos. 
Como vimos, entre os anos de 1831 e 1835, de fato a entrada de escravizados 
no Brasil diminuiu drasticamente: de quase 300 mil nos anos anteriores para cerca de 
26 mil. Ainda que tenha se tornado uma atividade agora ilegal, em pouco tempo os 
traficantes se reorganizaram e nos cinco anos seguintes cerca de 200 mil escravizados 
entraram no país, um volume próximo aos anos anteriores à lei de 1831. Desse total, 
aproximadamente 176 mil foram para a cafeicultura de São Paulo e Rio de Janeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
141 
 
 
 
A expansão cafeeira criava uma demanda que alimentava o contra-
bando negreiro, ao arrepio de tratados e leis. Por ser realizado na ile-
galidade e ser obrigado a se esquivar da ação repressiva da Marinha 
inglesa, o tráfico ficou mais oneroso e, consequentemente, os escra-
vos ficaram mais caros. A alta rentabilidade da cafeicultura conferia 
aos fazendeiros do Rio de Janeiro e São Paulo capacidade financeira 
para arcar com a alta do preço de escravos e, assim, alimentar o con-
trabando negreiro (DOLHNIKOFF, 2017, p. 112). 
 
 
 
O tratado assinado com a Inglaterra expirava no ano de 1844 e o governo 
brasileiro não se interessava em renová-lo, afirmando que esta seria uma questão 
interna e que já existia uma lei legislando sobre o tema – que, como vimos, não surtiu 
efeito. Saindo dos meios diplomáticos, então, a Inglaterra aprovou em seu parla-
mento no ano de 1845 a lei que ficou conhecida como Bill Aberdeen, que declarava 
o tráfico negreiro pirataria e que, portanto, os navios poderiam ser atacados pela 
poderosa Marinha inglesa não só em alto-mar, como atracados nos portos brasileiros. 
As manifestações do governo brasileiro contrárias às interferências inglesas foram di-
versas, pois a lei britânica de fato ia de encontro à soberania brasileira. Os ingleses, 
porém, não deram ouvidos e passaram a capturar navios brasileiros ancorados nos 
portos nacionais. O Brasil não possuía condições militares para enfrentar os navios 
ingleses. Para defender a soberania, então, a alternativa era agora ceder e extinguir 
o tráfico, no intuito de cessar os ataques a navios brasileiros (DOLHNIKOFF, 2017). 
 
11.1.1 Fim do tráfego negreiro 
 
O gabinete conservador que subiu ao poder no final da década de 1840, pre-
sidido pelo Marquês de Monte Alegre, foi o responsável por aprovar uma lei que par-
tiu do Ministro da Justiça chamado Eusébio de Queirós. O projeto de lei previa medi-
Para ter dimensão da quantidade de navios negreiros que saíram no decorrer dos anos 
do continente africano, trazendo milhões de pessoas escravizadas para a América, pro-
cure o site chamado Slave Voyages no link https://www.slavevoyages.org/. Construído por 
um conjunto de pesquisadores de diferentes partes do mundo, este site possuí recursos 
visuais que podem não só ser utilizados em salas de aula, mas também auxiliam o professor 
a compreender o tema da escravidão e do tráfico negreiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
142 
 
 
das mais eficazes contra o tráfico, reforçando a lei de 1831. O governo brasileiro re-
conheceria, assim, que o tráfico negreiro era uma espécie de pirataria e tribunais 
especiais deveriam julgar os infratores. A lei foi aprovada em setembro de 1850 e ficou 
conhecida como “Lei Eusébio de Queirós”, e dessa vez significou a diminuição e ex-
tinção do comércio negreiro em poucos anos. Fausto (2015) explica que dessa vez a 
lei “pegou” devido à pressão da Inglaterra e à falta de meios do Império de resistir 
aos ataques ingleses aos navios brasileiros. 
Para o historiador, contudo, esse não foi o único motivo que fez com que a lei 
de 1850 tenha sido de fato colocada em prática. Segundo Fausto (2015), o mercado 
brasileiro de escravizados encontrava-se abastecido no final da década de 1840. Os 
grandes fazendeiros haviam hipotecado suas terras para traficantes, que eram agora 
vistos com ressentimento, sobretudo porque grande parte deles eram portugueses. 
Como consequência, não só a frente antibritânica se enfraquecia, como o reforço 
do governo central facilitou a ação repressiva. Com o fim da entrada de escraviza-
dos no Brasil, seria questão de tempo até a escravidão acabar no país, e outro tipo 
de mão de obra passou a ser pensado para trabalhar nas fazendas. Enquanto era 
possível, o deslocamento interno de cativos aumentou, trazidos das regiões em de-
cadência como o nordeste para as fazendas do Centro-Sul (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
Figura 31: Jogar capoeira 
O historiador Feldman (2019) pede que, para que estudemos – e ensinemos – a cultura 
afro-brasileira do século XIX, deixemos as questões macro como política e economia de 
lado e entremos nas micro, ou seja, nos indivíduos. Assim, indicamos que você conheça a 
discussão sobre crioulização e ladinização proposta pelo historiador João José Reis ao 
analisar a história de Manoel Joaquim Ricardo, um africano escravizado que enriqueceu 
na Bahia, cujo trecho aparece no trabalho de autor, em um quadro nas páginas 158-9. 
Nas páginas anteriores, o autor apresenta ainda o casal Rufino e Henriqueta, africanos 
que alcançaram a liberdade depois de sair da Bahia e tornarem-se escravos de ganho no 
Rio de Janeiro. Obra disponível na Biblioteca Digital em: https://bit.ly/2EJTP0X 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
143 
 
 
 
Fonte: Johann Moritz Rugendas (1835) 
 
11.2 IMIGRAÇÃO E SISTEMA DE PARCERIAS 
Com o fim do tráfico negreiro no ano de 1850, era questão de tempo para que 
a produção agrícola brasileira entrasse em crise com a falta de mão de obra. Pen-
sando nisso, tanto o governo como alguns indivíduos começaram a se organizar para 
trazer trabalhadores de outras partes do mundo para atuarem nas plantações de 
café anos antes da lei Eusébio de Queirós. A iniciativa de organizar colônias de imi-
grantes para povoar áreas do interior do país já havia começado desde a vinda de 
Dom João IV para o Brasil. Costa (1999) explica que no Espírito Santo, no Rio de Ja-
neiro, em São Paulo, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, formaram-se os pri-
meiros núcleos com esse intuito. As tentativas, contudo, nem sempre eram bem-su-
cedidas, já que muitas vezes essas pessoas eram enviadas para locais de difícil 
acesso, de relevo complicado e solo pobre e acabavam abandonando seus lotes. 
 Para trabalhar nas lavouras, começou-se a pensar em um sistema de parce-
rias entre os fazendeiros e os colonos. Um dos pioneiros nesse sistema foi o senador 
Vergueiro, que já no ano de 1840 tentava atrair imigrantes portugueses para a Fa-
zenda Ibicaba, na região de Limeira. Com uma emenda ao Orçamento, o governo 
ficou autorizado a gastar até duzentos contos com a importação de colonos, e Ver-
gueiro foi designado para recebê-los e assumir as despesas com seu transporte. Frus-144 
 
 
trada a primeira tentativa devido às agitações na província, em 1846 Vergueiro con-
tratou na Suíça e Alemanha cerca de 364 famílias que chegaram no ano seguinte 
para trabalhar em sua fazenda de café, associando o trabalho escravo que ainda 
persistia na Fazenda Ibicaba com a mão de obra imigrante. Vergueiro constituiu uma 
sociedade – a Vergueiro e Cia. – e em 1852 assinou um novo contrato, dessa vez com 
o governo provincial, se comprometendo a fornecer em 3 anos 1500 colonos. Dois 
anos depois, ele comunicava que havia cumprido seu contrato, ultrapassando 
mesmo o número que havia se comprometido (COSTA, 1999). 
 
 
 
O sistema de parceria funcionava da seguinte maneira: os colonos eram con-
tratados na Europa e trazidos para as fazendas, com suas viagens e transporte pagos. 
As despesas, contudo, entravam como uma espécie de adiantamento do proprietá-
rio de terras para o colono. Cada família ficava responsável por uma quantidade de 
cafeeiros e deveria cultivar, colher e beneficiar. Eles também poderiam plantar ali-
mentos em locais determinados pelos fazendeiros. Depois do café vendido, o fazen-
deiro deveria entregar ao colono metade do lucro líquido, cobrando os adiantamen-
tos com 6% de juros. O colono estava ainda, de certa forma, preso à fazenda en-
quanto não quitasse sua dívida, e deveria comunicar previamente ao fazendeiro 
caso desejasse deixar a fazenda (COSTA, 1999). 
Se nos primeiros anos o sistema pareceu dar certo, em pouco tempo os fazen-
deiros do Oeste Paulista se decepcionaram com seus colonos e desistiram de receber 
novos imigrantes. As queixas eram muitas, desde a maneira brutal com que faziam 
exigências, até indisciplina e maus costumes. Do outro lado, a insatisfação dos colo-
nos também era imensa, reclamando de terem recebido poucos ou improdutivos pés 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
145 
 
 
de café e até dos pesos e medidas utilizados pelos fazendeiros, que sempre os preju-
dicava. Além disso, discordavam das arbitrariedades dos senhores, criticavam o des-
conforto das casas que recebiam, que lembravam senzalas e discordavam ainda 
das somas de dinheiro que ganhavam, que acabava obrigando-os a comprar man-
timentos apenas na própria fazenda, o que os mantinha ainda mais presos por dívidas 
ao senhor de terra (COSTA, 1999). 
 
Os colonos sentiam-se reduzidos à situação de escravos e os fazendei-
ros, por seu lado, consideravam-se burlados nos seus interesses. O sis-
tema pecava pela base. Pretendia-se criar um regime de trabalho 
que pudesse substituir vantajosamente a mão de obra escrava na cul-
tura cafeeira. Procurara-se uma solução num regime misto que conci-
liasse fórmulas usuais em colônias de povoamento com o interesse do 
fazendeiro, habituado à rotina do braço escravo. O conflito revelou-
se inevitável (COSTA, 1999, p. 219). 
 
O fracasso do sistema de parcerias desmoralizou a política emigratória para o 
Brasil e chegou à interdição total por parte de alguns países europeus. Costa (1999) 
afirma que a mentalidade de um senhor de terras, que cresceu tratando seus traba-
lhadores a base da “sova e tronco”, não toleraria o trabalho livre que o colono veio 
buscar. Do outro lado, alemães e suíços se interessavam pela colonização a partir de 
núcleos coloniais, com pequenas propriedades das quais eles mesmos se tornariam 
proprietários, como ocorreu em regiões como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 
Apenas décadas depois, os esforços para atrair imigrantes seriam renovados. 
 
Figura 32: Imigrantes europeus em frente à Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo 
 
Fonte: Gaensly (1890) 
Coincidindo com a aprovação da Lei do Ventre Livre, novas iniciativas come-
çaram a surgir, especialmente do governo provincial de São Paulo, o que demonstra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
146 
 
 
as ligações entre sua elite política e os fazendeiros de café. No ano de 1871, o go-
verno provincial começou a emprestar dinheiro aos fazendeiros para iniciar a intro-
dução de trabalhadores nas fazendas, o que ficou conhecido como imigração sub-
vencionada. Essa subvenção poderia incluir a hospedagem por oito dias na capital, 
em prédios construídos exclusivamente com esse fim (que você pode ver na Figura 
14), e o transporte para as fazendas. Ainda assim, na década de 1870, poucos imi-
grantes chegaram para trabalhar em São Paulo. Muitos dos italianos que chegavam 
“não se conformavam com as condições de vida existentes no Brasil e muitos retor-
navam a sua terra” (FAUSTO, 2015, p. 177). No ano de 1885, o governo italiano chegou 
a divulgar uma circular descrevendo a região de São Paulo como inóspita e insalu-
bre, desaconselhando a imigração para o Brasil. 
A situação italiana no final do século XIX, contudo, favoreceu a vinda de imi-
grantes. A crise que se seguiu com a unificação do país e as transformações capita-
listas caiu sobretudo sobre a população mais pobre, que acabou sendo a grande 
maioria a vir para São Paulo. No último ano do Império, os italianos foram 90% dos 
imigrantes a chegarem à província, e mesmo com a abolição da escravidão no ano 
de 1888, a colheita do café não foi prejudicada por falta de mão de obra naquele 
ano (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
11.2.1 Imigrantes e a urbanização 
Não podemos deixar de mencionar a relação existente entre o aumento das 
Lei do Ventre Livre: Diversos projetos de lei foram discutidos a partir do ano de 1850 para 
que, aos poucos, os escravizados começassem a deixar essa condição de uma maneira 
que não prejudicasse os senhores de terra. A Lei do Ventre Livre foi, assim, uma dessas 
tentativas. Promulgada em 1871, a também conhecida como lei Rio Branco – por ter sido 
esse Visconde quem liderou o gabinete no momento de sua assinatura pela princesa Isa-
bel –, alforriava as crianças nascidas de mães escravizadas a partir daquele ano. Após seu 
nascimento, as crianças deveriam ser entregues ao governo aos oito anos de idade em 
troca de uma indenização ou permanecer servindo ao seu senhor até os 21 anos de idade 
como forma de “compensar” os gastos com sua criação. Normalmente elas acabavam 
ficando na fazenda até a vida adulta.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
147 
 
 
áreas urbanas e a chegada dos imigrantes ao Brasil. Ainda que viessem com o intuito 
de trabalhar nas lavouras de café, era frequente que esses estrangeiros acabassem 
se dedicando ao comércio, ao artesanato, às manufaturas ou a pequenos serviços 
dos principais núcleos urbanos do país. Outros, logo ao chegar, já se instalavam nas 
cidades. Como exemplo, a historiadora Costa (1999) afirma que no ano de 1890 a 
população do Rio de Janeiro era de 522 mil habitantes, dentre os quais, 124 mil eram 
estrangeiros, ou seja, cerca de 25% da população. Em São Paulo, se em 1872 os imi-
grantes eram 8% da população, no ano de 1890 eles já eram 22%. 
Nas regiões do sul do país como Santa Catarina e Paraná, onde os colonos 
eram proprietários, Costa (1999) explica que os núcleos urbanos tornaram-se impor-
tantes logo que a fase da subsistência foi ultrapassada, citando a cidade de Blume-
nau (uma colônia alemã fundada no ano de 1850) como exemplo de crescimento 
demográfico, ainda que a integração dessa região ao mercado nacional só fosse se 
completar no século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
Para conhecer um pouco mais sobre o tema da imigração para o Brasil no século XIX e 
XX, visite o site do Museu da Imigração, no link https://museudaimigracao.org.br/ onde 
você pode conhecer as exposições permanentes da instituição e também saber um 
pouco mais sobre o próprio prédio do Museu, que foi a Hospedaria de Imigrantes do Brás 
no final do século XIX. Caso tenha oportunidade, visite o Museu na Rua Visconde de Par-
naíba, 1316, Mooca, SP.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
148 
 
 
1. O crescimento industrial na cidade de São Paulo foi especialmente favorecido por 
duas medidas de grande repercussão econômica: a tarifa Alves Branco (1844) e a 
leiEusébio de Queirós (1850). Elas estabeleceram, respectivamente 
 
a) a fixação do preço mínimo da saca de café e a autorização para o funciona-
mento de manufaturas em São Paulo. 
b) a redução das taxas alfandegárias para os produtos importados da Inglaterra e a 
abertura dos portos. 
c) o subsídio governamental à produção de café no Vale do Paraíba e a instituição 
do sistema de parceria. 
d) o aumento dos impostos sobre os produtos estrangeiros importados e a extinção 
do tráfico negreiro. 
e) a isenção de tributos sobre artigos manufaturados e a concessão de terras para 
imigrantes europeus. 
 
2. (FUVEST) "Naquela época não tinha maquinaria, meu pai trabalhava na enxada. 
Meu pai era de Módena, minha mãe era de Capri e ficaram muito tempo na roça. 
Depois a família veio morar nessa travessa da avenida Paulista; agora está tudo 
mudado, já não entendo nada dessas ruas". Esse trecho de um depoimento de um 
descendente de imigrante, transcrito na obra MEMÓRIA E SOCIEDADE, de Ecléa 
Bosi, constitui um documento importante para a análise 
 
a) do processo de crescimento urbano paulista no início do século atual, que desen-
cadeou crises constantes entre fazendeiros de café e industriais. 
b) da imigração europeia para o Brasil, organizada pelos fazendeiros de café nas 
primeiras décadas do século XX, baseada em contratos de trabalho conhecidos 
como "sistema de parceria". 
c) da imigração italiana, caracterizada pela contratação de mão de obra estran-
geira para a lavoura cafeeira, e do posterior processo de migração e de cresci-
mento urbano de São Paulo. 
d) do percurso migratório italiano promovido pelos governos italiano e paulista, que 
organizavam a transferência de trabalhadores rurais para o setor manufatureiro. 
e) da crise na produção cafeeira da primeira década do século XX, que forçou os 
fazendeiros paulistas a desempregar milhares de imigrantes italianos, acelerando 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
149 
 
 
o processo de industrialização. 
 
3. (FUVEST) No século XIX, a imigração europeia para o Brasil foi um processo ligado 
 
a) a uma política oficial e deliberada de povoamento, desejosa de fixar contingentes 
brancos em áreas estratégicas e atender grupos de proprietários na obtenção de 
mão de obra. 
b) a uma política organizada pelos abolicionistas para substituir paulatinamente a 
mão de obra escrava das regiões cafeeiras e evitar a escravização em novas 
áreas de povoamento no sul do país. 
c) às políticas militares, estabelecidas desde D. João VI, para a ocupação das fron-
teiras do sul e para a constituição de propriedades de criação de gado destinadas 
à exportação de charque. 
d) à política do partido liberal para atrair novos grupos europeus para as áreas agrí-
colas e implantar um meio alternativo de produção, baseado em minifúndios. 
e) à política oficial de povoamento baseada nos contratos de parceria como forma 
de estabelecer mão de obra assalariada nas áreas de agricultura de subsistência 
e de exportação. 
 
4. (FUVEST) Há mais de um século, teve início no Brasil um processo de industrialização 
e crescimento urbano acelerado. Podemos identificar, como condições que favo-
receram essas transformações 
 
a) a crise provocada pelo fim do tráfico de escravos que deu início à política de imi-
gração e liberou capitais internacionais para a instalação de indústrias. 
b) os lucros auferidos com a produção e a comercialização do café, que deram ori-
gem ao capital para a instalação de indústrias e importação de mão de obra 
estrangeira. 
c) a crise da economia açucareira do nordeste que propiciou um intenso êxodo rural 
e a consequente aplicação de capitais no setor fabril em outras regiões brasileiras. 
d) os capitais oriundos da exportação da borracha amazônica e da introdução de 
mão de obra assalariada nas áreas agrícolas cafeeiras. 
e) a crise da economia agrícola cafeeira, com a abolição da escravatura, ocasio-
nando a aplicação de capitais estrangeiros na produção fabril. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
150 
 
 
 
5. (FUVEST) O Bill Aberdeen, aprovado pelo Parlamento inglês em 1845, foi 
 
a) uma lei que abolia a escravidão nas colônias inglesas do Caribe e da África. 
b) uma lei que autorizava a marinha inglesa a apresar navios negreiros em qualquer 
parte do oceano. 
c) um tratado pelo qual o governo brasileiro privilegiava a importação de mercado-
rias britânicas. 
d) uma imposição legal de libertação dos recém-nascidos, filhos de mãe escrava. 
e) uma proibição de importação de produtos brasileiros para que não concorressem 
com os das colônias antilhanas. 
 
6. (UNESP) A adoção do sistema de parceria, como alternativa para o suprimento de 
mão de obra livre na lavoura cafeeira, representou experiência 
a) única para o acesso legal à propriedade da terra. 
b) ensaiada pelo governo federal, apesar da forte oposição oferecida pelo gover-
nador Nicolau Vergueiro. 
c) que dispensava acordo contratual. 
d) que se revelou prejudicial aos imigrantes, conforme relato elaborado por um co-
lono europeu. 
e) que não implicava no reembolso de despesas e endividamento prolongado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
151 
 
 
 
GUERRA DO PARAGUAI E A 
CHEGADA DA REPÚBLICA 
 
 
 
 
Vimos até aqui como a constituição do Império foi se modificando ao longo 
do século XIX. Desde a proclamação da independência até a consolidação de Dom 
Pedro II no poder, a centralização política a partir da cidade do Rio de Janeiro e o 
fim das revoltas em todo o território, a modernização que se espalhava por todo o 
mundo também chegava ao Brasil. A escravidão começava a ser abolida em vários 
países, a democracia dava seus primeiros passos em muitos deles, mas a monarquia 
e a mão-de-obra de pessoas escravizadas continuavam em vigor no Brasil. Muito já 
discutia, porém, sobre o enfraquecimento do Imperador e da instauração de uma 
República. Um grande conflito auxiliaria no descontentamento com o governo cen-
tral e abriria o caminho para o século XX iniciar-se com ares republicanos. 
 
12.1 GUERRA DO PARAGUAI 
A Guerra do Paraguai, denominada também de Guerra da Tríplice Aliança, foi 
o maior conflito da América do Sul e durou quase seis anos. Ela se deveu à busca 
pelo controle da Bacia do Rio da Prata e por desavenças entre os líderes dos países 
recém-formados da região. Fausto (2015) explica como a história pode servir a diver-
sos fins, tendo em vista como essa Guerra foi interpretada em cada época e de cada 
lado da fronteira. Segundo o historiador, a versão tradicional da historiografia brasi-
leira entendia o conflito como devido à megalomania do ditador paraguaio Solano 
López. Esta guerra também serviu para enaltecer o Exército brasileiro e alguns de seus 
nomes, enumerando batalhas e descrevendo ações pontuais de personagens como 
Tamandaré, Osório e Caxias. Do outro lado da fronteira, porém, os paraguaios enten-
diam o conflito como uma agressão de vizinhos poderosos a um pequeno país. 
Continuando ainda com Fausto (2015), na década de 1960 surgiu uma nova 
interpretação para o conflito ligada a alguns historiadores de esquerda, que viam o 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
152 
 
 
imperialismo britânico como causador da guerra. O Paraguai seria um país que bus-
cava um desenvolvimento autônomo e livre da dependência externa. Brasil e Argen-
tina teriam sido, assim, manipulados pela Inglaterra para destruir essa pequena na-
ção. Nos últimos anos, por fim, uma nova interpretação surgiu, chamando a atenção 
para o processo de formação dos Estados nacionais da América Latina e da luta 
entre eles para assumir uma posição dominante no continente. Veremos, então, uma 
breve discussão sobre os países envolvidos no conflito. 
 
 
Figura 14: Solano López em cima de várias caveiras, representando sua responsabilidade 
na morte do povo paraguaio, 1869. 
 
Fonte: Jornal “A Vida Fluminense” (1869) 
 
Parauma visão mais detalhada destas três vertentes historiográficas, vá ao ponto 5.3 do 
livro de Feldman (2019) denominado História, historiografia e Ensino de História, disponível 
na Biblioteca Virtual (páginas 191-5). O autor apresenta a Historiografia brasileira sobre a 
Guerra do Paraguai indicando as principais ideias e autores e ampliando seu conheci-
mento sobre este tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
153 
 
 
 
 
12.1.1 Os países envolvidos na guerra 
O nascimento da Argentina foi fruto da disputa entre duas correntes, uma que 
buscava um Estado centralizado, os chamados unitários, e os federalistas, que defen-
diam um Estado descentralizado e que não submetesse as províncias aos impostos 
do governo central – representado por Buenos Aires e seus comerciantes que, através 
do porto da cidade, controlavam todo o comércio exterior argentino. 
Já o Uruguai nasceu no ano de 1828, após três anos de luta entre argentinos, 
brasileiros e partidários da independência. Nesse país, as disputas pelo poder se divi-
diam entre blancos e colorados. O primeiro grupo era composto principalmente por 
proprietários rurais, herdeiros da velha tradição autoritária espanhola, enquanto do 
segundo faziam parte comerciantes ligados às potências europeias que simpatiza-
vam com as ideias liberais. 
Por fim, a antiga Província do Paraguai era formada por um grande número 
de índios guaranis que não aceitavam ter de se submeter à burguesia do porto de 
Buenos Aires – que ficou conhecida posteriormente como portenha – e passaram a 
agir de maneira autônoma no ano de 1810. Três anos depois, os portenhos bloquea-
ram o acesso ao mar pelo estuário do Prata, praticamente impedindo o comércio 
paraguaio com o exterior. Esse bloqueio fez com que o líder do Paraguai, José Gaspar 
de Francia, isolasse o país, convertendo-se em seu ditador perpétuo e expropriando 
as terras da Igreja e de parte da elite favorável ao entendimento com Buenos Aires. 
O próximo presidente do Paraguai após a morte de Francia, no ano de 1842, 
declarou a independência do país. Carlos Antonio López passou a buscar o desen-
volvimento do país, instalando uma ferrovia e estimulando o comércio exterior. Foi 
em um momento de anseio por modernizar o país e assumir o controle da navegação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
154 
 
 
fluvial dos rios Paraguai e Paraná que subiu ao poder após a morte de Carlos, seu 
filho, Solano López, no ano de 1862 (FAUSTO, 2015). 
A preocupação do governo brasileiro na região do Prata, de acordo com 
Fausto (2015), se concentrava na Argentina. Dom Pedro II e seus ministros temiam que 
uma unificação do país a transformasse em uma República forte que seria capaz de 
neutralizar a hegemonia brasileira e inclusive atrair a inquieta província do Rio Grande 
do Sul. Quanto ao Uruguai, o Brasil colocou-se ao lado dos colorados, assinando in-
clusive um acordo secreto em que se comprometia a lhes fornecer uma contribuição 
mensal em dinheiro. As relações com o Paraguai, dependiam do estado das relações 
com a Argentina: se tudo ia bem, as diferenças com o Paraguai afloravam, sobre-
tudo devido às fronteiras e à navegação pelo rio Paraguai; se a relação com a Ar-
gentina ia mal, o Brasil se aproximava do Paraguai e o buscava enquanto aliado. 
Ainda que parecesse remota, uma aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai se for-
mou. 
 
12.1.2 A aliança e a guerra 
No ano de 1862, Bartolomé Mitre chegou ao poder na Argentina e conseguiu 
reunificar o país com o nome de República Argentina, derrotando os federalistas. Esse 
governo se aproximou dos colorados uruguaios e também se tornou um defensor da 
livre negociação dos rios, política que também vai ao encontro dos interesses brasi-
leiros. Solano López, por outro lado, buscando romper definitivamente o isolamento 
do Paraguai e angariando apoio, aliou-se ao blancos no Uruguai e aos adversários 
de Mitre, na Argentina (FAUSTO, 2015). 
No ano de 1864, o governo do Império brasileiro invadiu o Uruguai para ajudar 
a colocar os colorados no poder, período em que eram os blancos que estavam no 
governo. Solano López provavelmente considerou a intervenção brasileira como um 
expansionismo que acabaria sufocando novamente o Paraguai, tomando a inicia-
tiva de, naquele mesmo ano, aprisionar o navio brasileiro Marquês de Olinda que 
navegava pelo rio Paraguai, rompendo-se as relações diplomáticas entre os dois pa-
íses. Em dezembro de 1864, López lançou uma ofensiva contra o Mato Grosso, pe-
dindo ainda autorização à Argentina para passar com as tropas por suas terras vi-
sando atacar o Rio Grande do Sul e o Uruguai, pedido que foi negado. Em primeiro 
de maio de 1865, Argentina, Uruguai e Brasil assinavam o Tratado da Tríplice Aliança, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
155 
 
 
tendo Mitre no comando das forças aliadas (FAUSTO, 2015). 
 
O peso econômico e demográfico dos três países da aliança era 
muito superior ao do Paraguai. No Brasil e na Argentina, acreditava-se 
– como é comum no início de muitos conflitos – que a guerra seria um 
passeio. Mas isso não ocorreu. López, ao contrário de seus adversários, 
estava bem preparado militarmente. Ao que parece, pois não há nú-
meros seguros, no início da guerra os efetivos dos exércitos eram de 18 
mil homens no Brasil, 8 mil na Argentina e 1 mil no Uruguai, enquanto 
no Paraguai chegavam a 64 mil, afora uma reserva de veteranos, cal-
culada em 28 mil homens. O Brasil tinha porém ampla superioridade 
naval para o combate nos rios (FAUSTO, 2015, p. 182). 
 
De acordo com Fausto (2015), com o passar dos anos, as forças da Tríplice 
Aliança cresceram e o Exército brasileiro passou a predominar no conflito, estimando-
se entre 135 mil a 200 mil brasileiros mobilizados entre Exército regular, Guarda Nacio-
nal e recrutamento espontâneo e forçado, através dos Voluntários da Pátria (2015). 
O historiador Izecksohn (2001) explica que houve várias ondas de recruta-
mento na guerra, cujo início foi marcado pelo entusiasmo dos voluntários. Um decreto 
de janeiro de 1865 criou os Voluntários da Pátria, que com o passar dos anos e o 
avanço da guerra, era formado em sua maioria por homens que não se uniriam à 
guerra voluntariamente. 
Discorrendo sobre a vida da princesa Isabel e seu marido, Del Priore (2013) 
também dedicou algumas linhas para tratar da guerra e do recrutamento forçado 
que marcou aqueles anos. Ela explica que uma lei de julho de 1865 autorizou o “vale-
tudo do alistamento” e levou ao esvaziamento das prisões e a vadios e crianças “ca-
çados nas ruas para preencher vagas”. A participação dos escravos foi muito impor-
tante na guerra, onde eles assentavam praça usando nomes falsos garantindo casa 
e comida nas fileiras ou iam à guerra como substitutos de seus senhores. 
Ainda segundo Del Priore (2013), os jornais da época enchiam-se de anúncios 
oferecendo escravos para marcharem no lugar de quem pudesse pagar por essa 
troca. Além disso, era prometida a liberdade para os escravos que servissem na 
guerra, o que levou a centenas deles a se unirem às fileiras. 
 
 
 
 
Figura 15: Cabo desconhecido que pertenceu ao 1º Batalhão de Voluntários da Pátria, in-
fantaria pesada (1865) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
156 
 
 
 
Fonte: Salles (2003, p. 29) 
 
Algumas batalhas marcaram o conflito, como a Batalha de Riachuelo, onde 
logo no início da guerra a Marinha brasileira, sob o comando do almirante Taman-
daré, destruiu os navios paraguaios. A batalha de Tuiuti no ano de 1866 é considerada 
a maior batalha campal da guerra, associada ao nome do general Osório, que tam-
bém saiu vitorioso. Em Curupaiti o exército da Tríplice Aliança sofreu seu primeiro re-
vés, em uma derrota que gerou grande descontentamento no Rio de Janeiro. 
No ano de 1866 Caxias foi nomeado para o comando das forças brasileiras, 
assumindo dois anos depois a frente das forças aliadas. A Fortaleza de Humaitá, im-
portante fortificação construída às margens do rio Paraguai,capitulou em agosto de 
1868 e logo no início do ano seguinte, os brasileiros entraram em Assunção. Dali em 
diante, a guerra visava a completa destruição do Paraguai e a morte de López. Ca-
xias discordava e preferiu retirar-se do conflito, sendo substituído pelo conde d’Eu, 
marido da princesa Isabel. O exército paraguaio já era formado apenas por velhos, 
meninos e doentes. Enfim, em primeiro de março de 1870, Solano López foi morto por 
soldados brasileiros e o conflito chegava ao fim, deixando um país arrasado – cujas 
estimativas sugerem que metade da população foi dizimada – e o Brasil extrema-
mente endividado com a Inglaterra (FAUSTO, 2015). 
A Guerra do Paraguai também foi fundamental para a consolidação do Exér-
cito brasileiro. Fausto (2015) explica que até aquele momento o Império encontrava 
dificuldades para ampliar os efetivos, não existindo serviço militar obrigatório, mas 
apenas um sorteio muito restrito, para servir ao Exército. Após o conflito, o Exército 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
157 
 
 
saiu como uma instituição com fisionomia e objetivos próprios, que sustentou a guerra 
enquanto a elite política permaneceu inerte no Rio de Janeiro. 
 
 
 
12.2 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO 
Na década de 1860 começou a ser organizado um movimento abolicionista 
formado por intelectuais, profissionais liberais e trabalhadores urbanos, que questio-
navam a continuidade do sistema escravocrata. No final dessa década, as transfor-
mações no cenário urbano levaram também a uma mudança na percepção sobre 
a escravidão. 
Dolhnikoff (2017) argumenta que os investimentos do capital inglês e nacional 
levaram a uma crescente modernização na infraestrutura, trazendo melhorias no 
transporte urbano e no abastecimento de água, por exemplo, e fazendo surgir novos 
grupos de profissionais como engenheiros, condutores de bondes, operários, etc. A 
modernização também aumentou a quantidade e influência de outras atividades no 
meio urbano, como jornalistas, tipógrafos, advogados e médicos. Nesse contexto de 
rápida comunicação com outros países e um aumento na troca de ideias, a escravi-
dão passou a ser vista como algo arcaico e desumano, além de um obstáculo para 
a construção de um país moderno. 
Um fator decisivo também foi a ação dos próprios escravos, com um aumento 
no número de revoltas escravas na segunda metade do século XIX. Eles foram, assim, 
importantes atores na luta pela própria liberdade. Além disso, as discussões políticas 
também começavam a tratar da questão com a elaboração de projetos de lei e a 
aderência do Partido Liberal e até de parte dos conservadores, ainda que houvesse 
parte do setor político que defendesse a permanência da escravidão, como a ala 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
158 
 
 
regressista do Partido Conservador. 
Ao longo dos anos, diversas tentativas começaram a ser construídas para que 
a mudança fosse gradual e em 1871 foi aprovada a primeira lei nesse sentido, a Lei 
do Ventre Livre. Além de libertar as crianças nascidas de mães escravas – prevendo 
uma compensação ao seu senhores não serem “prejudicados” – a lei previa ainda 
que o escravo pudesse comprar a própria liberdade independente da vontade de 
seu proprietário, criava um fundo de dinheiro público para que o Estado comprasse 
escravos com o objetivo de libertá-los e abria caminho para que terceiros também 
pudessem pagar pela liberdade de escravos, o que beneficiava as sociedades abo-
licionistas que se organizavam para esse fim. A lei ainda impunha restrições aos cas-
tigos físicos (DOLHNIKOFF, 2017). 
Na década de 1880 o que dividia os dois lados da disputa era como abolir a 
escravidão, se pela emancipação gradual e com indenização aos proprietários ou 
a abolição imediata, sem indenização e com medidas para integrar os libertos na 
sociedade. Não havia mais condições de defesa de sua manutenção indefinida-
mente. No ano de 1885 outra lei foi colocada em vigor, mais uma vez para fortalecer 
a opção pela emancipação gradual. Ela ficou conhecida como Lei dos Sexagená-
rios e previa que os escravos que atingissem 60 anos fossem libertados, ainda que seu 
proprietário pudesse mais uma vez ser indenizado ou continuar com seus serviços por 
mais três anos (DOLHNIKOFF, 2017). 
Por fim, os próprios fazendeiros de café do Oeste Paulista abandonaram a de-
fesa da escravidão, já que haviam encontrado substitutos para os escravos nos imi-
grantes europeus. Com as crescentes revoltas escravas e a pressão do movimento 
abolicionista, o governo decidiu pela abolição imediata e sem indenização aos pro-
prietários. No ano de 1888 foi promulgada a chamada Lei Áurea, que apesar de fun-
damental, não previu nenhuma medida de integração social ou econômica ao ex- 
escravo. Dolhnikoff (2017, p. 120) conclui que “os escravos tornaram-se livres, sem, 
contudo, poderem contar com qualquer apoio para integrar-se a uma sociedade 
que fora moldada por séculos de escravidão e não estava disposta a oferecer opor-
tunidades para a nova população de negros livres” (2017, p. 128). 
 
 
Figura 16: Princesa Isabel na sacada e a população que tomou conta do Paço Imperial 
após a assinatura da Lei Áurea (1888) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
159 
 
 
 
Fonte: Lago e Lago (2008) 
 
 
 
6.3 MOVIMENTO REPUBLICANO E O FIM DO IMPÉRIO 
O Brasil era uma ilha monárquica, cerca de repúblicas por todos os lados. Não 
só na América do Sul, o sistema republicano se espalhava por diversos países do 
mundo e não era de se espantar que movimentos pelo fim da monarquia – que afinal 
era um resquício do período colonial – tomassem força ao longo do século XIX. Os 
próprios cafeicultores, sentindo-se abandonados pelo governo imperial, fundaram 
em 1873 o Partido Republicano Paulista, que enfatizava o federalismo mas tinha pou-
cos interesses na defesa das liberdades civis ou políticas (DOLHNIKOFF, 2017; FAUSTO, 
2015). 
Dissidentes do Partido Liberal fundaram o Partido Republicano no ano de 1870, 
cujo manifesto fazia duras críticas à monarquia, propondo a federação e eleições 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
160 
 
 
para o Executivo. Dizia ainda que a república era a vocação natural dos países ame-
ricanos. Especialmente na década de 1880 surgiam por todo o país jornais e clubes 
republicanos, em um movimento nacional, mas que se restringia às grandes cidades. 
 
O movimento republicano cresceu à medida que expressava a insa-
tisfação de setores urbanos e cafeicultores paulistas com um regime 
que não se mostrava capaz de atender às demandas trazidas pelas 
transformações por que passava o país. Seu crescimento e mobiliza-
ção foram importantes para tornar real a alternativa republicana 
(DOLHNIKOFF, 2017, p. 165). 
 
Ainda que esses movimentos tenham sido muito importantes, foi um outro 
grupo quem liderou de fato as ações em direção à derrubada da monarquia: os 
militares. 
Como dissemos, após a Guerra do Paraguai seus oficiais retornaram com a 
consciência de sua importância dentro do país e passaram a se mobilizar em defesa 
dos seus interesses corporativos. Também houve militares se candidatando a cargos 
legislativos em defesa das demandas do Exército e colocando-se claramente contra 
a elite imperial, entendendo que cabia ao Exército intervir politicamente para salvar 
o país. 
Dolhnikoff (2017) explica que cada vez mais os militares passaram a participar 
do debate político, muitas vezes através da imprensa. Essa participação era não só 
malvista pelo governo como passou a ser punida com perda de cargos e prisões 
temporárias, o que só agravou ainda mais a tensão existente entre Império e militares 
Fausto (2015) explica ainda que esses oficiais passaram a atuar não como mi-
litares que também eram políticos, mas apenas como militares, representando sua 
classe e defendendo melhorias para sua categoria. O exemplo notável entre as duas 
gerações eram Caxias e Floriano: Caxias era uma figura de grande prestígio dentro 
do Exército,mas também o líder do Partido Conservador; Floriano, apesar das liga-
ções que possuía com o Partido Liberal, falava como militar e cidadão – sua lealdade 
encontrava-se no exército. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
161 
 
 
 
 
Decididos de que caberia ao Exército a mudança política, oficiais como Ma-
rechal Deodoro da Fonseca, Sena Madureira e Benjamin Constant dedicavam-se a 
organizar os militares contra a elite política civil do império. Em 1887 fundaram o Clube 
Militar do Rio de Janeiro e depois em outras províncias, com fins claramente políticos. 
A organização seguiu e a insatisfação aumentava, até que na madrugada do dia 15 
de novembro de 1889, os militares proclamaram a República e instituíram um governo 
provisório, no que alguns historiadores consideram um golpe militar. Deodoro da Fon-
seca foi nomeado o primeiro presidente da República, enquanto Dom Pedro II e sua 
família foram obrigados a deixar o país, exilando-se na Europa. Começava uma nova 
fase da História do Brasil, ainda que marcada por muitas continuidades. 
 
Figura 17: Proclamação da República (1893) 
 
Fonte: Pintura de Benedito Calixto de Jesus (1893) 
O positivismo é uma teoria de pensamento que foi seguida por muitos oficiais do Exército, 
ainda que não de maneira ortodoxa. Seu principal pensador foi Augusto Comte (1798-
1857), que considerava a ditadura republicana a melhor forma de governo para as con-
dições de sua época, opondo-se à República Liberal que se baseava na ideia de sobera-
nia popular. Segundo ele, o ditador republicano deveria ser representativo, mas poderia 
afastar-se do povo em nome do bem da República. A ditadura republicana seguida nos 
meios militares assumiu a forma da defesa de um Executivo forte e intervencionista, que 
fosse capaz de modernizar o país, ainda que fosse uma ditadura militar. A separação entre 
Igreja e Estado também atraia os militares ao positivismo, além da preferência pela forma-
ção técnica, pela ciência e pelo desenvolvimento industrial (FAUSTO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
162 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
163 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (MACKENZIE) Guerra do Paraguai, modernização e politização do exército e 
queda da Monarquia são fatos diretamente relacionados, já que 
 
a) o exército identificava-se com o elitismo do governo imperial, enquanto a marinha 
compunha-se basicamente de classes populares e médias, contrárias à monar-
quia. 
b) vitorioso na guerra, o exército adquiriu consciência política, transformando-se num 
instrumento de defesa da abolição e do republicanismo. 
c) a derrota na guerra e o endividamento do país fortaleceram a oposição militar ao 
regime imperial. 
d) embora sem vínculos com ideias positivistas, o exército aproximou-se dos republi-
canos radicais. 
e) para combater os interesses das camadas médias que apoiavam o governo mo-
nárquico, o exército desfechou o golpe de 15 de novembro. 
 
2. (UEL) Em relação às consequências da Guerra do Paraguai, no Brasil, pode-se afir-
mar que 
 
a) o declínio da monarquia foi concomitante à guerra e as críticas atingiram seu 
ponto vital: a escravidão. Foi através dessa brecha, que os ideais republicanos se 
propagam. 
b) o território foi devastado e a população gravemente afetada pelas mortes, o que 
retardou o desenvolvimento econômico do país. 
c) a abertura do mercado externo paraguaio, resultante da derrota na Guerra, trouxe 
grandes benefícios à expansão da economia cafeeira no país. 
d) ao favorecer o desenvolvimento do setor naval contribuiu para a reorganização 
da marinha que, após a guerra, colocou-se contra a monarquia. 
e) a participação das camadas mais pobres da população na guerra respondeu 
pela sua integração nas decisões políticas após a proclamação da República. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
164 
 
 
3. (UEL) Após a fase do apogeu do Império por volta de 1850 - assinala-se no Brasil a 
partir de 1870, o começo da decadência do Regime Político Monárquico. Entre os 
fatores que contribuíam para este declínio, citam-se o 
 
a) movimento abolicionista e as reformas políticas realizadas por D. Pedro II. 
b) estabelecimento do sistema de parceria na produção agrária e as fugas constan-
tes de escravos, descapitalizando os proprietários. 
c) movimento emigratório e a greve dos operários. 
d) Regime do Padroado e a pressão dos jornalistas contra a situação dos trabalha-
dores rurais e urbanos. 
e) posicionamento político dos militares, após a Guerra do Paraguai e os movimentos 
republicanos e abolicionistas. 
 
4. (UFRS) Um dos maiores reflexos da Guerra do Paraguai na política interna do Brasil 
foi a 
 
a) expansão da indústria siderúrgica nacional, decorrente da necessidade de produ-
zir armamento. 
b) incorporação do sentimento patriótico nacional pelas camadas pobres da popu-
lação. 
c) colonização do interior do País, estimulada pelos deslocamentos de tropas para 
aquelas regiões. 
d) conscientização, por parte dos oficiais do exército, de sua precária posição polí-
tica na estrutura de poder vigente. 
e) abdicação de Pedro I após os primeiros desastres militares na frente de batalha. 
 
5. (CESGRANRIO) A Proclamação da República, em 1889, está ligada a um conjunto 
de transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas no Brasil, a partir de 
1870, dentre as quais se inclui 
 
a) a universalização do voto com a reforma eleitoral de 1881, efetivada pelo Partido 
Liberal. 
b) o desenvolvimento industrial do Rio de Janeiro e de São Paulo, criando uma classe 
operária combativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
165 
 
 
c) a progressiva substituição do trabalho escravo, culminando com a Abolição em 
1888. 
d) a concessão de autonomia provincial, que enfraqueceu o governo imperial. 
e) o enfraquecimento do Exército, após as dificuldades e os insucessos durante a 
Guerra do Paraguai. 
 
6. (MACKENZIE) Segundo o historiador Bóris Fausto, o fim do regime monárquico resul-
tou de uma série de fatores de diferentes relevâncias, destacando-se 
 
a) unicamente o xenofobismo despertado pelo Conde d'Eu, nos meios nacionalistas. 
b) a disputa entre a Igreja e o Estado, sem dúvida, o fator prioritário na queda do 
regime. 
c) a maior força política da época: os barões fluminenses, defensores da Abolição. 
d) a aliança entre exército e burguesia cafeeira que, além da derrubada da monar-
quia, constituíram uma base social estável para o novo regime. 
e) a doutrina positivista, defendida pelas elites e que se opunha a um executivo forte 
e reformista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
166 
 
 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO 
 
UNIDADE 01 
 
 
 
UNIDADE 02 
 
QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 C 
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 D 
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 B 
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 D 
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B 
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 D 
 
 
UNIDADE 03 
 
 
 
 
UNIDADE 04 
 
QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 D 
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 C 
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 B 
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 A 
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 C 
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 D 
 
 
UNIDADE 05 
 
 
 
UNIDADE 06 
 
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C 
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 E 
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 C 
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 A 
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 D 
QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 A 
 
UNIDADE 07 UNIDADE 08 
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C 
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 D 
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 B 
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 A 
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 E 
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 E 
 
UNIDADE 09 UNIDADE 10 
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 B 
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A 
QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 B 
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 C 
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B 
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 B 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
167 
 
 
UNIDADE 11 UNIDADE 12 
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 B 
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A 
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 E 
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 D 
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 C 
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 D 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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