52 EN F - Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 6/ 03 /2 01 8 Unidade II Unidade II 5 IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O ECA, em seu artigo 5º, estabelece que: “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990). Todavia, existem muitas crianças e adolescentes sofrendo vários tipos de violência: de natureza física, sexual e psicológica, negligência e abandono (BRASIL, 2010a). O Ministério da Saúde adota o conceito de violência utilizado pela Organização Mundial da Saúde: Violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (BRASIL, 2010a, p. 27). Já a violência infantil é definida pelo Ministério da Saúde como “quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes, responsáveis, instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional, sexual e moral às vítimas (BRASIL, 2010a, p. 28). O esquema a seguir indica os diferentes tipos de violência que são realizadas contra crianças e adolescentes: Natureza da violência Tipos de violência Negigência/ abandono Física Sexual Psicológica Tentativa de suicídio Criança adolescente Parceiro íntimo Pessoa + velha Conhecido Estranho Suicídio Intrafamiliar Comunitária Social Política Econômica Autoprovocada Interpessoal Coletiva Figura 15 – Tipos e natureza das principais violências que atingem crianças e adolescentes 53 EN F - Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 6/ 03 /2 01 8 POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE Ao falarmos sobre violência e seu impacto social, sobretudo entre crianças e adolescentes, é preciso compreender melhor quais são as formas e apresentações da violência em nossa sociedade. Observação Existe, entre os diversos tipos de violência, a violência intergeracional, que é a reprodução e transmissão da violência através de gerações familiares. 5.1 Conceito e classificação da violência Em seu artigo A Violência Social sob a Perspectiva da Saúde Pública, Minayo (1994) fez reflexões importantes sobre a violência, fazendo que compreendamos como esse fenômeno se estabelece e fragiliza a sociedade. Em seu estudo, ela ressalta as formas de violência: estrutural, de delinquência e de resistência: Violência estrutural: Entende-se como aquela que oferece um marco à violência do comportamento e se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte. Conforme assinala Boulding (1981), essas estruturas influenciam profundamente as práticas de socialização, levando os indivíduos a aceitar ou a infligir sofrimentos, segundo o papel que lhes corresponda, de forma “naturalizada”. Violência de resistência: Constitui-se das diferentes formas de resposta dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural. Esta categoria de pensamento e ação geralmente não é “naturalizada”; pelo contrário, é objeto de contestação e repressão por parte dos detentores do poder político, econômico e/ou cultural. É também objeto de controvérsia entre filósofos, sociólogos, políticos e, na opinião do homem comum, justificaria responder à violência com mais violência? Seria melhor a prática da não violência? Haveria uma forma de mudar a opressão estrutural, profundamente enraizada na economia, na política e na cultura (e perenemente reatualizada nas instituições), através do diálogo, do entendimento e do reconhecimento? Tais dificuldades advêm do fato de a fonte da ideologia da justiça, da mesma forma que qualquer outra ideologia, estar em relação dinâmica com as relações sociais e com as condições materiais. Na realidade social, a violência e a justiça se encontram em uma complexa unidade dialética e, segundo as circunstâncias, pode-se 54 EN F - Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 6/ 03 /2 01 8 Unidade II falar de uma violência que pisoteia a justiça ou de uma violência que restabelece e defende a justiça (DENISOV, 1986). Violência de delinquência: É aquela que se revela nas ações fora da lei socialmente reconhecida. A análise deste tipo de ação necessita passar pela compreensão da violência estrutural, que não só confronta os indivíduos uns com os outros, mas também os corrompe e impulsiona ao delito. A desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menosprezo de valores e normas em função do lucro, o consumismo, o culto à força e o machismo são alguns dos fatores que contribuem para a expansão da delinquência. Portanto, sadismos, sequestros, guerras entre quadrilhas, delitos sob a ação do álcool e de drogas, roubos e furtos devem ser compreendidos dentro do marco referencial da violência estrutural, dentro de especificidades históricas. Contribuindo para a reflexão acadêmica sobre o tema, Da Matta (1982) recomenda a seguinte postura metodológica relacional e dialética: a) em primeiro lugar, adotar uma perspectiva histórica na análise, isto é, especificar a sua dinâmica no tempo e no espaço, correlacionando-a com outros fatores, sem abandonar o seu caráter de universalidade e abrangência; b) evitar uma discussão de viés valorativo e normativo, ou seja, um discurso a favor ou contra, que dificulta o entendimento do fenômeno (MINAYO, 1994, p. 7). O quadro a seguir acentua os principais tipos de violência a que são acometidas crianças e adolescentes: Quadro 6 Tipo de violência Características Física Todo ato violento com uso da força física de forma intencional, não acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou adolescente, que pode ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando ou não marcas evidentes no corpo, e podendo provocar inclusive a morte. Pode ser praticada por meio de tapas, beliscões, chutes e arremessos de objetos, o que causa lesões, traumas, queimaduras e mutilações. Apesar de subnotificada, é a mais identificada pelos serviços de saúde. Psicológica Toda ação que coloca em risco ou causa dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. Manifesta-se em forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da criança ou do adolescente para atender às necessidades psíquicas de outrem. 55 EN F - Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 6/ 03 /2 01 8 POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE Sexual Todo ato ou jogo sexual com intenção de estimular sexualmente a criança ou o adolescente, visando utilizá-lo para obter satisfação sexual, em que os autores da violência estão em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou adolescente. Abrange relações homo ou heterossexuais. Pode ocorrer em uma variedade de situações, como: estupro, incesto, assédio sexual, exploração sexual, pornografia, pedofilia, manipulação de genitália, mamas e ânus, até o ato sexual com penetração, imposição de intimidades, exibicionismo, jogos sexuais e práticas eróticas não consentidas e impostas e voyeurismo. É predominantemente doméstica, especialmente na infância. Os principais perpetradores são os companheiros das mães, e, em seguida, os pais biológicos, avôs, tios, padrinhos, bem como mães, avós, tias e outros que mantêm com a criança uma relação de dependência,