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0 0 0 - Política Externa Brasileira

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AULA 1 
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
2 
CONTEXTUALIZANDO 
Nesta aula, vamos estudar o conceito de política externa e, em primeiro 
lugar, o modelo de análise de política externa, que busca incluir outros atores na 
análise dos comportamentos externos dos Estados. 
Depois, entenderemos como cada uma das principais teorias de relações 
internacionais (RI) entende a política externa, iniciando pelas teorias clássicas, o 
liberalismo – que entende a política externa baseada na cooperação e nas 
instituições – e a teoria realista, que aponta a política externa como uma luta pelo 
poder. Na sequência, serão apresentados os elementos centrais das teorias 
neoliberal, da interdependência complexa e neorrealista das relações 
internacionais para entender a política externa. 
TEMA 1 – ANÁLISE DE POLÍTICA EXTERNA 
As Relações Internacionais se tornaram disciplina autônoma no começo do 
século XX, separando-se da área da ciência política, de quem era dependente. 
Nesse sentido, é fundamental diferenciar a política internacional da política 
externa, contudo deve-se compreender que ambas são objetos centrais das 
Relações Internacionais. A política internacional se refere às ações que ocorrem 
na ordem global, diferente da política doméstica. É importante definir a política 
externa, que é uma política pública executada pelo Estado – como as demais – a 
qual representa os interesses do Estado na arena internacional. 
O objeto das Relações Internacionais é o sistema internacional, constituído 
por uma série de atores, entre os quais os mais importantes são os Estados, dos 
quais parte a ideia de política externa. Os paradigmas clássicos das Relações 
Internacionais as entendiam como estadocêntricas, ou seja, centradas no 
comportamento dos Estados para entender as RI. 
As teorias contemporâneas mais importantes das RI, que se consolidaram 
ao longo do século XX, colocam ênfase na análise sistêmica e nos impactos dos 
fatores externos ou sistêmicos nas relações entre os Estados e sua política 
externa. As teorias mais emblemáticas dessa questão são a neorrealista e a 
neoinstitucionalista. 
A crítica do Estado como unitário ocorre na década de 1970, fortalecendo-
se após o fim da Guerra Fria, quando ocorre a emergência de novos atores e 
 
 
3 
temas na agenda das RI, o que é melhor explicitado pela teoria da 
interdependência complexa. 
Nesse âmbito, a análise de política externa (APE) surge como arena que 
pode ter utilidade para preencher uma das lacunas deixadas pelas teorias 
clássicas ao apresentar uma investigação que prioriza a política doméstica na 
explicação dos comportamentos dos países no nível internacional. Assim, sob 
esse paradigma, para entender a política externa de um país, é preciso entender 
as varáveis da política interna e os interesses domésticos que podem ser impactos 
com as ações internacionais. 
A análise de política externa é entendida como um subcampo das RI que 
apareceu após a Segunda Guerra Mundial, contestando a ideia de Estado como 
ator unitário. De acordo com Kuss (2018, p. 3): 
“Neste período, pressupostos da APE como a centralidade do indivíduo 
e o foco nos processos ao invés dos resultados, passaram a ocupar lugar 
central nas RI. A principal característica da APE é o exame de como as 
decisões dos Estados com relação a política externa são tomadas.” 
Conforme Hudson e Vore (1995, citados por Kuss, 2018, p. 3), os 
pressupostos desse campo de análise são: 
i) Foco nos indivíduos e unidades que compõem o Estado; ii) Visão do 
interesse nacional como interesse de vários atores; iii) Premissa de que 
os atores não necessariamente agem racionalmente porque a ação 
depende também da interpretação, de “agendas ocultas” (tais como a 
busca por consenso) e de motivações emocionais e ideológicas. 
De acordo com Hudson (2005), a APE enfatiza os processos e resultados 
das decisões e tem o propósito de construir uma explicação mais adequada do 
comportamento do Estado. Já para Pinheiro (2009), a APE é vista como uma 
subárea para entender os agentes formuladores da política exterior e a maneira 
como a dinâmica entre eles impacta o resultado final da política externa. 
TEMA 2 – TEORIA LIBERAL E A POLÍTICA EXTERNA 
A teoria liberal é uma das correntes dominantes na teoria das relações 
internacionais que explica vários fenômenos das RI e se tornou uma base central 
para a análise da política internacional e da política externa. 
O liberalismo nasceu na Idade Moderna, depois do fim do Iluminismo, e 
defendia que os indivíduos, baseados na razão, podiam conduzir suas ações sem 
interferência de agentes externos, a exemplo do Estado. Deste modo, na 
 
 
4 
economia, essa visão argumenta pela não interferência do Estado na economia, 
considerando uma suposta lei natural do equilíbrio entre oferta e demanda de 
bens, o que impediria as crises econômicas (Silva; Culpi, 2017). No âmbito da 
política externa, o liberalismo preconizaria a cooperação entre os atores estatais, 
com base nas regras determinadas e fiscalizadas por organismos internacionais, 
como as Nações Unidas, a OMC, entre outros. 
O liberalismo clássico apareceu como teoria das relações internacionais 
após a Primeira Guerra Mundial, quando floresceu um cenário de crença nas 
instituições e na racionalidade dos atores. A teoria liberal se consagrou como 
resultado de um discurso do presidente norte-americano Woodrow Wilson ao 
Congresso, inspirado nas ideias da “paz perpétua” de Kant, e se alicerçava na 
necessidade e na crença de que uma Segunda Guerra Mundial poderia ser 
evitada. 
Woodrow Wilson apresentou a proposta do rompimento de princípios que 
estabeleciam as relações entre os Estados europeus. De acordo com o ex-
presidente, os princípios que deveriam prevalecer eram a autodeterminação dos 
povos (estabilidade do sistema) e a segurança coletiva, que previa uma reação 
automática e conjunta dos Estados em caso de surgimento de uma ameaça à paz 
internacional. Nesse sentido, os Estados deveriam agir em sua política externa 
baseados na multilateralidade, com respeito às instituições internacionais, e não 
na unilateralidade, como muitos Estados atuam. 
O discurso de Wilson ao congresso norte-americano forneceu as bases 
para o pensamento liberal, e o pensador apresentou o que considerava os 14 
pontos que assegurariam a paz. O último deles preconizava a criação de uma 
associação geral de nações, de acordo com convenções específicas, com objetivo 
de oferecer garantias mútuas de independência política e de integridade territorial 
aos grandes e pequenos Estados. Esse argumento deu suporte à criação da Liga 
das Nações, fundada em 1919 pelo Tratado de Versalhes. Nessa organização, o 
sistema de segurança coletiva tomaria o do balanço de poder, em que os Estados 
se ameaçam constantemente realizando acordos para expandir suas alianças e 
equilibrar poder (Nogueira; Messari, 2005). 
Com a construção da Liga das Nações, a concepção universalista 
manifestada pelo ex-presidente Wilson apresentou resultados concretos. Porém, 
havia pontos controversos, como o de que a Carta da Liga das Nações não 
demonstrava a igualdade entre todos. Ademais, considera-se que a liga 
 
 
5 
fracassou, pois sua existência não evitou o conflito (a Segunda Guerra Mundial) e 
a corrida armamentista entre as potências. Argumenta-se que o que levou ao seu 
insucesso foi que os países só cumpriam os tratados à risca quando consideravam 
mais benéficos para si em sua política externa e o fato de os Estados Unidos, os 
idealizadores da liga, não terem aderido à Sociedade das Nações. O sistema 
também não foi universal: 63 países fizeram parte, e 17 deixaram a organização. 
A decisão de punir com o uso da força, em caso de ameaça à paz, nunca foi 
adotada (Nogueira; Messari, 2005). 
Mesmo com o fracasso da liga e seu encerramento em 1939 com a eclosão 
da Segunda Guerra Mundial,ela deu as bases para a ideia de organização 
universal voltada à paz e foi o embrião da Organização das Nações Unidas (ONU), 
criada em 1945. A ONU é um ponto importante para o pensamento liberal, pois, 
com o insucesso da liga, o pensamento liberal demonstrou sinais de desgaste e 
gradativamente foi sendo substituído pelo paradigma realista, durante a Guerra 
Fria (Sarfati, 2005). 
Como conclusão, podemos observar que liberalismo defende uma política 
externa cooperativa, com ênfase forte na confiança nas instituições domésticas e 
internacionais, com predomínio do direito internacional e de certos valores morais 
na conduta dos Estados. Ademais, o liberalismo argumentava por uma atuação 
mais restrita dos Estados na economia e no âmbito internacional, para evitar um 
mau funcionamento do mercado, as chamadas falhas de mercado. 
TEMA 3 – TEORIA REALISTA E A POLÍTICA EXTERNA 
A teoria realista das relações internacionais ganhou força no pós-Segunda 
Guerra Mundial com o objetivo de analisar as guerras cada vez mais frequentes 
entre os Estados. Existem diferenças entre os autores da escola, porém o realismo 
clássico apresenta algumas concepções gerais, como a ideia de o Estado definir 
seus interesses em termos de poder, a do Estado como o único ator das RI e a 
da inexistência de preceitos morais nas relações entre Estados. 
Os autores realistas surgem baseados em seu posicionamento científico, 
com o objetivo de mostrar a política internacional como ela realmente é, e não 
como deveria ser, como faz a teoria liberal. Para Edward Hallett Carr (2001), que 
fundou a disciplina, nenhuma utopia política alcançará êxito, desde que seja 
resultado da realidade política. 
 
 
6 
Os autores clássicos, como Hobbes e Maquiavel, forneceram elementos 
teóricos importantes para se pensar a ideia de luta pelo poder. Ambos acreditavam 
que a natureza humana é egoísta e que, por isso, os Estados agem em sua 
política externa fundamentados em cálculos de custo-benefício. Carr apresentou 
importante crítica ao pensamento liberal, considerado ingênuo por ele e distante 
da realidade, pois, na política internacional, reinam a anarquia e o conflito, e a 
cooperação na Política externa é autointeressada e não baseada na racionalidade 
ou nos valores morais dos Estados. Carr contribuiu para a construção teórica do 
realismo, a partir da elaboração de seu livro Vinte anos de crise: 1919-1939. O 
autor apresentou uma crítica profunda ao pensamento teórico anterior, o liberal, 
desenvolvendo, junto com Morgenthau, uma nova forma de compreender a 
política internacional e as ações de política externa do Estado. 
Morgenthau (2003) concebeu os seis princípios que deram fundamentos 
ao pensamento realista, e Aron (2002) defendeu que o conflito é uma constante 
na política internacional, devido à anarquia, ou seja, em função da ausência de 
uma autoridade superior aos Estados que possa organizar o sistema 
internacional. Os seis princípios são: 1. a ação do Estado deve analisada pelos 
atos políticos e impactos no sistema; 2. o interesse deve ser compreendido em 
termos de poder; 3. o interesse definido em termos de poder é uma categoria 
universalmente válida, mas não tem significado permanente; 4. há uma tensão 
entre os valores morais e a necessidade de uma ação política efetiva; 5. os valores 
morais de um Estado não devem ser definidos como padrões morais universais; 
6. existe uma diferença entre o realismo político e as demais escolas de RI. 
Carr (2001) indicou os erros da visão baseada na universalidade dos 
valores, em uma lei moral natural e na criação de uma autoridade superior aos 
Estados para administrar as RI. Segundo o autor, a Liga das Nações representou 
os equívocos do pensamento liberal, pois foi a primeira tentativa de padronizar os 
problemas internacionais pelo prisma da racionalidade, e ela falhou nessa tarefa 
(Carr, 2001). O mecanismo de segurança coletiva, no qual se sustentava a 
organização, fracassou, o que foi comprovado pelo número crescente de acordos 
bilaterais. Portanto, Carr (2001) constatou que o desenrolar dos fatos demonstrou 
o fim da liga como instrumento de estabilização e ordem política. 
Carr (2001) finalizou sua obra apontando que era preciso rejeitar a visão 
de embasar a moral internacional em uma harmonia de interesses, que é irreal. A 
adoção desse paradigma só foi possível no século XIX pela prosperidade 
 
 
7 
econômica. Contudo, na prática, constatava-se apenas uma harmonia de 
interesses na política externa entre os Estados aptos. 
A política externa é vista pelo realismo como um meio para assegurar a 
realização dos interesses dos Estados. Para tanto, o Estado deve assegurar o seu 
poder e, assim, garantir sua sobrevivência no cenário internacional. 
Essa teoria preconiza também a política internacional e a externa como 
belicosa e com tendência constante à guerra, ou seja, a ausência da paz e a 
existência de um processo de equilíbrio de poder que evita processos contínuos 
de guerra. Nesse sentido, os Estados agem em sua política externa com base na 
defesa de seus interesses nacionais e na busca pela sobrevivência, o que levaria 
a um conflito constante. 
TEMA 4 – AS TEORIAS NEOLIBERAL E DA INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA E 
A POLÍTICA EXTERNA 
A interdependência complexa é a principal teoria de cunho neoliberal nas 
RI. Os autores da interdependência complexa argumentam que as relações entre 
os Estados são marcadas pela dependência mútua assimétrica entre as partes. 
Assim, a política externa não se baseia apenas no interesse do Estado como ator 
unitário, mas leva em conta os interesses de uma série de atores domésticos. 
Portanto, é preciso considerar o aparecimento de novos atores com importância 
e impacto sobre a política externa, como as organizações não governamentais e 
as empresas transnacionais. 
Keohane e Nye (2001), principais autores dessa corrente, buscam entender 
o papel exercido pelas instituições internacionais como facilitadoras da 
cooperação entre os Estados. Segundo eles, a interdependência complexa 
envolve episódios com efeitos recíprocos entre Estados e demais atores não 
estatais, que são produtos das trocas internacionais, de pessoas, serviços, bens 
e capital. Keohane e Nye (2001) determinam que existe interdependência quando 
há custos e restrições significativos que são resultados das trocas entre países, 
mesmo que sejam assimétricos. Essa interdependência promove uma redução do 
poder do Estado, o que não significa que este vai desaparecer, mas que seu poder 
e sua autonomia foram limitados pelo surgimento de novos atores com impacto 
sobre a política externa. 
Keohane e Nye (2001) apresentam duas concepções de poder: 1. o poder 
dos meios, que é a capacidade de um ator levar os demais a realizar algo que 
 
 
8 
eles não fariam; e 2. o poder dos resultados, que representa o controle do ator 
sobre os resultados. Portanto, apesar da dificuldade de calcular e medir o poder, 
este é entendimento para a teoria da interpendência complexa como o controle 
dos meios e o potencial para influenciar os resultados. Assim, o poder dos meios 
e o poder dos resultados de cada Estado definiriam a política externa. 
Keohane e Nye (2001) formulam um modelo para a construção de um tipo 
ideal de política, embasado na ideia de interdependência complexa. Para os 
autores, o cenário que melhor explicaria a realidade internacional apresenta as 
seguintes características: o Estado não é o único ator das RI; não existe uma 
hierarquia entre os temas; e a força não é um instrumento eficaz para atingir 
objetivos. Esse modelo baseia-se em três condições, entendidas como os 
fundamentos da interdependência, que explicam a política externa. A primeira é a 
existência de canais múltiplos que vinculam as sociedades, que podem ser 
interestaduais, transgovernamentais e transnacionais; a segunda relaciona-se à 
agenda das relações interestaduais,formada por inúmeros temas de política 
externa, e não somente com a questão militar como prioridade, sem uma 
hierarquia entre as temáticas; e a terceira é que a força militar não é adotada pelos 
governos em suas políticas externas quando a interdependência predomina. 
Conclui-se que o paradigma da interdependência leva em conta os novos 
atores na elaboração e formulação da política externa e possui grande 
aplicabilidade para explicar como os interesses de diversos grupos influenciam no 
processo de tomada de decisão da política externa (Reis; Mansani, 2014). 
Nesse sentido, os modelos de análise de política externa são vistos como 
mais sofisticados que a premissa neorrealista, porque levam em conta uma 
multiplicidade de temas na agenda política externa que ganharam destaque, como 
meio ambiente, direitos humanos e migrações internacionais (Reis; Mansani, 
2014). 
TEMA 5 – TEORIA NEORREALISTA, TEORIA NEOLIBERAL E A POLÍTICA 
EXTERNA 
Kenneth Waltz, criador do pensamento neorrealista nas RI, formulou a 
teoria para superar as limitações do realismo e do neoliberalismo durante a Guerra 
Fria. A base dessa teoria é a visão de anarquia no sistema internacional. De 
acordo com ele, as relações internacionais são compostas por partículas de 
 
 
9 
governos e mescladas por partes de comunidade que agem em um sistema 
anárquico (Waltz, 2002). 
Waltz parte da ideia de que é necessário concentrar a análise no nível do 
sistema, e não no do comportamento dos Estados, como fazia a teoria realista. A 
teoria neorrealista pode ser considerada sistêmica, pois não analisa a política 
externa, baseando-se no comportamento individual do Estado. 
Conforme Waltz (2002), não se entende a política internacional analisando 
os atributos do Estado (capacidades militares e econômicas); deve-se focar em 
como as interações entre Estados no sistema impactam as ações de cada um. 
Assim, não devemos analisar apenas as políticas externas de cada Estado de 
modo isolado, mas como o sistema internacional exerce influência sobre essas 
políticas externas (Pereira, 2016). 
Para essa teoria, a política internacional não é entendida como um 
somatório dos comportamentos e políticas externas dos Estados. As variáveis 
domésticas, de acordo com Waltz (2002), não explicam o sistema internacional, e 
visualizá-lo com base nesses aspectos provoca generalizações inválidas. 
As características de cada unidade não são relevantes para explicar as RI, 
porque o que leva os Estados a agirem são as posições das unidades umas em 
relação às outras no sistema. Nesse sentido, a estrutura só se altera quando há 
mudanças significativas nas posições de cada Estado, cujos comportamentos são 
determinados pela estrutura. Conforme Waltz (2002, p. 116), “o conceito de 
estrutura baseia-se no fato de as unidades justapostas e combinadas de maneira 
diferente produzirem diferentes resultados”. 
A ideia de estrutura internacional é compreendida a partir de três princípios: 
1. Princípio ordenador sistêmico, que é a ideia da anarquia como algo 
determinante; 
2. As especificações das funções das unidades; 
3. A distribuição das capacidades relativas. 
Sobre o segundo aspecto, há uma diferença entre os Estados, pois a 
hierarquia gera relações de superioridade e subordinação. Desse modo, a 
distinção entre os Estados não se relaciona às suas funções, que são sempre as 
mesmas, porque a anarquia induz à coordenação entre as unidades, o que resulta 
em uma semelhança em termos de função. 
Waltz (2002) reconhece que existem outros atores além dos Estados, mas 
estes são os mais importantes, que compõem a estrutura. Essa estrutura é 
 
 
10 
determinada pelos Estados com mais influência, devido às diferentes distribuições 
de poder no sistema internacional. Como as funções são as mesmas, as 
diferenças entre eles emergem, sobretudo, das capacidades variadas, ou seja, da 
distribuição de capacidades relativas. Deste modo, a comparação das 
capacidades de um número de unidades possibilita a mensuração do poder, pois 
o poder representa uma comparação das capacidades das unidades, e os 
Estados são posicionados de modo diferente na estrutura conforme o poder que 
possuem (Silva; Culpi, 2017). 
Deste modo, a configuração do sistema internacional impacta as interações 
entre os Estados e seus atributos. A autonomia de cada Estado e a relação de 
determinação mútua entre eles criam uma estrutura na qual os resultados podem 
ser Estados que se limitam uns aos outros (Silva; Culpi, 2017). 
Pode-se afirmar que, para investigar a ideia de estrutura, Waltz criou o 
princípio que orienta a disposição dos atores estatais. A disposição se modifica 
quando ocorrem alterações nas capacidades relativas dos Estados. As 
capacidades relativas são, segundo Waltz, os recursos militares e econômicos 
que cada Estado possui (Pereira, 2016). 
Os neorrealistas consideram o sistema internacional anárquico como o 
principal fator determinante para entender as ações de política externa. Assim, se 
a estrutura se afeta, se surgem novos atores, por exemplo, isso modifica as 
posições entre os Estados, o que automaticamente impacta na política externa 
destes. Segundo Alexandre (2006), Waltz destaca que a interação entre os 
Estados é quem cria a estrutura sistêmica que os constrange a tomar algumas 
ações e a não tomar outras. Assim, os custos e benefícios calculados são 
alterados de acordo com as oportunidades e ameaças que o ambiente 
internacional apresenta. Desse modo, o neorrealismo visualiza o nível sistêmico 
de análise como o elemento mais importante para compreensão da política 
externa, ignorando o nível doméstico. 
Pode-se apontar que os neorrealistas não consideram a política externa 
como uma política interna. Para eles, a política externa deve ser autônoma, ou 
seja, não deve sofrer influência de outros atores, sejam eles empresas, ONGs, 
sindicatos. Nesse sentido, a política externa deveria ficar apenas a cargo do 
governo. 
O neorrealismo não aprimorou seu modelo de análise ao entender a política 
doméstica como algo irrelevante na pesquisa, sem considerar as disputas entre 
 
 
11 
grupos de interesses domésticos nas tomadas de decisões. Portanto, por não 
reconhecer o cenário de politização da política externa, o prisma realista recebe 
mais críticas, porque os atores não estatais estão cada vez participando mais das 
políticas públicas de modo geral (Reis; Mansani, 2014). 
FINALIZANDO 
Nesta aula, entendemos o conceito de política externa e conhecemos o 
modelo de análise de política externa, que inseriu a perspectiva doméstica na 
análise da atuação externa dos Estados. 
Pudemos verificar na sequência como as duas teorias centrais de relações 
internacionais compreendem a política externa, que são o liberalismo, que 
defende uma política externa calcada na cooperação e na relevância das 
instituições, e a teoria realista, que analisa a política externa como uma luta pela 
sobrevivência. Depois, foram apresentados os pressupostos centrais das teorias 
da interdependência complexa e da teoria neorrealista das relações internacionais 
para compreender a política externa. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
ARON, R. Paz e guerra entre as nações. São Paulo: Funag, 2002. 
CARR, E. Vinte anos de crise (1919-1939). São Paulo: Funag, 2001. 
HUDSON, V. Foreign Policy Analysis: Actor – Specific Theory and the Ground of 
International Relations. Foreign Policy Analysis, v. 1, n. 1, p. 1-30, 2005. 
KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and Interdependence. New York: Longman, 
2001. 
KUSS, L. Análise de política externa e análise de políticas públicas: um caminho 
para a aproximação entre as RI e a ciência política. Anais... 4° Seminário de 
Relações Internacionais da Associação Brasileira de Relações Internacionais, Foz 
de Iguaçu, 27 e 28 de setembro de 2018. 
MORGENTHAU, H. J. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. 
Brasília:UnB, 2003 
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das relações internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
PEREIRA, A. E. Teoria das relações internacionais. Curitiba: InterSaberes, 
2016. 
PINHEIRO, L. Autores y actores de la política exterior brasileña. Foreign Affairs 
Latinoamérica, v. 9, n. 2, p. 14-24, 2009. 
REIS, R.; MANSANI, R. As teorias das relações internacionais nos estudos de 
política externa: um breve olhar a partir das perspectivas realista e liberal. Revista 
Andina de Estudios Políticos, v. IV, n. 1, p. 20-29, 2014. 
SARFATI, G. Teorias de relações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. 
SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de relações internacionais: origens e 
desenvolvimento. Curitiba: Editora InterSaberes, 2017. 
WALTZ, K. teoria das relações internacionais. Lisboa: Gradiva, 2002. 
AULA 2 
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 
Prof.ª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, estudaremos os paradigmas da política externa brasileira. Em 
um primeiro momento, no primeiro tema, estudaremos os paradigmas do Estado 
liberal-conservador, que se estabeleceu na década de 1930, no período Vargas, 
e do Estado desenvolvimentista, que foi adotado no Brasil entre 1930 e 1989. 
No segundo tema, entenderemos os mais recentes paradigmas do Estado 
normal, implementado a partir dos anos 1990, e do Estado logístico, que buscou 
ser adotado no final dos anos 1990. 
No terceiro tema, conheceremos as características centrais do principal 
ator da política externa brasileira, o Itamaraty. 
O quarto tema apresentará as características das relações internacionais 
durante o período colonial, em que éramos diretamente controlados em nossa 
política externa por Portugal. 
Finalmente, no quinto e último tema, descobriremos o impacto da Inglaterra 
em nossas relações exteriores durante o ciclo do ouro e após a independência do 
Brasil. 
TEMA 1 – PARADIGMAS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: ESTADO 
LIBERAL-CONSERVADOR E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA 
Amado Cervo (2003, p. 6), importante analista da política externa, formulou 
um pensamento que divide as orientações da política externa brasileira (PEB) em 
quatro paradigmas: 
• liberal-conservador, que vai do século XIX a 1930; 
• desenvolvimentista, ocorrido entre 1930 e 1989; 
• normal; 
• logístico. 
Os dois últimos vêm ocorrendo desde 1990 até os anos atuais, em uma 
condição de coexistência. 
Os paradigmas refletem os interesses do período, assim como o modo de 
formular política externa em cada época, demonstrando as orientações e 
ideologias dos governos para a PEB em cada momento. 
O primeiro paradigma, liberal-conservador, do século XIX até 1930, era 
baseado em ideologia liberal originada na Europa, que guiava as ações da elite 
 
 
3 
política brasileira. Assim, de acordo com Cervo: “Prevalece durante a segunda 
metade do século XIX e durante a Primeira República na mentalidade do grupo 
social que detinha o poder econômico e configurava o político o paradigma liberal-
conservador” (Cervo, 2003, p. 10). 
Em termos liberais, os tratados assinados permitiam a abertura de mercado 
e mantinham o Brasil em posição desigual quanto a trocas comerciais. Já o lado 
conservador estava associado à negociação rígida em termos de fronteiras do 
território nacional e de hegemonia na região em relação aos vizinhos que 
compartilham a Bacia do Prata. Ou seja, em termos econômicos, havia uma 
inclinação ao liberalismo; já em termos políticos e de defesa da soberania, 
estavam embasados na visão conservadora. Consequentemente, tivemos um 
atraso econômico do Brasil, que ficou assentado em uma monocultura latifundiária 
agroexportadora, o que impediu as chances de industrialização, mantendo o país 
às margens do desenvolvimento capitalista (Cervo, 2003, p. 7). 
Ocorreu uma alteração na forma como a PEB era realizada nos anos 1930 
e 1940, como resultado do rompimento com a diplomacia de agroexportação, 
assegurando novas funções e atividades aos Estados. Esse fato foi observado em 
toda a América Latina. Os elementos comuns a vários países da região em sua 
política externa – também no Brasil – apresentaram um novo formato de inserção 
internacional, que incluía: 
• incorporar a diplomacia econômica nas negociações com outros países; 
• incentivar a atividades industriais para dar conta das necessidades da 
população; 
• exercer a autonomia na tomada de decisão, reduzindo a dependência 
externa 
• adotar um projeto nacional de desenvolvimento econômico e social; 
• implementar o nacionalismo e o protecionismo econômico, resultado dos 
efeitos negativos da crise de 1929 (Cervo, 2003). 
No Estado desenvolvimentista, entre 1930 e 1989, consolidou-se a ideia de 
satisfazer vários interesses, criando a visão de um interesse nacional múltiplo. A 
função da diplomacia seria a de equalizar e atender a todos esses interesses 
segmentados, que às vezes eram divergentes. 
O desenvolvimento previsto na época incluía garantir dois elementos, 
industrialização e crescimento econômico, focos das políticas de Getúlio Vargas, 
 
 
4 
que visava substituir o modo de produção agroexportador anterior. A política 
externa tinha como objetivo garantir esses dois elementos por meio de três 
aspectos: 
1. atração de capital para complementar a poupança nacional; 
2. desenvolvimento de ciência e tecnologia; 
3. conquista de mercados externos para vender nossos bens exportados. 
A política que vigorava à época era a de substituição de importações para 
aquecer o mercado exportador brasileiro e incentivar a industrialização nacional. 
As fases do Estado desenvolvimentista na PEB foram: 
1. implantação de uma grande indústria de transformação, nos anos 1950 e 
1960, e do empreendimento estrangeiro; 
2. implantação da indústria de base, nos anos 1970, com empreendimentos 
pioneiros do Estado já existentes; 
3. inovação tecnológica em alguns setores, que começou na década de 1970 
nos setores público e privado (Cervo, 2003). 
Os efeitos desse paradigma sobre a nação foram a ruptura com o modelo 
de dependência associado, conceito criado pelo pensamento cepalino nos anos 
1990. Essa estratégia desenvolvimentista foi mantida durante décadas, mas 
deixou de existir nos anos 1990, quando uma visão liberal retornou ao 
pensamento paradigmático da PEB. 
TEMA 2 – PARADIGMAS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: ESTADO 
NORMAL E ESTADO LOGÍSTICO 
O Estado normal foi consequência de uma onda neoliberal no mundo e na 
América Latina, que levou ao poder vários presidentes de ideologia neoliberal. 
Houve uma grande convergência regional a respeito desse paradigma, baseado 
na visão positiva da globalização, permitindo abertura de mercados e redução do 
papel do Estado na economia. A função do Estado seria garantir a estabilidade 
econômica, limitando-a posteriormente à estabilidade monetária, relegando ao 
mercado todas as outras obrigações, como a promoção do próprio 
desenvolvimento (Cervo, 2003). 
De acordo com Gavioli (2014, p. 8): “O Estado normal buscava aderir à 
economia internacional por meio de ações subservientes às novas diretrizes 
 
 
5 
mundiais e destrutivas ao patrimônio nacional”. Para o autor, o Estado normal foi 
uma invenção latino-americana, mais precisamente da Argentina. 
O modelo neoliberal se difundiu pelo mundo nos anos 1980 e se perpetuou 
nos anos 1990, saindo de países desenvolvidos, como Estados Unidos e 
Inglaterra, e se espalhando por toda a América Latina, e depois outras regiões do 
mundo, levando com ele a visão de supremacia do mercado e enfatizando as 
deficiências do Estado (Eichengreen, 2000). 
A estratégia de universalização do ideário neoliberal passou pela 
disseminação das ideias do Consenso de Washington, que era um conjunto de 
políticas que deveriam ser adotadas pelos governos dos países em 
desenvolvimento para que alcançassem o êxito econômico e o tão almejado 
desenvolvimentosocial. Essa visão neoliberal permitiu a criação do Estado 
normal, que passou a orientar as políticas externas dos países à época 
(Eichengreen, 2000). 
No Brasil, foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso que o 
paradigma do Estado normal foi adotado, com consequências positivas, como a 
abertura do mercado, que obrigou o empresariado a se adaptar ao mercado global 
e à modernização da indústria, e negativas, como o aumento do endividamento, 
da dependência externa e da desigualdade social no país (Gavioli, 2014). 
O Estado logístico surgiu na América Latina nos anos 1970 e ganhou força 
no final da década de 1990, tendo sido o Chile o maior modelo de adoção desse 
paradigma. Cervo (2002, p. 457) apresenta o Estado logístico como aquele “que 
fortalece o núcleo nacional, transferindo à sociedade responsabilidades 
empreendedoras e ajudando-a a operar no exterior, para equilibrar os benefícios 
da interdependência mediante um tipo de inserção madura no mundo 
globalizado”. De acordo com Cervo (2003, p. 15), o fracasso do modelo neoliberal 
na América Latina deu lugar ao Estado logístico. 
De acordo com Machado (2004), esse paradigma tem o objetivo de 
aproveitar as vantagens da interdependência global, preservando a autonomia e 
o desenvolvimento nacional, e compartilhando as funções do Estado com a 
sociedade em termos do desenvolvimento da nação. 
O Estado logístico tem outra característica marcante, que é a busca da 
competitividade internacional, reduzindo a dependência externa e oferendo maior 
protagonismo ao Estado. 
 
 
6 
Segundo Cervo (2000), o governo de Fernando Henrique Cardoso oscilou 
entre o Estado normal e o logístico, demonstrando a ascensão do primeiro e um 
esboço do que seria o Estado logístico. Dentro da lógica deste último, a 
cooperação técnica internacional ganhou espaço (Machado, 2004, p. 54). Para 
Machado (2004, p. 13), o modelo do Estado logístico poderia ser uma alternativa 
intermediária entre o “modelo neoliberal do Estado normal e o modelo 
intervencionista do Estado desenvolvimentista”. 
No âmbito da política externa, o paradigma logístico buscou reduzir as 
dependências tecnológica e financeira externas por meio da promoção da 
inovação produtiva e da redução da escassez de divisas internacionais, 
restringindo a vulnerabilidade externa da economia brasileira (Cervo, 2003). Em 
termos de impacto, o paradigma logístico criou a esperança de independência 
nacional baseado nas “expectativas de viabilidade de grandes empreendimentos 
nacionais, nas áreas de mineração e siderurgia, energia, indústria aeronáutica, 
tecnologia espacial e nuclear, indústria alimentícia e outras” (Cervo, 2003, p. 25), 
que, em muitos casos, foram frustradas e não inseriram o Brasil como Estado 
autônomo nas Relações Internacionais (RI). Lembrando que esses paradigmas 
analisaram a política externa brasileira (PEB) antes dos governos de Lula, Dilma, 
Temer e Bolsonaro. 
TEMA 3 – PROCESSO DECISÓRIO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA (PEB): 
O ITAMARATY 
O Itamaraty é como se denomina o Ministério das Relações Exteriores 
(MRE) do Brasil, cujo objetivo é oferecer assessoria ao presidente na elaboração 
e na gestão da política exterior nacional, garantindo sua eficaz execução para 
assegurar os interesses nacionais e da sociedade brasileira no exterior. 
Segundo Seitenfus (1994, p 33): “A experiência internacional do Brasil 
demonstra que um órgão específico do Executivo, o Ministério das Relações 
Exteriores, pela liberdade com a qual pratica a nossa política externa, tornou-se, 
de fato seu legislador, executor e controlador”. 
O Itamaraty foi fundado em 1736 por meio de um alvará assinado pelo rei 
Dom João V, que estabeleceu a criação da Secretaria de Estado dos Negócios 
Estrangeiros e da Guerra, a qual foi transferida para o Brasil em 1808. Depois da 
independência do país, a secretaria foi separada em Secretaria de Estado dos 
Negócios da Guerra e Secretaria de Estado dos Negócios do Reino e Estrangeiro. 
 
 
7 
O nome Itamaraty foi usado porque o palácio sede do MRE era de 
propriedade do Barão do Itamaraty. Em 1970, o MRE foi levado para Brasília, 
porém o nome foi mantido. 
O Itamaraty atua, sobretudo, nas áreas de política internacional, relações 
diplomáticas e serviços consulares, dando apoio aos consulados e embaixadas 
do Brasil em outros países. 
Os funcionários, que são secretários e, posteriormente, cônsules e 
embaixadores, são selecionados por meio de um concurso público de ampla 
concorrência. Os selecionados passam por um curso de formação para carreira 
diplomática que dura três anos e os habilita ao cargo de diplomatas brasileiros. 
O Itamaraty tem como função prestar serviços consulares, dando auxílio a 
brasileiros no exterior, em especial quanto à presença temporária ou definitiva no 
exterior. Também oferece serviços de cerimonial, para eventos de promoção do 
país perante autoridades e representantes de outros Estados, e controla a 
emissão de passaportes e documentos análogos, além de organizar visitas 
guiadas para a população em geral ao Palácio Itamaraty. 
Sobre a atuação do Itamaraty, defende-se um certo isolamento, ou 
insulamento burocrático; porém, durante a ditadura, o MRE se adequou aos 
interesses e ações dos governos militares, colaborando, inclusive, na prisão de 
muitos asilados (Faria, 2012, p. 41). 
Segundo Nunes (1997, p. 34): 
[...] o insulamento burocrático é o processo de proteção do núcleo 
técnico do Estado contra a interferência oriunda do público ou de 
outras organizações intermediárias. Ao núcleo técnico é atribuída 
a realização de objetivos específicos. O insulamento burocrático 
significa a redução do escopo da arena em que interesses e 
demandas populares podem desempenhar um papel 
Nesse cenário, após a Segunda Guerra Mundial, o MRE passou a ser uma 
agência estatal insulada, sem levar em conta desejos da população, sendo 
comandada por um corpo técnico altamente especializado, com muito prestígio. 
Mais recentemente, no governo de Lula, o Itamaraty teve um período de 
intensificação de disputas, o que reduziu o isolamento do órgão. Essa redução da 
coesão interna do Itamaraty é vista como resultado da politização da política 
externa e da abertura do MRE (Faria, 2012, p. 42). 
 
 
8 
TEMA 4 – A UNILATERALIDADE DA POLÍTICA EXTERNA DURANTE A 
COLONIZAÇÃO PORTUGUESA 
Depois do “descobrimento do Brasil”, em 1500, por Cabral, o território 
brasileiro passou as primeiras três décadas em abandono. Depois desse período, 
surgiu uma necessidade de ocupar o território para defendê-lo das invasões 
externas de Holanda, França, Espanha e Inglaterra, mediante um sistema colonial 
exploratório (Furtado, 2007). 
Para tanto, primeiramente o rei Dom Manuel firmou contratos de 
arrendamento com particulares, os quais exploravam o pau-brasil e produziam 
algodão. Depois, o rei D. João III enviou Martim Afonso de Sousa em uma 
expedição desbravadora, que fundou São Vicente e Piratininga e fatiou o território 
colonial em 15 lotes de 300 quilômetros cada, as famosas capitanias hereditárias, 
que se dedicaram à produção de cana-de-açúcar, artigo mais importante à época. 
Esse sistema, segundo Furtado (2007, p. 86), foi desapontador, porque os 
ataques franceses perduravam e a mão de obra indígena não se adaptou à 
exploração da indústria açucareira. 
Observamos, então, que não existia uma política externa autônoma do 
Brasil, e que fomos um anexo da política externa portuguesa até a independência 
política em 1822. Nesse sentido, a colônia estava destinada a fornecer produtos 
ao comércio europeu, tendo a nossa ocupação sido um episódio secundário. Para 
justificar os gastos com defesa do território e subsidiá-los, foi necessário investir 
em uma empresa que desse rendimentos altos, que no caso foi a produção 
açucareira (Furtado, 2007, p. 86). 
Para o sucesso da indústria açucareira, Portugal usou a expertise obtidanas Ilhas africanas, que produziam café, e buscou apoio na Holanda, que entrou 
com recursos financeiros e possuía experiência na atividade comercial em função 
da Companhia das Índias Orientais, o que auxiliou na venda do açúcar na Europa. 
O fator mais determinante para o sucesso da empresa açucareira foi a mão de 
obra escrava africana, que substituiu a indígena (Furtado, 2007, p. 86). 
Um dos fatores que garantiu o monopólio da produção de açúcar no Brasil 
foi a descoberta precoce, pela Espanha, de metais preciosos em suas colônias, 
sobretudo no México, no Peru, na Colômbia e na Bolívia, o que gerou um grande 
afluxo de metais e uma aparência de riqueza. Assim, o império espanhol, 
 
 
9 
concentrando-se apenas nos metais, não se tornou concorrente do Brasil, pois as 
exportações agrícolas da colônia não se desenvolveram. (Furtado, 2007). 
Portugal foi anexado ao império espanhol entre 1580 e 1640. Houve uma 
ruptura da cooperação com a Holanda, que era inimiga da Espanha, que teve 
consequências, pois os holandeses adquiriram experiência e desenvolveram uma 
indústria concorrente no Caribe. Essa competição reduziu a posição monopolista 
do Brasil, que viu seus lucros decorrentes do café gradativamente desaparecerem 
(Furtado, 2007). 
TEMA 5 – A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DEPENDENTE DA INGLATERRA 
DURANTE OS PERÍODOS COLONIAL E IMPERIAL 
Portugal, ao recuperar a independência, encontrava-se em posição débil, 
sem meios de defender as colônias que lhe restavam. Portanto, passou a realizar 
uma política externa de subserviência e semidependência, firmando acordos com 
a Inglaterra (1642-1654-1661), os quais asseguravam privilégios aos produtos 
ingleses e concessões econômicas (Furtado, 2007, p. 93). 
Essa ação garantiu a sobrevivência de Portugal como potência colonial. 
Contudo, era possível notar a decadência da colônia e a economia luso-brasileira 
como uma articulação da economia inglesa em expansão. Em 1703, Portugal 
assinou um acordo que estabelecia a sua renúncia ao desenvolvimento 
manufatureiro e por meio do qual transferia para a Inglaterra a produção de ouro 
no Brasil. Nos anos seguintes, iniciou-se o Ciclo do Ouro no Brasil, que foi 
bastante curto. Nesse ciclo, Portugal tinha posição secundária de entreposto. 
Observou-se uma expansão demográfica no Brasil com a imigração europeia, que 
provocou o povoamento do território (Furtado, 2007, p. 93). 
No final do século XVIII, a mineração de ouro no Brasil entrou em 
decadência. Nesse período aconteceu também a Revolução Industrial na 
Inglaterra, que a colocou em uma posição dominante nas Relações Internacionais. 
Para a Inglaterra, surgiu então a necessidade de abertura de mercados para os 
seus produtos, e o país passou a combater as práticas protecionistas para obter 
fontes de matéria-prima para suas manufaturas, o que foi resolvido mediante 
conquistas coloniais. Porém, paralelamente a isso, ocorreu uma perda do 
interesse pelo Brasil, pois tínhamos apenas uma produção pequena de algodão 
para ser usado na indústria têxtil. Além disso, havia necessidade de priorizar a 
penetração no mercado francês. 
 
 
10 
Em 1808, a Corte portuguesa foi transferida para o Brasil. A Inglaterra 
auxiliou Portugal, garantindo proteção no deslocamento, e Portugal, como 
retribuição, concedeu privilégios à Inglaterra no Brasil, assegurando tarifa 
preferencial nas importações e a abertura dos portos às nações amigas, que, no 
caso, era a Inglaterra (Furtado, 2007). 
Em 1822, o Brasil obteve independência política de Portugal, mas a grande 
dependência em relação à Inglaterra perdurou, já que a separação de Portugal 
exigiu esforços diplomáticos, que foram pagos em forma de quitação da dívida de 
Portugal com a Inglaterra e de uma indenização à Portugal. O Tratado de 1827 
reconheceu a situação de potência privilegiada da Inglaterra, o que gerou 
dificuldades econômicas para o Brasil. A partir dos anos 1930, o café passou a 
ser inserido nas lavouras brasileiras, no Rio de Janeiro e em São Paulo. O país 
se tornou, então, um grande produtor, o que ampliou suas relações com os 
Estados Unidos e reduziu a importância da relação com a Inglaterra, levando ao 
fim do acordo preferencial com a Inglaterra em 1842 (Furtado, 2007). 
Com esse rompimento foi liquidado o passivo político do Brasil, que se 
tornou finalmente independente. Porém, a estrutura econômica permaneceu a 
mesma dos três séculos anteriores, pois ainda não havia uma indústria nacional. 
A expansão cafeeira da segunda metade do século XIX modificou as estruturas 
econômicas. As tensões internas da economia cafeeira, que começou a entrar em 
declínio após a crise de 1929, geraram um sistema econômico mais autônomo, 
capaz de gerar seu próprio desenvolvimento (Furtado, 2007). 
FINALIZANDO 
Nesta aula, conhecemos os paradigmas da política externa apresentados 
por Amado Cervo e que demonstram a evolução da orientação da política externa 
brasileira ao longo do último século. 
Primeiramente, estudamos o paradigma liberal-conservador, que 
preconizava uma liberdade na economia e uma posição mais forte dos Estados 
nos assuntos políticos. O segundo paradigma investigado foi o do Estado 
desenvolvimentista, que previa uma postura mais nacionalista e protecionista na 
política externa e de forte atuação do Estado na economia. 
O terceiro paradigma, o do Estado normal, surgiu nos anos 1990 com a 
emergência do neoliberalismo, promovendo uma liberalização no comércio e uma 
abertura às multinacionais e ao capital estrangeiro. O paradigma logístico emanou 
 
 
11 
no Brasil no final dos anos 1990, e buscava uma aliança entre o Estado e o 
empresariado, mas não obteve muito sucesso. 
No Tema 4, verificamos a unilateralidade de Portugal na política externa e 
na política externa brasileira (PEB) como um anexo da política externa portuguesa 
durante o período colonial. 
No Tema 5, avaliamos a dependência de nossa política externa em relação 
à Inglaterra, que se iniciou durante o ciclo do ouro e persistiu mesmo com nossa 
independência, encerrando-se apenas no final do século XIX. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
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paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 46, n. 2, p.5-25, 
2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v46n2/v46n2a01.pdf>. Acesso 
em: 17 abr. 2020. 
_____. Sob o signo neoliberal: as relações internacionais da América Latina. 
Revista Brasileira de Política Internacional, v. 43, n. 2, p. 5-27, 2000. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v43n2/v43n2a01.pdf>. Acesso em: 17 abr. 
2020. 
CERVO, A. L.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. 2. ed. Brasília, 
DF: Editora UnB, 2002. 
EICHENGREEN, B. A globalização do capital: uma história do sistema 
monetário internacional. São Paulo: Editora 34, 2000. 
FARIA, C. A. P. O Itamaraty e a política externa brasileira: do insulamento à busca 
de coordenação dos atores governamentais e de cooperação com os agentes 
societários. Contexto Internacional, v. 34, n. 1, p. 311-355, 2012. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/cint/v34n1/v34n1a09.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2020. 
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2007. 
GAVIOLI, A. As relações internacionais do Brasil: a dança dos paradigmas, o 
Estado normal e a política externa na década de 1990. Revista Novas Fronteiras, 
v. 1, n. 1, mar. 2014. Disponível em: 
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MACHADO, F. Configuração do Estado logístico na gestão de Fernando Henrique 
Cardoso de 1995 a 2002: o caso da cooperação técnica internacional recebida. 
Universitas Relações Internacionais, Brasília, v. 2, n. 2, p. 47-73, jul./dez. 2004. 
Disponível em: 
<https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/relacoesinternacionais/article/d
ownload/294/261>.Acesso em: 17 abr. 2020. 
NUNES, E. A gramática política do Brasil: clientelismo e insulamento 
burocrático. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 
 
 
13 
SEITENFUS, R. Haiti: a soberania dos ditadores. Porto Alegre: Solivros, 1994. 
AULA 3 
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, vamos estudar os processos relacionados à política externa 
desde os primórdios do século XX até a instauração do regime militar, em 1964. 
Primeiro, vamos conhecer as ações do Barão do Rio Branco durante a República 
Velha. Na segunda parte, discutiremos as políticas do período conhecido como 
Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas, até a Segunda Guerra Mundial, em 
1945. 
O terceiro tópico trata da política externa entre 1945 a 1961, na chamada 
Nova República, que ficou conhecida pelo lançamento da Operação Pan-
Americana. O quarto tópico aborda a conhecida política externa independente, 
adotada entre 1961 e 1964, antes do golpe militar. Na quinta parte da aula, vamos 
analisar as evidências do envolvimento dos EUA na instauração da ditadura militar 
no Brasil em 1964 e os principais traços da política externa no período militar. 
TEMA 1 – A UNILATERALIDADE SOB A HEGEMONIA NORTE-AMERICANA 
DURANTE A GESTÃO DE RIO BRANCO E A QUESTÃO PLATINA NA REPÚBLICA 
VELHA 
Podemos afirmar que a atuação do Barão do Rio Branco e a transferência 
do centro diplomático brasileiro de Londres para Washington caracterizaram a 
PEB durante a República Velha (1889-1930). As atividades externas do Brasil 
foram orientadas para uma maior inserção do país na política e na economia 
mundiais, direcionadas essencialmente para garantir os interesses dos 
cafeicultores e do setor agroexportador. 
É importante destacar que a participação brasileira na Primeira Guerra 
Mundial reforçou a nossa posição assumida pela PEB de alinhamento automático 
com os EUA, por participar ao lado dos aliados contra os alemães. No final da 
guerra, o Brasil passou a atuar com maior prestígio na Liga das Nações, afirmando 
seu reconhecimento internacional, mas depois se retirou por ter usado o veto para 
a entrada da Alemanha na Liga. 
O maior ícone da política externa brasileira durante a República foi o Barão 
do Rio Branco, que se tornou um influente diplomata brasileiro e ocupou a posição 
de Ministro das Relações Exteriores do Brasil em 1902, cargo em que permaneceu 
por dez anos, até 1912. Rio Branco, como ministro, representou um divisor de 
águas na política externa brasileira, pois garantiu a modernização dos 
 
 
3 
procedimentos da Secretaria de Estado (Lessa, 2012). Ele detinha amplo 
conhecimento a respeito dos países platinos, por ter estado em missões 
diplomáticas na região da Bacia do Prata. 
Nas relações com os EUA, que são a base da política externa durante a 
República, Rio Branco determinou que seriam o eixo central da inserção externa 
do Brasil. Contudo, a estratégia de Rio Branco não possuía um elemento 
modernizador porque mantinha a aliança do agronegócio exportador com os 
países importadores dos nossos bens, sem fortalecer a indústria nacional. O 
alinhamento com os EUA foi o ponto mais forte da nossa política exterior, porém 
não houve inspiração no modelo industrializador do país (Lessa, 2012). 
Sob o comando de Rio Branco, o Brasil se inseriu definitivamente no 
sistema hegemônico recém-consolidado, com os EUA como líder, o que se 
manteve até os anos 1960, quando se desenvolveu uma nova versão universalista 
das relações exteriores do Brasil. Durante a gestão de Rio Branco, houve um 
alinhamento automático, que depois se converteu em um alinhamento pragmático 
(Lessa, 2012). 
Um dos objetivos na política externa de Rio Branco era fixar os limites 
territoriais brasileiros. As vitórias conquistadas nas controvérsias na região das 
Missões em 1895 e no Amapá em 1900, levadas à arbitragem, deram início a 
negociações diplomáticas que se concluíram com o Tratado do Uruguai, em 1909 
(Burns, 1964). 
Sobre a questão platina, de acordo com Doratioto (2000, p. 131), 
O Barão do Rio Branco estabeleceu política coerente, segura e 
inovadora em relação aos países sul-americanos, particularmente no Rio 
da Prata. Os dois princípios básicos dessa política passaram a ser o de 
abstenção nos assuntos internos das nações vizinhas e o de favorecer 
a estabilidade política regional, prestigiando os Governos 
constitucionais, quaisquer que fossem eles. 
Rio Branco adotou uma postura defensiva e pacifista, que esteve associada 
também à debilidade militar brasileira. Antes de mais nada, o chanceler defendia 
uma política baseada nas negociações diplomáticas e nos alinhamentos 
subservientes, não em disputas. Assim, o Brasil criou uma espécie de hegemonia 
defensiva, assumindo postura hegemônica na América do Sul, mas se adequando 
aos interesses hegemônicos globais dos EUA. 
Como o Brasil era mais fraco em termos miliares que a Argentina, a única 
forma de exercer a hegemonia seria por meio de acordo com o país vizinho. As 
relações amistosas com Chile e Uruguai e submissas por parte do Paraguai 
 
 
4 
facilitaram o estabelecimento da liderança na região. Nesse sentido, conforme 
Doratioto (2000, p. 145), “as relações privilegiadas entre o Brasil e os Estados 
Unidos constituíam outro instrumento em favor da liderança brasileira”. Assim, a 
cooperação e a amizade com os EUA nesse período foram decisivas para o 
prestígio adquirido pelo Brasil na região. 
TEMA 2 – POLÍTICA EXTERNA NO PERÍODO DO ESTADO NOVO DE GETÚLIO 
VARGAS E A 2ª GUERRA MUNDIAL 
Getúlio Vargas implementou um plano de industrialização, conhecido como 
o nacional-desenvolvimentismo, que gerou efeitos significativos para a PEB, a 
partir dos anos 1930. Nesse sentido, a atuação internacional do Brasil mirou esses 
objetivos, de garantir a modernização e a industrialização nacional, com maior 
autonomia, dando prioridade para relações externas com países que 
contribuíssem na industrialização e no desenvolvimento do país (Moura, 1980). 
Um dos países que tiveram esse papel foi a Alemanha, de quem 
importávamos bens manufaturados e material bélico e para quem exportávamos 
bens agrícolas, como algodão e café. Esse estreitamento de vínculos entre 
Alemanha e Brasil gerou preocupação nos EUA antes do estopim da Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945). Getúlio Vargas passou a negociar com os dois 
lados, fazendo acordos com a Alemanha nazista e com os EUA, adotando uma 
PEB pendular, que foi denominada equidistância pragmática, termo usado pelo 
historiador Gerson Moura (1980). Nesse sentido, o Brasil manteve-se neutro no 
início da Segunda Guerra, com vistas a não perder laços comerciais nem com a 
Alemanha, nem com os EUA. 
No ano de 1942, o Brasil abandonou a neutralidade e passou a apoiar os 
aliados (Estados Unidos, Inglaterra, China e União Soviética) no conflito, 
afastando-se da aliança com a Alemanha devido a uma série de razões, entre elas 
o ataque de navios brasileiros por parte de submarinos alemães. Assim, o Brasil 
deixou de lado a equidistância pragmática e passou a implementar um 
alinhamento automático com os EUA. 
O Brasil começou a atuar diretamente no conflito, enviando material 
estratégico e militares para combate contra as forças do Eixo em território italiano. 
Os EUA passaram a enviar recursos financeiros para o Brasil como retribuição ao 
apoio, sobretudo para assegurar a modernização das Forças Armadas Brasileiras 
e para criar a primeira usina siderúrgica nacional (Moura, 1980). 
 
 
5 
Nesse sentido, o envolvimento direto do Brasil na Segunda Guerra também 
demonstrou o esforço de Vargas em ampliar o espaço de atuação internacional 
brasileiro. Como resultado, o Brasil conquistou um assento rotativo temporário no 
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 
1945 pela Conferência de São Francisco. 
Vale destacar que a política externa doperíodo teve impactos diretos na 
política doméstica, demonstrando uma contradição entre o caráter autoritário e 
ditatorial do Estado Novo de Getúlio Vargas e o apoio às forças aliadas na 
Segunda Guerra, que tinham como slogan de luta a liberdade e a democracia. 
Amado Cervo (2002) e Gerson Moura (1980) colocam os traços da política 
externa do período do Estado Novo como os seguintes: o pragmatismo, a 
ambiguidade e a política de barganha. Nesse sentido, Vargas demonstrou ter sido 
um articulador ávido ao tentar estabelecer laços com os dois poderes do 
momento, Eixo e Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial, com foco na 
inserção internacional do Brasil, que garantiria um maior desenvolvimento 
nacional. 
 Assim, os objetivos de Vargas de dar início à industrialização nacional com 
a instalação da usina siderúrgica de Volta Redonda, com a modernização das 
Forças Armadas por meio da política de barganha com EUA e Alemanha e o 
posterior treinamento da FAB pelas forças armadas estadunidenses foram 
atingidos. Além disso, ao apoiar militarmente os Aliados, assegurou um prestígio 
internacional, assim como a participação no Conselho de Segurança (Souza, 
2010). 
 Desta forma, a PEB durante o Estado Novo, de busca da autonomia com 
dependência, foi coerente com as necessidades nacionais do governo de 
assegurar apoio financeiro e militar, projetando-se internacionalmente com ações 
nacionalistas e pragmáticas (Souza, 2010). 
TEMA 3 – POLÍTICA EXTERNA NA NOVA REPÚBLICA (1945 A 1961): 
ALINHAMENTO VERSUS AUTONOMIA – OPERAÇÃO PAN-AMERICANA 
A PEB da Nova República instaurada após o fim do Estado Novo (1945-
1961) alternou momentos de alinhamento e distanciamento em relação aos 
Estados Unidos. Logo depois da Segunda Guerra, ocorreu um momento de 
alinhamento automático com os EUA, iniciado durante o governo Vargas. A 
 
 
6 
Europa estava arrasada pela guerra, e o foco da política externa dos EUA era a 
reconstrução da Europa. 
Assim, os EUA buscavam exercer influência sobre o Velho Continente para 
barrar o avanço comunista da URSS durante a Guerra Fria, relegando a América 
Latina a uma posição secundária nas preocupações de política externa. A postura 
da PEB nesse período pós-Segunda Guerra refletia os interesses das elites 
nacionais e era pautada no anticomunismo. Defendia-se uma orientação de 
aliança estratégica com os EUA, buscando vantagens econômicas, sobretudo 
comerciais. 
Pouca atenção foi dada por parte dos EUA nesse período ao Brasil, e, por 
isso, alguns governos da época afirmavam a necessidade de expandir as 
parcerias e ganhar maior autonomia no cenário internacional, sem romper a 
parceria preferencial com os EUA. 
Após a derrubada do governo Vargas, ocorreu uma reação conservadora, 
a qual demonstrou que a visão nacionalista do governo anterior era complexa 
dada a condição hegemônica dos EUA. Houve uma tentativa inicial de reduzir a 
subordinação aos EUA, que foi o esboço do que ocorreria entre 1961 e 1964, com 
a política externa independente (Vizentini, 1999). 
Porém, essa linha de constituição de uma autonomia em relação aos EUA 
foi interrompida entre 1954 e 1958, com a retomada de um alinhamento quase 
automático com a grande potência. Durante o governo de Café Filho, em 1954, 
ocorreu ampla abertura da economia e completo alinhamento com os EUA, o que 
foi mantido durante o governo Dutra, baseado no fortalecimento do liberalismo 
econômico (Vizentini, 1999). De acordo com Vizentini (1999, p. 144): “Tratava-se 
da afirmação da diplomacia da Escola Superior de Guerra e sua concepção de 
segurança e desenvolvimento. Com a ascensão de Kubitschek ao poder, em 
1956, a situação altera-se em certo sentido”. 
Deste modo, o Brasil manteve a ideia de alinhamento aos EUA, com 
abertura de mercado, mas, por outro lado, JK resgatou a ideia de industrialização 
baseada nos bens de consumo duráveis, promovendo elevação da renda da 
classe média. O governo de JK nos primeiros anos adotou uma política econômica 
nacional-desenvolvimentista, com base na influência dos pensamentos da CEPAL 
(Galerani, 2010). Nesse sentido, a política externa do governo Juscelino 
Kubitschek (1956-1961) passou por duas fases: a primeira, entre 1956 a 1958, em 
que ocorre o alinhamento automático aos EUA; e entre 1958 e 1961, com a 
 
 
7 
criação da Operação Pan-Americana, a partir da qual o alinhamento passa a ser 
revisto (Galerani, 2010). 
A política externa de JK retomou o projeto de industrialização 
harmonizando os interesses dos EUA na primeira etapa e um projeto nacional de 
industrialização adaptado na segunda, o que foi possível em função do retorno da 
Europa à geopolítica global, garantindo alternativas ao Brasil após o fim do Plano 
Marshall. Contudo, após 1958, JK resgata a visão de barganha nacionalista de 
Vargas após a derrocada de seu projeto de desenvolvimento de 50 anos em 5, 
por meio do lançamento da OPA (Galerani, 2010). 
Um dos acontecimentos que levou à criação da OPA foi a visita de vice-
presidente Nixon, que demonstrou como as relações entre os EUA e a América 
Latina estavam deterioradas. Assim, o lançamento da OPA teve como objetivo 
atrair a atenção dos EUA para a região, com vistas a ter maior acesso a crédito. 
Além de garantir a atração de mais investimentos para a região, a OPA buscava 
“promover a assistência técnica para melhorar a produtividade e garantir os 
investimentos realizados, proteger os preços dos produtos primários exportados 
pela América Latina, bem como ampliar os recursos e liberalizar os estatutos das 
organizações financeiras internacionais” (Vizentini, 1999, p. 145). 
A OPA dava prioridade ao uso de recursos públicos e à multilateralidade 
das relações entre as nações do continente americano. Em relação à esfera 
socialista de influência, na figura da URSS e de seus aliados, a atuação de JK foi 
tímida: ele buscou internacionalizar a economia brasileira, porém ocorria um 
processo de intensificação dos conflitos sociais. A questão do avanço do 
pensamento socialista no Brasil só vai ser tratada depois, pelos sucessores de JK. 
Pode-se afirmar que, por mais que não tenha tido resultados concretos, a 
OPA determinou uma etapa importante na PEB, pois, pela primeira vez, as 
relações entre o Brasil e os EUA passaram a ser discutidas no âmbito do 
multilateralismo, com apoio mútuo entre os países da América Latina, tendo como 
denominador comum a ideia de desenvolvimento regional. Ademais, ela 
evidenciou uma intenção de construção de uma política externa com maior 
autonomia em relação a Washington. Esses processos foram ampliados e 
aprofundados na diplomacia brasileira dos governos seguintes ao de JK (Silva, 
2012). 
 
 
8 
TEMA 4 – A MULTILATERALIDADE DA POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE 
(1961 A 1964) DE QUADROS E GOULART 
Entre 1961 e 1964, o Brasil foi governado Quadros e João Goulart, durante 
um período político bastante conturbado, que culminou no golpe militar em 1964. 
Foi desenvolvida de forma rápida a chamada política externa independente (PEI), 
que orientou a PEB brasileira no período e sofreu um enfraquecimento após a 
instauração do regime militar. Podem ser observados elementos comuns nos 
governos de Quadros e Goulart, que justificam a ideia de continuidade na PEB. O 
primeiro elemento comum foi “[...] a existência de um eixo central na inserção 
internacional do Brasil, a partir da Política Externa Independente, proposta que 
projetava para o país relações internacionais sem constrangimentos ideológicos 
em um momento de Guerra Fria” (Manzur, 2014, p. 169). 
Desta forma, previa-se a ideia de não alinhamento direto ou automático 
com nenhum dos blocos concorrentes, o capitalista e o comunista, o que se 
mostrou de difícil alcance. Isso é explicado pois, em um mundo divido em blocos, 
a adoção de uma política independente parecia irrealizável. 
O segundo aspecto que aproximou as gestões dos dois presidentes ecaracterizou a PEI foi a participação direta da opinião pública nos assuntos da 
agenda da política exterior, resultado da evolução de uma política populista 
inaugurada por Vargas, que perdurou nos governos JK e Jânio Quadros, e 
também do fortalecimento dos meios de comunicação (Manzur, 2014). 
É importante destacar que, após o governo de Dutra, Getúlio Vargas 
retornou ao poder fortalecendo a política populista. Nesse momento, emerge um 
embate interno entre a opinião pública que não foi bem administrado por Vargas 
e foi um dos determinantes do enfraquecimento de seu poder, o que o levou ao 
suicídio. Ambos os lados ficaram insatisfeitos com a política pendular do 
presidente. 
Após a morte de Vargas, houve uma reorganização das opiniões sobre os 
EUA e um fortalecimento de uma visão antiEUA, o que fez JK realizar uma política 
de reaproximação com os EUA por meio da OPA. 
A PEI preservou os traços da política externa populista e do projeto 
nacional-desenvolvimentista de Vargas. Durante toda a implementação da PEI, 
observou-se a preservação dos princípios do universalismo, do independentismo 
e do desenvolvimentismo (Manzur, 2014). 
 
 
9 
Quando a PEI foi apresentada por Quadros no Congresso, em 1961, este 
demonstrou que a PEB era essencial para assegurar o desenvolvimento da 
nação. Essa proposta considerava que o Brasil podia obter vantagens das 
relações com Estados com ideologias das mais diversas, propondo um 
multilateralismo. O objetivo maior da PEI era “favorecer a independência política 
do Brasil e o desenvolvimento nacional” (Manzur, 2014, p. 183). Vendia-se uma 
ideia da desideologização da PEB, porém a PEI era bastante ideológica e 
propunha a ideia de universalismo nas relações comerciais e independência. A 
PEI era considerada arrojada e inovadora por propor algo novo para a PEB. 
A PEI no governo Jânio Quadros baseava-se nos seguintes pontos, que 
foram praticamente mantidos por Jango: i. defendia o respeito aos compromissos 
internacional do Brasil; ii. observava a ampliação de vínculos internacionais como 
um traço fundamental para o desenvolvimento econômico; iii. preservava uma 
posição conciliadora para dirimir os conflitos internacionais; iv. incentivava o 
crescimento do comércio exterior; v. preconizava o anticolonialismo, o anti-
imperialismo e o vínculo com os vizinhos. 
João Goulart, que assumiu após a renúncia de Jânio Quadros, era tido 
como um simpatizante do socialismo por visitar alguns países comunistas e 
defender o não isolamento de Cuba após a Crise dos Mísseis, que foi um dos 
eventos mais importantes da Guerra Fria. Durante 13 dias, houve uma disputa 
diplomática entre EUA e URSS, pois esta instalou mísseis em Cuba e ameaçava 
utilizá-los contra os EUA (Manzur, 2014). 
Ao final do governo de Goulart, houve uma polarização da opinião pública, 
que se dividiu em, de um lado, apoiar o regime socialista e, de outro, anunciar o 
“perigo comunista”, o que contribuiu para a instauração da ditadura militar. A PEI 
entrou em declínio, pois as elites da época defendiam a aliança ao bloco 
capitalista, o que foi realizado, inclusive, com o apoio direto dos EUA no golpe 
militar de 1964, que provocou a deposição de João Goulart (Manzur, 2014). 
TEMA 5 – A INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA NO GOLPE DE 1964 E A PEB 
DURANTE A DITADURA MILITAR 
O golpe militar ocorreu no Brasil por uma série de fatores. Um deles foi a 
paralisia decisória no Congresso Nacional, no qual o presidente João Goulart na 
época não detinha maioria. A polarização observada dentro do Congresso, que 
era resultante do cenário da Guerra Fria, opunha simpatizantes do bloco 
 
 
10 
capitalista e do bloco socialista e promoveu uma crise política sem precedentes, 
abrindo espaço para a atuação dos miliares. 
 Pode-se afirmar que foram: 
[...] os grupos conservadores, históricos opositores do trabalhismo e de 
João Goulart, os responsáveis pela interrupção da experiência 
democrática brasileira em 1964. Foram eles também que, à frente do 
governo federal, reproduziram por vinte anos uma prática discricionária, 
autoritária, arbitrária e excludente. (Delgado, 2009, p. 143) 
Esses grupos conservadores tiveram claro apoio internacional, na figura 
dos EUA e na parceria de partidos políticos e de parcelas da sociedade civil que 
eram contrárias ao presidente Jango. As Forças Armadas dos EUA miraram em 
uma estratégia de combater o inimigo interno, o que foi transferido para as Forças 
Armadas dos países da América Latina e colaborou para a instauração de regimes 
militares em massa na região (Rapoport; Laufer, 2000). 
Os EUA passaram a ver as ações de João Goulart com desconfiança, 
promovendo uma campanha intensa de difamação do presidente. No final de 
1963, de acordo com Rapopor e Laufer (2000, p. 77): 
[…] o Departamento de Estado dos EUA sistematizou sua ingerência na 
situação interna brasileira para provocar a derrubada de Goulart. 
Segundo o embaixador Gordon, a preocupação norte-americana era que 
o "autoritarismo esquerdista" de Goulart pudesse provocar "um golpe 
mais radical e provavelmente dirigido pelos comunistas contra Goulart”. 
Além disso, uma das evidências da interferência dos EUA nos assuntos 
internos brasileiros foi a adoção dos programas de assistência militar como 
mecanismos de penetração política e ideológica nas Forças Armadas brasileiras 
(Rapopor; Laufer, 2000). 
Outro indício é que o governo norte-americano acompanhou o golpe militar 
com a criação da denominada Operação brother Sam, que englobou a 
mobilização de uma força naval da sede do Comando Sul Norte-Americano no 
Panamá para um apoio. A operação foi suspensa, mas demonstrou a intenção 
clara dos EUA em colaborar com os golpes. O embaixador dos EUA no Brasil à 
época, Gordon, saudou a queda de Goulart em 1º de abril afirmando que, a partir 
desse momento, o Brasil poderia executar os ideais da Aliança para o Progresso. 
Ficou evidente a partir desses fatos que a diplomacia e a inteligência norte-
americanas tiveram papel importante nos processos que culminaram no golpe de 
Estado de 1964 (Rapopor; Laufer, 2000). 
 
 
11 
A ditadura resultante do golpe militar de 31 de março de 1964 deixou 
marcas na nossa política doméstica e impactou sobremaneira a formulação de 
política externa (Luiz, 2011). 
Em relação à política interna, podemos indicar importantes mudanças, 
como o rompimento com a democracia, a partir da deposição de um presidente 
eleito, a suspensão de garantias fundamentais, a cassação de mandatos políticos, 
a censura à cultura e à arte brasileiras, a supressão da liberdade de opinião e de 
expressão e a tomada do poder pelas forças armadas (Luiz, 2011). 
No que tange à política externa, durante o governo militar ocorreram 
modificações intensas de condução, com a eliminação da visão universalista e 
multilateral da PEI, baseada na autonomia, para uma retomada da subserviência 
e do alinhamento automático aos EUA, que Cervo definiu como um retrocesso, ou 
“um passo fora da cadência" (Cervo, 2002, p. 332). Nesse período, houve um 
predomínio da visão ideológica anticomunista na elaboração da PEB (Luiz, 2011). 
FINALIZANDO 
Nesta aula, conhecemos os traços centrais da política externa brasileira 
entre 1900 e 1964 com o golpe militar. Em primeiro lugar, verificamos a 
importância da conduta diplomática do Barão do Rio Branco durante a República 
Velha para a inserção do Brasil no cenário global e para a demarcação das 
fronteiras. Depois, verificamos as orientações de Getúlio Vargas na PEB, o qual 
buscou lançar um projeto nacional-desenvolvimentista que foi interrompido com o 
alinhamento automático aos EUA após a Segunda Guerra Mundial, em 1945. 
A terceira parte apresentou as características da política externa brasileira 
entre 1945 e 1961, sobretudo a adoção da Operação Pan-Americana por JK, com 
o objetivo de estreitar laços com os EUA. O quarto tópico discutiu a política externa 
independente,adotada de 1961 a 1964, que buscou dar uma nova cara à PEB, 
com trações de universalismo e busca pela autonomia, substituída por uma 
subserviência aos EUA com o golpe militar. Na última parte, verificamos os 
indícios de ingerência dos EUA no golpe militar, a partir da construção de uma 
visão desprestigiosa do presidente Goulart e de apoio direto às Forças Armadas 
brasileiras. Vimos, também, os principais traços da política externa no período 
militar, sendo que o mais marcante foi o resgate do alinhamento automático aos 
EUA. 
 
 
REFERÊNCIAS 
BURNS, 1964. Rio Branco e a sua política externa. Revista de História da USP, 
v. 28, n. 58, 1964. 
CERVO, A. L.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. 2. ed. Brasília: 
Ed. Universidade de Brasília, 2002. 
DELGADO, L. O governo João Goulart e o golpe de 1964: memória, história e 
historiografia. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/tem/v14n28/a06v1428.pdf>. Acesso em: 5 maio 2020. 
DORATIOTO, F. F. M. A política platina do Barão do Rio Branco. Rev. Bras. Polít. 
int., v. 43, n. 2, 2000. 
GALERANI, K. A política externa do governo Juscelino Kubitschek: a Operação 
Pan-Americana. Interação, v. 1, n.1, 2010. 
LESSA, A. C. O Barão do Rio Branco e a inserção internacional do Brasil. Rev. 
Bras. Polít. Int., v. 55, n.1, 2012. 
LUIZ, J. R. A política externa do regime militar: entre o ranço ideológico e a 
atuação pragmática. In: Proceedings of the 3rd ENABRI 2011, São Paulo, 2011. 
MANZUR, T. A política externa independente (PEI): antecedentes, apogeu e 
declínio. Lua Nova, São Paulo, v. 93, n. 1, p. 169-199, 2014. 
MOURA, G. Autonomia na dependência: a política externa brasileira de 1935 a 
1942. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 
RAPOPORT, M.; LAUFER, R. Os Estados Unidos diante do Brasil e da Argentina: 
os golpes militares da década de 1960. Rev. Bras. Polít. Int., v. 43, n. 1, 2000. 
SILVA, A. A política externa no cenário da Guerra Fria. Dossiê de Politica 
Externa CPDOC, 2012. Disponível em: 
<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/PoliticaExterna/CenarioGuerra
Fria>. Acesso em: 5 maio 2020. 
SOUZA, B. A política externa nacionalista do Estado Novo (1937-1945). Videre, 
Dourados, v. 2, n. 4, 2010. 
VIZENTINI, P. O Brasil e o Mundo: a política externa e suas fases. Ensaios FEE, 
Porto Alegre, v. 20, n.1, p. 134-154, 1999. 
AULA 4 
POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
 
 
2 
TEMA 1 – REALINHAMENTO AUTOMÁTICO E POLÍTICA EXTERNA NOS 
GOVERNOS DE CASTELLO BRANCO E COSTA E SILVA 
Nesta aula, estudaremos os processos relacionados à Política Externa 
Brasileira entre os anos 1960 e 1990. Primeiramente, conheceremos as 
características da PEB durante a ditadura, nos governos de Castello Branco e 
Costa e Silva, com orientações bastante diferenciadas. 
Na segunda parte, conheceremos as abordagens de Médici, cujo governo 
foi bastante autoritário, e Geisel, com esse último ocorre uma retomada da busca 
por autonomia. 
No terceiro item, veremos os elementos da política externa do Brasil nos 
anos 1980, no governo de Figueiredo e a partir de 1985, com a redemocratização 
até o governo Sarney. Posteriormente, investigaremos a fundo a aproximação 
entre Brasil e Argentina, que permitiu a cooperação na área de segurança e na 
economia, culminando na criação do Mercosul, em 1991. Para finalizar, 
conheceremos as mudanças impostas à PEB nos anos 1990, com a acentuação 
da globalização, do neoliberalismo e a crise do multilateralismo. 
A respeito da PEB durante a ditadura, podemos afirmar que existem 
cenários distintos dependendo do período. Contudo, predomina a lógica do 
realinhamento automático com os EUA, mas com alternância de situações em que 
a orientação da PEB se torna mais autonomista. 
Em primeiro lugar, o primeiro governo militar, de Castello Branco (1964-
1967), apresentava características de política externa bastante diferenciadas dos 
demais governos militares. Isso é consequência de sua aproximação ideológica 
com os EUA, assumindo um discurso anticomunista e de segurança da região em 
sua orientação de política externa. Para Vizentini, existia uma "política externa 
interdependente" (2004, p.21). Já Leticia Pinheiro visualiza a estratégia de 
Castello Branco no "paradigma americanista" (2004, p.37). 
A orientação da PEB do general era de uma cooperação com os EUA 
embasada na ideologia liberal-imperialista, com abertura para o capital externo, 
calcada na ideia de garantir um desenvolvimento associado e dependente aos 
EUA (Martins, 1975). Existia, então, uma associação dependente com os EUA, 
mas nem todos os autores concordam haver um retorno ao alinhamento 
automático aos EUA. Há provas de que o Brasil não rompeu laço com os Estados 
 
 
3 
do bloco soviético e demonstrou-se que a aliança com os EUA não gerou os 
resultados imaginados. 
De acordo com Miyamoto, a orientação central do da PEB de Castello 
Branco “privilegiava o conflito Leste-Oeste, na defesa do mundo ocidental. 
Tratava-se de uma postura que coincidia, em muitos pontos, com o que realizava 
a política externa norte-americana” (Miyamoto, 2013, p. 11). 
O general entendia que os EUA eram o guardião do mundo ocidental, mas 
apresentava a diferença entre o posicionamento de alinhamento aos EUA nos 
interesses regionais e nos mais distantes. Nesse sentido, o Brasil não se envolveu 
no conflito do Vietnã (Miyamoto, 2013). 
No governo de Costa e Silva, que era um representante da “linha dura” das 
Forças Armadas, houve uma redução da importância do conflito Leste-Oeste. 
Costa e Silva ficou pouco tempo no governo. 
Dessa forma, durante o governo do Marechal Arthur da Costa e Silva, 
houve um afastamento da afiliação ideológica do regime. Para Costa e Silva, era 
mais interesse para o Brasil “manter-se distante de tais confrontos, preferindo 
concentrar esforços nas divergências que se verificavam entre os Hemisférios 
Norte e Sul” (Miyamoto, 2013, p. 12). 
Castello Branco direcionava sua atuação para os países desenvolvidos, 
enquanto Costa e Silva preferiu inserir as problemáticas econômicas na agenda 
da política externa, orientando sua política para uma concepção que opunha Norte 
desenvolvido e Sul menos desenvolvido em vez do confronto Leste-Oeste 
(Miyamoto, 2013). 
TEMA 2 – POLÍTICA EXTERNA DOS GOVERNOS MILITARES DE MÉDICI E 
GEISEL 
Emílio Médici, que governo de 1968 a 1974, assumiu com uma postura 
clara de combater as tendências ideológicas vistas como ameaças, consideradas 
comunistas, o que orientou sua atuação na política externa. Em termos regionais, 
houve uma preocupação em diminuir a chance de uma ameaça à soberania 
brasileira. Nesse sentido, algumas operações intervencionistas foram executadas 
durante a gestão de Médici (Miyamoto, 2013). 
A primeira foi a intervenção no Uruguai, por meio da Operação Trinta 
Horas, organizada para ocupar o país em caso de vitória do partido considerado 
comunista nos vizinhos. A segunda ocasião foi o apoio ao General Suarez no 
 
 
4 
Uruguai contra o presidente à época. Por fim, em 1973, o governo Médici apoiou 
a deposição do presidente do Chile Salvador Allende, quando se instaurou a 
ditadura no país, com a entrada de Pinochet (Miyamoto, 2013). 
Demonstrou-se, então, uma busca por liderança na região, com certa 
margem de autonomia em relação aos EUA, no âmbito regional. Internamente, 
ocorria o milagre econômico, que era o crescimento extraordinário da época, que 
chegou a 12% ao ano. Isso assegurou certa convergência com Washington, que 
foi uma aliança com alguma autonomia na PEB. Isso ocorreu também pelo 
redimensionamento da estratégia americana pela administração Nixon-Kissinger, 
sustentada em aliados regionais, desempenhando o papel de "potência média", o 
que foi relegado ao Brasil (Miyamoto, 2013). 
Durante o governo Médici, houve uma postura de alinhamento automático 
aos EUA. O governo em questão era muito autoritário,

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