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Tecido nervoso: Sistema nervoso central e periférico APRESENTAÇÃO O Tecido Nervoso está distribuído por todo o nosso corpo. É ele que coordena as funções de praticamente todos os nossos órgãos. Nessa UA estudaremos as principais estruturas que compõem o Sistema Nervoso Central e Periférico, assim como as células gliais que, juntamente com os neurônios, constituem o Tecido Nervoso. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar as células gliais de acordo com sua morfologia e função.• Caracterizar o Sistema Nervoso Central e Periférico.• Identificar os órgãos e estruturas que compõem o Sistema Nervoso Central e Periférico.• DESAFIO Nessa doença as bainhas de mielina do Sistema Nervoso Central são destruídas por mecanismo ainda não completamente esclarecido, causando diversos distúrbios neurológicos. Diante desse contexto, você foi desafiado a explicar: a) Quais são as células que produzem a bainha de mielina no Sistema Nervoso Central e como se dá essa produção? a) E no caso da patologia, quais são as células que fagocitam os restos de mielina destruídos nesta doença? INFOGRÁFICO Na figura estão representadas as células gliais e também a diferenciação das estruturas que compõem o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico. CONTEÚDO DO LIVRO O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico, cada qual é formado por estuturas e órgãos diferenciados para realização das mais variadas funções. As células que fazem parte do tecido nervoso são os neurônios e as células gliais. No capítulo Tecido Nervoso: Sistema nervoso central e periférico da obra Histologia e embriologias humanas, você vai aprender a diferenciar as células gliais morfologicamente e por função, caracterizar o Sistema Nervoso Central e Periférico e identificar os órgãos e estruturas que compõem esses sistemas. Boa leitura! HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA Adriana Dalpicolli Rodrigues Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar as células gliais de acordo com sua morfologia e função. � Caracterizar o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. � Identificar os órgãos e as estruturas que compõem o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. Introdução O sistema nervoso é um sistema complexo que, juntamente com o sistema endócrino, coordena, controla e integra os demais sistemas do organismo humano para reagir a alterações internas ou do ambiente externo, sempre com o intuito de manter a homeostasia. O tecido nervoso se distribui por todo o organismo, sendo que as células constituintes desse tecido são os neurônios (responsáveis pelos impulsos nervosos) e as células da glia. As células da glia são de diferentes tipos e, portanto, apresentam diversas funções, como sustentar, alimentar e proteger os neurônios e manter o equilíbrio no líquido intersticial. Algumas dessas células fazem parte apenas do sistema nervoso central (SNC), enquanto outras do sistema nervoso periférico (SNP). Esses dois sistemas se diferenciam tanto pelos tipos de células da glia, órgãos e demais estruturas de sua composição, quanto pela função que exercem no organismo. Neste capítulo, você vai aprender a diferenciar as células da glia pela sua morfologia e função e a caracterizar o SNC e o SNP, além disso, irá identificar os órgãos e as estruturas que compõem esses sistemas. Diferença das células da glia de acordo com sua morfologia e função O tecido nervoso é constituído por dois grupos celulares principais: os neu- rônios e as células da glia (neuroglia). Os neurônios são responsáveis pela recepção, pela transmissão e pelo processamento dos impulsos nervosos. As células da glia são, na verdade, diferentes tipos celulares que atuam dando suporte e sustentação aos neurônios, de modo a proporcionar um microambiente adequado para essas células, além de participar de outras funções importantes. Há uma proporção de 10 células da glia para cada neurônio, porém, devido ao seu tamanho, tais células representam aproximadamente metade do volume do tecido nervoso. Em caso de lesões ou doenças, as células da glia se mul- tiplicam para preencher o espaço que anteriormente era ocupado por algum neurônio. O tumor das células da neuroglia é chamado de glioma e é um dos que apresenta crescimento mais rápido (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; NEIVA, 2014; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Os neurônios têm excitabilidade elétrica, ou seja, eles têm a capacidade de responder a estímulos e convertê-los em um potencial de ação. A maioria dos neurônios é dividida em três partes: corpo celular, dendritos e axônio. O corpo celular contém um núcleo circundado por citoplasma que inclui as organelas (retículo endoplasmático, lisossomos, mitocôndrias e complexo de Golgi). Dois tipos de extensões emergem do corpo celular dos neurônios: múltiplos den- dritos e um único axônio. O corpo celular e os dendritos são as partes receptoras de estímulos, sendo que normalmente os dendritos são curtos, afunilados e altamente ramificados. O axônio conduz os impulsos nervosos em direção a outro neurônio ou a uma célula muscular ou ainda a uma célula glandular. Ele consiste em uma projeção cilíndrica longa (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico2 Há diversos tipos de células da glia. A seguir serão apresentadas as carac- terísticas morfológicas e funcionais de cada uma delas. Astrócitos: são as maiores células do SNC. Eles se comunicam uns com os outros por meio de junções comunicantes (também chamadas de junções gap). Os astrócitos apresentam forma estrelada com múltiplos prolongamentos que irradiam do corpo celular. Como reforço estrutural, existem feixes de filamentos intermediários compostos por proteína fibrilar ácida glial (GFAP). Os astrócitos podem ser fibrosos ou protoplasmáticos. Os fibrosos são aqueles que apresentam poucos prolongamentos, sendo estes mais longos, e estão presentes na substância branca, enquanto os protoplasmáticos são os que têm mais prolongamentos, os quais são mais curtos e muito ramificados e são principalmente observados na substância cinzenta. Os astrócitos apresentam a capacidade de ligar os neurônios aos capilares sanguíneos (podem transferir moléculas e íons do sangue para os neurônios) e à meninge pia-máter (fina camada que reveste o SNC). Além de atuar na sustentação, eles estão envolvidos no controle da composição iônica e molecular do ambiente extracelular dos neurônios. Os astrócitos ainda participam da regulação de atividades dos neurônios, apresentando receptores de neurotrans- missores e outras moléculas, tendo, dessa forma, a capacidade de responder a sinais químicos do organismo. Além disso, eles nutrem o sistema nervoso por terem a capacidade de realizar glicólise anaeróbia (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; NEIVA, 2014; MONTANARI, 2016). Na Figura 1, é possível identificar vários astrócitos em lâmina histológica. A substância branca é basicamente composta por axônios mielínicos e neuroglia. A coloração esbranquiçada se dá devido à mielina — material lipídico esbranquiçado que envolve o axônio. A substância cinzenta contém os corpos celulares neuronais, os dendritos, os axônios amielínicos e a neuroglia. A coloração mais acinzentada se deve às organelas celulares, sendo que existe pouca ou nenhuma mielina nessas áreas. Os vasos sanguíneos estão presentes tanto na substância branca quanto na cinzenta (MONTANARI, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2016). 3Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico Figura 1. Astrócitos. Fonte: Jose Luis Calvo/Shutterstock.com. Oligodendrócitos: localizam-se tanto na substância cinzenta quanto na branca do SNC. Eles são menores em comparação aos astrócitos e têm poucos prolon- gamentos. Em microscopia eletrônica,é possível observar o retículo endoplas- mático rugoso, os ribossomos e as mitocôndrias em abundância, bem como o complexo de Golgi e os microtúbulos, além de não haver filamentos intermedi- ários ou lâmina basal. Essas células ajudam a controlar o pH extracelular por intermédio da enzima anidrase carbônica. Sua função principal é a produção das bainhas de mielina, as quais funcionam como isolantes elétricos para os neurônios do SNC. Os prolongamentos dos oligodendrócitos se enrolam nos axônios e formam a bainha de mielina (NEIVA, 2014; MONTANARI, 2016). Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico4 Células microgliais: são pequenas (menores células da glia) e alongadas e os seus prolongamentos são curtos e irregulares. Elas estão presentes nas substâncias cinzenta e branca do SNC. Em lâminas histológicas coradas com hematoxilina-eosina, essas células podem ser identificadas a partir de seus núcleos, que são escuros e alongados, contrastando com os núcleos das outras células da glia, que são esféricos. A organela predominante nessas células é os lisossomos, sendo que a função destas é a de defesa do SNC. Quando estão ativadas, as células microgliais adquirem a forma dos macrófagos, tendo seus prolongamentos retraídos. Elas então têm a capacidade de realizar fagocitose, apresentam antígenos para outras células de defesa e secretam diversas ci- tocinas. As células microgliais participam dos processos inflamatórios e de reparação do SNC (NEIVA, 2014; MONTANARI, 2016). Células ependimárias: são células epiteliais colunares, ou cúbicas, com micro- vilos (projeções da membrana sob a forma de dedos de luva), que apresentam prolongamentos. O seu núcleo é ovoide, basal e com cromatina condensada. As células ependimárias estão presentes lado a lado, sendo unidas por des- mossomos, e revestem os ventrículos do cérebro e o canal central da medula espinal. Elas produzem o líquido cefalorraquidiano (líquor) que transporta íons e proteínas para o SNC. Algumas dessas células podem apresentar cílios que facilitam a movimentação do líquor (NEIVA, 2014; MONTANARI, 2016). Células satélites: células encontradas no SNP que se encontram ao redor dos corpos dos neurônios nos gânglios nervosos. Apresentam-se pequenas, achatadas, com núcleo escuro e heterocromático. As células satélites têm GFAP, junções gap e uma lâmina basal na face externa, além disso, elas permitem um microambiente controlado em torno do neurônio, com isolamento elétrico e via para trocas metabólicas (MONTANARI, 2016). Células de Schwann: são alongadas, com núcleo alongado, complexo de Golgi pouco desenvolvido e poucas mitocôndrias. Elas contêm GFAP e são circundadas pela lâmina externa e não têm prolongamentos. As células de Schwann são encontradas ao redor dos axônios do SNP, podendo dar até mais de 50 voltas no axônio, além de também serem produtoras da bainha de mielina (NEIVA, 2014; MONTANARI, 2016). 5Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico Na Figura 2, há uma imagem esquemática de neurônios e células da glia, podendo ser observadas também outras estruturas, como a bainha de mielina. Figura 2. Células da glia e neurônios. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 242). Caracterização dos sistemas nervoso central e periférico O sistema nervoso é anatomicamente dividido em SNC e SNP. O SNC é composto pelo encéfalo e pela medula espinal. No início do desenvolvimento embriológico, a partir da terceira semana de desenvolvimento, o SNC se deriva a partir do tubo neural. Com a evolução do tecido, a cavidade central diminui em proporção, mas a espessura das paredes e o diâmetro do espaço por elas delimitado variam de uma região para a outra. Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico6 Para a formação do SNC, há alguns eventos importantes que devem ser citados, como a derivação do prosencéfalo em telencéfalo e diencéfalo, a permanência do mesencéfalo, que será mantido no adulto, e a derivação do rombencéfalo em metencéfalo e mielencéfalo. No embrião, a medula espinal se estende por todo o comprimento do canal vertebral, porém, à medida que o indivíduo cresce, a extremidade caudal da medula espinal é realocada para vértebras cada vez mais superiores. A estreita cavidade central que persiste dentro da medula espinal é chamada de canal central. O SNC é responsável por integrar, processar e coordenar a chegada de estímulos sensitivos ao organismo e a saída de estímulos motores, além disso, ele é responsável por funções superiores, como a inteligência, a memória, o aprendizado e as emoções (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; MONTANARI, 2013; TORTORA; DER- RICKSON, 2016). O SNP é formado especialmente por gânglios nervosos (aglomerados de neurônios) e nervos (feixes de prolongamentos dos neurônios). Embriologi- camente, ele é formado a partir de células da crista neural. O SNP estabelece a comunicação entre os órgãos de sensibilidade, os centros nervosos e os órgãos efetores (músculos e glândulas), além de ser responsável por levar informações sensitivas obtidas dentro do corpo ou no meio ambiente para os centros nervosos (impulsos aferentes) e dos centros nervosos para os órgãos efetores (impulsos eferentes) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; MONTANARI, 2013; TORTORA; DER- RICKSON, 2016). Tanto a comunicação aferente quanto a eferente apresentam componentes somáticos e viscerais. A comunicação aferente conduz as informações dos receptores sensitivos somáticos, que monitoram os músculos esqueléticos, as articulações e a pele, e dos receptores sensitivos viscerais, que monitoram outros tecidos, como a musculatura lisa e a cardíaca e as glândulas, além de fornecer informações advindas de órgãos sensitivos especiais, como os olhos e os ouvidos. Por outro lado, a eferente inclui o sistema nervoso somático (SNS), que controla a contração dos músculos esqueléticos, e o sistema nervoso autônomo (SNA), também chamado de sistema motor visceral, que regula a musculatura lisa, o músculo cardíaco e a atividade glandular. As atividades do SNS podem ser voluntárias ou involuntárias. As contrações voluntárias dos músculos esqueléticos estão sob controle consciente do indivíduo, como levan- tar o braço para coçar a cabeça, por exemplo. As contrações involuntárias, no 7Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico entanto, são gerenciadas de forma inconsciente (p. ex., reflexo de normalmente tirar a mão ao tocar algo muito quente antes mesmo de sentir dor) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Conforme dito anteriormente, os neurônios são responsáveis por todos os tipos de transmissão de informação. Para que isso ocorra, são necessários os impulsos nervosos (potenciais de ação) e as sinapses. A geração dos potenciais de ação nas células musculares e nos neurônios depende de duas características da membrana plasmática: existência de potencial de membrana em repouso (diferença na quantidade de carga elétrica no lado interno da membrana ao comparar com o lado externo) e presença de canais iônicos. O que acontece basicamente é que os canais iônicos permitem a passagem de íons específicos do meio menos concentrado para o mais concentrado, do mesmo modo, íons carregados positivamente se dirigem à área com carga negativa e, dessa forma, vão alterando o potencial de membrana. Uma célula que tem um potencial de membrana é denominada polarizada (TORTORA; DERRICKSON, 2016). A sinapse (Figura 3) é responsável pela transmissão unidirecional dos impulsos nervosos de um neurônio para outro ou para uma célula efetora. A sinapse pode ser elétrica ou química. Na elétrica, impulsos nervosos são conduzidos diretamente entre as membranas plasmáticas dos neurônios adja- centes pelas junções comunicantes (encontradas nos músculos liso visceral e cardíaco e no encéfalo), de modo a permitir condução e coordenação rápidas. As sinapses químicas são a maioria das sinapsesque ocorrem no organismo. Nelas, um impulso nervoso provoca liberação de neurotransmissores na fenda sináptica (pequeno espaço preenchido com líquido intersticial) (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico8 Figura 3. Sinapse. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 248). Órgãos e estruturas que compõem o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico Os órgãos e as demais estruturas que fazem parte do SNC e do SNP são com- plexos, com numerosos vasos sanguíneos e camadas de tecido conjuntivo que conferem proteção física e sustentação mecânica. O SNC é constituído pelo encéfalo, localizado dentro do crânio, e pela medula espinal, cujo formato é cilíndrico, que está localizada no interior da coluna vertebral. As três partes principais do encéfalo são: tronco encefálico, cerebelo e cérebro (diencéfalo e telencéfalo — maior massa do encéfalo) (TORTORA; DERRICKSON, 2016). É possível ver as estruturas do SNC na Figura 4. 9Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico Figura 4. Estruturas do SNC. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 262). A medula espinal é constituída de tecido nervoso, sendo externamente composta por substância branca e internamente pela cinzenta. Dependendo de sua imaginação, ela tem o formato de uma borboleta ou de uma letra H em corte transversal. A medula espinal inicia no forame magno do osso occipital do crânio e segue até aproximadamente a segunda ou a terceira vértebra lombar. Na lombar, a medula é afinada, em formato de cone medular, o qual segue até o cóccix com apenas um filamento meníngeo, também chamado de filamento terminal. Essa região terminal do cone medular até o final do filamento meníngeo é conhecida como cauda equina. A medula espinal apresenta três funções principais (ZIERI, 2014): 1. inervação sensorial e motora do organismo inteiro a partir da cabeça por intermédio dos nervos espinais; 2. condução de sinais entre o encéfalo e o corpo, e vice-versa, pelos tratos ascendentes e descendentes da substância branca; 3. centro fundamental para os reflexos por meio da integração sensorial e motora da substância cinzenta. Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico10 O tronco encefálico é externamente constituído pela substância branca e internamente pela cinzenta. Fazem parte do tronco encefálico o bulbo, a ponte e o mesencéfalo, sendo que é a partir do bulbo que se inicia a medula espinal. O tronco encefálico apresenta quatro funções básicas: via de passagem para todos os tratos fibrosos, que vão do cerebelo até a medula espinal; participação na inervação da cabeça e da face; produção de comportamentos programados e automáticos essenciais para a sobrevivência, como regulação da respiração, da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, entre outros; e integração dos reflexos auditivos e visuais. Na parte posterior do tronco encefálico está localizado o cerebelo, que tem o formato de uma couve-flor e é separado do tronco encefálico por um ventrículo (quarto ventrículo). Ele consiste em dois hemisférios, cada um subdividido em três lobos, e tem três regiões: córtex externo de substância cinzenta, substância branca interna e substância cinzenta profunda. O cerebelo tem como função suavizar e coordenar os movimentos do corpo e ajudar a manter a postura e o equilíbrio (ZIERI, 2014). Acima do tronco encefálico há o diencéfalo, que é composto pelo tálamo, pelo hipotálamo e pelo epitálamo (a partir do qual se desenvolve a glândula pineal). Essas estruturas margeiam um ventrículo (terceiro ventrículo) e são constituídas, principalmente, de substância cinzenta (MONTANARI, 2013; ZIERI, 2014). O tálamo é o responsável pela transmissão de muitos impulsos sensoriais provenientes da medula espinal e do tronco encefálico e que alcançam o córtex cerebral (p. ex., informações visuais, táteis, de dor, etc.), e também pela transmissão entre diferentes áreas do telencéfalo, sendo importante para a manutenção da consciência e a aquisição de conhecimentos (cognição). Além disso, ele contribui para as funções motoras, transmitindo informações do cerebelo e dos núcleos da base para as áreas motoras do córtex cerebral. O hipotálamo é uma pequena porção do diencéfalo localizada abaixo do tálamo e acima da hipófise — também conhecida como pituitária, trata-se de uma glândula endócrina produtora de hormônios que é responsável pelo funcionamento de outras glândulas do organismo. Ele controla muitas ativida- des corporais importantes, estando a maioria delas associada à homeostasia. Entre as suas principais atividades estão: � controlar e integrar as atividades do SNA, como ajudar a regular a frequência cardíaca, o movimento do alimento dentro do trato gastrin- testinal e a contração da bexiga urinária; � controlar a hipófise e a produção de hormônios, sendo o principal ponto de ligação entre os sistemas nervoso e endócrino; 11Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico � regular os padrões emocionais e comportamentais, tais como raiva, agressividade, dor, prazer e excitação sexual; � regular a ingestão de alimentos e líquidos, sendo conhecido como centro da sede; � controlar a temperatura corporal; � regular o ritmo circadiano e o estado de consciência. O epitálamo tem funções associadas ao hipotálamo, além de núcleos rela- cionados à mastigação e à deglutição. A glândula pineal é aproximadamente do tamanho de uma ervilha e tem como função a secreção da melatonina, hormônio que promove a sonolência e contribui para o estabelecimento do relógio biológico do corpo (MONTANARI, 2013; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Normalmente, esse hormônio começa a ser produzido no final da tarde, quando o sol começa a se pôr (TORTORA; DERRICKSON, 2016). A superfície do telencéfalo é constituída por uma fina camada de substância cinzenta, que se refere ao córtex cerebral, sendo que abaixo dessa camada se encontra a substância branca do cérebro. O telencéfalo é o que proporciona aos seres humanos toda a sua capacidade intelectual (ler, escrever, fazer cálculos, pensar, etc.). Nessa estrutura, existem pregas, chamadas de giros, e entre elas há fissuras e fendas alongadas e rasas que são chamadas de sulcos, os quais permitem o aumento da área do córtex sem aumento do volume da massa cefálica. Uma fissura longitudinal do cérebro separa o telencéfalo em hemisférios cerebrais direito e esquerdo. A ligação interna entre os hemisférios é feita pelo corpo caloso, uma faixa larga de substância branca contendo axônios. Cada hemisfério cerebral tem quatro lobos que são nomeados de acordo com os ossos que os recobrem: lobo frontal (responsável por pensamentos complexos, tomadas de decisões e julgamentos e pelo controle motor), lobo parietal (alguns sentidos enviam informações para serem processadas nessa região), lobo temporal (centro da comunicação, da memória e da audição) e lobo occipital (região de processamento das informações obtidas pela visão). O sulco central separa os lobos frontal e parietal. Há núcleos no interior de cada hemisfério que são constituídos de substância cinzenta e denominados como núcleos da base, os quais são chamados de núcleo lentiforme (globo pálido, putâmen) e núcleo caudado. Suas principais funções incluem auxiliar no início e na finalização dos movimentos, regular o tônus muscular e con- trolar contrações subconscientes dos músculos esqueléticos, como o ato de balançar os braços quando se está caminhando (MONTANARI, 2013; ZIERI, Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico12 2014; TORTORA; DERRICKSON, 2016). As características estruturais do telencéfalo podem ser vistas na Figura 5. Figura 5. Características estruturais do telencéfalo. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 269). Todas essas estruturas do encéfalo, citadas anteriormente, e da medula espinal são protegidas pelos ossos do crânio (no caso do encéfalo) ou da coluna vertebral (medula espinal) e pelas meninges encefálicas, quesão dura-máter (camada mais dura e externa), aracnoide (camada mediana) e pia-máter (camada mais fina e mais interna). O líquor também tem função protetora, de nutrição e de remoção de resíduos para essas estruturas, já que preenche o canal central 13Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico e os ventrículos, além de circundar o SNC. Os ventrículos encefálicos são câmaras expandidas, contínuas com o canal central, e encontradas em regiões específicas do cérebro (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O SNP é constituído por todo o tecido nervoso fora do SNC, fazendo parte desse sistema as estruturas descritas a seguir. Nervos: são compostos por feixes de fibras nervosas agrupadas. Tais fibras são constituídas por um axônio e as bainhas que os envolvem. Nervos que têm apenas fibras aferentes são chamados de sensitivos, enquanto os nervos com fibras efetoras são conhecidos como motores e os que têm ambas são chamados de mistos. Há um total de 12 pares de nervos cranianos que emer- gem a partir da base do encéfalo e 31 pares de nervos espinais que surgem da medula espinal. Cada um deles seguirá um caminho específico para inervar órgãos e outros tecidos. Esses nervos se conectam à medula pelas raízes dor- sal e ventral (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; ZIERI, 2014; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Gânglios: são pequenos acúmulos de neurônios situados fora do SNC. Eles estão intimamente relacionados aos nervos. Dependendo do sentido do impulso nervoso, os gânglios podem ser sensoriais (aferentes) ou do SNA (eferentes) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Plexos entéricos: são extensas redes de neurônios localizadas nas paredes dos órgãos do trato gastrintestinal, cuja função é ajudar a regular o sistema digestório (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Receptores sensoriais: são as estruturas do tecido nervoso que monitoram as alterações dos ambientes externo e interno, como, por exemplo, receptores sensoriais de toque na pele ou olfativos no nariz (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Os plexos entéricos e os receptores sensoriais também podem ser chamados simplesmente de terminações nervosas. Veja na Figura 6 como são organizados o SNC e o SNP. Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico14 Figura 6. Partes do SNC e do SNP. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 237). JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. (Série Martini). MONTANARI, T. Embriologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas. Porto Alegre: Ed. do autor, 2013. Disponível em: http://www.ufrgs.br/livrodeembrio. Acesso em: 25 ago. 2019. MONTANARI, T. Histologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas. 3. ed. Porto Alegre: Ed. do autor, 2016. Disponível em: http://professor.ufrgs.br/tatianamontanari/publications/ histologia-texto-atlas-e-roteiro-de-aulas-pr%C3%A1ticas. Acesso em: 25 ago. 2019. 15Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico NEIVA, G. S. M. Histologia I. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. ZIERI, R. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. Tecido nervoso: sistema nervoso central e periférico16 DICA DO PROFESSOR Assistindo ao vídeo da Dica do Professor, será possível caracterizar o Tecido Nervoso quanto às suas células gliais e suas funções e conhecer os órgãos e estruturas que fazem parte do Sistema Nervoso Central e Periférico. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Quais são as células gliais que constituem a barreira hematoencefálica? A) Astrócitos. B) Oligodendrócitos. C) Micróglias. D) Células ependimárias. E) Células de Schwann. 2) O tecido nervoso é constituído por dois grupos celulares principais: os neurônios e as células da glia (neuroglia). Os neurônios são responsáveis pela recepção, pela transmissão e pelo processamento dos impulsos nervosos. As células da glia são, na verdade, diferentes tipos celulares que atuam dando suporte e sustentação aos neurônios, de modo a proporcionar um microambiente adequado para essas células, além de participar de outras funções importantes. Neste contexto, as células de Purkinje são encontradas em que lugar? A) No coração. B) No cerebelo. C) Na medula espinhal. D) No gânglio. E) No nervo. 3) Para que ocorra a propagação de um impulso nervoso, é de extrema importância que haja conexões entre os neurônios. Esses locais denominados _____________, apesar de não serem áreas de contato direto, permitem a passagem do impulso em virtude da liberação de neurotransmissores. Entre as alternativas a seguir, marque aquela que completa corretamente o espaço acima. A) dendritos B) bainha de Mielina C) sinapses D) axônios E) terminais axônicos 4) Além dos neurônios, o Tecido Nervoso é constituído de outro componente celular: as células da glia ou neuróglia, que, além de servirem de sustentação para as células neuronais, apresentam funções diversas. Em se tratando de neuróglia, assinale a alternativa correta: A) As células ependimárias são células epiteliais cúbicas que revestem as cavidades do encéfalo, o canal central da medula espinhal e os nervos. B) As micróglias são consideradas os macrófagos do tecido nervoso, pois possuem função nutritiva para as células que estão apoiando (os neurônios). C) No SNC, os astrócitos fibrosos são geralmente encontrados em áreas que não apresentam pericário. D) As células de Schwann podem ser encontradas no Sistema Nervoso Periférico e possuem função semelhante às células da micróglia, porém circulam no sangue. E) Os oligodendrócitos envolvem os axônios de neurônios localizados no Sistema Nervoso Periférico produzindo bainha de mielina. 5) A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica crônica que pode causar: fraqueza muscular, rigidez articular, dores articulares e falta de coordenação motora. Em uma análise patológica dessa doença, há a infiltração de células específicas que degradaram grandes quantidades de lipídeos antes presentes no Tecido Nervoso. Que células são essas, qual a estrutura lipídica referenciada e como é denominada essa atividade celular? A) Astrócitos protoplasmáticos – mielina – fagocitose. B) Astrócitos fibrosos – mielina – fagocitose. C) Microglia – mielina – fagocitose. D) Células ependimárias – adipócitos – gliose. E) Microglia – mielina – gliose. NA PRÁTICA Acompanhe um exemplo prático sobre glioma, um tipo de câncer que acomete o tecido nervoso: SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Para compreender melhor sobre o funcionamento das células que compõem o Sistema Nervoso, assista ao vídeo a seguir: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Utilize essa sugestão de leitura complementar para aprofundar seus estudos sobre neurociências e o Sistema Nervoso:
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