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Protozoários: Sarcodina (amebas) I APRESENTAÇÃO Nessa unidade de aprendizagem, estudaremos a Entamoeba histolytica, que é um protozoário do grupo Sarcodina (amebas). Observaremos as características do parasita, sua patogênese, epidemiologia, aspectos clínicos, diagnóstico, tratamento e prevenção. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as características, patogênese e epidemiologia da Entamoeba histolytica.• Demonstrar os aspectos clínicos, o diagnóstico laboratorial e o tratamento da doença.• Indicar medidas de prevenção para amebíase.• DESAFIO Na epidemiologia da amebíase, infecção causada por Entamoeba histolytica é uma doença encontrada em todo o mundo, ocorrendo com maior frequência em países tropicais, especialmente em áreas com deficiência no saneamento básico. Outros grupos de risco são os homossexuais do sexo masculino, os viajantes, os imigrantes e as populações institucionalizadas. Considerando as diferentes formas de transmissão da amebíase: 1. Indique as medidas de prevenção para a infecção por Entamoeba histolytica. 2. Sugira um plano de prevenção para um surto de amebíase que esteja ocorrendo em uma instituição de longa permanência para idosos. INFOGRÁFICO Observe as situações envolvidas na infecção por Entamoeba histolytica: CONTEÚDO DO LIVRO A Entamoeba histolytica é uma ameba que causa a amebíase, caracterizada por disenteria amebiana e abscesso hepático. No conteúdo selecionado, podem ser observadas as características do parasita, a epidemiologia, os achados clínicos, o diagnóstico, o tratamento e a sua prevenção. Acompanhe o capítulo Protozoários: Sarcodina (Amebas) I, da obra Parasitologia, onde você verá mais sobre as caracteristicas, diagnosticos e tratamentos a partir dos protozoários. Boa leitura. PARASITOLOGIA Juçara Gastaldi Cominal Protozoários: Sarcodina (amebas) I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as características, a patogênese e a epidemiologia da En- tamoeba histolytica. Demonstrar os aspectos clínicos, o diagnóstico laboratorial e o tra- tamento da doença. Indicar medidas de prevenção para amebíase. Introdução Muitos protozoários parasitam os animais, incluindo o homem, mas ape- nas uma pequena proporção deles são considerados potencialmente patogênicos aos humanos, ou seja, são capazes de provocar algum tipo de doença parasitária, ou parasitose. As amebas fazem parte do filo Sarco- mastigophora, grupo/subfilo Sarcodina, são protozoários unicelulares com membrana celular simples e que vivem, em sua maioria, no meio intracelular. Destaca-se o gênero Entamoeba, que agrupa amebas que se locomovem por pseudópodes e habitam principalmente o intestino humano, entre elas, as espécies Entamoeba histolytica e a Entamoeba dispar (NEVES, 2016). Neste capítulo, você irá aprender os mecanismos patológicos, as características epidemiológicas, o diagnóstico, o tratamento e as medidas de prevenção da amebíase, doença provocada pela Entamoeba histolytica. Dados gerais, epidemiologia e patogênese da Entamoeba histolytica A Entamoeba histolytica é principal espécie do gênero Entamoeba e também a de maior prevalência no intestino humano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A E. histolytica é classifi cada como um protozoário com elevada importância médica, já que apresenta uma marcante incidência e relaciona-se com doenças graves que têm impactante mortalidade e morbidade (WHO, 2017). Veja, a seguir, suas principais características (SHIRLEY et al., 2018; LE- VINSON, 2016; NEVES, 2016). Parasita essencialmente anaeróbico e de vida intracelular obrigatória. Habita preferencialmente o intestino grosso humano e tem um ciclo de vida monoxênico. Possui dois estágios de vida, os cistos (forma dormente) e os trofozoítos (forma ativa/reprodutora). Os cistos são redondos ou ovalados, com tamanho entre 12 a 25 µm. Os trofozoítos apresentam forma variável, em geral alongada, com diâmetro entre 10 a 60 µm. Núcleo arredondado, que se assemelha a uma “roda de carroça”. Os cistos possuem quatro núcleos, sendo pouco visíveis quando analisados a fresco. Os trofozoítos possuem apenas um, sendo mais visível nas formas que foram examinadas após o processo de coloração. Reprodução assexuada por divisão binária. Alimentam-se por fagocitose, ingerindo hemácias, restos celulares ou bactérias, e também por pinocitose, ingerindo líquidos, o que pode classifica parasitas com nutrição heterotrófica. A amebíase, doença que tem como agente causador a Entamoeba histolytica, apresenta alta mortalidade e atinge principalmente adultos, sendo que mais de 90% dos indivíduos infectados são assintomáticos. Sua transmissão está associada com a ingestão de água e alimentos contaminados por rota fecal-oral, sendo os portadores assintomáticos os que mais contribuem com a transmissão (SHIRLEY et al., 2018; NEVES, 2016). Protozoários: Sarcodina (amebas) I2 Sua distribuição é global, as regiões endêmicas são encontradas princi- palmente na África, Ásia e na América do Sul/Central e México; contudo, sua epidemiologia pode variar de acordo com localização geográfica, clima e aspectos relacionados ao tratamento de esgoto, disponibilidade de água tratada, políticas de saúde pública e educação sanitária. Assim, a amebíase pode apresentar diferentes manifestações, patogênese e incidência (MARIE; PETRI JUNIOR, 2014). Um estudo realizado em uma cidade do interior do Ceará, em comunidades rurais que não têm acesso a água encanada e tratamento de esgoto, revelou uma prevalência de 10,3% para a infecção por amebas do gênero Entamoeba, sendo 23,8% ocasionadas por E. histolytica, 57,1% por E. dispar, e 14,3% dos indivíduos analisados apresentaram coinfecção por ambas as espécies. Todos os indivíduos que participaram do estudo estavam assintomáticos, um indicativo de que o potencial patogênico das espécies de amebas encontradas era baixo (CALEGAR et al., 2016). O ciclo biológico da Entamoeba histolytica (Figura 1) apresenta apenas um hospedeiro definitivo e, assim, é considerado um ciclo monoxênico. Embora o homem seja o principal hospedeiro, outros animais, como cachor- ros, macacos e porcos, também podem ser parasitados por esse protozoário (NEVES, 2016). O ciclo se iniciará com a ingestão de alimentos ou água contaminados por cistos de E. histolytica. Após a ingestão e a passagem pelo estômago, os cistos atingem o intestino. Na porção final do intestino delgado e inicial do intestino grosso, ocorrerá o desencistamento, em que um cisto sofrerá uma ruptura e, após alguns processos, dará origem a oito trofozoítos, que colonizarão o intestino grosso. O processo de diferenciação na forma trofozoíto para o cisto ainda é pouco conhecido. Os cistos podem ser encontrados nas fezes formadas e pastosas, enquanto os trofozoítos são encontrados nas fezes líquidas e diarreicas. Ao serem eliminados, retornam ao ambiente, contaminando-o e fechando, assim, o ciclo (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016). 3Protozoários: Sarcodina (amebas) I Figura 1. Ciclo biológico da Entamoeba histolytica. O ciclo se inicia com a ingestão de cistos de E. histolytica presentes em alimentos e água contaminados, o que pode provocar a infecção por esse parasita. (A) No intestino, o cisto passa pelo processo de desencistamento, transformando-se, o que gera oito trofozoítos. Após a colonização, há a multiplicação e liberação de cistos e trofozoítos nas fezes que retornam ao ambiente, podendo contaminar água e alimentos. (1) A doença intestinal conhecida como amebíase ocorre no intestino grosso como resultado da patogênese da E. histolytica. (2) A forma disseminada é conhecida como doença extraintestinal e pode afetar principalmente fígado, pulmão e cérebro. Fonte: Adaptada de Levinson (2016). A patogênese da Entamoeba histolytica está associadaà perda do equilíbrio hospedeiro-parasita, o que provoca a invasão dos trofozoítos pela mucosa e pelo epitélio intestinal do intestino grosso com secreção de enzimas (glicosilases e proteases), que, inicialmente, provocam uma lesão local com inflamação e necrose. A diarreia ocorre devido ao fato de que as enzimas secretadas prejudicam as zônulas de oclusão e transporte iônico do epitélio intestinal (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016; MARIE; PETRI JUNIOR, 2014). A doença extraintestinal é provocada à medida que a ameba vai se mul- tiplicando e de acordo com o seu potencial de virulência, assim, a invasão pode aumentar e resultar na formação de úlceras no epitélio intestinal, como Protozoários: Sarcodina (amebas) I4 também provocar uma disseminação sistêmica, caracterizada pela formação de abcessos principalmente no fígado, no cérebro e no pulmão (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016; MARIE; PETRI JUNIOR, 2014). A virulência da Entamoeba histolytica é muito variável, e acredita-se que ela não é necessária para sobrevivência, capacidade de reprodução do parasita e sua transmissão. Isso pode ser explicado porque não foram encontradas diferenças entre o número de parasitas presentes e o número de cistos gerados em indivíduos assintomáticos daqueles que são sintomáticos (MARIE; PETRI JUNIOR, 2014). Assim como a virulência, a própria patogênese também varia entre os indivíduos que foram infectados por Entamoeba histolytica. Acredita-se que um sistema imunológico debilitado, indivíduos idosos e crianças, deficiências nutricionais, a microbiota intestinal e presença de outras enfermidades possam contribuir para uma maior patogenicidade (NEVES, 2016). Os mecanismos que envolvem patogênese e virulência ainda não foram completamente desvendados, principalmente quanto à imensa variação apre- sentada e também em relação à própria evolução da doença. Na Figura 2, você pode observar a Entamoeba histolytica fagocitando uma hemácia, processo associado à sua patogênese. Figura 2. (1) Representação gráfica do trofozoíto de Entamoeba histolytica engolindo hemácias. (2) Trofozoíto com uma hemácia que foi ingerida em seu interior, coloração de tricômico: (a) hemácia; (b) núcleo exibindo o padrão roda de carroça (a seta indica o trofozoíto). Fonte: Adaptada de K.Kon/Shutterstock.com. e Centers for Disease Control and Prevention (2017). 5Protozoários: Sarcodina (amebas) I Manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento Para a sua melhor compreensão, vamos ver separadamente as duas doenças as- sociadas à Entamoeba histolytica: a amebíase e a doença extraintestinal, exem- plifi cada pelo abcesso hepático amebiano, principal doença desse subgrupo. Amebíase Doença subclínica ou assintomática A maioria dos indivíduos infectados pela Entamoeba hisyolytica não apresenta nenhuma manifestação clínica, seguindo assintomática por toda a vida. Con- tudo, esses indivíduos podem transmitir por suas fezes os cistos do parasita. O diagnóstico é feito pela detecção dos cistos presentes em fezes (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016). Doença sintomática Nos indivíduos sintomáticos, as principais manifestações clínicas da amebíase são observadas na fase aguda da doença alguns dias após a infecção. Destacam- -se (SHIRLEY et al., 2018; LEVINSON, 2016; NEVES, 2016): disenteria intensa (mais de oito vezes ao dia), que pode vir com muco e sangue; cólicas e desconforto abdominal; febre e calafrios; náuseas e vômitos; desidratação; tenesmo — desejo constante de querer evacuar, independentemente da necessidade, que pode ser acompanhado por um desconforto na região anal. Você pode notar que são sintomas não específicos, comumente observados em outras doenças intestinais. Além disso, a intensidade dos sintomas e o progresso da doença variam, e pessoas com o sistema imunológico comprometido ou em uso de terapia corticoide, desnutridos, crianças e grávidas são a população que costuma apresentar um quadro mais grave (SHIRLEY et al., 2018). Protozoários: Sarcodina (amebas) I6 A evolução com complicações associadas à alta mortalidade podem ocorrer em até 40% dos casos, contudo, o fator desencadeante ainda é desconhecido. Entre as complicações possíveis, temos sepse, perfurações intestinais, hemorragias e obstrução intestinal por ameboma (massa granulomatosa) (NEVES, 2016). Para o diagnóstico da amebíase sintomática, é utilizado o exame microscópico de fezes para a identificação de trofozoíto ou cistos. Os trofozoítos devem ser procurados quando o material coletado forem fezes líquidas/diarreicas; em fezes formadas/pastosas, deve-se procurar por cistos. O material pode ser avaliado a fresco ou concentrado e corado — utiliza-se como corante a hematoxilina férrica e o tricômico. O paciente que tenha a suspeita de amebíase deve realizar pelo menos 3 exames, em dias alternados, uma vez que a eliminação do parasita é irregular (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016; KASPER; FAUCI, 2015). Embora o exame microscópico de fezes seja o método mais comumente empregado para a identificação de infecção por amebas, requer profissionais especializados e com muita experiência. Além disso, é um método que não permite a diferenciação entre algumas espécies de Entamoeba, como a E. histolytica da E. dispar, que apresentam uma morfologia muito semelhante (SHIRLEY et al., 2018; NEVES, 2016) (Figura 3). Figura 3. Cistos e trofozoítos de Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar. (1) Cisto em amostra de fezes fresca concentrada — na seta, estão destacados os corpos cromatoides. (2) Cistos corados com tricômico. (3) Trofozoíto em amostra fresca corada com iodo. (4) Trofozoíto corado com tricômico. Fonte: Adaptada de Centers for Disease Control and Prevention (2017). 7Protozoários: Sarcodina (amebas) I A Entamoeba dispar é outra espécie de ameba pertencente ao gênero Entamoeba. Assim como a Entamoeba histolytica, a E. dispar também reside no intestino grosso de humanos, é um protozoário intracelular, essencialmente anaeróbico e de ciclo de vida monoxênico. Os cistos e trofozoítos da Entamoeba dispar são iguais aos da Entamoeba histolytica, apresentam mesmo tamanho, morfologia e número de núcleos (NEVES, 2016). A Entamoeba dispar produz e secreta poucas enzimas (glicosilases e proteases); assim, não é considerada capaz de invadir o epitélio gastrointestinal ou mesmo de disseminar para outros sítios anatômicos que não o próprio intestino grosso. Essa característica é um importante diferencial entre a E. dispar e a Entamoeba histolytica (KANTOR et al., 2018). Apesar de não ser considera patogênica aos humanos, já foram reportados alguns casos em que essa ameba ocasionou uma inflamação não invasiva no intestino grosso, conhecida como colite não disentérica (NEVES, 2016). Devido à semelhança entre ambas — a Entamoeba dispar é morfologicamente indistinguível por microscopia óptica da Entamoeba histolytica —, acreditava-se que essa espécie estaria presente em pessoas que eram assintomáticas para a amebíase e que, quando a doença estava em sua forma sintomática, o parasita responsável pela infecção seria outra ameba, no caso, a E. histolytica. Contudo, nos dias atuais, define- -se como amebíase a doença ocasionada exclusivamente pela ameba E. histolytica, independentemente da presença de sintomas (NEVES, 2016). O principal desafio é, sem dúvidas, o diagnóstico diferencial entre essas duas amebas. A OMS recomenda que, quando não são realizados testes de especiação, os resultados de exames devem incluir as duas espécies (por exemplo, cistos de Entamoeba histolytica/ Entamoeba dispar). Entre os métodos empregados para a diferenciação entre as amebas, destacam-se estudos moleculares, como a análise genômica (PCR), e ensaios imunoenzimáticos (ELISA) para a pesquisa de antígenos específicos da Entamoeba histolytica. Contudo, tais exames são uma realidade pouco observada e disponível, ficando restritos aos estudos científicos. Um estudo brasileiro realizado em estudantes entre 6 a 14 anosda cidade de Divinó- polis, no estado de Minas Gerais, alertou para a necessidade da utilização de técnicas de diagnóstico mais sensíveis e que não utilizem apenas a análise por microscopia para a procura de cistos de Entamoeba. Os pesquisadores compararam o método de microscopia com o ensaio ELISA para a detecção de antígenos das amebas em amostras de fezes. Os resultados de análise por microscopia detectaram uma prevalência de infecção por Entamoeba de 5,7%; por sua vez, ao usarem o ensaio ELISA, a incidência de prevalência foi de 15,7% (PEREIRA et al., 2014). O tratamento da amebíase deve ser realizado em todos os indivíduos, independentemente de apresentarem a doença subclínica ou a sintomática. A diferença entre os tratamentos recomendados é que, nas manifestações sintomáticas, são utilizados um agente com efeito antiamebiano nos tecidos, como tinidazol ou metronidazol, e também um agente terapêutico capaz de Protozoários: Sarcodina (amebas) I8 aniquilar os cistos e que atua no lúmen intestinal — neste caso, o iodoquinol ou paromomicina (SHIRLEY et al., 2018; LEVINSON, 2016). No caso dos indivíduos assintomáticos, recomenda-se o uso de iodoquinol ou paromomicina para a remoção dos cistos e prevenção da invasão e da transmissão (SHIRLEY et al., 2018). Doença extraintestinal — abscesso hepático amebiano A doença extraintestinal, ou amebíase invasiva, é rara e manifesta-se após o processo de invasão com disseminação sistêmica da Entamoeba histolytica. O fígado é o principal órgão afetado, após invasão do trofozoíto pela veia porta, e a doença associada é conhecida como abcesso hepático amebiano (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016). Os sintomas incluem: febre alta; dor abdominal no lado superior direito (hipocôndrio direito); aumento do fígado. Os sintomas, uma vez estabelecidos, vão agravando-se de forma progressiva. Perda de peso e anorexia também podem ser observadas, e as complicações são ruptura do abcesso ou doença pulmonar (amebíase pleuropulmonar) devido à invasão do diafragma (SHIRLEY et al., 2018; NEVES, 2016). Essa doença acomete principalmente homens, cerca de dez vezes mais do que as mulheres, crianças e indivíduos com sistema imunológico comprometido (SHIRLEY et al., 2018). Uma característica singular é que, em sua maioria, as pessoas que possuem abcesso hepático amebiano não apresentam amebíase; assim, o exame micros- cópico das fezes se revelará negativo para a presença de cistos e trofozoítos (LEVINSON, 2016). O diagnóstico inclui, além da anamnese do paciente, exames de imagens (tomografia, raio x, ultrassonografia) para a identificação da presença de lesão única ou múltipla, localizada, na maioria das vezes, no lobo direito do fígado. Testes sorológicos também são empregados, como a pesquisa de anticorpos IgG para E. histolytica (LEVINSON, 2016; NEVES, 2016; MARQUES et al., 2014). O tratamento adotado é o mesmo para a amebíase, sendo mais comumente utilizado o metronidazol ao tinidazol. A ação é rápida, sendo observadas melhorias nas primeiras 72 horas após o início do tratamento. Caso não haja resposta à terapia, a drenagem do abscesso é recomendada, a fim de se evitar sua ruptura (MARQUES et al., 2014). 9Protozoários: Sarcodina (amebas) I Saiba mais sobre as perspectivas de futuro e estratégias que estão sendo utilizadas para ao desenvolvimento de vacinas contra Entamoeba histolytica. A revisão que você encontra no link a seguir (em inglês) contextualiza o cenário atual em relação a esse protozoário. https://qrgo.page.link/9n277 Prevenção de amebíase Assim como em outras doenças parasitárias, não temos uma vacina para prevenir a amebíase ou a doença extraintestinal. Assim, a prevenção envolve a adoção de outras medidas primárias (SHIRLEY et al., 2018). Se pensarmos sobre a forma de transmissão (rota fecal-oral) — infecção pela ingestão de água e alimentos contaminados —, uma das principais medidas para prevenir a infecção por Entamoeba histolytica seria condições mínimas de saneamento básico, a partir das quais o acesso a água potável e tratamento de esgoto seja garantido a todos. Porém, nos países desenvolvidos, onde se têm ótimas condições sanitárias e acesso a água potável, observa-se uma alta frequência de infecção por E. histolytica e uma disseminação não controlada por portadores assintomáticos. A explicação para isso envolve, muitas vezes, hábitos de higiene ruins, que podem ou não estar associados à manipulação incorreta de alimentos (SHIRLEY et al., 2018; LEVINSON, 2016; NEVES, 2016). Assim, a educação sanitária e boas práticas de higiene pessoal são ótimas medidas preventivas, seja para a população de países em desenvolvimento quanto para a de países já desenvolvidos, e não deve ser restrita aos adultos, e, sim, esta- belecida na educação infantil e reforçada ao longo dos anos para os adolescentes. Para os profissionais que trabalham com a manipulação de alimentos, seja um cozinheiro ou um garçom, a maior prevenção está em seguir as recomen- dações definidas pela vigilância sanitária e praticar ótimos hábitos de higiene. O controle de algumas pragas domésticas, como as moscas, também evita uma contaminação indireta de alimentos, pois esses insetos têm o hábito de pousar em fezes. Contudo, essa medida é mais indicada para locais em que os dejetos humanos fiquem expostos (NEVES, 2016). Protozoários: Sarcodina (amebas) I10 Os cistos de Entamoeba são resistentes ao processo de cloração, de modo que, para a correta higienização de alimentos que serão consumidos crus, recomenda-se a sua imersão em solução com algumas gotas de iodo (NEVES, 2016). Práticas sexuais que podem levar a uma exposição demasiada a região anal, facilitando uma transmissão oral-fecal, devem ser evitadas (SHIRLEY et al., 2018). Leia, no link a seguir, um estudo brasileiro sobre a prevalência da Entamoeba histolytica/ Entamoeba dispar em crianças moradoras de uma favela em Campina Grande, Paraíba. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande e da Universidade Federal de Pernambuco. https://qrgo.page.link/ww5fn CALEGAR, D. A. et al. Frequency and molecular characterisation of Entamoeba histolytica,Entamoeba dispar, Entamoeba moshkovskii, and Entamoeba hartmanni in the context of water scarcity in northeastern Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 111, n. 2, p. 114-119, fev. 2016. Disponível em: https://memorias.ioc. fiocruz.br/article/6091/0383_frequency-and-molecular-characterisation-of-entamoeba- -histolytica-entamoeba-dispar-entamoeba-moshkovskii-and-entamoeba-hartmanni- -in-the-context-of-water-scarcity-in-northeastern-brazil. Acesso em: 15 set. 2019. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Amebiasis. 2017. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/amebiasis/index.html. Acesso em: 15 set. 2019. KANTOR, M. et al. Entamoeba Histolytica: Updates in Clinical Manifestation, Patho- genesis, and Vaccine Development. Canadian Journal of Gastroenterology and Hepa- tology, v. 2018, n. 4601420, 2018. Disponível em: https://www.hindawi.com/journals/ cjgh/2018/4601420/. Acesso em: 15 set. 2019. KASPER, D. L.; FAUCI, A. S. Doenças Infecciosas de Harrison. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2016. 11Protozoários: Sarcodina (amebas) I MARIE, C; PETRI JUNIOR, W. A. Regulation of virulence of Entamoeba histolytica. Annuals Review of Microbiology, Palo Alto, v. 68, p. 493-520, 2014. Disponível em: https://www.an- nualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev-micro-091313-103550. Acesso em: 15 set. 2019. MARQUES, F. C. et al. Abcesso hepático amebiano em idade pediátrica: um caminho do intestino ao fígado. Portuguese Journal of Gastroenterology, Almada, v. 21, n. 5, p. 208-211, set./out. 2014. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S08 72817814000721?via%3Dihub#bibl0005. Acesso em: 15 set. 2019. NEVES, D. P. Parasitologia Humana.13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. PEREIRA, V. V. et al. 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Guidelines for drinking-water quality: fourth edition incorporating the first addendum. 4. ed. Geneva: World Health Organization, 2017. Disponível em: https://www.who.int/water_sanitation_health/publications/drinking- -water-quality-guidelines-4-including-1st-addendum/en/. Acesso em: 15 set. 2019. Protozoários: Sarcodina (amebas) I12 DICA DO PROFESSOR Nessa unidade de aprendizagem, falaremos sobre a Entamoeba histolytica, um protozoário do grupo Sarcodina (amebas). Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Com relação aos aspectos clínicos envolvidos na infecção por E. histolytica: A) A amebíase intestinal aguda ocorre na forma de vômitos e sonolência. B) A amebíase crônica ocorre na forma de sintomas graves. C) Um ameboma pode se formar no fígado. D) Cerca de 50% das pessoas infectadas apresentam infecções assintomáticas. E) Um abscesso amebiano do fígado é caracterizado por uma dor no quadrante superior direito, perda de peso, febre e aumento do fígado. 2) Dentre as medidas de prevenção para a infecção por Entamoeba histolytica, indique a incorreta: A) Tratamento da água. B) Lavar as mãos com água e sabão. C) Usar fezes humanas para a fertilização de plantações. D) Cozinhar os vegetais, principalmente em áreas endêmicas. E) Evitar o contato anal-oral. 3) Sua paciente é uma mulher de 30 anos de idade, voluntária do Corpo da Paz, que retornou recentemente da América Central. Ela agora apresenta febre e dores no quadrante superior direito. Ela disse que teve diarreia sanguinolenta há dois meses. A tomografia computadorizada revelou uma área radiolúcida no fígado, que foi interpretada como um abscesso. A aspiração do material do abscesso foi realizada. Um exame microscópico revelou trofozoítos não flagelados móveis com movimento ameboide. Qual das seguintes opções é a provável causa dessa infecção: A) Entamoeba coli B) Entamoeba histolytica C) Giardia lamblia D) Trichomonas vaginalis E) Entamoeba hartmanni 4) Em relação a Entamoeba histolytica, qual das seguintes opções é a mais correta: A) E. histolytica causa úlceras em formato de balão na mucosa do colo. B) Animais domésticos, como cães e gatos, são os principais reservatórios de E. histolytica. C) Ao microscópio, E. histolytica é reconhecida por possuir dois pares de flagelos. D) As infecções por E. histolytica são limitadas na mucosa intestinal e não se disseminam pelos órgãos. E) A infecção é geralmente adquirida pela ingestão do trofozoíto em alimentos e água contaminados. 5) Quanto ao diagnóstico laboratorial da amebíase, é incorreto afirmar: A) Presença de trofozoítos em fezes diarreicas. B) E. histolytica pode ser diferenciada de outras amebas por meio da natureza do núcleo do trofozoíto e pelo tamanho do cisto e a quantidade de núcleos presentes nele. C) Dois exames são altamente específicos para E. histolytica presente nas fezes: um detecta o antígeno de E. histolytica e o outro detecta o ácido nucleico do organismo em um ensaio de PCR. D) O teste de hemaglutinação direta é geralmente positivo em pacientes com doença invasiva. E) O núcleo do trofozoíto de E. histolytica é semelhante ao de outras amebas. NA PRÁTICA A Entamoeba histolytica deve ser diferenciada de outras amebas intestinais, incluindo a Entamoeba coli, a E. hartmanni, a E. polecki, Endolimax nana e Iodamoeba buetschlii, que são geralmente consideradas não patogênicas e residem no intestino do hospedeiro humano. CDC - Intestinal Amebae Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A diferenciação é possível, mas nem sempre é fácil, e deve ser feita com base nas características morfológicas dos cistos e trofozoítos. A Entamoeba dispar, ameba não patogênica, é morfologicamente idêntica à E. histolytica. A sua diferenciação deve ser baseada na análise isoenzimática ou imunológica. Métodos moleculares também são úteis para diferenciar a E. histolytica da E. dispar. A identificação microscópica de cistos e trofozoítos nas fezes é o método comum para o diagnóstico de E. histolytica. Isto pode ser realizado por: Além disso, os trofozoítos de E. histolytica podem também ser identificados em amostras de biópsia ou de aspirados obtidos durante uma colonoscopia ou uma cirurgia. CDC - Amebiasis Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Microbiologia Médica e Imunologia [Série Lange] Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 26a Ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. Cap. 46. Amebiasis. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Parasites - Amebiasis (also known as Entamoeba histolytica infection). Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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