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1 - A Justiça no Brasil Colônial

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A Justiça no Brasil Colonial 
DESCRIÇÃO 
A Justiça no Brasil Colonial e o debate sobre a sua organização e importância ao longo do período 
conhecido como Brasil Colonial. 
PROPÓSITO 
Compreender a relação entre História e Direito, para o favorecimento da compreensão dos mecanismos 
disciplinares e das representações simbólicas de exercício do poder, além dos processos e a dinâmica 
intrínseca entre os aspectos judiciais e suas instituições. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Descrever a lenta criação dos sistemas de justiça colonial 
Módulo 2 
Identificar as instituições jurídicas coloniais 
Módulo 3 
Reconhecer, a partir dos eventos da conjuração em Salvador, a dinâmica da justiça colonial 
INTRODUÇÃO 
Partimos da premissa de que o governo e a sociedade no Brasil, em situação de dominação colonial, 
estruturaram-se a partir de sistemas interligados de organização: a administração controlada e dirigida pela 
metrópole, comportando normas e relações impessoais, ao mesmo tempo em que reforçava uma teia de 
relações interpessoais primárias, baseadas em interesses comuns e de parentesco. 
Lidamos, neste material, com o debate sobre o ―abrasileiramento da burocracia‖, que não se opunha à 
centralização do projeto de dominação colonial de Portugal, pois o ponto alto dessa centralização se 
efetivava justamente no Tribunal da Relação da Bahia. 
 
Trata-se, portanto, de um fenômeno que analisaremos em razão do papel do Poder Judiciário no passado e 
na contemporaneidade: a politização da Justiça, típica do Antigo Regime, como projeto de dominação 
colonial, cujo objetivo precípuo foi constituir e fortalecer um setor dominante altamente afinado com a 
Coroa portuguesa e que lhe dava base de sustentação em troca de grandes provimentos e benefícios. 
 
MÓDULO 1 
 
Descrever a lenta criação dos sistemas de justiça colonial 
COLÔNIA? QUE COLÔNIA? 
Vamos voltar ao começo: 
Estamos no século XV, na Europa. Após um longo período marcado por disputas políticas locais, surgem 
três formulações importantes: 
Clique nas barras para ver as informações. 
ESTADO 
Ainda fruto de um Estado de características medievais, mas com um novo sistema burocrático. Em vez de 
relações marcadas somente pela nobreza — ainda que as relações de privilégio e nobiliárquicas 
continuassem fortes —, passamos a ter a constituição de uma burocracia estatal. 
 
Azulejos representando o Torneio na Estação de São Bento, no Porto. 
Comando e sistema de armas, comando e sistemas de comércio — sujeitos que recebiam direitos de 
administrar setores distintos, constituindo um corpo de servidores com uma forma institucionalizada de 
apresentar o resultado de seus trabalhos. 
O Estado Medieval evolui para o Estado Moderno centrado em funções administrativas e burocráticas cada 
vez mais complexas. Essa nova monarquia se envolvia em conflitos militares, mas também em cobranças de 
impostos e administração de uma parte do erário, que passava a ser entendido como público. 
 
 
 
MERCANTILISMO 
Mais do que um movimento econômico, é a consolidação de um valor. Se o comércio sempre esteve 
presente e foi visto com bons olhos pelos impostos, movimento e status, passamos a perceber na 
modernidade uma ação cada vez mais direta do governo nas relações comerciais. 
 
Não só cobrava impostos, mas agora dirimia questões, atuava para fortalecer seu corpo de comerciantes e 
colocava uma parte importante de sua burocracia para controlar e fomentar as estruturas comerciais. 
Como? Depende. Poderia ser no oferecimento de parte do tesouro da própria Coroa em um empreendimento, 
ou a cessão de terras e direitos de exploração, facilitação de impostos, ajuda para compor e criar tripulações 
para a navegação, e até mesmo o direito de fazer pirataria, desde que em nome do próprio rei. 
 
TECNOLOGIAS 
A mudança do papel da técnica é uma característica do século XV. Corporações de ofício ganham peso nas 
cidades, criam organizações e fomentam novos inventos que permitam a melhoria de seu trabalho. Uma 
dessas organizações, por exemplo, ainda é famosa: a União dos Pedreiros da França, que ganhou 
notoriedade na Europa e depois no mundo — a Maçonaria. 
Iniciação à Maçonaria por volta de 1800. 
Com o incremento do papel das guerras, novos canhões, pólvora, combustível, armas de guerra e armaduras 
passaram a ser cada vez mais poderosas e necessárias. Outra tecnologia poderosa que ganha força é a da 
prensa. 
A tecnologia, antes vista como algo perigoso, passa a ser entendida como uma busca necessária, como, por 
exemplo, navios capazes de enfrentar os oceanos com relativa segurança. Técnicas trazidas do Oriente 
permitiam navegar grandes distâncias, sabendo como sair e voltar ao mesmo local. 
 
Chegamos finalmente à nossa história. Um grupo de novos Estados era periférico na 
Europa: Portugal 1 e Espanha 2. Esses países, ainda por cima, ficavam em um estreito peninsular em uma 
cordilheira de montanhas, por terra. Por mar, sua relação era muito mais próxima dos países do mundo 
árabe, como Marrocos 3 e o seu entorno. E, durante 700 anos — entre 711 e 1400 —, o mundo ibérico se 
relacionou muito mais com as rotas saarianas 4 do que com o resto da Europa. 
A FORMAÇÃO DO SISTEMA COLONIAL 
Vamos conversar sobre as mudanças e o estatuto jurídico do Brasil Colonial no século XVI. 
 
DESFAZENDO UM MITO 
O principal motivo de as coroas empreenderem viagens marítimas não era um Mediterrâneo fechado pelos 
turcos, mas a tentativa de retornar o lucrativo comércio que durante séculos eles dominaram e, para tal, se 
lançaram ao mar. 
Dessa forma, os dois pequenos países foram pioneiros em construir impérios coloniais — primeiro 
ocupando o litoral, fazendo postos comerciais; depois mergulhando no ideal colonialista, no domínio e na 
exploração de terras entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XIX. 
 
Litoral de Lisboa em 1572. 
 
Atenção 
Então, que fique claro: não estamos debatendo sobre a invasão ou não dos países europeus às Américas. 
Era o que o momento pedia e foi criado um sistema de violência e dominação. Fatores diversos permitiram, 
facilitaram e, ao mesmo tempo, constituíram desafios para as empresas coloniais. Portugal tinha um enorme 
império e optou, depois de um início focado no comércio, pela transposição de instituições, consolidando 
ações que integraram os novos territórios. 
ESTRUTURA JUDICIÁRIA PORTUGUESA 
Agora descreveremos como a Justiça colonial brasileira é fruto desse 
processo, o que nos remete a muito antes da própria ideia de colônia. 
Para tratar a ―Justiça portuguesa‖ nos documentos e leis da Idade Média, 
precisamos antes de qualquer outra coisa perceber a responsabilidade do 
rei. 
A monarquia portuguesa foi criada pela dissidência do nobre Afonso 
Henriques, que era vinculado a Castela – a principal monarquia que 
criaria a Espanha –, para constituir um reino autônomo. Sua corte era 
ambulante, e o rei trazia consigo juízes que o auxiliavam na função 
judicante. Esses juízes recebiam o nome de ouvidores do 
cível e ouvidores do crime, conforme a matéria de especialização que 
julgavam, e passaram a compor o que se denominou de Casa da Justiça 
da Corte. 
 
 Afonso Henriques 
 
Para apreciar as causas cíveis e criminais, as matrizes normativas básicas utilizadas pelos ouvidores eram: 
 
Lex Romana Wisigothorum (direito comum dos povos germânicos) 
Legislação que remete ao século VII, mas que continuou viva durante o período conhecido como 
Reconquista, em que reis cristãos foram reconquistando territórios que estavam sob o domínio muçulmano, 
e era sempre o primeiro corpo legislativo a ser reposicionado. 
Privilégios (direitos assegurados aos nobres pelos reis) 
A monarquia medieval trabalhava com a ideia de cessão de direitos, para ser nobre ou senhor de uma terra. 
Esses privilégios constituíamuma casta que tinha mais poder e direitos que os demais. 
Forais (leis particulares locais, asseguradas pelos reis) 
Direitos locais, mas que precisavam ser validados e 
autorizados por El Rei. Então, se a terra era cedida, isso 
tinha de ser cumprido; se impostos eram previstos, 
precisavam ser executados em nome do rei. 
 
Com a expansão do Reino pela reconquista do território 
da Península Ibérica aos muçulmanos, e a 
uniformização das normas legais, consolidadas 
nas Ordenações do Reino (Afonsinas de 1480, Manoelinas de 1520 e Filipinas de 1603), foram surgindo 
outras figuras para exercer a função judicante e aplicar as diversas formas normativas. Veremos a seguir os 
cargos existentes: 
. 
 
 Página de rosto da edição princeps do Código Filipino 
 ou Ordenações Filipinas, de 1603 
 
Juízes da Terra (juízes ordinários) 
Eleitos pela comunidade, não sendo letrados, apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o 
direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que empunhavam (dois por cidade). 
Juízes de Fora (criado em 1352) 
Nomeados pelo rei entre bacharéis letrados, com a finalidade de ser suporte do rei nas localidades, 
garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino. Juízes de órfãos – com a função de ser guardiões dos 
órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a eles ligadas. 
Provedores 
Considerados acima dos juízes de órfãos para cuidar das instituições de caridade (hospitais e irmandades) e 
legitimar testamentos – na maioria das vezes feitos verbalmente, gerando conflitos. 
Corregedores 
Nomeados pelo rei, com função investigatória e recursal, inspecionavam como se dava a administração da 
justiça nas cidades e vilas, julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados. 
Desembargadores 
Da alta magistratura de 2ª instância, apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (para obter a 
clemência real). Recebiam tal nome porque despachavam (―desembargavam‖) diretamente com o rei. 
Segundo Martins Filho (1999), a partir de 1521, o Desembargo do Paço tornou-se corte independente e 
especial, e, em 1532, foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para a resolução dos casos jurídicos e 
administrativos referentes às ordens militares e religiosas, que tinham foro privilegiado (Ordens de Cristo, 
de Avis e de Santiago). Acabou exorbitando sua função, para julgar as causas eclesiásticas envolvendo os 
clérigos do Reino. 
 
A Casa da Suplicação tornou-se a Corte Suprema para Portugal e para as colônias, com a instituição 
dos tribunais de Relação como cortes de segunda instância. Foram criadas as relações do Porto, para 
Portugal; da Bahia, para o Brasil; e de Goa, para a Índia. Assim, a Casa da Suplicação passou a ser o 
intérprete máximo do direito português, constituindo suas decisões assentos que deveriam ser acolhidos 
pelas instâncias inferiores como jurisprudência vinculante. 
ESTRUTURA EM TRANSPOSIÇÃO 
A unidade básica do Sistema Judiciário no Brasil Colonial era o conselho que abrigava, entre outros, 
o meirinho e o tabelião. O funcionário mais importante era o juiz ordinário ou juiz da 
terra (SCHWARTZ, 1979, p. 4-5), e era preciso ser um ―homem bom‖ da localidade para ser eleito para 
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essa função, que misturava atribuições judiciais e administrativas (WEHLING, A.; WEHLING, J. M., 2004, 
p. 18). 
Geralmente eram designados dois juízes ordinários para o conselho de cada cidade. Com o passar do tempo, 
a Coroa notou que esses juízes sofriam ameaças ou acabavam se utilizando da função para favorecimentos e 
abusos, o que a levou a criar, em 1352, um novo cargo: o de juiz de fora (SCHWARTZ, 1979, p. 5). 
 
Sistema básico do Judiciário da Colônia. 
 
Os juízes de fora eram escolhidos pelo rei, o que os tornava menos sujeitos às pressões locais. Em 1580, já 
estavam presentes em mais de cinquenta cidades. No Brasil, os juízes de fora somente foram estabelecidos a 
partir de fins do século XVII (WEHLING, A.; WEHLING, J. M., 2004, p. 31). Os juízes dos órfãos, por sua 
vez, eram funcionários de nível municipal que atuavam em cidades com mais de 400 habitantes. 
Quando as cidades possuíam uma população inferior a 400 habitantes, cabia ao juiz ordinário fazer a função 
de juiz dos órfãos: cadastrar os órfãos em sua jurisdição, arrolar bens móveis e imóveis, fazer inventários 
sempre que os herdeiros fossem menores de 25 anos, autorizar casamentos, velar pelos bens e educação, 
entre outras atribuições (WEHLING, A.; WEHLING, J. M., 2004, p. 21). 
Em nível superior, em comarca, havia o provedor, que, além dos órfãos, era responsável também por 
hospitais e irmandades leigas, legitimações de testamento e a coleta de alguns aluguéis e impostos 
(SCHWARTZ, 1979, p. 6). 
Na segunda metade do século XVIII, a organização judiciária do império português era a seguinte: 
 
 
 
As relações eram tribunais de segunda instância para os quais eram remetidas as apelações e os agravos de 
sentenças e despachos dos juízes ordinários e dos juízes de fora. Na segunda metade do século XVIII, a 
organização judiciária do império português incluía a Relação do Porto, três tribunais da Relação em além-
mar – Goa, Bahia e Rio de Janeiro – e a Casa da Suplicação, que, além de funcionar como Relação de 
Lisboa, era o tribunal de última instância, cuja organização interna e procedimentos foram usados como 
modelos para os outros tribunais. 
Existia também o Desembargo do Paço, que não era um tribunal, mas sim um conselho governamental cuja 
principal função era a de assessoria para assuntos de justiça e administração; e a Mesa de Consciência e 
Ordens, análoga ao Desembargo do Paço, sendo um conselho para assuntos relacionados à Igreja, 
consciência real e o Santo Ofício (SCHWARTZ, 1979, p. 10). 
O primeiro tribunal de apelação criado além-mar foi a Relação de Goa, que logo após ser instalada, em 
1544, já sofria reclamações em relação aos seus magistrados. A ideia era propor uma forma de reduzir os 
processos e os litígios de um espaço como as colônias em que a distância do centro ampliava os embates 
políticos, muitas vezes ganhando contornos violentos. Para a América Portuguesa, até 1530 não houve 
tentativa de legislação sistemática (SCHWARTZ, 1979, p. 19). 
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Representação de Goa do século XVI. 
Em 1533 iniciou-se o estabelecimento das capitanias hereditárias. A Coroa portuguesa buscou estabelecer 
privilégios e isenções fiscais aos donatários, num processo similar ao que ocorria na metrópole com alguns 
membros da alta nobreza. Porém, logo foi compreendido que a concessão de privilégios não favorecia o 
aumento do poder real, e a Coroa detectou a necessidade de centralização. 
 
ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E A FUNDAÇÃO DE UM 
SISTEMA JUDICIÁRIO 
Com a ineficiência do sistema de capitanias hereditárias na administração da Justiça e da colonização, a 
Coroa decidiu centralizar o governo do Brasil na criação do cargo de governador-geral e do fornecimento de 
oficiais de Justiça (SCHWARTZ, 1979, p. 22-23). 
Em 1549 foi criado o posto de governador-geral, com Tomé de Sousa assumindo a função de trazer para o 
Brasil um governo centralizado. Sua vinda marcou a chegada de homens incumbidos de ocupar diversas 
funções administrativas na colônia. Apesar do processo de colonização ainda estar nos primeiros passos, a 
situação na colônia já dava os sinais do que estava para vir: 
Grassava o abuso administrativo e a incompetência [...]. A incompetência judicial contribuiu 
para a situação turbulenta do Brasil, mas a raiz dessa situação se encontrava nas múltiplas 
oportunidades para a prática de excessos e de atos licenciosos. O braço da lei não chegava a áreas 
remotas e a esparsa colonização tinha como resultado a falta de pressãocomunitária para apoiar a 
moralidade e o respeito pela lei. 
(SCHWARTZ, 1979, p. 24-25) 
Durante essas primeiras décadas da colonização do Brasil, a Justiça parecia ser algo muito distante da 
realidade. A ação judiciária, por força das Ordenações, com a sua formalística e intrincada minúcia 
processual, era morosa. A atuação revisionista da Ouvidoria-Geral quase se anulara; os recursos interpostos 
para o Reino eram intermináveis e caros. 
As causas se eternizavam, muita vez liquidadas violentamente com sangue ou com acordos, por vezes, 
desonestos. Eram contínuas as reclamações que não tinham resposta da Casa da Suplicação, tampouco 
mereciam o conhecimento do Conselho Ultramarino. Ao coro dos litigantes não tardaram se juntar os rogos 
da Mesa de Vereança e as solicitações dos governadores que, de perto, sentiam o drama daqueles que 
clamavam por justiça (RUY, 1957, p. 9). 
No final do século XVI, com o aumento do comércio do açúcar, a população da colônia cresceu, o que 
provocou a ampliação do número de litígios. Ruy (1957, p. 9) chama atenção para o desequilíbrio vivido no 
quadro social confuso da Bahia. Lá, as paixões, as disputas, a falta de vigilância, os abusos de autoridade e a 
dificuldade de punir crimes precisavam urgentemente de um grupo capaz de exercer fiscalização. 
Em Portugal, 1580 marca o início da União Ibérica, o que fortaleceu a necessidade de reformas no sistema 
judicial, incluindo os problemas com a Justiça colonial. Quando o governo português pensou em rever a 
política colonial do Brasil, um dos problemas cuja solução exigiam precedência era o que dizia respeito à 
Justiça, cuja reforma se impunha como necessária à administração do governador-geral, mas que deveria ser 
processada sem provocar conflito com os donatários protegido pelos Forais (RUY, 1957, p. 9). 
Com a ascensão de Felipe II ao trono português a decisão de criar um tribunal na América Portuguesa foi 
tomada. No entanto, o Tribunal da Relação da Bahia de 1588 fracassou por causa de um problema com a 
embarcação que transportava os desembargadores designados para instalar o tribunal nas terras brasileiras. 
Apesar do insucesso da tentativa, o regimento preparado em 1588 ficou guardado e acabou sendo utilizado 
com poucas modificações em 1609, quando a Relação da Bahia começou a funcionar (SCHWARTZ, 1979, 
p. 45). 
Resumindo 
Nos anos seguintes, o assunto da criação do tribunal ficou parado, mas, como as reclamações sobre as 
condutas dos funcionários de Justiça da colônia só faziam crescer e chegavam à metrópole, em pouco tempo 
os debates sobre um tribunal no Brasil recomeçaram, culminando, em 1609, com a instalação da Relação da 
Bahia. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
 
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1. As principais instituições jurídicas implementadas no Brasil no período 
colonial tinham origem em Portugal, como as destacadas a seguir: 
 
I. Juiz de Fora 
 
II. Desembargadores do Paço 
 
III. Tribunal da Relação 
 
Agora assinale a alternativa correta: 
A) I apenas. 
B) II apenas. 
C) III apenas. 
D) I e II. 
E) I e III. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "E" está correta. 
 
O Tribunal da Relação é uma estrutura colonial presente em todo o Império Português, desde Índia, 
Salvador, Porto, por exemplo. Os juízes de fora eram escolhidos para ir até regiões e, em nome da coroa, 
resolver demandas locais. Já o desembargo do paço faz parte da estrutura, mas é do centro do poder, uma 
estrutura metropolitana, não colonial. Nas colônias, o que temos são os desembargadores que constituíam os 
tribunais da Relação. 
2. Ao contrário do que se imagina, a colônia não era um espaço amplo e descentralizado de 
exploração, com pouca intervenção fora desse sentido da corte portuguesa. A ideia de que Portugal 
constituiu uma complexa empresa colonial associa seu sistema judiciário e administrativo, sendo uma 
relação inseparável. 
 
Nesse processo, algumas fases importantes devem ser destacadas, como as dispostas a seguir: 
 
I. O governador-geral, além de um papel de fiscalização, tinha como uma de suas demandas unificar e 
organizar os processos jurídicos no Brasil. 
 
II. A criação do Tribunal da Relação de Salvador, em 1609, demonstra as dificuldades de sua manutenção 
com sua supressão em 1626, fruto do impacto de invasões como a de holandeses. 
 
III. A União Ibérica destituiu todo o ordenamento jurídico brasileiro, gerando um período de mais de 
sessenta anos de retrocesso, só sendo retomado no século XVIII. 
 
Agora assinale a alternativa correta: 
A) I apenas. 
B) II apenas. 
adria
Realce
adria
Realce
adria
Realce
adria
Realce
C) III apenas. 
 
D) I e II. 
 
II e III. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "D" está correta. 
 
São diversos os processos que marcam a organização da justiça no Brasil, sempre sensível a eventos 
políticos, mas sem gerar, por isso, uma parada. Todos os momentos citados são importantes, mas a terceira 
alternativa está incorreta, pois as Nomeações Filipinas foram importantes para o ordenamento jurídico, 
tendo sido mantidas, inclusive, após Portugal ter retomado sua autonomia. 
 
 
MÓDULO 2 
 
Identificar as instituições jurídicas coloniais 
PRIMEIRA RELAÇÃO (1609) E SEGUNDA RELAÇÃO (1652): 
REGIMENTOS E FUNÇÕES 
AS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS JURÍDICAS E SEU CONTEXTO 
No vídeo a seguir, o professor Rodrigo Rainha faz um inventário dos principais eventos políticos brasileiros 
— capitanias hereditárias, invasão holandesa e mudança da capital para o Rio de Janeiro. 
Todos os tribunais do Império Português seguiam um padrão de organização, e o primeiro Tribunal da 
Relação no Brasil era subordinado à Casa da Suplicação. O regimento, promulgado em 7 de março de 1609, 
determinava a composição da Relação da Bahia com dez desembargadores, sendo um chanceler — juiz da 
chancelaria — três desembargadores de agravos, um ouvidor-geral, um juiz dos feitos da Coroa, 
Fazenda e Fisco e promotor da Justiça, um procurador dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco, um 
provedor dos defuntos e resíduos e dois desembargadores extravagantes (SILVA, 1854). 
O primeiro período da Relação da Bahia durou de 1609 até a sua supressão pelo alvará de 5 de abril de 1626. 
O caos instalado pela invasão holandesa em Salvador, em 1624, afetou a vida dos magistrados: os que não 
conseguiram fugir foram feitos prisioneiros. O chanceler Antão de Mesquita de Oliveira acabou eleito líder 
da resistência apenas para ser afastado pelo bispo Marcos Teixeira dias depois (SCHWARTZ, 1979, p. 174). 
A relação entre o tribunal e o clero na década de 1620 foi marcada por disputas de poder, e, entre as razões 
apontadas por Schwartz para a extinção da Relação da Bahia, está a existência de inimizades na colônia, 
sendo o bispo um desses inimigos. 
 
Planta da restituição da Bahia. 
Além do clero, a Câmara de Salvador sempre apresentou uma posição de dubiedade em relação ao Tribunal 
da Relação, fomentando um relacionamento que variava entre uma cordialidade formal e a hostilidade. 
Como representante dos senhores de engenho e de todos os estratos que possuíam algum status na colônia, a 
Câmara não confiava na Relação, temendo que em algum momento pudessem ser subtraídos seus poderes ou 
mesmo que tal elemento judiciário viesse a atrapalhar os negócios das pessoas ali representadas (OLIVEIRA 
FILHO, 2009, p. 33). 
Ao analisar a opinião de alguns cronistas da época, Garcia (1975, p. 39) concluiu que ―a Relação, parece, 
não era bem vista no Brasil, pelas despesas e incômodos que acarretava‖. Existiam algumas opiniões 
contrárias ao Tribunal da Relação da Bahia: o autor de Diálogos das grandezas do Brasil (1618) era 
partidário da substituição da Relação por mais duas ouvidorias além da Bahia — uma no Rio de Janeiro e 
outra mais ao norte — enquanto outro escritor do período, o autor de Razão do Estado do Brasil, fez o que 
se entendeu como: 
[...] a primeira queixa que aparece no Brasil contra o bacharelismo. Pondoo sentido e o coração na 
pátria, tratam de se acolher tanto que da província confusa tem esfolado alguma cousa com que se 
fazer possam: daqui nasce tanto trocar, tanto mentir, tanta trapaça, que as novas delas não fazem 
senão acarretar bacharéis à pobre província [...]. 
(GARCIA, 1975, p. 39) 
Foi, portanto, um clima de desagrado geral com o sistema judicial (SCHWARTZ, 1979, p. 174) e a guerra 
contra os holandeses que selaram o destino da Relação da Bahia: a Coroa optou por encerrar o tribunal 
(Alvará de 5 de abril de 1626) e alocar os vencimentos dos desembargadores para o sustento do Presídio da 
Gente de Guerra da Bahia de Todos os Santos (SILVA, 1854). 
Atenção 
Sem a Relação, foi necessário mexer na estrutura judicial da colônia, e a solução encontrada pela metrópole 
foi a de voltar ao esquema pré-Relação, com o ouvidor-geral. A Relação da Bahia se reergueu apenas em 
1652, reflexo de um momento marcado novamente por mudanças em Portugal, que vivenciava o período 
da restauração da independência. 
CONSELHO ULTRAMARINO 
A criação do Conselho Ultramarino, em 1642, marcou uma nova etapa de reformas administrativas e uma 
possibilidade: um ano após sua instauração, seus conselheiros receberam a petição para o restabelecimento 
da Relação na Bahia. Curiosamente, a Câmara de Salvador, que, em 1626, tivera um dos papéis principais na 
extinção da Relação, agora passou a ser uma das principais agitadoras para o seu renascimento 
(SCHWARTZ, 1979, p. 193): o preâmbulo da lei de 12 de setembro de 1652, que o restaurou, deixa claro 
que havia um pedido da Câmara e dos moradores para que a Relação fosse reinstalada. 
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Uma das mudanças no regimento de 1652 foi em relação ao número de desembargadores, que de dez, em 
1609, foi reduzido para oito: 
Composição da Relação Regimento de 1609 
1 chanceler – juiz da chancelaria 
3 desembargadores de agravos 
1 ouvidor-geral 
1 juiz dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco, e promotor da justiça 
1 Procurador dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco 
1 provedor dos defuntos e resíduos 
2 desembargadores extravagantes 
 X 
Composição da Relação Regimento de 1652 
1 chanceler – juiz da chancelaria 
2 desembargadores de agravos 
1 ouvidor-geral dos feitos e das causas crimes, também auditor da gente de guerra 
1 ouvidor-geral dos feitos e causas cíveis, que também atuava como auditor das causas cíveis entre os 
privilegiados e soldados 
1 juiz dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco 
1 procurador dos feitos da Fazenda, Coroa e Fisco e promotor da justiça 
1 provedor das fazendas dos Defuntos, Ausentes e Resíduos 
Regimento do Tribunal do Estado do Brasil. 
 
A redução das vagas pelo regimento de 1652 eliminou dos quadros do Tribunal da Relação da Bahia um 
cargo de desembargador dos agravos e um de desembargador extravagante. Outra mudança foi o 
desmembramento do posto de ouvidor-geral para a criação de um ouvidor-geral do crime e um ouvidor-geral 
do cível. A função de cada um dos desembargadores é descrita nos regimentos. 
Segundo Schwartz (1979, p. 199, 205), o regimento de 1652 elencou as atribuições de cada cargo entre os 
títulos II e VII da seguinte maneira: 
CHANCELER 
 Ver as cartas e sentenças que forem dadas pelos desembargadores da Relação, seguindo a maneira feita pelo 
chanceler da Casa de Suplicação; 
 Conhecer as suspeições postas aos desembargadores e demais oficiais; 
 Conhecer os casos e erros dos tabeliães e outros oficiais, e as apelações e os agravos dos ditos oficiais, 
usando o regimento dado ao juiz da chancelaria da Casa de Suplicação; 
 Fazer audiências; 
 Fazer uso do regimento dado ao chanceler da Casa de Suplicação de legislação extravagante, quando 
puderem ser aplicadas. 
 
DESEMBARGADORES DE AGRAVOS 
 Conhecer dos agravos e apelações das sentenças definitivas que o ouvidor-geral do cível e o provedor derem 
aos defuntos e resíduos dos casos cíveis que não couberem em suas alçadas; 
 Conhecer as apelações de casos crimes que saírem do ouvidor geral e dos juízes ordinários e dos órfãos e de 
quaisquer outros julgadores da cidade de Salvador, dos ouvidores das capitanias e de todas as sentenças de 
casos cíveis dadas por qualquer julgador de todo o Estado do Brasil, que excederem a alçada deles; 
 Conhecer de todas as apelações de casos crimes que vierem de todos os julgadores do Estado do Brasil. 
 
OUVIDOR-GERAL DO CRIME 
 Conhecer por ação nova os delitos que forem cometidos na cidade de Salvador e em cada um dos lugares 
que forem da jurisdição da capitania; 
 Conhecer de todos os instrumentos de agravo ou cartas testemunháveis ou feitos crimes nos casos em que se 
puder remeter, que vierem de quaisquer partes do Estado do Brasil; 
 Conhecer por petição todos os agravos crimes que as partes tirarem diante dos juízes e do ouvidor da cidade 
do Salvador, e de todos os lugares que forem da jurisdição, aos quais mandará por si só, responder, e os tais 
agravos despachará em Relação, se as partes quiserem agravar diretamente para a Relação; 
 Passar cartas de seguro; 
 Advogar por petição os feitos crimes. 
 
OUVIDOR-GERAL DO CÍVEL 
 Conhecer por ação nova todos os feitos cíveis da cidade de Salvador e dos lugares que forem da jurisdição; 
 Fazer sentenças interlocutórias. O regimento determina também os valores de alçada. 
 
JUÍZES DOS FEITOS DA COROA, FAZENDA E FISCO 
 Conhecer de todos os feitos da Coroa e Fazenda por ação nova e por petição de agravo. Fora de Salvador, 
eles conhecerão por apelação, por instrumento de agravo ou por cartas testemunháveis; 
 Servirá juntamente de juiz do fisco e usará em tudo do regimento dado ao juiz do fisco da Casa de 
Suplicação; 
 Conhecerá de todas as apelações e agravos que saírem do provedor-mor em casos que não couberem em sua 
alçada. 
 
PROVEDOR DAS FAZENDAS DOS DEFUNTOS, AUSENTES E 
RESÍDUOS 
 Conhecer por ação nova em Salvador e em toda a jurisdição, dando agravo nos casos que não couberem em 
sua alçada; deve usar o regimento e a legislação extravagante dos provedores dos órfãos e resíduos da cidade 
de Lisboa; 
 Tomar particular cuidado de saber quando as naus e os navios do reino chegam em Salvador e outros portos, 
se faleceu neles alguma pessoa e o modo em que se procedeu no inventário de suas fazendas, fazendo por 
tudo em boa arrecadação; 
 Ter particular cuidado de mandar todos os anos por letras nas naus e navios do Reino todo o dinheiro que 
houver em seu juízo proveniente dos defuntos, para ser entregue as pessoas a quem pertencer. 
 
Em adição ao desembargadores, o Tribunal da Relação da Bahia contava com outros oficiais: dois escrivães 
de agravos e apelações, um escrivão para a ouvidoria do crime, um escrivão para a ouvidoria do cível, um 
escrivão para servir no Juízo da Coroa, Fazenda, Fisco e Chancelaria, um meirinho das cadeias e um guarda 
da Relação, cuja função consistia na distribuição dos feitos e no recebimento do dinheiro das condenações, 
devendo prestar contas anualmente para um desembargador designado pelo governador. 
As incumbências do governador na Relação da Bahia estão definidas no título I do regimento de 1652. Já no 
parágrafo 1º do dispositivo, o governador deveria ir à Relação ―às vezes que lhe parecer‖, sem votar nem 
assinar sentenças, e usando somente o regimento utilizado pelo regedor da Casa de Suplicação, podendo 
utilizar as leis extravagantes onde pudessem ser aplicadas. 
O restabelecimento não alterou significativamente o papel do governador-geral, que continuava a atuar 
como presidente do tribunal, e a dinâmica entre a Relação e os governadores continuou semelhante ao que 
era no início do século XVII: um exercício de controle entre as partes. Segundo Schwartz (1979), a Coroa 
queria uma administração colonial que funcionasse tranquilamente, mas sem que existissem relações muito 
próximas entre os diversos funcionários: 
Ordens reaisinstruíram os governadores-gerais a levarem a sério seu papel de regedor do 
Tribunal e a darem regularmente atenção aos negócios a ele pertinentes. O regimento outorgado ao 
Governador Roque da Costa Barreto, em 1677 serve de modelo; nele, era advertido para resguardar a 
lei e a justiça do rei, para se assegurar de que os magistrados cumpriam seus deveres e para fazer o 
relatório dentre desempenho de cada juiz. Alguns levaram as instruções a sério e outros, não. [...] é 
impossível saber quantos iam regularmente às sessões [...]. Parece que os governadores que não 
davam grande atenção à Relação evitavam conflitos abertos enquanto os funcionários mais antigos, 
que levavam seus deveres judiciais a sério, entravam em atrito com os juízes. As avaliações de 
membros da Relação, feitas pelos governadores, eram de natureza tão geral que não tinham nenhum 
valor. Às vezes, no entanto, havia algumas tentativas reais de relatar o comportamento dos 
magistrados [...]. 
(SCHWARTZ, 1979, p. 215) 
TRIBUNAIS DA RELAÇÃO DO RIO DE JANEIRO E DA BAHIA 
Durante um século (1652-1751), a Relação da Bahia permaneceu como o único tribunal no Brasil. Na 
metade do século XVIII, a colonização do território brasileiro já tinha adquirido novos contornos 
geográficos e econômicos, e a descoberta de ouro na região das Minas Gerais havia aumentado a relevância 
da região sul. Por isso, as vilas que se localizavam ao redor da zona de mineração passaram a requerer que a 
Coroa estabelecesse um Tribunal da Relação no Rio de Janeiro. 
 
Tribunal da Relação na Bahia, por volta de 1926. 
 
 
Essa região foi ganhando importância econômica e política desde as primeiras décadas do século XVIII. A 
população crescia e, com isso, o volume de recursos enviados ao Tribunal da Relação da Bahia também 
aumentava exponencialmente. Tudo isso demandou que a Coroa estabelecesse um novo tribunal que 
contemplasse as capitanias do sul, o que se concretizou em 1751, quando foi instituída a Relação do Rio de 
Janeiro. 
 
Desembargadores da Casa de Suplicação, em litografia do livro 
Viagem pitoresca, publicado em 1839, de Jean-Baptiste Debret. 
 
De fato, razões de distância, demoras, despesas e perigos são os motivos citados no preâmbulo da lei de 13 
de outubro de 1751, que instituiu e deu regimento ao Tribunal do Rio de Janeiro. A norma também alega 
que, com a criação do novo tribunal, a Coroa estaria provendo uma boa administração da Justiça, pois, 
anteriormente, a população local havia solicitado custear a criação de uma nova Relação na cidade. Embora 
esses sejam os argumentos oficiais, existiram outras motivações para a instalação. 
A criação de um tribunal no Rio de Janeiro representou um avanço no reconhecimento da importância 
política da cidade que culminaria em 1763, com a sua elevação à capital do vice-reinado (SCHWARTZ, 
1979, p. 210). Essa ascensão do Rio de Janeiro é esmiuçada por Bicalho (2013) por meio do conceito 
de capitalidade: 
[...] a noção e a experiência de capitalidade relacionados ao Rio de Janeiro na segunda metade 
do século XVIII eram condizentes com seu papel de articulação política e econômica, assim como de 
defesa do território central e meridional da América, além de ser o principal porto do Atlântico Sul. 
Esse papel se reafirma nos últimos anos daquela centúria, até que, em 1808, num extraordinário jogo 
de inversão, a cidade se metamorfosearia em corte e capital da monarquia e do império português, 
redimensionando os elementos e o significado de sua capitalidade. 
(BICALHO, 2013, p. 20) 
Resumindo 
Ou seja, a capitalidade é uma condição que só podia ser adquirida se um centro conseguisse aliar a 
capacidade de repercutir a sua influência em determinado espaço com a aptidão de estruturar e estabelecer 
hierarquias no interior de um território e sustentar essas ligações. Dessa forma, na segunda metade do século 
XVIII, o Rio de Janeiro conseguiu atingir esses critérios de capitalidade. 
Entretanto, o fato de o Rio de Janeiro possuir capitalidade a partir de meados do século XVIII não significou 
um esgotamento da capitalidade da Bahia. A Bahia compartilhava capitalidade com o Rio de Janeiro 
(NEVES, 1988) e, entre as razões para isso, estavam o crescimento da economia da capitania e a 
influência política de d. Fernando José de Portugal e Castro, que governou a Bahia entre 1788 e 1801 e foi 
vice-rei do Brasil entre 1801 e 1806. A economia de exportação baiana teve um crescimento real no período 
entre 1780 a 1860 (aumento no volume das exportações e nas receitas em termos reais) (BARICKMAN, 
2003). 
No âmbito do exercício da Justiça na colônia, pode parecer, à primeira vista, que a criação de um novo 
tribunal no Rio de Janeiro tenha diminuído a importância da Relação da Bahia, mas não foi o que aconteceu. 
Os efeitos imediatos da instalação da Relação do Rio de Janeiro realmente afetaram a Relação da Bahia em 
dois aspectos: a jurisdição e a quantidade de desembargadores. 
Jurisdições 
dos Tribunais da Relação do Brasil (1752) – Alvará de 13 de outubro de 1751. 
 
Embora o tribunal do Rio de Janeiro tenha recebido a jurisdição das capitanias ao sul do 
Espírito Santo, a Relação da Bahia continuou com as capitanias do norte-nordeste e, em 
1753, recebeu a jurisdição sobre as ilhas do golfo da Guiné (VALIM, 2012 p. 90-91). A 
jurisdição da Relação da Bahia nas ilhas de São Tomé e Príncipe gerou um episódio 
controverso no tribunal no final do século XVIII, como observaremos no final do módulo. 
Quanto à quantidade de desembargadores que compunham a Relação da Bahia, vimos 
que dos dez previstos no regimento de 1609 houve uma diminuição para oito no 
regimento de 1652. Em 1752, dois foram deslocados do Tribunal da Bahia para o do Rio 
de Janeiro, para ajudar no início das atividades do novo tribunal (nova Relação no Rio de 
Janeiro): Agostinho Felix dos Santos Capello e Manuel da Fonseca Brandão. Com a 
partida deles e o afastamento de outro desembargador (por doença), a Relação da Bahia 
ficou desfalcada e operando com apenas quatro ministros, o que fez com que o vice-rei, 
conde de Athouguia, informasse ao secretário de Estado da Marinha e dos Negócios 
Ultramarinos, Diogo de Mendonça Corte Real, que a falta de desembargadores na 
Relação da Bahia comprometia a boa administração da Justiça: 
Com a occazião da mudança desses Minystros devo renovar a V. 
Exª a lembrança da falta que há deles nessa Relação; pois 
prezentem-se não ficam nella mais de quatro, excepto [ilegível], e 
ainda destes o Dezembargador Jorge Salter de Mendonça se acha 
enfermo há quatro mezes: Dessa falta avizey a V. Exª em junho do 
anno passado pella carta de que remeto cópia, sendo grande o 
prejuízo que experimenta a boa administração da justiça. 
(AHU_ACL_CU, 1752, doc. 227-229) 
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Posteriormente, os desembargadores da Relação da Bahia foram repostos: entre janeiro de 
1752 e abril de 1755, catorze magistrados ingressaram no tribunal. Conforme Oliveira 
Filho (2009), no decorrer da segunda metade do século XVIII, o número de 
desembargadores do Tribunal da Relação da Bahia foi aumentado de oito, em 1652, para 
onze (AHU_ACL_CU, 1752). 
Assim sendo, com o aumento no número dos desembargadores e com a inclusão dos 
territórios do golfo da Guiné na jurisdição do tribunal, a Coroa conseguiu preservar a 
relevância da Relação da Bahia na América Portuguesa. 
Cabe salientar que não havia hierarquia entre o tribunal do Rio de 
Janeiro e o da Bahia, sendo ambos subordinados à Casa da Suplicação. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
 
1. O Tribunal da Relação é uma das principais instituições coloniais. Sobre seu funcionamento, leia as 
afirmações a seguir: 
 
I. A Câmara e a Relação mantinham uma estrutura de cooperação, uma vez que eram braços da 
administração pública metropolitana da colônia, partindo do princípio de se ajudarem para manter o controle 
local. 
 
II. A composição dos tribunais da Relação de Salvador,primeira constituição e segunda constituição se dá 
pela supressão do governo geral durante a invasão holandesa, que acabou por dominar o a estrutura colonial 
por sessenta anos, assim como sua restauração é marco da retomada de poder por Portugal. 
 
III. Durante o período sem o Tribunal da Relação, tal estrutura foi mantida pelo ouvidor-mor, em algo 
parecido com a estrutura pré-relação, ainda que os desembargadores tenham sido mantidos, só tendo a fonte 
pagadora sido realocada. 
Agora assinale a alternativa correta: 
 
I. 
II. 
III. 
I e II. 
II e III. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "D" está correta. 
As duas primeiras opções estão incorretas, uma vez que o tribunal tem uma desestruturação, mas não por 
causa da União Ibérica. Ainda que a Câmara e a Relação pudessem ter momentos de cooperação, também 
nutriam forte desconfiança entre si. Durante o período de sua destituição, os ouvidores passaram a ter função 
primordial, e os desembargadores ficaram vinculados à cadeia pública. 
2. Entre as principais medidas dos períodos de institucionalização da Justiça colonial no Brasil, podemos 
destacar como referenciais os eventos a seguir: 
 
I. A consolidação do Conselho Ultramarino como órgão de relação fundamental para a Câmara e a Justiça. 
 
II. A criação de um Tribunal da Relação no Rio de Janeiro, que substituiu o Tribunal da Relação de 
Salvador. 
 
III. A criação do conselho laico de Justiça como forma de combate à influência do direito canônico. 
 
Agora assinale a alternativa correta: 
I e II. 
II e III. 
I e III. 
II apenas. 
I apenas. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "E" está correta. 
Os tribunais da Relação do Rio de Janeiro e de Salvador não eram excludentes e mantinham uma relação 
direta com o paço em Portugal. A relação com o direito e a tradição canônica também é função assumida 
pelo Tribunal da Relação. Por esses motivos, só está correta a primeira afirmativa, sobre o papel do conselho 
ultramarino. 
 
MÓDULO 3 
 
Reconhecer, a partir dos eventos da conjuração em Salvador, a dinâmica da justiça 
colonial 
JUSTIÇA EM AÇÃO 
Como vocês já notaram, a Justiça colonial é estruturada e complexa. A ideia de que a colônia não tinha uma 
estrutura judiciária é algo absolutamente frágil. De fato, temos na Justiça um corpo aristocrático e a 
implementação de uma ordem que visava estabelecer uma burocracia comum. 
Esse sistema de integração burocrático constituía um sistema público, reconhecido, e que fornecia durante o 
período colonial um sistema de reconhecimento. Quer dizer, se não existe um sentimento nacional, há uma 
perfeita ideia de integração e reconhecimento de autoridades de características judiciais. 
Outro aspecto fundamental era a longevidade. A manutenção das ordenações Manuelinas e Filipinas 
acabaram por gerar um reconhecimento estrutural das instituições legislativas e administrativas. 
Mas aqui chegamos a um desafio: manter a estrutura discricionária geraria uma falta de profundidade. 
Preferimos, portanto, inseri-los em um caso da Justiça em funcionamento, e assim optamos por um evento: a 
Conjuração Baiana. Faremos um trabalho de investigação, buscando depoimento, ações e documentações. O 
foco é que você, pelo microcosmo, possa perceber a dinâmica judicial brasileira. 
A JUSTIÇA COLONIAL EM AÇÃO 
Conheceremos os casos das conjurações baiana e mineira. 
CONJURAÇÃO BAIANA DE 1798: POLITIZAÇÃO DA JUSTIÇA 
Ao chegar à cidade da Bahia, em 1788, d. Fernando José de Portugal e Castro estava encarregado de corrigir 
os desvios da malha burocrática da capitania que até 1763 tinha sido a sede do vice-reinado. Em relação à 
Justiça, o governador solicitou que o secretário de Estado e Governo do Brasil, José Pires de Carvalho e 
Albuquerque, indicasse uma relação dos advogados que até aquele momento tinham apresentado 
documentos comprobatórios de suas formações para continuar habilitados no exercício da advocacia. 
Do total de 28 advogados que atuavam na capitania da Bahia, até aquele momento, 16 apresentaram 
documentos, e os demais constavam na lista como ―advogados por provisão‖ ou ―advogado formado‖, que 
em ambos os casos significava ausência de documentação comprobatória e falta de ―habilitação‖ para a 
advocacia (APEB, 1782-1799). Mesmo com as exigências, algumas pessoas continuaram advogando na 
capitania da Bahia ―por provisão‖, como é o caso de José Barbosa de Oliveira, que mesmo tendo cursado 
Cânones na Universidade de Coimbra em 1768 (ÍNDICE, 2015), formando-se bacharel em 1776, não 
apresentou documentação probatória e continuou ―advogando por provisão‖. 
José Barbosa de Oliveira nasceu em 1749, na cidade de Salvador. Era filho do sargento-mor Antônio 
Barbosa de Oliveira, homem de cabedal, que arrematara um ofício de tabelião público do judicial e notas da 
Bahia pelo valor de 10:400$000 (OLIVEIRA, 1943, p. 11-15). Seu pai era próximo do grupo da corporação 
dos enteados envolvidos na Conjuração Baiana de 1798, do qual José Pires de Carvalho e Albuquerque era a 
figura mais proeminente, e com os funcionários régios da capitania da Bahia, fornecendo-lhes atestações de 
―ausência de limpeza de mãos‖ em várias residências, como a do desembargador Jozé Theotônio Sedron 
Zuzarte, por exemplo (AHU_CU_CA, 1794). 
 
Bandeira da Conjuração baiana. 
Nos vários conflitos nos quais José Pires de Carvalho e Albuquerque estava envolvido, Antônio Barbosa de 
Oliveira testemunhou a favor do secretário de Estado e Governo do Brasil na maioria deles. O grupo 
comandado por José Pires de Carvalho e Albuquerque, que lhe forneceu ―atesttações‖, era composto por 
Antônio Estanislao Correia, Domingos da Rocha Barros (AHU_CU_CA, 1778), José Gularte da Silveira 
(AHU_CU_CA, 1767; AHU_ACL_CU_005, 1791), Antônio Cordeiro Villaça, Bernardino de Sena e 
Araújo, Manoel José Villela de Carvalho, Francisco Vicente Viana, Antônio Barbosa de Oliveira e Caetano 
Maurício Machado. 
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Folha de rosto do Arquivo Histórico Ultramarino. 
Desses quase todos ocuparam cargos da administração local, três eram proprietários dos escravos, um deles 
foi o advogado de defesa dos réus e dois formularam as principais denúncias sobre os quatro réus enforcados 
(APEB, 1998). Talvez tenha sido pela proximidade de seu pai com a corporação dos enteados que José 
Barbosa de Oliveira foi designado a ser o advogado de defesa dos indiciados no crime de lesa-majestade, 
conspiração contra a Coroa de Portugal, deflagrada em 1798. 
Na manhã de 12 de agosto de 1798, a população de Salvador foi surpreendida pelo teor dos boletins 
manuscritos afixados em prédios públicos, alguns dos quais com uma mensagem que convocava o povo 
baiano, favorável à República; era uma ordem, uma conclamação para uma necessária revolução. A 
informação foi acrescida pela convocação da população a participar do levante projetado pelo Partido da 
Liberdade: um grupo que se intitulava Anônimos Republicanos (MATTOSO, 1969). As autoridades dos 
dois lados do Atlântico não desconsideraram o peso dos termos veiculados nos 
boletins, liberdade, república e revolução, que naquela conjuntura compunham a cadência da Revolução 
Americana (1776), da Revolução Francesa (1789) e da revolução escrava em São Domingo (1791). 
As autoridades locais agiram rapidamente, iniciando uma duvidosa investigação para se descobrir e punir os 
autores dos boletins manuscritos que, em razão dos termos veiculados, foram qualificados de pasquins 
sediciosos. Como era de se esperar, d. Fernando José de Portugal e Castro, governador-general da Bahia, 
imediatamente ordenou que fosse aberta uma devassa para se descobrir o(s) autor(es) de tão ―odiosa 
empresa‖. Para tanto, designou, por portaria de 13 de agosto de 1798, o desembargador ouvidor-geral, com 
vezes de corregedor do Crime doutor Manoel Magalhães Pinto Avellar de Barbedo. 
Devassa a que procedeu ao Desembargador Ouvidor Geral, com vezes de Corregedor do crime daCoroa, o Doutor Manoel Magalhães Pinto e Avellar de Barbedo, na conformidade da Portaria do 
Ilmo. Exmo. Governador e Capitão General desta Capitania, sobre a factura, e publicação de vários 
papéis sediciosos, e revolucionários, que aparecerão nesta cidade do dia doze de Agosto de 1799. 
(APEB, 1998, p. 31-32) 
Comentário 
O ano da publicação dos pasquins sediciosos é 1798, e não 1799, como consta na documentação da devassa. 
INVESTIGAÇÃO DOS EVENTOS 
De acordo com a documentação, para dar início às investigações, o secretário de Estado e Governo do 
Brasil, José Pires de Carvalho e Albuquerque lembrou ao governador o ―modo livre e atrevido de falar‖ do 
requerente do Tribunal da Relação da Bahia, o pardo Domingos da Silva Lisboa, sugerindo-lhe que 
confirmasse a suspeita e comparasse a letra dos boletins com algumas petições que porventura o 
desembargador pudesse encontrar na casa do dito requerente. 
Auto de Exame, e combinação das Letras dos pesquins (sic), e mais papeis sedicciozoz que 
apparecerão nas esquinas, ruas e Igrejas desta Cidade que se achão incorporados na Devassa [...]com 
as letras de Domingos da Silva Lisboa nas peticoens, que forão achadas em sua caza e com o papel 
limpo [...]. 
(APEB, 1998, p. 89-90) 
Acatando a sugestão de José Pires de Carvalho e Albuquerque, no dia 21 de agosto de 1798, o 
desembargador Avellar de Barbedo, concluiu que ―a Letra dos mesmos [boletins] segundo nos pareceo he do 
dito Domingos da Silva Lisboa posto que disfarçada [...]‖ (APEB, 1998, p. 90). 
Dias depois, outros dois boletins em formas de cartas foram encontrados na Igreja do Carmo, colocando em 
xeque a autoria e o modo pelo qual as autoridades chegaram ao então culpado que, àquela altura, 
encontrava-se preso no Segredo (Cadeia) do Tribunal da Relação. Na primeira carta, o prior dos Carmelitas 
Descalços era informado que tinha sido escolhido por plebiscito para no futuro ser o ―Chefe em Geral da 
Igreja Bahinense‖. A segunda carta foi para o governador, d. Fernando José de Portugal e Castro: 
Illustrissimo e Excellentissimo Senhor, o Povo Bahinense, e Republicano na secção de 19 do prezente 
mez houve por bem eleger; e com efeito ordenar que seja Vossa Excellencia invocado 
compativelmente como cidadão Prezidente do Supremo [Tribu]nal da Democracia B[ahinense] para 
as funcoens, da futura revolução, que segundo o Plebiscito se dará no prezente pelas duas horas da 
manhã, conforme o prescripto do Povo. Espera o Povo que Vossa Excellencia haja por bem o exposto. 
Vive et vale. 
(TAVARES, 2003, p. 123-137) 
Não obstante ao modo pouco ortodoxo de descobrir o autor dos pasquins, d. Fernando José de Portugal e 
Castro ordenou que o desembargador Avellar de Barbedo fizesse outro exame de comparação das letras dos 
bilhetes. Feito isso, foram descobertas três petições na Secretaria de Estado que provaram que o autor dos 
boletins manuscritos e dos bilhetes era Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga, homem igualmente pardo e 
soldado do Primeiro Regimento de Linha de Salvador e Quarta Companhia de Granadeiros. 
 
D. Fernando José de Portugal e Castro 
 
Auto de combinação de letra dos pesquins [sic], e papeis sediciosos, que apparecerão nas esquinas, 
ruas e Igrejas desta Cidade, incorporados na Devassa debaixo do n. 1 com a letra de Luiz Gonzaga 
das Virgens nas peticoens que estão no appenso n. 4 e papeis juntos por linha ao appenso n. 5, e com a 
letra de Domingos da Silva Lisboa nas peticoens [...]. 
(APEB, 1998, p. 123-124) 
Ocorre que dessa vez pesou sobre o réu um ―requerimento atrevido‖ enviado pelo acusado para que d. 
Fernando: 
[...] o nomeasse Ajudante do quarto Regimento de Milícias desta Cidade, composto de homens pardos, 
alegando que estes devião ser igualmente attendidos que os brancos, a que não deferi, e que 
conservava em meu poder pela sua extravagância [...]. 
(BIBLIOTECA NACIONAL, 1798, I-28-26, 1, n. 13) 
Pelo teor da carta, o desembargador chegou ao conteúdo dos tais pasquins sediciosos, uma vez que os papéis 
também ―inculcavão aquela mesma igualdade entre os pardos, pretos e brancos‖ (APEB, 1998, p. 224-226): 
[...] faz não só conjecturar mas persuadir ser elle [Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga], e não outrem o 
autor dos Papeis Sediciozos. 
 
Huma carta escrita pelo reo Luiz Gonzaga das Virgens ao Cadete Francisco Leonardo Carneiro, e o 
rascunho de hum requerimento do mesmo reo, dirigido a Sua Alteza. 
(APEB, 1998, p. 224-226) 
Todavia, o governador mandou soltar Domingos da Silva Lisboa apenas em 10 de novembro de 1798, 
comunicando ao desembargador Avellar de Barbedo, no dia 24 de fevereiro de 1799, que o havia mandado 
prender novamente: 
[...] a vista de huma Reprezentação vocal [...] expondo-me que ocorrião outros [motivos] pellos quaes 
se devia praticar com elle semelhante procedimento. 
 
Cópia da Portaria do Illustríssimo e Excellentíssimo Governador e Capitão General desta Capitania 
derigida ao Dezembargador Ouvidor Geral do Crime, e Intendente da Polícia o Doutor Manoel de 
Magalhães Pinto de Avellar de Barbedo. 
(APEB, 1998, p. 91) 
PROCESSO 
A representação vocal a que se referia o governador era a denúncia de uma reunião na madrugada do dia 25 
de agosto de 1798, no Campo do Dique do Desterro, atual Dique do Tororó, na qual os partícipes do 
movimento verificariam a quantidade de homens e armas para dar início ao levante e libertar Luiz Gonzaga 
das Virgens e Veiga, que se encontrava preso. A partir desse momento, as autoridades dos dois lados do 
Atlântico estavam às voltas com dois problemas: descobrir os autores dos pasquins sediciosos e os partícipes 
do levante que instituiria no futuro a ―República Bahinense‖. 
Em ambas as devassas que correram simultaneamente, desde os primeiros momentos das investigações, a 
interferência do secretário de Estado e Governo do Brasil, José Pires de Carvalho e Albuquerque, é 
inquestionável: seja na condução do exame de comparação da letra dos boletins manuscritos dos revoltosos 
com algumas petições dos milicianos denunciados e arquivadas na Secretária de Estado; seja como 
protagonista do episódio ―pronta-entrega de escravos‖, no qual o secretário entregou para a Justiça quatro de 
seus escravos e outros cativos de propriedade de homens e uma mulher de seu grupo, com o objetivo de 
corroborar com as denúncias formuladas por dois proprietários de escravos do mesmo grupo contra os 
milicianos presos (VALIM, 2012, p. 191). 
 
Embora as autoridades locais não averiguassem as informações fornecidas pelos cativos e milicianos, por 
mais de um ano de investigação, as denúncias sobre a participação de ―homens colocados entre os povos‖ 
chegaram a Lisboa. A esse respeito, a trajetória de Francisco Agostinho Gomes, dono de uma das maiores 
fortunas da época, é significativa das relações dos desembargadores do Tribunal da Relação da Bahia com o 
poder local face às manifestações dos notáveis baianos, de alguma forma envolvidos nos acontecimentos de 
1798. O religioso passou de suspeito a parceiro da coroa portuguesa, em uma trajetória para lá de elucidativa 
do modus operandi dos desembargadores do Tribunal da Relação da Bahia na condução das devassas. 
Assim como outras pessoas ―principais‖ da sociedade da época mencionadas nos Autos das Devassas 
(VILLALTA, 2002, p. 319-342), Francisco Agostinho Gomes teve seu nome constantemente citado pelas 
testemunhas e por diversas vezes fora denunciado por cartas enviadas da Bahia para a Corte entre 1797 e 
1798, por ser simpatizante das ―ideias de francezia‖ (AHU_CU_BAÍA, 1800, docs. 19.117-19.178). 
Ele não devia ser muito benquisto por algumas pessoas de Salvador, pois as denúncias a respeito de suas 
atividades ilícitas e comportamentos pouco ortodoxos não paravam de chegar a Lisboa. A denúncia que 
irritou profundamente d. Rodrigo de Souza Coutinho relatava que o padre tinha por hábito dar jantares de 
carne em dias santos, Sexta-Feira da Paixão, durante alguns anos: 1796, 1797 e 1798.O ministro mandou que d. Fernando instaurasse uma nova devassa para verificar a procedência de tão 
―pernicioso‖ fato. A denúncia sobre o referido jantar é datada de 4 de outubro de 1798, e a devassa foi 
instaurada somente no dia 15 de janeiro de 1799, ―Devaça a que se procedeu em conseqüência da acussação 
feita ao padre Francisco de Agostinho Gomes de ter dado um jantar de carne em sexta-feira da Paixão‖ 
(SILVA, 1919, p. 140-150). 
O desembargador Manuel de Magalhães Pinto de Avellar e Barbedo, o mesmo da devassa instaurada para se 
descobrir o autor dos boletins manuscritos e os fatos conexos com a reunião do Dique do Desterro, em 1798, 
ouviu 23 pessoas, entre 19 e 23 de janeiro de 1799. Dessas, 22 brancos e um pardo. Das testemunhas 
ouvidas, 21 pessoas tinham ―ouvido dizer‖ que o citado padre dera o jantar. Forneceram detalhes de que os 
jantares ocorreram no porto da Barra, nas partes de São Pedro e na praça da Liberdade, e entre os partícipes 
estivera um grupo de pescadores, muitos dos quais escravos (SILVA, 1919; TAVARES, 2003). 
Chama atenção o depoimento do bacharel Tomaz da Costa Ferreira, advogado nos Auditórios da Cidade 
da Bahia: 
Disse que sabe por ouvir dizer que há dous annos [1797], pouco mais ou menos, em occasião em que 
aqui [Salvador] se achavão huns certos Francezes arribados que se pretendera dar hum jantar no sítio 
da Barra, o qual fora impedido por ordem do Illmo. e Exmo. Governador, de forma que não se 
effectuara [...]. 
(AHU_CU_CA_Baía, 1799; SILVA, 1919, p. 143) 
Parece que era do conhecimento de d. Fernando que os jantares ocorriam com a participação do padre 
Francisco Agostinho Gomes, de pescadores, de escravos e de alguns franceses, como também parece ter sido 
do conhecimento do governador o teor das conversas nesses encontros, nomeadamente a situação que 
ocorria em França. Seguindo o padrão de limpar algumas informações obtidas nos depoimentos, o 
desembargador Barbedo encerrou a devassa após três dias. E, não obstante, o ―ouvir dizer‖ ter sido mais do 
que suficiente para a acusação dos quatro milicianos pardos, por participarem de reuniões de conteúdo 
sedicioso e serem os autores dos boletins manuscritos, convocando a população para a revolta, com 
Francisco Agostinho Gomes, ao contrário, o ―ouvir dizer‖ livrou-o das acusações, posto que se ―averiguara 
serem falsos os fatos‖ (SILVA, 1919, p. 133). Francisco Agostinho Gomes foi inocentado das acusações que 
lhe imputaram. 
Após a devassa, o padre viajou para Lisboa para solicitar a concessão do monopólio de exploração de uma 
mina de ferro e cobre na serra da Borracha (AHU_ACL_CU_005, 1800, Cx. 105\Doc. 20459). Foi agraciado 
com a mercê régia referente à concessão de sesmarias, com o monopólio da exploração das terras em que se 
descobrissem minérios de ferro e cobre e onde existissem florestas que garantissem suprimento de carvão 
vegetal. Foi concedido então a ele o monopólio e os benefícios acordados. 
D. Fernando José de Portugal e Castro e o desembargador Barbedo limparam as evidências que pesaram 
sobre o prócer Francisco Agostinho Gomes, sob o argumento de que não havia prova contra o padre, ao 
tempo em que o governador contribuiu para que ele fosse agraciado pela magnificência da Santíssima 
Majestade e lhe fosse concedida mercê. Contudo, os quatro homens livres, pobres e pardos foram 
reiteradamente inquiridos por mais de um ano, pois o governador reafirmou a d. Rodrigo de Sousa Coutinho, 
com as investigações ainda em curso, que dos partícipes da 
[...] projetada revolução de 1798 [...] quaze todos pardos, entrando neste numero hum Tenente e hum 
Inferior do Regimento de Artilharia contra os quaes resultão certos indícios, sem que apareça até 
agora hum só preto convidado, a excepção do segundo denunciante, ou seja por certa opozição que há 
entre pardos e pretos, ou por aqueles, alem de serem mais prezumidos e vaidozos, são reputados como 
mais astutos e sagazes para qualquer empresa. 
(AHU_ACL_CU_005, 1800, Cx. 105\Doc. 20459) 
Ainda que a composição social dos réus tenha sido circunscrita desde o início das investigações aos 
milicianos, os processos foram formalizados e os ritos preservados: em 12 de março de 1799, sete meses 
depois de deflagrada a revolta, o advogado da Santa Casa da Misericórdia, o bacharel ―formado‖ José 
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Barbosa de Oliveira, foi nomeado defensor e curador dos réus, permitindo também que outros advogados 
pudessem fazer outras alegações em defesa dos réus (APEB, 1998, p. 947-949). 
DEFESA 
Os presos tiveram o direito de defesa por cinco dias, e, apesar de a nomeação do advogado ter ocorrido em 
12 de março, a defesa começou em 12 de junho de 1799. 
José Barbosa de Oliveira iniciou sua defesa valendo-se das formalidades do moderno direito natural: 
Porque Logo, que pela Ordenação do Livro 5 título 6 se acha estabelecida a pena de morte 
naturalmente cruelmente, contra aquele que for convencido de haver cometido o horrorozo crime de 
Leza Magestade, e que pelo sobredito acordão Respeitável se manda, que os Embargantes digão de 
facto, e de Direito os fundamentos das suas defezas, hê certo, que na expozição delas, os Embargantes 
só procurão mostrar a sua inocência, e exclusiva do delicto de que são acusados, sem que nesta acção 
Se aggravem mais as suas culpas, depois de ser Direito Natural, Divino e Pozitivo a defesa de qualquer 
Reo. 
(APEB, 1998, p. 952) 
Para em seguida expor o argumento central de sua defesa: 
Porque em consequência deste princípio, e não sendo salvas pela Carta Régia fs 111 verso dos Autos da 
Devaça em 1º Lugar appensos, as nulidades, que posão resultar, ou as faltas de Solemnidades, que 
constituão a autenticidade da accuzação, hê certo que elas são bastantes, quaisquer que appareção para a 
exclusiva do delicto, e serem declarados os Embargantes não incursos na pena da Ley, atendendo-se à Sua 
Expozição, depois de ser expresso em direito, quanto mais greve for o delicto, e serem declarados os 
Embargantes não incursos na pena da Ley [...] quanto grave for o delicto, mayor Solemnidade se requer 
para o conhecimento do verdadeiro delinquente, desprezadas assim as oppinioens, que facilitão a 
impozição da pena por menos provas. 
(APEB, 1998, p. 952, grifo nosso.) 
Três importantes questões pautaram o argumento central da defesa de José Barbosa de Oliveira. A primeira 
delas, e a mais importante, foi a ausência de provas para o crime de ―lesa-majestade de primeira cabeça‖ 
(crime político contra a Coroa): 
Porque por esta Razão sendo evidente a falta de Corpo de Delicto, que não foi suprida naquela 
Respeitável Carta Regia dita fs.111 verso, mandando-se que os Embargantes fossem Sentenciados em 
Relação ao merecimento dos autos, ela he bastante segundo a geral dipozição de Direito, para Se 
Suspender na imposição de qualquer pena contra os Embargantes, ainda que aliás eles estivessem 
plenamente convencidos do crime, visto que o Corpo de Delicto hé o fundamento total do Juízo 
Criminal, pela Regra de que aquele que quer provar a qualidade, deve primeiro provar a Substancia 
sobre que se funda a mesma qualidade. 
(APEB, 1998, p. 952-953, grifo nosso) 
Para o advogado de defesa, a magnitude da acusação de um grupo de tentar um crime de lesa-majestade, não 
teria sentido, uma vez que, sem as armas, como poderia pensar em tomar a então cidade mais populosa das 
Américas? Segundo José Barbosa de Oliveira, a ausência de provas da acusação está intimamente 
relacionada à segunda questão do argumento central de sua defesa, a maneira como as denúncias foram 
formalizadas por testemunhas menos legares: 
Porque ainda, que as testemunhas, fs 36 verso, e fs 46 da mesma Devaça, queirão persuadir, que em muitas 
outras noites anteriores perceberão falas de pessoas, que estavão na baixa daquele Campo ao pé do 
Dique, e Lugar mais Solitário, como de Sociedade, com Rizadas e Falatórios, que a mesma testemunha 
ouvia, Sem percebero que dizião; afirmando mais a de dito fs 46 = que depois dos procedimentos da 
Justiça, que se tem praticado, cessarão inteiramente, não se ouvindo mais o Latir dos Caens, como até 
então; não Se pode atribuir a conventiculos feitos nesse lugar: porquanto. 
(APEB, 1998, p. 955, grifo nosso) 
José Barbosa de Oliveira conclui o argumento central da defesa afirmando: 
Porque nunca podião os Embargantes terem intenção alguma de promoverem hum Levantamento, e Sedição 
contra o Estado, com o fim de estabelecerem um Governo Democratico; pois que se os [fl48] os 
Embargantes erão huns Officiaes de alfayate; outros de pedreiro; outros de Soldados Razos; escravos; e de 
menor idade, todas pessoas de baixa-Relé, faltava-lhes as Luzes necessárias, e Sabedoria, ou conhecimentos, 
para poderem estabelecer hum Governo daquela qualidade, que pede Leys especiaes, e a cujo 
estabelecimento não podia chegar a inferior qualidade, e abjeta condição do Embargantes. 
(APEB, 1998, p. 956) 
A peça do acórdão final da defesa reitera a necessidade de que as provas: 
[...] concluão com a mayor exacção, desprezada essa opinião, de que bastão testemunhas menos Legaes, em 
atenção à gravidade do delicto. Antes por essa mesma razão, mayor Solenidade Se Requer, para o 
conhecimento do verdadeiro delinquente‖. Para o advogado de defesa, a condução das devassas não 
conseguiu provar a culpa dos acusados por crime de lesa majestade. Ao contrário: ―só se descobrem os 
depoimentos de notoriedade, e publicidade, da qual não Rezulta senão huma fama, ou hum indício Remoto, 
que por si só não basta, para a imposição da pena última, como nem ainda para a tortura. 
(APEB, 1998, p. 956) 
REFLEXÃO 
Quais conclusões você pode perceber? 
Neste ponto, alguns aspectos centrais são fundamentais: a justiça é madura e reconhecida institucionalmente. 
Sistemas de acordo, contraditório, eram possibilidades. A interferência política atuava e fazia parte das 
disputas judiciais em questão. Reveja os documentos, analise-os e relacione-os com o que foi visto nos dois 
primeiros módulos, e crie, dessa forma, uma conexão entre teoria e prática fundamentais para compreensão 
do sistema. 
E quando termina a colônia? 
Em 1808, deixamos de ser colônia e nos tornamos a metrópole, a sede do Império, e devemos pensar: por 
que Brasil? Porque a cidade de Salvador e Rio de Janeiro terão tanta notoriedade, porque percebemos uma 
continuidade dos processos, das cobranças de impostos, das dinâmicas políticas: por conta da maturidade 
experimentada. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. Os códigos penais têm funções diversas, dependendo do seu contexto. Pensando em uma sociedade 
escravocrata como a brasileira, podemos notar que uma de suas funções da justiça colonial era: 
 
A manutenção da ordem, mantendo o equilíbrio entre as situações jurídicas e políticas aqui 
apresentadas. 
Fazer cumprir os mandos da coroa, devendo ser considerada função primordial da justiça no Brasil. 
Garantir o funcionamento da economia, fazendo funcionar a Devassa, e dar legitimidade a ações 
administrativa. 
Estabelecer a criminalização de religiões afro-brasileiras e impedir a compra das alforrias, que só 
podiam ser doadas. 
Estabelecer modelos de justiça para membros sociais diferentes, fazendo existir várias justiças 
concomitantes no Brasil. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "A" está correta. 
A Relação e os meios jurídicos são independentes, mas têm imenso compromisso com a ordem e a 
manutenção política, social e administrativa na colônia. 
 
 
2. Como os desembargadores, a partir de sua atuação na Conjuração Baiana, podem ser compreendidos? 
 
Processo de institucionalização da justiça, fundamentando punições, casas de correções e processos. 
A manutenção das ordenações filipinas como métrica de punição balizada em castigos físicos. 
A criação de um processo em separado, em que uma coisa são as leis e os processos efetivos judiciais, e 
outra, as ações punitivistas dos chefes de polícia. 
Suas funções investigativas eram menores que seu papel em dar ordenamento judicial, garantir 
dinâmicas de contraditório e permitir que os envolvidos — ainda que comprometidos com seu próprio status 
— tivessem uma roupagem de normalidade. 
Os desembargadores tinham funções de juízes e poderiam, aos moldes do antigo regime, se afastar da 
legislação formal quando fosse do interesse dos grupos que articulavam o poder. 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "D" está correta. 
Ainda que tivessem de lidar com as pressões políticas, e muitas vezes cedessem e negociassem com essa 
pressão, chama atenção a preocupação em manter a estrutura funcional da justiça. Por conta disso, às vezes 
tinham que enfrentar resistências e ceder a pressões. 
 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A legislação colonial do Brasil é vasta e rica no que se refere à organização administrativa desse sistema 
político, até então inédito nas Américas. Estudar essa legislação é entender as peculiaridades do momento 
em que ela foi feita, os interesses envolvidos e a dinâmica do processo histórico. Ao mesmo tempo, a justiça 
colonial do Brasil, ainda que fosse herdeira de tradições portuguesas, foi influenciada pelo contexto local, 
com suas dinâmicas singulares. 
Podemos ver, na consolidação dos tribunais da Relação, seja o de Salvador ou do Rio de Janeiro, a 
constituição de uma aristocracia jurídica que acabava tendo funções sociais e políticas, mas, principalmente, 
era organizadora da transposição jurídica proposta por Portugal. A complexidade nos levou a esmiuçar uma 
atuação do Tribunal da Relação de Salvador, criando proximidade, leitura de documentação e uma vivência 
mais clara desses movimentos. 
FALA MESTRE! 
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram 
suas trajetórias únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de 
estudar! Aqui você encontra entretenimento de qualidade conectado com a informação 
que te transforma. 
 
Qual o papel da Justiça na redução das desigualdades sociais? 
 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter com a redução das desigualdades 
sociais. 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
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sociais. 
A carta de William Lynch 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
negra do TJRJ, explica o que foi a carta de William Lynch e de que forma ela influencia até hoje na 
manutenção da desigualdade racial. 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
negra do TJRJ, explica o que foi a carta de William Lynch e de que forma ela influencia até hoje na 
manutenção da desigualdade racial. 
O mito da democracia racial e a perseguição às religiões de matriz africana 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
negra do TJRJ, reflete sobre o mito da democracia racial e denuncia a perseguição feita às religiões de 
matriz africana. 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora 
negra do TJRJ, reflete sobre o mito da democracia racial e denuncia a perseguição feita às religiões de 
matriz africana.

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