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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA DEFICIENTES FÍSICOS E VISUAIS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Juliano Vieira da Silva Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S586e Silva, Juliano Vieira da Educação física escolar para deficientes físicos e visuais. / Juliano Vieira da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 150 p.; il. ISBN 978-65-5646-243-1 ISBN Digital 978-65-5646-244-8 1. Deficientes físicos. - Brasil. 2. Deficientes visuais. – Brasil. II. Cen- tro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e Objetivos ................................7 CAPÍTULO 2 Educação Física e a Deficiência Física ......................................57 CAPÍTULO 3 A Educação Física e a Deficiência Visual ................................103 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais! Esta disciplina tem por objetivo apresentar propostas para a inclusão desses dois grupos a partir das atividades físicas. As pessoas com deficiência foram, historicamente, relegadas a segundo plano em nossa sociedade. Os fatos conhecidos revelam preconceito em forma de perseguições, abandono, mortes, crueldade e exclusão. Isso porque estas pessoas não conseguiam acompanhar o ritmo da sociedade, então, não deveriam participar dela. Com o tempo, a situação foi evoluindo e se obteve avanços, que se ainda não são totais a ponto de dizermos que vivemos em uma sociedade justa e igualitária que promove a inclusão, ela já nos leva a discutir e refletir sobre esse tema. Um dos avanços foi justamente a ideia de que a sociedade deve buscar fazer adaptações para que a pessoa com deficiência consiga usufruir os direitos de cidadania nela. Essas adaptações envolvem temas de interesse público e que, naturalmente, interesse a todos como saúde, transporte, acessibilidade e a educação que, como professores, nos compete. Sobre a educação para as pessoas com deficiência, muito se tem abordado nos últimos anos. Leis, decretos, teorias vêm sendo posto em grandes debates públicos a fim de encontrar a melhor forma de inclusão. Este é um debate que não cessa e deve ser sempre retomado para que tenhamos êxito. Este livro pretende ser um pequeno momento de reflexão sobre a educação e como ela deve ocorrer para as pessoas com deficiência física e visual. Adaptações, causas, legislação, fundamentos são temas discutidos e que buscam trazer inquietações e movam atitudes de futuros profissionais. Sendo um tema emergente da educação, a disciplina de Educação Física naturalmente está inclusa nesta proposta. Por muito tempo, as pessoas com deficiência eram simplesmente retiradas desta disciplina, não tendo a menor possibilidade de participação, pois “não havia o que fazer”, visto que a ideia geral da Educação Física era apenas as questões físicas. Hoje, em uma visão mais ampla, sabemos que a Educação Física é mais que meramente um corpo. Ela atua fortemente em questões cognitivas, sociais e psicológicas, promovendo ao aluno benefícios além da aula. Através da Educação Física é possível trabalharmos e evoluirmos em temas como empatia, solidariedade, autonomia, concentração, participação, amizade, entre outros. Isso revela que essa disciplina é completa e não pode ser negada a ninguém, pelo contrário, deve ser estimulada e vivenciada o máximo possível. Por isso, neste livro, você encontrará adaptações necessárias para a aula com deficientes físicos e visuais, sugestões de jogos e brincadeiras que promovam as capacidades físicas, mas também os valores, a empatia e o respeito. Também vai conhecer os esportes adaptados que permitem ao praticante se superar vencendo seus próprios limites! Venha conhecer um pouco mais dessa história! Boa leitura! CAPÍTULO 1 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e Objetivos A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Contextualizar a história e o processo de inclusão das pessoas com deficiências visuais e físicas. • Compreender os fundamentos e a legislação brasileira sobre inclusão das pessoas com deficiência. • Apresentar aspectos históricos da atividade física adaptada a partir da deficiência física e visual. • Entender as mudanças sociais e culturais que ocorreram no processo de inclusão das pessoas com deficiência física e visual ao longo do tempo. • Compreender a importância da atividade física adaptada para a inclusão de pessoas com deficiência. • Aprofundar os estudos sobre as deficiências e a inclusão. 8 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 9 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Na história da humanidade, muitas foram as formas como as pessoas com deficiência foram tratadas. Infelizmente, muitas vezes este tratamento foi desrespeitoso, recheado de preconceito e crueldade. Abandonos, eliminação, mortes, exclusão e segregação marcam esta trajetória ao longo dos tempos e que vem tentando ser modificada nos tempos atuais. Para garantir a cidadania e a dignidade destas pessoas, nações de todo o mundo se juntaram aos movimentos sociais para garantir a igualdade e o respeito. Leis, manifestos e declarações vieram para afirmar uma obviedade: a pessoas com deficiência deve ter os mesmos direitos que qualquer outra pessoa. Um destes direitos está ligado à prática de exercício físico. Ao longo do tempo, considerados inaptos e incapazes, as pessoas com deficiência ficaram excluídas e participando apenas como meras espectadoras. Na metade do século XX, o esporte foi um grande aliado para recuperar os lesionados da Segunda Guerra Mundial e, de lá para cá, a sua prática foi estimulada não só como benfeitoria física, mas também social, afetiva e psicologia. Portanto, neste capítulo, vamos abordar a trajetória da educação inclusiva e suas mudanças sociais e culturais ao longo do tempo, como a inclusão escolar é fundamentada legalmente e sob outras formas, além da história e da importância da Educação Física adaptada como um meio de inclusão para os deficientes! Boa leitura! 2 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Embora a inclusão na sociedade e nos meios educativos tenha começado de forma mais recente nos últimos anos, a trajetória da educação inclusiva pode ser contada desde os primórdios da humanidade. Fernandes (2007) aponta que o histórico da educação inclusiva sofreu bastantes modificações ao longo do tempo e pode ser dividido em dois períodos, pré-científico e científico: Fernandes (2007) aponta que o histórico da educação inclusiva sofreu bastantes modificações ao longo do tempo e pode ser dividido em dois períodos, pré- científico e científico: 10 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais• Pré-científico: este período pode ser subdividido em fase de extermínio cujas pessoas com deficiência eram executadas, e fase de segregação-institucionalização em que as pessoas com deficiência eram separadas das demais através de instituições e asilos que eram ligados à Igreja Católica. • Científico: tem seu início no século XIX, que marca o período de integração da pessoa com deficiência à sociedade e a educação passa a ter cunhos mais sociais, embora longe ainda de ser inclusiva, visto que os PCDs deveriam se adaptar à escola. Somente após este período se passa a ter a inclusão com os direitos de aprendizagem garantidos às pessoas com deficiência. Caro acadêmico, vamos conhecer um pouco como as sociedades tratavam as pessoas com deficiência ao longo do tempo e a trajetória da educação inclusiva a partir destes períodos! 2.1 PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO Começando pelo período pré-científico. Fernandes (2007) coloca que a fase de extermínio das pessoas com deficiência foi a que durou desde a Antiguidade até o século XX. Isso retrata o descaso e a forma cruel como essas pessoas tiveram tratamento em um período de tempo extenso, pois é o maior de todos os períodos até aqui. Ainda, antes do período chamado de Antiguidade, na fase pré-histórica da humanidade, Bianchetti (1995) relata que por não possuir as características essenciais para o homem da época, como a caça, a pesca, a vida nômade e a cultura a terra, as pessoas com deficiência não eram aceitas, pois se fazia necessário que se autossustentassem e contribuíssem com o grupo, dessa forma, segundo o autor, as PCDs eram empecilhos, fato que os levava ser abandonados, relegados, sem o sentido de culpa pela sociedade primitiva. Andando pela linha do tempo da história, podemos dizer que em muitas antigas civilizações, tratavam as pessoas com deficiência da mesma forma que os povos pré-históricos: abandono e falta de assistência. Um dos grandes exemplos do modo como ocorriam estes tratamentos estavam na Grécia Antiga. Esta civilização possuía Andando pela linha do tempo da história, podemos dizer que em muitas antigas civilizações, tratavam as pessoas com deficiência da mesma forma que os povos pré-históricos: abandono e falta de assistência. 11 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 O Leito do Procusto era baseado em uma mitologia grega. Procusto era um gigante que trabalhava em uma estalagem onde oferecia hospedagens. Nesse local, havia uma cama de ferro em que as pessoas eram convidadas a se deitar e, à noite, enquanto dormiam, eram amarradas por Procusto. Caso a pessoa não tivesse a mesma dimensão da cama, era cortada (caso fosse maior que o espaço) ou sofria quebra nos ossos para se ajustar à medida. Essa lenda de Procusto servia como referência para os espartanos em relação às pessoas com deficiência, pois quem não se encaixava no padrão espartano, deveria ser eliminado. duas grandes cidades que dividiam as principais ações daquelas civilizações – Atenas e Esparta – e embora seguissem modelos diferentes de gestão, visto que eram cidades autônomas, ambas seguiam a mesma linha quando nascia um deficiente em meio à sociedade: eliminação ou abandono. Esse pensamento era compartilhado por importantes filósofos gregos, como Platão e Aristóteles que sugeriam que as pessoas com deficiência fossem atiradas do aprisco de uma cadeia de montanhas chamada Taygetos (GUGEL, 2007). Como já citado, caro acadêmico, uma das mais conhecidas cidades gregas era Atenas. Nessa cidade, uma das principais características era a valorização ao corpo e a alma, sendo que a ideia de corpo estava associada à beleza física, que era uma condicionante para que a pessoa pudesse participar socialmente da cidade, dessa maneira, os deficientes não serviam para a vida social de Atenas. Segundo Silva (2012), a criança grega nascida em Atenas, antes mesmo de ficar com seus familiares, era inspecionada pelo Estado e, caso o examinador identificasse alguma deficiência física, não considerando que a criança viesse a ser forte e sadia para servir a cidade, ela deveria ser morta ou abandonada. Essa inspeção também era comum em Esparta, outra importante cidade grega. Os preceitos espartanos eram baseados no preparo militar para as guerras, sendo que exercícios físicos, como ginástica e dança faziam parte da preparação. Por não conseguir realizar essas atividades e, consequentemente, não poderem participar do exército espartano, o recém-nascido era eliminado visto que não se encaixava no chamado “Leito do Procusto” (BIANCHETTI, 1995). 12 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Uma terceira civilização importante do período antigo é a civilização romana. E por lá, a situação também era de crueldade com os deficientes. Gilles (1987 apud SILVA, 2012) descreve que os recém-nascidos em Roma sofriam maus- tratos, no entanto, nessa civilização, quem decidia se a criança deveria seguir viva era o pai. Quando o progenitor julgava que a criança não iria ser um adulto saudável fazia um sinal e o bebê era abandonado para que morresse por falta de alimentação, proteção e cuidados básicos. Outra opção era o afogamento da criança no rio Tibre. Aqueles que os pais deixavam sobreviver eram explorados na cidade ou passavam a fazer parte do circo sendo uma forma de entretenimento para os abastados (GILLES, 1987 apud SILVA, 2012). Para encerrar esse momento da história que trata das civilizações antigas, vamos citar um local onde os deficientes tinham melhores tratamentos: o Egito. Nesta civilização africana, Gugel (2007) afirma que estudos arqueológicos se referem a pessoas que viviam na sociedade junto às demais pessoas, exercendo funções de importância social. No Egito, havia uma particular referência às pessoas com nanismo, sendo muitos deles autoridades familiares, secretários, bailarinos, artistas e deuses, como o caso de Bes e Ptah (KOZMA, 2006). Podemos afirmar, caro acadêmico, que, infelizmente, o tratamento dado pelos egípcios às pessoas com deficiência foi um caso raro na história antiga da humanidade. No período da Idade Média, a Igreja Católica foi a principal instituição que ditava as regras, a situação era bastante complicada e aterrorizante para estas pessoas. Bianchetti (1995) descreve, com base em inúmeras passagens bíblicas, cujos deficientes eram associados ao pecado e ao demônio, ocorreram a segregação e a estigmatização dessas pessoas, prevalecendo essa associação. Isso fazia com que a elas fossem aplicados o maior dos castigos: morrer na fogueira da Inquisição. Além de serem associados a demônios, uma outra forma de preconceito era culpá-los pelas próprias deficiências. Dessa forma, ser deficiente era um castigo por pecados cometidos e o “pagamento” desses erros deveriam ser feitos por toda a vida: A população ignorante encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam nelas poderes especiais de feiticeiros ou bruxos. As crianças que sobreviviam eram separadas de suas famílias e quase sempre ridicularizadas. A literatura da época coloca os anões e os corcundas como focos de diversão dos mais abastados 13 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 (GUGEL, 2007, s.p.). Bianchetti (1995) afirma que com o passar do tempo, outra maneira, com bem menos ênfase, passou a permear a visão da igreja com relação aos PCDs: elas eram pessoas enviadas por Deus para alertar os homens, e assim permitir que os demais pudessem realizar o ato sagrado da caridade. Essa nova visão da igreja dará origem ao assistencialismoe também à construção de hospitais, principalmente as conhecidas Santas Casas de Misericórdias. É nesse período, baseado nessa proposta, que é construído o primeiro hospital para pessoas cegas em Paris, na França, em 1260, pelo Rei Luís IX. A instituição tinha por objetivo atender soldados que ficaram feridos durante a Sétima Cruzada. Ainda, nesse período, surge a primeira lei que se conhece referente às pessoas com deficiência: o rei Eduardo II, da Inglaterra, legislou o cuidado e os bens das pessoas com deficiência mental. O rei era responsável pelo cuidado e recebia como pagamento a herança destas pessoas (CAPELLINI; RODRIGUES, s.d.). Com a perda de força pela igreja e o surgimento crescente de ideias pelos pensadores que mudaram a dinâmica do Estado e da sociedade, surge o período chamado de Idade Moderna, que marcou o movimento do Renascimento. Nesse período, as ideias sobre as pessoas com deficiência passaram a ganhar novas visões, tendo como princípio a humanidade e a valorização do homem. Uma das principais ideias estava ligada à área da educação, que, como vimos até aqui, era praticamente inexistente em todos períodos e civilizações. Dessa maneira, as pessoas que tinham necessidades especiais para aprender, passaram a ser estudadas, e meios de como fazer isso passaram a vir à tona. Junto aos estudos pedagógicos, a medicina também passou a se apropriar das patologias, trazendo contribuições importantes, ou seja, a pessoa não era mais deficiente por um pecado, mas sim por alguma dificuldade ocorrida em seu organismo. As grandes transformações ocorridas nas artes, nas músicas e, principalmente, nas ciências, operaram de forma significativa e positiva quanto ao tratamento dispensado às pessoas com deficiência. Como observa Rosanne de Oliveira Maranhão (2005, p. 26): “Surgiram, nesse contexto, hospitais e abrigos destinados a atender enfermos pobres. Os deficientes, aquele grupo especial que fazia parte dos marginalizados, começaram a receber atenções mais humanizadas” (DICHER; TREVISAM, s.d., p. 10). 14 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Silva (2012) destaca que, a partir do século XVI, começa a se ter por princípio que as pessoas com deficiência não eram ineducáveis. A partir disso, surgem pesquisadores da área médica e da pedagogia que trouxeram avanços significativos para a trajetória da educação inclusiva. Caro acadêmico, vamos conferir algumas personalidades e suas ações que modificaram a vida das pessoas com deficiência: • Philippus Paracelso (1491-1543) – o médico suíço foi o primeiro profissional a considerar a deficiência mental como um problema médico a ser tratado, centrando muito de seus estudos nesta área, visando saber como se dava este processo. • Gerolamo Cardamo (1501-1576) – o médico e matemático italiano foi um dos precursores do estudo da deficiência auditiva. Além disso, inventou um código de sinais destinados a ensinar pessoas surdas a ler e a escrever. • Pedro Ponce de Léon (1520-1584) – inspirado pelas propostas de Cardamo, Léon é considerado o primeiro educador de surdos da história, pois criou um método de ensino destinado para pessoas com essa deficiência, baseado no código de sinais. • Charles Michel de L’Epéé (1712-1789) – fundou a primeira escola para surdos em Paris, na segunda metade do século XVII. • John Locke (1632-1704) – o filósofo inglês apontou em suas pesquisas que, para a educação das pessoas com deficiência ter resultado, deve-se enfatizar a experiência sensorial e individualidade no processo de aprendizagem. • Philippe Pinel (1745-1826) – o médico francês é considerado um pioneiro no tratamento das doenças mentais. Seus estudos apontavam que essas doenças eram alterações patológicas no cérebro, decorrentes de fatores hereditários, lesões fisiológicas ou excesso de pressões sociais e psicológicas. Também combateu crendices relacionadas à doença mental estar relacionada ao demônio. As descobertas e ideias de Philippe Pinel foram tão relevantes que o seu sobrenome virou um vocábulo da língua portuguesa. A palavra “pinel” se costuma usar para loucura ou fora de juízo. Além disso, várias clínicas psiquiátricas utilizam-se, ainda hoje, do nome do médico francês. 15 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 • Valentin Haüy (1745-1822) – é um dos primeiros grandes nomes a tratar sobre deficiência visual. Foi o fundador do Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em 1784. Utilizava letras em relevo para a aprendizagem. • Louis Braille (1809-1852) – era um dos alunos do Instituto de Jovens Cegos. Em 1824, criou o Sistema Braille, que consiste em um sistema de pontos em relevo que representa as letras, números etc. FIGURA 1 – LOUIS BRAILLE FONTE: <https://www.5minutebiographies.com/wp-content/uploads/2017/01/ louis-braille-900x478.jpg>. Acesso em: 10 set. 2020. Maranhão (2005) relata que mesmo diante de novas descobertas e uma nova visão das pessoas com deficiência, muitas ainda viviam de esmolas ou furtos para sobreviver. Além disso, muitos PCDs continuavam segregados em instituições como asilos e hospitais para tratamento. 2.2 PERÍODO CIENTÍFICO A ideia de integração e participação da pessoa com deficiência na sociedade, como podemos ver, ocorreu de forma lenta e gradativa, tendo, conforme Oliveira e Ferreira (s.d.), ocorrido a partir do século XIX, já fazendo parte do Período Científico da trajetória da educação inclusiva. De acordo com Dicher e Trevisam (s.d., p. 11), no século XIX, chegou- se à conclusão de que “o tratamento voltado aos deficientes, até então, não solucionaria os problemas vivenciados por esses indivíduos, uma vez que não era apenas uma questão de abrigo, de simples atenção e tratamento, de esmola ou de providências paliativas similares, como sucedera até então”. A partir desse fato, começou a se pensar também em avanços na área da educação: A fase da integração é marcada por um grande avanço nesta área, algumas pessoas com necessidades especiais eram encaminhadas às escolas regulares, mas sempre em contraturno das escola de ensino especializado, e só 16 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais frequentavam essas escolas os alunos que se aproximassem a um padrão de normalidade e cabiam e eles se adaptar ao ambiente (FRIAS; MENEZES, 2009 apud OLIVEIRA; FERREIRA, s.d., p. 4). Embora essa visão seja bastante discutível, podemos pensar que o fato de pessoas com deficiência frequentar escolas regulares foi um grande avanço para o período, principalmente pelo espaço integrador. No entanto, essa integração se dava apenas pela presença da criança na escola, visto que a instituição acaba servindo apenas como depósito e pouco aprendia, já que não havia adaptações. É deste período o surgimento de classes especiais dentro das escolas regulares onde se colocava o aluno com deficiência na mesma sala. No século XX, conforme nos dizem Dicher e Trevisam (s.d.), é que a mobilização para a inserção da pessoa com deficiência na sociedade passa a ganhar mais fôlego. Gugel (2007) aponta que, no começo desse século, foram realizadas algumas conferências como a Primeira Conferência sobre Crianças Inválidas (Londres/Inglaterra, 1904), Congresso Mundial dos Surdos (Saint Louis/EUA, 1909) e a Primeira Conferência da Casa Branca sobre os Cuidados de Crianças Deficientes (Washington D.C./EUA, 1909) que buscavam discutir a inclusão da pessoas na sociedade. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial também acabaram por colaborar com esse processo, visto que, devido aos combates, muitos soldados voltavam para seus países mutilados e necessitavam do atendimento do Estado. Embora ações de crueldade tenham ocorrido, como na Alemanha nazista, quando Adolf Hitler redigiu um memorando para aplicara eutanásia nas pessoas com lesões incuráveis, como deficientes físicos e mentais, que durou de 1939 a 1941, o fim da guerra propiciou ações de todos os países visando o fim das atrocidades e a reabilitação das pessoas com deficiência. A título de curiosidade, as atividades físicas adaptadas e o desporto adaptação também surgiram após o cessamento da Segunda Guerra Mundial com fins de reabilitação! Este tema, caro acadêmico, veremos com maior ênfase ainda neste capítulo, que tratará destas atividades! 17 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 A primeira dessas ações foi a criação das Organizações das Nações Unidas em 1945. A ONU, como é conhecida, buscou estabelecer a paz e o bom relacionamento entre as nações do mundo inteiro. Três anos depois, em 1948, na busca de reforçar as ideias iniciais da ONU, foi criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em que, no artigo 25, faz uma referência à pessoa com deficiência, à época, sendo chamada de inválida: Artigo XXV. 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, o direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora do seu controle (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, artigo 25, 1948, p. 6). Como vimos, acadêmico, esse foi o primeiro documento oficial que serviu de base para todas as nações dando diretrizes no trato e nos direitos da pessoa com deficiência. Segundo Gugel (2007), a Declaração Universal dos Direitos Humanos acarretou outros documentos que surgiram a partir da década seguinte, tais como a Declaração dos Direitos das Pessoas com Retardo Mental (1971) e a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (1975) expedidos pela própria Organização das Nações Unidas. Mesmo com esses documentos, a inclusão escolar só foi tratada a partir do final do século XX, mais especificamente no ano de 1994, a partir da Declaração de Salamanca, onde se apresentou princípios, políticas e práticas para a educação escolar. Segundo a declaração, a criança com deficiência passa a ter o direito a frequentar a escola regular com as demais crianças, deixando de ser excluída, valorizando sua diversidade e características (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). Além disso, entre os princípios básicos da Declaração de Salamanca estão o direto à educação, independente das diferenças individuais, a adaptação da escola para a especificidade do aluno e não o aluno à escola, e que toda criança que apresenta dificuldade de aprendizagem pode ser considerada com necessidades educativas especiais. Agora, caro acadêmico, vamos conferir como a trajetória da educação inclusiva se deu em nosso país! Mesmo com esses documentos, a inclusão escolar só foi tratada a partir do final do século XX, mais especificamente no ano de 1994, a partir da Declaração de Salamanca, onde se apresentou princípios, políticas e práticas para a educação escolar. 18 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 2.3 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL Este subtópico buscará retratar como ocorreu o tratamento das pessoas com deficiência no Brasil e a forma como a educação foi pensada para essas pessoas na trajetória brasileira. Podemos dizer que a situação dos PCDs por aqui não foi muito diferente do que você leu da trajetória mundial, afinal, por ser uma colonização europeia, muito do que no Brasil se fez e ainda se faz, seguirá as regras do Velho Continente. Sendo assim, é possível afirmar que a inclusão das pessoas com deficiência no Brasil é algo bem recente. Até o ano de 1600, o atendimento dessas pessoas seguia a crueldade e os maus-tratos conhecidos e realizados no mundo inteiro, como o abandono em ruas, nos conventos ou nas igrejas. Nesse último local citado, havia ainda a chamada roda dos expostos, que consistia em um cilindro de madeira onde, geralmente, os pais colocavam a criança na roda, giravam-na e puxavam um cordão como forma de avisar que o bebê fora abandonado, na sequência, retirando-se para não ser reconhecido (MARCILIO, 1997). Com isso, criou-se a ideia de um assistencialismo às pessoas com deficiência, tendo a igreja como principal instituição cuidadora. O que a Igreja Católica fazia era apenas os cuidados iniciais, visto que, após o resgate à criança deixada na roda dos expostos, a igreja as encaminhava para famílias estéreis ou uma ama seca (MARCILIO, 1997). Sobre a educação escolar para PCDs, Jannuzzi (2004) descreve que os atendimentos pioneiros foram realizados pela Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo, no ano de 1600. Evidentemente, que era uma educação diferente do que concebemos hoje, mais focada em um assistencialismo do que a ideia de educar, visto que, nesse período, na própria Europa, estava surgindo os primeiros pensadores que mudaram o jeito de pensar a educação para as pessoas com deficiência. Podemos dizer que a situação dos PCDs por aqui não foi muito diferente do que você leu da trajetória mundial, afinal, por ser uma colonização europeia, muito do que no Brasil se fez e ainda se faz, seguirá as regras do Velho Continente. 19 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 A Santa Casa foi a instituição mais importante do começo da trajetória da educação inclusiva no Brasil. Além do estado de São Paulo, estas instituições existiram em inúmeras cidades do Brasil, como Salvador, Belém, João Pessoas, entre outras, e foram mantidas por doação das comunidades. No século seguinte, de acordo com Silva (2012), além da Santa Casa, alguns brasileiros passaram a organizar serviços relacionados à área da deficiência sensorial, mental e física. No entanto, Costa et al. (2016) apontam que esses deficientes eram totalmente segregados ou internados em instituições como orfanatos e manicômios: Em geral, os locais segregados são prejudiciais, pois alienam os alunos. Os alunos com deficiência recebem afinal, pouca educação útil para a vida real, os alunos sem deficiência experimentam fundamentalmente uma educação que valoriza pouco a diversidade, a cooperação e o respeito por aqueles que são diferentes (STAINBACK, 1999, p. 25 apud COSTA et al., 2016, p. 4). Como podemos ver pelas últimas frases, apesar de haver um tratamento para as pessoas com deficiência, ele era bastante deficitário e excludente. Pode- se dizer que essa era a tônica das ações governamentais daquele período: a segregação. Em meados do século XIX, encontra-se a fase de institucionalização especializada: aqueles indivíduos que apresentavam deficiência eram segregados nas residências, proporcionado uma “educação” fora das escolas, “protegendo” o deficiente da sociedade, sem que ela tivesse que suportar o seu contato (SOUTO, 2014, p. 16). De acordo com Costa et al. (2016), o século XIX marca, no Brasil, uma expansão das instituições e organizações para as pessoas com deficiência, em que essas pessoas deveriam ser aceitas com o surgimento das escolas especiais que não vão contemplar apenas os deficientes intelectual, mas também voltadas para deficientes visuais e auditivos. Dessa forma, essas pessoas, passam a ser vistas como agentes da sociedade. 20 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Moreira (2013) aponta que o primeiro grande marco da educação inclusiva no Brasil ocorre nesse período, no ano de 1854, quando por decreto de Dom Pedro II, criou-se o Imperial Institutodos Meninos Cegos, na cidade do Rio de Janeiro. Segundo o Moreira (2013), a criação desse instituto se deu pelo trabalho de José Alvares de Azevedo, um cego brasileiro que havia sido aluno do Instituto de Jovens Cegos em Paris, e que atuou como educador da filha cega de um médico da família imperial. O sucesso de seu trabalho propiciou a criação de uma instituição para atender outras crianças cegas da elite brasileira. Em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant (IBC), que até hoje segue sendo uma referência no atendimento a deficientes visuais (MOREIRA, 2013). Essa matéria da TV Escola apresenta os 165 anos de história do Instituto Benjamin Constant. Confira acessando o link: https://www. youtube.com/watch?v=CTWyPdb-XDA Três anos depois do surgimento do IBC, em 1857, Dom Pedro II, em novo decreto, criou uma segunda instituição muito importante no contexto da educação inclusiva no Brasil: o Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, voltada para o atendimento de pessoas com deficiência auditiva. O nome, como podemos ver, ainda considerada que toda pessoa surda era muda, o que foi desmistificado depois, visto que os surdos que não apresentam problemas nas pregas vocais não são mudos, mas apresentam esta condição por não ter o estímulo da audição. 21 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 FIGURA 2 – INSTITUTO IMPERIAL DOS MENINOS SURDOS FONTE: <http://helb.org.br/index.php?option=com_content&view =article&id=235:criacao-do-imperial-instituto-de-surdos-mudos&c atid=1047:1857&Itemid=2>. Acesso em: 10 set. 2020. Este instituto, assim como o instituto para cegos, também teve influências externas para que Dom Pedro II o criasse. Dessa vez, a proposta parte do professor francês Ernesto Huet, que veio ao Brasil com este propósito: fundar uma escola direcionada a este público. Outras similaridades entre os dois institutos eram: o público, visto que o atendimento era voltado apenas para a elite e para as crianças com deficiências mais severa, ambos seguem ativos até os dias atuais, além da troca de nome, pois, em 1957, o Instituto Imperial dos Surdos-Mudos passou a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. Sobre os institutos, ainda cabe ressaltar: Tanto o Imperial Instituto dos Meninos Cegos como o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos eram mantidos e administrados pelo poder central, sendo que na criação do Instituto dos Surdos-Mudos houve tanto influências gerais do contexto como influências de pessoas ligados ao poder político. Embora o atendimento oferecido tenha sido precário, os institutos abriram a discussão sobre educação de pessoas com deficiência no Primeiro Congresso de Instrução Pública, em 1883 (JANNUZZI, 2004 apud SILVA, 2012, p. 24). Outro importante fato ocorrido, ainda neste século, foi a preocupação com os deficientes intelectuais. Primeiramente, no ano de 1874, surgiu um hospital exclusivo para tratamento de deficientes mentais na Bahia, o “Asilo São João de Deus” criado pela Santa Casa de Misericórdia. Atualmente, é conhecido como hospital Juliano Moreira, em homenagem ao médico e gestor do hospital que atuou desde sua fundação. Ainda hoje é um dos locais com maior destaque em saúde mental no Brasil. 22 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais FIGURA 3 – HOSPITAL JULIANO MOREIRA FONTE: <http://historiaeloucura.gov.br/uploads/r/instituto-municipal-de- assistencia-saude-juliano-moreira-brasil-brasil-secretaria-municipal-de- saude-do-rio-de-janeiro/conf/banner.png>. Acesso em: 10 set. 2020. As políticas públicas relacionada à deficiência intelectual ganharam destaque após a Proclamação da República, ocorrida em 1889. Moreira (2013, p. 1) aponta que o governo passou a dar uma atenção especial a pessoas com esta deficiência pois acreditava que isto pudesse implicar em um problema de saúde “uma vez que era visto como problema orgânico e a relacionavam com a criminalidade, além de temerem pelo fracasso escolar”. No começo do século XX, algumas obras começam a valorizar a pessoa com deficiência a partir de lutas e movimentos a nível mundial que acabam por chegar ao Brasil. A partir disso, algumas medidas são realizadas: • Criação da Escola de Crianças Anormais, no Hospital Nacional de Alienado, no Rio de Janeiro em 1904. • Criação do serviço de menores, pelo médio Franco da Rocha, que vai dar origem ao núcleo de classes especiais, em 1921, no RJ. • Criação do Instituto Pestolazzi, no município de Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1921, sendo a primeira instituição não governamental do Brasil para educação especial na área da deficiência mental. Na sequência, a escola foi para outros estados brasileiros como Minas Gerais. Como podemos ver, neste primeiro período, a organização escolar para pessoas com deficiência partiram de atitudes isoladas, não chegando a contemplar o país inteiro. Aranha (2005, p. 14 apud SILVA, 2012, p. 32) define este período como a “retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem e pela manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas 23 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 especiais, frequentemente situadas em localidades distantes de suas famílias”. Ou seja, o deficiente passa a ser visto pela sociedade como alguém que não poderia viver nos mesmos espaços que as demais pessoas, sendo necessário estes locais especiais. A partir de 1930, a sociedade civil começa a organizar-se em associações de pessoas preocupadas com o problema da deficiência: a esfera governamental prossegue a desencadear algumas ações visando a peculiaridade desse alunado, criando escolas junto a hospitais e ao ensino regular, outras entidades filantrópicas especializadas continuam sendo fundadas, há surgimento de formas diferenciadas de atendimento em clínicas, institutos psicopedagógicos e outros de reabilitação (JANNUAZZI, 2004 apud SOUTO, 2014, p. 17). Esse mesmo período é marcado pela chegada, ao Brasil, da psicóloga bielorrussa Helena Antipoff. De acordo com Capellini e Rodrigues (s.d.), Antipoff trouxe novas visões ao tratamento e à educação para pessoas com deficiência para o contexto brasileiro. A psicóloga coordenou cursos para formação de professores e fundou serviços de diagnósticos e classes especiais nas escolas públicas de Minas Gerais. Também vem por suas mãos os primeiros atendimentos educacionais no Brasil com pessoas com superdotação e a contribuição para o surgimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Rio de Janeiro, no ano de 1954 (CAPELLINI; RODRIGUES, s.d.). Além da APAE, outra instituição importante é oriunda deste período: a Associação de Assistência à Criação Deficiente (AACD), que foi fundada no ano de 1950 com objetivo de atender pessoas com deficiência física. Atualmente, a AACD tem 9 polos espalhados pelo Brasil. Já a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), tem como proposta o atendimento de pessoas com deficiência intelectual e tem 2.178 unidades em todo território nacional. A garantia oficial da educação especial no Brasil, ao menos nos discursos oficiais, vai se dá na década seguinte, quando começam a surgir escolas especiais, oficinas e centro de reabilitação atendimento filantrópico. São instituições que seguem segregativas. Ainda neste período, é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases (1961), lei que rege a educação nacional e aborda a educação 24 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais inclusiva em seus artigos. Caro acadêmico,a parte legislativa e os direitos da pessoa com deficiência, acompanharemos no subtópico a seguir. 3 INCLUSÃO ESCOLAR: FUNDAMENTOS E LEGISLAÇÃO Como acompanhamos até aqui, vimos que a trajetória da educação inclusiva a nível mundial e brasileiro, foi marcada por maus tratos, crueldade, exclusão, preconceitos e segregação. Esses fatos deram a tônica do que aconteceu e, infelizmente, ainda acontece por aqui. Neste capítulo, vamos conferir como se deu a legislação brasileira em prol dos deficientes no âmbito educacional e os fundamentos da educação inclusiva. 3.1 LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INCLUSIVA No subtópico anterior, vimos que a educação brasileira é regida pela Lei de Diretrizes e Bases, conhecida como LDB, que foi promulgada pela primeira vez no ano de 1961. Vimos também que ela traz artigos sobre a educação inclusiva, porém, caro acadêmico, antes de abordarmos o que ela diz, vamos fazer um breve rescaldo sobre as leis brasileiras e as pessoas com deficiência. A primeira lei do nosso país que abordará as pessoas com deficiência, é a Constituição Federal promulgada no ano de 1934. Conforme Dicher e Trevisam (s.d.) descreve que o documento representa um embrião do direito à integração social da pessoa com deficiência, ao assegurar amparo a essas pessoas e criando serviços especializados. Os mesmos autores apontam que as três Constituições seguintes (1937, 1946 e 1967) não trouxeram novidades, apenas garantindo o direito à igualdade e uma breve menção ao direito previdenciário, em caso do trabalhador se tornar inválido. A grande evolução para a pessoa com deficiência em relação às leis brasileiras só veio na Constituição Federal de 1988, que destacou os seus direitos e deveres, os direitos sociais, a responsabilidade pública do Estado sobre essas pessoas, o direito à educação, cultura e desporto e o atendimento prioritário. A partir da Constituição, diversas outras medidas foram tomadas em prol dos deficientes em forma de leis, tais como: a preservação de vagas em concursos públicos e a cota de vagas nas empresas privadas, o direito a não discriminação 25 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 (a partir da Convenção de Guatemala) e o direito à educação inclusiva (pela Declaração de Salamanca, já abordado). E é sobre as leis educacionais para as pessoas que falaremos agora! Como já foi dito, a primeira lei educativa que aborda o tema inclusão de pessoas com deficiência na escola, é a Lei de Diretrizes e Bases, promulgada no ano de 1961, a partir de dois artigos: Art. 88. A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá- los na comunidade. Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções (LDB, 1961, s.p.). Embora fossem ainda propostas incipientes, Moreira (2013, p. 2) aponta que “ficava claro que se pretendia integrar, na medida do possível, todos os alunos com deficiências ou não, no processo educacional”, além disso, segundo o mesmo autor, a LDB “previa a integração de todos os alunos no sistema educacional geral (público), colocava-se também o incentivo às iniciativas privadas que visassem abarcar a educação de alunos com dificuldades” (MOREIRA, 2013, p. 2). Uma década depois, uma nova LDB veio para alterar o antigo documento. Nela, foi especificado um “tratamento especial” para aqueles alunos que tivesse deficiências físicas ou mentais e que apresentassem atraso escolar quanto à idade regular da matrícula e também para os superdotados. No entanto, este documento não apresentou como isso deveria ser feito sem trazer uma proposta para a organização do ensino, visando atender às demandas educacionais dessa população. Assim, segundo Capinelli e Rodrigues (s.d.), a LDB reforçou o encaminhamento desses alunos para as classes e escolas especiais. A prova disso, foi o alto número de estabelecimento voltado para esse ensino: em torno de 800. Dois anos depois, em 1973, o Ministério da Educação cria o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), com a responsabilidade de organizar a educação especial em nosso país. O objetivo era alavancar ações educacionais a partir da integração entre essas pessoas e o ensino em geral. Com a intenção de integrar os serviços, o CENESP impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por 26 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado. Tais iniciativas não se efetivaram em uma política pública de acesso universal à educação e permanece, ainda, a concepção de “políticas especiais” para tratar da educação de alunos com deficiência. No que se refere aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não há um atendimento especializado que considere as suas singularidades de aprendizagem (BRASIL, 2007 apud CAPELLINI; RODRIGUES, s.d., p. 2-3). Sem uma política pública para atender os deficientes, o Brasil seguia um ensino entre a segregação e a integração, mas sem, de fato, conseguir atingir uma educação de qualidade para estas pessoas. A década seguinte começou com a Organização das Nações Unidas promovendo, em 1981, o Ano Internacional da Pessoa Deficiente, tendo como premissa a busca da igualdade para todos. Esse pensamento influenciou a legislação brasileira. Primeiramente, comissões para planejar ações para as pessoas com deficiente foram criadas e, mais no final da década, a Constituição Federal trouxe a igualdade como um dos princípios para esta população. Em seu artigo 208, a Carta Magna do Brasil estabelece como obrigação do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, de preferência, no ensino regular. Além disso, o combate à discriminação, o direito de todos à educação, de permanência na escola e de iguais condições de acesso. Um ano depois, a Lei nº 7.853/1989 prevê oferta obrigatória e gratuita de educação especial na rede pública de ensino, além de programas de Educação Especial a nível pré-escolar e, pela primeira vez, alguém poderia ser indiciado criminalmente, com reclusão de 1 a 4 anos e multa, caso negasse matrícula ou manutenção de uma pessoa deficiente na escola. No entanto, a lei deixava brecha ao afirmar que a matrícula era compulsória para quem fosse capaz de se integrar no sistema de ensino regular, deixando, assim, a cargo da instituição para definir quem seria ou não capaz. A garantia da não discriminação e da inclusão, pelo menos nas leis brasileiras, veio com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases no ano de 1996. A LDB alinhava com os princípios da Declaração de Salamanca, e, o seu capítulo V, aborda unicamente a educação especial a partir de três artigos. O artigo 58 apresenta os princípios da educação especial no Brasil: Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, 27 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condiçõesespecíficas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. §3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil (BRASIL, 1996, s.p). No artigo 59, são apresentadas condições que devem ser asseguradas ao aluno com deficiência: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996, s.p.). No ano de 2015, criou-se o artigo 59-A, garantindo a matrícula dos alunos de altas habilidades e superdotação. Já o artigo 60, o último que trata exclusivamente da educação inclusiva, aborda que os órgãos normativos dos sistemas de ensino, estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Como podemos ver pelos artigos anteriores, a LDB trouxe avanços significativos para a educação especial no Brasil, pois garantiu o acesso público, gratuito e obrigatório para as pessoas com deficiência, evitando, assim, a discriminação desde a Educação Infantil. Além disso, traz um importante adendo da adaptação a partir de métodos e currículos para essas pessoas, encerrando de vez a visão de que o deficiente deveria se adaptar à escola e não ao contrário, como sempre aconteceu. 28 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais A partir da promulgação da LDB, outras leis foram se incorporando em prol da educação inclusiva. A primeira delas foi o Decreto nº 3.298/1999, chamada de Política Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência, que se constituiu em um conjunto de normas que objetiva assegurar os direitos para esses indivíduos de forma plena, reforçando as políticas educacionais da LDB e buscando promover a potencialidade da pessoas com deficiência. Sobre os anos 2000, Souto (2014, p. 21) escreve: No decorrer dos anos 2000, o governo brasileiro, mais enfaticamente com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006; 2007-2010), passa a denominar uma política chamada de Educação Inclusiva. Pressionado por oferecer atendimento aos alunos que possuem deficiência, desde 2003 o Governo Federal opta pela matrícula desta população em salas comuns de escola pública, acompanhada (ou não) de um atendimento educacional especializado, prioritariamente na forma de salas de recursos multifuncionais. Com isso, caro acadêmico, a partir desse período, várias leis e decretos foram instituídos no Brasil, tais como: Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), que afirma, entre outras coisas, que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (MEC/SEESP, 2001). Também definiu que o aluno com necessidades educacionais especiais é aquele que apresenta: I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências. II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grandes facilidades de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (CNE, 2001, p. 8). Em 2002, o avanço se deu na área dos deficientes auditivos, pois a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi reconhecida como língua oficial do país com a Língua Portuguesa. O mesmo ano ainda trouxe a resolução CNE/ CP 1, determinando que as instituições de ensino superior devem organizar seus currículos e metodologias contemplando o conhecimento às pessoas com deficiência. Outras medidas importantes foram: 29 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 • Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) em todos os estados e no Distrito Federal (2005) para orientação às famílias e formação continuada dos professores. • Plano de Desenvolvimento de Educação (2007): tinha como seus objetivos principais a formação de professores para educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares e a garantia do acesso e permanência das pessoas com deficiência no ensino superior. • Resolução CNE/CEB 4/2009: apresentou as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Esta diretriz buscou especificar quem seria o alvo do atendimento especializado: I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentem quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentem um potencial elevado e grande envolvimento com áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividades (CNE, 2009, p. 3). • Plano Nacional de Educação: criado em 2011 trouxe meta para a educação inclusiva, visando universalizar o ensino e contemplar o atendimento escolar para as pessoas com deficiência. • Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2014): o principal objetivo dessa política, foi assegurar a inclusão na escola de alunos com deficiência e TDAH promovendo a continuidade dos estudos nos níveis mais elevados de ensino. • Lei da Inclusão (2015): buscou garantir em forma de lei as condições de igualdade, o exercício dos direitos e da liberdade da pessoa com deficiência em prol da sua cidadania. Entre os direitos estão à habitação, à saúde, ao trabalho e à educação. Neste último campo, ficou garantido a adoção de medidas que visem ao desenvolvimento acadêmico e à garantia de aula e de materiais inclusivos. 30 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 1 A primeira lei que tratou da educação escolar para pessoas com deficiência foi a LDB, promulgada em 1961, em dois artigos. A que se referiam estes artigos? R.: 2A partir dos anos 2000, importantes iniciativas foram tomadas em prol da educação inclusiva. Cite três medidas que foram concebidas para este público: R.: 3 A Lei da Inclusão é uma das mais recentes leis brasileiras que tratam das pessoas com deficiência. De que essa lei trata e o que garante no aspecto educacional? R.: 3.2 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Como podemos ver até aqui, caro acadêmico, a educação inclusiva, para atender aqueles que têm alguma deficiência, é garantida a partir de inúmeras leis e decretos que foram criados, especialmente, do final dos anos 1980 até o período atual. Mesmo assim, isso não quer dizer que ela esteja plenamente garantida, visto que, muitas vezes, ela ainda não é cumprida por governantes e sociedade em geral. Sartoretto (2011, p. 3) afirma que o direito da pessoa com deficiência garantido em forma de lei (desde tratados e declarações internacionais até portarias ministeriais) é chamado de fundamento legal, pois “são direitos originários, fundamentais, que decorrem do simples fato de o sujeito desses direitos ser pessoa humana”. Foi o que aconteceu com os direitos das pessoas com deficiências, particularmente, com o direito à educação, visto na perspectiva da educação inclusiva, não como um movimento 31 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 de mão única, mas como um processo de mão dupla, onde, por um lado, se reconhece à pessoa com deficiência direito a frequentar e a usufruir todos os espaços e condições de vida, as mais normais possíveis, e, por outro, se atribui à sociedade, através do poder público, a responsabilidade de garantir à pessoa com deficiência reais condições de acessibilidade a todos os bens materiais e culturais socialmente produzidos e disponíveis, eliminando toda e qualquer barreira – física, cognitiva, cultural – que se interponha entre a pessoa com deficiência e esses bens (SARTORETTO, 2011, p. 4). Ainda, segundo a mesma autora, os fundamentos da educação inclusiva não se baseiam apenas nos princípios legais, mas em outros dois: filosófico e psicológico. Os fundamentos filosóficos são baseados no princípio da igualdade, ou seja, todos nascemos iguais e com os mesmos direitos, entre esses direitos, o de conviver com os nossos semelhantes, não importando as diferenças e, nesse caso, as deficiências, visto que, o ser humano tem direito de viver e conviver com outros seres humanos, sem discriminação e sem segregações odiosas (SARTORETTO, 2011). Assim, o direito de estar numa sala de aula com crianças da mesma idade, com ou sem deficiência, é anterior ao direito do professor de dar aula. O direito da criança e do adolescente de estar numa sala de aula é um direito que decorre do fato de ele ser cidadão, é um direito natural. O direito do professor de dar aula decorre de uma portaria, que, em certos casos, pode ser revogada a qualquer momento. Ninguém pode revogar o direito à convivência e à educação. Em certo sentido, a escola é a continuação e a amplificação da família. A segregação, a discriminação, a exclusão são odiosas, tanto na família quanto na escola (SARTORETTO, 2011, p. 1). Os fundamentos psicológicos da educação inclusiva são baseados a partir do princípio interacionista e, é partir dela, que a criança vai construindo sua identidade, desafiando limites e possibilidades e, consequentemente, aprendendo. As diferenças são salutares para a interação e, por conseguinte, para a aprendizagem. Como nos explica a teoria de Levy Vygotsky. 32 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) nasceu na Bielorrússia e, antes de atuar como psicólogo, formou-se em direito. Sua experiência com a formação de professores, fez com que iniciasse seus estudos no campo do desenvolvimento de aprendizagem, o que gerou a abordagem Sociointeracionista. Vygotsky morreu aos 38 anos devido a uma tuberculose. Quanto mais diversificadas forem essas experiências, quanto mais instigantes esses desafios, mais a criança aprende. Segregar a pessoa com deficiência é negar-lhe o direito a viver num mundo real, é negar-lhe o direito a aprender pela convivência com pessoas ditas não deficientes (SARTORETTO, 2011, p. 1). Sendo assim, a escola como um grande espaço de interação serve como uma grande possibilidade para discutir as diferenças, estimular o desenvolvimento de identidades, barrando o preconceito, respeitando a identidade e desenvolvendo a tolerância. Além disso, uma questão importante que vem sendo bastante discutida em prol da educação inclusiva, é a terminologia utilizada para se referir às pessoas com deficiência. A forma correta de utilizar o vocabulário demonstra, além de conhecimento, respeito com esse público que pode se sentir ofendido com determinados termos preconceituosos. Por isso, caro leitor, pare para pensar um pouco: qual termo você usa para tratar uma pessoa com deficiência? Será que todas pessoas que você conhece utilizam os termos corretos? Será que nunca utilizamos termos rotineiros para se referir a alguém e, por consequência, não acaba por ofender uma pessoa com deficiência? Dessa forma, vamos pensar nas terminologias como fundamentos da inclusão, visto que ela está conectada com tudo que relacionamos aqui. Cabe ressaltar que essas terminologias visam padronizar a forma como as pessoas com deficiências são referidas e que se evite o uso de palavras inapropriadas que Sendo assim, a escola como um grande espaço de interação serve como uma grande possibilidade para discutir as diferenças, estimular o desenvolvimento de identidades, barrando o preconceito, respeitando a identidade e desenvolvendo a tolerância. 33 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 soam de forma pejorativa. Os primeiros termos que precisamos compreender é aqueles que, inclusive, já abordamos aqui: exclusão, segregação, integração e, por fim, aquele que tanto buscamos, que é a inclusão. Por exclusão, entende-se, quando o aluno com deficiência fica separado dos demais, ignorando, dessa forma, todos os preceitos de respeito e diversidade, fazendo com que sua participação se torne limitada. A segregação ocorre também um isolamento, sendo separadas por grupos, por exemplo, as antigas classes especiais, que no mesmo espaço (a escola) havia sala para pessoas com deficiência e outra para pessoas sem deficiência. A integração é quando o aluno com deficiência é incluído no contexto escolar, porém, não existe a inclusão. Por fim, a inclusão é quando todos estão no mesmo espaço, interagindo, participando, sendo respeitados em salas de aula comum. FIGURA 4 – EXCLUSÃO, SEGREGAÇÃO, INTEGRAÇÃO E EXCLUSÃO FONTE: <https://cdn.cloudcoaching.com.br/wp-content/uploads/2019/01/o-que- torna-uma-empresa-inclusiva-interno-1.jpg>. Acesso em: 10 set. 2020. Embora esses termos sejam bastante claros e permanecem ao logos dos tempos, Silva (2012) aponta, a partir de um resgate histórico, que a nomenclatura para indicar a pessoa com deficiência sofreu grandes modificações ao longo do tempo. Segundo o autor, termos que hoje são totalmente descabidos, como anormais, idiotas, incapacitados, excepcionais, deficientes, pessoas com 34 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais necessidades especiais e portadores de deficiências já foram aceitos e eram bastante comuns na sociedade. Novos termos são criados na tentativa de definir, da melhor maneira possível, a clientela da educação especial e, além disso, evitar que a palavra usada para designar essas pessoas seja pejorativa e reflitao preconceito da sociedade. Por esse motivo, os termos anormais, idiotas, incapacitados e excepcionais não são mais utilizados no meio científico e nem mesmo nos dispositivos legais mais recentes (SILVA, 2012, p. 78). Além destes outros termos, também foram utilizados e aceitos por muito tempo pela sociedade em geral, o termo “inválido”, visto que a pessoa com deficiência era considera inútil para o público num todo e “incapacitados”, quando o indivíduo sofria algum acidente que lhe deixava incapaz de realizar algo, como soldados mutilados da guerra (SASSAKI, 1997). A designação para a pessoa com deficiência, como vimos, foi se alterando ao longo do tempo. Depois de muitos termos usadas (muitos de maneira preconceituosa), a Organização das Nações Unidas estipulou como correto “pessoa portadora de deficiência”, no começo dos anos 1990. De lá para cá, muitas outras alterações foram feitas como “pessoas com necessidades especiais”, “pessoas especiais” (esses termos surgiram na busca de erradicar a palavra deficiente). Atualmente, o termo utilizado é “pessoa com deficiência” definido a partir da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembleia Geral da ONU em 2004. Caro acadêmico, é importante ressaltar que o termo necessidades educacionais especiais não é um sinônimo de pessoa com deficiência, pois pode ser utilizada para crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender (BRASIL, 2003). Sassaki (1997) aponta uma lista de termos considerados corretos, tais como: pessoas com deficiência, cego ou deficiente visual, surdo ou deficiente auditivo, 35 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 1 O conhecimento e saber definir os termos faz com que o professor saiba qual a maneira correta de promover a inclusão. Pensando nas terminologias apresentadas, conceitue e dê um exemplo de exclusão, segregação, integração e inclusão. R.: 2 Os fundamentos da inclusão não estão baseados unicamente nas questões legais. Desta forma, explique os princípios dos fundamentos filosóficos e psicológicos para a inclusão. R.: deficiente intelectual, deficiente físico, pessoa com síndrome de Down, pessoa com epilepsia. Segundo o mesmo autor, devemos evitar alguns nomes, pois além de incorretos, podem soar como preconceituosos, tais como: pessoa normal (usar pessoa sem deficiência), ceguinho, surdinho ou surdo-mudo (usar cego ou deficiente visual, surdo ou deficiente auditivo), excepcional (usar pessoa com deficiência intelectual), epilético (usar pessoa com epilepsia), retardado ou retardo mental (usar pessoa com deficiência intelectual), mongol ou mongoloide (usar pessoa com síndrome de down) etc. Utilizar a terminologia correta, no caso do professor, além de demonstrar astúcia sobre o tema, é uma forma de promover a empatia, o bom sendo e a inclusão, evitando o bullying e o desrespeito às pessoas com deficiência. 4 EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA No último subtópico deste capítulo, vamos começar a relacionar as pessoas com deficiência com a prática de exercícios físicos. Como vimos nos subtópicos anteriores e conforme a Constituição Federal promulgada no ano de 1988, essa população possui os direitos garantidos como qualquer outra pessoa e entre esses direitos estão o desporto, matéria, logicamente associada à Educação Física. 36 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais A Educação Física quando exclusivamente pensada e destinada às pessoas com deficiência, recebe o nome de Educação Física Adaptada, podendo também ser encontrada como atividade física adaptada ou, ainda, como desporto adaptado. Brito e Lima (2012, p. 5) vão definir Educação Física Adaptada como “uma área de conhecimento da Educação Física que tem como ideia principal incluir as pessoas com deficiência em um conjunto de atividade, jogos, esportes e exercícios. Pois, muitas vezes, esses indivíduos são excluídos devido a suas condições”. Em consonância a essa ideia, Duarte e Werner (1995) afirmam: A Educação Física Adaptada é uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educacionais especiais, adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada aluno com deficiência, respeitando suas diferenças individuais (DUARTE; WERNER,1995 apud CIDADE; FREITAS, 2002, p. 27). Winnick (2004) afirma que a Educação Física Adaptada é uma subdisciplina da Educação Física e busca possibilitar a participação de alunos com deficiência de maneira satisfatória dentro das escolas ou em demais instituições de ensino. Já Martins (1995 apud FILUS; MARTINS JUNIOR, 2004) aponta que essa área é um campo emergente da educação e necessita que o professor tenha algumas características para que sua aula obtenha êxito: ser observador, paciente e criativo. Outra característica importante dessa área, é que ela vem para contrapor um estereotipo já conhecido da Educação Física que é a busca pelos mais fortes e mais ágeis. Nesse caso, devido as suas dificuldades, os alunos com deficiência possivelmente terão desafios maiores e isso requer do professor uma nova visão sobre o aluno e a aula em si. Caro acadêmico, vamos conhecer um breve histórico da Educação Física Adaptada ao longo dos tempos! Embora seja difícil precisar quando os exercícios físicos passaram a fazer parte da vida da pessoa com deficiência – até mesmo pela forma como foram tratados ao longo do tempo –, Melo e Freitas (2009) apontam que, na China, no ano 3 mil a.C, os exercícios já eram usados de forma terapêutica em alguns casos de deficiência. Mesmo assim, os relatos são extremamente escassos ao longo do tempo. “Uma área de conhecimento da Educação Física que tem como ideia principal incluir as pessoas com deficiência em um conjunto de atividade, jogos, esportes e exercícios. Pois, muitas vezes, esses indivíduos são excluídos devido a suas condições”. 37 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 Chicon (2005) aponta que a Educação Física Adaptada teve sua origem por volta dos anos 1950, assim definida pela American Association nos Estados Unidos. Ela seria considerada como um programa: Diversificado de atividades desenvolvimentistas, jogos e ritmos a interesses, capacidades e limitações de estudantes com deficiência que não podem se engajar com participação irrestrita, segura e bem-sucedida em atividades vigorosas de um programa de Educação Física Geral (PEDRINELLI, 2004 apud BRITO; LIMA, 2012, p. 6). Conforme Chicon (2005), a Educação Física Adaptada surgiu porque a Educação Física Geral não conseguiu abranger a necessidade das pessoas com deficiência. Dessa forma, a sua diferença está nas técnicas, métodos e formas de organização que serão aplicadas ao aluno com deficiência, não existindo o método ideal, mas sim a tentativa pela promoção da aprendizagem (BRITO; LIMA, 2012). Um grande meio de se alcançar a aprendizagem do aluno com deficiência nas aulas de Educação Física, era o desporto adaptado, que passou a ter uma maior divulgação justamente no período de surgimento da Educação Física Adaptada. Podemos dizer, inclusive, que os esportes têm relação com o desenvolvimento da Educação Física Adaptada. No entanto, é incorreto dizer que a história do desporto adaptado começou apenas no período entre os anos 1940 e 1950 do século passado, quando surgiu o embrião dos Jogos Paralímpicos no ano de 1960. Ainda no século anterior, por volta de 1870, já havia esportesque foram adaptados para pessoas surdas, nos Estados Unidos, organizadas por escolas especiais (WINNICK, 2004 apud CARDOSO, 2011). E mesmo a ideia de organizar uma competição para os deficientes disputarem as modalidades, também é anterior a esse período, visto que os surdos já organizavam o chamado “Jogos Silenciosos” desde o ano de 1924, em Paris, na França. A respeito do desporto adaptado, Costa e Sousa (2004) afirmam que o grande boom começou na cidade de Aylesbury, Inglaterra. Nessa cidade, foi criado um Centro Nacional de Lesionados Medulares no Hospital de Stock Mandeville, com o objetivo de tratar pessoas do exército inglês feridas na Segunda Guerra Mundial. O responsável pelo governo a comandar esse centro, foi o médico Ludwig Guttmann. O término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi um marco para a evolução do desporto adaptado para pessoas 38 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais com deficiência, muitos soldados retornavam aos seus países, traziam em seu corpo marcas que jamais esqueceriam. O pós-guerra deixou muitos soldados mutilados, com distúrbios motores, visuais e auditivos, isso fez com que seus governos tomassem uma série de providências sobre a qualidade de vida desses indivíduos, com isso, muitos começaram a ter acesso às práticas esportivas e atividades físicas adaptadas como forma de tentar minimizar as adversidades causadas pela guerra (CARDOSO, 2011, p. 531). Costa e Sousa (2004) apontam que a ideia de Guttmann foi de utilizar o esporte como um meio de reabilitação para as pessoas com deficiência, não apenas nas questões físicas, mas também colaborando no campo psicológico, principalmente no combate ao ócio, no poder de suscitar novas possibilidades, o que resultou em uma maior interação por parte dos membros do hospital (COSTA; SOUSA, 2004; CARDOSO, 2011). O trabalho de reabilitação buscou no esporte não só o valor terapêutico, mas o poder de suscitar novas possibilidades, o que resultou em maior interação dessas pessoas. Através do esporte “reabilitação” estava devolvendo à comunidade um deficiente, capaz de ser “eficiente” pelo menos no esporte (ARAÚJO, 1997 apud COSTA; SOUSA, 2004, p. 30). Além disso, o trabalho de Guttmann dava resultados em outros campos, visto que conseguiu preparar seis paraplégicos para o mercado de trabalho, valendo- se também da prática dos esportes adaptados. FIGURA 5 – LUDWIG GUTTMANN FONTE: <https://i1.wp.com/i.dailymail.co.uk/i/pix/2012/08/29/article-2195037- 144A95FF000005DC-409_634x456.jpg>. Acesso em: 10 set. 2020. O ano de 1948 marcou a oficialização dos esportes adaptados em forma de competição com a realização da primeira edição dos Jogos de Stoke Mandeville, na Inglaterra, para os veteranos da Segunda Guerra que apresentavam lesões medulares. Costa e Sousa (2004) afirma que a adoção dos jogos trouxe o esporte como uma prática sistemática do esporte como meio de reabilitação e inclusão. 39 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 Os jogos de Stoke Mandeville tiveram a participação de 16 atletas ingleses, todos paraplégicos, que disputaram as modalidades de arco e flecha, tiro ao alvo e arremesso de dardo (ARAÚJO, 1997; WINNICK, 2004; CIDADE; FREITAS, 2002; GORGATTI; GORGATTI, 2005 apud CARDOSO, 2011) Naquele mesmo ano, os Jogos Olímpicos foram realizados em Londres, o que proporcionou a Guttmann “a sonhar com uma olímpiada especial que reunisse milhares de deficientes em torno do desporto” (CARDOSO, 2011, p. 532). Cabe lembrar que, naquele mesmo ano, foram realizados os Jogos Olímpicos de Verão, em Londres, na Inglaterra. O sucesso desses primeiros jogos fez com que o sonho do médico inglês começasse a tomar forma quatro anos depois, pois, em 1952, na mesma Stoke Mandeville, realizou-se a primeira competição internacional de desporto em cadeira de rodas para deficientes físicos, reunindo 130 participantes, envolvendo três delegações: Estados Unidos, Holanda e Inglaterra (CARDOSO, 2011; COSTA; SOUSA, 2004). A ideia de receber países de fora para as competições inglesas deu certo, e passou a ser realizada anualmente. Em 1960, ano que marcou a 9ª edição dessa competição, os jogos foram realizados pela primeira vez longe de Stoke, em Roma, que, naquele ano, foi a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de Verão (CARDOSO, 2011; COSTA; SOUSA, 2004). Os jogos em Roma foram disputados por 230 atletas de 23 países, tendo o apoio do Comitê Olímpico Italiano. Pode-se dizer que essa ação marca um envolvimento social de inúmeros países em prol das pessoas com deficiência. Cabe ressaltar que os Jogos foram realizados após a Olimpíada e é considerada oficialmente a 1ª edição da Paralimpíada, tornando real o sonho de Guttmann (CARDOSO, 2011; COSTA; SOUSA, 2004). É bom frisar que, embora os Jogos de Roma (1960) sejam considerados a 1ª Paralimpíada da história, a expressão surge somente quatro anos mais tarde, nos Jogos de Tóquio. A palavra é uma fusão de paraplegia com olimpíada, visto que apenas deficientes físicos participavam. Antigamente, o termo utilizado era Paraolimpíada, substituído por Paralimpíada em 2012. A edição de Tóquio 2021, será a 16ª edição dos Jogos, que, a partir de Seul 1988, são realizados na mesma sede dos Jogos Olímpicos de Verão. 40 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais FIGURA 6 – JOGOS PARALÍMPICOS DE ROMA, 1960 FONTE: <http://rededoesporte.gov.br/pt-br/megaeventos/paraolimpiadas/ as-edicoes/roma-1960>. Acesso em: 10 set. 2020. Atualmente, são disputadas as seguintes modalidades adaptadas nas Paralimpíada: • Atletismo: praticado por atletas com deficiência física, visual ou intelectual, nas categorias masculinas e femininas. As provas dividem-se em quatro grandes grupos: corridas, saltos, lançamentos e pentatlo. Os atletas são divididos em grupos conforme o grau de deficiência realizado pela classificação funcional. • Basquete em cadeira de rodas: pode ser disputado tanto no feminino como no masculino, os atletas são pessoas com deficiência motora. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Basquete, com adaptações. Por exemplo: a cada dois movimentos para impulsionar a cadeira, o atleta tem de quicar a bola pelo menos uma vez. É falta técnica colocar o pé no chão ou levantar da cadeira. A quadra e o tamanho da cesta possuem a mesma dimensão. • Bocha: esta é uma competição disputada por pessoas com paralisia cerebral ou deficiências severas. A competição consiste em lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma branca (jack ou bolim). Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés, instrumentos de auxílio e contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. Todos atletas competem em cadeiras de rodas (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020). • Canoagem: pode ser disputada por atletas com deficiência físico-motora de ambos os sexos. Os competidores são divididos em grupos de acordo com o grau de movimentação dos membros inferiores, superiores e do 41 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 tronco. • Ciclismo: competem, nesta modalidade, atletas com paralisias cerebrais, deficientes visuais, amputados e lesionados medulares (cadeirantes) de ambos os sexos. As provas podem ser em pista ou na estrada. Os atletas podem competir em quatro tipos de bike, de acordo com a deficiência: convencional (pequenas alterações no uso do freio ou câmbio), triciclo (possuem duas rodas atrás), tandem (para cegos, possuem doisbancos e quatro rodas) e handbike (paraplégicos e tetraplégicos – são impulsionadas pelas mãos). O atleta cego compete com bicicleta dupla, com um guia. • Esgrima em cadeira de rodas: é praticada por atletas com deficiência motora ou paralisia cerebral. Nas provas de florete, pontua quem tocar a ponta da lâmina no tronco do rival. Na espada, faz o ponto quem toca a ponta da arma em qualquer parte acima da cintura do rival. No sabre, qualquer toque com qualquer parte da lâmina acima do quadril do adversário vale ponto (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020). As provas são para ambos os sexos. • Futebol de 5: esta modalidade é exclusiva para cegos ou deficiente visuais. São realizados em quadras ou grama sintética com adaptações. O futebol para 5 não possui saída e a partida deve ser disputada sob total silêncio para os atletas ouvirem a bola com guizo. • Futebol de 7: é destinado a atletas com paralisia cerebral. Não existe regra para impedimento e a cobrança lateral pode ser feita com apenas uma das mãos, rolando a bola no chão (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020). Os atletas são classificados conforme seu grau de comprometimento. • Goalball: não é um esporte adaptado, pois foi criado especificamente para deficientes visuais. “A quadra tem as mesmas dimensões das de vôlei (9m de largura por 18m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com 3 minutos de intervalo. Cada equipe conta com três jogadores titulares e três reservas. Os atletas são, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. O arremesso deve ser rasteiro ou tocar pelo menos uma vez nas áreas obrigatórias. O objetivo é balançar a rede adversária” (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020, s.p.). • Halterofilismo: é praticado por pessoas com paralisia cerebral, amputados e pessoas com lesão medular. Os atletas executam o movimento supino estando deitados em um banco. Assim como na competição olímpica, competem por pesos e vence quem levantar o maior peso. É disputado por ambos os sexos. • Hipismo: competem ambos os sexos quem possui deficiência motora ou visual. Os cavaleiros e amazonas são classificados de acordo com a sua deficiência e julgados pela sua capacidade ou habilidade equestre. 42 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais • Judô: disputado por deficientes visuais, sendo os atletas divididos em suas categorias por pesos e por grau de deficiência. A disputa acontece com algumas adaptações à regra oficial: a luta inicia com o atleta em contato com o quimono do oponente. Além disso, a luta é interrompida quando os lutadores perdem esse contato. Também não há punições para quem sai da área de combate. • Natação: são disputadas por atletas com deficiência física ou visual. As provas correm nas quatro tradicionais modalidades: peito, costas, livre e borboleta, em ambos os sexos. As regras sofrem adaptações nas largadas, viradas e chegadas. • Remo: é praticado por pessoas com deficiência física, intelectual ou visual. Os atletas são divididos em classes conforme sua capacidade motora e cada classe compete utilizando um tipo de barco. • Rugby em cadeira de rodas: o esporte é praticado por atletas com tetraplegia ou deficiências nas quais as sequelas sejam parecidas com a de um tetra, sendo que não há divisão de gênero nas competições. • Tênis de mesa: participam atletas de ambos os sexos com paralisia cerebral, amputação ou cadeirantes. As competições são divididas em atletas andantes e cadeirantes. O jogo pode ser individual ou em dupla. • Tênis em cadeira de rodas: é bastante parecido com o jogo convencional, porém a bola pode quicar duas vezes na quadra antes de ser rebatida ao outro lado. Para jogar, o atleta precisa ter uma deficiência relacionada à locomoção. • Tiro com arco: segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (c2020), esta modalidade pode ser disputada por pessoas com amputações, paraplégicos e tetraplégicos, paralisia cerebral, doenças disfuncionais e progressivas, como a atrofia muscular e escleroses, com disfunções nas articulações, problemas na coluna e múltiplas deficiências. As regras são as mesmas do esporte tradicional. • Tiro esportivo: são praticados por atletas com deficiência física ou paralisia cerebral de ambos os sexos. Conforme o comprometimento os atletas disputam a competição em pé ou em cadeira de rodas. • Triatlo: a competição é para homens e mulheres e a prova engloba 750m de natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida. Pode ser praticada por pessoas com variados tipos de deficiência, como cadeirantes, amputados ou cegos. • Vela: na vela homens e mulheres competem juntos. Assim como no remo e na canoagem, os atletas são classificados pela mobilidade que possuem no tronco. • Vôlei sentado: competem homens e mulheres com deficiência física ou relacionada à locomoção. Neste jogo, cada equipe possui seis jogadores, a quadra mede 10m de comprimento por 6m de largura. A altura da rede é de 1,15m no masculino e 1,05m no feminino. É permitido bloqueio de 43 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 saque, mas os jogadores devem manter o contato com o solo o tempo todo, exceto em deslocamento. Cabe ressaltar que nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021, haverá a estreia de duas modalidades: o badminton e o taekwondo. 4. 1. EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA NO BRASIL No Brasil, o desporto adaptado chegou, no ano de 1958, pelas mãos de Robson Sampaio de Almeida e Sérgio Serafim Del Grande que fundaram dois clubes de desporto de cadeira de rodas nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, com o mesmo intuito de Ludwin Guttmann, ou seja, a reabilitação. Por decorrência de acidentes, ambos buscaram reabilitação médica em hospitais americanos, onde conheceram estas modalidades (CARDOSO, 2011; COSTA; SOUSA, 2004). As pessoas que utilizavam os serviços de reabilitação dos institutos dos Estados Unidos tinham incluída no programa de reabilitação uma atividade esportiva, podendo-se escolher entre basquete, natação, arco e flecha ou arremesso de disco e dardo. Del Grande optou por basquete em cadeira de rodas e destaca a integração social como resultado, graças à facilidade de estar viajando e jogando com outros elementos de institutos de reabilitação (COSTA; SOUSA, 2004. p. 8). A iniciativa de Almeida e Del Grande fez crescer a participação das pessoas com deficiência na prática das modalidades adaptadas do Brasil. Em 1972, a primeira delegação brasileira foi enviada para a Paralimpíada de Heidelberg, Alemanha, com a participação na bocha. Quatro anos depois, o mesmo Robson Almeida e Luis Carlos Coutinho conquistaram as primeiras medalhas paralímpicas brasileiras nesta mesma modalidade, ao atingir o segundo lugar (CARDOSO, 2011). De lá para cá, a participação brasileira em paralimpíadas tem ganho destaque com inúmeros resultados positivos. Pode-se dizer que o desenvolvimento das modalidades esportivas adaptadas gerou um grande interesse das pessoas com deficiência para esta prática, a partir da criação de associações que organizassem jogos e competições (principalmente na década de 1980), e também para a Educação Física como campo de conhecimento. Como vimos, as décadas de 1980 e 1990 marcaram as primeiras ações importantes para a pessoa com deficiência no âmbito educacional a partir da 44 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais promulgação da Constituição Federal, ratificada pela Declaração de Salamanca e pela Lei de Diretrizes e Bases. Dessa forma, a Educação Física viu-se como uma nova área de estudo a ser contemplada pelos profissionais. Greguol e Costa (2013) apontam que um desses marcos foi a realização do I Simpósio Paulista de Educação Física Adaptada, ocorrido na Universidade de São Paulo,no ano de 1986, reunidos profissionais e estudantes da área. Dois anos depois, mais uma boa nova para esta área: a criação do primeiro curso em Educação Física Adaptada na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais. Em 1989, foi a vez a vez dos professores e pesquisadores brasileiros participarem pela primeira vez de um congresso internacional: o International Symposium of Adapted Physical Activity. Como fruto desse ambiente de discussão e produção de conhecimento em Educação Física Adaptada, em 1991, surgem as primeiras ideias sobre a criação de uma sociedade que auxiliasse a congregar os profissionais da área. A Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (Sobama) foi fundada em 1994. Na época, surgiu também a Brazilian International Journal of Adapted Physical Education Research (Bijaper), que possibilitou a internacionalização do Brasil na Educação Física Adaptada (GREGUOL; COSTA, 2013, p. 7). A criação do Sobama, caro acadêmico, foi, sem dúvida alguma, um grande marco para a área da Educação Física, pois permitiu grandes avanços na área de inclusão e Educação Física Adaptada a partir de discussões e reflexões. Um ano após a sua criação, o Sobama começou a realizar congressos bianuais, além da publicação de revistas com artigos científicos sobre a área da inclusão (GREGUOL; COSTA, 2013). Mais recentemente, em 2010, surgiu a Academia Paralímpica Brasileira, que busca fomentar a produção de conhecimento científico voltada unicamente para o desenvolvimento do desporto adaptado, trazendo novidades na área da tecnologia e da técnica esportiva como um todo (GREGUOL; COSTA, 2013). Como podemos acompanhar, acadêmico, esse período até o atual, marca um vertiginoso crescimento do interesse e amadurecimento dessa área que resultará em pesquisas e publicações importantes para o campo da Educação Física. Além disso, o surgimento de especializações na área e a própria obrigação de haver uma disciplina na formação acadêmica do futuro professor de Educação Física, traz aos profissionais uma gama maior de possibilidades para atuar nesta área. No entanto, muitos profissionais utilizam o argumento de falta ou pouco conhecimento na área para não promover a inclusão. Evidentemente, que toda 45 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 formação não parece suficiente, mas o profissional precisa avançar em suas ideias para atingir o objetivo: A formação dos professores de Educação Física para lidar com alunos com deficiência é de extrema importância, mas não basta somente uma boa formação inicial, e sim mudanças em toda a esfera educacional, pois nem todas as escolas estão prontas para acolher o aluno com deficiência. Todos estes problemas, sejam na formação dos profissionais ou no ambiente educacional, vêm tornando-se fundamental no momento em que a inclusão é um assunto importante no âmbito escolar (BRITO; LIMA, 2012, p. 7). Sobre a atuação do professor de educação física, Greguol e Costa (2013, p. 19) descrevem: Profissionais de Educação Física que atuam no universo da Educação Física Adaptada assumem um papel transformador com competência específica da área, sendo atores vivos que constroem, mantêm e alteram significados sobre a área, sobre si próprios e sobre as atividades pelas quais respondem. É preciso considerar que o homem é um ser interessado em viver experiências diversas para compor sua história de vida, como sujeito epistêmico, que é compreendido por um sistema capaz de se desenvolver, e como sujeito psicológico, que é compreendido pela capacidade de cada um. Parece-nos, então, fundamental, considerar a individualidade de cada participante, esteja ele em um contexto inclusivo ou não. A partir das palavras desse autor, podemos relacionar que uma atitude profissional precisa estar comprometida com a construção de uma participação positiva do aluno, independentemente de suas capacidades e limitações, promovendo a inclusão. O autor ainda aponta que o profissional de Educação Física deve ser um eterno aprendiz, ou seja, sempre buscar novos estudos e atualização em prol de uma intervenção de qualidade e com responsabilidade. Em consonância a essa premissa, Chicon (2005) aponta que, no âmbito escolar, a inclusão do aluno com deficiência está mais relacionado aos aspectos atitudinais e procedimentais. Segundo o autor, o primeiro diz respeito “à atitude profissional, à concepção de homem que se quer formar, à atitude de aceitação e promoção da diversidade humana. O segundo está no caminho, no meio para atingir os objetivos, ou seja, a escolha da metodologia de ensino, dos procedimentos didáticos” (CHICON, 2005, p. 16). Um dos preceitos da área da Educação Física é respeitar a diversidade da turma, seus diferentes biotipos, as diferentes experiências, gênero e sexo. O mesmo se faz no caso da aula para pessoas com deficiência, cujo professor deve 46 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais pensar a partir dessa premissa para que toda criança tenha a oportunidade de aprendizagem. Chicon (2005), no entanto, faz um alerta: a Educação Física Adaptada deve incluir não pensando apenas em uma simples adaptação da aula para este aluno, mas adotando uma perspectiva educacional cujos objetivos, os conteúdos e os métodos colaborem com a valorização da diversidade humana, buscando, assim, a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Dessa forma, participar da aula de maneira inclusiva colabora para o aluno e para a busca para um mundo melhor. Mantoan (2015) coloca que uma das dificuldades da inclusão é que, na maioria das vezes, as propostas são por demasia conservadoras, sem atingir o objetivo por falta de conhecimento ou por falta de compreensão do que é a aula inclusiva. No primeiro momento de um contexto inclusivo, o professor deve se utilizar do momento de sociabilização, estabelecendo relação de afetividade entre alunos com deficiência com os tutores que ajudarão nesse processo, estabelecendo um propósito construtivo. Aproveitando para estudar essa criança e seus comportamentos, não deixando de brincar e se divertir com ela (CASTRO, 2005). Cardoso (2011) aponta que, para o aluno com deficiência, participar da aula de Educação Física com as devidas adaptações traz benefícios em forma de bem- estar, qualidade de vida, além de ser uma excelente oportunidade para desafiar as suas potencialidades e seus limites e de promover a reabilitação e a interação social. Uma questão que, muitas vezes, envolve a prática do deficiente no exercício físico ou no desporto adaptado, é quando seria a idade ideal para o começo. Cardoso (2011) sugere que a atividade seja utilizada desde os primeiros momentos para o trabalho de reabilitação, com os indivíduos podendo experimentar e vivenciar sensações e movimentos muitas vezes imposto pelas barreiras sociais e psicológicas. 47 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 [...] Perspectivas para o século XXI Antes das tendências integracionistas, a educação caminhou de forma separada da educação especial. A visão que se estabelecia sobre deficiência, que era vinculada à doença, transmitia a ideia de incapacidade de o deficiente aprender com os demais alunos. No nosso entendimento, podemos fazer a mesma relação da Educação Física geral com a Educação Física Adaptada. A Educação Física apresentava como concepção um modelo de corpo no qual o portador de deficiência, principalmente física, fugia dos padrões preestabelecidos por ela enquanto concepção filosófica, o que impulsionou a Educação Física Adaptada a caminhar de forma separada para atender essaclientela. Considerando os novos rumos da educação especial para o século XXI, ou seja, a perspectiva de inclusão, não podemos mais Entre os benefícios para a prática do desporto e do exercício, estão a melhoria da autoconfiança para a realização das atividades diárias, valorização pessoal, autoestima, melhora da condição física, aprimoramento das capacidades físicas gerais e prevenção de deficiências secundárias e reabilitação motora (BRAZUNA; MAUERBERG-DE-CASTRO, 2002; GORLA et al., 2007; GORGATTI et al., 2008 apud CARDOSO, 2011). Dois estudos corroboram com esta perspectiva: o primeiro realizado em 2007, pela Universidade Federal de Santa Maria, na qual os pesquisadores realizaram um trabalho de futebol e futsal (e suas regras adaptadas) para 23 pessoas com deficiência física. Após o estudo, os autores apontaram melhorias no aspecto afetivo-social, na cooperação, respeito, além de melhorias no aspecto de desenvolvimento motor (BORGES et al, 2007 apud CARDOSO, 2011). Outro estudo envolvendo 26 pessoas com deficiência física e sua participação em torneio de basquete em cadeira de rodas, nos Estados Unidos, apresentou melhoria na percepção psicologia, afetiva, social e de saúde (GIACOBBI JR. et al., 2008 apud CARDOSO, 2011) Para encerrar, caro acadêmico, leia o texto a seguir que aponta as perspectivas da Educação Física Inclusiva para o século XXI. 48 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais pensar em educação especial desvinculada da educação geral. E o mesmo ocorrendo com a Educação Física Adaptada, que no nosso entendimento não pode mais ficar desvinculada da Educação Física Geral. Ora, é evidente a total incompatibilidade nos objetivos traçados para cada uma, porém essa nova perspectiva, a inclusão, veio de certa forma questionar as práticas sociais existentes, entre elas, as práticas realizadas pela Educação Física, principalmente na perspectiva escolar, que neste novo paradigma inclusivista, além de não se referir apenas aos deficientes, mas a todos os excluídos sociais, tem que trabalhar no mesmo espaço e tempo com as crianças que possuem as mais diferentes formas de habilidades, capacidades, comportamentos e história de vida. Sabemos que a Educação Física pouco caminhou em direção ao princípio da inclusão. Encontramos poucos estudos voltados para as discussões que envolvem a temática da Educação Física Inclusiva, principalmente tendo como eixo a perspectiva escolar. O que na integração foi diferente para a Educação Física, que chegou a levar seus praticantes ao mais alto grau de capacidade e performance através das Paraolimpíadas, como já mencionamos anteriormente. E é também por isso que afirmamos que a Educação Física, na integração, conseguiu enxergar a potencialidade, valorizar a diferença, superar a visão de corpo imperfeito, mutilado, ineficaz, adaptando os esportes e as atividades físicas para que os PNEs pudessem praticá-los, mas concordamos com Carmo (2002) que a Educação Física não está preparada para tratar o uno e o diverso simultaneamente, conforme aponta o paradigma da inclusão, seus conteúdos estão parados no tempo, o que lhe obriga a recorrer às adaptações. Temos nos perguntado: será possível pensar na criação de um esporte no qual todos participassem juntos, deficientes ou não? Será possível uma Educação Física inclusiva? Não temos respostas para muitas questões, mas entendemos que este é o momento de reflexões e quem sabe descobertas. Podemos afirmar que conviver com a diferença e a diversidade humanas é possível, mas teremos que superar valores e princípios estigmatizantes ainda tão presentes nas relações sociais entre os homens. 49 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 Não negamos a importância histórica da Educação Física e dos esportes adaptados para os PNEs, apenas entendemos que ela precisa ser superada para que alcancemos o novo, o paradigma da inclusão. Em relação aos conhecimentos e estudos da área de Educação Física Adaptada ou especial, concordamos com Freitas e Cidade (1997): deveriam deixar os muros da universidade e se moverem para as escolas públicas, onde estão os maiores problemas, tanto profissionais como sociais. Essas autoras constataram a falta de informação sobre a deficiência dentro das escolas, as dificuldades dos professores em participarem de cursos nesta área e ainda a pouca disponibilidade de eventos que propiciassem a formação dos profissionais voltados para essa temática. Essas ações nos levariam a conhecer melhor o que agora já é velho, como a Educação Física e o esporte adaptado, mas que, para muitos, ainda é novo, pois nem chegaram a conhecer, e ainda suscitar um refletir sobre a temática “deficiência” e, principalmente, levar os professores a um repensar na articulação tempo, espaço e conhecimento na Educação Física escolar, analisando e compreendendo os limites e as possibilidades de inclusão escolar desses alunos aos PNEs. Outro fator importante que veio em decorrência do paradigma da inclusão foi suscitar um refletir do sistema educacional brasileiro e que nos leva a um repensar a Educação Física, principalmente a escolar. Entendemos que é preciso romper com a atual organicidade escolar, buscar novos princípios filosóficos como diretriz para a educação/educação física, buscando compreender que os homens são diferentes, e é na diferença que ocorre a compreensão dos seus limites e possibilidades, é preciso redimensionar o tempo e o espaço do trabalho escolar, flexibilizar os conteúdos rompendo com a compartimentalização dos saberes, e ainda aprender a lidar com o uno e o diverso simultaneamente, que é, no nosso entendimento, o grande desafio para a educação/educação física neste século XXI. Finalmente, podemos dizer que o nosso objetivo ao escrever este texto não foi propor uma nova prática para a Educação Física voltada aos PNEs, mas compreender em que base filosófica as ações dessa Educação Física se sedimentam e, com as reflexões 50 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 1 Como vimos, várias são as modalidades esportivas que podem ser adaptadas para o aluno com deficiência. Cite três que podem ser realizados com o aluno com deficiência visual. R.: 2 Tanto os esportes adaptados quanto o exercício físico em geral trazem benefícios para a pessoa com deficiência. Cite dois benefícios sociais, físicos e psicólogos que estas pessoas podem ter se exercitando. R.: 3 De todas as modalidades esportivas direcionadas aos deficientes visuais, apenas o goalball não foi adaptado, sendo um jogo criado exclusivo para este público. Explique como se joga este esporte. R.: trazidas pelo princípio da inclusão, propiciar um repensar sobre a possibilidade de percorrer novos caminhos para uma prática superadora. FONTE: Adaptado de COSTA, A; SOUSA, S. Educação física e esporte adaptado: história, avanços e retrocessos em relação aos princípios da integração/inclusão e perspectivas para o século XXI. 2004. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index. php/RBCE/article/viewFile/236/238. Acesso em: 20 set. 2020. 51 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, foi possível ver que a educação inclusiva é marcada por duas grandes fases: o período pré-científico (período de grande crueldade para as pessoas com deficiência e de segregação) e a fase científica (quando a partir de estudos de pedagogos e médicos, começa a se ter uma nova visão sobre essas pessoas, primeiramente a integrando e depois buscando a inclusão com a sociedade).Embora saber o que passou nos deixe estarrecidos por tamanho crueldade e preconceito, há que se dizer que ainda não estamos completamente livre das ideias oriundas destes primeiros períodos. Ainda hoje, vemos que a pessoa com deficiência sofre preconceitos e necessita do amparo de movimentos e da justiça para obter algo que deveria ser uma questão simples: o direito da igualdade. Esse direito foi conquistado há muito pouco tempo, o que ainda demonstra que, como sociedade, estamos devendo em questões importantes como empatia e dignidade. Vimos ainda que o direito à educação e ao desporto (ou exercício físico) também necessitou de intervenções para que fosse garantido aos PCDs. No campo educacional, e é sempre bom frisar, a escola e os professores que precisam se adaptar ao aluno e não ao contrário, assim, é função desta instituição e destes profissionais promover a inclusão, garantindo um ensino de qualidade, realizando adaptações tanto no currículo e no método para que facilite o processo de ensino-aprendizagem deste aluno. Na área da Educação Física Adaptada, vimos que essas pessoas sempre foram secundárias até o surgimento dos esportes adaptados no meio do século passado, a partir da proposta de utilizar as modalidades desportivas como meio de reabilitação para lesionados na Segunda Guerra Mundial. De lá para cá, muitos esportes foram adaptados, tornando-se possível e real a participação dessa população nas aulas e, quem sabe, seguindo o caminho da carreira de atleta. Embora haja bastante avanços nessa área, principalmente a partir da criação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada, que contribui com seus estudos valioso, a Educação Física ainda segue com uma visão restrita, tendo pouco olhar para essas pessoas e com uma pequena gama de profissionais buscando informações a título de melhorar sua aula em prol deste aluno. 52 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Compreendendo que a nossa disciplina é completa, pois trabalha todos os aspectos possíveis, é necessário que o professor busque promover a inclusão garantindo ao aluno com deficiência a possibilidade de jogar, brincar, divertir-se e, acima de tudo, o desenvolvimento do repertório motor, físico, intelectual e afetivo. Assim, de fato, seremos inclusivos. REFERÊNCIAS BIANCHETTI, L. Aspectos históricos da educação especial. Revista Brasileira de Educação Especial, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 7-19, 1995. 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Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/ legin/fed/decret/1999/decreto-3298-20-dezembro-1999-367725-norma-pe.html. Acesso em: 20 set. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 20 set. 2020. BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: https://www2.camara. leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722- 53 Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Deficiência Visual, Deficiência Física e Atividade Física ADaptada: História, Contexto e ObjetivosFísica ADaptada: História, Contexto e Objetivos Capítulo 1 publicacaooriginal-1-pl.html#:~:text=Fixa%20as%20Diretrizes%20e%20 Bases%20da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Nacional.&text=a%20 condena%C3%A7%C3%A3o%20a%20qual quer%20tratamento,de%20classe%20ou%20de%20ra%C3%A7a. Acesso em: 20 set. 2020. BRITO, R. F. de A.; LIMA, J. F. Educação física adaptada e inclusão: desafios encontrados pelos professores de educação física no trabalho com alunos com deficiência. 2012. Disponível em: http://revistas.unijorge.edu.br/ corpomovimentosaude/pdf/artigo2012_1_artigo1_12.pdf. Acesso em: 20 set. 2020. CASTRO, E. Atividades física adaptada. Ribeirão Preto: Tecmedd, 2005. CIDADE, R. E.; FREITAS, P. S. 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CAPÍTULO 2 Educação Física e a Deficiência Física A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Discutir os conceitos e classificações da deficiência física. • Identificar os recursos e adaptações necessárias para a inclusão de deficientes físicos na aula de Educação Física. • Desenvolver atividades físicas para pessoas com deficiência motora. • Compreender o que é deficiência física, sua trajetória e classificação. • Conhecer elementos necessários para uma proposta de aula de Educação Física para deficientes físicos na perspectiva inclusiva. • Refletir sobre atividades físicas adaptadas para deficientes físicos. 58 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 59 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A deficiência física ou motora acomete inúmeros brasileiros. Essa deficiência consiste em uma dificuldade no sistema locomotor, que pode ser de leve a severa, afetando, geralmente, algum membro do corpo humano, trazendo prejuízos na forma de se deslocar. Para esse grupo de pessoas, a Educação Física sempre foi um tabu. Além de historicamente excluídos como todos os outros deficientes, a ideia de que essa disciplina trata apenas do físico, dilacerou o processo de não participação das pessoas com deficiência física por serem considerados incapazes de fazer a atividade proposta. Essa visão, além de preconceituosa, mostra-se completamente equivocada, visto que a Educação Física é uma disciplina estimuladora para quem tem essa deficiência, já que pode trazer não só melhorias no desempenho motor, mas propiciar a socialização da pessoa com deficiência em grande grupo e a busca pela superação de seus próprios limites. Para isso, é necessária uma atitude criativa do professor, adaptando regras e materiais para que a inclusão, de fato, ocorra. Este capítulo visa contribuir com essa proposta através da adaptação de jogos, brincadeiras e esportes que, além de promoverem a participação da pessoa com deficiência, mostra a sua realidade para as pessoas sem deficiência, trabalhando a empatia e o poder da superação. 2 DEFICIÊNCIA FÍSICA Os deficientes físicos são uma parcela bastante considerável da população. Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 2019, 6,7% da população brasileira se enquadra neste grupo. Se considerarmos que a população do nosso país está próxima ao número de 210 milhões de pessoas, podemos calcular que em torno de 12 milhões de brasileiros são deficientes físicos. Por esse dado, podemos perceber que um número bastante alto de brasileiros pertence a esse grupo. Por isso, caro acadêmico, faz-se necessário que, como profissionais da área da Educação Física, conheçamos bem essa população. Este subtópico tem por objetivo apresentar conceito, características, causas, tipos e, claro, adaptações curriculares e estruturais para que você tenha um maior conhecimento de causa e, assim, possa tornar sua aula inclusiva, atingindo esse que é o objetivo mais importante para estas pessoas. 60 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 2.1 CONCEITO E HISTÓRICO Assim como podemos ver no capítulo anterior, a vida da pessoa com deficiência, historicamente, foi marcada por perseguições, maldades, exclusão e dificuldades de toda ordem. E mesmo com todos os avanços conquistados nos últimos tempos, ainda devemos reconhecer que a aceitação dessas pessoas na sociedade ainda não é total. Segundo Miranda (2003), no âmbito mundial, é vivenciada uma primeira etapa, marcada pela negligência, na era pré-cristã, em que havia uma ausência total de auxílio e atendimento. As pessoas com deficiência física eram abandonadas, perseguidas e eliminadas devido as suas condições atípicas, e a sociedade legitimava essas ações como sendo normais. Trazendo um pouco do histórico da deficiência física no Brasil, Figueira (2008) aponta que, do período colonial até o século XIX, a situação era de marginalização sendo marcada por pouca ou quase nenhuma assistência. Conforme o autor supracitado, um momento que marcou uma primeira mudança de paradigma foram os conflitos militares ocorridos nessa época, como a Guerra de Canudos e a Guerra do Paraguai. Ao cessar a guerra, notou-se que muitos soldados voltaram lesionados e com deficiências físicas devido aos combates. Isso resultou na solicitação de medidas feitas por Duque de Caxias ao Império. Como medida, foi adotada a construção do Asilo dos Inválidos da Pátria, criado no Rio de Janeiro (então, capital federal), no ano de 1868. De acordo com Figueira (2008), o asilo servia como uma espécie de abrigo onde foram recolhidos para tratamento os soldados mutilados na guerra. Também servia como acolhimento parasoldados já idosos. No entanto, cabe ressaltar que o tratamento era bastante precário e era movido ao assistencialismo, sendo assim, os deficientes físicos eram considerados “inválidos” e “incapazes” de realizar tarefas, reforçando as ideias que permeavam naquele período no contexto brasileiro e mundial. O asilo ficou ativo até o ano de 1976. 61 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 FIGURA 1 – ASILO DOS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA EM 1909 FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-KHQXinuJpGg/UOtM3uu_iNI/AAAAAAAAapE/cjd78- hcm0M/s1600/Blog+do+Iba+Mendes+-+Arquivo+Vivo+--5.jpg>. Acesso em: 19 set. 2020. Figueira (2008) aponta que essa medida foi praticamente a única por muito tempo em prol dos deficientes físicos no Brasil. Outras ações só foram tomadas no século seguinte, por volta de 1940, quando foram criados hospitais que também serviam como escolas, como o Hospital de Clínicas, em São Paulo, que serviam como centros de estudos para o processo de reabilitação, medidas que já haviam sido implantadas na Europa no começo do século. Gugel (2007) afirma que o século XX, de maneira geral, trouxe avanços importantes para essas pessoas, avanços relacionados a ajudas técnicas e a equipamentos tecnológicos como a melhoria de bengalas e cadeiras de rodas. Como todo o segmento de pessoas com deficiência no campo escolar, essas pessoas foram excluídas ou segregadas da escola até o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990 do século passado, quando surgiram as duas leis que buscaram promover a inclusão em terras brasileiras: a Constituição Federal (1988) e a Declaração de Salamanca (1994). Além dessas leis, novas medidas e decretos buscaram esclarecer o que se tratava a deficiência física e como ela pode ser classificada. Um dos momentos importantes foi a promulgação da Política Nacional, no ano de 1999, para pessoas com deficiência física que traz o seguinte conceito: Art. 4ª – Deficiência Física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano acarretando o comprometimento da função física, apresentado sob forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, 62 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais amputação ou ausência do membro, paralisia cerebral, membros com deformidades congênitas ou adquiridas, exceto as deformidades estéticas e que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (BRASIL, 1999, p. 23). Após essa primeira definição realizada pelo governo federal, outras se sucederam, com destaque para o documento proposto pelo Ministério da Educação intitulado “Salas de Recursos Multifuncionais, Espaço do Atendimento Educacional Especializado”, na qual a deficiência física é definida como: A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grande limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida (BRASIL, 2006a, p. 28). Podemos ver que, por essa última definição proposta, temos um conceito mais objetivo e completo de deficiência física. Primeiramente, por esclarecer que essa deficiência pode ser proveniente também do sistema nervoso e não apenas do sistema locomotor. Além disso, as lesões são extremamente variáveis conforme a lesão. A partir dessas definições, inúmeros autores trouxeram reflexões sobre esse conceito. Silva (2006 apud BRASIL, 2006b, p. 17) afirma que a deficiência física são “diferentes condições motoras que acometem as pessoas comprometendo a mobilidade, a coordenação motora geral e da fala, em consequência de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas ou malformações congênitas ou adquiridas”. Pelas ideias de Silva (2006 apud BRASIL, 2006b), essa deficiência também pode influenciar a fala e as questões neurológicas, prejudicando, assim, o seu desenvolvimento educacional. De acordo com as ideias de Diehl (2006, p. 92), conceitua-se deficiência motora como: [...] algum tipo de comprometimento para a realização dos padrões motores esperados. Essa dificuldade em executar os padrões motores pode acarretar comprometimento ou a não realização de alguns movimentos como: caminhar, correr, saltar, manipular coordenadamente objetos e movimentos de estabilização do corpo. Cabe ressaltar, caro acadêmico, que encontraremos, na escola, alunos com diagnósticos variados, sendo assim, a deficiência física não pode ser encarada como única, sendo necessários estudar essa patologia para que o aluno consiga aproveitar ao máximo a aula, dessa forma, sendo cumprido os objetivos propostos. 63 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Embora não haja uma pesquisa recente sobre quanto os acidentes têm sido a causa de deficiência física no Brasil, sabe- se que um número alto ocorre por causa do trânsito. Este dado se confirma em levantamento feito com atletas deficientes físicos que disputaram os Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Os dados apontam que, dos 286 atletas convocados para a delegação brasileira, 101 sofreram acidentes, sendo 52 no trânsito. O raio X completo, você pode conferir acessando a pesquisa em: http://globoesporte.globo.com/paralimpiadas/noticia/2016/09/raio-x- paralimpico-31-dos-atletas-do-brasil-sofreram-acidentes-de-transito. html. 2.2 CAUSAS DA DEFICIÊNCIA FÍSICA Compreende-se que a deficiência física não acontece de única forma, fica bastante óbvio que as causas para que ela ocorra são plurais, podendo estar ligadas a inúmeros fatores: tanto por problemas do organismo como doenças ou malformação até os casos de cunho social como os acidentes. Esses últimos são os responsáveis principais por boa parte dos casos de deficiência no Brasil. [...] acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, devido principalmente à falta de condições adequadas ao trabalho, à negligência dos trabalhadores quanto ao uso de equipamentos de segurança; erros médicos, embora de difícil constatação e comprovação; poliomielite, apesar de as campanhas de vacinação diminuírem sensivelmente este tipo de doença; violência urbana como tiros e uso de outras armas; desnutrição, quando ocorre na infância ou em períodos de gestação. Tais causas podem conduzir o indivíduo à restrição total ou parcial dos seus movimentos expressivos e funcionais e à necessidade de adaptações específicas para a realização dos mesmos (DIEHL, 2006, p. 92). Tanto por problemas do organismo como doenças ou malformação até os casos de cunho social como os acidentes. Dessa forma, conforme Silva (2006 apud BRASIL, 2006b, p. 10-11), as causas da deficiência podem ser classificadas da seguinte maneira: • Hereditárias: por doenças transmitidas por genes, podendo manifestar- se desde o nascimento ou aparecer posteriormente. • Congênita: quando a doença existe no indivíduo ao nascer ou antes de 64 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais nascer, ou seja, na fase intrauterina. • Adquirida: após o nascimento, ocorrendo em função de infecções, traumatismos ou intoxicações. Outras causas de deficiência física são apresentadas pelo documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006c): • Pré-natais: como problemas durante a gestação, perinatais ocasionadas por problemas respiratórios na hora do nascimento. • Pós-natais: como parada cardíaca, infecção hospitalar, doenças infectocontagiosas, traumatismo ocasionado por queda forte. • Paralisia cerebral: por prematuridade, anóxia perinatal, desnutrição materna, rubéola, toxoplasmose, trauma de parto, subnutrição etc. • Hemiplegias: por acidente vascular cerebral, aneurisma cerebral, tumor cerebraletc. • Lesão medular: por ferimento por arma de fogo, ferimento por arma branca, acidentes de trânsito, mergulho em águas rasas, traumatismos diretos, quedas, processos infecciosos, processos degenerativos e outros. • Amputações: causas vasculares, traumas, malformações congênitas, causas metabólicas e outras. • Febre reumática: doença grave que pode afetar o coração. • Câncer. • Miastenias graves (consistem num grave enfraquecimento muscular sem atrofia). 2. 3 CLASSIFICAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS FISICAS Assim como as causas, as classificações relativas às deficiências físicas são variadas, podendo ser observadas a partir de vários aspectos. Um desses aspectos é quanto ao grau de comprometimento que pode ser leve ou pesado, sendo identificável a olho nu. O comprometimento físico leve é aquele em que a pessoa cambaleia no andar ou faz uso de muletas. Já a pessoa que tem o comprometimento físico pesado, soa os casos considerados mais graves quando a pessoa utiliza cadeira de rodas (DIEHL, 2006). 65 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 A classificação da deficiência física, segundo Silva (2006 apud BRASIL, 2006b), também pode ser feita conforme a permanência, sendo dividida em quatro possibilidades: • Temporária: quando, após o tratamento, o indivíduo volta as suas condições anteriores. • Recuperável: quando existe melhora com o tratamento ou suplência por outras áreas que não foram atingidas. • Definitiva: quando apesar do tratamento, o indivíduo não apresenta possibilidade de cura, substituição ou suplência. • Compensável: permite a melhora a partir de substituição de órgãos. Podemos pensar, nesse caso, no uso de prótese para caso de amputação. Uma terceira classificação se dá a partir da fisiopatologia de algumas doenças. Teixeira (2010) aponta duas grandes fisiopatologias: o distúrbio neurológico e o distúrbio ortopédico. A deficiência física por distúrbio neurológico é aquela em que ocorre lesões ou deteriorações no Sistema Nervoso Central, tendo como exemplo mais comum a Paralisia Cerebral (PC). Segundo Teixeira (2010, p. 3), a PC se caracteriza por ser “um distúrbio não progressivo da motricidade, que se evidencia na movimentação e postura. Esse distúrbio é causado por uma lesão ou mau funcionamento do cérebro, o qual ocorre antes dos três anos de idade”. A perda de movimentos ocorrer justamente porque a parte do cérebro que comanda os movimentos é a que foi mais afetada. Ainda é importante ressaltar que embora o nome sugere uma paralisação no cérebro, isso nem sempre ocorre, mas sim um comando de forma equivocada dos movimentos do corpo, não mandando ordens adequadas para os músculos (BRASIL, 2006c). Segundo Teixeira (2010), as causas comuns da paralisia cerebral são prematuridade, desnutrição materna, rubéola, toxoplasmose, trauma de parto, entre outros fatores. No período pré-natal encontram-se os defeitos genéticos, anormalidades cromossômicas que podem produzir anormalidades estruturais no cérebro e no esqueleto; erros de metabolismo, infecções maternas (como rubéola, toxoplasmose ou sífilis), anóxia intrauterina (causada pelo estrangulamento pelo cordão umbilical ou por anemia da mãe, toxemia da gravidez) e intoxicações (incompatibilidade de RH, exposição à radiação tóxica). Na fase perinatal, encontram- se principalmente os traumatismos (uso incorreto de fórceps, parto rápido ou lento demais). Na fase pós-natal, são vários os fatores encontrados: anóxia cerebral, infecções (encefalite, Uma terceira classificação se dá a partir da fisiopatologia de algumas doenças. Teixeira (2010) aponta duas grandes fisiopatologias: o distúrbio neurológico e o distúrbio ortopédico. 66 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais meningite), intoxicações (medicamentosa, anestésica, de radiações), que podem resultar em dano cerebral (BRASIL, 2006c, p. 21-22). De acordo com Teixeira (2010), 86% dos casos de PC vêm de causas pré e perinatais e os 14% restantes de fatores pós-natal. Cabe ressaltar que uma criança com paralisia cerebral pode apresentar alterações que variam desde leve descoordenação dos movimentos ou uma maneira diferente para andar até inabilidade para segurar um objeto, falar ou deglutir (BRASIL, 2006c). A paralisia cerebral pode ser classificada fisiologicamente conforme a qualidade do tônus muscular, tendo como tipos mais comuns de paralisia cerebral a espástica, a atetoide e a ataxia. Caro acadêmico, vamos conferir como são essas formas de Paralisia Cerebral. Espástica: este é o tipo de PC em que o tônus muscular se encontra de forma muito alta, ou seja, mais tenso. Desta maneira, os movimentos dessas pessoas se caracterizam por serem desajeitados, lentos e rígidos. Apresentam maior dificuldade, por exemplo, para modificar sua posição ou tentar pegar algo devido ao dano no córtex motor e a uma hiperreflexia dos tendões mais profundos dos músculos dos membros envolvidos. Essa rigidez tende a aumentar quando a criança vai emitir um comportamento voluntário ou em quadro de maiores emoções, quando está aborrecida ou excitada ou, ainda, quando o seu corpo está em determinadas posições. Cabe frisar que 60% das pessoas que tem PC são sob a forma espástica (BRASIL, 2006c; TEIXEIRA, 2010). Atetoide: é caracterizada por movimentos involuntários e também por variações no tônus muscular. Isso ocorre devido a lesões nos núcleos situados no interior dos hemisférios cerebrais. O tônus muscular de uma pessoa com paralisia cerebral desse tipo gera movimentos involuntários e movimentos voluntários de forma retorcida, caracterizando uma falta de coordenação motora (TEIXEIRA, 2010). No documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006c, p. 21): É como se os braços fizessem movimentos nervosos, os pés dessem pequenos saltos ou apenas uma mão ou um dedo movessem sem intenção, dificultando pegar e manipular adequadamente os objetos. Quando afetados os músculos da fala, as crianças apresentam dificuldade em comunicar pensamentos e necessidades. Além disso, o mesmo documento refere que “problemas de visão também podem encontrar-se associados ao quadro, dificultando a fixação visual para acompanhar os deslocamentos, bem como a dissociação dos movimentos olho- cabeça (BRASIL, 2006c, p. 21). 67 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Atáxica: esta forma de paralisia cerebral é marcada pela diminuição do tônus muscular, incoordenação de movimentos, nistagmo (um movimento rápido de olho) e grandes dificuldades de equilíbrio (em movimentos comuns como sentar-se ou ficar de pé fazendo com que caiam com frequência). A atáxica ocorre a partir de uma lesão no cerebelo ou das vias cerebelares (TEIXEIRA, 2010; BRASIL, 2006c). No documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006c) e Teixeira (2010) ainda podem ocorrer outras formas de paralisia cerebral, tais como: • Rigidez: como o próprio nome sugere, os músculos são extremamente tensos se contraindo de maneira forte quando há o comando cerebral para a movimentação ou um alongamento. A rigidez é considerada uma paralisia cerebral espástica de forma mais severa. • Tremor: este caso ocorre na movimentação involuntária do músculo, também conhecida como intencional. • Hipotonia: como o nome sugere, a tensão muscular é baixa, também conhecida como frouxidão ou flacidez do músculo. A hipotonia, geralmente, acaba evoluindo para a atetoide. • Mista: é quando a pessoa que tem paralisia cerebral possui mais de uma forma, podendo apresentar casos de espástica-atetoide, sendo essa a combinação mais comum. Naturalmente, são pessoas que vão apresentar variação no tônus muscular. Teixeira (2010) afirma que em torno de 25% das pessoas com PC vão tê-la de forma mista. Ainda abordando a deficiência física através do distúrbio neurológico, ela pode ser classificada apartir da topografia, ou seja, a partir dos segmentos afetados pela deficiência motora. Sendo assim, Teixeira (2010) e o documento Saberes e Práticas da Inclusão – Brasil (2006c), sugerem a seguinte classificação: • Monoplegia: perda total da função motora de um membro (inferior ou posterior). • Monoparesia: perda parcial da função motora de um membro (inferior ou posterior). • Diplegia: perda total da função motora de partes homólogas nas duas metades do corpo. • Diparesia: perda parcial da função motora de partes homólogas nas duas metades do corpo. • Triplegia: perda total da função motora de três membros. • Triparesia: perda parcial da função motora de três membros. • Paraplegia: perda total da função motora dos membros inferiores. • Paraparesia: perda parcial da função motora dos membros inferiores. • Tetraplegia: perda total da função motora dos membros inferiores e 68 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais superiores. • Tetraparesia: perda parcial da função motora dos membros inferiores e superiores. • Hemiplegia: perda total da função motora de um lado do corpo (direito ou esquerdo). • Hemiparesia: perda parcial da função motora de um lado do corpo (direito ou esquerdo). Para concluir as classificações da deficiência física, vamos apresentar os distúrbios de origem ortopédica ou de origem muscular. Teixeira (2010) aponta que os casos mais conhecidos são a amputação e a distrofia muscular. A amputação é conhecida como a ausência congênita ou a adquirida de um ou mais membros. Ela é congênita quando ocorre através de uma amielia, dismielia ou focomielia e adquirida a partir de traumas, especialmente. O membro pode ser amputado de forma total ou parcial, geralmente, sendo feito por medida de segurança para preservar a saúde. A distrofia muscular é caracterizada pela perda progressiva da musculatura esquelética voluntária, levando à incapacidade pela dificuldade de movimento ou por ausência total do movimento (TEIXEIRA, 2010). Entre as principais formas de distrofia estão: a de Duchenne (tipo mais severo e precoce, com os sintomas aparecendo ainda criança – em torno dos 5 anos – gerando uma atrofia dos músculos respiratórios, gerando, assim, uma expectativa baixa de vida), a distrofia de Becker (mais lenta que a anterior fazendo com que a expectativa de vida seja um pouco maior), distal (rara, porém menos deletéria), cintura-membros (inicia na região da cintura escapular e pélvica, depois envolve a musculatura paraespinal trazendo deformidades ortopédicas), ocular (inicia pelos olhos e face ocasionado diminuição da mímica facial) e escápula-peronal (inicia na musculatura proximal dos membros superiores e na musculatura distal dos membros inferiores ocasionando deformidades ortopédicas). Além da amputação e da distrofia muscular, Teixeira (2010) cita como distúrbios ortopédicos a artrite (inflamação de uma articulação que causa dor intensa e degeneração articulares), o nanismo (crescimento retardado trazendo estatura baixa) e a osteomielite (infecção óssea podendo ser aguda ou crônica. 69 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 1 A deficiência física pode ter inúmeras causas, sendo que elas podem ocorrem no período pré e pós-natal. Cite como podem ocorrer estas causas. R.: 2 As pessoas com deficiência física geralmente apresentam dificuldades no aparelho locomotor. Esse aparelho é formado por quais sistemas? R.: 3 A distrofia muscular e os distúrbios ortopédicos são possíveis origens da deficiência física. Sobre o distúrbio ortopédico, qual a principal forma e como ocorre? R.: 2.4 ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS À PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Como podemos ver até aqui, as pessoas que têm deficiência física possuem variados tipos e graus de comprometimentos, que requer um estudo individual de cada indivíduo sobre as suas necessidades específicas para que ela seja contemplada com êxito no seu processo de ensino-aprendizagem. Schirmer et al. (2007, p. 27) apontam que: “para que o educando com deficiência física possa acessar ao conhecimento escolar e interagir com o ambiente ao qual ele frequenta, faz-se necessário criar as condições adequadas a sua locomoção, comunicação, conforto e segurança”. Essas condições são chamadas de Atendimento Educacional Especializado que desenvolverá recursos e técnicas para a contemplação do ensino desse aluno e que ele seja capaz de melhor aprender, comunicar-se e, também, de se locomover, é o que vem a ser conhecido como Tecnologia Assistiva. 70 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais A Tecnologia Assistiva deve ser entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função desejada e que se encontra impedida por circunstância de deficiência (BERSCH, 2006). Segundo Schirmer et al. (2007), são exemplos de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência física: o uso da comunicação aumentativa e alternativa (para educandos com dificuldades de fala e escrita), a adequação de materiais didáticos-pedagógicos (como engrossadores de lápis, tesouras adaptadas etc.), desenvolvimento de projetos com profissionais de arquitetura para promover a acessibilidade, adequação dos recursos de informática (como mouses e teclados, entre outros) e uso de mobiliário adequado (como mesas, cadeiras, cadeiras de rodas etc.) que devem ser solicitados junto à Secretária de Educação. É bom ressaltar que nem todas essas adequações o professor é o responsável direto por fazê-las, mas como conhece o ambiente e o aluno, poderá solicitá-la junto aos responsáveis, assim, colaborando para o processo de inclusão. A primeira adaptação necessária quando falamos em aluno com deficiência física é a acessibilidade. Para Silva (2006 apud BRASIL, 2006b), as barreiras arquitetônicas são os maiores empecilhos para esse público, pois geralmente utilizam andadores, bengalas, muletas e cadeiras de roda para poderem se locomover. Essas barreiras nem sempre são voluntárias, mas, segundo o autor, demonstram o descaso e a não obediências às leis do país. A acessibilidade no Brasil é garantida a partir da Lei nº 10.098/2000, que, em seu texto, afirma tratar-se da: Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2000, s.p.). A mesma lei ainda define as barreiras como: Qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros (BRASIL, 2000, s.p.). 71 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Entre as barreiras que existem estão: a urbanística (espaços públicos e privados), os transportes, a comunicação e as informações e as arquitetônicas (que envolvem entre outros os prédios escolares). Além de ser prevista na Lei nº 10.098/2000, essas adaptações também fizeram parte do Plano Nacional de Educação (2001-2010), que estabeleceu que fosse ocorrendo de forma gradativa. Segundo Schirmer et al. (2007), muitas escolas brasileiras ainda não são plenamente acessíveis, assim, não são ambientes acolhedores para as pessoas com deficiência. Uma escola acessível seria da seguinte maneira: Ao entrar na escola deve ser possível identificar o caminho a seguir de acordo com a atividade desejada atravésda configuração espacial e/ou da informação adicional (por exemplo, utilizando a rampa para ir à biblioteca no segundo andar). Um aluno com deficiência visual deveria poder obter informação através de mapas táteis e em braile para encontrar sua rota com independência. Finalmente, ao chegar na biblioteca, deve ser possível a todos os alunos alcançar seus livros e poder ler e estudar em condições de conforto e segurança. Enfim, prover acessibilidade espacial é, sobretudo, oferecer alternativas de acesso e uso a todas as pessoas, garantindo seu direito de ir e vir, sua condição de cidadania (SCHIRMER et al., p. 106). No documento Saberes e Prática da Inclusão (BRASIL, 2006c) enumera algumas mudanças necessárias a serem feitas na arquitetura da escola: 1. Colocação de pequenos degraus inclinados ou rampas. 2. de corrimões próximos a bebedouros, a assentos dos banheiros e à lousa. 3. Remoção de carteiras, de forma a possibilitar a passagem de cadeira de rodas ou facilitar a locomoção de alunos com muletas. 4. Modificação no mobiliário, de forma a promover maior conforto às crianças que usam tipoia, órteses e próteses. 5. Tapetes antiderrapantes nas áreas escorregadias. 6. Portas largas. 7. Cantos arredondados no mobiliário. 72 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Embora garantida por lei, a acessibilidade ainda é bastante deficitária no Brasil. Confira na matéria do Jornal El País uma análise sobre a dificuldade que essas pessoas têm para se deslocar em grandes cidades brasileiras, acessando o link: https://brasil.elpais. com/brasil/2019/05/08/opinion/1557340319_165119.html. Ainda, segundo as tecnologias assistivas, é importante que as pessoas com deficiência tenham um acompanhamento de uma outra pessoa, pois, muitas vezes, não conseguem realizar todas as tarefas sozinhas. Silva e Volpini (2014, p. 9) apontam que: O aluno que não consegue realizar suas atividades fica em desvantagem, pois não tem a oportunidade de criar e desafiar seus colegas. É muito frequente encontrarmos alunos que não são atores de seu próprio processo de aquisição de conhecimento e descoberta. Para isso, também se faz necessário adaptações de materiais como descrevemos anteriormente. Nas figuras a seguir, podemos conferir alguns materiais que podem ser adaptados: FIGURA 2 – TESOURA ADAPTADA FONTE: Schirmer et al. (2007, p. 42) 73 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 FIGURA 3 – ENGROSSADOR DE LÁPIS E ADAPTADOR DE BORRACHA FONTE: Schirmer et al. (2007, p. 44) Para encerrar este subtópico, caro acadêmico, Finger (2007) aponta que também precisamos vencer as barreiras atitudinais, ou seja, um “olhar” diferenciado buscando o melhor desse aluno a partir da empatia e do respeito. Finger (2007) descreve que as relações interpessoais com pessoas com deficiência podem se constituir em significativas barreiras ao seu desenvolvimento, pois desde o convívio familiar, em termos de aceitação e apoio, os obstáculos existentes dificultam ou impedem o processo de aprendizagem daqueles que têm características diferenciadas e necessidades específicas. Dessa forma, fortalecer a relação promovendo uma melhora da autoestima pode ajudar essas pessoas a vencer todas as barreiras que são impostas e tornando a escola verdadeiramente inclusiva. Essas escolas têm como “principais características respeitar, aceitar e acreditar no potencial de cada aluno com deficiência, não apenas os alunos deficientes, mas sim todos, dando uma educação de qualidade e sem preconceitos” (PAULA; COSTA, 2007 apud SILVA; VOLPINI, 2014, p. 27). Assim, você, acadêmico, sendo um futuro profissional de Educação Física, deve começar a pensar dessa forma para que sua aula seja inclusiva e proveitosa para o aluno. Você deve estar pensando, como as aulas de Educação Física devem ser pensadas e adaptadas para os alunos com deficiência física? Como me portar quando este aluno está na minha aula? É isso que vamos conferir a partir do próximo subtópico. 74 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 3 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Neste subtópico, vamos abordar como a Educação Física escolar pode ser adaptada e assim contemplar e colaborar no processo de inclusão do aluno com deficiência física na escola. Como sabemos, a Educação Física é uma disciplina vital para o aluno, desenvolvendo-o em muitos aspectos como o afetivo, o social, o motor e o psicológico, dessa forma, excluir o aluno dessa aula, além de ir contra a LDB e as demais leis brasileiras, trará enormes prejuízos a esse aluno que tanto precisa dela. Como vimos anteriormente, ter um aluno com deficiência física em sala de aula necessita adaptação, conhecimento, diagnosticar suas limitações e suas potencialidades requerendo uma atitude proativa do professor. Muitas vezes, é necessário ir além do que se sabe, buscando estudos mais avançados que complementem a formação do professor. 3.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Estudos vêm demonstrando que a prática de exercícios físicos na escola traz grandes benefícios para as pessoas que têm deficiência física. Aime, Sena e Awad (2014) citam alguns trabalhos como o de Lehnhard, Palma e Antunes (2009) que, em suas pesquisas de campo, com uma turma do 1º ano do ensino regular de uma escola pública da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, havia um aluno com deficiência, constataram a participação desse discente em aula com os demais colegas, mediante às ações inclusivas do professor, promovendo adaptações em aula, trouxe benefícios ao aluno e provou que ele pode participar da aula e assim se sentir inserido no grupo. Aime, Sena e Awad (2014) ainda citam o estudo de Rocha (2009), que em seu estágio em uma escola municipal, observou que um aluno com deficiência física (cadeirante) participava integralmente da aula com os seus colegas. Os autores relatam que “se percebia a euforia e felicidade do aluno ao conseguir 75 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 realizar rolamentos em aula de ginástica artística e nas brincadeiras propostas” (AIME; SENA; AWAD, 2014, p. 5). Lehnhard, Palma e Antunes (2009, p. 2) destacam que “a relevância da continuidade da prática de atividades físicas por pessoas com deficiência física adquirida como forma de reabilitação e manutenção de um estilo de vida saudável. Ademais, a independência da pessoa que possui deficiência está ligada ao estilo de vida ativo”. Acadêmico, como podemos ver pelos estudos apresentados, há a importância de duas questões: a atitude do professor em promover a adaptação a partir da busca pelo conhecimento e da adaptação de suas aulas para que as pessoas com deficiência possam participar. Dessa forma, “a participação de alunos com deficiência física nas aulas de Educação Física é possível a partir de pequenas adaptações, através das quais as interações ocorrem independentemente das limitações que o aluno apresente, possibilitando-lhe a inclusão” (DUTRA; SILVA; ROCHA, 2006 apud LEHNHARD; PALMA; ANTUNES, 2009, s.p.). Essas adaptações podem ser feitas, primordialmente, nas regras e também nos materiais utilizados pelos professores. Elas precisam garantir atividades práticas que visem estimular consciência e imagem corporal, dimensões do corpo, lateralidade, coordenação motora ampla e fina, percepção sensitiva e cognitiva do corpo e desenvolvimento de capacidades físicas, como força e flexibilidade (DIEHL, 2006). Essas habilidades podem ser feitas a partir de jogos, brincadeiras e também dos desportos adaptados, que veremos no subtópico seguinte. No entanto, só as adaptações não garantem que a atividade contemple a inclusão. Diehl (2006) enumera uma série de fatores que devem ser observados durante uma aula de Educação Física: •É importante que os professores estejam atentos ao comportamento socioafetivo de cada criança e jovem, pois eles reagem emocionalmente de maneira diferenciada às tarefas solicitadas. Isso se refere ao grau de autoestima dos alunos que vai influenciar em sua participação e também na facilidade para a melhoria das habilidades motoras. • Uma das questões que faz o aluno ter um conceito positivo de si, é o seu senso de pertencimento ao grupo, para isso, é necessário que ele seja valorizado pelo professor e pelos colegas, fazendo com que ele se sinta integrado, aceito e respeitado por todos. • O estímulo ao jogo faz com que toda criança aprenda regras e limites, A atitude do professor em promover a adaptação a partir da busca pelo conhecimento e da adaptação de suas aulas para que as pessoas com deficiência possam participar. 76 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais sendo que o aluno descobrirá valores e a conviver em grupo, além de desenvolver aspectos como coordenação motora, concentração e fantasia. • Os jogos não devem ser organizados de maneira rigorosa, mas como uma proposta que poderá ser alterada conforme a necessidade do grupo, levando sempre em consideração a criatividade, habilidade e a sociabilidade das crianças e jovens envolvidos. • As crianças e jovens com deficiência física possuem necessidades variadas. Algumas possuem cadeira de rodas, outras podem precisar apenas de apoio e outros possuem habilidade reduzida para os padrões motores convencionais básicos, como manter o equilíbrio do tronco, na posição sentada ou segurar uma bola. Às vezes, as crianças já nascem com o comprometimento motor, tendo de desenvolver habilidades básicas de acordo com seu aparato motor. Essa criança desenvolverá locomoção, manipulação de objetos e estabilização do corpo de maneira peculiar. Por outro lado, alguns jovens podem ter adquirido sua deficiência motora após desenvolver os padrões motores básicos. Dessa forma, terá que aprender as habilidades de locomoção, estabilização e manipulação de objetos, utilizando talvez alguns instrumentos como auxílio (DIEHL, 2006). Seguindo nessa linha, alguns profissionais de Educação Física temem trabalhar com a criança com deficiência física devido ao seu desempenho motor um pouco mais limitado, considerando um fator de destaque em sua aula. No entanto, isso deve ser pensado de maneira contrária, sendo de suma importância que o professor proponha atividades físicas que busquem a melhora ou a ampliação do repertório motor deste aluno. Tendo como exemplo um aluno que é amputado, o exercício físico colabora com a recuperação do membro amputado, pois ajuda na melhora da circulação sanguínea, estimulando a regeneração e a dor no coto, além de prevenir de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Os exercícios ainda colaboram para um fortalecimento dos demais membros, que tem uma sobrecarga naturalmente. 77 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Uma das dicas do Ministério da Educação é fazer atividades de simulação para que as crianças que não têm deficiência possam entender como se sentem as crianças que têm, para que possam vivenciar na prática esse momento. Também é importante que o professor faça uma roda de conversa em que cada um exponha o que sentiu vivendo aquela realidade, compartilhando sentimentos e trocando experiências. Dessa forma, caro acadêmico, vimos quantas contribuições e em demasiados aspectos uma aula de Educação Física adaptada e inclusiva pode conceder a uma pessoa com deficiência física. Por isso, é importante o professor conhecer jogos e brincadeiras que vão proporcionar a inclusão efetiva a essas pessoas. 3.2 JOGOS E BRINCADEIRAS PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Os jogos e brincadeiras são atividades extremamente ricas e devem ser bastante exploradas pelo professor de Educação Física durante seu planejamento anual. Além de permitir aprender brincando a partir de questões lúdicas, os jogos nos permitem uma grande flexibilização de regras e a possibilidade de trabalhar as capacidades motoras, o senso coletivo e, nesse caso, de experimentar uma nova realidade. A seguir, uma lista de sugestões para que você possa aplicar na sua aula. Começando por atividades em que trabalharemos a empatia, ou seja, sentir-se no lugar do colega! • Sentindo na pele • Número de participantes: livre • Material: dois pares de meias grossas e uma camisa com botões (é importante que os alunos tragam de casa a camisa e as meias) • Formação dos alunos: duplas • Descrição da atividade: a turma deverá ser dividida em pares. Um de cada par vestirá as meias nas mãos. Após o comando do professor, o aluno deverá vestir a camisa, abotoá-la, desabotoá-la e se sentar em frente ao seu par. Peça a eles para trocarem o material e repetir a experiência. É importante que o professor explique aos alunos que eles vivenciarão como é ter paralisia cerebral, na tentativa de abotoar uma camisa (DIEHL, 2006). 78 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais • Vivenciando não andar • Número de participantes: livre • Materiais: cadeira de rodas • Formação dos alunos: livres • Descrição da atividade: os alunos vivenciarão situações em que não terão a mobilidade dos membros inferiores. A turma será dividida em dois grupos, um grupo realizará a atividade proposta enquanto o outro espera pela sua vez, observando, e, se preciso, garantindo a segurança dos colegas que realizam a atividade. Os alunos deverão ficar sentados em uma cadeira de rodas e realizar algumas tarefas do seu cotidiano escolar como: movimentar-se de um lado a outro na quadra, utilizar o bebedouro, deslocar-se pelo pátio da escola, deslocando-se até a sala de aula. Após realizar o trajeto, trocam-se as funções (MAURE, 2016). • Vivenciando estar imobilizado • Número de participantes: livre • Materiais: camisetas dos próprios alunos • Formação dos alunos: livres • Descrição da atividade: os alunos irão vivenciar situações em que não terão a mobilidade dos membros superiores, simulando ações que não será possível a utilização dos braços. Para que isso ocorra, será pedido aos alunos e às alunas que coloquem as mãos no bolso da calça ou vista a camiseta, por cima dos braços, evitando, assim, a sua utilização durante a atividade. Os alunos deverão ficar nesta posição, imobilizados e realizar algumas tarefas do seu cotidiano escolar como: levar a sua mochila da quadra até a sala, beber água na garrafinha, enxugar o rosto no papel toalha, abrir uma bala etc. (MAURE, 2016). Vejamos agora atividades em que os alunos exploram os seus sentidos, trabalham as capacidades motoras e ao mesmo tempo possam trabalhar em equipes: Passa 10 Número de participantes: livre Materiais: coletes coloridos, 1 bola Formação dos alunos: duas equipes Descrição da atividade: todos os alunos deverão estar sentados na quadra, independentemente de ter ou não comprometimento motor. A turma deverá se dividir em dois grupos, cada grupo deverá usar coletes de cores diferentes para se distinguir melhor. A delimitação do espaço será de acordo com o número de participantes. O grupo que tiver com a posse de bola deverá tentar realizar 10 passes jogando com as mãos, conseguindo, marcará ponto. Caso a bola caia 79 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 no chão, ou seja, interceptada pelo grupo adversário, a contagem será zerada. Vence o grupo que fizer mais pontos. O tempo do jogo será determinado pelo professor. Adaptação: se houver um cadeirante, o grupo adversário deverá ter um participante de sua equipe sentado em uma cadeira. Caso tenha mais de um cadeirante, o número de participantes em cadeiras deverá ser aumentado. No decorrer do jogo, todos os alunos deverão ficar pelo menos uma vez sentados na cadeira. Variação: o professorpoderá aumentar ou diminuir o espaço do jogo e o número de passes para realizar um ponto (DIEHL, 2006). Pega ajuda com passes Número de participantes: livre Material: 1 bola Formação dos alunos: livre Descrição da atividade: um dos alunos será designado a ser o pegador, os demais serão os fugitivos, todos deverão estar sentados de forma dispersa pela quadra. Tanto os pegadores quanto os fugitivos não poderão se levantar, deverá se locomover sentados. O pegador terá uma bola na mão em que tentará arremessar nos colegas. Aquele que for atingido pela bola, passará a ser o pegador, aumentando o número de caçadores (DIEHL, 2006). Passa repassa Número de participantes: livre Material: 1 bola de vôlei Formação dos alunos: livre Descrição da atividade: os alunos estarão dispersos, sentados pela quadra de voleibol similar, dois deles sentados nas pontas. Os alunos das pontas iniciarão a troca de passes de bola, enquanto os alunos do centro da quadra tentarão pegá-la sem tirar o quadril do chão. O aluno que conseguir pegar a bola troca de lugar com aquele que a jogou (DIEHL, 2006). Toca-retoca Número de participantes: mínimo 10 Material: 1 bola, 1 rede medindo 1m de altura Formação dos alunos: duas equipes Descrição da atividade: serão formados dois times, com cinco alunos em cada time, estarão sentados livremente em cada lado da quadra de vôlei, dividida pela rede. Ao sinal do professor, o aluno de fora da quadra fará o lançamento da bola para quadra adversária, utilizando as duas mãos. Após o lançamento, o arremessador retorna para dentro da quadra. Um componente da equipe adversária deverá pegá-la, passando em seguida para um de seus colegas do 80 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais time. Todos os participantes do time deverão pegar a bola que será devolvida à equipe adversária pelo quinto participante, sem deixar que a bola caia ou segurá- la por mais de 5 segundos. Realizada a ação completa, a equipe marca um ponto. Caso a bola caia no chão, ou seja, passada para o campo adversário sem que todos os componentes tenham segurado a bola, será saque da equipe adversária. Vence a equipe que marcar 20 pontos primeiro. Adaptação: caso a turma tenha mais de 10 componentes, ela poderá ser dividida em dois grupos. Cinco ficarão em posições numeradas pré-definidas dentro da quadra, o restante se posicionará em coluna fora da quadra. Haverá sempre um rodízio antes da realização do saque. O jogador que tiver na posição 5 deverá sair, o primeiro da coluna que estava fora da quadra deverá entrar na posição 1, sendo que o que estava na 1 deverá ir para a posição 2 e o da 2 ir para a 3 e assim sucessivamente. Quando houver um cadeirante em alguma equipe, o professor poderá colocar uma cadeira em alguma das posições da equipe adversária (DIEHL, 2006). Pegue o balão Número de participantes: livre Materiais: balões e barbantes Formação dos alunos: livre Descrição da atividade: os alunos estarão livres pela quadra, sentados no chão ou na cadeira de rodas. Os alunos sentados amarrarão os balões na cintura, os cadeirantes estarão com os balões amarrados atrás da cadeira. Cada participante deverá tentar estourar o balão do colega e proteger o seu. Vence aquele que ficar com o balão intacto enquanto os outros estiverem com os seus estourados (DIEHL, 2006). Chegar à meta Número de participantes: livre Materiais: 1 balão e barbante Formação dos alunos: duas equipes Descrição do jogo: a turma deverá ser dividida em dois times contendo o mesmo número de participantes. A quadra será dividida em dois lados, em cada lado ficará um time. O objetivo de cada time é atravessar a quadra do adversário e tocar o balão que estará pendurado no gol. Se a pessoa que está indo em direção ao balão for tocada dentro do campo adversário, ela terá que ficar parada até que alguém do seu time venha e o toque para que possa continuar (DIEHL, 2006). Pegue o rabo Número de participantes: livre Material: nenhum Formação dos alunos: coluna 81 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Descrição da atividade: os alunos em coluna, segurando com as mãos a cadeira de roda do colega da frente. Um aluno, escolhido para ficar de frente para a coluna, será o "pegador" e tentará pegar o último da coluna, o "rabo", enquanto os demais alunos devem movimentar-se de modo a impedir que isso aconteça. Quando o "rabo" for pego, ele passa a ser o pegador e quem pegou entra na frente e passa a ser a "cabeça". O primeiro da fila ficará com as mãos livres e, por isso, poderá atrapalhar o pegador movimentando os braços, porém sem encostar-se nele. Caso não haja cadeira de rodas, fazer com cadeiras normais (DIEHL, 2006). Corrida dos arcos Número de participantes: livre Material: arcos Formação dos alunos: fileira Descrição da atividade: os alunos, na cadeira de rodas ou sentados no chão, estarão posicionados na linha de fundo da quadra, cada um com dois arcos. Cada aluno estará segurando um dos arcos na mão, e outro estará no chão a sua frente. Ao sinal dado pelo professor, o aluno deverá entrar no arco colocado no chão e colocar o outro arco no chão a sua frente; em seguida, ele deverá entrar no arco que está no chão e pegar o arco que ficou para trás. Sucessivamente, posicionará e entrará nos arcos até chegar ao outro lado da quadra. Vence o primeiro que chegar ao ponto delimitado pelo professor (DIEHL, 2006). Passos musicais Número de participantes: livre Materiais: nenhum Formação dos alunos: círculo Descrição da atividade: os alunos ficarão dispostos em círculo, sentados, enquanto um será retirado do círculo e ficará de costas. Neste momento o professor irá designar um líder dentre aqueles que estão no círculo para comandar os demais. Este irá fazer sinais com as mãos ou com os pés e os demais devem imitá-los. Após o comando do professor, o aluno que está de costas deverá acertar quem é o líder (DIEHL, 2006). Estafeta com bola Número de participantes: livre Materiais: bolas Formação dos alunos: fileiras Descrição das atividades: o professor irá dividir a turma em equipes (quantas forem necessárias) que estarão sentadas com posse de uma bola. Ao comando do professor, o aluno deverá passar a bola por cima da cabeça para o colega de trás e, assim, sucessivamente, até a bola chegar no último da fila. Ao chegar nele, deverá se deslocar até a frente do primeiro da fila sem retirar o 82 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Uma possibilidade que o professor pode usar para promover a discussão em sala de aula é a utilização de filmes que tenham como tema central a deficiência física. Um deles é o filme Procurando Nemo (2003). Nemo é um peixe super protegido pelo pai após nascer com deficiência em uma de suas nadadeiras e de toda sua família ser morta após o ataque de um predador. Quando cresce, quer ir à escola, sendo restringido pelo pai, que além do medo de perdê- lo, acha que é incapaz de fazer suas tarefas sozinhos. Ao longo do filme, Nemo vai provando ao seu pai que consegue realizar suas tarefas mesmo tendo dificuldade com a nadadeira. glúteo do chão para dar sequência ao jogo. Vence a fila em que terminar primeiro (DIEHL, 2006). Bola pelo alto Número de participantes: livre Materiais: bolas Formação dos alunos: fileiras Descrição das atividades: o professor irá dividir a turma em equipes (quantas forem necessárias) que estarão sentadas com posse de uma bola. Os jogadores que estão na ponta da cola (começo e no final) deverão tentar trocar passes pelo alto sem que os colegas interceptem. Caso algum consiga deverá trocar de lugar com o último que passou à bola, porém, sem levantar os glúteos do chão (DIEHL, 2006). Caro acadêmico, importante frisar que, para propor esses jogos e brincadeiras durante a aula de Educação Física, não é necessário que haja um aluno com deficiência física na turma. A inclusão é um tema que precisaser discutido independentemente da existência de uma pessoa em sala de aula, afinal, é um tema social que precisa ser refletido desde a escola. Uma maneira de promover a discussão e a reflexão desse tema é propor uma pesquisa dentro da realidade do aluno com indagações, tais como: você conhece alguém com deficiência física ou outro tipo de deficiência? Como essa pessoa faz para ir à escola, ao trabalho ou visitar os amigos? Há linhas de ônibus suficientes para que elas possam se deslocar? Caso conheçam, acrescentariam muito à aula uma entrevista com a pessoa sobre esses temas e outros como preconceitos sofridos e dificuldades cotidianas. 83 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Ainda em sala de aula, o professor pode propor jogos de raciocínio costumeiros das aulas de Educação Física a partir de pequenas adaptações. Sempre importante frisar que esses jogos podem ser jogados em sua forma natural (caso o aluno consiga), ou ainda, podem ser construídos ou serem feitas apenas uma base para que os materiais fiquem ajustados. Um dos exemplos clássicos desse tipo de atividade é o jogo de cartas. Esse jogo desenvolve habilidades múltiplas como o raciocínio, a estratégia e a comunicação. Como é um jogo que se necessita de um colega para jogar, também é um estímulo à socialização, respeito às regras e ao aspecto afetivo como um todo. Para que se jogue cartas, é necessário que o jogador as segure firmemente e esse pode ser um problema para a pessoa com deficiência física (ou por não ter o membro ou por não ter tensão adequada no tônus muscular para realizar esta tarefa). Dessa forma, o professor pode construir um suporte de madeira para que esse aluno consiga ter controle e visualização sobre as cartas (ver Figura 4). FIGURA 4 – SUPORTE PARA CARTAS FONTE: Schirmer et al. (2007, p. 49) Outro jogo de raciocínio interessante que pode ser levado para as atividades da pessoa com deficiência motora é o jogo de quebra-cabeças. Assim como o jogo de cartas, o quebra-cabeças estimula o pensamento lógico, a concentração e a capacidade cognitiva como um todo. Por ser um jogo de encaixe, que também envolve a coordenação motora e as habilidades manipulativas. O jogo do quebra-cabeças pode ser confeccionado com papelão, rótulos ou figuras. O professor pode utilizar papel contact com velcro nas bases e nos versos das peças para colaborar com o aluno com deficiência. 84 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 1 Para que o aluno com deficiência possa participar da aula de Educação Física é necessário que o professor realize adaptações na aula e cuide de outros fatores inerentes à aula. Cite duas adaptações que o professor pode fazer e mais dois outros fatores em que ele necessita observar. R.: 2 Além de ser obrigatória por lei, a participação da pessoa com deficiência na escola promove inúmeros benefícios para a criança. Cite benefícios físicos, sociais e psicológicos que a criança terá ao realizar as atividades propostas pelo professor de Educação Física. FIGURA 5 – JOGO DE QUEBRA-CABEÇAS FONTE: Schirmer et al. (2007, p. 49) Como podemos ver, caro acadêmico, existem boas possibilidades de jogos e atividades para o professor utilizar em suas aulas, dentro ou fora da sala de aula, fazendo, assim, com que o aluno com deficiência seja um sujeito ativo nos períodos de Educação Física. Outra boa possibilidade provém dos esportes adaptados que veremos no próximo subtópico. Antes disso, vamos às atividades de estudo. 85 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 R.: 3 Uma das formas de deficiência física ocorre via distúrbio ortopédico, como é o caso da amputação. Essas pessoas, muitas vezes, são excluídas das aulas de Educação Física, sendo que para elas o exercício só traz benefícios. Quais os benefícios do exercício físico para pessoas amputadas? R.: 4 ESPORTES ADAPTADOS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Para encerrar este capítulo, caro acadêmico, vamos apresentar outra possibilidade valiosa para utilização nas aulas de Educação Física contemplando os alunos com deficiência física: os esportes adaptados também chamados de esportes paralímpicos. Esses esportes dão uma ótima oportunidade de inclusão, embora, sempre caiba ressaltar, não é necessário ter um aluno com deficiência para que eles sejam trabalhados em aula. Os esportes adaptados surgiram, como já vimos no capítulo anterior, em meados do século passado, na Inglaterra, pelas mãos do Dr. Ludwig Guttmann, a fim de recuperar lesionados medulares de guerra. Todos esses lesionados, como sugere a origem da lesão, eram de origem física, sendo assim, podemos afirmar que a primeira ideia para esses esportes e também dos jogos paralímpicos foram voltados para essa população. Segundo Castro (2005, p. 437): Em esportes, adaptação significa modificação, ajuste ou acomodação de contextos físicos (equipamentos, locais, material) e de procedimentos (regras, organização) de uma modalidade ou evento esportivo. O esporte para deficientes é muitas vezes adaptado às limitações e potencialidades do indivíduo para possibilitar experiências com novos movimentos e novas vivências, promovendo integração total do indivíduo com a sociedade. Bagnara (2010) coloca que além dessas adaptações relacionadas ao espaço, ao material e às regras, no caso do aluno com deficiência física, o professor ainda precisa observar as questões de acessibilidade, visto que, muitas vezes, o aluno tem interesse de participar, porém não conseguem, pois não chega ao local ou, ainda, se chegam, não tem acesso às instalações. 86 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Desta forma, Diehl (2006) aponta que apesar de ser um rico conteúdo que possibilita ao aluno grandes benfeitorias como as demais atividades, além de ser extremamente socializador, o esporte adaptado ainda não está totalmente incluso nas aulas de Educação Física na escola. Cabe à escola buscar meios para tornar os espaços acessíveis ao aluno e ao professor promover essa prática tão rica. Rocha (2009 apud AIME; SENA; AWAD, 2014, p. 5) em suas observações sobre estágios coloca que a atitude do professor é fundamental neste processo: Quando era futebol, a aluna jogava com a muleta e a professora a segurava por trás, para não cair. A professora e os colegas ajudavam a empurrar a cadeira para a aluna jogar basquete. No jogo de vôlei, ela quem realizava o saque. Contudo, a adaptação da aula foi gradual. Para o basquete, no início, foi usada a bola mirim, mas em pouco tempo a oficial foi adotada. Com o vôlei, a bola de EVA (material leve, semelhante a um emborrachado) facilitava o saque. No futebol, a aluna era a única que podia usar algo além do pé, chutando com a muleta. Entretanto, teve que enfrentar o ciúme de alguns colegas que achavam que ela recebia mais atenção que o resto da classe. Para resolver esse problema, a professora levou toda classe para conhecer a AACD (Associação de Assistência da Criança Deficiente) para ver uma realidade mais impactante que as limitações apresentadas pela colega. Lá eles encontraram casos como um garotinho que precisava de um skate para se locomover, pois não tinha pernas. Eles ficaram bastante tocados e entenderam melhor a situação da colega. Atualmente, algumas modalidades são voltadas para as pessoas com deficiência física, sendo elas: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, canoagem, ciclismo, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 7, halterofilismo, hipismo, remo, rugby em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela e voleibol sentado (COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL, 2020b). Acadêmico, escolhemos algumas modalidades mais familiarizadas à Educação Física na escola para que você possa compreendê-las mais e aindacomo sugestão de atividades para que você possa implantá-las no seu planejamento. 87 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Uma das histórias mais espetaculares do esporte brasileiro é do iatista Lars Grael. Com duas medalhas olímpicas no currículo, sua carreira foi interrompida após ser atingido por uma lancha em alta velocidade que lhe amputou uma perna. Em 2015, o iatista lançou sua biografia “A Saga de um Campeão” (Edições de Janeiro), ele conta os detalhes do acidente e também narra a reconstrução da sua carreira. 4.1 ATLETISMO O atletismo adaptado para pessoas com deficiência física é um dos esportes pioneiros para esse público. Quando Guttmann pensou os jogos de Stock Mandeville, na Inglaterra, no ano de 1952 para os lesionados de guerra, uma das provas realizadas foi a corrida de cadeira de rodas. Logo esse esporte entrou na primeira edição paralímpica em 1960 e está até hoje no rol de esportes paralímpicos. Nos jogos oficiais atuais, os atletas são divididos pela classificação funcional. Dessa forma, os deficientes físicos são divididos em seis categorias: paralisados cerebrais – subdivididos em cadeirantes e andantes, nanismo, deficiência dos membros inferiores, deficiência dos membros superiores, cadeira de rodas e amputados de membros inferiores com próteses (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, 2020a). As provas do atletismo adaptado podem ser disputadas por ambos os sexos, são praticamente as mesmas provas do atletismo comum (exceto o salto com vara, lançamento de martelo e corridas com barreiras e obstáculos), sendo divididas em provas de pista, rua e campo (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). Na pista, temos as provas de velocidade (100m, 200, 400m, revezamento 4x100m e revezamento 4x400m), meio-fundo (800m e 1.500m) e fundo (5 e 10 mil m). Nas provas de campo, temos o salto em distância, salto em altura, salto triplo, lançamento de disco e club, lançamento de dardo e arremesso de peso e, por fim, nas provas de rua, temos a maratona (42km) e a meia-maratona (21km) (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). 88 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais FIGURA 6 – ATLETISMO EM CADEIRA DE RODAS FONTE: <https://www.cpb.org.br/upload/noticia/74e669f1e2a044758ef1d593e7533aef. jpg>. Acesso em: 19 set. 2020. Para se trabalhar o atletismo adaptado na iniciação, Lima (2017) sugere que, primeiramente, trabalhe-se as técnicas motoras básicas pertinentes a essa modalidade, sendo que são as mesmas que são utilizadas no atletismo comum. Segundo o mesmo autor, esse trabalho deve ser feito de forma progressiva, ou seja, respeitando a individualidade da criança, considerando todos os aspectos metodológicos e os cuidados necessários. Lima (2017) sugere uma lista de procedimentos que o professor necessita observar na hora de ensinar essa prática à pessoa com deficiência, evitando acidentes, tais como: • Modificar e/ou ajustar equipamentos, locais, materiais, regras etc. • Respeitar a individualidade da criança. • Incluir de forma natural e sem distinção o aluno com deficiência, elaborando atividades que todos possam participar, estimulando, assim, a integração e o respeito às diferenças. • Se o aluno faz uso de cadeira de rodas, deve-se cuidar da sua transferência de uma cadeira para a outra ou para o local onde será realizada a atividade. Esses cuidados são necessários em função da falta de sensibilidade que seu aluno pode ter em determinadas áreas do corpo. • Permitir que o aluno ofereça orientações necessárias para auxiliá-lo quando ele estiver ciente de suas inaptidões ou dificuldades. • Não achar que o aluno é incapaz de realizar as atividades. • Em aulas cuja prática seja de corrida em cadeira de rodas, atentar para que, no momento do impulso ou durante a atividade, o aluno não Sugere que, primeiramente, trabalhe-se as técnicas motoras básicas pertinentes a essa modalidade, sendo que são as mesmas que são utilizadas no atletismo comum. 89 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 machuque os dedos nos raios. • Em provas de arremesso e/ou lançamentos, fixar bem a cadeira de rodas para não se desloque. • Se o aluno faz uso de muleta e tem dificuldade de equilíbrio, procure ficar próximo para oferecer segurança na atividade desenvolvida. • Conversar previamente com o aluno que faz uso de prótese ou órtese, para que, juntos, possam avaliar os itens de segurança e desempenho a fim de descobrirem se é melhor, durante a atividade, fazer uso ou não do aparelho. • Ter uma atenção especial com quem teve lesão medular, pois podem ter uma disfunção no sistema de regulação térmica. Além disso, Lima (2017) também sugere adaptações nos materiais como utilizar o cabo de vassoura ou bambu como dardo, um garote elástico ou bolas de meia com areia para o arremesso de peso ou lançamento de disco e colchões para a queda dos saltos. 4.2 BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS O basquetebol em cadeira de rodas é uma modalidade exclusivamente voltada às pessoas com deficiência física. Assim como o atletismo, a sua prática começou após a segunda guerra mundial por soldados norte-americanos feridos. Outra similaridade entre os dois esportes é que integram o quadro de modalidades paralímpicas desde a primeira edição do evento, realizada em 1960 (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Como vimos no subtópico anterior, essa modalidade tem importância especial para o desporto paralímpico brasileiro, pois foi a primeira modalidade praticada no Brasil trazida por dois brasileiros (Robson Almeida Sampaio e Sérgio Serafim Del Grande) que foram se reabilitar de acidentes em clínicas americanas (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). Assim como a maioria das modalidades, o basquete em cadeira de rodas tem regras adaptadas do jogo comum. Entre as principais adaptações estão: o jogador deve quicar, arremessar ou passar a bola a cada dois toques dados na cadeira, o jogador não pode colocar o pé do chão ou se levantar da cadeira, pois é falta técnica. Além disso, as cadeiras de rodas devem ser padronizadas em busca da igualdade da competição. A quadra e o tamanho da cesta possuem a mesma dimensão (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, 2020b). 90 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais No basquete, os atletas também possuem classificação funcional, sendo classificados de 1 a 4,5. Quando maior sua deficiência e, por consequência, menor a mobilidade, menor será a classe. A soma dos cinco jogadores que estão em quadra nunca pode ultrapassar o máximo de 14 (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). Para conhecer um pouco mais sobre o basquete em cadeira de rodas, acesse o link: https://youtu.be/DomzTPK8414 e veja as lições de como jogar esta modalidade. De acordo com Ribeiro e Teixeira (2006), a iniciação ao basquete em cadeira de rodas deve-se iniciar a partir dos gestos motores, porém, o professor precisa ter observação especial com a cadeira de rodas, afinal, o aluno cadeirante a usa, na maioria das vezes, para uso diário, e, nesse caso, ela é parte integrante do jogo com a bola. Sobre a cadeira, Ribeiro e Teixeira (2006, p. 32) expõem: Como estamos num processo de iniciação ao esporte, é importante que o professor tenha oportunidade de conhecer a cadeira, suas possibilidades de deslocamentos, como o seu corpo se organiza na cadeira. Peça ao aluno esta oportunidade, assim você poderá ter uma noção mais clara das atividades que poderá propor vivenciar na prática com o uso da cadeira de rodas e permita também que outros alunos da sala o façam. Este pode ser um dos primeiros passos para você desenvolver uma aula de iniciação. Caso os demais alunos também joguem com a cadeira de rodas, a recomendação é a mesma. Do contrário, eles devem jogar segurando cadeiras normais para que o jogo tenha igualdade. Ribeiro e Teixeira(2006) colocam que o domínio da cadeira envolve técnica de proteção para queda, propulsão da cadeira de rodas (para frente e para trás), frenagem, mudança de direção, largadas e partidas e empinar. Sobre o ensino do jogo, Ribeiro e Teixeira (2006) relatam a importância de se começar pelos elementos do jogo convencional, como o ensino de fundamentos, por exemplo, o passe, o arremesso e o drible, utilizando-se de processo Professor precisa ter observação especial com a cadeira de rodas, afinal, o aluno cadeirante a usa, na maioria das vezes, para uso diário, e, nesse caso, ela é parte integrante do jogo com a bola. 91 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 pedagógico similar, e como já dito, enfatizando no controle da cadeira de rodas. Entre os exercícios, Ribeiro e Teixeira (2006, p. 38) sugerem: • Sentado no chão ou na cadeira de rodas, passar a bola e dizer o nome. • Jogar a bola para cima e pegar. • Rolar a bola no chão e tentar pegá-la. • Rolar a bola em um banco sozinho e depois em dupla. • Bola ao cesto, preso na cintura ou na cadeira de rodas. • Dois a dois, de frente um para o outro, rolam, jogam ou quicam a bola, parados e/ou em movimentos, com uma ou duas bolas. Variações: deverão ser utilizadas bolas de vários tipos, bem como balões de ar de cores e tamanhos diferentes. • Todos os alunos participam. Um dos participantes é escolhido como pegador. A um sinal, ele tentará pegar os demais. Quem for tocado por ele, na cadeira ou no corpo, virará estátua. Variação: o aluno que virar estátua poderá ser salvo por outro colega. Pega-ajuda – o aluno que for alcançado passará a ser o pegador também. • Realizar disputa de arremessos de várias partes da quadra. 4.3 BOCHA A bocha, assim como o basquete, foi um jogo criado exclusivamente para pessoas com deficiência física. Nesse caso, é um jogo voltado a dois públicos: paralisados cerebrais e pessoas com deficiência severa. Esse é um jogo que tem sua prática e oficialização mais recente. No Brasil, ele chegou na década de 1970, e, nos jogos paralímpicos, entrou no quadro de esportes na edição de Stock Mandeville, em 1984. Cabe ressaltar que antes da versão adaptada atual da modalidade, existia o lawn bowls, uma espécie de bocha jogada na grama, que deu ao Brasil a suas primeiras medalhas paralímpicas nos Jogos de 1976 (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). O jogo pode ser disputado na forma individual, em pares ou em equipes. Uma partida consiste na disputa de 4 parciais, sendo lançadas 13 bolas em cada parcial, assim divididas, 1 bola branca, ou bola alvo, 6 bolas vermelhas e 6 bolas azuis. O jogo deverá ser disputado em uma quadra plana e lisa, com as delimitações de 6m x 12,5m. O objetivo do jogo é ter as suas bolas de cor mais próximas da bola branca antes da primeira bola do adversário (PICULLI, 2016, p. 25). Sobre o jogo, ainda cabe dizer que os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido 92 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio e contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. Como toda modalidade paralímpica e adaptada, a bocha também possui sua classificação funcional, que aqui é dividida em quatro classes: B1, B2, B3 e B4. Na B1, o atleta tem a opção do auxílio de ajudantes que podem estabilizar ou ajustar a cadeira e entregar a bola ao jogador. Na B2, os atletas têm autonomia e jogam sem auxiliar. Na B3, são jogadores com deficiência muito severas que são auxiliados por uma pessoa ou por um instrumento. Na B4, também são igualmente pessoas com deficiências muito severas, mas que não recebem assistência. Essa última é a única classe em que os jogadores não são paralisados cerebrais, com isso, suas disfunções são de origem degenerativa como distrofia muscular, AVC, lesão medular, entre outros. FIGURA 7 – ATLETA DE BOCHA E O CALHEIRO FONTE: <https://www.cpb.org.br/upload/noticia/ ad4d30b4fd0b4089bc5cec33a6c479f8.jpg>. Acesso em: 19 set. 2020. Sobre o ensino da bocha, Piculli (2016) descreve que o desenvolvimento do aluno para o jogo ocorre a longo prazo. Primeiramente, o professor deve buscar com que os alunos adquiram os movimentos básicos do jogo, a partir dele e de sua evolução, alcançará não só a técnica, mas também o desenvolvimento mental, cognitivo e emocional. Atletas com e sem deficiência precisam adquirir as habilidades básicas de movimento como agilidade, equilíbrio estático e dinâmico, coordenação, e habilidades por meio de jogos e com diversão, e isso precisa acontecer antes da puberdade. Crianças com deficiência devem ser encorajadas a desenvolver muitas dessas habilidades segundo suas potencialidades, pois mesmo não conseguindo executar de forma perfeita alguns movimentos eles precisam desse estímulo para desenvolver as habilidades específicas do jogo e também atividades para a sua independência (PICULLI, 2016, p. 38). Primeiramente, o professor deve buscar com que os alunos adquiram os movimentos básicos do jogo, a partir dele e de sua evolução, alcançará não só a técnica, mas também o desenvolvimento mental, cognitivo e emocional. 93 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 A autora relata que os alunos precisam ser expostos a um vasto repertório de habilidades motoras fundamentais para que consiga jogar bem a bocha. Após, quando começar sua iniciação à bocha, o aluno vai passar por três estágios, segundo o Programa de Desenvolvimento “Long Term Athlete Development Model” (2002 apud PICULLI, 2016), desenvolvido pela Associação Canadense de Esportes para Paralisia Cerebral. • Estágio 1: deve ter adquirido o equilíbrio, a habilidade de posicionar a cadeira de rodas, de posicionar o seu corpo, em lançar alguma coisa em um alvo, boas capacidades motoras como flexibilidade, força e resistência, entendimento sobre o jogo e confianças em situações reais. Essa é uma fase de iniciação e primeiros contatos com o jogo. • Estágio 2: deve ter conhecimento sobre a sequência de habilidades para fazer um lançamento, dos ângulos utilizados em um jogo de bocha e dos tipos de arremessos que se utiliza durante o jogo. Essa pode ser definida como uma fase intermediária. • Estágio 3: confiança em variadas situações de jogo, compreensão básica do jogo de equipe e seus pares, entendimento de defesa e ataque, identificar e corrigir erros técnicos de combinação de lançamento, saber combinar arremessos. Essa é a fase em que o jogo se torna mais competitivo. Ainda sobre a bocha, cabe dizer que na escola ela é um jogo muito fácil e simples de jogar devido as suas regras e aos poucos materiais que solicita. Caso não possua as bolas de bocha, elas podem ser facilmente adaptadas com bolas de handebol ou bolas de meia com areia. Além disso, todos os alunos podem participar: aqueles que não possuem deficiência jogam sentados em uma cadeira comum, porém, deve ser observada a posição do braço de arremesso que deve ficar sempre em paralelo ao corpo. 4.4 FUTEBOL DE SETE O futebol de sete é uma modalidade praticada por pessoas com paralisa cerebral. Essa paralisia pode ser decorrente de acidentes vasculares cerebrais ou ainda de traumatismos cranioencefálicos. Ao contrário das demais modalidades apresentadas até aqui, o futebol de sete é disputado apenas por homens em nível competitivo dos Jogos Paralímpicos (o que não proíbe nenhuma menina de jogar quando ensinada na escola). Essa modalidade passou a entrar no rol das Paralímpiadas na edição de Stock Mandeville, em 1984. Segundo Reis e Mezzadri (2017), essa modalidade 94 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais começou a ser praticada no Brasil no final da década de 1980 e ainda não se tornoutão forte quanto o futebol de cinco, que é jogado por deficientes visuais. Assim como o futebol de campo, as regras do jogo são decididas pela FIFA. Em relação ao seu “jogo-mãe”, o futebol de sete sofre adaptações em suas regras realizadas por essa entidade em conjunto com a Associação Internacional de Esporte e Recreação para Paralisados Cerebrais (CP-ISRA) (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). Entre as principais regras desse jogo estão: • O campo tem, no máximo, 75m x 55m com balizas de 5m x 2m. • A marca do pênalti fica a 9,20m do centro da linha de gol. • Cada time tem sete jogadores (incluindo o goleiro) e cinco reservas. • A partida dura 60 minutos, divididos em dois tempos de 30, com um intervalo de 10. • Não existe regra para impedimento. • Os arremessos laterais podem ser cobrados com apenas uma das mãos. A classificação funcional dos jogadores de futebol de sete é dividida em três classes: FT1, FT2 e FT3. O atleta classificado como FT3 é o que apresenta um comprometimento leve, o classificado com FT2 tem comprometimento intermediário e o da FT1 é o que apresenta um comprometimento mais severo. Ainda sobre a classificação funcional, é importante ressaltar que na atual regra as equipes precisam ter, obrigatoriamente, um jogador FT1 em quadra. Caso não seja possível, o time deve jogar com seis ou cinco jogadores. Cada equipe só pode contar com, no máximo, um atleta da classe FT3 em campo, durante toda a partida (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). Assim como todas as modalidades, essa é mais uma que o aluno necessita começar com os fundamentos básicos, que são iguais ao futebol. Esse é um fator facilitador para o ensino da modalidade, na qual o professor precisará fazer mais adaptações às regras do que qualquer outra coisa, visto que, nenhum jogador precisa de um equipamento específico como a cadeira de rodas ou a muleta. Caso algum aluno apresente essa situação, o professor deve acompanhá-lo nas atividades e incluí-lo na aula realizando as tarefas propostas. Na qual o professor precisará fazer mais adaptações às regras do que qualquer outra coisa, visto que, nenhum jogador precisa de um equipamento específico como a cadeira de rodas ou a muleta. 95 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Embora seja o jogo de futebol mais conhecido para deficientes físicos, o futebol de sete não é a única forma desse público participar da modalidade. Conforme Reis e Mezzadri (2017), existe ainda o futebol para amputados e o futebol em cadeira de rodas (power soccer). O futebol para amputados é praticado por pessoas que sofreram amputação em membros inferiores (jogadores de linha) e membros superiores (goleiros). O jogo é disputado em um campo Society com dimensões mínimas de 60mX38m. As equipes são formadas por sete jogadores e duram 50 minutos (dois tempos de 25 cada). Nem o membro amputado nem a muleta pode tocar na bola de forma intencional. Já o power soccer é jogado em uma quadra de basquete, os “atletas jogam em suas cadeiras motorizadas com o Footguard, espécie de grade que protege e serve para conduzir, dar passes e arremessar a bola ao gol, as cadeiras chegam a, no máximo, 10km/h” (REIS; MEZZADRI, 2017, p. 6). Cada equipe joga com 4 jogadores (sendo um o goleiro) e a partida é jogada em 40 minutos (dois tempos de 20). 4.5 VOLEIBOL SENTADO O voleibol sentado é um dos esportes mais populares e mais praticados atualmente por pessoas com deficiência física. Sua origem é do ano de 1956 quando houve uma mescla de dois esportes para sua criação: o sitzball e o voleibol convencional. Esse esporte faz parte dos Jogos Paralímpicos desde a edição de 1976, em Toronto, no Canadá (BORGMANN, 2013). Borgmann (2013) aponta que as regras dessa modalidade se assemelham ao vôlei comum, porém, devido ao fato de ser jogado sentado no chão, algumas mudanças são necessárias, como a altura da rede e as dimensões da quadra. São 6 jogadores em cada time, divididos por uma rede de altura diferente e em uma quadra menor do que na versão olímpica da modalidade. Os sets têm 25 pontos corridos e, o Tie-Break, 15. Ganha a partida a equipe que vencer três sets. A quadra 96 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais mede 10m de comprimento por 6m de largura. A altura da rede é de 1,15m no masculino e 1,05m no feminino. É permitido bloqueio de saque, mas os jogadores devem manter o contato com o solo o tempo todo, exceto em deslocamentos (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, 2020b, s.p). O vôlei sentado é jogado tanto no gênero feminino quanto masculino e sua classificação funcional é dividida em duas classes: VS1 e VS2. O VS1 são os jogadores com amputação e com problemas locomotores mais graves. O VS2 são jogadores que possuem deficiência quase imperceptíveis como pequenas amputações ou problemas leves de articulações. Cada equipe só pode contar com 2 jogadores dessa última classe no time e, mesmo assim, não podem estar em quadra ao mesmo tempo (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020b). FIGURA 8 – VOLEIBOL SENTADO FONTE: <https://www.cpb.org.br/upload/noticia/46b81824d36447bd92086a2617460469. jpg>. Acesso em: 19 set. 2020. A prática do vôlei sentado na escola traz benefícios para o aluno em diferentes áreas de desenvolvimento. Entre as vantagens da prática dessa modalidade na escola, está a capacidade de integrar pessoas com dificuldades motoras, possibilitar a participação de pessoas de ambos os sexos e com diferentes capacidades físicas sem discriminação, além das possibilidades de melhorias no campo físico e cognitivo (MIRON, 2011). Para o ensino desse jogo na escola, Miron (2011, p. 131) destaca a importância de, primeiramente, os jogadores se adaptarem à posição de se jogar, ou seja, sentado, e também às possibilidades de mobilidade para o deslocamento, “com as diferenciadas possibilidades de alcance da bola nessa posição e os movimentos que serão desenvolvidos pelos membros superiores em substituição aos deslocamentos em pé”. Essa situação primordial vale tanto para pessoas sem ou com deficiência. No começo, o professor pode utilizar colchonetes pelo chão para que fique mais confortável para o aluno. 97 Educação Física e a Deficiência FísicaEducação Física e a Deficiência Física Capítulo 2 Miron (2011) aponta que, no princípio do ensino do voleibol sentado, o professor deve iniciar com bolas mais leves pois são mais fáceis de manusear e mantê-la sob deslocamento aéreo (como sugestão pode ser até uma bola de plástico). Junto a isso, nesse começo, deve-se optar por atividades lúdicas em contraponto às regras mais convencionais do jogo. Para o ensino dos deslocamentos sentados, MIRON (2011) aponta que são recomendados movimentos para frente, para trás, para os lados, em linha reta, em diagonal, em zigue-zague e, ainda, movimentos que sejam feitos de formas individuais, em pequenos e grandes grupos. Também é necessário que o professor dê uma atenção especial aos membros superiores: No voleibol sentado, os membros superiores são responsáveis por uma função dupla. A primeira é do deslocamento para chegar próximo à bola e a segunda, executar o toque necessário para endereçar a bola ao seu objetivo, diferentemente do voleibol convencional (em pé), em que os membros inferiores são os responsáveis pelo deslocamento. Essa situação imposta pela posição sentada exige coordenação e velocidade dos movimentos para que a mesma ação possa ser executada com perfeição (ZERGER, 2008 apud MIRON, 2011, p. 131). Diehl (2006) sugere que as atividades de vôlei sentado sigam uma ordem gradativa: do simples para o complexo. A autora sugere que nessa atividade progressiva, o professor possa alterar algumas regras para facilitar a movimentação da atividade, por exemplo, permitir que a bola seja agarrada pelos participantes e depois repassada. Após o primeiro contato com a atividade,vivenciá-la, rebatendo a bola, dependendo da dificuldade, permitir um quique no chão antes de rebater a bola, após aumentar o grau de dificuldade da atividade, permitindo somente rebater a bola. Mesmo o aluno já conhecendo os fundamentos do jogo como o saque, a recepção, o levantamento etc., é importante que o professor retome essas vivências, afinal, na posição sentada, outro enquadramento corporal é solicitado modificando a postura para realizar o gesto motor da atividade. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Como podemos ver no decorrer desse capítulo, as atividades físicas são um elemento que pode trazer grandes melhorias na vida de qualquer pessoa, e, em particular, na vida da pessoa com deficiência motora, tantas vezes excluídas pela sociedade. 98 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Para que essa gama de exercícios chegue até ela, é necessário que o professor de Educação Física tenha um olhar apropriado sobre a inclusão, buscando conhecimento e tratando esse aluno com respeito e empatia. Além disso, não menosprezar sua capacidade, estimular com atividades que desenvolvam não somente o seu físico, mas o cognitivo e o social, desafinando- lhe a todo momento. Igualmente, faz-se necessário que não se limite o aluno com deficiência física a um ou outro jogo ou a um ou outro movimento. A variedade de atividades lhe trará uma maior motivação para participar da aula e também uma maior gama de possibilidades para o seu desenvolvimento motor, que é tão pouco explorado. Além dos jogos e brincadeiras, podemos ver que os esportes adaptados são excelentes oportunidades para trabalhar a inclusão, pois a sua essência está no espírito coletivo e no trabalho em equipe. Além disso, desenvolve as capacidades motoras que são vitais para qualquer atividade física diária. Dessa forma, trazer essas modalidades para a vivência dos alunos só trará ganhos a todos e, através deles, podemos mostrar àqueles que não têm deficiência um pouco da realidade de quem convive com essa dificuldade de forma rotineira. Sendo assim, a Educação Física deve ir além das linhas de quadra, trazendo consigo valores como a empatia, a compaixão e a superação! REFERÊNCIAS AIME, M. 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Identificar os recursos e adaptações necessárias para a inclusão de deficientes visuais na aula de Educação Física. • Desenvolver atividades físicas para pessoas com deficiência visual. • Compreender o que é deficiência visual, sua trajetória e evolução histórica. • Conhecer elementos necessários para uma proposta de aula de Educação Física para deficientes visuais. • Refletir sobre atividades físicas adaptadas para deficientes visuais. 104 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 105 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Os deficientes visuais são aqueles que apresentam perda total ou parcial do sentido da visão. Essas pessoas não têm – ou têm em pouca possibilidade – a capacidade de fazer registros visuais, de memorizar belas molduras e podem ter dificuldades motoras, visto que, esse sentido é fundamental para o equilíbrio. Quando se fala em inclusão escolar relacionado aos deficientes visuais, logicamente, pensa-se em adaptações para que ele possa se sentir participativo e compreenda o objetivo da aula. Essas adaptações podem vir pela confecção de materiais com novas texturas, estimulação de sentidos, pela utilização do Sistema Braile, mas também em regras e recursos que vão direcionar as atividades práticas de Educação Física. Desta forma, este capítulo visa apresentar como realizar a inclusão de deficientes visuais na Educação Física a partir de atividades simples que vão ultrapassar os benefícios da questão física, trazendo junto a jogos, brincadeiras e esportes, a possibilidade de uma maior autonomia, de fazer novos amigos e de conhecer o seu corpo. O exercício físico tem um grande poder de inclusão, sendo assim, promover essas atividades fará com que melhore a vida da pessoa com deficiência e desenvolva a empatia nos demais participantes! Por isso, mãos à obra e boa leitura! 2 DEFICIÊNCIA VISUAL A visão é um dos mais importantes sentidos do ser humano. Ela permite que as pessoas se comuniquem, traga informações importantes ao cérebro e ainda faça registros de situações cotidianas guardadas em nossa memória. Dados apontam que muitos brasileiros têm dificuldades visuais de nível importante, sendo assim, classificados como deficientes visuais. Em nosso país, segundo dados do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2010, mais de 6,5 milhões de brasileiros se declararam com essa deficiência: em torno de 6 milhões com baixa visão e mais de 500 mil como cegos, ou seja, não sendo capazes de enxergar. No mundo todo, segundo a Organização Mundial da Saúde (2011 apud OTTAIANO et al., 2019), há 39 milhões de pessoas com esta deficiência. Caro acadêmico, vamos conhecer um pouco mais da deficiência visual, seus conceitos, histórico, como é classificada e, por fim, quais são os recursos 106 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais possíveis para se utilizar em sala de aula por parte do professor com propósito de amenizar essa dificuldade no processo de ensino-aprendizado do aluno. 2.1 CONCEITO E HISTÓRICO A história apresenta que a vida de todos os deficientes sempre foi marcada por indiferença e preconceitos por parte da sociedade. Como já vimos, isso começou desde as tribos pré-históricas, na sequência, sendo respaldados por grandes pensadores e ações das antigas civilizações, prosseguindo com a ideia de pecado atribuída pela Igreja na Idade Média, e apenas sendo modificada pela ciência a partir da Idade Moderna. No caso das pessoas com deficiência visual, a história da busca pela inclusão e pelo conhecimento sobre o que ocorria com as suas dificuldades visuais, no campo da educação, para essas pessoas teve um processo lento com o “pontapé inicial” dado na França, no século XVIII, após o período da Revolução Francesa. Conforme Pires (2014), o governo daquele país passou a escolarizar crianças com deficiência visual a partir da criação de instituições especializadas em tal situação. A ideia inicial partiu do educador Valentin Haüy, que fundou, em Paris, o Institute Nationale des Jeunes Aveugles (Instituto Nacional dos Jovens Cegos), em 1784, onde buscava ensiná-los a partir da técnica de letras em relevo. A escola de Haüy tinha em seu currículo disciplinas como música, geografia e aritmética, passando a ser um modelo para todas as demais escolas da Europa. Em 1819, nessa escola, apareceu um novo sistema de comunicação para os deficientes visuais chamado de escrita noturna, na qual consistia em pontos salientes que representavam os 36 sons da língua francesa. Essa comunicação tinha esse nome pois era inspirada nas mensagens que os soldados trocavam à noite, sem a utilização de luz, para que a tropa inimiga não os visse (PIRES, 2014). A ideia da escrita noturna representou um avanço importante na comunicação para cegos, porém, ainda requeria algumas sofisticações, que veio por intermédio de Louis Braille, estudante do instituto, que realizou umas modificações na ideia original, criando, assim, o Braile, linguagem que até hoje é conhecida e utilizada para deficientes visuais. Caro acadêmico, abordaremos mais sobre o Braile no decorrer deste capítulo! De acordo com Pires (2014), no continente americano, a educação para cegos teve como marco inicial a criação de duas instituições especializados nos 107 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Estados Unidos no ano de 1832. Pouco mais de duas décadas depois era a vez do Brasil ter a sua primeira ação em prol da educação dessa população. No contexto brasileiro, os primeiros trabalhos para a educação do cego e de pessoas com baixa visão começaram de forma mais sistematizada em meados do século XIX, em 1854, quando foi criado no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant (IBC). Esse instituto público federal atendia e ainda atende crianças, adolescentes e adultos nas modalidades da educação básica, reabilitação e capacitaçãoprofissional. Como iniciativa oficial do governo concretizada por D. Pedro II pelo Decreto Imperial no 1.428, fundou-se o primeiro educandário para alunos cegos na América Latina, que constitui o marco inicial da Educação Especial no Brasil (PIRES, 2014, p. 4). Acredita-se que José Alvares de Azevedo, um cego brasileiro que estudou na França, e educou a filha – igualmente cega – de um médico da família imperial, despertando a ideia da criação do Instituto. FIGURA 1 – IMPERIAL INSTITUTO DOS MENINOS CEGOS, ATUAL IBC FONTE: <https://cdn.shortpixel.ai/spai/w_886+q_+ret_img+to_webp/ https://idd.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2017/01/Instituto- Benjamin-Constant-e-seus-jardins.jpg>. Acesso em: 18 out. 2020. Embora o IBC seja um marco para a educação de cegos no Brasil, pois, além do pioneirismo do atendimento e ser inspirador para a criação de outras instituições no país, como: Instituto São Rafael, em Belo Horizonte (1926), Instituto Padre Chico, em São Paulo (1928), Instituto de Cegos da Bahia, em Salvador (1929), Instituto de Cegos do Ceará, em Fortaleza (1934), Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre (1941), Instituto Paranaense de Cegos, em Curitiba (1944), o atendimento nessa instituição e nas que se seguiram nem sempre foi o mais adequado. Também se deve ressaltar que a ideia dessas instituições eram uma forma de excluir e segregar o cego. 108 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Segundo Pires (2014), outro momento relevante para a educação de cegos no Brasil ocorreu no ano de 1946, com a oficialização do curso ginasial do Instituto Benjamin Constant. Essa decisão possibilitou aos cegos brasileiros ter acesso a uma educação equiparada ao então ginásio das escolas regulares (Ensino Fundamental de hoje). No mesmo ano, também se cria a Fundação do Livro do Cego no Brasil, com a finalidade de produzir livros em Braile para esta população. Apenas nos anos 1950, em São Paulo, de forma experimental, surgiu a primeira sala de recursos para deficientes visuais estudarem em classes comuns (PIRES, 2014). O autor aponta que nessa mesma década, em 1958, criou-se a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão, inspirada na campanha iniciada pelo IBC, posteriormente chamada de Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC), vinculada diretamente ao gabinete do Ministro da Educação. Essa campanha fortaleceu a formação de professores para trabalhar com os deficientes visuais. Assim como ocorreu com todos os tipos de deficiência, a inclusão das pessoas com deficiência visual nas escolas e nos demais setores da sociedade ganha maiores forças a partir da década de 1980. Os movimentos sociais das pessoas com deficiência, na intenção de estimular o processo participativo e garantir a interlocução com o Estado, optaram por formalizar entidades jurídicas, “profissionalizando” serviços e lutas. Desta forma, constituindo uma identidade social e política, explicitaram as demandas e estratégias − ora de enfrentamento, ora de negociação − na construção do processo democrático e na busca do respeito às diferenças e da igualdade de oportunidades. A grande conquista do período foi, certamente, a potencialização social e política dessas pessoas, como retrata militante de movimentos sociais de cegos, com histórico de titular no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência: “O Governo só faz se a sociedade civil empurrar, cobrar, propor, fiscalizar. Os movimentos sociais são molas propulsoras das políticas públicas” (CARVALHO FILHO; FERREIRA, 2013, p. 106 apud PIRES; PLÁCIDO, 2018, p. 39). A década de 1990, como já abordamos, segue com políticas públicas afirmativas em prol da educação inclusiva, sendo afirmadas na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e na Lei de Diretrizes e Bases (1996) preconizando que "os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favorecem a promoção da aprendizagem e valorização das diferenças" (BRASIL, 2014, p. 13). Assim como ocorreu com todos os tipos de deficiência, a inclusão das pessoas com deficiência visual nas escolas e nos demais setores da sociedade ganha maiores forças a partir da década de 1980. 109 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Nos últimos anos, buscou-se uma definição para o conceito de deficiência visual. Munster e Almeida (2008) apontam que compreender essa deficiência não é uma tarefa muito simples, como se imagina, devido à variedade de definições, classificações e terminologias citas por diferentes autores e publicações. Munster e Almeida (2008, p. 31) conceituam deficiência visual como uma “perda parcial ou total da capacidade visual, em ambos os olhos, o que leva o indivíduo a uma limitação em seu desempenho habitual. A avaliação deve ser realizada após a melhor correção óptica ou cirúrgica possível”. Munster e Almeida (2008) ainda ressaltam que a simples utilização de óculos ou lentes de contato não é suficiente para caracterizar a deficiência visual, pois essas correções podem garantir ao indivíduo a condição visual ideal. No entanto, quando o indivíduo, mesmo utilizando esses recursos ópticos e passando por procedimento cirúrgico ainda apresentam a capacidade visual comprometida, passam a ser considerados deficientes visuais. Diehl (2006) complementa que, para uma pessoa ser considerada deficiente visual, além de apresentar comprometimento em relação à acuidade visual, também deverá ter seu campo de visão restrito. Ainda sobre o conceito, o Decreto nº 5.296/2004 define que, no Brasil, uma pessoa é considerada deficiente visual quando se enquadra em uma das maneiras: Cegueira, na qual a acuidade visual - é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores (BRASIL, 2004, s.p.). Dois termos importantes são citados na definição proposta pelo governo do Brasil para classificar a deficiência visual. No caso da baixa visão, fala em acuidade visual que é a capacidade do olho de distinguir detalhes como forma, cores e tamanhos. Ela é medida via exame oftalmológico. Também é importante conhecer o termo campo visual, que deve ser maior que 60º. O campo visual é quanto o olho consegue perceber e é também medido via exame oftalmológico. 110 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Caro acadêmico, vamos conhecer algumas causas que podem levar o indivíduo a ser deficiente visual. 2.2 CAUSAS DA DEFICIÊNCIA VISUAL Diversas podem ser as causas que fazem com que a pessoa seja deficiente visual. Essas causas podem ser de origem congênita (antes do nascimento) como má-formação ocular, glaucoma e catarata congênita ou adquiridas (pós-nascimento) como traumas, catarata, degeneração senil ou doenças como a hipertensão ou a diabetes. Couto Junior e Oliveira (2016) apontam quais são as principais causas da deficiência visual: • Retinopatia da prematuridade. • Catarata congênita em consequência de rubéola ou de outras infecções na gestação. • Glaucoma congênito que pode ser hereditário ou causado por infecções. • Atrofia óptica. • Diabetes. • Descolamento da retina. • Traumatismos oculares. Caro acadêmico, vamos conferir um pouco mais a fundo o que seriam essas causas a partir da definição de Munster e Almeida (2008): • Retinopatia da prematuridade: geralmente afeta bebês prematuros mantidos na incubadora com alta concentração de oxigênio, provocando transtornos vasculares na periferia da retina, fibrose vítrea e descolamento da retina. • Catarata: consiste na alteração da transparência da lente, uma espéciede opacificação, que causa embaçamento da visão sem outros sintomas associados. Como vimos, a catarata pode ter duas origens etiológicas: congênita ou adquirida. Essa alteração é causadora de perturbações na acuidade visual e afeta a visão periférica. Seus principais fatores de risco são os traumas, o uso de medicamento e a idade. Um indivíduo com catarata necessita de intervenção cirúrgica quando é implantada uma lente artificial na parte interna da estrutura capsular. Caso esse procedimento não seja realizado, o indivíduo tem grandes possibilidades de perder a visão. • Glaucoma: assim como a catarata, o glaucoma pode ser congênito ou adquirido. Caracteriza-se por ser uma pressão intraocular elevada por produção excessiva ou deficiência na drenagem do humor aquoso. Essas causas podem ser de origem congênita (antes do nascimento) ou adquiridas (pós- nascimento) 111 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Essa pressão comprime as células nervosas causando danos ou mortes dessas células. Os principais fatores de risco são a idade (acima dos 45 anos), miopia e o uso elevado de corticoides. • Atrofia óptica: é uma doença hereditária não muito usual, que traz lesões no nervo ocular levando a perda da visão. Essa perda ocorre na infância ou adolescência afetando os dois olhos. É causada por uma anomalia no gen. • Diabetes: essa doença metabólica silenciosa é uma das grandes causadoras da deficiência visual. As complicações oculares podem ocorrer, geralmente, após dez anos do aparecimento inicial da doença. O diabetes pode causar inúmeros problemas oculares, tais como: alterações repentinas nos erros de refração até a retinopatia, um dos principais motivos da cegueira. Além disso, pode ocasionar a catarata, a neurite óptica e a paralisia dos músculos extrínsecos do olho. A perda da visão é 25 vezes mais frequente em quem tem diabetes. • Descolamento da retina: ocorre quando há separação entre as diferentes camadas que a compõem. O descolamento da retina pode ocorrer decorrente de inflamações, infecções e doenças sistêmicas. • Traumatismos oculares: são causas muito comuns de deficiência visual, desencadeados por agentes mecânicos (perfurações e lacerações) ou não mecânicos (queimaduras por agentes químicos, térmicos, elétricos, radioativos etc.). A gravidade do trauma e as possíveis sequelas variam de acordo com a extensão da lesão. 2.3 CLASSIFICAÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL Neste subtópico, vamos abordar os diferentes graus e tipos de deficiência visual. Munster e Almeida (2008) apontam que entre as classificações que podem ser feitas são baseadas nos seguintes parâmetros: legais (para efeito de elegibilidade nos programas de assistência e previdência social), clínico (para diagnóstico e tratamentos médicos), educacionais (para os recursos de ensino- aprendizagem) e esportivos (para divisão das categorias em competições). Embora existam muitas formas de classificar essa deficiência aqui, caro acadêmico, vamos optar pela chamada classificação educacional (no Subtópico 3, falaremos da classificação esportiva), que vai ser dividida em cegueira e baixa visão. Essa forma é sugerida pela Organização Mundial da Saúde através da 112 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Classificação Internacional das Doenças (CID). 2.3.1 Baixa visão A pessoa com baixa visão é aquela que possui dificuldade para desempenhar tarefas visuais, mesmo com prescrição de lentas corretivas, mas que pode aprimorar sua capacidade de realizar tais tarefas com a utilização de estratégias visuais compensatórias, baixa visão e outros recursos, e modificações ambientais (CORN, 1996 apud MURTEN; ALMEIDA, 2008, p. 38). No Documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL 2006b, p. 16) considera-se baixa visão a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo. Essa perda visual pode se dar de forma severa, leva ou moderada, podendo ser influenciada por inúmeros fatores. Gil (2000, p. 6) descreve que em uma definição mais simples, a pessoa com baixa visão tem “incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de três metros, à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pessoa que conserva resíduos de visão”. Gil (2000) aponta que nos tempos atuais houve uma modificação no paradigma da classificação referente a essas pessoas: Até recentemente não se levava em conta a existência de resíduos visuais; a pessoa era tratada como se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em braile, movimentar- se com auxílio de bengala etc. Hoje em dia, oftalmologistas, terapeutas e educadores trabalham no sentido de aproveitar esse potencial visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer (GIL, 2000, p. 6). A partir da perspectiva dos resíduos visuais começou-se a pensar a educação para essas pessoas. Brasil (2006b) afirma que, por esses indivíduos conseguirem indicar uma projeção de luz, o seu processo de ensino-aprendizagem se desenvolverá, principalmente, pelos meios visuais, ainda que com a utilização de recursos específicos. 113 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Segundo recomendação de Brasil (2006b), antes ainda da utilização desses recursos ópticos que são essenciais para o processo de aprendizagem tanto da pessoa cega quanto da baixa visão, é necessário que o professor sempre estimule o desenvolvimento sensorial remanescentes como: o tato, o paladar, a audição e o olfato. O tato deve ser estimulado com a apresentação de materiais diversos e de formas diferentes. O paladar experimentando os principais sabores. A audição pode ser feita pedindo para que o aluno discrimine os diversos sons existentes na escola como o que ocorre na sala, no pátio, na cozinha etc. Por fim, o olfato a partir da diversidade de cheiros (mais fortes, mais fracos etc. De acordo com Sá, Campos e Silva (2007, p. 19), no processo de ensino- aprendizagem da pessoa com baixa visão pode-se utilizar de recursos ópticos e recursos não ópticos. Os recursos ópticos são as “lentes de uso especial ou dispositivo formado por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, com o objetivo de magnificar a imagem da retina”. Lembrando que esses recursos necessitam de prescrição oftalmológica. O Documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006b, p. 51) aponta que os recursos ópticos “têm a função de corrigir as ametropias, ou seja, melhorar a focalização por ampliação, proporcionando mais nitidez de imagem pela correção da refração”. Esses recursos podem ser para perto ou para longe. Os recursos ópticos para longe permitem aumentar e diminuir a imagem do objeto que está mais distante, porém, restringem muito o campo visual. São exemplos desses recursos as telelupas, o telescópio e as lunetas. Os recursos ópticos para perto buscam aumentar a imagem do objeto próximo lhe dando maior nitidez. Temos como exemplo os óculos bifocais ou monofocais, sistemas tele microscópicos, lupas manuais e de apoio. Os recursos ópticos para longe permitem aumentar e diminuir a imagem do objeto que está mais distante. Os recursos ópticos para perto buscam aumentar a imagem do objeto próximo lhe dando maior nitidez. 114 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais FIGURA 2 – LUPAS MANUAIS FONTE: Sá, Campos e Silva (2006, p. 19) Já os recursos considerados não ópticos estão diretamente ligados aos materiais utilizados na aula buscando a melhora do ambiente e da resolução visual para a pessoa com baixa visão. Neste caso há uma adaptação no instrumentoda aula. Como exemplos de recursos não ópticos temos a ampliação da fonte de materiais como livros, gráficos, apostilas, provas, textos etc. Também a adaptação da classe para que o aluno fique mais confortável, tendo maior conforto visual, o uso de acessórios como lápis 4B ou 6B, suporte para livros, cadernos com pautas pretas espaçadas etc. softwares com magnificadores de tela e programas com síntese de voz. Além desses recursos, Sá, Campos e Silva (2006, p. 20) detalham algumas recomendações para colaborar no processo de aprendizagem do aluno com baixa visão: • Sentar o aluno a uma distância de aproximadamente a um metro do quadro negro na parte central da sala. • Evitar a incidência de claridade diretamente nos olhos da criança. • Estimular o uso constante dos óculos, caso seja esta a indicação médica. • Colocar a carteira em local onde não haja reflexo de iluminação no quadro negro. • Posicionar a carteira de maneira que o aluno não escreva na própria sombra. • Adaptar o trabalho de acordo com a condição visual do aluno. • Em certos casos, conceder maior tempo para o término das atividades propostas, principalmente quando houver indicação de telescópio. 115 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 • Ter clareza de que o aluno enxerga as palavras e ilustrações mostradas. • Evitar iluminação excessiva em sala de aula. • Observar a qualidade e nitidez do material utilizado pelo aluno: letras, números, traços, figuras, margens, desenhos com bom contraste figura/ fundo. • Observar o espaçamento adequado entre letras, palavras e linhas. • Utilizar papel fosco, para não refletir a claridade. • Explicar, com palavras, as tarefas a serem realizadas. 2.3.2 Cegueira Agora, vamos tratar da cegueira, a outra forma de classificação de deficiência visual. Barraga (1985 apud MUNSTER; ALMEIDA, 2008, p. 37) define que a pessoa cega é aquela “cuja percepção de luz, embora possa auxiliá-la em seus movimentos e orientações, é insuficiente para aquisição de conhecimento por meio visuais, necessitando utilizar o sistema braile em seu processo ensino- aprendizagem”. O Documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006b, p. 16) considera que cegueira “é a perda total da visão, até a ausência de projeção de luz”. Para Diehl (2006, p. 62), “cegueira é ausência ou perda da visão em ambos os olhos ou um campo visual inferior a 0,1 graus no melhor olho, mesmo após a correção, não excedendo a 20 graus no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de lentes para a correção”. Gil (2000) aponta que assim como a baixa visão, a cegueira também pode ser congênita ou adquirida. Para a autora, isso irá refletir em seu comportamento e na sua forma de aprendizagem, visto que: O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue se lembrar das imagens, luzes e cores que conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual ou possuir lembranças visuais (GIL, 2000, p. 8). Como Gil (2000) refere para pessoas que enxergam é impossível imaginar a vida sem o sentido da visão, pois tanto as imagens quanto as cores faziam parte do nosso pensamento, sendo assim, não basta simplesmente fechar os olhos para imaginar como é a vida de um cego e reproduzir o seu comportamento pois temos memória visual, elemento que um cego congênito não possui (GIL, 2000). 116 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais O impacto psicológico de não enxergar é bastante variável para cada indivíduo. Gil (2000) aponta que entre as variáveis estão: a idade em que ocorre, do grau da deficiência, da dinâmica geral da família, das intervenções que forem tentadas, da personalidade da pessoa, entre outras coisas, dessa forma, o desenvolvimento de cada pessoa se torna peculiar. Nunes e Lomônaco (2010) afirmam que para uma pessoa cega se desenvolver bem a linguagem é fundamental, exercendo um papel ainda maior do que para as pessoas que enxergam, visto que essas terão informações visuais. A criança cega pode perfeitamente se apropriar das significações de seu meio e participar das práticas sociais, pois dispõe do instrumento necessário para isso – a linguagem. Além disso, a concepção de que, com o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, o homem transforma sua relação com o mundo e nela introduz a dimensão semiótica, minimiza a dimensão da perda decorrente da cegueira (LIRA; SCHLINDWEIN, 2008, p. 187). Sendo assim, é necessário que se estimule os demais sentidos da pessoa cega para que seu desenvolvimento seja o melhor possível. Outra questão importante, segundo Gil (2000), é estimular a autonomia sobre as atividades de vida diária como higiene, alimentação, cuidados com a casa e atividades sociais. Para que isso ocorra, deve-se promover a autoconfiança e evitar uma proteção excessiva. Antes de entrarmos nas questões educacionais, ainda é importante citar outro fator preponderante para o bom desenvolvimento desta população: a orientação e a mobilidade. Gil (2000) descreve que, para alguns autores esse é o maior comprometimento relacionado à cegueira. Mais uma vez, é vital o estímulo da família e da escola, principalmente, no período da infância. Sobre essa incitação ao cego, Gil (2000, p. 13) afirma que “o desenvolvimento das habilidades de orientação e mobilidade, parte essencial do processo educacional de qualquer criança deficiente visual, precisa começar desde cedo, em casa, com o apoio dos pais. Depois, o treinamento continuará na escola, com o professor especializado”. Através da orientação e da mobilidade que o cego irá se locomover e orientar-se nos mais variados espaços, como a escola. Ter esses elementos desenvolvidos trará maior autoconfiança, autoestima e domínio pessoal para o cego. 117 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Para orientação, como já abordamos, é necessária uma estimulação precoce dos demais sentidos, principalmente o tato, o olfato e a audição, que serão importantes no processo de conhecer o ambiente. Na questão da mobilidade, os instrumentos e as pessoas são grandes auxiliares nesse deslocamento, como as bengalas (que podem ser dobráveis, rígidas virtuais ou eletrônicas), o guia vidente e os cães-guias. Sempre cabe frisar a importância da acessibilidade para pessoas com essa deficiência, principalmente nos espaços urbanos como calçadas e trânsito em geral para que consigam se deslocar e evitem sofrer acidentes. Embora ainda sejam pouco numerosos no Brasil, os cães-guia vêm ganhando mais espaço na ajuda da orientação e da mobilidade da pessoa cega. Confira na matéria Cão-Guia treinado no Brasil já é uma realidade, publicada no jornal O Estado de São Paulo, como se dá o treinamento desses cães, acessando o link: https://emais. estadao.com.br/blogs/comportamento-animal/cao-guia-treinado-no- brasil-ja-e-uma-realidade/. Para encerrar esse subtópico sobre a cegueira, vamos abordar as adaptações necessárias relativas ao processo de ensino-aprendizagem. Van Murten e Almeida (2008) citam que a pessoa cega tem como principal recurso o Sistema Braille, que serve como meio para a leitura e a escrita tátil a partir de combinações de unidades denominadas células Braille. Entende-se por células Braille o agrupamento de seis pontos em relevo, dispostos três a três em alinhamento vertical adjacente, em uma superfície aproximada de 3 x 5 mm, que podem ser simultaneamente percebidos pela polpa sensível do dedo. Cada ponto da célula Braille é identificado por uma referência numérica, cuja combinação permite obter 63 sinais gráficos diferentes, aos quais foram atribuídas significações fonéticas, matemáticas e musicais, para proporcionar às pessoas cegas o acesso direto à leitura e à escrita de diferentesidiomas, da ciência e da música (MUNSTER; ALMEIDA, 2008, p. 37-39). 118 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais FIGURA 3 – ALFABETO BRAILLE FONTE: Gil (2000, p. 22) A escrita Braille é realizada a partir de uma reglete e um punção ou, ainda, a partir de uma máquina de escrever. Para melhor entendimento, podemos definir a reglete como “uma régua de madeira, metal ou plástico com um conjunto de celas Braille dispostas em linhas horizontais sobre uma base plana” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 24). Já o punção “é um instrumento em madeira ou plástico no formato de pera ou anatômico, com ponta metálica, utilizado para a perfuração dos pontos na cela braile” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 24). A máquina de escrever é mais simples contendo as seis teclas básicas que correspondem aos pontos das células Braille. FIGURA 4 – REGLETE E PUNÇÃO FONTE: Sá, Campos e Silva (2006, p. 24) 119 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 1 A trajetória da educação inclusiva para pessoas com deficiência visual é marcada por inúmeros momentos que vão buscar o atendimento para essas pessoas. Cite três fatos importantes nesta trajetória. R.: 2 A deficiência visual pode ser causada tanto por fatores genéticos (antes do nascimento) e adquiridos (após o nascimento). Cite Assim como a escrita, a matemática também apresenta um instrumento valioso para a educação de pessoas cegas chamado sorobã. Conforme Brasil (2006a, p. 119), o sorobã serve para realizar as grandes operações matemáticas e “se compõe de duas partes, separadas por uma régua horizontal, chamada particularmente de ‘régua de numeração’. Na sua parte inferior, apresenta quatro contas em cada eixo. A régua apresenta, de três em três eixos, um ponto em relevo, destinado, principalmente, a separar as classes dos números”. FIGURA 5 – SOROBÃ FONTE: Sá, Campos e Silva (2006, p. 32) Como podemos ver, caro acadêmico, muitos recursos podem ajudar às pessoas com deficiência em sua aprendizagem e se faz necessário que o professor as conheça e a utilize para que seu objetivo seja atingido. 120 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais dois fatores causadores dessa deficiência que podem ocorrem em ambas as formas e os explique. R.: 3 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Neste subtópico, vamos direcionar as atenções para a importância que a escola e, especialmente, a disciplina de Educação Física tem para a pessoas com deficiência escolar. Como vimos até aqui, quando temos um aluno com essa característica em nossa aula, é necessário conhecermos bem suas limitações e potencialidade para que possamos adaptar a aula e, assim, termos êxito na promoção da inclusão. Essa inclusão, além de obrigatória, torna-se mais fácil na Educação Física, visto que essa disciplina tem como um de seus grandes méritos atividades que promovam a integração e a socialização entre seus alunos, assim desenvolvendo aspectos importantes como a empatia tão necessária para o entendimento do que é ter uma deficiência. 3.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL Ao se deparar com um aluno com deficiência visual em sua aula, o professor de Educação Física precisa adaptar seu planejamento para contemplar esta criança. Como planejar sem conhecê-la? Dessa forma, então, antes de sair pensando as atividades de sua aula, é fundamental que se conheça o aluno e saber suas características, tais como: é cego ou tem baixa visão? Quais os fatores que o levaram a isto? Qual sua vivência motora até este momento? Sabendo a resposta de algumas desta perguntas certamente o professor já terá informações valiosas para que seu planejamento contemple a todos. 121 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Van Murten e Almeida (2008) colocam que em seu planejamento o professor deve pensar objetivos e conteúdos que levem em consideração os interesses do educando se valendo das estratégias e recursos adequados para desenvolvê-los. Ainda ressaltam que em relação aos conteúdos, os programas para alunos com deficiência visual não se distinguem em nada das propostas convencionais. O que deve diferenciar é o processo de ensino-aprendizagem que deve ser pautado pelas adaptações nos espaços físicos, nos recursos materiais, na utilização dos mecanismos de informação e na adaptação às regras. Quanto às adaptações da aula, Van Munster e Almeida (2008) descrevem que o primeiro cuidado a ser pensado é o espaço físico onde se pretende realizar a atividade. Também nos locais que cercam a atividade como os acessos de chegada, os banheiros, as escadas etc. Necessário avaliar se há obstáculos indesejáveis que necessitam se removidos ou exigem proteção. As informações visuais, como a demarcação da quadra ou a proximidade de determinado equipamento, devem ser substituídas por pistas táteis ou auditivas, por meio de adaptações no espaço físico. Pode-se utilizar pistas táteis, como a demarcação de quadras utilizando fita adesiva sobre um fio de barbante, de forma a tornar as linhas em relevo perceptíveis ao tato. Para a definição de percurso a ser seguido, pode-se utilizar carpetes e colchonetes dispostos sobre o chão indicando o caminho a ser percorrido durante um exercício em circuito (MUNSTER; ALMEIDA, 2008, p. 67). Ainda sobre o ambiente físico, é importante verificar as condições de luminosidade dos locais da prática, aumentando a luz, no caso do aluno de baixa visão. Além disso, deve-se evitar ambiente com ruídos, visto que a audição é fundamental para estes alunos. Na adaptação material, o professor pode usar materiais com cores vivas realçando o objeto (no caso do aluno com baixa visão) ou a utilização de guizos para que façam barulhos possibilitando que a criança a identifique pelo som (no caso da pessoa cega). Sobre os cuidados gerais para ministrar as aulas para alunos com deficiência visual, Van Murten e Almeida (2008) alertam: • Dirigir-se ao aluno sempre o chamando pelo nome buscando, assim, uma aproximação maior na relação professor-aluno. • Zelar pela segurança do aluno, principalmente das pessoas cegas, pois sem enxergar perdem a referência podendo se machucar. 122 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais • O professor deve antecipar verbalmente suas ações evitando surpreender ou assustar o aluno. Caso seja necessário tocá-lo durante a explicação de um movimento ou em qualquer outra circunstância, deve- se avisá-lo para que esteja prevenido. • Em relação ao posicionamento e distribuição do aluno com deficiência no espaço físico, sugere-se que o intercale com pessoas sem deficiência visual, favorecendo a integração e a participação de todos em uma comunidade comum. Os autores ainda sugerem que até o aluno ter uma autonomia sobre a relação espaço-corporal que se trabalhe em formações mais ordenadas como círculo, fileiras ou colunas. • A comunicação é um elemento importante na relação professor-aluno. Assim sendo a expressão deve ser a mais clara e objetiva possível partindo de um vocabulário adequado. Transmitir a afetividade também é fundamental, neste caso, a partir de palavras e gestos. • É importante que o professor sempre avalie se sua forma de comunicação e explicação da tarefa foi clara e suficiente para que o aluno compreenda a atividade. Avaliar materiais e condições ambientais igualmente. • Ainda sobre a comunicação o professor pode-se valer do toque e da demonstração para que a mensagem seja captada. Ainda cabe ressaltar que, embora a deficiência visual não influencie diretamente nas características físicas e motoras, por, naturalmente, a pessoa com deficiência ter uma oportunidade reduzida de movimentação, isso pode lhe trazer dificuldades posturais e baixa resistência cardiovascular (CRAFT, 2004apud MUNSTER; ALMEIDA, 2008). Seguindo nesta linha, Tinoco e Oliveira (2009) apontam dificuldades na marcha, na postura, na movimentação, na coordenação motora e na socialização. Adams et al. (1985 apud MUNSTER; ALMEIDA, 2008) também associam a deficiência visual a dificuldades de equilíbrio, controle corporal, coordenação e agilidade por falta de estímulo e chances de realizar movimentos mais ativos, principalmente, no período da infância. Diehl (2006) descreve que, de um modo geral, a criança com deficiência visual devido a falta de estímulo e a uma educação equivocada, apresentará um desenvolvimento inferior tanto na questão motora, quanto afetiva e psicológica. De acordo com Winnick (2004), isso ocorre devido à restrição causada pela super proteção da família, professor e estranhos, que acham que o deficiente visual não é capaz de realizar coisas, e acabam reduzindo as oportunidades desses indivíduos em explorar o ambiente, e acabam ensinando-os que são incapazes e totalmente dependentes, o que certamente gera atrasos em suas capacidades de percepção, de cognição e de movimentos. 123 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Desta forma, além de possibilitar a vivência a um exercício físico e a socialização com os demais colegas, a Educação Física para deficientes visuais atua como um agente estimulador, promovendo benefícios ao organismo, compensando déficits, melhorando as capacidades motoras como o equilíbrio, a coordenação motora para um indivíduo que, geralmente, tem menores oportunidades de movimentação. 3.2 JOGOS E BRINCADEIRAS PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Como abordado no Capítulo 2, deste livro, os jogos e brincadeiras são ferramentas indispensáveis para a aula de Educação Física e que trazem inúmeras possibilidades para as crianças, de modo geral. Para as com deficiência visual, é um rico momento de diversão, de estímulo ao corpo que, como vimos, sofre de maiores restrições, além de poder participar junto aos demais colegas. No entanto, caro acadêmico, antes de sugerirmos atividades, é importante que durante a aula de Educação Física todos os alunos saibam se portar perante um deficiente visual e a atuar como guia humano colaborando durante as aulas. Sendo assim, a primeira atividade que o professor pode realizar é indicar como agir ao encontrar um deficiente visual. Pequenas instruções como: usar o tom de voz normal, procurar falar diretamente e de forma clara e objetiva, identificar-se quando se aproximar e informar que está se retirando quando sair, ajudarão muito neste processo. Ainda sobre o encontro, é importante sinalizar que antes de ajudar um cego a fazer determinada tarefa, é necessário indagar se ele necessita de tal ajuda. Caso necessite de ajuda para se deslocar, deve-se oferecer o braço, é ele, o cego, que irá segurar o seu braço para que possam se deslocar. Durante o deslocamento procurar andar em linha reta e informá-lo sobre possíveis mudanças de direção usando as expressões “direita ou esquerda”. Na sequência, vamos conferir uma lista de sugestões de jogos e brincadeiras para que você possa aplicar na sua aula! Como citamos ao trabalhar com deficiência, primeiramente, deve-se fazer com que o aluno sem deficiência se coloque no lugar do colega, por isso jogos e brincadeiras envolvendo a empatia são recomendados para iniciar esta etapa. Para as com deficiência visual, é um rico momento de diversão, de estímulo ao corpo que, como vimos, sofre de maiores restrições, além de poder participar junto aos demais colegas. 124 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Vivenciado não enxergar Número de participantes: livre Materiais: vendas Formação dos alunos: livre Descrição da atividade: o professor distribuirá venda para cada aluno da turma para que possam tapar os olhos. Na medida em que forem vendados, o professor encaminhará cada aluno para um local onde não fiquem próximos uns dos outros, após todos estarem vendados e nos seus devidos locais, o professor começará a dinâmica fazendo as seguintes reflexões: Como é a sensação de não enxergar nada? Agora que não está enxergando, podemos utilizar outros sentidos para perceber o que está ao nosso redor? Conseguimos ouvir sons que não eram percebidos antes? Por que isso acontece? Quando a visão não pode ser utilizada, os outros sentidos podem suprir essa necessidade? (MAURE, 2016). Posso ajudar? Número de participantes: livre Materiais: vendas Formação dos alunos: duplas Descrição da atividade: o professor distribuirá uma venda para cada dupla, um aluno ficará vendado e o outro será o guia humano. O guia terá a incumbência de oferecer ajuda, identificar-se e levar o aluno que está vendado até outro ponto da escola. Chegando lá, trocam-se os papéis. Ao final, o professor pode propor as seguintes reflexões: como é se locomover sem enxergar? Como é ter que confiar no colega para chegar ao local determinado? Como se sentiu o guia humano ao fazer esta função? (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO; MEC, 2007). Siga o comando Número de participantes: livre Materiais: vendas Formação dos alunos: duplas Descrição da atividade: os alunos serão separados em duplas, sendo um deles vendado, o aluno que ficará sem venda será o guia, guiará o seu colega, utilizando apenas a voz, mas sem tocá-lo. Após o tempo determinado trocar o guia. A atividade será aplicada primeiramente com o guia próximo ao guiado, depois com uma distância maior entre eles. Para aumentar o grau de dificuldade da atividade, espalhar os guias pelo local da atividade, pedir para que o aluno vendado localize o seu guia, através de comandos de voz, tentar achá-lo e chegar até ele (MAURE, 2016). 125 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Acadêmico, também há jogos e brincadeiras que buscam desenvolver os sentidos e as capacidades motoras. Vejamos alguns deles: Adivinhe pelo tato Número de participantes: livre Material: vendas, objetos como: lápis, frutas, livro, brinquedos etc. Formação dos alunos: grupos Descrição do jogo: os alunos deverão ser divididos em dois ou três grupos. Cada participante terá a oportunidade de sentir, com os olhos vendados, os objetos que serão dados pelo professor. O grupo que mais objetos acertar será o grupo vencedor (DIEHL, 2006). Ouça e pegue o rabinho Número de participantes: livre Material: barbante, latas de refrigerante com pedrinhas dentro Formação dos alunos: livres Descrição do jogo: todos os alunos deverão estar vendados. Cada aluno terá uma lata de refrigerante com um barbante que deverá ser amarrado na cintura, sendo arrastado pelo chão. Cada um tentará roubar o "rabinho" do outro. Aquele que mais "rabinhos" pegar será o vencedor. Adaptação: esta atividade poderá ser feita em duplas de mãos dadas, um estará vendado e outro não. Aquele que não enxerga pega o "rabinho", seguindo as instruções do vidente. O "rabinho" estará preso ao aluno cego, com baixa visão ou vendado. Vencerá a dupla que tiver mais rabinhos (DIEHL, 2006). Dinâmica da orientação auditiva Número de participantes: livre Materiais: vendas, bolas e apito Formação dos alunos: grupos Descrição da atividade: formação de quatro grupos, cada um escolhe dois representantes que serão vendados e colocados em um local demarcado para o início da atividade, num ponto específico e mais distante do ponto de saída da atividade, o professor colocará um estímulo sonoro, podendo ser apito, bolas batendo no chão, despertador e outros; ao sinal, os alunos representantes, vendados, deverão localizar e seguir até o estímulo sonoro, não podem receber estímulos dos colegas, vence o primeiro que chegar até o som; troca-se a funções para que todos vivenciem a atividade. Para aumentar o grau de dificuldade da atividade, poderá ser incrementada colocando um som diferentepara cada grupo (MAURE, 2016). 126 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Alerta Número de participantes: livre Material: 1 bola com guizo (caso não tenha bola com guizo, a bola poderá ser colocada dentro de sacolas plásticas) Formação dos alunos: círculo Descrição do jogo: todos os alunos deverão estar vendados, em círculo e um voluntário no centro. Cada um escolherá um animal para imitar seu som. O jogo terá início quando o aluno que estiver no centro falar já e jogar a bola para cima e falar o nome de um dos animais. Ao mesmo tempo os alunos deverão correr em direção oposta da bola, menos o aluno que está representando o animal que foi chamado, devendo correr em direção da bola. Ao pegar a bola o aluno gritará "Alerta!". Os demais alunos deverão parar e permanecer no lugar como estátuas. Todos começam a imitar seus respectivos animais, e o aluno que estiver com a bola poderá dar três passos para tentar se aproximar o máximo possível do aluno que ele acha estar mais perto, dizendo o nome do animal escolhido. Os outros alunos deverão permanecer em silêncio e o que foi chamado continuará a imitação. O aluno que estiver com a posse de bola terá que rolá-la, tentando acertá-lo. Se o aluno acertar a bola, o colega que estava imitando iniciará o jogo, se caso ele não acertar, ele mesmo reiniciará o jogo (DIEHL, 2006). Fala que eu faço Número de participantes: livre Material: vendas e bola com guizo Formação dos alunos: duplas Descrição do jogo: os alunos formarão duplas, sendo que um da dupla estará com venda (um deles será o vidente). O professor fará uma espécie de ninho do tesouro em alguns cantos da quadra, utilizando bolas com guizo. O colega vidente da dupla se separa e fica em um lugar próximo dos ninhos para auxiliar o outro colega a chegar ao ninho. As dicas poderão ser de forma simbólica. Exemplo: "10 passos de elefante para frente", "20 passos de formiga para o lado direito" etc. • Deve-se evitar que o colega vidente fique a uma distância muito longa do aluno com deficiência visual. O professor pode optar por dividir a turma em dois ou três grupos para jogar (DIEHL, 2006). Nó no lenço Número de participantes: livre Material: apitos e vários lenços ou fitas Formação dos alunos: colunas ou fileiras 127 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Descrição do Jogo: sentados em seus lugares, em colunas ou fileiras com igual número de integrantes, representando as equipes. O último de cada coluna ou fileira segurará um lenço, e o primeiro, um apito. Ao sinal dado, aqueles que têm o lenço na mão, atam-no no braço direito do colega da frente, fazendo um nó entre o cotovelo e o ombro; o aluno desata o nó do seu braço com a mão esquerda, ata-o no colega da frente e, assim, sucessivamente, até que o primeiro dê o sinal de que sua equipe terminou. Vence a equipe que apitar primeiro. Em situação de inclusão: o aluno não deficiente visual não poderá olhar quando for amarrar o lenço ou a fita, nem quando for desamarrá-las, mantendo o rosto voltado para o outro lado (DIEHL, 2006). Passa a bola Números de participantes: livre Material: bolas com guizo (caso não tenha bola com guizo, a bola poderá ser colocada dentro de sacolas plásticas) Formação dos alunos: duas ou mais colunas Descrição do jogo: duas ou mais colunas com mesmo número de participantes. O primeiro integrante de cada coluna deverá estar com a bola que deverá ser passada entre as pernas ao colega de trás até chegar o último da coluna; ele devolverá por cima da cabeça até chegar ao primeiro da coluna. Na mesma ordem, logo em seguida, passar a bola pelo lado direito, retornando pelo lado esquerdo. Vence a coluna que terminar a sequência primeiro gritando o nome de sua equipe. Os alunos videntes auxiliarão os alunos cegos e com baixa visão a pegar a bola, através de comunicação verbal (DIEHL, 2006). Coelhinho sai da toca Número de participantes: livre Material: arcos Formação dos alunos: duplas Descrição do jogo: os alunos serão divididos em duplas dispersos pela quadra. Um dos alunos ficará segurando o arco na altura da cintura, que fará o papel de "toca", o outro fará o papel de "coelhinho" que entra e sai da "toca". Cada dupla identificará um som para se identificarem. Ao comando dado pelo professor "Coelhinho sai da toca!", o aluno que estava dentro do arco sairá e realizará uma caminhada pela quadra (ou pelo espaço que está sendo realizada a atividade). Ao segundo comando do professor "Coelhinho volta para toca!", o coelho deverá encontrá-la através do som combinado. Somará mais pontos a dupla que conseguir voltar para a "toca" em menor tempo. Para realizar esta atividade é importante que todos os alunos estejam vendados. 128 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Adaptação: caso tenha um aluno sem par, ele fará o "coelhinho" sem "toca", e comandará o jogo. Ao primeiro comando "Coelhinho sai da toca", todos os coelhos deverão sair da "toca" e caminhar pela quadra, inclusive os alunos que estão representado a "toca". Ao segundo comando "Coelhinho volta para a toca", as "tocas" deverão permanecer paradas emitindo o som "tocas" "tocas" e os "coelhinhos" tentar encontrar uma "toca", inclusive o que estava sem toca (DIEHL, 2006). Quem é este? Número de participantes: livre Materiais: vendas Formação dos alunos: livre Descrição da atividade: o professor deverá misturar a turma pela quadra, vendar um dos aluno e colocá-lo em frente a um dos colegas, este deverá, pelo tato, identificar qual é o colega, se acertar, trocar a função, caso não identifique, terá mais uma chance (MAURE, 2016). Caçada à bola Número de participantes: livre Material: bola com guizo (caso não tenha bola com guizo, a bola poderá ser colocada dentro de sacolas plásticas) Formação dos alunos: fileiras Descrição do jogo: duas fileiras com o mesmo número de participantes, dispostas nas laterais da quadra, viradas para o centro. Cada aluno receberá um número que será o mesmo para as duas fileiras, no sentido diagonal. Quando o professor falar um número, os representantes do número deverão ir em direção da bola que estará sendo movimentado pelo professor no centro da quadra. O aluno que pegar a bola deverá dizer o nome de sua equipe, que marcará um ponto. Vence a equipe que marcar mais pontos. Adaptação: esta atividade poderá ser realizada de duas formas: se em uma das equipes tiver um aluno cego ou com baixa visão, na outra equipe poderá ter um aluno vendado ou todos os alunos deverão usar vendas (MAURE, 2016). Relógio de corda Número de participantes: livre Material: vendas, corda e argolas Formação dos alunos: duplas Descrição do jogo: serão formadas duplas com um da dupla cego ou com vendas e um vidente. Dois alunos trilharão uma corda que terá no centro argolas seguradas por nós em ambos os lados, cuja função é dar direção ao aluno cego ou com vendas. Cada dupla terá de pular a corda seguindo as horas até 129 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 completar 12 saltos. Ou seja, vai se cantando "1 hooora!", que significa um salto; "2hooraaas!", para dar dois saltos, e assim sucessivamente, até completar as 12 horas. A dupla estará fora da corda, devendo entrar quando começarem a ser contadas as horas. Caso a dupla erre, deverá repetir a hora onde errou. Vence a dupla que fechar as 12horas no menor tempo. No caso do deficiente visual, para que se previnam acidentes, lesões e quedas, o professor deverá assegurar- se de que o aluno esteja familiarizado com o espaço físico, com inclinações do terreno e diferenças de piso. É importante que toda a instrução seja verbalizada de forma bem clara para que o aluno com deficiência visual entenda as atividades propostas (DIEHL, 2006). Bola ao cesto Número de participantes: livre Material: vendas, bolas e conesFormação dos alunos: equipes Descrição do jogo: os participantes serão separados em 2 equipes: equipe A e equipe B; cada equipe deverá formar duplas, sendo um dos membros da dupla vendado e o outro com as mãos amarradas servindo como guia, podendo apenas falar com seu companheiro. Coloca-se um cesto num canto da área que será desenvolvida a atividade, fazendo uma marcação no chão a uma distância de 2 m do cesto. • As equipes A e B alternadamente enviarão uma dupla por vez para tentar realizar a cesta. • A bola será entregue para o participante vendado e o participante que está com as mãos amarradas deverá conduzi-lo até a marca no chão e orientar para que o participante vendado lance a bola ao cesto. • Vence a equipe que conseguir realizar mais cestas (MAURE, 2016). Bola ao cone Número de participantes: livre Material: vendas, bolas e cones Formação dos alunos: duplas Descrição do jogo: os alunos estarão separados em duplas e espalhados pela quadra, cada dupla tomará conta de um cone. Uma pessoa da dupla deverá manter certa distância do cone, ter os olhos vendados e dominar a bola com os pés. O seu companheiro de duplas deverá conduzi-lo por estímulos sonoros (orientar sua direção falando: para frente, para direita) até o aluno que estiver vendado, acertar bola no cone. Depois de certo tempo, trocar a venda de pessoa (DIEHL, 2006). Como podemos ver, vários são os jogos e brincadeiras possíveis de realizar nas aulas práticas de Educação Física para a pessoa com deficiência 130 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais visual. Assim como no caso da deficiência física, há atividades que podem ser feitas dentro da sala de aula a partir de pesquisas sobre a deficiência visual e a sociedade. Também pode-se explorar esse tema a partir de livros e filmes. Um filme bastante adequado para se trabalhar na escola, principalmente nas aulas de Educação Física, pois envolve a música e o ritmo, é o longa-metragem Ray (Taylor Hackford, 2004). Ray conta a história do reconhecido músico Ray Charles, que fica cego ainda criança, encontrou no piano sua vocação, tornando-se um dos maiores ídolos da música mundial. Nas atividades de sala de aula, podemos promover o desenvolvimento cognitivo e a socialização a partir dos jogos de raciocínio. Nesse caso, algumas adaptações são fundamentais para que a criança com deficiência possa jogar com autonomia e divertimento. Segundo Sá, Campos e Silva (2006), são possíveis adaptar os seguintes jogos: • Cartas: para isso é necessário que o baralho venha adaptado com inscrição em braile no número e no naipe. • Dominó: precisa ser adaptado com diferentes texturas de tecido para que o aluno consiga identificar os números da peça. • Jogo de dama: precisa ser adaptado com velcro. • Jogo da velha: esse jogo pode ser adaptado com peças de encaixe ou imantadas. • Resta-um: pode ser adaptado com embalagens de ovos e bolinhas de isopor ou papel machê e bolinhas de gude. FIGURA 6 – JOGO DA VELHA E RESTA-UM FONTE: Sá, Campos e Silva (2006, p. 31) 131 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 1 Durante a aula de Educação Física para um aluno com deficiência visual é necessário que o professore realize adaptações nas regras e nos espaços físicos da aula, caso necessário. Além disso, é importante ter alguns cuidados durante a atividade e o planejamento. Cite três cuidados que o professor necessita ter: R.: 2 Um dos motivos para que a criança com deficiência visual participe da aula de Educação Física é a melhoria de suas capacidades físicas e posturais, que na maioria dos casos não é a adequada. Explique por que a pessoa com essa deficiência apresenta tais dificuldades. R.: 3 Além dos jogos práticos realizados na quadra, o professor pode estimular jogos que desenvolvam o aspecto cognitivo e socializador em sala de aula. Cite três dos jogos possíveis de serem realizados em sala de aula para deficientes visuais. R.: Sempre cabe frisar, caro acadêmico, que para a realização dessas atividades não é necessário que haja a presença de uma pessoa com deficiência visual em sua turma, visto que este é um tema de interesse coletivo e, por isso, deve ser abordado em suas aulas. Na sequência, veremos mais possibilidades de se trabalhar a inclusão através da Educação Física a partir dos esportes adaptados para deficientes visuais. Antes disso, vamos às atividades de estudo! 132 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 4 ESPORTES ADAPTADOS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Neste último subtópico do livro, abordaremos os esportes adaptados direcionados às pessoas com deficiência visual. Os esportes são uma excelente ferramenta para promover a inclusão e para as pessoas com deficiência ainda ajudam na reabilitação, nas questões psicológicas ou na melhoria de elementos motores pouco explorados. Munster e Almeida (2008) citam que o esporte para pessoas com deficiência visual deve ser compreendido como um fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades, sejas dimensões sociais pois podem abranger a educação, o lazer e o rendimento, e cujas referências principais são, respectivamente, a formação, a participação e o desempenho. Dessa forma, seguem os autores supracitados apontando que cabe ao professor de Educação Física ressignificar essa prática, otimizando o desenvolvimento motor da criança com deficiência visual, transformando a atividade motora e o esporte em alicerces para o desenvolvimento pleno de seu potencial humano. Como vimos no capítulo anterior, os esportes passaram a ser adaptados oficialmente para as pessoas com deficiência, na Inglaterra, em 1948, quando se utilizada as modalidades como meio de recuperação dos lesionados medulares. Dessa proposta, criaram-se competições e, na sequência, os Jogos Paralímpicos disputados, em Roma, no ano de 1960. Então, acadêmico, como podemos ver, os primeiros esportes foram exclusivamente adaptados para os deficientes físicos, embora ainda não oficialmente os deficientes visuais já os praticassem de forma recreativa. De forma oficial, os esportes para cegos e baixa visão passaram a fazer parte das Paralimpíadas, em 1976, nos jogos realizados em Toronto, no Canadá (COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL, c2020b). Nessas competições, os deficientes visuais são classificados conforme o seu nível de visão. A classificação funcional para as modalidades voltadas para cegos e baixa visão foi de início proposta pela International Blind Sports Federation (IBSA) para que os jogos pudessem ter uma igualdade de disputa. Essa classificação, hoje, é aceita em nível mundial, referendada pelo Comitê Paralímpico Internacional, sendo disposta em B1, B2 e B3. Como foi proposta em Essa classificação, hoje, é aceita em nível mundial, referendada pelo Comitê Paralímpico Internacional, sendo disposta em B1, B2 e B3. 133 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 língua inglesa, a letra B significa blind, seja tradução em português significa cego (MUNSTER; ALMEIDA, 2008). Vamos acompanhar como se dá essa classificação esportiva, conforme Munster e Almeida (2008): • B1: estes atletas são aqueles que têm desde a inexistência de percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção luminosa, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão a qualquer distância ou direção. O atleta recebe a alcunha de cego total. • B2: estes atletas são aqueles que têm a capacidade para reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual de 2/60 metros e ou campo visual inferior a 5º. Os competidores B2 têm a visão parcial, pois possuem a percepção de vultos. • B3: estes atletas possuem acuidade visual entre 2/60 metros e 6/60 metros ou um campo visual entre 5º e 20º. Os jogadores são classificados como deficientes visuais, pois conseguem definir imagens.Aqui no Brasil, além do Comitê Paralímpico Brasileiro que organiza a participação brasileira nas Paralimpíadas, existe a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), que gere as modalidades paralímpicas como o Futebol de cinco, o Goalball e o Judô Paralímpico, além de modalidades que não pertencem ao quadro dos jogos como o Futebol B2/B3 e Powerlifting (CBDV, 2020). A Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais foi criada recentemente, no ano de 2008, três anos depois buscou uma reestruturação do movimento paradesportivo de cegos no Brasil, buscando o desenvolvimento das modalidades às quais ficou responsável, criando um calendário esportivo e dando um suporte para que a seleção brasileira pudesse se preparar melhor para as competições. O site da CBDV apresenta inúmeras informações importantes sobre o esporte e a deficiência visual, apresentando as modalidades, regras e técnicas, além do calendário de eventos, o regulamento geral e as propostas da entidade e artigos científicos na área do goalball e do judô. Disponível em: http://cbdv.org.br/. 134 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Vamos apresentar para você, caro leitor, algumas modalidades esportivas para deficientes visuais que podes aplicar na escola para seus alunos! 4.1 ATLETISMO Pioneiro nos esportes adaptados, o atletismo foi pensado em sua forma inicial para pessoas com deficiência física. No entanto, aos poucos essa modalidade também passou a ser disputada por cegos e baixa visão e, nos tempos atuais, mais de 70 países já são filiados à Federação Internacional de Desportos para Cegos (IBSA) (SOUZA; BRUEL, 2009). Além do Jogos Paralímpicos, o atletismo para deficientes visuais possui um vasto calendário com competições nacionais, internacionais para jovens e adultos e maratonas. Souza e Bruel (2009) apontam que essa grande procura pela modalidade se deve ao fácil acesso e à naturalidade dos movimentos. O atletismo para deficientes visuais é constituído praticamente por todas as provas que compõem as regras oficiais, tendo como exceção o lançamento de martelo, o salto com vara e as corridas com barreiras e obstáculos. Dessa forma, eles competem nas seguintes provas: corridas de velocidade (100, 200 e 400 metros), corridas de meio fundo (800 e 1500 metros), corridas de fundo (5000 e 10000 metros), corridas de revezamento (4x100 e 4x400 metros), corridas de pedestrianismo (provas de rua e maratona), saltos (triplo, distância e altura), arremessos e lançamentos (peso, dardo, disco e martelo) e provas combinadas (pentatlon – disco, peso, 100, 1500 e distância). Embora respeite a classificação funcional proposta pela IBSA, no atletismo, os atletas recebem nomenclaturas diferentes que se referem a modalidade: T11, T12 e T13. O T11 vem a ser o B1, que no atletismo permite ao atleta correr ao lado do aleta-guia ligados por um cordão. Nos saltos é auxiliado por um guia indicador. O T12 é proporcional ao B2, tanto o guia quando os apoios do indicador são opcionais e, no T13, que é similar ao B3, não se pode utilizar o atleta-guia nem ser auxiliado por um apoio no salto. Em provas acima de 5 mil metros, os atletas podem contar com dois guias que se revezam durante a disputa (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Ainda sobre a participação dos guias, deve-se frisar que nas corridas que eles são ligados ao atleta com deficiência visual por uma corda, que não pode ser elástica nem medir mais de um metro. Os guias também devem corres juntos e não a frente ao atleta e não podem impulsioná-los ou empurrá-los. Já os guias 135 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 indicadores para saltos vão orientá-los sobre a zona regulamentar evitando que queimem sua tentativa a partir de palmas, vozes ou orientação acústica (CANTÓ; SÁNCHEZ, 2016). FIGURA 7 – COMPETIÇÃO COM ATLETA-GUIA FONTE: <http://rededoesporte.gov.br/pt-br/noticias/brasileiros-projetam-emocao- novas-experiencias-e-muitos-podios-em-2016/20557010116_3cbad8fa56_k.jpg/@@ images/8736d0d8-ee2e-4841-b310-b651ae8362a7.jpeg>. Acesso em: 18 out. 2020. O atletismo é uma grande ferramenta para ser trabalhado na escola. Souza e Bruel (2009) apontam que ao praticar esse esporte, a criança com deficiência visual minimiza algumas defasagens que ela pode ter devido à falta de estímulo ou oportunidade como a locomoção insegura, a pouca consciência corporal, os problemas posturais e a insegurança. De acordo com Gallahue e Ozman (2000), o ensino do atletismo para pessoas com deficiência visual deve respeitar a individualidade do aprendiz, partindo do conhecimento corporal e das incapacidades sensoriais do aluno. Os métodos de ensino de uma atividade corporal e de sua movimentação no espaço e tempo não diferem muito daqueles que tratam o indivíduo não deficiente visual, porém existe a especificidade de encaminhamento ao se considerar as necessidades de se vencer as adversidades naturais da deficiência ou da incapacidade (SOUZA; BRUEL, 2009, p. 4). Para o ensino da corrida, Oliveira Filho et al. (2004) apontam que o primeiro passo é o reconhecimento do espaço pelo aluno, sendo necessário conhecer as dimensões (largura e comprimento), os obstáculos (se houver) as referências que podem ajudar (som, cheiro ou luz em determinados pontos) para que ele crie um mapa mental. As atividades precisam ser feitas necessariamente em duplas, sendo que o aluno vidente deve atuar como guia correndo ao lado amarrado pela corda. 136 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Caso não se tenha a corda, pode-se optar por segurar a camiseta ou ainda ir de mãos dadas. Sempre lembrando que o aluno guia deverá respeitar as regras já mencionadas para auxiliar. No caso do aluno de baixa visão, pode-se utilizar de informações verbais. Para trabalhar o estímulo sonoro, Oliveira Filho et al. (2004, p. 3) sugerem: Um exemplo simples e utilizando auxílio sonoro, pode ser praticado a partir de 2 colunas, uma de frente para a outra e distantes mais ou menos 20 metros, em que o primeiro elemento de uma coluna chamará, através de uma informação auditiva sinalética (palmas, assobios etc.) ou auditiva verbal- explicativa (orientação de velocidade, direção etc.), o primeiro elemento da outra coluna para correr em sua direção e, este, ao chegar de seu deslocamento (corrida, saltitos etc.), posicionar-se-á no final da coluna a qual se dirigiu. Idem, em relação ao primeiro elemento da outra coluna, chamando intercaladamente, aluno da coluna a sua frente. No início da aprendizagem desses exercícios, para maior adaptação do espaço a ser percorrido, aconselha-se que o primeiro elemento de cada coluna seja um "guia" vidente, com função de chamar e orientar o deslocamento dos corredores. As variações serão dar instruções verbais de direção e velocidade, substituir os videntes por pessoas cegas (busca da autonomia), colocar elementos de complexidade motora nos deslocamentos (técnica de corrida, giros e saltos), aumentar o número de chamadores (quem bate palmas), colocar os chamadores em formações como quadrados e triângulos, realizar barulhos diferentes e em volumes diferentes. O estímulo à informação verbal será importante nos saltos e arremessos visto que estas modalidades ocorrem somente dessa forma. Para começar o ensino dos arremessos e lançamentos, sugere-se os mesmos procedimentos iniciais da corrida como o reconhecimento do ambiente. Além dessa orientação espacial, deve-se estimular exercícios de equilíbrio, uma das principais habilidades exigidas nessa prova e que é prejudica na pessoa com deficiência visual, visto que é ligada à visão (OLIVEIRA FILHO et al., 2004). Os exercícios de orientação espacial e de lançamento serão direcionados pelas informações verbais explicativas e sinaléticas. Para isso, pode-se combinar diferentes informações em um mesmoexercício, pensando no nível de complexidade das informações e no repertório motor do indivíduo. Assim, quanto maior e bem direcionados forem os números de informações, maior será a possibilidade de desenvolvimento motor adequado frente as situações exigidas, pois o contrário pode indicar níveis baixos de adaptação do aluno frente as atividades solicitadas apresentando-se muito complexas e revelarem que uma informação sonora ou tátil utilizada de maneira inadequada terão pouco efeito naquele momento do aprendizado (OLIVEIRA FILHO et al., 2004, p. 3). 137 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Oliveira Filho et al. (2004) sugerem que o professor posicione o atleta na área de arremesso/lançamento, orientando-o espacialmente, e após, coloca-se à frente do atleta batendo palmas para indicar a direção do arremesso, tendo o aluno uma noção de onde deverá soltar o implemento. O professor também pode combinar algum sinal, como: ao ouvir um assobio, realizará o gesto do lançamento. Cabe lembrar que para esse aluno os giros se tornam mais complexos devido à falta de visão. Por fim, os saltos devem passar pelo mesmo processo pedagógico inicial das corridas e arremessos. Oliveira Filho et al. (2004, s.p) afirmam que as dificuldades mais comuns estão na “’chamada’ (passo que antecede o salto), enquanto que na fase aérea do salto, tais problema relacionados com o nível de aprendizagem são minimizados, pois a questão da orientação espacial não influi mais de maneira tão intensa, já que não se pode mudar a trajetória do deslocamento”. Dessa forma, esse momento deve ser bastante estimulado. No salto, o professor deve também se utilizar de informações verbais, podendo bater palmas em direção à corrida e sinalizar quando faltam 1 ou 2 passos para que salte (OLIVEIRA FILHO et al., 2004). 4.2 FUTEBOL DE CINCO O futebol de cinco é um esporte adaptado bastante popular. Ao contrário de atletismo, que também é disputado por deficientes visuais, essa modalidade é exclusiva para os cegos e deficientes visuais e é disputado nos Jogos Paralímpicos desde 2004, com o Brasil levando a medalha de ouro em todas as edições (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Segundo a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (2020), o futebol de cinco começou a ser praticado no Brasil na década de 1950, quando os cegos jogavam futebol com latas, garrafas ou bolas enroladas na sacola nas instituições especializadas de ensino como o Instituto Benjamin Constant (CBDV, 2020). Com a popularidade que essa modalidade alcançou, começaram a se organizar campeonatos de futebol de cinco, sendo o primeiro realizado em 1978 pelas APAEs, em Natal. A partir daí, os torneios foram se sucedendo pelo país e internacionalmente, tendo o primeiro campeonato mundial acontecido no ano de 1998, na cidade de Paulínia, em São Paulo (CBDV, 2020). 138 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais Sobre as regras do jogo, há adaptações quanto ao futebol e futsal convencional para que os cegos e deficientes visuais possam jogar com maior segurança e autonomia. Algumas dessas regras consistem: • As partidas normalmente são disputadas em uma quadra de futsal adaptada com uma banda lateral (barreira feita de placas de madeira que se prolonga de uma linha de fundo à outra, com uma oscilação de 1 metro a 1,20 metros de altura e uma inclinação não superior a 10 ° para o exterior, em ambos os lados da quadra, evitando que a bola saia em lateral, a não ser que seja por cima dela). Dessa forma, a bola não sai e, consequentemente, não há arremessos laterais. • Cada time é formado por cinco jogadores: um goleiro (que tem a visão total) e quatro na linha (totalmente cegos). Os atletas da linha são obrigados a jogar com vendas, já que alguns podem possuir resíduos visuais, o que lhes daria vantagem, por isso o uso de vendas. Caso o atleta toque na venda, é marcado uma falta. • As partidas de futebol de cinco são disputadas em locais silenciosos e em locais sem eco para que os jogadores possam ouvir os sinais da bola e dos chamadores. A torcida presente deve permanecer em silêncio e só pode se manifestar quando a bola estiver fora do jogo como na hora do gol, em faltas, linha de fundo, lateral, tempo técnico ou qualquer outra paralisação da partida. • Os “barulhos” que a bola emite nessa modalidade é devido aos guizos que ela possui, servindo como orientador para os atletas dentro da quadra. Através do som emitido pelos guizos, os jogadores podem identificar onde ela está, de onde ela está vindo e podem conduzi-la. • O jogo é disputado em dois tempos de 25 minutos com 10 minutos de intervalo. • A área do goleiro mede 5,82m x 2m, o jogador não pode sair dela para realizar uma defesa nem tocar na bola. • A partir da sexta falta que a equipe cometer, o adversário tem direito a um tiro livre da linha de oito metros ou do local onde foi cometida a falta. Caso o atleta cometa cinco infrações ele é expulso de campo, mas pode ser substituído por outro jogador. • O tamanho do gol é de 3,66m x 2,14m. • Cada time possui um chamador (guia) que fica atrás do gol do adversário para orientar os atletas do seu time. Sua função é dizer onde os atletas devem posicionar, orientando as direções do gol, as possibilidades de jogadas, posicionamento do adversário etc. No entanto, o chamador só atua no campo de ataque. Na zona de defesa, a responsabilidade de orientar é do goleiro e na parte central do técnico. 139 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 Sobre o ensino do futebol de cinco, a primeira prática segue sendo a mesma para o ensino de qualquer modalidade: conhecer o jogador, seu potencial e suas limitações. Assim como o atletismo, ele pode ser um grande estímulo para compensar déficits motores e sociais que a criança tem devido à falta de oportunidades. Souza (2011) afirma que o professor deve dar especial atenção à orientação e mobilidade, visto que além de ser uma tarefa complicada para os deficientes visuais, ela é fundamental para que o jogador se saia bem em quadra. O desenvolvimento do desporto deve ser iniciado com atividades de orientação e mobilidade e percepção auditiva, noções de lateralidade, noções de espaço temporal, trabalhando em diferentes ritmos e formas. O reconhecimento das dimensões do local, onde a atividade será desenvolvida, também se faz importante. O não desenvolvimento desse complexo senso perceptivo motor acarretará ao aluno maior possibilidade de acidentes, o que poderá causar desmotivação na pessoa para a prática do exercício. Então, inicia-se o trabalho específico, desenvolvendo e dando ênfase aos fundamentos do futebol de cinco (CASTELLI; FONTES, 2006, p. 16). Reconhecendo essa importância, o professor deve iniciar as aulas de futebol de cinco explorando atividades de orientação e mobilidade como já vimos nesse capítulo. Também é importante reforçar o estímulo da audição, visto que é por onde receberão as informações tanto dos guias quanto da bola. Assim, pode colocar vídeos em aula, vendando os alunos para que prestem atenção no som, trazer diversos estímulos sonoros para que reconheçam e até atividades para que identifiquem a voz dos próprios colegas (SOUZA, 2011). Após esse desenvolvimento, assim como no jogo convencional, a próxima etapa é o ensino dos fundamentos do jogo como condução de bola, passe, domínio, chute e drible. Sempre que possível, dispor a turma em duplas, sendo que um realiza a atividade e o outro atua como chamador, orientando sobre posicionamento, direção, postura etc. após realizar a inversão dos papéis. É importante que todos alunos realizem tanto os exercícios do jogo como saibam atuam como chamadores (CASTELLI; FONTES, 2006). Souza (2011) afirma que o professor deve dar especial atenção à orientação e mobilidade,visto que além de ser uma tarefa complicada para os deficientes visuais, ela é fundamental para que o jogador se saia bem em quadra. 140 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais 4.3 GOALBALL De todas as modalidades Paralímpicas, o goalball é a única que não é adaptada de um esporte já existente, tendo sido criada exclusivamente para as pessoas com deficiência visual. Sua criação remete ao ano de 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle, que o fizeram com o mesmo objetivo de Ludwig Guttmann com os jogos adaptados: reabilitar os veteranos da Segunda Guerra Mundial, porém, no caso do goalball, os soldados que ficaram cegos (CBDV, 2020). O goalball passou a ser uma modalidade paralímpica nos Jogos de Toronto, em 1976, já na primeira edição em que as modalidades para deficientes visuais entraram nos Jogos, porém como esporte demonstração. Quatro anos mais tarde entrou na lista oficial com a participação masculina e, em 1984, também passou a ser disputado por mulheres (CBDV, 2020). No Brasil, essa modalidade chegou no período de integração olímpica pelas mãos do professor Steven Dubner, em São Paulo, em 1985. Nesse mesmo ano, aconteceram os primeiros jogos por aqui. De lá para cá, o esporte só se difundiu com o Brasil chegando à conquista da medalha de prata, na categoria masculina nos Jogos de Londres, em 2012, sendo campeã mundial dois anos depois e repetindo o feito em 2018. A seleção feminina também vem atingindo bons resultados como o terceiro lugar no último mundial (CBDV, 2020). O goalball é um jogo dividido em duas equipes de três jogadores (e mais três como reservas) que tem por objetivo marcar gol. Todos os atletas têm a mesma função: arremessar e defender. Sendo que no arremesso a bola precisa ser rasteiro e tocar em determinadas áreas da quadra para que ele seja válido (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Essa modalidade é jogada nas mesmas dimensões da quadra de voleibol, ou seja, 18x9m. além disso, é necessária uma baliza que devem ter 9 m de largura e 1,3 m de altura. Outro importante fator são as linhas da quadra e do gol que devem ser demarcadas por um barbante preto com fita adesiva para que os atletas possam senti-las e, assim, sirva de orientação (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Também é importante frisar que a quadra do jogo é dividida em áreas iguais dos dois lados: da linha do gol até os primeiros 3 m é a área de orientação ou zona de defesa, cujo jogador vai ter uma referência para orientação espacial e realizar as técnicas defensivas. Os três metros seguintes são chamados de área 141 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 de lançamento ou zona de ataque (delimita as ações defensivas e ofensivas e é onde se faz os arremessos) e a terceira área é a área ou zona neutra (separa as áreas de cada equipe). Para o arremesso ser válido, ele deve tocar nessa área e a área de lançamento. A bola do goalball é parecida com a bola de basquete, pesando 1,250kg, e, como a bola de futebol de cinco, também precisa ter guizos em seu interior servindo para orientação dos atletas. Outra similaridade com o futebol é a obrigatoriedade do silêncio durante as partidas (exceto na hora do gol até o reinício da partida), pois é um jogo que se baseia na percepção auditiva e tátil (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). A partida dessa modalidade é jogada em dois tempos de 12 minutos com 3 minutos de intervalo. Uma curiosidade é que caso uma equipe abra dez gols de vantagem, o jogo pode ser encerrado sem precisar cumprir o tempo regulamentar. Essa situação dá-se o nome de game. Todos os atletas devem jogar igualmente vendados (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Quer conhecer um pouco mais desse jogo? Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=UinvTFoRpP8 e confira detalhes das suas regras, bem como as técnicas necessárias para jogá-lo! Na escola, o professor pode adaptar materiais para poder ensinar o goalball: a trave pode ser feita de cones, a bola pode ser a de basquete envolta em sacos plásticos. Em um primeiro momento é importante que se ensine o posicionamento dos atletas que estão em quadra, bem como suas funções e responsabilidades. As três posições do jogo são: ala direito, ala esquerdo e pivô ou central. É importante que os alunos vivenciem todas as posições. Segundo Nascimento e Camargo (2012), as suas demandas ofensivas e defensivas são: • Ala direito ° Função defensiva – defender o lado direito da sua área de equipe, que se limita da linha lateral direita às proximidades da área em que está a posição central. ° Função ofensiva – atacar o lado direito da sua área de equipe ou nas 142 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais outras duas posições, dependendo da movimentação interna dos/as integrantes. • Ala esquerdo ° Função defensiva – defender o lado esquerdo da sua área de equipe, que se limita da linha lateral esquerda às proximidades da área em que está a posição central. ° Função ofensiva – atacar o lado esquerdo da sua área de equipe ou nas outras duas posições, dependendo da movimentação interna dos/as integrantes. • Pivô ou Central ° Função defensiva – defender o espaço central da sua área de equipe, que se limita da linha do pivô até as linhas demarcatórias de 15 centímetros dos dois alas (tanto para a direita quanto para a esquerda). ° Função ofensiva – atacar do centro da sua área de equipe ou das outras duas posições, dependendo da movimentação interna dos/as integrantes. FIGURA 8 – POSIÇÕES DO GOALBALL FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/ aulas/15965/imagens/goalball.jpg>. Acesso em: 18 out. 2020. Junto ao posicionamento, o professor deve ensinar as técnicas defensivas e ofensivas. Na defesa, o aluno precisa começar na chamada posição de expectativa – agachado, com as mãos fixas ao solo – e, após o lançamento ele deverá realizar um deslocamento lateral (conforme a direção da bola), em que estenderá todo seu corpo com os braços, protegendo o rosto e impedindo que a bola passe e entre no gol (NASCIMENTO; CAMARGO, 2012). 143 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 No ataque, o aluno deve ser estimulado a partir do fundamento do arremesso. O arremesso pode ser feito de três formas: de maneira frontal (quando o jogador se desloca, inclina o corpo à frente e o braço atua como uma alavanca a partir de um movimento pendular), o arremesso com giro (quando realiza um giro parecido com o lançamento de disco antes de lançar) e o arremesso por baixo das pernas (quando, de costas, o aluno arremessa a bola por entre suas pernas) (NASCIMENTO; CAMARGO, 2012). Embora pareça um jogo simples, o goalball possui suas estratégias e táticas para que a vitória seja alcançada. Para saber mais sobre sistemas ofensivos e defensivos no goalball, acesse o link: https://www.dropbox.com/s/45gfc7dwmio9fnl/ TOSIM_et_al._%282008%29_Sistemas_tenicos_e_taticos_no_ goalball%5B1%5D.pdf?dl=0. 4.4 JUDÔ Assim como o judô convencional, a modalidade paralímpica começou a ser disputada no Japão. Foi em uma Paralimpíada com sede no Oriente (Seul, em 1988), que essa modalidade começou a fazer parte da grade de esportes paralímpicos, primeiramente, só no naipe masculino. Para as mulheres, essa modalidade passou a ter competição olímpica em Atenas, em 2004 (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). No Brasil, o judô adaptado começou a ser praticado na década de 1980, no final da década, os atletas brasileiros começaram a participar de competições internacionais com sucesso: já nos Jogos de Seul foram conquistadas três medalhas de bronze. Além do Brasil, mais de 50 países já contam com atletas participando desta modalidade (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO,c2020a). O judô é disputado por atletas cegos e deficientes visuais e, ao contrário das demais modalidades apresentadas, seus atletas vão disputar conforme a classificação funcional – B1, B2 e B3, e conforme Judô é disputado por atletas cegos e deficientes visuais e, ao contrário das demais modalidades apresentadas, seus atletas vão disputar conforme a classificação funcional – B1, B2 e B3, e conforme o peso sendo divididos em categorias. 144 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais o peso sendo divididos em categorias. Para ser mais facilmente identificados, os atletas B1 têm um círculo vermelho em cada ombro do quimono (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). As regras de combate do judô para atletas com deficiência visual sofrem poucas modificações comparado ao judô tradicional. A principal dela é que a luta se inicia com os atletas já estando em contato com o quimono do adversário. No decorrer da luta, caso percam esse contato, ela é paralisada. Caso os atletas saiam da área de combate, também não ocorre punição (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Quanto ao tempo de luta, ele diferente conforme o gênero: no masculino são 5 minutos, enquanto no feminino a duração é de 4 minutos. Caso ocorra um empate, a luta é decidida no Golden Score, ou seja, vence quem pontuar primeiro (CBDV, 2020; COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO, c2020a). Assim como as demais modalidades, o judô apresenta benefícios aos praticantes voltados aos fatores psicomotores, sociais e psicológicos. Vieira e Souza Júnior (2006, p. 19) colocam que o ensino do judô para os deficientes visuais tem por objetivo “atitudes que tragam maior independência de locomoção, melhor postura corporal, iniciativa para ações, além de relaxamento muscular que as atividades físicas proporcionam e de que os cegos tanto necessitam”. Os autores ressaltam ainda que o judô para as pessoas com deficiência serve como um recurso auxiliar para as atividades da vida diária. Contudo, caro acadêmico, sabemos que o ensino de lutas na escola já é renegado, muitas vezes, por puro preconceito. Aliando isso à relação com a deficiência visual, pouco se sabe de práticas dessa modalidade na Educação Física escolar. No entanto, como sabemos, tanto ensinar lutas como incluir é dever do profissional de Educação Física. No ensino escolar, Melo (2004) diz que o judô deve ser ensinado pensando na segurança do aluno e motivando à descoberta de potencialidades. Vieira e Souza Júnior (2006) citam que o ensino deve se basear nas mesmas técnicas que o judô convencional, tais como: • Técnicas de amortecimento. • Técnicas de projeção (derrubar a partir de uma posição de pé). • Técnicas de projeção/sacrifício da postura (mais complexas pois utilizam todos os segmentos). • Técnicas de solo (imobilização, estrangulamento e chaves de braço). • Técnicas de luta (aplicação livre das técnicas de projeção executando nos moldes de uma competição, mas sem a rigidez dela). 145 A Educação Física e a Deficiência VisualA Educação Física e a Deficiência Visual Capítulo 3 1 O atletismo é uma das únicas modalidades que possui uma classificação funcional com outra nomenclatura referente àquela utilizada por demais esportes. Sendo assim, explique como ocorre a classificação funcional do atletismo e qual sua finalidade. R.: 2 Cada equipe do goalball atua com três jogadores que exercem funções diferentes. Cite quais são as posições e suas funções ofensivas e defensivas: R.: Dessa forma, a pessoa com deficiência visual vivenciará em todas as possibilidades essa importante modalidade de luta e trazendo para si benefícios como a coordenação e melhorias de suas capacidades físicas, cognitivas, sociais e psicológicas. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Caro acadêmico, como podemos ver, as possibilidades de inclusão dos deficientes visuais a partir da Educação Física são enormes. Por isso devemos estimular, e mais do que isso, propiciar que o aluno se sinta à vontade na aula, pois através dela que terá contato com jogos, brincadeiras, esportes que lhe trarão benefícios em todos os aspectos já mencionados. O professor de Educação Física, mediador desse processo, precisa acima de tudo conhecer bem o seu aluno, interessar-se pelo que ele tem, pelo que sabe, pelas suas necessidades e a partir disso construir um planejamento voltado para suas demandas e para contemplar a todos em sua proposta pedagógica. Por fim, cabe a dizer que esse é um tema que interessa a toda sociedade. Trabalhar a inclusão é uma missão que não carece necessariamente de termos um aluno com deficiência visual na aula. Essa questão social merece ser discutida além da sala de aula, para isso, é necessário empatia. Empatia que pode vir a 146 Educação Física escolar para deficientes físicos e visuais partir de simples exercícios físicos que demonstrem como é estar na pele de um deficiente mesmo que por poucos minutos. REFERÊNCIAS BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC; Secretária da Educação Especial, 2014. BRASIL. A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência física. 2006a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ seesp/arquivos/pdf/deffisica.pdf. Acesso em: 1º abr. 2020. BRASIL. 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