Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MATERIAIS, EXPERIMENTOS E NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE QUÍMICA Autoria: Luíza Melo de Aguiar Lira Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L768m Lira, Luiza Melo de Aguiar Materiais, experimentos e novas tecnologias no ensino de Química. / Luiza Melo de Aguiar Lira – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 129 p.; il. ISBN 978-65-5646-453-4 ISBN Digital 978-65-5646-450-3 1. Estudo e ensino de Química. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 540 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 As Tecnologias de Informação e Comunicação e o Ensino de Química ............................................................................................ 7 CAPÍTULO 2 Os Recursos Digitais no Ensino de Química ............................ 49 CAPÍTULO 3 Recursos Tecnológicos para o Ensino de Química ................ 89 APRESENTAÇÃO As tecnologias estão presentes em todas as áreas da vida moderna, até mesmo onde nem somos capazes de perceber, como na simples utilização de um grampeador de papel. As novas tecnologias de informação e comunicação e principalmente a internet trazem consigo possibilidades diversas de se comunicar em tempo real, podendo noticiar fatos e informações a qualquer pessoa em qualquer lugar. Na área do ensino, as tecnologias não existem apenas como forma de entretenimento e podem ser utilizadas para ampliar as possibilidades dentro e fora de sala de aula, desde que seja utilizada de forma cuidadosa e planejada. Os estudantes de hoje em dia não são os mesmos para os quais o sistema de ensino foi construído e exigem dos professores cada vez mais formas de inovar a maneira com a qual os conteúdos serão disponibilizados, mais do que isso, contextualizados, de forma a transformar a informação em conhecimento. Já os recursos tecnológicos avançam cada vez mais rápido, trazendo novas ferramentas que permitem tornar as aulas mais interessantes e, ao mesmo tempo, exigindo que o professor esteja sempre se atualizando em relação ao que há de recurso disponível para inovar e melhorar cada vez mais as suas aulas, sejam elas presenciais ou de forma remota. Sendo assim, no primeiro capítulo deste livro, você conhecerá os principais conceitos e termos envolvidos com as tecnologias, sua definição, contexto e importância para a sociedade e para o ambiente escolar. Em seguida, você será apresentado a algumas pesquisas que mostram como as tecnologias são utilizadas por professores de química desde os anos 80 até os dias atuais. Depois, nos Capítulos 2 e 3, você conhecerá recursos que permitirão que você aplique esses conhecimentos nas suas aulas, sejam eles recursos específicos da química – como aplicativos para construir e nomear moléculas orgânicas, simuladores de reações químicas, entre outros – e também recursos que você já utiliza no seu dia a dia para lazer e entretenimento – como as redes sociais, o Youtube e alguns jogos – que se forem bem aplicados, são valiosíssimos para facilitar o ensino de uma disciplina que é considerada difícil pelos alunos, mas que pode ser agradável e interessante com a utilização das TICs mais modernas. Esperamos que ao final desta disciplina você seja capaz de elaborar uma aula ou uma sequência didática de química dominando alguns dos princípios básicos das TICs, sem a necessidade de ser um especialista em informática, com recursos da web 2.0 para seus alunos nativos digitais, tornando o processo do ensino e aprendizagem da química mais prazeroso e funcional. CAPÍTULO 1 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O ENSINO DE QUÍMICA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Apresentar os principais conceitos e termos envolvendo as TICs, como: nativos digitais, web 2.0, entre outros. Relatar como a tecnologia tem sido utilizada no ensino de química. Interpretar os principais termos envolvendo as TICs. Discutir a infl uência das TICs no ensino de química. 8 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química 9 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O uso das tecnologias faz parte do cotidiano nas mais diversas áreas da vida. Hoje em dia, podemos nos comunicar com pessoas em qualquer lugar do mundo através da internet. Além disso, com o celular em mãos, somos capazes de acessar informações sobre qualquer assunto do nosso interesse, seja por meio de notícias, artigos, vídeos, podcasts e os mais variados recursos que a internet pode proporcionar. Todavia, tecnologia não se limita apenas a aparelhos sofi sticados e digitais, conforme você vai aprender na primeira seção deste capítulo. Vamos supor que você queira fazer um bolo, mas não saiba como fazer. Antigamente, seria necessário consultar um livro de receitas ou perguntar para alguém que soubesse, o que tornava essa experiência limitada aos recursos fi sicamente disponíveis. Hoje, em questão de segundos, é possível ter acesso a cozinheiros em várias partes do mundo e aprender desde os ingredientes necessários até o toque fi nal. Tudo isso com recursos interessantes e estimulantes, não se limitando apenas a seguir uma receita por escrito, mas podendo ver um vídeo, interagir com profi ssionais ou com outras pessoas que passaram pela mesma experiência culinária, relatando seus erros e acertos. Ou seja: a maneira de aprender a fazer um bolo não é mais a mesma de décadas passadas. E é claro que isso não se aplica só a essa experiência culinária. A forma de acessar a informação mudou, tornando-se mais ativa. Consequentemente, a forma de aprender (e ensinar) também mudou. Para saber mais sobre um assunto, você pode buscar a informação que lhe interessa sem a necessidade de aprendê-la na escola ou em algum curso. Se você quiser ensinar um tema que você tem muito conhecimento, como química, basta escrever o que você sabe em um blog ou postar um vídeo no Youtube e em poucos minutos seu conteúdo estará disponível para milhões de pessoas. Tudo isso é resultado do impacto das TICs na sociedade e também no campo do ensino. Você vai aprender mais sobre as TICs nas próximas páginas deste livro. Se a maneira de aprender e ensinar atualmente não é a mesma de alguns anos atrás, é natural pensar que a sala de aula sofrerá algum impacto consequente do avanço das tecnologias. Há anos as tecnologias vêm sendo utilizadas por professores como ferramentas para incrementar as aulas presenciais, por meio de exibição de slides ou uso de computador para realizar pesquisa, por exemplo. Mais recentemente, as tecnologias também têm sido utilizadas para intermediar aulas a distância, como é o caso do EAD. 10 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química Além disso, em 2020, com o isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, professores e alunos tiveram que se adaptar, de um dia para o outro, ao uso da tecnologia para viabilizar a continuidade do ano letivo nos locais onde houve o fechamento das escolas. Como será que a pandemia da COVID-19 impactou arelação entre a tecnologia e o ensino? Versaremos mais sobre isso ainda neste capítulo. Neste capítulo, você aprenderá o que são as tecnologias e suas infl uências na sociedade e no ensino; alguns termos específi cos desta área, como “nativos digitais” e “web 2.0” e qual a importância de defi nir esses conceitos para compreender melhor como utilizar a tecnologia em sala de aula. Por fi m, você descobrirá como a tecnologia vem sendo utilizada pelos professores e pesquisadores no ensino de química nos últimos anos, antes e depois do início da pandemia da COVID-19. Tudo isso vai lhe preparar para que, nos próximos capítulos, você aprenda a aplicar as tecnologias na sua prática, para além dos usos convencionais que você já conhece. Vamos lá? 2 O QUE SÃO AS TICS? Nesta seção, você aprenderá a defi nição de tecnologia e o signifi cado da sigla TICs, além de outros conceitos importantes para iniciar os estudos neste tema. Além disso, compreenderá a infl uência das tecnologias na sociedade e nas salas de aula, conhecendo algumas de suas vantagens e limitações. 2.1 TECNOLOGIA(S) Você sabe o que é tecnologia? Ao pensar em tecnologia, é comum pensar em celulares, tablets, computadores e demais dispositivos eletrônicos e modernos, no entanto, tecnologia não é só isso. De acordo com a professora e pesquisadora Vani Moreira Kenski, autora do livro intitulado Tecnologias e ensino presencial e a distância, a tecnologia é defi nida como “conjunto de ferramentas e técnicas que correspondem aos usos que lhes destinamos” (KENSKI, 2003, p. 13). Para Kenski (2003), tudo que é utilizado na vida cotidiana, como lápis e papel, é ferramenta tecnológica. A forma como cada ferramenta é utilizada para realizar uma ação é chamada de técnica. A tecnologia é defi nida como “conjunto de ferramentas e técnicas que correspondem aos usos que lhes destinamos”. 11 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 FIGURA 1 – O QUE É TECNOLOGIA FONTE: A autora Ou seja, se você é capaz de utilizar um lápis e um papel para escrever uma mensagem, você está fazendo uso de uma tecnologia que você já domina e ela não tem, necessariamente, relação com o uso de uma máquina. Além disso, a própria linguagem é um tipo de tecnologia, que utilizamos recursos como a fala e a escrita para estabelecer a comunicação. A linguagem, enquanto tecnologia, enquadra-se nas “tecnologias da inteligência”, que para Kenski (2003) são construções criadas pelos seres humanos que possibilitam avançar no conhecimento e consequentemente aprender mais. Para a autora, as Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) estão articuladas às tecnologias da inteligência, por veicularem a informação e a comunicação em todo mundo, por meio de ferramentais tais como jornal, sites, rádio, que são as mídias. “tecnologias da inteligência”, que para Kenski (2003) são construções criadas pelos seres humanos que possibilitam avançar no conhecimento e consequentemente aprender mais. 1 As tecnologias foram defi nidas por Kenski (2003) como um conjunto de técnicas e ferramentas que correspondem ao uso que lhes são destinados. Sendo assim, analise as afi rmações a seguir e assinale a alternativa correta. 12 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química a) ( ) A calculadora é uma tecnologia, pois é um aparelho que permite realizar uma conta em segundos. b) ( ) A matemática é uma tecnologia, pois é composta por um conjunto de regras e fórmulas que permite que a humanidade avance em seu conhecimento. c) ( ) A destilação é uma ferramenta que permite a separação de dois líquidos em uma mistura homogênea. d) ( ) São tecnologias: computador, celular e internet. 2 O escritor, poeta e cronista alemão Charles Bukowski (1920 – 1994), autor de diversos romances, escrevia suas obras utilizando uma máquina de escrever desde 1939, quando ganhou sua primeira máquina de seu pai. De acordo com os conceitos estudados anteriormente, associe os termos utilizando o código a seguir. I- Ferramenta. II- Técnica. III- Tecnologia. ( ) A linguagem. ( ) A escrita. ( ) O papel. ( ) A máquina de escrever. Assinale a seguir a alternativa que contém a sequência correta. a) ( ) III – I – II – III. b) ( ) III – II – I – I. c) ( ) II – III – I – III. d) ( ) I – II – III – II. Você deve estar se perguntando por que ainda não falamos sobre televisores, computadores, celulares, rádio, tablets e demais equipamentos utilizados para a comunicação. Esses equipamentos são denominados suportes midiáticos (KENSKI, 2003). De acordo com as defi nições apresentadas anteriormente, seria possível dizer que esses equipamentos são as “ferramentas” que possibilitam o acesso aos conteúdos midiáticos, que são os textos, fi guras, sons que chegam às pessoas como forma de informação. 13 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 No entanto, os suportes midiáticos não são ferramentas como um lápis e um papel, por isso, a palavra “ferramentas” está entre aspas. De acordo com Kenski (2003) e Leite (2015), a interação das pessoas com os suportes midiáticos é diferente da interação com outras ferramentas. Isso ocorre pois há a “humanização” desses equipamentos devido ao tipo de interação entre a pessoa que está utilizando para receber um conteúdo e a pessoa que está transmitindo esse conteúdo por meio de um suporte midiático. Utilizar um celular para acessar as redes sociais não é a mesma coisa que utilizar uma colher para comer uma sopa. Embora ambos sejam instrumentos utilizados no cotidiano, uma colher não permite a interação entre pessoas, ou seja, a comunicação, que o celular permite. FIGURA 2 – O QUE SÃO TICS FONTE: A autora 1 Descreva a principal diferença existente entre as ferramentas defi nidas por Kenski (2003) e os suportes midiáticos. De acordo com Kenski (2003, p. 16) “as novas tecnologias de informação e comunicação caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade”. 14 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química O avanço das tecnologias, em geral, sempre infl uenciou a sociedade. Conforme as novas tecnologias vão surgindo, a sociedade vai se moldando e se adaptando às facilidades trazidas por elas, de forma que é quase impossível imaginar um mundo sem os aparatos tecnológicos que utilizamos desde que nascemos. Fernandes, Rodrigues e Ferreira (2018) ressaltam a importância de compreender que a tecnologia não é “a ciência aplicada” e não se resume apenas aos suportes midiáticos já mencionados. Para os autores, a tecnologia não se trata apenas da aplicação dos conhecimentos científi cos, mas sim do desenvolvimento de soluções para problemas da sociedade, como a comunicação. Já a ciência pode ser defi nida como a produção de um conhecimento confi ável. Embora intimamente ligadas, ciência e tecnologia são conceitos diferentes e que não devem ser confundidos. “as novas tecnologias de informação e comunicação caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade”. Leia o artigo intitulado Elaboração e validação de um instrumento de análise sobre o papel do cientista e a natureza da ciência e da tecnologia, de Fernandes, Rodrigues e Ferreira que foi publicado na revista Investigações em ensino de ciências, em 2018, e pode ser encontrado na íntegra no seguinte link: <https://www.if.ufrgs.br/cref/ ojs/index.php/ienci/article/view/1190>. As tecnologias de informação e comunicação mais modernas, em especial, permitem que as pessoas se comuniquem com outras em qualquerlugar do planeta, de forma rápida e efi ciente. Se no século XIX, para comunicar uma descoberta científi ca, era necessária a comunicação entre os pares através de escritos, como cartas e livros, ou aulas para um pequeno grupo de aprendizes, hoje em dia, basta publicar na internet e em segundos os cientistas do mundo inteiro têm acesso às mais modernas e recentes descobertas. E é claro que esse avanço também traz consequências para a educação contemporânea. Além da diferença na velocidade do acesso à informação, a forma de interação dos estudantes com os conteúdos é bem diferente, se compararmos o uso de uma ferramenta e de um suporte midiático. Um estudante interagirá 15 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 com o conteúdo de um livro, que é uma ferramenta, de forma bem diferente da sua interação com o mesmo conteúdo em formato de vídeo, que será acessado utilizando um suporte midiático. Dessa forma, é necessário que o professor conheça as particularidades do uso das TICs dentro do contexto do ensino. As TICs são o foco principal desta seção, que estudaremos mais detalhadamente no tópico a seguir. 2.2 TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO (TICs) As TICs englobam a união entre a área da informática e as telecomunicações. De acordo com Leite (2015), os suportes midiáticos englobados como TICs são televisão, rádio, celular etc., que são meios de comunicação que facilitam e agilizam a difusão da informação. As TICs mais modernas permitem que estejamos conectados com acontecimentos do mundo inteiro apenas com um toque. Televisões noticiam fatos quase de forma instantânea. Mais rápida ainda é a comunicação pela internet, que pode ser realizada pelo celular a qualquer momento e em qualquer lugar, encurtando as distâncias entre quem comunica e quem é comunicado e agilizando a velocidade da difusão da informação. Dessa forma, a população é bombardeada diariamente por milhares de informações através dos meios de comunicação aos quais têm acesso. Para Kenski (2003), isso confi gura um desafi o para a escola na atualidade, pois os estudantes recebem milhares de informações pelos meios digitais. De acordo com a autora, essas informações são recebidas pelos estudantes de forma acrítica – isto é, sem que o estudante pense a respeito da informação que acaba de receber – e cabe à escola o trabalho de ser o espaço crítico quanto ao uso e à apropriação dos conteúdos veiculados pelas TICs. É importante lembrar que uma das competências e habilidades que se espera dos estudantes de química é a formação de pensamento crítico, que é a capacidade de refl etir e atuar na sociedade em que vive. Também cabe à escola reconhecer que as TICs interferem no modo de agir, interagir e aprender. Uma característica importante das novas TICs é que elas evoluem com muita rapidez e por isso estamos em um constante estado de aprendizagem, que é, para Kenski (2003, p. 20), “consequência natural do momento em que vivemos”. 16 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química Você deve lembrar-se de como eram os celulares no início dos anos 90. Agora, observe os celulares atuais. Há muitas semelhanças? E diferenças? Um usuário de celular dos anos 90 que não se atualizou será capaz de utilizar, automaticamente, um celular moderno e atual? Um celular do início dos anos 90 funcionava apenas para receber e realizar ligações. Alguns mais caros e mais modernos contavam com a possibilidade de enviar e receber curtas mensagens de texto, chamadas SMS. Os celulares atuais, também chamados de smartphones apresentam os mais diversos recursos. Por meio de aplicativos, podemos utilizar o celular para as chamadas de vídeo, para as informações sobre nossa própria saúde (como contador de passos), para aprender um novo idioma, para acessar vídeos, ler notícias, jogar jogos e muitas outras funções. Estamos sempre aprendendo como utilizar os novos aparatos tecnológicos e seus produtos (como aplicativos) e a aprender por meio deles. Estamos sempre aprendendo como utilizar os novos aparatos tecnológicos e seus produtos (como aplicativos) e a aprender por meio deles. Para saber mais sobre a evolução dos celulares no Brasil, acesse: <https://www.jornalcontabil.com.br/a-evolucao-do-celular- confira-como-os-aparelhos-mudaram-ate-chegar-ao-modelo- do-novo-iphone/#:~:text=Nos%20anos%2090%2C%20a%20 tecnologia,d%C3%ADgitos%20e%20alertas%20do%20sistema>. Por exemplo: uma pessoa que aprendeu a utilizar um computador nos anos 90 e não se atualizou quanto às mudanças ocorridas desde então, terá difi culdades em utilizar um computador moderno e atual. Essa pessoa terá que reaprender como interagir com o computador em si, com os softwares instalados e como aprender utilizando esse computador como recurso. Se por um lado as TICs evoluem rapidamente, por outro lado, os livros didáticos modernos não diferem tanto assim dos livros de 20, 30 ou até 40 anos atrás. Pode ser que apresentem alguns recursos diferentes, sejam mais coloridos ou com atividades mais atuais, mas a estrutura do livro didático permanece a mesma há muitos anos. Dessa forma, uma pessoa que aprendeu em um livro didático dos anos 2000 não teria difi culdade em utilizar um livro atual com conteúdo similar. 17 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 Essa velocidade de evolução é a principal diferença entre as novas TICs e as ferramentas tecnológicas que você aprendeu no início deste capítulo. De acordo com Kenski (2003, p. 22) “Abrir-se para novas educações – resultantes de mudanças estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilitadas pela atualidade tecnológica – é o desafi o a ser assumido por toda a sociedade”. Sendo assim, no próximo tópico, será explorada a relação entre as TICs e o ensino. 2.3 AS TICs E O ENSINO Você já aprendeu nas seções anteriores que a interação com as TICs infl uencia nas diversas áreas da vida. Conforme a ciência avança, novas tecnologias vão surgindo e essas novas tecnologias acarretam mudanças nos hábitos do indivíduo e da sociedade como um todo. É muito difícil atualmente que alguém opte por mandar uma carta a um parente que está em outro continente, quando há a possiblidade de mandar um simples e rápido e-mail, pois já estamos habituados com a velocidade na comunicação através dos meios digitais. Pensando em relação à aprendizagem, é improvável que você vá realizar uma pesquisa em uma enciclopédia buscando os conteúdos de uma aula química, por exemplo. Provavelmente, você utilizará uma ferramenta de busca online, como o Google, e, em segundos, terá milhares de resultados que equivalem a sua pesquisa. Também é pouco provável que, ao preparar a aula que será dada aos seus alunos, você vá até uma biblioteca para acessar um artigo acadêmico, folhear arquivos, procurar a revista, o número e volume contendo o assunto sobre o qual será a sua aula. Com o computador (ou até mesmo o celular) você pode fazer isso em poucos segundos, apenas pesquisando pela palavra-chave e assim terá acessos a periódicos em todo o mundo, sem sequer ter a limitação espacial que só lhe permitiria ter acesso às revistas existentes naquela biblioteca que seria visitada. Se você, enquanto professor, possivelmente utilizaria as TICs para buscar uma informação, por que não esperar esse mesmo comportamento dos seus alunos, que são ainda mais conectados à internet que nós mesmos? Por que, muitas vezes, o uso das TICs em sala de aula se limita apenas à projeção de slides em uma tela? Quais seriam as potencialidades de um uso mais amplo das TICs, como forma de obter informação? As TICs não são apenas um recurso didático que pode ser utilizado pelo professor, são parte integrante e fundamental da vida dos estudantes (LEITE, 2019). Portanto, precisam ser exploradas e utilizadas com objetivos bem defi nidos e fundamentados. Para o autor, nem todas as experiências envolvendo 18Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química o uso de TICs são situações educativas inovadoras. Se as TICs forem utilizadas de modo simplista, sem um bom preparo e planejamento do professor, elas não contribuirão para o ensino de forma signifi cativa. Um exemplo do uso simplista de TICs em sala de aula é a utilização de um projetor para exibição de slides, de forma meramente ilustrativa. É claro que a utilização desse recurso contribui para melhorar a dinâmica em sala de aula, pois permite a exibição de imagens que o professor não conseguiria reproduzir à mão livre no quadro, além de vídeos e animações. Também agiliza a aula, já que o professor não precisa perder tempo escrevendo toda a matéria no quadro para os alunos copiarem. Embora seu uso traga vantagens, não é uma forma inovadora da utilização das tecnologias, pelo contrário, é uma forma de manter a aula expositiva tradicional e ainda mais padronizada, tendo em vista que os mesmos slides podem ser exibidos em várias turmas diferentes. Para utilizar as TICs no ensino, não basta apenas substituir os recursos que já existem por outros recursos tecnológicos que não acrescentem em nada, como substituir um livro impresso por um e-book. De acordo com Leite (2015), os recursos tecnológicos precisam agregar e contribuir para que os alunos adquiram conhecimento. Não adianta pedir que o estudante use um equipamento, como o computador, para fazer uma pesquisa sobre determinado assunto, que ele apenas irá “copiar e colar” o conteúdo para entregar ao professor. É necessário criar estratégias para o uso das TICs, de forma que o estudante tenha autonomia e seja ativo no processo de adquirir o conhecimento, mas de forma crítica e não apenas recebendo conteúdo sem signifi cado para ele. Uma possibilidade é fazer com que o aluno pesquise sobre os seus interesses que tenham relação com o conteúdo da aula e leve o seu aprendizado para a discussão com a turma. Na área da química, se o professor pedir para seus alunos pesquisarem o que é um acetato de n-butila, provavelmente receberá várias pesquisas iguais ou muito semelhantes aos primeiros resultados disponíveis no Google ao pesquisar esse termo. Porém, se o professor pedir para que cada aluno pesquise sobre como obter seu aroma favorito, é possível que alguém traga para a discussão o cheiro de banana, dando uma oportunidade para o professor falar sobre o acetato de n-butila em um contexto do interesse dos alunos, em uma aula sobre ésteres mais rica do que se fosse apenas expositiva. Também não é função das TICs somente entreter e tornar mais dinâmicas as atividades em sala de aula, de forma descompromissada. Mesmo que o aluno pareça interessado em utilizar um aplicativo do celular sobre a tabela periódica, Os recursos tecnológicos precisam agregar e contribuir para que os alunos adquiram conhecimento. É necessário criar estratégias para o uso das TICs, de forma que o estudante tenha autonomia e seja ativo no processo de adquirir o conhecimento. 19 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 e ele provavelmente estará, se não houver uma estratégia didática envolvida na sua utilização, não haverá, somente com o uso do aplicativo, um grande ganho no seu aprendizado. É importante que o professor tenha um objetivo pedagógico claro para que os recursos utilizados não sejam apenas passatempos na sala de aula. Sendo assim, ao planejar o uso de um recurso tecnológico, o professor deve se perguntar: • Por que utilizar as TICs e não um recurso tradicional, como o quadro negro? Qual a vantagem do uso das TICs nessa situação? • Para que utilizar as TICs? Ou seja: com qual objetivo será utilizado um recurso tecnológico? • Quem são as pessoas que terão acesso a esses recursos? Os alunos e professores envolvidos no processo já sabem utilizar os equipamentos envolvidos? • Como serão utilizados os dispositivos? Há viabilidade de equipamentos para todos os alunos? A escola tem os materiais necessários ou os alunos precisarão utilizar seus próprios aparelhos? Analise o exemplo a seguir: um professor de química de uma escola particular deseja realizar uma aula de cinética química utilizando um site que simula as reações químicas ocorrendo em diferentes velocidades. Como a escola não possui laboratório de química, o uso das TICs é vantajoso, pois permite variar as condições de reação química e simular a presença dos alunos em um laboratório, ao qual eles não teriam acesso por outros meios. Sendo assim, as TICs serão utilizadas pelos alunos através da utilização de um site que permite que os próprios estudantes alterem as condições da reação, como concentração e temperatura, e verifi quem o que acontece em diferentes situações. Esses alunos são estudantes do segundo ano do ensino médio e têm acesso a celulares próprios. A escola disponibilizará a internet para que eles possam realizar a atividade. Essa é uma situação na qual o planejamento contempla as perguntas mencionadas anteriormente, na qual é possível perceber que o uso das TICs não será meramente ilustrativo e contribuirá para a aprendizagem dos alunos tal como faria um laboratório, por exemplo. Leite (2019) aponta algumas difi culdades para a inserção das TICs no ensino. Para o autor, a falta de capacitação dos professores para o uso das tecnologias, a falta de adaptação dos conteúdos que serão ensinados e as condições de trabalho inadequadas são fatores limitantes para a utilização das TICs nas escolas. 20 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química Por sua vez, para Leite (2015), as TICs são instrumentos que possibilitam aprender, ensinar e transmitir para outras pessoas os conhecimentos adquiridos e acumulados ao longo da história. O papel do professor não é mais o de apresentar os conteúdos para seus alunos, já que há toda a informação disponível por meio das TICs, de fácil acesso e utilizando recursos cada vez mais interessantes, como imagens, recursos interativos, podcasts, entre outros. Cabe ao professor então utilizar essas tecnologias para ensinar aos seus alunos como encontrar a informação que eles precisam e como aplicá-la para resolver as situações da sua vida diária e escolar. Afi nal, de que adianta pesquisar e descobrir que a reação química ocorre mais rapidamente quanto maior a superfície de contato se o aluno não conseguir aplicar esse conhecimento para entender que a carne moída estraga mais rápido do que o bife na geladeira? Cabe ao professor então utilizar essas tecnologias para ensinar aos seus alunos como encontrar a informação que eles precisam. 1 As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) permitem que a comunicação ocorra em tempo real, de forma praticamente instantânea, seja por meio de computadores, celulares e até televisão. Uma vez que isso ocorre, é possível pensar que essa forma de comunicação dinâmica e rápida infl uencia os diversos setores da sociedade, inclusive a educação. Quanto ao uso das TICs no ensino, é correto afi rmar que: a) ( ) A utilização de qualquer TIC na sala de aula terá uma grande infl uência positiva na aprendizagem dos alunos. b) ( ) São difi culdades relacionadas ao uso das TICs: falta de conhecimento do uso de suportes midiáticos pelos estudantes, falta de capacitação dos professores, falta de conteúdos de qualidade disponível. c) ( ) Tornar as aulas motivadoras e interessantes é o principal objetivo das TICs no ensino, tendo em vista que alunos mais motivados aprendem melhor. d) ( ) É necessário um preparo pedagógico detalhado e cuidadoso para que o uso das TICs seja considerado relevante para o ensino de uma disciplina. 21 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 Em seu artigo publicado em 2019, Leite afi rma que para que as TICs sejam melhor utilizadas para promover o ensino e a aprendizagem, é necessária uma equipe multidisciplinar considerando os aspectospedagógicos e técnicos. Para isso, deve-se desenvolver o que o autor nomeia como Recursos Didáticos Digitais (RDD), que são “ferramentas que permitem a passagem de diversas formas de linguagem (textos, imagens, sons etc.), facilitando uma construção do conhecimento por parte do aprendiz” (LEITE, 2019, p. 330). Esses recursos compõe o ambiente e podem ser objetos tecnológicos que possam ser reutilizados, tais como equipamentos, objetos, instrumentos, desde que sirvam para ensinar algum conteúdo. Os Recursos Didáticos Digitais não são componentes meramente ilustrativos e devem ter um papel decisivo na construção do conhecimento (LEITE, 2019). Alguns desses RDD serão apresentados no Subtópico 4 deste capítulo e nos Capítulos 2 e 3 deste material. 3 NATIVOS DIGITAIS, GERAÇÕES DA WEB E A SALA DE AULA Agora que você já conhece mais sobre as tecnologias, em especial sobre as TICs e sua relação com a educação, é possível que você esteja se perguntando: será que todas as pessoas aprendem da mesma maneira? Será que todas as tecnologias são utilizadas da mesma maneira? É possível que haja diferença na forma de interagir com a tecnologia, dependendo da década em que você nasceu? E a web, sempre foi do jeito que é hoje? Neste subtópico, você aprenderá alguns conceitos que vão lhe ajudar a entender melhor como responder a cada uma das perguntas do parágrafo anterior. Vamos lá? 3.1 NATIVOS DIGITAIS, IMIGRANTES DIGITAIS Você já deve ter percebido que pessoas de gerações diferentes lidam com a tecnologia de maneiras diferentes. De modo geral, as pessoas mais idosas têm mais difi culdade e mais resistência em utilizar as novas tecnologias, que são atualizadas cada vez mais rapidamente e apresentam cada vez mais recursos. Já as crianças costumam aprender rapidamente como utilizar os meios digitais, mesmo quando manuseiam equipamentos com os quais nunca tiveram contato antes. 22 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química Para começar a entender o motivo dessa diferença existente entre as diferentes gerações, leia a notícia a seguir, que foi publicada no portal eletrônico do jornal Correio Braziliense em setembro de 2020. Há 70 anos, a televisão foi inaugurada no Brasil; relembre a história A primeira transmissão ocorreu em 18 de setembro em 1950 com a TV Tupi, idealizada pelo jornalista e empresário Assis Chateubriand Hoje, a televisão é um item comum na casa dos brasileiros. Mas isso só aconteceu porque em 18 de setembro de 1950 nascia a primeira emissora de tevê do país com a primeira transmissão no Brasil, feita pela Rede Tupi de Televisão, a TV Tupi, a primeira estação da América do Sul e a quarta do mundo, de responsabilidade do jornalista e empresário Assis Chateubriand, do Diários Associados. Pioneiro na história da tevê e conhecido no mundo jornalístico, empresarial e político, Chatô, como era conhecido, fez da inauguração da televisão no Brasil um acontecimento transformador na história do país. Se hoje a telinha é paixão nacional, é porque o empresário arriscou anos atrás e investiu na importação dos equipamentos para a inédita transmissão. Apesar da televisão ter iniciado as transmissões no país em 1950, foi apenas duas décadas depois que o televisor chegou de forma massiva aos lares brasileiros. Durante esses 70 anos, a forma de fazer tevê foi sendo moldada, chegando ao que conhecemos na atualidade, com novelas, conteúdos noticiosos e programas variados de entretenimento, sempre espalhando os costumes sociais. Adaptado de: <https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e- arte/2020/09/4876275-ha-70-anos-a-televisao-foi-inaugurada-no- brasil-relembre-a-historia.html>. Acesso em: 28 jan. 2021. Como você pôde perceber na notícia anterior, foi apenas nos anos 70 que a TV chegou nos lares brasileiros. Isso signifi ca que se você nasceu nos anos 90, provavelmente está acostumado com a presença da televisão na sua casa e em lugares que você frequenta desde a sua infância. Dessa forma, mesmo que você compre um aparelho de televisão de um modelo novo e mais atual, você não terá 23 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 difi culdades para lidar com essa tecnologia, afi nal, você nasceu inserido em um mundo no qual a televisão já existia. O mesmo não ocorre com quem nasceu nos anos 50, que só foi ter um aparelho de televisão em casa duas décadas depois. É claro que essa pessoa é capaz de aprender a manusear uma TV e é esperado que aprenda. No entanto, não será tão natural como para alguém que já nasceu tendo contato com ela. O mesmo ocorre com a internet e todas as suas funcionalidades. A internet completou 30 anos em 2019 e popularizou-se no Brasil na última década, facilitada pelo acesso de celulares à rede internacional de computadores (World Wide Web ou simplesmente web). De acordo com a pesquisa do IBGE realizada em 2018 e publicada no portal de notícias g1.globo.com, a internet é acessada por mais de 70 por cento dos brasileiros, sendo esse acesso realizado pelo celular em 97 por cento dos casos. De acordo com a publicação, o número de usuários com acesso à internet cresce a cada ano. Leia a seguir a notícia da Agência Brasil sobre o número de jovens com acesso à internet. Brasil tem 24,3 milhões de crianças e adolescentes que usam internet Número equivale a 86% das pessoas entre 9 e 17 anos, diz pesquisa Cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 9 e 17 anos, são usuários de internet no Brasil, o que corresponde a cerca de 86% do total de pessoas dessa faixa etária no país. A informação consta na pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018, divulgada hoje (17) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). “Este percentual é mais alto do que a média da população em geral [conectada], que está em torno de 70%. Isso mostra que crianças e adolescentes são um público bastante conectado à rede”, disse Fabio Senne, coordenador de projetos de pesquisas do Cetic. br. Segundo ele, há três anos o uso da internet por esse público era 79%. “Há um incremento constante no percentual de usuários. E isso tem a ver também com as faixas etárias. Quando se chega na faixa entre 15 e 17 anos, esse percentual é ainda maior que os 86%”. 24 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química Multimídia Segundo a pesquisa, oito em cada dez crianças e adolescentes do país assistem a vídeos, programas, fi lmes ou séries na internet. O estudo revelou que o uso da internet para atividades multimídia por crianças e adolescentes (83% do total dos entrevistados) é maior que a utilização da internet para o envio de mensagens instantâneas (77%), que o hábito de jogar sem conexão com outros jogadores (60%) ou conectados com outros jogadores (55%) é pouco maior que o uso da internet para escutar música (82%). A internet é mais usada por meio de telefone (93%). Desde 2014, o uso de telefone celular ultrapassou o uso de computadores e Senne acredita que isso deve ainda aumentar. Também vem crescendo o uso de internet por meio da televisão (chegando a 32%, quando em 2014 era acessada por 5% dos entrevistados). A pesquisa apontou que em setores mais vulneráveis da população, as pessoas tendem a usar a internet exclusivamente por celular, como no caso das classes D e E, em que esse tipo de uso exclusivo foi apontado por 71% das pessoas. Educação Cerca de 74% das crianças e adolescentes utilizam a internet para pesquisa em trabalhos escolares. Pouco mais da metade (53%) usa a internet para ler ou assistir a notícias, enquanto 66% diz que costuma fazer pesquisas na internet por curiosidade ou vontade própria. No entanto, o uso de internet dentro das escolas atinge em torno de 40% das crianças e adolescentes do país. “Isso mostra que, apesar do uso já atingir 86% das criançase adolescentes, quando vamos olhar para a escola, a escola não está sendo um espaço prioritário de uso da rede”, disse Senne. Adaptado de: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ noticia/2019-09/brasil-tem-243-milhoes-de-criancas-e-adolescentes- utilizando-internet>. Acesso em: 28 jan. 2021. 25 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 De acordo com a notícia relatada anteriormente, crianças e jovens com acesso à internet correspondem a 86% da população dessa faixa etária. Esse percentual é maior do que o percentual da população em geral, que é de 70%. Sendo a internet um fenômeno em ascensão a partir dos anos 90, é esperado que os jovens nascidos nos anos 2000 e 2010 tenham contato com o uso da internet desde a primeira infância, já que nasceram após a sua criação e propagação. Já os idosos com acesso à internet na faixa dos 60 anos correspondem a cerca de 34% da população total na faixa etária, embora esse número cresça a cada ano. Sendo assim, fi ca clara a diferença que existe em relação ao acesso à internet em diferentes gerações. Em 2001, o escritor americano Marc Prensky criou os termos “nativos digitais” e “imigrantes digitais” para diferenciar esses dois grupos que lidam com a tecnologia de forma tão distinta. Para Prensky (2001), os nativos digitais são as pessoas que nasceram depois da invenção e popularização da internet. De um modo geral, essas pessoas nasceram em meio às tecnologias e sequer conseguem imaginar um mundo no qual não haja internet. Os imigrantes digitais, por sua vez, são aqueles que nasceram antes da internet e, por isso, lidam com ela de uma forma diferente dos nativos digitais, já que viveram em um mundo no qual a internet ainda não existia. É evidente que sempre houve uma diferença de gerações entre professores e alunos, uma vez que os professores são mais velhos que os seus estudantes considerando o ensino básico regular (no caso da Educação de Jovens e Adultos, pode ocorrer de os alunos serem mais velhos que seus professores, assim como na graduação e na pós- graduação, mas esses não são o foco dessa publicação). Porém, essa diferença de gerações é muito mais acentuada quando há um imigrante digital lecionando para um nativo digital, devido à forma com que esses grupos lidam com a tecnologia e com o acesso à informação. Vamos supor que um nativo digital e um imigrante digital precisem montar um móvel simples, considerando que ambos não tenham realizado essa tarefa previamente e precisem aprender a montar o móvel. Provavelmente o nativo digital vai procurar um tutorial no Youtube, com um vídeo explicando e demonstrando o que ele tem que fazer. Já um imigrante digital possivelmente vai pensar primeiro em ler o manual de instruções ou talvez perguntar para um amigo que já tenha montado um móvel anteriormente. É essa diferença na forma de raciocinar sobre como obter a informação necessária que faz com que haja um “choque” entre essas gerações, principalmente ao se tratar de professores e alunos. Para Prensky (2001), os nativos digitais são as pessoas que nasceram depois da invenção e popularização da internet. Os imigrantes digitais, por sua vez, são aqueles que nasceram antes da internet. É essa diferença na forma de raciocinar sobre como obter a informação necessária que faz com que haja um “choque” entre essas gerações, principalmente ao se tratar de professores e alunos. 26 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química É claro que um imigrante digital é capaz de montar um móvel assistindo a um vídeo no Youtube, mas provavelmente essa não será a primeira coisa em que ele vai pensar quando se deparar com esse problema e fi cará mais confortável com um meio mais analógico – isso é, o manual em papel. Para Prensky (2001), esse raciocínio funciona de forma similar ao sotaque de um imigrante: ele é capaz de falar fl uentemente um outro idioma, mas sem perder as marcas do seu idioma de origem. É diferente de um nativo, que fala a língua com naturalidade, sem sotaque e dominando as gírias e expressões do local onde nasceu. FIGURA 3 – IMIGRANTES DIGITAIS E NATIVOS DIGITAIS FONTE: A autora De acordo com Leite (2015), os nativos digitais são capazes de obter rapidamente uma informação na internet. Se, no passado, as notícias eram impressas uma vez por dia no jornal, só sendo atualizadas no dia seguinte, hoje em dia, os sites de notícias são atualizados em poucos minutos, dando sempre a informação mais atualizada possível. Dessa forma, não é mais necessário esperar que a informação seja publicada e chegue até você. Basta acessar a internet e buscar a informação mais atual que estiver disponível. Os nativos digitais também conseguem realizar várias tarefas simultaneamente e são acostumados desde a infância com a rapidez imposta pelas mídias e pela cultura digitais. Um nativo digital consegue estudar ouvindo uma música, estando com várias abas abertas no navegador do computador, cada uma com um assunto diferente e ainda checar as novidades das redes sociais. Um imigrante digital, em geral, não acompanha esse mesmo ritmo. São os nativos digitais os alunos que hoje estão na escola, mas não foi para eles que o atual sistema de ensino foi designado. E embora as tecnologias evoluam de forma cada vez mais rápida, o mesmo não ocorre com o sistema de educação, que ainda está preso em práticas muito anteriores aos tempos atuais. 27 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 Atualmente, já temos professores que são nativos digitais (na faixa dos 20 a 30 anos de idade, aproximadamente), mas que aprenderam com professores imigrantes digitais, em um sistema de ensino ultrapassado e possivelmente reproduzirão com seus alunos algumas práticas mais antiquadas. Porém, com o passar dos anos, todos os professores serão nativos digitais, portanto, completamente inseridos nas tecnologias e também na cultura digital. Isso, sem sombra de dúvidas, acarretará mudanças no sistema educacional que infl uenciarão toda a sociedade. 1 Os termos “imigrantes digitais” e “nativos digitais”, criados pelo norte-americano Marc Prensky, são utilizados para se referir às pessoas que nasceram antes e depois da internet, respectivamente. Esses termos são utilizados para diferenciar as gerações de acordo com a forma com que utilizam e se apropriam das tecnologias. Sobre a relação entre os nativos digitais e os imigrantes digitais com a educação, analise as sentenças a seguir. I- Os nativos digitais têm mais difi culdade em aprender utilizando as tecnologias, pois utilizam muitas ferramentas simultaneamente. II- Os imigrantes digitais são capazes de aprender e ensinar utilizando as ferramentas tecnológicas, mas sua forma de raciocínio é diferente dos nativos digitais. III- Os nativos digitais, como nasceram na época da internet, mal conseguem imaginar o mundo sem a existência da rede internacional de computadores. Marque a seguir a alternativa que corresponde às sentenças verdadeiras: a) ( ) Todas as sentenças são verdadeiras. b) ( ) Apenas a sentença II é verdadeira. c) ( ) Apenas as afi rmações I e III são verdadeiras. d) ( ) Apenas as afi rmações II e III são verdadeiras. 28 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química 3.2 AS GERAÇÕES DA WEB Antes de apresentar as gerações da web, é importante defi nir que as palavras internet e web não são sinônimas. A internet é a rede que conecta os computadores e dispositivos pelo mundo, a rede de computadores; e a web é uma parte da internet, que pode ser acessada pelo uso de um navegador. Com o avanço da tecnologia, houve também o aprimoramento da web, fazendo com que a forma de acessar a informação passasse por uma transformação que revolucionou a maneira de utilizar a web. Isso ocorreu de forma tão signifi cativa que a web foi dividida em “gerações”, de acordo com as funcionalidades disponíveis em cada época.Nesta seção, você conhecerá mais sobre a web 1.0 e a web 2.0. Há autores que defendem a existência da web 3.0 e até 4.0, porém, estas não serão o foco deste capítulo, já que a maior parte da utilização da rede está contemplada pelo uso da web 2.0. Pesquise os termos web 3.0 e web 4.0 e analise as semelhanças e diferenças existentes em relação às gerações 1.0 e 2.0 da web. Em seguida, durante a pesquisa, verifi que a relação de ambas com a educação, em especial, com o ensino de química. • Web 1.0 A primeira geração da web é defi nida como web 1.0, que surgiu em torno de 1990 (LATORRE, 2018). Nessa geração da web, só era possível consumir o conteúdo disponível na rede, sem que houvesse qualquer interação com ela (LEITE, 2015). Para publicar algum conteúdo na web 1.0, era necessário um amplo conhecimento de informática, que possibilitaria a interação com a rede de forma profi ssional e não por qualquer usuário. Toda a informação disponível na web 1.0 era unidirecional, ou seja, partia de quem publicava para quem recebia, mas não fazia o sentido contrário. Funcionava, analogamente, como um jornal ou revista, que você lê, mas não interage com os autores que publicaram as matérias. Para Latorre (2018), é como se fosse uma loja com muitas vitrines, na qual você pode comprar produtos, mas não pode mudar a disposição das peças ou experimentá-las. 29 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 É importante ressaltar que o que diferencia as gerações da web não é a tecnologia envolvida, mas sim a forma de percepção e utilização das informações disponíveis. É claro que desde 1990, quando a web 1.0 surgiu, houve um grande desenvolvimento tecnológico, mas isso não é o que determina sua defi nição (LATORRE, 2018). • Web 2.0 Em 2004, surgiu a web 2.0, termo criado por Tim O’Reilly para se referir à segunda geração da web, com características bem diferentes da geração anterior (LATORRE, 2018). A grande mudança que ocorreu nessa geração da web foi a possibilidade de o usuário interagir com o autor da informação. Para Leite (2015), a web 2.0 colocou o usuário no controle. Ou seja, se na web 1.0 o usuário fi cava passivo diante da informação, na web 2.0 este usuário pode discutir o conteúdo, expressar sua opinião e comunicar- se não só com quem publicou a informação, mas também com os demais usuários. Dessa forma, a web 2.0 dá voz para o usuário, sem a necessidade de passar pelo fi ltro das agências de notícias (no caso de um fato reportado) ou pelos seus pares (no caso de um trabalho científi co, por exemplo). São exemplos de ferramentas da web 2.0: • Blogs: foi na web 2.0 que surgiram os blogs, que são sites nos quais qualquer usuário pode publicar algo, sem que haja necessidade de um conhecimento aprofundado em informática. Se isso é, por um lado, uma vantagem, pois torna a publicação na internet acessível para qualquer usuário, por outro lado, é uma desvantagem, já que qualquer conteúdo pode ser publicado sem revisão, sem ética e até sem veracidade. • Redes sociais: também é a partir da web 2.0 que surgem as redes sociais, cuja premissa é exatamente a interação entre os usuários. Nas redes sociais, o usuário publica um conteúdo para os seus “seguidores”, que podem ser conhecidos ou não. Esses seguidores interagem com o conteúdo publicado por meio de curtidas e comentários e também podem propagar os conteúdos por meio de compartilhamentos. • Wikipédia: outra importante e revolucionária ferramenta da web 2.0 é a Wikipédia. Ela é uma enciclopédia colaborativa na qual são os próprios usuários que publicam as defi nições, conceitos e demais conteúdos que existem por lá. Costuma ser bastante consultada por alunos e professores quando querem buscar uma informação rápida sobre determinado assunto. Porém, por ser uma ferramenta colaborativa, seus conteúdos podem não ser muito confi áveis do ponto de vista científi co, não sendo uma boa ferramenta para ser utilizada como referência para elaboração de trabalhos acadêmicos, assim como os blogs e as redes sociais. O que diferencia as gerações da web não é a tecnologia envolvida, mas sim a forma de percepção e utilização das informações disponíveis. A grande mudança que ocorreu nessa geração da web foi a possibilidade de o usuário interagir com o autor da informação. 30 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química FIGURA 4 – AS GERAÇÕES DA WEB FONTE: A autora A web 2.0 impactou signifi cativamente os meios de comunicação tradicionais, principalmente aqueles que não souberam se adaptar a uma nova dinâmica de acesso à informação. De acordo com Leite (2015), os meios de comunicação tradicionais transmitem a informação que foi selecionada por uma série de chefes de programação, que decidem o que será produzido de conteúdo e disponibilizam este conteúdo para a população em geral, de forma passiva. Já a internet é um meio ativo de acesso à informação. Isso é, o usuário precisa buscar o conteúdo que deseja acessar e é ele que decide quando e de que forma acessará esse conteúdo. Os impactos dessa mudança também podem ser percebidos nas salas de aula, já que qualquer conteúdo abordado pelo professor é facilmente encontrado na web em segundos, por qualquer estudante. Imagine uma aula tradicional de modelos atômicos. O professor utilizaria o livro didático e o quadro negro para explicar os modelos atômicos propostos por Dalton, Thomson, Rutherford e Bohr. Para compreender esses conteúdos, é necessário que os alunos tenham algum nível de abstração para imaginar os átomos e a evolução dos modelos para outros mais modernos. Isso não é uma tarefa fácil de ser realizada em uma aula de 50 minutos, utilizando apenas os recursos mencionados. No entanto, para os nativos digitais, que têm acesso a qualquer conteúdo em questão de segundos, não é preciso prestar atenção no que o professor está dizendo. Na hora de realizar as suas tarefas, basta digitar “modelos atômicos” em um buscador e todo o conteúdo da aula estará à disposição deles, instantaneamente. Sendo assim, por que os alunos irão se interessar pela aula se podem assistir a vídeos no Youtube com mais recursos visuais e na hora que eles quiserem? Qual é, então, o papel do professor nesse processo de ensino e aprendizagem se não o de expor o conteúdo para seus alunos? 31 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 Embora as informações estejam amplamente disponíveis na internet, isso não é o sufi ciente para que o aprendizado se concretize. Mesmo que o aluno fosse capaz de memorizar todo o conteúdo de uma prova ou que ela pudesse ser realizada com consulta, isso não signifi caria dizer que o estudante aprendeu o conteúdo. O acúmulo de informações sem signifi cado não é conhecimento. É importante desenvolver o senso crítico sobre as informações recebidas, checar as fontes e verifi car a veracidade sobre das informações. Enquanto professor, é mais importante ensinar para os alunos como utilizar uma informação do que fazer com que a informação chegue a esses alunos de forma isolada, já que isso eles podem pesquisar sozinhos com auxílio da internet. Assim, é possível utilizar o potencial da web 2.0 para enriquecer o conhecimento dos alunos, estimular a curiosidade, autonomia e pensamento crítico, que são competências esperadas para o ensino de química. O acúmulo de informações sem signifi cado não é conhecimento. 1 Desde o surgimento da internet, os usuários já tiveram diversas formas de utilizá-la para a comunicação, que foram evoluindo com o passar dos anos até chegar na que temos hoje. Inicialmente, só era possível comunicar-se com outro usuário através de e-mails, depois vieram os mensageiros instantâneos e as redes sociais. Chamamos de “gerações da web” as fases que apresentam marcos específi cos dessa evolução. Sobre as gerações da web, analise as sentenças a seguir: I- As gerações da web são classifi cadas deacordo com a evolução tecnológica ocorrida após 2004. II- Para publicar uma notícia em um blog, não é necessário conhecimento técnico sobre o assunto abordado. III- A web 2.0 trouxe mudanças importantes na forma como as pessoas recebem as informações, inclusive infl uenciando os meios de comunicação tradicionais. IV- A Wikipédia, por ser uma enciclopédia colaborativa, é sempre uma fonte segura e confi ável de informação, sendo inclusive utilizada como referência em artigos científi cos. Estão corretas as sentenças: a) ( ) I, II e III. b) ( ) II, IV. c) ( ) I, III, IV. d) ( ) Apenas III. 32 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química 2 A web 2.0 é considerada uma evolução da web 1.0 em relação à forma como a web é utilizada pelos usuários, sendo a informação transmitida de forma unilateral ou participativa, de acordo com cada geração. Relacione as gerações da web com os termos a seguir: I- Web 1.0 II- Web 2.0 ( ) Sites de notícias ( ) Animações ( ) Redes sociais ( ) E-mails ( ) Enciclopédia colaborativa Assinale a seguir a alternativa que corresponde com a sequência correta. a) ( ) I – I – II – I – II. b) ( ) I – II – II – I – I. c) ( ) II – I – I – II – II. d) ( ) II – II – I – II – I. 4 TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO No Subtópico 2.3 deste capítulo, você conheceu a relação entre o ensino e as TICs. No entanto, é necessário lembrar que o ensino de química tem as suas particularidades. Dessa forma, nesta seção você conhecerá algumas pesquisas que envolvem o uso das TICs nas práticas docentes em sala de aula e também em aulas remotas. É indiscutível que o ano de 2020 trouxe uma mudança signifi cativa na forma como a tecnologia se relaciona com a sala de aula, já que uma das consequências do isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19 foi o fechamento das escolas em todo o país. Por essa razão, professores e alunos tiveram como desafi o a adaptação repentina das suas práticas escolares ao ensino remoto, que passaram a ser mediadas pela tecnologia em grande parte dos casos. Leia na reportagem a seguir os relatos de algumas experiências. 33 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 Professores precisaram mudar práticas e rotinas pedagógicas por causa do novo coronavírus Para quem trabalha com ensino, a pandemia demandou muito mais do que trocar a lousa por computador. Foi preciso se reinventar para acompanhar o desenvolvimento dos alunos Quase que de repente tudo parou. Para evitar a disseminação de um vírus tão perigoso, aulas e atividades escolares presenciais foram suspensas. O quadro e o piloto foram substituídos por computadores e celulares. A sala de aula deu lugar a cômodos domésticos. Livros e cadernos foram trocados por aplicativos. A pandemia da Covid-19 exigiu dos professores uma imensa capacidade de adaptação. Obrigados a se reinventarem, eles foram em busca de outras formas de abordagem dos conteúdos de suas disciplinas, sobretudo por meios virtuais. O professor Marcelo Ataíde, 32 anos, que atua como professor há dez anos em Recife, relata alguns pontos positivos trazidos pela pandemia: “Como professor de biologia eu trabalho muito com imagens e sempre gostei de produzir slides, fazer projeções, mas me limitava ao pen drive e não sabia usar a nuvem. Por isso, uma das principais vantagens foi justamente a imersão obrigatória no meio virtual, que nos fez conhecer novas formas de transmitir conhecimento”, avalia. Uma pesquisa do Instituto Crescer, divulgada no segundo semestre do ano passado, aponta que 46% dos educadores não sabem avaliar se os alunos estão realmente aprendendo com as aulas on-line. A professora Jéssica Azevedo Rozendo, 29, entende bem essa dúvida. Ela conta que para garantir um ensino efi caz buscou tutoriais na internet e pegou dicas com colegas de profi ssão. Para deixar as aulas mais atrativas, a docente passou a usar plataformas de aprendizado baseadas em jogos, como o Kahoots, e de produção textual, como o Google Docs. “Tivemos que fazer uma série de adaptações e incerteza foi a palavra que mais marcou essa pandemia. Esse momento serviu para sacolejar e ver que eu precisava me reinventar para oferecer o meu melhor para meus alunos. Tive que aprender, didatizar e, então, ensinar”, comenta. Ao longo da pandemia do coronavírus o processo de ensino e aprendizagem passou por várias transformações. As maneiras habituais de lecionar foram revistas. No entanto, a avalanche de informações do mundo contemporâneo tornou mais difícil a missão dos docentes de encontrar solução que melhor atendesse à 34 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química necessidade não planejada de ensinar além dos muros da escola. Apesar de a maioria dos docentes usarem com frequência as tecnologias em seu cotidiano, conhecer e dominar novas ferramentas e metodologias para adaptar as aulas a um novo formato tornou essa relação mais delicada. Um dos primeiros desafi os do professor de física Ítallo Costa foi aprender, em tempo recorde, a usar novas tecnologias para adaptar as aulas ao ensino remoto. Ele conta que, até então, o computador era usado basicamente para exibir animações, vídeos, entre outros. “Tive que pesquisar bastante sobre ferramentas digitais e descobri que existem muitas limitações para os professores de exatas, especifi camente, visto que muitas não ‘entendem’ bem a linguagem matemática”, disse. O professor de geografi a Matheus Felisberto, 21 anos, faz uma crítica aos cursos de licenciatura e afi rma que eles não preparam os docentes para novas modalidades de ensino. Para Matheus, quem superou as difi culdades impostas pela pandemia mostrou que está qualifi cado para essa nova educação. “Temos uma camada de antigos professores que olhavam para o ensino a distância, o ensino híbrido, as videoaulas e falavam que não valiam a pena. De repente, você encontra todos precisando entrar no universo do audiovisual e tendo que se adaptar a falar na frente da câmera, editar vídeo, mexer com iluminação. Essa inter-relação entre a educação e o audiovisual veio para fi car”, acredita. Voltando aos dados da pesquisa realizada pelo Instituto Crescer, 61% dos professores afi rmam ter aprendido sozinhos a utilizar as tecnologias digitais. Dados como esses reforçam a afi rmação do doutor em educação Jacinto dos Santos de que os docentes estão criando e recriando durante a pandemia novas estratégias associadas aos usos das novas tecnologias digitais para auxiliar na prática de ensino remoto. “As tecnologias se reinventam, mas não as práticas didático- pedagógicas. Práticas são ações que aliadas às teorias nos ajudam a pensar meios de como alcançar a melhor ou a mais adequada didatização de um conteúdo. O que mais está sendo procurado hoje, discutido em nosso meio, é uma prática didático-pedagógica que melhor possa ser ajustada a esse aparato tecnológico que estamos tendo oportunidade hoje de fazer uso”, comenta Santos, que é coordenador do Programa de Mestrado Profi ssional em Letras (Profl etras) da Universidade de Pernambuco (UPE), campus Mata Norte. Na percepção do especialista, a maior difi culdade enfrentada pelos professores no último ano foi a operacionalização das 35 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 plataformas digitais. “Por falta de uma formação inicial, tivemos que fazer tudo de uma forma apressada. O que as escolas precisam fazer é dar condições de trabalho ao professor porque infelizmente as práticas que estamos desenvolvendo dependem agora desses recursos. O professor sozinho poderá não dar conta e precisará de apoio para que cada vez mais seu poder criativo, inovador e inventivo se desenvolva”, acrescenta o doutor em educação. Adaptado de: <https://www.folhape.com.br/noticias/sem- foto-professores-precisaram-mudar-praticas-e-rotinas- pedagogicas/169170/>. Acesso em: 28 jan. 2021. Após a leitura da reportagem,é possível perceber que as mudanças que ocorreram em relação ao uso das tecnologias pelos professores após a pandemia da COVID-19 são uma tendência para os próximos anos na educação. O aumento e a reformulação no uso das tecnologias pelos professores já eram esperados devido ao avanço das tecnologias e à necessidade de tornar a escola mais atrativa para os “nativos digitais”. A pandemia, no entanto, acelerou esse processo, dada a necessidade de adaptar-se urgentemente a esta nova realidade, fora das salas de aula, mas ainda ministrando aulas para seus alunos. Por essa razão, o Subtópico 4 está dividido em outros dois subtópicos distintos: no Subtópico 4.1, você compreenderá como as tecnologias vinham sendo utilizadas pelos professores de química antes da pandemia da COVID-19; no Subtópico 4.2, serão apresentadas as mudanças que ocorreram na utilização dessas tecnologias e os possíveis desdobramentos para o campo do ensino de química e sua relação com as tecnologias a partir do ano de 2020. 4.1 AS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE QUÍMICA ANTES DA PANDEMIA DA COVID-19 Assim como a física e a matemática, mencionadas na reportagem supracitada, o ensino de química também tem suas limitações devido a sua linguagem. Não é possível representar uma molécula orgânica em sua fórmula estrutural, por exemplo, sem utilizar programas específi cos no computador. Tampouco é simples representar uma reação química ou uma equação para resolver uma 36 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química questão de estequiometria. Por essa razão, não são todos os recursos digitais que possibilitam e facilitam o ensino da química com a utilização da tecnologia. É necessário que o professor esteja atento para essa questão quando for escolher o recurso com o qual deseja trabalhar com seus alunos. Mesmo nas aulas presenciais tradicionais e expositivas, os alunos relatam difi culdade de compreensão do conteúdo, muitas vezes, por não conseguirem “enxergar” átomos, moléculas e demais componentes submicroscópicos estudados pela química. Nesse sentido, utilizar a tecnologia é uma ótima estratégias, pois há a possibilidade de utilizar simulações, animações, modelos tridimensionais e outros recursos que seriam inviáveis em uma aula tradicional na qual utiliza-se apenas o quadro e o giz. No entanto, ainda há alguma resistência dos professores em adotar esses recursos, seja por falta de conhecimento dos programas e aplicativos disponíveis (como simuladores virtuais) ou por falta de intimidade com a tecnologia. Para compreender melhor a relação entre os professores de química e as tecnologias, o professor e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Bruno Silva Leite, realizou em 2019 um levantamento no qual pesquisou sobre publicações disponíveis a respeito do uso das TICs no ensino de química nos últimos 30 anos. Leite realizou uma busca no Google Acadêmico, utilizando palavras-chave relevantes no campo do ensino de química relacionadas com as TICs. São elas: vídeo, computador e dispositivos móveis. Foram verifi cados trabalhos publicados entre 1988 e 2018. Experimente utilizar o Google Acadêmico (www.scholar.google. com.br) com as palavras-chave mencionadas anteriormente. Verifi que os artigos encontrados e veja alguns trabalhos que o autor citou no estudo que está descrito neste capítulo. Você estará utilizando uma TIC para a sua busca e para enriquecer o seu conhecimento sobre a área. 37 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 • Computadores A pesquisa de Leite (2019) mostrou que desde os anos 90 já era possível encontrar relatos de professores de química utilizando computadores como ferramenta para despertar o interesse dos alunos e enriquecer suas aulas. No exemplo mencionado pelo autor do artigo, os computadores foram utilizados em 1996 como um recurso de realidade virtual para que os alunos pudessem “enxergar” e “manusear” o átomo. O uso de simuladores foi citado em um trabalho de 1998, relatado por Leite (2019) e é até hoje um recurso válido e interessante para quando não há a possibilidade de levar os alunos para laboratórios de química, sendo um recurso que será explorado nos Capítulos 2 e 3 deste material. O uso de simuladores também foi mencionado pelo professor e pesquisador Marcelo Giordan (1999) em seu artigo denominado O papel da experimentação no ensino de ciências, publicado na revista Química Nova na Escola, que é uma importante revista dentro da área de ensino de química. Cabe ressaltar a importância desse trabalho, que até janeiro de 2021 tinha 809 citações, de acordo com o Google Acadêmico. Além dessa publicação, Giordan tem outros trabalhos publicados na área de ensino de química e tecnologia. No artigo, Giordan (1999) aborda a simulação de fenômenos químicos através da utilização de modelos físicos, tais como a utilização de bolas e varetas para simular uma ligação química em uma cadeia carbônica, de forma a facilitar a compreensão do aluno pela utilização de um modelo macroscópico análogo ao que ocorre de forma submicroscópica. O autor não se limita aos modelos físicos e menciona, há mais de 20 anos, a utilização de simulações computadorizadas como potenciais facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem na química. Para Giordan (1999, p. 47), “as simulações computacionais podem ser orquestradamente articuladas com atividades de ensino, sendo, portanto, mais um instrumento de mediação entre o sujeito, seu mundo e o conhecimento científi co”. Leite (2019) observou que o uso dos computadores no ensino foi menos citado em trabalhos mais atuais (de menos de 10 anos para cá). O autor atribuiu isso à naturalização do uso do computador nas atividades pedagógicas, fi cando em segundo plano em relação ao uso de outras TICs, principalmente quando comparado com os dispositivos móveis (tablets e celulares). Não é mais necessário, por exemplo, citar em um artigo publicado que foi utilizado um computador para acessar a internet e pesquisar a bibliografi a disponível, pois isso fi ca implícito no atual contexto das TICs (não se espera que um pesquisador, em 2020, vá a uma biblioteca folhear exemplares de revistas, a não ser que esse seja o escopo da sua pesquisa – o que não ocorre na maioria dos casos). É necessário, porém, que um pesquisador “as simulações computacionais podem ser orquestradamente articuladas com atividades de ensino, sendo, portanto, mais um instrumento de mediação entre o sujeito, seu mundo e o conhecimento científi co”. 38 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química atual relate em qual base de dados sua pesquisa foi realizada, mencionando sempre as palavras-chave pesquisadas para que outro pesquisador seja capaz de realizar uma pesquisa semelhante. • Vídeos O uso dos vídeos como recurso pedagógico até 2019 foi considerado como uma forma de ilustrar situações e proporcionar experiências “fora” da sala de aula, sendo também um recurso que motiva a aprendizagem. No entanto, a utilização de vídeos requer planejamento dos professores para que eles sejam utilizados de forma consciente e crítica e não meramente ilustrativa, como já foi abordado no Subtópico 2.3 deste capítulo. Leite (2019) verifi cou que nos últimos 30 anos houve um aumento na quantidade de relatos de professores que utilizam vídeos em sala de aula. Esse aumento pode ter ocorrido principalmente pela ampla disponibilidade de vídeos na internet desde o surgimento do Youtube, que passou a existir a partir de 2005. Até então, para utilizar um vídeo em sala de aula, era necessário que o professor tivesse o conteúdo em fi ta VHS ou em DVD, o que difi cultava o acesso dos professores aos materiais audiovisuais. Cabe lembrar que a utilização de vídeos em sala de aula exige uma estrutura por parte da escola, para disponibilizar televisão (no caso de fi tas VHS ou DVD) ou projetor (no caso de vídeos da internet) para exibir o vídeo paratodos os alunos. • Dispositivos móveis Os trabalhos relacionados ao uso de dispositivos móveis, tais como tablets e smartphones, só foram contemplados a partir de 2007, por ser uma tecnologia relativamente recente. O autor destaca que o número de artigos encontrados com a utilização de dispositivos móveis a partir de então foi muito elevado, mostrando o impacto que estes aparelhos têm no ensino e aprendizagem. Para Leite (2019), o uso desses dispositivos quebra as barreiras do aprendizado apenas na escola, já que com o celular conectado à internet o aluno pode acessar qualquer conteúdo de qualquer lugar e em qualquer momento. Os professores podem utilizar os dispositivos móveis em sala de aula para solicitar que os estudantes realizem uma pesquisa na internet ou para que utilizem algum aplicativo previamente instalado, como jogos. A limitação para o uso de dispositivos móveis nas salas de aula é a necessidade de que cada aluno tenha 39 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 o seu aparelho, leve-o para a escola no dia da aula, com bateria sufi ciente e, em geral, com acesso à internet, que pode ser disponibilizada pela escola ou podem ser utilizados os pacotes de dados de cada estudante. A pesquisa de Leite (2019) não relata a utilização de projetores e exibição de slides como uma forma de utilização das tecnologias em sala de aula, porém, sabemos que é um recurso amplamente utilizado pelos professores em escolas que disponibilizam o equipamento. A vantagem desse recurso é que o professor pode incrementar sua aula com imagens, vídeos e animações que não seriam possíveis utilizando somente o quadro e o giz. Por sua vez, a desvantagem é tornar a aula monótona, já que muitas vezes é preciso que as luzes sejam apagadas para que os alunos consigam enxergar a projeção. Os principais RDD (Recursos Didáticos Digitais, explicados no Subtópico 2.3 deste capítulo) mencionados foram os vídeos, os computadores e os dispositivos móveis, considerando o cenário anterior à pandemia de COVID-19. Esses recursos tinham como objetivo principal enriquecer as aulas, proporcionando um material mais rico e inovador; e estimular o interesse dos alunos para os conteúdos estudados. Porém, desde março de 2020, a forma de utilização desses dispositivos no Brasil não é mais a mesma, conforme será discutido no Subtópico 4.2. 1 A utilização de vídeos no ensino fi cou mais popular a partir de 2005, com a chegada do Youtube, graças à infi nidade de conteúdo disponível no site. É possível encontrar vídeos sobre experimentos, simulações, aulas expositivas de professores de todo o Brasil, músicas e paródias, além de outros conteúdos audiovisuais, publicados por estudantes, professores, escolas, universidades ou qualquer usuário que tenha uma conta nessa rede. Sobre a utilização de vídeos no ensino, assinale a seguir a alternativa correta. a) ( ) Os vídeos sempre foram um recurso amplamente utilizado pelos professores de química devido à facilidade de encontrar conteúdo dessa disciplina no formato audiovisual, mesmo antes da chegada da internet. b) ( ) Os vídeos contribuem para o ensino de química por serem uma metodologia diferenciada, que faz com que os alunos se interessem pelo assunto pela mera exibição do conteúdo audiovisual. 40 Materiais, eXp. e noVas tec. no ensino de Química c) ( ) A utilização de vídeos, se bem planejada, pode facilitar a aprendizagem de reações químicas através da demonstração de uma reação fi lmada em laboratório, quando não é possível levar os alunos para esse ambiente. d) ( ) Os nativos digitais não têm interesse em assistir vídeos exibidos pelo professor em sala de aula, pois têm acesso ao mesmo conteúdo em suas casas, não precisando da explicação do professor para entender o conteúdo. 4.2 AS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE QUÍMICA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19 No tópico anterior versamos sobre o uso das tecnologias no ensino de química dentro das salas de aula, trazendo uma pesquisa publicada em 2019, antes do início do isolamento social e consequente fechamento das escolas públicas e particulares em todo o país durante o ano de 2020. Até então, os recursos utilizados pelos professores tinham como objetivo aumentar o interesse dos alunos, mostrar para eles a importância da química, ilustrar situações que não seriam possíveis sem o auxílio das tecnologias, realizar simulações, entre outros. Com o início da pandemia da COVID-19, o uso dessas tecnologias não é mais para enriquecer as aulas tradicionais ou para fazer com que os alunos se interessem mais pela química, que usualmente é apontada como uma disciplina na qual os estudantes têm difi culdades, dado o caráter abstrato de sua natureza. Com o isolamento social, o papel das TICs passa a ser o de intermediar e viabilizar a troca entre professores e alunos, seja de forma síncrona ou de forma assíncrona. • Atividades síncronas: baseiam-se no modelo tradicional de educação formal – isso é, o professor explica em tempo real os conteúdos para uma plateia de estudantes conectados, utilizando aplicativos de reuniões, como o Google Meet. • Atividades assíncronas: são atividades que não ocorrem em tempo real. Podem ser realizadas por meio de vídeos gravados, materiais Com o isolamento social, o papel das TICs passa a ser o de intermediar e viabilizar a troca entre professores e alunos. 41 AS TEC. DE INFO. E COM. E O ENSINO DE QUÍMICA Capítulo 1 disponibilizados em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) ou plataformas digitais (como o Google Classroom), leitura de textos, entre outros. Nas atividades assíncronas, cada estudante realiza suas tarefas no seu tempo, sem a necessidade da mediação do professor ou tutor em tempo real. Se, anteriormente, a internet era utilizada pelos estudantes e também pelos professores como forma de pesquisar conteúdos, nesse contexto, ela passa a ser a principal forma de interação entre alunos, professores e seus colegas. Essa interação pode ocorrer por meio de redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas, reuniões virtuais, e-mails, entre outros. Para compreender a utilização da internet nesse contexto, as pesquisadoras gaúchas Raquel Fiori e Mara Elisângela Goi fi zeram uma pesquisa sobre o ensino de química em plataformas digitais durante o isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, que foi publicada na edição especial sobre esse assunto da Revista Thema, em 2020. • Plataformas digitais: são plataformas de ensino a distância, que apresentam recursos variados voltados para a educação, como o Google Classroom, o Moodle e os AVAs (Ambientes Virtuais de Aprendizagem) das universidades. São utilizados para cursos on-line, para disponibilizar o material em formato de texto, vídeo, áudio, dependendo dos recursos disponíveis em cada plataforma. Nessa pesquisa, as autoras avaliaram o quanto os alunos foram capazes de aprender os conteúdos de química do segundo ano do ensino médio, de forma on- line, utilizando plataformas digitais, sem a mediação presencial dos professores de química. O professor selecionava os conteúdos e disponibilizava para os estudantes por meio da plataforma digital, nesse caso, o Google Classroom, que é uma plataforma gratuita e de fácil utilização. O estudo realizado por Fiori e Goi (2020) foi do tipo descritivo exploratório e foi realizado com alunos de uma escola particular do Rio Grande do Sul. Embora seja o estudo de um caso particular, essa pesquisa serve para ilustrar um exemplo do ensino remoto nos tempos de pandemia. Porém, seus resultados não devem ser generalizados, pois têm infl uência do contexto no qual essa pesquisa ocorreu – a cidade, os estudantes, o tipo de escola etc. É necessário destacar que a utilização das tecnologias nesse contexto não ocorre devido a uma evolução natural da relação entre o ensino e as TICs, mas sim à necessidade emergencial de solucionar a questão
Compartilhar