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Processos de imigração para o Brasil APRESENTAÇÃO O Brasil vivenciou diversos tipos de imigração ao longo de sua história, porém, foi no século XIX que processos subsidiados pelo Governo Imperial foram iniciados. Nesse período, o país passou por diversas transformações, sobretudo em relação à produção agrícola. O café se tornou o principal produto de exportação, e conforme a escravidão perdia força, tanto Governo quanto latifundiários precisavam encontrar uma solução para esse problema. A política de imigração foi desenvolvida para resolver essa questão da mão de obra, mas atingiu o país em vários níveis. O principal grupo de imigrantes era branco, o que se tornou o embrião da eugenia vivida no século XX, além de o choque cultural ter produzido uma amálgama que alicerçou a construção da nação brasileira. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre os modelos imigratórios brasileiros desenvolvidos no século XIX. A chegada de europeus foi massiva após a década de 1850, quando a questão da abolição se tornou mais presente. Além disso, serão abordados os destinos principais desses imigrantes e como ocorreram as adaptações no Brasil. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o sentido dos diferentes fluxos imigratórios no Brasil.• Explicar o modelo de imigração no Brasil.• Identificar a condição dos imigrantes e as suas influências na formação econômica e cultural do Brasil. • DESAFIO O texto do suíço Thomas Davatz, imigrante no período do sistema de parcerias ocorrido em São Paulo, discute a experiência e apresenta as diferentes nuances sobre esse período de imigração no Brasil. Ele expressa o seu ponto de vista e agrega fatos para o estudo sobre esse momento da história brasileira. Suponha que você é um professor de História do Brasil no Ensino Médio e seus alunos elegeram os textos de Thomas Davatz para estudar a imigração. Elabore duas estratégias de ensino a partir do material fonte, levando em consideração pontos de análise do discurso do autor, como suas adjetivações e sua maneira de descrever o evento. INFOGRÁFICO No século XIX, o Brasil recebeu um grande número de europeus que imigraram a partir de políticas do Estado brasileiro. Além dos portugueses, que permaneceram atravessando o Atlântico mesmo com a Independência em 1822, os alemães e os italianos foram os principais povos que construíram as chamadas colônias no Sul e, também, ocuparam as lavouras e cidades do Sudeste. Neste Infográfico, você verá a distribuição desses imigrantes que chegaram no século XIX. CONTEÚDO DO LIVRO O processo de imigração no século XIX atingiu com força as Américas. Brasil, Estados Unidos e Argentina foram um dos principais países que receberam estrangeiros em busca de uma nova vida. No caso brasileiro, durante o período colonial, portugueses, ingleses, franceses, holandeses e espanhóis migraram por diversos motivos. Porém, uma política específica para a imigração ocorreu apenas dos oitocentos em diante. No capítulo, Processos de imigração para o Brasil, da obra História do Brasil Império, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre os desdobramentos políticos da chegada dos europeus, os diferentes tipos de imigração e as consequências social e cultural para a sociedade brasileira. Boa leitura. HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO Ana Carolina Machado de Souza Processos de imigração para o Brasil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever o sentido dos diferentes fluxos imigratórios no Brasil. � Explicar o modelo de imigração no Brasil. � Identificar a condição dos imigrantes e suas influências na formação econômica e cultural do Brasil. Introdução O Brasil passou por profundas turbulências políticas no século XIX: foi de colônia a sede do Império Português, tornou-se independente, foi reinado por dois imperadores e alguns regentes, teve duas cons- tituições, viu a República ser proclamada e dois militares ocuparem a presidência. Viveu revoltas internas, uma guerra contra os países vizinhos e problemas diplomáticos. No âmbito social, a escravidão acabou de maneira paulatina, o trabalho mudou de perspectiva, mas as estruturas políticas e sociais pouco mudaram, e é nesse momento que a chegada de imigrantes aumentou exponencialmente. Neste capítulo, você aprenderá sobre a história da imigração no Brasil no século XIX, como quais foram as políticas de incentivo, os principais objetivos e as consequências da chegada de europeus para compor a sociedade brasileira. E, ainda, abordaremos a questão legislativa, pois havia diversos interesses sobre a vinda de imigrantes, seja para trabalharem nas lavouras, seja como parte de uma ideia civilizatória. 1 Sentido dos diferentes fluxos imigratórios no Brasil Inicialmente, é importante enfatizar que as políticas imigratórias em geral estudadas estão relacionadas ao contexto do século XIX, porém o Brasil rece- beu muitos estrangeiros desde o início da colonização, sobretudo portugueses. Por 300 anos, a colônia também sofreu invasões dos franceses e holandeses, além das brigas nas fronteiras com os espanhóis e do sequestro de africanos para serem escravizados. Apesar disso, foi no período oitocentista que o país criou medidas públicas para atrair mão de obra estrangeira livre — tudo mudou com a chegada da Família Real em 1808, quando grupos de suíços, alemães, italianos, sírio-libaneses, entre outros, buscaram o Brasil como alternativa viável para se estabelecerem definitivamente. Entre os citados, a maioria foi composta pelos alemães e italianos, sobretudo pelo fato de seus países não terem nenhuma colônia na América. Havia um receio de estimular a vinda de espanhóis, por exemplo, e eles se unirem com os vizinhos, abalando, assim, a já frágil unidade nacional brasileira. Alemães A Alemanha se tornou um país unificado apenas em 1871, visto que, até esse momento, a região era dividida entre duas hegemonias: a Prússia e o Império Austro-Húngaro, que se reuniram a partir de esforços diplomáticos e guerras contra os países vizinhos. Isso significa que, durante o século XIX, a sociedade alemã passou por muita instabilidade política. Outro ponto importante reside no fato que, no final do século XVIII, ocorrera, na Inglaterra, a Revolução Industrial, e, na França, a Revolução Francesa e o Império Napoleônico, eventos que mudaram o mapa europeu durante algumas décadas. O discurso nacionalista e capitalista que surgira naquele momento crescera rapidamente, atingindo vários povos europeus. A Prússia, que era dominante, viu que a união seria benéfica, para que os germânicos não fossem engolidos pelas políticas expansionistas, além do desejo de entrar na disputa neocolonialista, dominada pela Inglaterra e pela Bélgica. Dessa forma, quando falamos que os “alemães” vieram para o Brasil na década de 1820, trata-se de uma forma de facilitar a compreensão sobre o assunto, haja vista que não existia Alemanha como estado até aquele momento. Processos de imigração para o Brasil2 A maioria dos alemães que vieram ao Brasil se estabeleceu na região Sul. Em 1824, o país recebeu os primeiros navios com alemães, que tinham como objetivo povoar o extremo Sul, fazendo morada na região do Vale do Rio dos Sinos, no atual estado do Rio Grande do Sul, na qual: [...] os imigrantes desenvolveram explorações relativamente independentes da economia central, dedicando-se quase que exclusivamente à produção agrícola em pequenas propriedades. Estes novos núcleos de povoamento visavam [...] o suprimento de bens alimentares para o mercado interno (MAGALHÃES, 1993, p. 10). Estas foram as primeiras tentativas realizadas no Primeiro Império (1822– 1831), mas, como veremos mais à frente, os suíços já haviam se estabelecido no Rio de Janeiro. O Sul do Brasil era uma região muito instável para amonarquia, sobretudo no pe- ríodo colonial e em parte do Império. As fronteiras com as colônias espanholas eram muito disputadas, causando conflitos constantes. Após o Tratado de Madrid, em 1750, quando os limites territoriais entre os países ibéricos foram redefinidos, a busca pela ocupação do local se tornou uma preocupação geral do governo. Durante o século XIX, disputas independentistas e separatistas assolaram o Brasil, aumentando ainda mais a necessidade de povoamento. As primeiras colônias de alemães buscavam o povoamento e se baseavam na economia de subsistência. Até 1850, quando o processo de imigração se tornou massivo, o número de estrangeiros já havia aumentado considera- velmente na região, inclusive em Santa Catarina. De 1824 a 1919, 117.789 alemães aportaram no Brasil, sendo 48.037 somente no Rio Grande do Sul. E, apesar de o número ser reduzido em comparação ao dos italianos, a concen- tração de alemães no Sul mostra a regionalidade das políticas de imigração. Os estrangeiros recebiam lotes de terra, em locais inóspitos, e começavam a 3Processos de imigração para o Brasil vida com a obrigação de exercerem alguma atividade agrícola que servisse para o abastecimento regional. Diferentemente dos proprietários nacionais, eles não podiam adquirir escravos, levando-os a dividir toda a produção entre eles e com o estado, que ficava com algumas partes, além dos impostos. Até 1850, quando houve uma mudança nos incentivos, o Sul foi o único lugar que manteve o processo de imigração, ainda que fossem poucos os que chegavam. Na Europa, os problemas enfrentados pelos imigrantes, sobretudo no Sudeste, fizeram com que alguns governos proibissem a propaganda e a viagem para o Brasil, mesmo assim, um pequeno contingente de alemães conseguiu se estabelecer por aqui. Italianos O processo imigratório dos italianos, que vieram em massa para o Brasil, sobretudo a partir de 1880, teve um contexto parecido com o dos alemães. A Itália se unificou apenas em 1871, pois, até então, a Península Itálica era composta por repúblicas, reinos e ducados independentes, afetados direta- mente pelos movimentos expansionistas de Napoleão e pelas resoluções do Congresso de Viena, de 1815. Desde a década de 1830, o Norte e o Sul italianos lutavam pela hegemonia no processo de unificação, ou seja, a instabilidade política foi um dos fatores que auxiliaram aquela sociedade a decidir pela vinda ao Brasil. Havia uma propaganda constante de que o país era um local de oportunidades (Figura 1). Muitos imigrantes italianos já tinham escolhido os Estados Unidos como novo lar e prosperaram, sobretudo nas grandes cidades e na Marcha para o Oeste. Aqui, o discurso exaltava as fazendas de café, o “ouro negro”, por meio das quais os estrangeiros poderiam enriquecer ou conseguir um pedaço de terra para plantar e viver do próprio trabalho. Foi assim que os italianos formaram o maior contingente de imigrantes que vieram ao Brasil, após os portugueses e os africanos, levando em consideração que estes imigraram de maneira compulsória. Processos de imigração para o Brasil4 Figura 1. Propaganda para imigração italiana ao Brasil — Império do Brasil. Fonte: Wikimedia (2009, documento on-line). Entre 1884 e 1923, cerca de 1.331.158 italianos se estabeleceram no país, a maioria vinda das regiões de Veneza, da Campânia e da Calábria, ou seja, tanto do Norte quanto do Sul da Península. No Brasil, aqueles que se deslo- caram até o Rio Grande do Sul e Santa Catarina tinham o objetivo de povoar e construir pequenas propriedades, como os alemães. Contudo, o destino mudou nos últimos anos da escravidão. Até 1886, cerca de 40 mil imigrantes foram para São Paulo, porém, em 2 anos, até 1888, esse número passou para mais de 120 mil, isso porque o café paulista atingira seu auge, o que ajudou a aumentar os centros urbanos, nos quais muitos italianos se estabeleceram, além de sírio-libaneses, espanhóis e portugueses. Porém, até o início do século XX, os italianos foram majoritariamente para as lavouras. 5Processos de imigração para o Brasil 2 Modelos de imigração no Brasil Na Carta Régia de 2 de maio de 1818, Dom João VI (1767–1826) outorgou a vinda de suíços com a intenção de se estabelecer no estado do Rio de Janeiro. A solicitação foi feita pelo cantão de Friburgo, na Suíça, como ficou conhecida a região habitada pelos europeus aqui no Brasil. O documento atesta o início da política de imigração sob subsídio do governo, embora tenha mudado algumas vezes ao longo do século XIX. Essa tentativa do governo colonial não deu certo. No Rio de Janeiro e, sobretudo, em São Paulo, havia muitas críticas em relação ao financiamento da imigração, pois a elite reivindicava maior destaque aos programas eco- nômicos locais, desejando melhores créditos para que pudessem expandir as fazendas, solidificar suas posições como políticos e conseguir adquirir ainda mais escravos. Outro ponto consistiu na falta de organização da própria monarquia, que não pensou na manutenção dos estrangeiros. De início, a ajuda se deu para o deslocamento dos suíços, mas questões como posse de terras, cumprimento de contratos e até mesmo treinamento dos novatos não foram instituídas. A escravidão ainda era a forma mais barata de mão de obra, e a estrutura escravista era comum aos fazendeiros, que não conseguiam se adaptar às demandas vindas dos imigrantes (HOLANDA, 2004). Com a independência, pouco mudou na política de imigração, já que Dom Pedro I (1798–1834) seguiu o que era feito. A formação de “colônias” com europeus ganhou espaço nesse momento, com os objetivos descritos ante- riormente. Como era pouco povoado, o Sul precisava ser ocupado, para que não ocorressem mais disputas acerca do território. Ainda que o açúcar não tivesse mais a força de antes, representava o principal produto de exportação do país. Porém, os latifúndios de café, que estavam no Sudeste, cresciam, e os fazendeiros queriam maior incentivo para o próprio desenvolvimento agrário. A ideia de doarem pedaços de terra para estrangeiros cultivarem não era bem aceita. E a pressão política de paulistas e cariocas, sobretudo, fez com que o governo brasileiro paralisasse o financiamento da imigração com a função de colonização. Processos de imigração para o Brasil6 O fim da política de imigração iniciada com a Carta Régia de 1818 também se deu por vias legislativas. A Lei do Orçamento, aprovada em 15 de dezembro de 1830, suprimiu as verbas destinadas à colonização estrangeira no país. Todas as leis e constituições brasileiras estão on-line e você pode acessá-las pelo site da Câmara dos Deputados. Por quase 20 anos, o país não retomou qualquer tentativa de incentivar a imigração. Com o início do Segundo Império (1840–1889), mudanças tanto na legislação quanto na necessidade econômica atingiram as políticas de imigração. Em 1841, foi instituído o Parlamentarismo no Brasil como uma das formas para remediar os problemas causados no Período Regencial (1831– 1840). O Golpe da Maioridade foi possível após uma série de debates entre os deputados, mas trazia algumas questões imediatas. Primeiro, Dom Pedro II (1825–1891) tinha 14 anos quando assumiu o trono, o que significava ser o chefe do Executivo e, também, do Poder Moderador, já que a Constituição em vigor era a de 1824, a qual, aprovada por seu pai, estabelecia a centralização da organização política nas mãos do Imperador. Para viabilizar uma nova liderança que tivesse experiência política, o Con- gresso se dividiu em vários Ministérios. De forma extraoficial, os ministros civis assumiam funções diversas, sobretudo as que conduziam o Estado. Foi apenas com a Lei 523 de 20 de julho de 1847 que se criou o cargo de Presidente do Conselho de Ministros, estabelecendo o Parlamentarismo no Brasil. Como não houve uma reforma constitucional, não ocorreu uma mudança no sistema político brasileiro, e sim a institucionalização de uma nova divisão dos poderes, dimi- nuindoa influência do Poder Moderador. Esse evento alavancou a carreira política de muitos representantes regionais, que assumiram cargos no Congresso. Para entender mais sobre o assunto, confira a obra Brasil: uma biografia, de Schwarcz e Starling (2015). 7Processos de imigração para o Brasil A partir de 1847, o governo voltou a sistematizar processos imigratórios. O interesse da iniciativa privada de São Paulo foi fundamental para a retomada desse caminho. Mesmo que no Sul do país as colônias se formassem desde 1840, com o incentivo regional, tudo mudou depois de 1848, quando se deu início ao primeiro modelo de fato de imigração no país, o de Colônias de Parceria. Colônias de Parceria Esse modelo consistia no financiamento privado para a vinda de imigrantes, com o suporte do governo, com a possibilidade de adquirirem um espaço de terra para cultivar seus próprios produtos quando terminassem de pagar o em- préstimo feito pelos fazendeiros, isto é, estes custeavam a vinda dos europeus, seu deslocamento interno e a acomodação. Em troca, os estrangeiros deveriam pagar esse valor com o trabalho, estabelecendo um vínculo de parceria com o latifundiário. Porém, a realidade foi bem diferente. O primeiro conflito se deu por causa das diferenças culturais em relação ao trabalho, visto que os europeus contestavam o tratamento que recebiam, pois precisavam obedecer às regras da fazenda, como toque de recolher e limites no acesso à terra. Em suma, viam-se como escravos, e não como trabalhadores livres, momento em que se deu o choque cultural. Como diz Costa (1999, p. 219): As exigências do trato, o tipo de produção e rendimento da cultura do café resultavam pouco propícios aos colonos dentro daquele sistema. Recusavam-se eles a formar um cafezal, pois a derrubada da mata e os trabalhos necessários ao preparo da terra, assim como o tempo de espera, que antecedia o perío- do de produtividade da planta, eram por demais cansativos e muito pouco rendosos para um colono recém-chegado, sobre o qual pesavam encargos financeiros numerosos. Os fazendeiros estavam acostumados a lidar com a mão de obra como se fosse propriedade. O escravo tinha toda a sua humanidade anulada e era tratado como produto. Aos europeus, foi vendida a ideia de que prosperariam na terra do café, no produto mais requisitado internacionalmente, em um país com uma extensão territorial gigante e muito fértil. O clima favorecia a abundância e muitos dos imigrantes fugiam da fome e da miséria, motivo pelo qual aceitavam os contratos pouco favoráveis. Porém, os conflitos com os latifundiários se tornaram muito frequentes, a ponto de explodirem motins e revoltas em vários pontos de São Paulo e do Rio de Janeiro (HOLANDA, 2004). Processos de imigração para o Brasil8 Em 1848, o senador Nicolau Campos Vergueiro (1778–1859) conseguiu o aval da Pro- víncia de São Paulo para trazer suíços e alemães para trabalharem nas suas fazendas de café no Oeste Paulista. Após 1850, alguns anos depois da chegada dos colonos, estes perceberam a falta de infraestrutura e de diálogo com os seus chefes. Foi assim que ocorreu o famoso motim da Fazenda Ibicaba, no qual os estrangeiros fugiram e deixaram seus locais de trabalho. O incidente causou consequências diplomáticas, com a Alemanha e a Itália, que, posteriormente, proibiram qualquer propaganda sobre a imigração brasileira para a população. Enquanto o governo federal desejava que os europeus fizessem parte do processo civilizatório da população brasileira, a condição de trabalho dos imigrantes chamou a atenção dos governos de seus países de origem, que, pela falta de cumprimento do prometido, proibiram a vinda de seus cidadãos para o Brasil. Como consequência da falta de organização, tanto dos governos federal e provincial quanto dos fazendeiros, o sistema de parcerias foi finalizado, ocasionando mais uma interrupção ao programa de imigração; porém, essa situação não durou muito tempo. Imigração subvencionada O que mudou a política em relação à vinda de estrangeiros foi a iminência da abolição e a nova lei de terras. Em 1850, foram aprovadas a Lei de Terras e a Lei Eusébio de Queirós. A primeira regulamentava a questão da posse territorial, beneficiando os grandes latifúndios, contexto em que todo espaço sem escritura válida seria apropriado pelo estado e, para comprovar a posse, todo proprietário deveria pagar um imposto. Assim, quem tinha um pequeno lote, mas não tinha condições de pagar essa nova taxa, o perdia. A partir desse momento, a maioria da população brasileira não conseguiu mais adquirir seu próprio terreno, assim como os estrangeiros, que já não tinham mais como promessa a possibilidade de um lote de terra. 9Processos de imigração para o Brasil Já a lei Eusébio de Queirós proibia o tráfico de escravos para o Brasil, can- celando a fonte de mão de obra da maioria dos trabalhos braçais das lavouras. O preço dos negros escravizados subiu consideravelmente, pois o comércio interno ainda existia, embora não houvesse mais a sua reposição. Uma das ideias surgidas nesse momento foi a de empregar a população brasileira ociosa, a despeito de uma resistência geral, como por conta de não acreditarem no potencial dessa mão de obra por não estarem acostumados a trabalhar na lida. Além disso, o fato de a maioria dos brasileiros não poder se tornar proprietária em virtude da legislação fazia com que a vida no campo fosse menos desejada. Na primeira oportunidade, muitos migravam para os centros urbanos. Como os fazendeiros começaram a defender a imigração, pois precisavam de funcionários na lavoura, surgiu outro modelo, a Imigração Subvencionada. Em 1871, foi aprovada na província de São Paulo uma lei que consentia o uso de dinheiro público para custear a vinda dos estrangeiros. Ficava a cargo do Império o subsídio das passagens e do deslocamento da população até as fazendas, e, aos empregadores, a formulação dos contratos, que tinham os direitos e deveres do imigrante. Esse foi um caminho sem volta, pois, em 1884, em São Paulo, os impostos para a compra de escravos subiram, tornando a imigração a maneira mais barata de custear o plantio e as colheitas nas fazendas. São Paulo se tornou o centro de absorção desse povo, em sua maioria italianos. Em 1871, foi criada a Associação Auxiliadora da Colonização, que organizava os interesses da elite paulista com as autoridades provinciais. A maior autonomia tanto da iniciativa privada quanto dos governos ajudou no estabelecimento do novo processo de imigração, aspecto perceptível a partir da proliferação de associações relacionadas ao assunto. Em 1886, surgiu a Sociedade Promotora da Imigração (Figura 2), em São Paulo, mesmo lugar que recebeu a Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás, na região central da capital, na qual os estrangeiros eram examinados por médicos, vacinados ou entravam em quarentena caso necessário. Depois disso, eram encaminhados para a Agência Oficial de Colonização e Trabalho, que, pelo nome, já indicava os dois rumos principais que tinham no Brasil: a lavoura, sobretudo no interior paulista; e as colônias, que ficavam majori- tariamente no Sul. Processos de imigração para o Brasil10 Figura 2. Imigrantes europeus posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo (c.1890). Fonte: Gaensly (1890, documento on-line). Até a década de 1930, grupos de imigrantes vieram sistematicamente para o Brasil. Ainda nas duas últimas décadas do século XIX, os sírio-libaneses aportaram em Santos e rumaram para São Paulo, porém a maioria permaneceu nos centros urbanos. O crescimento da cidade, financiado pelo dinheiro do café, ajudou na expansão comercial dos povos oriundos do Oriente Médio. Os imigrantes foram fundamentais para a economia do país, pois, além de assumirem o trabalho agrícola no campo, ocuparam territórios de fronteira, desenvolveram a produção voltada para o mercado interno e auxiliaram no estabelecimentodas atividades comerciais e industriais das cidades. Contudo, a contribuição desses imigrantes também foi cultural e social, pois, ao chegaram com suas tradições, línguas, rituais e religiões, misturados aos dos brasileiros, formaram novas práticas e representações culturais. 11Processos de imigração para o Brasil 3 Condição dos imigrantes e suas influências na formação econômica e cultural do Brasil A vinda de europeus não representou um processo simples, tanto na questão política quanto no assentamento desses estrangeiros, nos quais foram imbuídas as funções de povoar, de substituir a mão de obra escrava e até mesmo de ajudar na “civilização” social do Brasil. E este é um tópico importante, pois a questão da eugenia se fez presente como política de estado desde o século o XIX de maneira direta e indireta. Imigrante ideal No século XIX, os discursos de superioridade racial ganharam espaço com o avanço científico. A Origem das Espécies, publicada em 1859 por Charles Darwin (1809–1882), revolucionou a maneira de enxergar os seres vivos. Porém, a teoria da evolução atingiu diferentes áreas de conhecimento, inclusive as humanidades. O biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer (1820–1903) cunhou o conceito de darwinismo social, definindo que a evolução também ocorria na sociedade e que os povos estariam em diferentes etapas de civili- zação. Nessa linha de pensamento, os brasileiros seriam “menos evoluídos” do que os europeus, por exemplo, sobretudo na questão do trabalho. As justificativas para a imigração variavam, sendo a eugenia uma delas. Alguns cientistas acreditavam que as “raças puras” eram mais saudáveis, o que corroboraria o discurso supremacista perante os mestiços. Vale destacar que os negros não eram vistos como civilizados o suficiente, ou seja, apenas os brancos europeus tinham alcançado um grau mais alto nesse aspecto. No Brasil, a linha eugenista adquiriu adeptos ainda no século XIX. Um dos contribuidores para isso foi o diplomata e filósofo francês Arthur de Gobineau (1816–1882), que veio para cá em algumas missões científicas e escreveu o artigo L’émigration au Bresil (A imigração no Brasil), publicado em 1874, no qual é apresentada a teoria de que o país seria extinto em até 200 anos por causa da mestiçagem, pois ela, de maneira geral, enfraquecia não somente a saúde da população, como também degenerava os costumes. Esse pensamento sobre o ócio e a falta de comprometimento da população brasileira era comum naquela época. Mesmo que a eugenia como proposta estatal tenha se consolidado apenas nas primeiras décadas do século XX, estava enraizada nesses conceitos criados anteriormente. O “branqueamento” do povo brasileiro, composto por muitos negros, foi uma das formas de jus- tificar a imigração europeia. Somado a isso, esses estrangeiros trariam o Processos de imigração para o Brasil12 exemplo civilizatório, a ética do trabalho, que fortaleceria a cultura nacional, acelerando o progresso do país, um dos motivos da seletividade do incentivo. Alguns povos, como os asiáticos, sofriam preconceitos e isolamento, algo que aconteceu constantemente com a comunidade japonesa que começou a chegar no país em 1908. Em 1875, foi publicado o relatório intitulado Theses sobre a Colonização do Brasil, redigido pelo jornalista João Cardoso de Menezes e Souza (1827–1915) para ser apresentado ao Ministério de Agricultura, Commercio e Obras Públicas. Nele, o autor apresentava os ganhos sociais e econômicos da imigração, pelo valor que eles imbuiriam na sociedade brasileira. O documento está acessível gratuitamente na Biblioteca Digital do Senado Federal. Debate cultural A carga cultural desses imigrantes foi absorvida de maneira distinta em cada local. Nas colônias alemãs e italianas no Sul do país, os traços pangermanistas e nacionalistas estavam presentes, manifestando-se a partir da criação de escolas bilíngues ou apenas com o idioma estrangeiro, com a fundação de igrejas luteranas (no caso alemão) e rituais típicos das suas regiões. As comunidades enxergaram nesse aspecto “congregacionalista” uma forma de prosperarem. No campo, as técnicas agrícolas e pecuárias ajudaram no crescimento das produções locais, o que foi fundamental para o sucesso da empreitada. No Sudeste, sobretudo nas capitais e nas cidades adjacentes, o povoamento feito por italianos, sírio-libaneses, espanhóis e portugueses criou um melting pot cultural, influências que iam desde a língua, contribuindo para a construção de sotaques e gírias, passando pela alimentação e atingindo até mesmo a estética, como os exemplos arquitetônicos e urbanísticos que se desenvolveram depois. Como dito anteriormente, as primeiras experiências foram problemáticas para os imigrantes a ponto de as viagens serem proibidas pelos governos locais. Porém, assim como outros países americanos, o Brasil se beneficiou com a vinda dos imigrantes, pois o amálgama cultural auxiliou na própria consolidação da identidade nacional. Mesmo assim, é importante salientar as diversas disputas de poder que ocorreram naquele momento e posteriormente. 13Processos de imigração para o Brasil O programa instituído pelo governo e naqueles moldes solidificou a posição marginalizada do negro na sociedade. Com a abolição da escravatura em 13 de maio de 1888, a população escravizada já era escassa, isto é, havia um grande número de negros livres por causa das leis aprovadas desde 1850, assim como por políticas de alforria, como na Guerra do Paraguai, e por organizações abolicionistas organizadas com o foco de libertar os escravizados. Mas, ainda que livres, eles não tinham direito à cidadania plena, pois, mesmo o Brasil não aprovando leis segregacionistas como nos Estados Unidos, a exclusão do negro era social, política, econômica e cultural. Os europeus que vieram para cá traziam consigo o preconceito racial en- raizado, da mesma forma que os brasileiros nativos brancos tinham após três séculos de um regime compulsório e desumano. Muitas colônias e comunidades de imigrantes não aceitavam a convivência com a população negra, salvo em questões comerciais. A desigualdade social fica ainda mais perceptível quando, décadas após a Proclamação da República em 1889, famílias de imigrantes conseguiram prosperar e enriquecer, enquanto boa parte dos brasileiros se manteve à margem da sociedade. Para entender melhor a relação entre brancos e negros no Brasil no contexto da imigração, confira a obra: Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites século XIX, de Azevedo (2004). Entre os grupos de estrangeiros que vieram para o Brasil, além dos por- tugueses, os italianos foram os que se adaptaram mais facilmente, sobretudo pela proximidade da língua e dos costumes, haja vista que sua população era, em sua maioria, católica. Sua valorização se fez presente a ponto de que, até hoje, a ancestralidade é disputada, tanto no aspecto cultural quanto burocrático, como na emissão de cidadanias italianas. De modo geral, o processo de imigração no Brasil foi complexo e pouco organizado no nível federal. A chegada dos estrangeiros subsidiados pelo go- verno ocorreu a partir de um esforço massivo de fazendeiros e da elite política de certas províncias por diversos objetivos, seja na questão da ocupação das terras, seja no trabalho agrícola. É importante destacar que as regiões Norte e Nordeste não receberam o mesmo número de imigrantes do Sul e Sudeste Processos de imigração para o Brasil14 porque o eixo político e econômico, principalmente, havia se deslocado para esses locais. Os engenhos ainda eram produtivos e se mantiveram assim por décadas, mas era inegável o avanço exponencial das fazendas de café, transformando esse produto no carro-chefe da exportação brasileira. Além disso, os problemas nas fronteiras com a Argentina, o Uruguai e até mesmo o Paraguai fizeram com que a monarquia enfatizasse a ocupação desses locais. Mesmo assim, conflitos internos foram constantes,muitos dos quais com uma intenção separatista. AZEVEDO, C. M. M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites século XIX. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2004. COSTA, E. V. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 1999. GAENSLY, G. Imigrantes europeus posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo. São Paulo: Fundação Patrimônio da Energia de São Paulo - Memorial do Imigrante, c1890. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/f/f0/Imigrantes_no_p%C3%A1tio_central_da_Hospedaria_dos_Imigran- tes_de_S%C3%A3o_Paulo_2.jpg. Disponível em: 16 jul. 2020. HOLANDA, S. B. (org.). História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. (O Brasil Monárquico: Reações e Transações, t. 2, v. 5). MAGALHÃES, M. D. B. Alemanha, mãe-pátria distante: utopia pangermanista no sul do Brasil. 1993. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1993. WIKIMEDIA. Manifesto emigrazione San Paolo Brasile. 2009. Disponível em: https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Manifesto_Emigrazione_San_Paolo_Brasile.jpg. Acesso em: 16 jul. 2020. Leituras recomendadas ALVES, D. B. Cartas de imigrantes como fonte para o historiador: Rio de Janeiro – Turíngia (1852-1853). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 155–184, 2003. DAVATZ, T. Memórias de um colono no Brasil (1850). São Paulo: Livraria Martins, 1941. GONÇALVES, P. C. Escravos e imigrantes são o que importam: fornecimento e controle da mão-de-obra para a economia agroexportadora Oitocentista. Almanack, Guarulhos, n. 17, p. 397–361, 2017. 15Processos de imigração para o Brasil Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. GONÇALVES, P. C. Mercadores de braços: riqueza e acumulação na organização da emi- gração europeia para o Novo Mundo. 1999. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História Econômica, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. LIMA, A. B. A imigração para o Império do Brasil: um olhar sobre os discursos acerca dos imigrantes estrangeiros no século XIX. Revista Acadêmica Licencia & Acturas, Ivoti, v. 5, n. 2, p. 26–36, 2017. PÉREZ MELÉNDEZ, J. J. Reconsiderando a política de colonização no Brasil Imperial: os anos da Regência e o mundo externo. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 34, n. 68, p. 35–60, 2014. SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. SOUZA, J. C. M. Theses sobre a colonização do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1875. Processos de imigração para o Brasil16 DICA DO PROFESSOR A imigração no Brasil, no século XIX, foi um dos processos fundamentais para a construção da identidade nacional, além de apresentar características comuns aos processos históricos vividos no final dos oitocentos. Contudo, o Brasil não foi o único país das Américas a receber um grande contingente de europeus. Estados Unidos, Argentina, México, entre outros, também povoaram e abriram suas portas para os estrangeiros. Nesta Dica do Professor, você verá as diferenças entre os projetos imigratórios do Brasil e dos Estados Unidos. A comparação é importante para se entender os caminhos tomados pelos dois países e como ocorreu a organização de ambos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) "Os representantes da grande lavoura, desejosos de obterem braços que viessem substituir os negros, não aprovavam a política colonizadora levada a efeito pelo Governo Imperial. A oposição entre a orientação do poder central, que via o problema da colonização dentro do âmbito nacional, e os interesses dos fazendeiros de café se manifestaram várias vezes. O Governo visava a intensificar a imigração de povoamento, possibilitando ao colono o acesso à terra. Ponderava que só assim se conseguiria um tipo de imigração de efeitos realmente civilizadores. Esse sistema era o único capaz de atrair imigrantes. Os cafeicultores, por outro lado, queriam braços para as suas lavouras." Na região de São Paulo, o senador Nicolau Vergueiro, no final da década de 1840, recebeu a outorga por parte do Governo da província para estabelecer um programa de imigração. Assinale a alternativa que apresenta essa prática de imigração: No interior de São Paulo, Vergueiro estabeleceu o sistema de parceria, a partir do qual A) visava a trazer os imigrantes sem muitos custos. B) Vergueiro decidiu pelo sistema subvencionado, pois o Governo bancaria boa parte dos custos da viagem e da instalação dos europeus. C) A melhor forma encontrada por Vergueiro foi o sistema diplomático, pois instituía alianças vantajosas ao Brasil com a Europa. D) O sistema de capitanias foi o primeiro projeto político de imigração e foi retomado por Vergueiro na intenção de otimizar a colheita do café. E) Tanto Vergueiro quanto os latifundiários sulistas optaram pelo sistema de colonato, retomando a experiência romana da antiguidade. 2) No final do século XVIII, o continente Europeu passou por transformações importantes, como a Revolução Industrial e as Revoluções burguesas. Os centros urbanos cresceram exponencialmente. Cidades como Londres, Paris e Viena foram povoadas, mas sem ordenação. Boa parte do povo vivia em condições insalubres, tornando-se foco de epidemias virais. As transformações nos países europeus, portanto, impulsionaram a população a buscar a América. Qual grupo de imigrantes veio ao Brasil a partir das políticas de imigração? A) Após a independência, os portugueses necessitavam de programas de imigração para se instalarem no Brasil e se mantiveram como o maior grupo de europeus aqui. B) Desde o século XVI os africanos chegaram de forma massiva ao Brasil. Acredita-se que cerca de 4 milhões atravessaram o Atlântico, o que não foi diferente no século XIX. C) No século XIX, os italianos imigraram para o Brasil com o intuito de prosperarem. Ocuparam tanto a região Sul como a Sudeste, formando o maior grupo a se beneficiar da política de imigração. D) As constantes guerras e conflitos na região do Oriente Médio fizeram com que sírio- libaneses procurassem novos locais para se refugiarem. Dessa forma, esse povo decidiu imigrar ao Brasil. E) Assim como os portugueses, os espanhóis ocupam o Brasil desde o início da colonização, sobretudo nas regiões de fronteira com suas antigas colônias. A partir do século XIX, eles vieram com as políticas imigratórias. 3) Sobre o contexto político italiano no século XIX: "Na primeira metade do século XIX, a península itálica continuava, em boa medida, no mesmo quadro de fragmentação e divisão que a havia caracterizado nos séculos anteriores (...). Em termos políticos, houve a restauração e a reformatação da situação pré-napoleônica. O Sul da Itália foi reunido no Reino das Duas Sicílias, com um rei da família Bourbon, enquanto o Papa recuperava seus antigos territórios, os quais compreendiam quatro províncias: Emília-Romanha, Roma, Marcas e Úmbria (...)." Os europeus que decidiram imigrar ao Brasil tinham diferentes contextos e necessidades. No caso dos italianos, eles passaram por um processo parecido que influenciou diretamente a ida para a América. Assinale qual evento histórico influenciou no contexto acima: A) Depois do domínio napoleônico, o Congresso de Viena foi um acordo firmado entre os países no intuito de facilitar o acesso de europeus aos países americanos, sobretudo Brasil e Estados Unidos. B) Tanto aAlemanha quanto a Itália não eram países unificados até 1871. Isso influenciou diretamente na busca desse povo por outros países na intenção de prosperarem. C) Os países europeus vivenciaram a Revolução de 1848, que foi um movimento de contestação aos problemas econômicos e sociais desenvolvidos após a Revolução Industrial. D) A Guerra franco-prussiana alterou o mapa europeu, atingindo as regiões da Prússia, França e da Península Itálica, que ainda não eram unificadas e passavam por crises políticas. E) A partir de 1799, quando Napoleão Bonaparte deu o Golpe do 18 Brumário, ele começou a sua expansão territorial, obrigando italianos, alemães e ingleses a buscarem a América como alternativa. 4) A vinda dos imigrantes tinha uma alta carga econômica embutida, mas justificativas de cunho social e cultural também surgiram na época. A eugenia, movimento que visava ao aprimoramento racial, era embasado em conceitos e ideias criados no século XIX. Nesse momento, as diferenças raciais ganharam uma justificativa científica. No Brasil, no início do século XX, políticas sanitaristas e eugenistas caminhavam juntas a ponto de surgir a ideia do "branqueamento social", que ganhou força a partir da vinda dos imigrantes. Dentre as teorias a seguir, qual é a que mais se encaixa nas discussões acerca da importância do povoamento europeu do Brasil? A) A teoria da miscigenação teve início no século XIX, ganhou força nos primeiros anos da República e foi ocasionada pela imigração de brancos europeus. B) A teoria evolucionista de Charles Darwin atingiu as ciências naturais e históricas e embasou as políticas imigratórias para o Brasil. C) A teoria positivista de Auguste Comte baseou empiricamente os estudos políticos acerca da imigração. D) A teoria Naturalista não foi apenas utilizada pelos intelectuais que cunharam os conceitos sobre a imigração, mas também por escritores. E) O darwinismo social de Spencer aliou a evolução de Darwin com as ideias de inferioridade racial e justificou a importância de mais europeus no Brasil. 5) "A retomada dos esforços para atrair imigrantes ocorreu a partir de 1871 (...). A iniciativa partiu do governo provincial, o que mostra claramente as ligações entre a elite política de São Paulo e os fazendeiros de café e como, dadas as grandes somas envolvidas, o Governo já dispunha de uma sólida base financeira. Uma lei provincial de março de 1871 autorizou para as despesas de viagem. Começava assim a imigração subvencionada para São Paulo. Ao longo dos anos, a subvenção variou, incluindo a hospedagem por oito dias na capital, em um prédio construído pelo governo, e o transporte para as fazendas. A Hospedaria de Imigrantes do Brás, completada em 1888, em substituição à velha Hospedaria do Bom Retiro, foi edificada por iniciativa do presidente da província, Antônio de Queirós Teles. O prédio até hoje existente tinha capacidade para abrigar cerca de 4 mil pessoas." A partir dessa leitura e seu conhecimento sobre o tema, diga qual evento, dentre aqueles que impulsionaram a política de imigração, foi o mais importante: A) A Guerra do Paraguai (1865-1870) atingiu a população escrava, exigindo mais mão de obra para as lavouras. B) As leis abolicionistas deram tempo para os escravocratas se organizarem, sendo a política de imigração uma das alternativas. C) Com o Golpe da Maioridade, Dom Pedro II se tornou Imperador e assinou as leis que instituíram as políticas de imigração. D) A Revolução Farroupilha escancarou a necessidade de povoamento da região Sul, estimulando a vinda de imigrantes para o Brasil. E) A implantação das ferrovias foi parte do processo de imigração, pois a maioria dos trabalhadores era europeus, sobretudo ingleses. NA PRÁTICA Uma das questões fundamentais no processo imigratório brasileiro foi a escravidão que, no final do século XIX, já era muito criticada. Com a possibilidade de perder a principal mão de obra, os latifundiários viram na imigração uma saída economicamente viável. Uma situação comum em sala de aula é os professores se depararem com a necessidade de comparar os dois processos. Apesar de ser uma metodologia de ensino comum, essa comparação pode soar muito injusta, haja vista que foram diametralmente diferentes. Na Prática, você verá como Pedro abordou a escravidão (até 1888) e a imigração (até cerca de 1930) em sala de aula. Seu exemplo é uma forma de construir a argumentação acerca dessa temática de forma mais coerente. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Ibicaba revisitada outra vez: espaço, escravidão e trabalho livre no Oeste paulista A fazenda Ibicaba se tornou célebre pela importância na atividade agrícola paulista e pelas mudanças impostas em relação ao uso da mão de obra livre. Neste link, você confere o artigo de Felipe Landim Ribeiro Mendes sobre esse espaço. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Entre amor livre e fome, a vida na colônia Cecília, uma malsucedida experiência anarquista do Brasil Além das tradições sociais e culturais, as diversas manifestações políticas que surgiram na Europa no período das imigrações, como socialismo, anarquismo, etc., vieram para o Brasil com os imigrantes. A colônia Cecília foi um exemplo dessa pluralidade de pensamento. Saiba mais sobre ela neste link. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Acervo e pesquisa Neste link, você acessa o acervo digital do Museu da Imigração de São Paulo, que tem uma série de documentos escritos e fotográficos sobre a chegada dos imigrantes do século XIX em diante. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Imigração e ocupação em Campinas do final do século XIX ao início do século XX As cidades que receberam muitos imigrantes, como São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, tiveram sua organização social modificada sensivelmente. Neste link, você acessa uma dissertação que discute como os italianos ocuparam o interior de São Paulo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Imigrantes ou refugiados? Apesar de as políticas de imigração do século XIX não existirem mais, a chegada de estrangeiros ainda ocorre no Brasil. Assista, neste link, ao documentário de curta-metragem sobre a situação de muçulmanos no Brasil, feito pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Comunicação e Cultura (Celacc) da Universidade de São Paulo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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