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4. A posição depressiva e o nascimento do sujeito histórico Posição Esquizoparanóide e depressiva: conceitos kleinianos de organizações psicológicas que geram domínios distintos da experiência ou estados do ser. O sujeito não abandona a posição esquizoparanoide no “limiar” da posição depressiva; pelo contrário, ele estabelece, com maior ou menor êxito, uma relação dialética entre as duas: um relacionamento no qual cada estado cria, preserva e nega o outro, assim como ocorre com a mente consciente e inconsciente no modelo topográfico de Freud. Posição Esquizoparanóide – revisão: É um modo gerador de experiência impessoal e automático. Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self (por meio da identificação projetiva). A posição esquizoparanoide envolve um estado não reflexivo do ser; os pensamentos e sentimentos do sujeito são eventos que meramente ocorrem. Por que posição depressiva? P. 96 A Transição para a posição depressiva Ingressar na posição depressiva envolve um avanço psicológico monumental. É análoga ao encaixe de um quebra-cabeça, que cria lentamente uma concepção do todo a partir da soma das partes. Identificação Projetiva: é um dos principais veículos (em associação com a maturação psicofisiológica e a predominância de experiências boas) pelos quais o indivíduo move-se da posição esquizoparanoide para a posição depressiva. Na posição esquizoparanóide: o mundo objetal do bebê consiste de objetos parciais, que interagem ao longo de linhas pré-determinadas pelos dois maiores códigos instintuais. A experiência real, a não ser quando modificada pelo processo da identificação projetiva, irá simplesmente confirmar as preconcepções polarizadas do bebê sobre perigo absoluto e segurança serena. A interação com a mãe, que constitui a identificação projetiva, possibilita ao bebê modificar suas preconcepções instintuais, isto é, a aprender com a experiência. A antecipação não reflexiva do bebê quanto a uma rejeição sádica por parte da mãe pode ser enfraquecida pelo “processo continente.” Identificação Projetiva: Sistema Gerador de Significado. ___________ ADENDO: SOBRE A IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA Fonte: RIBEIRO, Marina Ferreira da Rosa. Uma reflexão conceitual entre identificação projetiva e enactment: O analista implicado. Cad. psicanal., Rio de Jeneiro , v. 38, n. 35, p. 11-28, dez. 2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-62952016000200001&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 30 mar. 2022. Pela identificação projetiva, o ego torna-se indiscernível do objeto, há um amálgama projetivo e introjetivo do ego e do objeto. Uma fantasia inconsciente entre analista e analisando, podendo ter um caráter mais agressivo e expulsivo, portanto defensivo, ou um caráter mais comunicativo, sendo que os mecanismos de cisão e projeção, em intensidades diversas, estão sempre implicados. Trata-se de uma forma específica de identificação que tem um caráter de expulsão violenta de partes do self para dentro do objeto, enfraquecendo o ego, gerando confusão e indiscriminação entre sujeito e objeto. Se a expulsão for de partes consideradas más, há intensificação da persecutoriedade em relação ao objeto. Se o que predominar for a projeção de partes boas, isso tanto pode tornar as relações de objeto mais amorosas, favorecendo a introjeção do bom objeto e gerando integração, quanto um enfraquecimento do ego, caso a projeção das partes boas seja excessiva. Quando a projeção de partes boas é demasiada, a mãe (e posteriormente outras pessoas) pode tornar-se o ideal do ego, favorecendo relações de dependência extrema e um empobrecimento do ego, pois os aspectos bons são todos atribuídos a um outro e não podem ser assimilados pelo ego. A identificação projetiva é compreendida como um elo de ligação, com um aspecto comunicativo, sendo que as qualidades psíquicas (no que diz respeito, a conter as angústias do bebê e do paciente) da mente da mãe e do analista são consideradas. Na identificação projetiva, na qual predominam os aspectos agressivos e expulsivos, prevalece um funcionamento psicótico. Na identificação projetiva, na qual sobressaem os aspectos comunicativos, estamos diante de um funcionamento não psicótico. __________ Integração de objetos bons e maus: Fatores maturacionais: diminuição da intensidade do instinto e um desdobramento das capacidades cognitivas, incluindo a estabilização da capacidade de teste de realidade e memória. Experiência real: A experiência satisfatória com objetos aumenta os sentimentos do bebê de vínculo e amor a partir de objetos internos bons, além de diminuir o medo do bebê de objetos maus. A partir da experiência satisfatória: objetos maus não precisam continuar a serem expulsos de forma violenta pela projeção e pela identificação projetiva. O resultado é uma diminuição da ansiedade persecutória. O objeto bom não necessita ser mantido tão distante, emocionalmente, do objeto mau e, ao longo do processo, aspectos bons e maus do self e objetos parciais bons e maus podem ser gradualmente experimentados como qualidades diferentes de um objeto único e de um self único. O Desenvolvimento da Subjetividade No processo de evoluir de um relacionamento com objetos parciais para um relacionamento com objetos inteiros, bem como de experiências cindidas do self para uma continuidade de experiências do self, o bebê se torna humano e potencialmente empático. Isso se deve a uma mudança na qualidade da experiência da Posição Depressiva: Capacidade melhorada de diferenciação self-objeto, desenvolvimento da capacidade de formação simbólica, capacidades aprimoradas de modulação afetiva, teste de realidade e memória. DIFERENCIAÇÃO ENTRE SÍMBOLO E SIMBOLIZADO Posição Esquizoparanóide: Símbolo e simbolizado – emocionalmente intercambiáveis: - imediatismo da experiência - concretude de pensamentos - engessamento no manifesto - experiência delirante O eu surge na separação entre símbolo e simbolizado: Símbolo / Eu / Simbolizado Eu – intérprete dos símbolos do sujeito, intermediário entre o self e a experiência sensorial. A partir do momento em que o bebê é intérprete das suas percepções – nasce enquanto sujeito – todas as experiências são vividas por ele, enquanto na posição esquizoparanóide, o bebê era vivido pelas experiências. Viver e criar as experiências, implica na possibilidade de empatia: projetar o seu estado mental em seu sentido do outro, considerando a possibilidade de que outras pessoas experimentem sentimentos e pensamentos de forma muito similar a si-mesmo. Surge o sentimento de preocupação com o outro. Preocupação: capacidade de sentir culpa [responsabilização] e desejo de fazer reparações. Experiência de destruição e reparação: Posição esquizoparanóide: onipotente – o objeto é desprovido de subjetividade. A angústia é de aniquilamento, desaparecimento. Posição depressiva: preocupação – o objeto possui subjetividade, é um objeto inteiro que o sujeito teme afastar, machucar ou matar. A angústia é o medo da perda do objeto. Luto: Doenças depressivas e maníaco-depressivas são defesas à angústia depressiva. O Manejo do Perigo na Posição Depressiva Renúncia à onipotência – cria o real como entidade separada dos pensamentos do indivíduo. O simbolizado – destinatário dos pensamentos individuais no real é liberto do símbolo – meus pensamentos e sentimentos sobre isso. Inveja e Ciúmes Inveja – Posição Esquizoparanóide - Manifestação da pulsão de morte – relacionamento com um objeto parcial, no qual o sujeito odeia o objeto por ter o que ele acha que não tem e desesperadamente precisa ter. O sujeito deseja roubar do objeto aquilo que puder e destruir aquilo que não puder roubar. Não é apenas o ódio do objeto por não se possuir um bem, mas também ódio do próprio bem: dono e o bem possuído são equivalentes. Ciúme – Posição Depressiva – Relação com objetos inteiros envolvendo3 pessoas. Manifestação do desejo do sujeito de ser amado da forma que ele sente que a outra pessoa (objeto do ciúme) é amada por uma terceira pessoa. Raiva pela exclusão de um relacionamento amoroso. Série de acordos desejo-medo estabelecidos, em grande parte, para lidar com a ambivalência: Deslocamento do ódio para um terceiro, como forma de preservar o objeto amado, por medo de perde-lo. A relação entre inveja e ciúme: O sujeito deseja ser amado e sente-se excluído da relação, por uma outra pessoa, a quem vê desfrutar, em vez dele, daquele relacionamento amoroso. Nem a inveja nem o ciúme são encontrados em formas puras. A criação da história Reparação: não desprezar o passado e começar novamente. Posição esquizoparanóide: não existe história – cada evento novo muda todos os anteriores, desprezando o passado. Posição depressiva: o sujeito sente (culposamente) que machucou uma pessoa e não há o que possa ser feito para escapar desse fato. Ele pode tentar uma reparação, mas não há como escapar do passado. Risco do abandono e sentimento de solidão – p. 88-89. A Responsabilidade pela ação na Posição Depressiva Reconhecer o papel do sujeito como intérprete da experiência – assumir a responsabilidade pelas suas ações. Responsabilidade – liberdade – fazer escolhas, nas quais sente graus variáveis de liberdade, dependendo da percepção da importância de fatores limitantes internos e externos. A Defesa Maníaca Pacientes que alcançaram a posição depressiva de forma instável. Incorpora elementos da Posição esquizoparanóide e depressiva. Defesa contra a ansiedade depressiva mas implica em modos de defesa característicos da posição esquizoparanóide: clivagem, negação, projeção, introjeção, identificação projetiva. Negação do indivíduo acerca da sua dependência de outras pessoas. Fantasia inconsciente de controle onipotente sobre os objetos, como resposta ao medo da perda. O paciente maníaco vive em um mundo atuador, onde os eventos falam por si-mesmos e são manejados de forma reativa. A Conquista da Ambivalência Odiar a mesma pessoa a quem se amou e, inconscientemente, ainda se ama e espera amar abertamente mais uma vez. A história não é reescrita. Ambivalência está para além dos sentimentos de amor e ódio em relação ao mesmo objeto, pois isso, pode se manifestar na relação com objetos parciais.
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