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Universidade do Sul de Santa Catarina Gestão da ManutençãoDisciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtu al 2012 Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual Reitor Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Corrêa Máximo Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitora de Administração Acadêmica Miriam de Fátima Bora Rosa Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação Institucional Valter Alves Schmitz Neto Diretora do Campus Universitário de Tubarão Milene Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Secretária-Geral de Ensino Solange Antunes de Souza Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretor Adjunto Moacir Heerdt Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessoria de Relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessoria DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos Alberto Areias Cláudia Berh V. da Silva Conceição Aparecida Kindermann Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de Inovação e Qualidade de EAD Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Felipe Fernandes Felipe Jacson de Freitas Jefferson Amorin Oliveira Phelipe Luiz Winter da Silva Priscila da Silva Rodrigo Battistotti Pimpão Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenação Cursos Coordenadores de UNA Diva Marília Flemming Marciel Evangelista Catâneo Roberto Iunskovski Auxiliares de Coordenação Ana Denise Goularte de Souza Camile Martinelli Silveira Fabiana Lange Patricio Tânia Regina Goularte Waltemann Coordenadores Graduação Aloísio José Rodrigues Ana Luísa Mülbert Ana Paula R.Pacheco Artur Beck Neto Bernardino José da Silva Charles Odair Cesconetto da Silva Dilsa Mondardo Diva Marília Flemming Horácio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janaína Baeta Neves Jorge Alexandre Nogared Cardoso José Carlos da Silva Junior José Gabriel da Silva José Humberto Dias de Toledo Joseane Borges de Miranda Luiz G. Buchmann Figueiredo Marciel Evangelista Catâneo Maria Cristina Schweitzer Veit Maria da Graça Poyer Mauro Faccioni Filho Moacir Fogaça Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Fontanella Roberto Iunskovski Rose Clér Estivalete Beche Vice-Coordenadores Graduação Adriana Santos Rammê Bernardino José da Silva Catia Melissa Silveira Rodrigues Horácio Dutra Mello Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn José Carlos Noronha de Oliveira José Gabriel da Silva José Humberto Dias de Toledo Luciana Manfroi Rogério Santos da Costa Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Sergio Sell Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Coordenadores Pós-Graduação Aloísio José Rodrigues Anelise Leal Vieira Cubas Bernardino José da Silva Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de Paula Karla Leonora Dayse Nunes Letícia Cristina Bizarro Barbosa Luiz Otávio Botelho Lento Roberto Iunskovski Rodrigo Nunes Lunardelli Rogério Santos da Costa Thiago Coelho Soares Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Gerência Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distância Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Adenir Soares Júnior Alessandro Alves da Silva Andréa Luci Mandira Cristina Mara Schauffert Djeime Sammer Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva Michels Fabricio Botelho Espíndola Felipe Wronski Henrique Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceição Jorge Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da Silva Luana Tarsila Hellmann Luíza Koing Zumblick Maria José Rossetti Marilene de Fátima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosângela Mara Siegel Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda Liordina Heerdt Gestão Documental Lamuniê Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de Medeiros Jaliza Thizon de Bona Guilherme Henrique Koerich Josiane Leal Marília Locks Fernandes Gerência Administrativa e Financeira Renato André Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandré Prudêncio Daniel Contessa Lisboa Naiara Jeremias da Rocha Rafael Bourdot Back Thais Helena Bonetti Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Janaína Baeta Neves (Gerente) Aracelli Araldi Elaboração de Projeto Carolina Hoeller da Silva Boing Vanderlei Brasil Francielle Arruda Rampelotte Reconhecimento de Curso Maria de Fátima Martins Extensão Maria Cristina Veit (Coord.) Pesquisa Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem) Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Cecília e Souza (Coord.) Paula Sanhudo da Silva Marília Ignacio de Espíndola Renan Felipe Cascaes Gestão Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Capacitação e Assessoria ao Docente Alessandra de Oliveira (Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Elizete De Marco Fabiana Pereira Iris de Souza Barros Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli Prado Simone Zigunovas Tutoria e Suporte Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte Nordeste) Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Andreza Talles Cascais Daniela Cassol Peres Débora Cristina Silveira Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Francine Cardoso da Silva Janaina Conceição (Núcleo Sul) Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Kelin Buss Liana Ferreira Luiz Antônio Pires Maria Aparecida Teixeira Mayara de Oliveira Bastos Michael Mattar Patrícia de Souza Amorim Poliana Simao Schenon Souza Preto Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch (Gerente) Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira(Coord. Grad./DAD) Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Aline Cassol Daga Aline Pimentel Carmelita Schulze Daniela Siqueira de Menezes Delma Cristiane Morari Eliete de Oliveira Costa Eloísa Machado Seemann Flavia Lumi Matuzawa Geovania Japiassu Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo João Marcos de Souza Alves Leandro Romanó Bamberg Lygia Pereira Lis Airê Fogolari Luiz Henrique Milani Queriquelli Marcelo Tavares de Souza Campos Mariana Aparecida dos Santos Marina Melhado Gomes da Silva Marina Cabeda Egger Moellwald Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Pâmella Rocha Flores da Silva Rafael da Cunha Lara Roberta de Fátima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher Verônica Ribas Cúrcio Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues Vanesa Montagna Avaliação da aprendizagem Claudia Gabriela Dreher Jaqueline Cardozo Polla Nágila Cristina Hinckel Sabrina Paula Soares Scaranto Thayanny Aparecida B. da Conceição Gerência de Logística Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Logísitca de Materiais Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando Sardão da Silva Fylippy Margino dos Santos Guilherme Lentz Marlon Eliseu Pereira Pablo Varela da Silveira Rubens Amorim Yslann David Melo Cordeiro Avaliações Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.) Ana Paula de Andrade Angelica Cristina Gollo Cristilaine Medeiros Daiana Cristina Bortolotti Delano Pinheiro Gomes Edson Martins Rosa Junior Fernando Steimbach Fernando Oliveira Santos Lisdeise NunesFelipe Marcelo Ramos Marcio Ventura Osni Jose Seidler Junior Thais Bortolotti Gerência de Marketing Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente) Relacionamento com o Mercado Alvaro José Souto Relacionamento com Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Jeferson Pandolfo Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de Oliveira Mayara Pereira Rosa Luciana Tomadão Borguetti Assuntos Jurídicos Bruno Lucion Roso Sheila Cristina Martins Marketing Estratégico Rafael Bavaresco Bongiolo Portal e Comunicação Catia Melissa Silveira Rodrigues Andreia Drewes Luiz Felipe Buchmann Figueiredo Rafael Pessi Gerência de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.) Alberto Regis Elias Alex Sandro Xavier Anne Cristyne Pereira Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Daiana Ferreira Cassanego Davi Pieper Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Fernanda Fernandes Frederico Trilha Jordana Paula Schulka Marcelo Neri da Silva Nelson Rosa Noemia Souza Mesquita Oberdan Porto Leal Piantino Multimídia Sérgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri Fernando Gustav Soares Lima Josué Lange Conferência (e-OLA) Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.) Bruno Augusto Zunino Gabriel Barbosa Produção Industrial Marcelo Bittencourt (Coord.) Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon (Gerente) Ana Paula Batista Detóni André Luiz Portes Carolina Dias Damasceno Cleide Inácio Goulart Seeman Denise Fernandes Francielle Fernandes Holdrin Milet Brandão Jenniffer Camargo Jessica da Silva Bruchado Jonatas Collaço de Souza Juliana Cardoso da Silva Juliana Elen Tizian Kamilla Rosa Mariana Souza Marilene Fátima Capeleto Maurício dos Santos Augusto Maycon de Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Priscilla Geovana Pagani Sabrina Mari Kawano Gonçalves Scheila Cristina Martins Taize Muller Tatiane Crestani Trentin Fabrizio Leal Freitas Gestão da Manutenção Livro didático Design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Palhoça UnisulVirtu al 2012 Copyright © UnisulVirtual 2012 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Edição – Livro Didático Professor Conteudista Fabrizio Leal Freitas Design Instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Daiana Ferreira Cassanego Revisão Amaline Mussi 620.0046 F93 Freitas, Fabrizio Leal Gestão da manutenção : livro didático / Fabrizio Leal Freitas ; design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça : UnisulVirtual, 2012. 194 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Manutenção produtiva total. 2. Manutenção ‑ Planejamento. 3. Confiabilidade (Engenharia). I. Silva, Marina Melhado Gomes da. II. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - A importância estratégica da gestão da manutenção. . . . . . 15 UNIDADE 2 - Conceitos e técnicas fundamentais para a gestão da manutenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 UNIDADE 3 - Filosofias e métodos de manutenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 UNIDADE 4 - Indicadores de desempenho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 185 Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Gestão da Manutenção. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre‑se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e‑mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. 7 Palavras do professor Caro/a aluno/a, Seja bem‑vindo/a à disciplina Gestão da Manutenção! Na sociedade, em maior ou menor grau, todos nós somos dependentes, hoje, de bens materiais. Automóveis, computadores, telefones celulares e, até mesmo, as nossas residências são exemplos de recursos cuja ausência afetaria as nossas vidas. O caso das empresas é semelhante. Toda organização depende de recursos materiais para a sua operação, seja ela uma pequena lanchonete, uma fabricante de computadores de médio porte ou uma grande exploradora de petróleo. Seja qual for o porte ou ramo de atuação da empresa, há a preocupação de manter os recursos em funcionamento para que as operações da organização não sejam comprometidas. Trata‑se de uma regra geral para qualquer empresa com um mínimo de gerenciamento racional. Já, em empreendimentos com alto valor agregado, como, por exemplo, uma planta de geração elétrica ou uma plataforma de petróleo, há uma preocupação ainda maior. Nestes casos, o objetivo não é somente conservar os recursos (também chamados de “ativos”), mas operá‑los de forma que o retorno de investimento seja maximizado sem riscos para a segurança das pessoas, instalações e meio ambiente. A área de conhecimento que lida com estas questões é chamada de Gestão da Manutenção. O material a seguir foi elaborado para trazer à luz conhecimentos essenciais sobre esta disciplina. Não há a pretensão de ser um guia definitivo sobre o assunto, mas sim Universidade do Sul de Santa Catarina de estabelecer uma porta de entrada para uma imensidão de oportunidades de estudo e desenvolvimento profissional. Bons estudos! Fabrizio Leal Freitas 10 Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá‑lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: ④o livro didático; ④o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); ④as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); ④o Sistema Tutorial. Ementa A manutenção como uma função estratégica. Confiabilidade de sistemas. Técnicas de análise de falhas: Análise do Efeito e Modo de Falhas (FMEA), Análise da Árvore de Falhas (FTA).Abordagens básicas de manutenção: manutenção corretiva, manutenção preventiva, manutenção preditiva. Planejamento e controle da manutenção. Manutenção Produtiva Total (TPM). Manutenção Centrada em Confiabilidade (RCM). Manutenção terceirizada e contratos de manutenção. Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos da disciplina Geral Compreender a problemática da manutenção de ativos industriais e estabelecer técnicas e métodos de gestão que o profissional da área de produção industrial deve conhecer e aplicar para minimizar os riscos e custos das operações de manufatura. Específicos ④Estabelecer a importância da gestão da manutenção para as empresas contemporâneas; ④Compreender os conceitos fundamentais e técnicas aplicáveis nas operações de gestão da manutenção; ④Conhecer as principais filosofias de manutenção e as suas diferenças; ④ Identificar a importância dos indicadores de desempenho para a gestão da manutenção; ④Entender a importância das novas tecnologias para a gestão da manutenção. Carga horária A carga horária total da disciplina é 60 horas‑aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de 12 Gestão da Manutenção estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 4 Unidade 1 – A importância estratégica da gestão da manutenção (8 h/a) Aborda a definição de manutenção, sua origem e como as abordagens evoluíram ao longo das últimas décadas. Discute o papel estratégico das operações de manutenção e o seu impacto nos resultados de negócio das organizações. Unidade 2 – Conceitos e técnicas fundamentais para a gestão da manutenção (16 h/a) Apresenta os principais conceitos relacionados com a gestão da manutenção e discute as principais atividades e técnicas de apoio relacionadas com a área. Unidade 3 – Filosofias e métodos de manutenção (16 h/a) Discute as principais filosofias de manutenção que podem ser adotadas na gestão da manutenção. Aborda, também, dois dos principais métodos modernos aplicados tipicamente como melhores práticas de manutenção. Unidade 4 – Indicadores de desempenho (16 h/a) Apresenta os indicadores de desempenho típicos e defende a sua importância para o gerenciamento eficaz da manutenção. Define como calcular os custos relacionados com a manutenção e discute como estes podem ser reduzidos. 13 Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de atividades/Cronograma ④Verifique com atenção o EVA, organize‑se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. ④Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. ④Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) 14 UNIDADE 1 A importância estratégica da gestão da manutenção Objetivos de aprendizagem ④Entender o significado e conceito do termo manutenção. ④Compreender a evolução da manutenção ao longo dos anos. ④Discutir as necessidades da indústria em relação à manutenção. ④Reconhecer a importância das atividades de manutenção para a estratégia das empresas. Seções de estudo Seção 1 O que é manutenção? Seção 2 A origem e evolução da manutenção Seção 3 O valor estratégico da manutenção para as organizações 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Sem dúvida alguma, você já se familiarizou com o termo manutenção. Pare por um momento e relembre: que tipo de situação vem a sua memória, quando você pensa nessa palavra? Muito provavelmente, você se lembrou de algum objeto, como, por exemplo, um aparelho de som ou, até mesmo, de seu carro, que foi levado para o conserto, porque apresentou algum mau funcionamento. Sem dúvida era algo que o/a incomodava e que deveria ser solucionado. Logo, manutenção é sinônimo de conserto? Sim e não. Sim, porque, sem dúvida, a manutenção envolve, invariavelmente, o ato de consertar algo. E, não, porque não se trata somente disso. Veremos esta questão no decorrer da primeira seção desta unidade. Continuando o raciocínio, eu lhe pergunto: você se recorda de como a falta deste seu objeto o/a afetou enquanto estava sem funcionar ou ausente? Muito provavelmente você teve a sua rotina alterada, de modo mais ou menos drástico, dependendo de quão crítico era o objeto em questão para você. Pegando o exemplo do automóvel, sem dúvida você teve de arrumar um substituto para se locomover (ir a pé, de bicicleta, pegar um transporte coletivo, ou arrumar outro carro – seja alugado ou emprestado). Agora, façamos um exercício mental: imagine que você viva no século 19. Você acha que as suas necessidades de manutenção seriam as mesmas, quando comparadas com as atuais? Algumas talvez fossem, mas, na maioria dos casos, a resposta seria “não”. Um exemplo: no passado, os homens faziam a barba usando navalhas. Estes instrumentos deviam ser afiados de tempos em tempos, senão começavam a machucar a pele do usuário. Hoje em dia, nenhum homem precisa fazer isso, pois existem lâminas descartáveis. Compram‑se, usam‑se e jogam‑se fora. Uma mudança considerável, não? 16 Gestão da Manutenção Então, é certo afirmar que a manutenção foi se modificando ao longo do tempo, de forma a acompanhar a evolução da sociedade. Esta é a questão que será discutida na segunda seção da presente unidade. Por último, analise o seguinte: é certo afirmar que, dependendo da profissão do indivíduo, um ou outro objeto é mais crítico do ponto de vista da manutenção? Sim, sem dúvida. Se você for um motorista de táxi, o carro é muito mais crítico do que se você for um escritor que trabalha em casa. Neste último caso, o computador seria o recurso crítico. Nas empresas, isso também acontece. Cada uma tem um ou mais recursos críticos, que devem ser mantidos em funcionamento para que a operação da empresa não seja comprometida. O grau de dependência varia de empresa para empresa, mas, de um modo geral, é certo afirmar que todas dependem das atividades de manutenção. Isto é verdade, porque, quanto mais a tecnologia avança, maior é a quantidade e complexidade de equipamentos aplicados nas organizações. Em outras palavras, cada vez mais a manutenção é uma questão estratégica para o negócio das empresas. Esta é a questão central da unidade e será discutida na terceira e última seção. Vamos iniciar? Seção 1 – O que é manutenção? Quando se fala em manutenção, a maioria das pessoas pensa no ato de consertar alguma coisa. Mas você já parou para pensar no real significado do termo? Etimologicamente, a palavra “manutenção” é o substantivo derivado do verbo manter, que vem da união dos termos em latim “manus” (mão) e “tenere” (segurar). Juntos, significam “segurar com a mão” ou “ter à mão”, o que, interpretado de maneira mais ampla, expressa a ideia de “estar disponível para ser utilizado”. 17 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Então, o termo “manutenção” não significa somente restabelecer o funcionamento de um dado objeto mas também conservar as suas boas condições, para que este possa desempenhar corretamente a função para o qual foi projetado. Entretanto, note que este é o significado da palavra, mas de uma forma genérica. Ela pode ser utilizada em diversos contextos, como, por exemplo: “devemos cuidar do meio ambiente para garantir a manutenção da vida humana no planeta”; “ele é responsável pela manutenção do prédio”; ou ainda, “o acidente foi causado por falhas na manutenção da aeronave”. Todos estes exemplos são usos corretosda palavra manutenção, mas nem todos nos interessam, quando estamos buscando aplicar os conhecimentos como profissionais de Gestão da Produção Industrial. Sendo assim, é interessante que usemos o conceito de manutenção de forma mais restrita. Não é somente a “manutenção” que mais nos interessa nesta disciplina, mas sim a “manutenção industrial”, ou seja, o conceito de consertar ou manter em funcionamento os ativos das plantas industriais. “Ativo”, neste contexto, é tudo aquilo que a empresa utiliza em suas operações produtivas, sejam máquinas, ferramentas, equipamentos e as próprias instalações físicas. Então, proponho a você um acordo: daqui para frente, a menos que dito o contrário, vamos considerar “manutenção” e “manutenção industrial” como sinônimos ao abordarmos esta área do conhecimento. Esta, inclusive, não é uma premissa somente deste livro. Você vai se deparar com ela em muitas das referências bibliográficas aqui utilizadas. Vejamos, assim, como alguns autores definem manutenção. A norma NBR 5462 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) considera a manutenção como a “combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida.” (ABNT, 1994). Branco (2000, p. 56) segue uma linha similar ao definir a manutenção como “todas as ações necessárias para que um componente, equipamento ou sistema seja conservado ou restaurado, de modo a poder permanecer de acordo com uma 18 Gestão da Manutenção condição especificada.” Já, sob o ponto de vista específico das plantas industriais, Slack (2002, p. 643) define a manutenção como “a forma pela qual as organizações tentam evitar as falhas ao cuidar de suas instalações físicas.” Para Kardec e Nascif (2001, p. 23), manutenção é garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção e preservação do meio ambiente, com confiabilidade, segurança e custos adequados. Existe, então, em todas as empresas fabris, a preocupação em manter os seus recursos físicos funcionando em perfeitas condições. Agora, de um ponto de vista prático, quais são os interessados nas atividades de manutenção? A figura 1.1 abaixo, adaptada de Kobbacy e Murthy (2008), mostra quais são os interessados nas atividades de manutenção de uma empresa qualquer. Sem dúvida, isso varia de acordo com as características da organização (setor, porte, estratégia, etc.), mas conhecer a interação entre as partes, mesmo que genericamente, é útil na análise de caso em uma empresa específica. Figura 1.1 – Interessados na manutenção de um ativo Regulador Prestador de serviços Governo Proprietário Cliente (usuário) Ativo Saídas (produtos/ serviços) Operador Fonte: Adaptação de Kobbacy e Murthy, 2008. 19 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Então, a manutenção de qualquer ativo da empresa é de interesse de pessoas em vários contextos, tanto dentro quanto fora da organização. A seguir, vamos analisar cada um deles. ④Proprietário: é a pessoa ou organização que pagou pelo ativo e mantém a sua propriedade. Tipicamente interessa‑se em manter a operação da empresa para garantir o faturamento, além de estender ao máximo a vida útil do bem, de modo que o investimento na sua aquisição seja rentável. ④Cliente (usuário): é quem se beneficia da função que o ativo desempenha. O principal interesse, neste caso, é a disponibilidade do ativo, que deve estar sempre pronto e em pleno funcionamento para suprir a necessidade do usuário de forma imediata e eficaz. ④Saídas (produtos/serviços): os ativos influenciam diretamente as saídas da empresa, ou seja, o fornecimento de produtos ou a prestação de serviços para os clientes. Neste caso, há o interesse não só em ser disponível para suprir as necessidades dos usuários de maneira eficaz (note, na figura, que há uma ligação indireta com os clientes) mas também em cumprir a função de forma eficiente, ou seja, gastando o mínimo de recursos. ④Operador: em uma planta produtiva, muitas vezes o ativo é um equipamento que deve ser manuseado para cumprir as suas operações de manufatura. Do ponto de vista na manutenção, o interesse do trabalhador que cumpre este papel tipicamente está nos aspectos de segurança. ④Prestador de serviços: é o profissional ou equipe responsável pela manutenção, normalmente interessado na segurança e facilidade de manutenção do ativo. O serviço pode ser realizado internamente à empresa ou de forma terceirizada, ou seja, por profissionais externos à empresa em que o ativo está instalado. ④Regulador: são órgãos de fiscalização, normalmente governamentais. Eles atuam de modo a garantir a correta manutenção de ativos que afetem a segurança da população e/ou, potencialmente, sejam agressivos ao meio ambiente. 20 Gestão da Manutenção ④Governo: em alguns casos, o governo age diretamente nas empresas e exige certos níveis de qualidade nas atividades de manutenção. Tal ocorre principalmente em empreendimentos que afetem a saúde da população ou a proteção do meio ambiente, ou que sejam considerados de primeira necessidade. Neste último caso, o governo pode exigir níveis mínimos de disponibilidade para assegurar que os clientes tenham as suas necessidades atendidas (é o caso, por exemplo, de usinas de geração de energia elétrica). Vejamos, então, alguns exemplos: o de uma padaria, de um posto de combustível e de uma companhia aérea. Acompanhe o quadro abaixo e a explicação dos exemplos a seguir. Quadro 1.1 – Exemplos da manutenção de ativos nas empresas Tipo de empresa Padaria Posto de combustível Companhia aérea Ativo Forno industrial Bomba de combustível Avião Proprietário Dono da padaria Dono do posto Donos da companhia e seus acionistas Cliente (usuári o) Clientes da padaria Motoristas de veículos Passageiros Saídas (produtos/servi ços) Pães Combustível Serviço de transporte aéreo Operador Padeiro Frentista Piloto, copiloto e comissários de voo Prestador de serviços Profissional terceirizado sob eventos Empresa terceirizada sob contrato Setor de manutenção da empresa Regulador Vigilância sanitária Intituto de Pesos e Medidas (IPEM) Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) Governo ‑ Prefeitura Municipal Secretaria de Aviação Civil Fonte: Elaboração do autor, 2011. Unidade 1 21 Universidade do Sul de Santa Catarina O primeiro exemplo é o caso de um forno industrial de uma padaria. O proprietário é o dono da padaria, cujo interesse é vender a maior quantidade de pães possível. Para isso, o forno tem que estar funcionando “a pleno vapor”, principalmente nos horários de pico de venda de pães. Ele também quer, obviamente, que o dinheiro investido no forno tenha valido a pena. Então, quanto maior a quantidade de pãezinhos que o forno puder assar até ser sucateado, melhor. Os clientes são as pessoas que vão até a padaria para comprar pães (que é a saída do processo). Qualquer um que entrou em uma padaria e não conseguiu comprar pães porque “o forno está em manutenção” sabe do que estamos falando. Ao entrar em uma padaria, você quer sair rapidamente com um saco de pães quentinhos, e não com as mãos abanando e a obrigação de encontrar outra padaria. Neste caso, o operador é o padeiro, que usa o forno para assar os pães. Ele sem dúvida não quer se machucar durante o trabalho, então o forno não pode causar queimaduras ou choques elétricos por falta de manutenção. Além dos acidentes, há também as questões de saúde no longo prazo, então o forno não pode tornar o local de trabalho insalubre (elevar demais a temperatura ambiente, gerar fumaça demais, e assim por diante). Caso o forno apresente alguma falha, o dono da padaria deverá entrar em contato com um técnico habilitado para realizar o conserto, normalmente realizado por um profissional terceirizado. É que os fornos industriais não apresentam (ou não deveriam apresentar) problemas com frequênciasuficiente que justifique a contratação de alguém para realizar este tipo de trabalho. O prestador de serviços tem interesse em que o forno seja de fácil conserto. Ele não quer, por exemplo, que o forno tenha de ser totalmente desmontado para trocar uma resistência (no caso de fornos elétricos). Já o regulador, no caso da padaria, é a vigilância sanitária, a qual fiscaliza as questões que afetam a saúde pública. Se a manutenção 22 Gestão da Manutenção do forno for realizada de modo inadequado (lubrificação mal feita, a ponto de afetar o asseio dos alimentos), o fiscal pode notificar o dono do problema, porque isso afeta a qualidade dos pães consumidos pelos clientes. O governo não influencia neste caso, principalmente porque as atividades da padaria trazem pouco ou nenhum risco para a sociedade, sob o ponto de vista da manutenção. Agora vamos analisar o segundo exemplo: a bomba de um posto de combustível. Neste caso, o proprietário é o dono do posto que, de forma análoga ao dono da padaria, quer que o seu negócio esteja 100% operacional na maior parte do tempo. Os clientes são os motoristas, os quais têm interesse em que as bombas de combustível estejam funcionando quando for necessário abastecer os seus veículos. Além da disponibilidade, há também nos clientes o interesse em que a bomba esteja com a manutenção bem feita, de modo a evitar derramamentos que possam manchar a pintura do veículo, ou pior, causar um incêndio. Os frentistas do posto são os operadores do equipamento. Há também neles o interesse em que a manutenção seja realizada de forma correta, de modo que a sua segurança e saúde não sejam postas em risco. No caso do posto de combustível, assim como no caso da padaria, a manutenção das bombas é realizada por profissionais terceirizados que agem como prestadores de serviço. Entretanto, ao contrário da padaria, neste caso os serviços não são realizados eventualmente, mas, sim, periodicamente, devido à maior complexidade e periculosidade do equipamento. Então, neste exemplo, o posto de gasolina detém um contrato com uma empresa especializada em manutenção de bombas de combustível. O regulador, no caso do posto de combustível, é o Instituto de Pesos e Medidas (IPEM). Este órgão, além de fiscalizar as questões de segurança afetadas pelas atividades de manutenção, 23 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina também verifica a regularidade das bombas sob o ponto de vista de sua aferição. Isso acontece porque os clientes devem ser protegidos contra fraudes, como o bombeamento de menos combustível do que o pago pelo motorista. Por último, o papel do governo é realizado pela prefeitura municipal, que fiscaliza e emite o alvará de funcionamento para o posto de combustível. Este documento tem como pré‑requisito, entre outras permissões, a comprovação de manutenção periódica das bombas de combustível. Sendo os postos um estabelecimento que lida com materiais inflamáveis, há a preocupação com a manutenção, porque esta afeta, diretamente, o bem‑estar da população. Seguiremos, então, para o terceiro e último exemplo. Vamos analisar os interessados na manutenção de aviões de uma companhia aérea. Ao contrário de uma padaria e um posto de combustível, uma companhia aérea tipicamente é uma empresa de porte maior. Neste caso, então, o proprietário não é somente o dono (ou donos) da companhia, mas também todos os seus acionistas. Os donos têm a preocupação de estender ao máximo a vida útil dos aviões, já que estes são ativos que demandam um alto investimento. Os acionistas podem ser inúmeros, principalmente se a empresa tiver capital aberto na bolsa de valores. Qualquer pessoa comum que tenha comprado ações da empresa aérea é um potencial interessado nas atividades de manutenção das aeronaves. Pense no seguinte: caso você tivesse investido em ações de uma empresa aérea, você gostaria de perder dinheiro porque houve um acidente causado por falhas de manutenção de um avião da empresa? Qualquer pessoa que é passageiro dos aviões da companhia faz o papel de cliente. Neste exemplo, mais do que nos anteriores, a manutenção é uma preocupação essencial dos usuários. 24 Gestão da Manutenção Isso é verdade, porque os aviões são máquinas extremamente complexas, colocadas em operação em condições também altamente perigosas. Desta forma, os clientes têm grande interesse em que as atividades de manutenção dos aviões da empresa sejam realizadas de forma criteriosa e eficaz. E isso é verdade não só para evitar acidentes fatais, o que seria a situação mais drástica de uma gestão ineficaz da manutenção, mas também para evitar infortúnios menores que afetem os clientes, como atrasos e cancelamentos de voos. Neste exemplo da companhia aérea, não há somente um operador, mas vários deles. O piloto e o copiloto são os principais, porque têm a missão de transportar os passageiros com segurança e conforto. Estes estão altamente interessados na eficácia da manutenção, e não só por questões de segurança (afinal eles também estão a bordo do avião) mas também para que o trabalho deles seja mais fácil de ser executado. Além dos pilotos, há também como operadores os comissários de voo. Estes também são afetados pelas atividades de manutenção da aeronave, embora de forma menos drástica do que os pilotos. Sistemas secundários como os interfones, fornos, geladeira e a iluminação da cabine, quando mal mantidos, podem tornar a tarefa dos comissários mais difícil. Com certeza, já ficou evidente para você que, para uma companhia aérea, a manutenção é uma questão crítica. Sem dúvida, isto é verdade. Tanto que, neste caso, os prestadores de serviço detêm um papel crucial e, raramente, são terceirizados. A própria empresa possui um setor de manutenção com mecânicos especializados, cuja atribuição é manter a sua frota operando de forma segura e pelo máximo de tempo possível. Além disso, há também redundância nos cuidados com a manutenção da aeronave, porque, além dos mecânicos, faz parte do papel dos pilotos a execução de inspeções de rotina entre pousos e decolagens. Unidade 1 Ninguém gosta de pensar nisto quando está voando, mas os aviões são basicamente um cilindro de metal voando a 900 km/h em um ambiente com temperaturas externas de 50 graus negativos – a 10km de altitude. 25 Universidade do Sul de Santa Catarina Neste exemplo, também mais do que nos anteriores, o papel do regulador é bem mais forte. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) é quem fiscaliza as atividades de manutenção das aeronaves das empresas aéreas. Há rigor tanto na execução de operações de manutenção preventiva em aviões que estão em pleno funcionamento quanto naqueles que sofreram alguma falha e devem ser reparados. Para finalizar o exemplo, há a atuação do governo nas empresas aéreas, papel que é cumprido pela Secretaria de Aviação Civil. A gestão da manutenção das empresas é afetada diretamente por este órgão, o qual toma como base as avaliações técnicas da ANAC para aprovar concessões e subsídios para as empresas aéreas. Já, indiretamente, protege os interesses dos passageiros através da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), a qual exige níveis mínimos de qualidade de serviço (índices de atrasos, cancelamentos), níveis estes que dependem diretamente da eficácia das atividades de manutenção. Espero que estes exemplos tenham ilustrado melhor a multiplicidade de interessados nas atividades de manutenção das empresas e os diferentes pontos de vista. A seguir, você vai ver como a manutenção surgiu e evoluiu na História da Humanidade e quais os principais avanços que são relevantes para o nosso estudo do assunto. Seção 2 – A origem e evolução da manutenção Assim como em outros campos de conhecimento, a manutenção tem evoluído ao longo dos anos. Não é difícil imaginar que, antigamente, as necessidades de manutenção em empresas eram bem diferentes do que hoje em dia. Ou você ainda conhece alguém que saia para comprar lubrificantepara máquinas de escrever? Desde os primórdios da humanidade, até o século XIX, praticamente todos os utensílios eram fabricados de maneira artesanal. Isso significa que, em princípio, uma única pessoa executava todas as etapas do processo. Nesta época, a manutenção 26 Gestão da Manutenção não era uma grande preocupação, principalmente porque os equipamentos eram simples, pouco automatizados e a demanda de produção muito baixa. As empresas, normalmente formadas por poucos indivíduos, lidavam com a manutenção de ferramentas e instrumentos de maneira pontual e pouco especializada, porque as falhas pouco afetavam a eficácia do processo produtivo. Este cenário começou a se modificar em meados do século XX, com a expansão da Revolução Industrial. Este movimento, iniciado no Reino Unido, no final do século XIX, consistiu em uma série de mudanças tecnológicas que tiveram um enorme impacto nas operações de produção e, consequentemente, no modo como a indústria lidava com a manutenção. Os processos, antes basicamente manuais, passaram a ser executados com a ajuda de grandes máquinas automatizadas. Assim, o aumento da mecanização e da complexidade dos equipamentos no processo produtivo das empresas começou a requerer uma maior especialização técnica nas atividades de manutenção. Ao invés de em pequenos lotes, a produção passou a ser realizada em larga escala. A manutenção começou a se tornar uma questão mais crítica, porque a falha em um equipamento da linha de produção parava todo o processo. Se, antes, a produção dependia da força braçal dos trabalhadores, agora as máquinas eram muito mais eficazes ao utilizar forças que não dependiam do homem (ex.: bombas a vapor, moinhos de vento e água). E, assim, as operações passaram a ser realizadas com maior potência e velocidade. Estas mudanças de paradigma trouxeram problemas de manutenção, os quais tinham de ser resolvidos pelos gerentes industriais da época. Começou, então, o que é conhecido hoje por manutenção corretiva. As máquinas de uma indústria eram colocadas em operação até que apresentassem alguma falha. Quando isto acontecia, a equipe de manutenção era acionada para realizar o conserto do equipamento e colocar a máquina novamente em operação. Se o equipamento fosse crítico para a produção, a fábrica ficava ociosa durante o tempo de reparo. 27 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Aqueles que se preocupavam com a ociosidade de um equipamento que quebrava simplesmente agiam para tornar a manutenção mais rápida e reduzir o tempo de máquina parada. A otimização da manutenção corretiva se resumia praticamente a isso: redução do tempo de conserto. A manutenção corretiva foi utilizada durante muito tempo, porque, na época, era o suficiente. Durante a Revolução Industrial, não havia muita preocupação com a eficiência produtiva, porque as fábricas eram superdimensionadas e a demanda era muito maior do que a oferta. Tipicamente, as indústrias vendiam toda a sua produção, havia poucos concorrentes e as exigências por qualidade não eram altas. A manutenção, por sua vez, era tratada simplesmente como “um mal necessário”, ou seja, uma obrigação que era relegada ao departamento de produção das empresas. No advento destas primeiras instalações fabris, também não havia qualquer preocupação com o item manutenção durante a elaboração do projeto do maquinário de produção. Os equipamentos eram criados tendo em vista, única e exclusivamente, as operações que iam desempenhar, sem a preocupação com questões como facilidade de manutenção, redução de riscos e confiabilidade. Entretanto, no correr da década de 40, a Segunda Guerra Mundial trouxe outra mudança de paradigma para a manutenção. Os militares começaram a perceber que o sucesso nos conflitos armados dependia bastante dos recursos de que cada parte dispunha a seu favor. Assim, o conserto de um equipamento, por mais rápido que fosse realizado, não era mais suficiente. Era preciso tornar os ativos militares menos suscetíveis a problemas, de modo a obter uma vantagem competitiva. Desta forma, os militares tornaram‑se os primeiros a praticar a manutenção preventiva. Ao invés de se esperar que o equipamento parasse de funcionar para executar a sua manutenção, passou‑se a tirá‑lo de operação (mesmo que ele estivesse 100% funcional) de tempos em tempos, para realizar inspeções e ajustes. Observou‑se, 28 Gestão da Manutenção então, que esta prática trazia benefícios em relação à manutenção corretiva: redução de custos, aumento da disponibilidade, confiabilidade e da vida útil do ativo. No pós‑guerra, a manutenção preventiva se disseminou pela Indústria e foi adotada por diversas empresas. A manutenção deixou de ser simplesmente um “mal necessário” e passou a ser vista com maior preocupação e detalhes pelos gerentes industriais. Todavia, ainda era vista como uma “questão técnica”, com pouca ou nenhuma ligação com os aspectos estratégicos do negócio. Foi também nesta época que se começou a pensar na manutenção não somente como algo que é importante quando o equipamento está em operação, mas também durante a elaboração do respectivo projeto. Os profissionais de manutenção começaram a interagir com projetistas para que o equipamento fosse menos suscetível a falhas (em outras palavras, para que tivesse maior confiabilidade) e para tornar a manutenção mais fácil, segura e econômica (ou seja, para que tivesse uma maior manutenibilidade). Esta situação perdurou até a década de 70, quando o uso dos computadores começou a se disseminar. Então, as indústrias passaram a ter automatismos mais complexos e, cada vez mais, o controle operacional dos processos produtivos passou a ser realizado por equipamentos informatizados (controlados por software rodando em microcomputadores) ao invés de, apenas, por pessoas. Se, na Revolução Industrial, os músculos dos trabalhadores foram substituídos por máquinas, no advento da era digital foi a vez – pelo menos em parte – do cérebro ser substituído por computadores. Os ativos de produção, que antes eram somente mecânicos, passaram a ser mecatrônicos, ou seja, uma composição de partes mecânicas e eletrônicas. Isso trouxe modificações profundas na forma como a manutenção deve ser realizada, principalmente porque as máquinas que incluem partes eletrônicas apresentam padrões de falha diferentes daquelas meramente mecânicas. 29 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Mas esta não foi a principal mudança que a era da informática trouxe para a manutenção. O maior reflexo para a manutenção, que veio através da popularização dos computadores, está ligado à predição de falhas em equipamentos. A evolução de tecnologias de monitoração (sensores, hardware de digitalização e software de análise de dados) trouxe uma nova dimensão para a manutenção, porque, se, no passado, os problemas eram percebidos por profissionais treinados, agora os computadores conseguem detectar e alarmar situações inadequadas com maior rapidez e precisão. Essa mudança possibilitou à Indústria evoluir para a manutenção preditiva, o que significa parar o equipamento para ajustes e reparos somente quando uma potencial falha é detectada. Em paralelo com as mudanças no aspecto tecnológico, vieram também evoluções no âmbito dos negócios. Os clientes passaram a ser mais exigentes em termos de qualidade, variedade e prazos de entrega dos produtos e serviços. Já a crescente globalização trouxe também um aumento da concorrência. Estes fatores começaram a exercer uma enorme pressão nas empresas, em termos de produtividade. As novas exigências de mercado forçaram as empresas a lidar com a manutenção de forma diferente. Possuir plantas produtivas bem mantidas e confiáveis, com a capacidade de atender e cumprir prazos de entrega cada dia mais curtos, se torna uma obrigação. A competição por preços e a consequente redução das margens de lucro tornam a produtividade nas operações de fabricação uma questão crucial. Não há mais espaço para perdas de produçãopor causa de equipamentos parados para manutenção. Então, a partir da década de 80, a manutenção deixa de ser considerada somente uma “questão técnica” e passa a ser uma das principais forças de aumento da lucratividade das empresas. Ao invés de ser relegada como uma subfunção da produção, a manutenção se torna uma questão central da organização e uma peça chave na sua estratégia de sobrevivência e crescimento. 30 Gestão da Manutenção Atualmente, em muitas empresas, a manutenção se tornou uma questão extremamente complexa, englobando habilidades técnicas e administrativas, as quais são alinhadas para tornar as organizações estáveis e lucrativas frente a um ambiente de negócios dinâmico. À medida que a manutenção é vista como um processo crucial para a empresa, torna‑se indispensável antecipar e controlar a maneira como os ativos da empresa serão mantidos. À medida que cresce, qualquer empresa contemporânea vai chegar, cedo ou tarde, ao ponto onde ignorar a manutenção não será mais uma estratégia sustentável. Nesse momento, será obrigatório ter uma boa manutenção, o que significa ter uma estratégia alinhada com os objetivos de negócio e um processo de gestão que inclua a correta alocação de recursos (pessoas, ferramentas e peças sobressalentes) para garantir a confiabilidade e disponibilidade da planta produtiva de modo economicamente viável. Agora que nós vimos como a manutenção foi se modificando ao longo dos anos, é importante ressaltar um aspecto: nem todas as empresas atingiram os níveis mais avançados de manutenção conforme discutidos nesta seção. Como um profissional de gestão da produção, você vai se deparar com empresas que, mesmo nos dias atuais, estão em estágios bem primitivos em relação à manutenção. Em síntese, a qualidade de manutenção de uma empresa depende de diversos aspectos, como, por exemplo, o setor de atuação, o porte da empresa e até a visão do empreendedor. Mas, em geral, é perceptível que ainda há muito espaço para se trabalhar com a evolução da manutenção nas empresas atualmente. Cabe a você absorver as lições aprendidas ao longo da evolução da manutenção, adaptá‑las ao contexto específico de uma empresa e aplicar os conhecimentos obtidos aqui para a melhoria do processo. Nesta seção, nós vimos como a manutenção evoluiu de um assunto meramente operacional até se tornar uma questão estratégica para as empresas. Agora nós vamos nos aprofundar neste último patamar da manutenção: Por que ela é estratégica para as empresas? Quais os ganhos que as organizações podem obter ao tratar a manutenção com eficiência e eficácia? Estas e outras questões serão discutidas na seção a seguir. 31 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 3 – O valor estratégico da manutenção para as organizações A vida do ser humano na sociedade moderna é dependente de inúmeros sistemas, alguns simples e outros mais complexos. Para notá‑lo, não há mistério: basta você parar por um instante e olhar ao seu redor, ou mesmo, relembrar do seu dia a dia. Você vai notar uma enorme quantidade de objetos usados corriqueiramente, desde coisas pequenas e simples, como lápis e papel, até sistemas maiores e mais complexos, como sistemas de telefonia e de transporte. Eles existem e nós estamos tão acostumados a eles que nem os percebemos, a não ser, é claro, que eles falhem. Aí a nossa dependência fica evidente muito rápido. A questão central é que todos estes sistemas projetados por e para os seres humanos têm em comum o fato de não serem “confiáveis”, pois se desgastam com o tempo e uso. A realidade é que qualquer objeto, cedo ou tarde, está fadado a falhar. Dependendo do sistema, uma falha pode ser catastrófica, isto é, pode levar a enormes perdas financeiras, afetar a vida dos seres humanos (sendo a morte a forma mais drástica) e resultar em graves consequências para o meio ambiente. Como exemplos de falhas severas, podemos citar quedas de aviões, vazamentos em reatores nucleares, quedas de barragens, entre outros acidentes. Todavia, também é fato que a degradação de um sistema pode ser controlada e a probabilidade de acidentes diminuída através da correta aplicação de ações de manutenção. Isso inclui a execução de inspeções e testes preventivos, monitoramento das condições do sistema e, até mesmo, levar em consideração a manutenção do equipamento durante o seu projeto. 32 Gestão da Manutenção Em 20 de abril de 2010, houve uma explosão em uma plataforma da empresa petrolífera British Petroleum, que resultou em 11 mortes e no vazamento de milhões de litros de óleo cru e diesel no oceano Atlântico. Muitos especialistas consideraram que seria impossível remediar totalmente os danos causados pelo acidente. Mesmo assim, estima‑se que a empresa irá gastar aproximadamente 12,5 bilhões de dólares para tentar minimizar os estragos no meio ambiente, isso sem contar as perdas que o acidente trouxe para a imagem da empresa. Os investigadores especularam que uma das causas do acidente foi o mau uso e manutenção de equipamentos usados para concretar os buracos por onde o petróleo é extraído. A empresa teria economizado uma enorme soma em dinheiro, se as atividades de manutenção tivessem sido realizadas corretamente. Mais importante ainda, teria evitado a perda de vidas humanas e sérios danos ao meio ambiente. Então, muito mais do que prevenir acidentes, a manutenção é benéfica também no sentido de trazer produtividade e lucratividade para as empresas. Ao investir em um ativo para uma planta industrial, os gestores estão apostando nos benefícios que o equipamento trará para o processo de produção. Em muitos casos, as boas práticas de manutenção são cruciais e podem ser a diferença entre o lucro e prejuízo de um investimento, quando se analisa o ciclo de vida completo de um equipamento. Mesmo sendo operado de maneira totalmente segura (ou seja, sem acidentes), um ativo qualquer ainda pode dar prejuízos caso não seja corretamente mantido. É de conhecimento geral o fato de que o principal objetivo de uma empresa é dar lucro. Neste sentido são utilizados recursos (pessoas, máquinas e o próprio local) para transformar matérias‑primas de baixo valor agregado em produtos mais valiosos, para venda aos clientes. A questão central que torna a manutenção estratégica para as empresas é o fato de que ela age para manter os ativos em correto funcionamento o máximo de tempo possível, durante a sua vida útil. Vejamos um exemplo para esclarecer melhor esta questão. 33 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Imagine que você tenha algumas economias guardadas e resolva investir em um carrinho de cachorro‑quente. Digamos que o carrinho completo custe R$ 5.000,00 e, em 1 mês, ele consiga fazer 200 lanches, cada um vendido a R$ 2,50. Considerando que você consiga vender todos os cachorros‑quentes que produz, levaria 10 meses para pagar o investimento realizado no carrinho (pelo bem do argumento, vamos esquecer os demais custos de operação por um momento). Agora imagine que, por problemas técnicos, você não consiga efetivamente cozinhar 200 lanches como previsto, mas somente 100. Isso poderia acontecer, porque o carrinho fica 50% parado sem funcionar, seja por estar esperando conserto, ou por não fazer o trabalho como deveria (fogo muito fraco para cozinhar as salsichas, por exemplo). A primeira conclusão é que você vai levar o dobro do tempo para recuperar o investimento, correto? Mas ainda há outras consequências. Digamos que você tenha clientes para consumir 10 lanches em um dia, mas, na prática, só consiga fabricar cinco. Isso equivale a dizer que você deixa de atender cinco pessoas, as quais provavelmente ficarão insatisfeitas e não voltarão ao seu estabelecimento. Agora imagine que a vida útil de um carrinho de cachorro‑quente seja de 5 anos. Com base na capacidade inicial prevista de 200 lanches por mês, o total de lanches que poderiam ser fabricados por um carrinho é 12.000, que, quando vendidos, seriam transformados em R$ 30.000,00 de faturamento paravocê. Agora, se o carrinho continuar a ter metade da produtividade esperada, ao final da vida útil dele você estará perdendo R$ 15.000,00 (o que, aliás, daria para comprar 3 novos carrinhos). Péssimo, não? Este exemplo é extremamente simplista, mas retrata bem o conceito que está por trás da questão estratégica da manutenção para as empresas. Note que, muitas vezes, o investimento que as empresas fazem em ativos a serem aplicados em suas plantas não é de poucos milhares de reais, mas sim de dezenas ou centenas de milhões. O mesmo vale para as saídas do processo, ou seja, para os produtos que estão sendo fabricados, os quais, muitas vezes, possuem alto valor agregado. O problema aumenta exponencialmente, à medida que o investimento no ativo e o faturamento diário (seja por preço ou por volume de produção) da empresa aumentam. 34 Gestão da Manutenção De um modo geral, a aplicação de um processo de manutenção otimizado nas empresas resulta em benefícios. Higgins e Wikoff (2008) citam os seguintes: ④Redução do custo unitário de produção: a variável mais crítica da lucratividade é o custo unitário de produção, que é o quociente entre a soma de todos os custos da fábrica e o volume de produção. A manutenção, quando bem aplicada, age tanto no aumento do numerador quanto em reduções no denominador da equação. Manter corretamente os ativos de uma fábrica inclui o uso racional dos recursos, o que traz uma redução dos custos de operação. Já executar a manutenção de forma otimizada reduz, por exemplo, o tempo de máquina parada e, consequentemente, aumenta a produtividade das operações, o que possibilita um aumento no volume de produção. ④Redução dos custos de manutenção: quanto maior a confiabilidade da planta produtiva, menores são os custos de manutenção. Isso é verdade, porque, se os equipamentos não quebram, a maior parte do trabalho pode ser realizada de maneira planejada ao invés de reativa. Isso implica maior eficiência, pois, quanto menos peças sobressalentes são utilizadas, menor é a necessidade de se trabalhar em horas extras (que são mais caras para a empresa) e menos vezes é necessário contratar serviços terceirizados de emergência. ④Melhor estabilidade do processo: é muito difícil estabelecer um processo estável, quando as máquinas vivem apresentando defeitos. Quando a confiabilidade dos equipamentos é aprimorada, o processo tende a ser tornar mais estável e previsível e, consequentemente, mais fácil de ser operado de maneira eficiente. ④Extensão da vida útil dos equipamentos: quando a manutenção de um equipamento qualquer é realizada de maneira pobre, a sua vida útil é drasticamente reduzida. Isso ocorre, porque as falhas tendem a ficar mais graves e a se propagar, quando não são resolvidas em tempo hábil. Desta maneira, ao realizar a manutenção de forma cuidadosa, as empresas evitam que os seus equipamentos 35 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina tenham de ser substituídos prematuramente. O que justifica o investimento em um determinado ativo são os ganhos que a sua operação oferece à empresa, o que só acontece, quando a sua operação é realizada sem falhas, em plena capacidade e durante o máximo de tempo possível. Assim sendo, quanto maior a vida útil do ativo, mais benéfico será para a empresa, que, ao invés de investir em sua substituição, pode alocar os seus recursos financeiros de modo mais produtivo, por exemplo, na ampliação ou modernização de suas instalações. ④Redução do estoque de peças sobressalentes: a maioria das empresas industriais necessita de um mínino de peças sobressalentes em seu estoque para garantir o funcionamento de suas instalações. À medida que os equipamentos ficam mais automatizados e tecnologicamente avançados, o investimento financeiro realizado com este propósito é rapidamente ampliado, muitas vezes se tornando um risco para a saúde financeira do negócio. Os gestores das organizações não querem investir o seu dinheiro em equipamentos parados no estoque, mas sim em ativos que sejam benéficos para a lucratividade do negócio. As boas práticas de manutenção trazem uma maior confiabilidade e estabilidade para o processo produtivo e agem como um redutor no estoque de peças sobressalentes, sem que isso implique perdas de produtividade. À medida que a as atividades de manutenção deixam de ser realizadas de forma eventual e passam a ser planejadas, as peças de reposição não precisam mais ser estocadas e podem ser compradas, exatamente, quando necessárias. Tendo em vista o que você estudou até aqui, fica evidente que o custo‑benefício dos investimentos em manutenção é atrativo e que, cada vez mais, a manutenção deixa de ser uma questão periférica nas empresas e se torna um ponto crucial de sua estratégia. Hoje isso é perceptível na maioria das empresas modernas em que a produção é parte fundamental do negócio. O crescimento desta vertente estratégica da manutenção no ambiente corporativo, assim como o aumento da complexidade das plantas industriais, trouxe um significativo avanço na maneira como os ativos são mantidos atualmente. Termos como 36 Gestão da Manutenção “confiabilidade” e “manutenibilidade” foram cunhados e se tornaram mais corriqueiros, assim como certos indicadores, por exemplo, o tempo médio entre falhas. Foram criadas técnicas de análise de falhas, como “Análise da Árvore de Falhas” (FTA, do inglês Fault Tree Analysis) e “Análise do Modo e Efeitos de Falhas” (do inglês Failure Mode And Effects Analysis) para suportar as atividades de manutenção. Foram estabelecidos filosofias e métodos detalhados de manutenção, tais como a “Manutenção Produtiva Total” (TPM, do inglês Total Productive Maintenance) e “Manutenção Centrada em Confiabilidade” (RCM, do inglês Reliability Centered Maintenance), de modo a tornar as plantas mais eficientes e eficazes na gestão de seus ativos. Estes e outros conhecimentos, abordados de forma detalhada em unidades posteriores, são de suma importância para os profissionais de Gestão da Produção Industrial, os quais enfrentarão os desafios que tornam a manutenção tão importante para as empresas. Síntese Nesta unidade foi feita uma introdução à Gestão da Manutenção. Na primeira seção, você viu que o termo manutenção, ao contrário do utilizado corriqueiramente, não significa somente consertar um determinado objeto ou equipamento, mas sim manter e conservar as suas condições ótimas de funcionamento pelo maior tempo possível. Abordamos também a história da manutenção, que, ao longo de quase um século, evoluiu de um processo meramente reativo em pequenas empresas artesanais e manufatureiras para uma questão estratégica nas instalações industriais modernas, automatizadas e informatizadas. Na segunda seção, vimos que, em um contexto geral, a manutenção passou de corretiva (consertar quando quebrar) a preventiva (ajustes periódicos), e, desta, para a preditiva (ajustar somente quando uma falha é antecipada). 37 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina E, finalmente, na terceira e última seção, tratamos de como a manutenção tem sido considerada uma questão estratégica para as empresas modernas. À medida que as empresas se tornam mais tecnologicamente avançadas (com instalações mais automatizadas e informatizadas e produtos e serviços com maior valor agregado), o investimento nos ativos necessários para a sua operação se tornam mais caros. Isso torna a gestão da manutenção essencial para a estratégia da empresa, visto que a longevidade de seus ativos está diretamente relacionada à competitividade e produtividade e, consequentemente, à lucratividade do negócio. Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce‑se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Com base no que foi exposto nesta unidade, a manutenção é a. ( ) O departamento da empresaresponsável por manter os seus processos organizados. b. ( ) O conjunto de ações necessárias para que o maquinário de uma empresa possa operar com segurança. c. ( ) A área da organização que tem a responsabilidade de consertar as falhas dos equipamentos utilizados em suas operações fabris. d. ( ) O modo como uma organização mantém os seus equipamentos disponíveis para que as operações da empresa obtenham a máxima produtividade. e. ( ) O processo pelo qual a empresa controla a produtividade de máquinas e equipamentos de sua linha de produção. 38 Gestão da Manutenção 2) À medida que a Indústria evoluiu de processos artesanais para linhas de produção automatizadas, houve grandes mudanças no modo como a manutenção é realizada nas empresas. Dentre as afirmativas a seguir, assinale aquela(s) que se enquadra(m) como característica(s) da manutenção no contexto moderno: a. ( ) A manutenção é uma preocupação exclusiva da área produtiva da empresa. b. ( ) Os equipamentos são mantidos pela mesma pessoa que os utiliza. c. ( ) Uma equipe de manutenção é competente quando conserta os equipamentos o mais rápido possível. d. ( ) Os responsáveis pela manutenção participam do projeto dos ativos utilizados no processo produtivo da empresa. e. ( ) As máquinas e ferramentas utilizadas nas atividades de fabricação são baratas e descartáveis para facilitar a manutenção. f. ( ) A manutenção é realizada de forma proativa. 3) Nesta unidade, nós vimos que as empresas possuem diferentes interessados quando o assunto é manutenção. Supondo que o ativo a ser analisado é um carro de corridas da Fórmula Um, identifique quem é (são): a) o proprietário; b) os clientes; c) a saída (produto/serviço); d) o operador; e) o prestador de serviço; f) o regulador. 39 Unidade 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade, consultando as seguintes referências: BIROLINI, Alessandro. Reliability engineering: theory and practice. 5. ed. New York: Springer Berlin Heidelberg, 2007. 588 p. HIGGINS, Lindley R.; WIKOFF, Darrin J. Maintenance engineering handbook. 7. ed. Nova York: McGraw‑Hill, 2008. 1.244 p. KARDEC, Alan; NASCIF, Julio. Manutenção: função estratégica. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009. 384 p. KOBBACY, Khairy Ahmed Helmy; MURTHY, Dodderi Narshima Prabhakar. Complex system maintenance handbook (Springer series in reliability engineering). 1. ed. Londres: Springer, 2008. 657 p. LEVITT, Joel. The handbook of maintenance management. New York: Industrial Press Inc., 1997. 40 UNIDADE 2 Conceitos e técnicas fundamentais para a gestão da manutenção Objetivos de aprendizagem ④Conhecer os principais conceitos relacionados à gestão da manutenção. ④Reconhecer a diferença entre falha e defeito. ④Compreender o que é planejamento e controle da manutenção e quais são as funções. ④Aprender a estabelecer uma árvore de falhas e analisar os resultados obtidos. ④Conhecer o método de análise do modo e efeitos de falhas e suas aplicações. Seções de estudo Seção 1 Confiabilidade, manutenibilidade e disponibilidade Seção 2 Falhas e defeitos Seção 3 Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) Seção 4 Análise da Árvore de Falhas (FTA) Seção 5 Análise do Modo e Efeitos de Falhas (FMEA) 2 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo A gestão da manutenção visa o máximo aproveitamento dos ativos de uma empresa. Você, como iminente profissional da área de Gestão da Produção Industrial, sem dúvida vai se deparar com o desafio de gerir, de forma eficiente, os ativos de uma planta industrial. Nesta unidade, serão expostos alguns conceitos e técnicas que o/a ajudarão nesta empreitada. Na primeira seção, vamos abordar conceitos que permeiam a gestão da manutenção, sejam eles: confiabilidade, manutenibilidade e disponibilidade. Você vai perceber que os conceitos que explicam essas palavras são bem simples. Por enquanto, digamos o seguinte: qualquer pessoa que já tenha feito uma compra racional deve ter avaliado estes parâmetros, mesmo que não tenha tido plena consciência disso. O sonho de qualquer gerente de manutenção é administrar uma planta industrial na qual os equipamentos estejam sempre funcionando perfeitamente. Isso é impossível, já que todos nós sabemos que, na prática, os problemas sempre existirão. Mas também é correto afirmar que nem todos os problemas são iguais. Os desvios de funcionamento que acontecem em equipamentos podem variar de pequenos – a ponto de não serem detectados –, até tão grandes que possam inviabilizar o conserto. A classificação dos problemas é foco de estudo da gestão da manutenção, sendo que a mais simples delas é a diferenciação entre falha e defeito. Veremos isso na segunda seção desta unidade. Na seção 3, nós vamos estudar o planejamento e controle da manutenção (PCM). Veremos quais elementos permeiam o PCM e quais as funções típicas desempenhadas por um departamento de manutenção, assim como quais as áreas de conhecimento requeridas para as atividades de manutenção. No final da seção, serão abordadas as principais ferramentas e técnicas utilizadas na gestão da manutenção, sendo que duas delas serão aprofundadas em seções posteriores. 42 Gestão da Manutenção Você já deve ter percebido que a detecção e avaliação de falhas em equipamentos estão intimamente ligadas à gestão da manutenção. Conhecer como e por que os problemas ocorrem é básico para assegurar a disponibilidade de um equipamento. Os dois métodos mais tradicionais da área são a Análise da Árvore de Falhas (FTA, do inglês Fault Tree Analysis) e a Análise do Modo e Efeitos de Falhas (FMEA, do inglês Failure Mode and Effects Analysis), que serão expostos nas seções 4 e 5, respectivamente. Vamos lá! Seção 1 – Confiabilidade, manutenibilidade e disponibilidade As correntes modernas da área de produção industrial consideram a confiabilidade como um dos principais resultados a serem buscados na gestão da manutenção. A evolução desta área do conhecimento está intimamente relacionada com o estudo da área chamada de “engenharia da confiabilidade” e da filosofia “manutenção baseada em confiabilidade” (RCM, da sigla inglesa Reliability Centered Maintenance). Mas o que realmente significa confiabilidade? Antes de responder a esta pergunta, vejamos um exemplo. Em 1990, como consequência da abertura da importação realizada no governo do então presidente Fernando Collor de Mello, o Brasil começou a importar automóveis da marca soviética Lada. Inicialmente, houve relativo sucesso nas vendas, principalmente porque estes carros apresentavam um baixo preço de mercado. 43 Unidade 2 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 2.1 – Anúncio do Lada Niva no Brasil Fonte: Saiu da Garagem Publicidade Automotiva, 2012. Entretanto, após alguns anos, os proprietários de veículos Lada começaram a enfrentar uma dura realidade quando ficou evidente que estes carros eram bem pouco confiáveis. A mecânica era frágil e a dificuldade de encontrar peças de reposição imensa, tornando a vida dos motoristas um inferno de panes frequentes, visitas semanais à oficina, carro parado na garagem e alto custo de propriedade. Dessa forma, a Lada virou uma grande decepção no país e o maior alvo de piadas da indústria automobilística. Alguns exemplos de piadas envolvendo a marca Lada são: – O que é que está na página 39 do manual do proprietário do Lada? Resposta: – O horário dos ônibus. – Como dobrar o valor de venda de um Lada? Resposta: – Encha o tanque. A história da marca Lada no Brasil ilustra bem o que significa um produto sem confiabilidade. Ele simplesmente não está disponível quando precisamos, devido a falhas de funcionamento. 44 Gestão da Manutenção Levando o conceito para o rigor acadêmico, a confiabilidade é definida por Karded e Nascif (2009, p. 106) como “a probabilidade de um item desempenhar uma função requerida sob condições definidas de uso durante um intervalo de tempo estabelecido.” Já Slack et al.(2002, p. 632) definem esse termo da seguinte forma: “a confiabilidade mede a habilidade de um sistema, produto ou serviço desempenhar‑se como esperado durante um certo intervalo de tempo.” Higgins e Wikoff (2008, p. 1.18), por sua vez, estabelecem que a confiabilidade é definida como a probabilidade de um item, por exemplo, um ativo de produção, continuar a fazer o que o usuário precisa que ele faça sem falhar sob condições específicas e durante um período de tempo definido. As definições acima compartilham de algumas similaridades importantes de serem consideradas. Primeiro que, tipicamente, a confiabilidade de um sistema está relacionada com uma probabilidade, ou seja, há um comportamento aleatório na operação dos sistemas e no fato de eles apresentarem falhas, ou não. Então, quando expressa quantitativamente, a confiabilidade varia de zero (nada confiável) até 100% (totalmente confiável). Em segundo lugar, podemos perceber que a confiabilidade está relacionada à operação do ativo em condições bem determinadas de uso. Isto significa que o usuário deverá obedecer a certas regras na utilização do equipamento, para que a confiabilidade seja atingida. Esta questão inclui fatores ambientais como poeira, temperatura e umidade e, também, o modo como o equipamento é operado (é errado trocar a marcha de um carro sem apertar a embreagem, por exemplo). E, finalmente, em terceiro lugar, a confiabilidade mede o desempenho de um sistema em um período de tempo bem definido. Isso é verdade, porque a confiabilidade varia com o tempo e, também, porque cada ativo possui as suas características e objetivos funcionais. Para ilustrá‑lo, reflita sobre as seguintes perguntas: 45 Unidade 2 Universidade do Sul de Santa Catarina Você avaliaria um fósforo em dias de funcionamento? Ou confiaria em um avião que é conhecido por ter o seu funcionamento garantido por algumas horas de operação? Creio que a resposta para ambas às perguntas é “não”. Isso porque a determinação da confiabilidade de um sistema está intimamente ligada ao período de tempo considerado e a como o usuário espera que seja a operação deste sistema dentro deste período. A confiabilidade é um dos parâmetros a serem maximizados quando nos preocupamos com a gestão da manutenção. Quanto mais tempo um ativo permanecer funcionando corretamente, mais ele será valioso para a organização. Então, basta que nos preocupemos com a confiabilidade de um equipamento, para evitar que falhas ocorram, e tudo estará bem, correto? Errado! Garantir somente a confiabilidade de um sistema não estabelece uma gestão otimizada da manutenção do ativo. Veremos agora o motivo. Imagine que você possui um equipamento com alta confiabilidade. Revisando a conceituação exposta acima, você vai perceber que isto significa, basicamente, ter o sistema uma probabilidade baixa de apresentar falhas em um tempo de operação definido (1 ano, por exemplo). À medida que o tempo de operação vai aumentando sem que haja intervenções no equipamento, a probabilidade de falha se torna cada vez maior. Isto é verdade, porque sabemos que todos os ativos falham algum dia, ou seja, não existe um equipamento 100% a prova de falhas. Então, mesmo que seu equipamento seja altamente confiável, algum dia vai falhar. Agora imagine que, quando isso acontece, você descobre que o equipamento é muito difícil de ser recolocado em operação, ou porque é difícil de ser desmontado e montado, ou porque as peças de reposição demoram a chegar do fornecedor, dentre vários outros motivos possíveis. No final das contas, mesmo que os ativos de uma planta fabril tenham alta confiabilidade, a produtividade pode ser baixa, se a manutenção dos equipamentos for difícil e demorada. 46 Gestão da Manutenção Então, além da confiabilidade, outro indicador muito utilizado na gestão da manutenção é a manutenibilidade (ou manutenabilidade; ou ainda mantenabilidade), que vem do termo inglês maintainability. A manutenibilidade é uma característica que mede o quão fácil ou difícil é a manutenção de um equipamento. Para Karded e Nascif (2009, p.116), a manutenibilidade é “a característica de um equipamento ou instalação permitir um maior ou menor grau de facilidade na execução dos serviços de manutenção.” É a “característica de um item, expressa pela probabilidade de que uma manutenção preventiva ou um reparo deste item será executado com sucesso dentro de um determinado intervalo de tempo.” (BIROLINI, 2007, p. 8). Assim como a confiabilidade, a manutenibilidade é avaliada, quantitativamente, na forma de uma probabilidade que varia de zero (ativo difícil e demorado de ter a sua função reestabelecida) até 100% (ativo fácil e rápido de ter a sua função reestabelecida). Em geral, a manutenibilidade de um sistema é melhorada quando o tempo gasto para restaurar a sua função primária é minimizado. E isso é alcançado basicamente pela redução de tempos relacionados ao diagnóstico (encontrar a causa do problema), reparo (efetivamente consertar o problema), testes e comissionamento (colocar o equipamento novamente em operação), entre outros. O terceiro e último conceito relacionado com a manutenção é a disponibilidade. A norma técnica NBR 5462 define a disponibilidade como a capacidade de um item estar em condições de executar uma certa função em um dado instante ou durante um intervalo de tempo determinado, levando‑se em conta os aspectos combinados de sua confiabilidade, mantenabilidade e suporte de manutenção, supondo que os recursos externos requeridos estejam assegurados. (ABNT, 1994, p. 2). A disponibilidade estabelece o percentual de tempo em que o equipamento ou o processo está apto a cumprir a sua função, o que normalmente é dado pela relação entre o tempo de operação correto (ou tempo produzindo) e o tempo total de operação do sistema (ou tempo ativo). Por exemplo: 47 Unidade 2 Universidade do Sul de Santa Catarina Se uma máquina deveria ter operado 160 horas em um mês, mas, por problemas técnicos, acabou ficando 24 horas parada para manutenção, a disponibilidade do equipamento no mês em questão será de 85% (136 dividido por 160 e multiplicado por 100). Em termos práticos, o que acontece é que a confiabilidade e a manutenibilidade levam à disponibilidade. Uma das maneiras de visualizar melhor esta relação é através de um diagrama de tempos, representado na figura a seguir. Figura 2.2 – Diagrama de tempos Tempo total Temp o inativ o Tempo ativo Tempo produzindo Tempo parado Temp o em setup e ajustes Tempo em manutenção Tempo em Manuten ção preventiv a Tempo em Manutenção corr etiva o ã ç e p s n I s e t s u j A o t n e m a n o i s s i m o C o ã ç c e t e D o c i t s ó n g a i D o r a p e R s e t s e T o t n e m a n o i s s i m o C Fonte: Elaboração do autor, 2012. O tempo total de um dado equipamento é divido entre o tempo ativo e o tempo inativo. O tempo inativo é aquele período em que o equipamento está desligado, como, por exemplo, durante a noite ou fora do horário de funcionamento da empresa. Já o tempo ativo é aquele período em que a máquina deveria estar operando e desempenhando a sua função em sua totalidade, ou seja, produzindo. Em um mundo ideal, um equipamento deveria ser útil em 100% de seu tempo ativo sem parar, o que, no diagrama da figura 2.2, tornaria o tempo ativo igual ao tempo produzindo. Mas a questão é que, em sistemas produtivos reais, isso não 48 Gestão da Manutenção acontece, porque todas as máquinas e equipamentos, cedo ou tarde, apresentam falhas que os levam a parar, quando deveriam estar funcionando. Então, o tempo ativo se divide em tempo produzindo, que é o período de tempo no qual, efetivamente, o sistema é útil para as atividades produtivas da empresa, e o tempo parado, que são aqueles períodos nos quais o ativo fica indisponível, quando deveria estar operando corretamente. O tempo parado, por sua vez, se divide em tempo em setup e ajustes (períodos usados para
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