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1 MULTILETRAMENTOS NO ENSINO DE INGLÊS: EXPERIÊNCIAS DA ESCOLA REGULAR CONTEMPORÂNEA Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 2 3 Shirlene Bemfica de Oliveira Vanderlice dos Santos Andrade Sól Organizadoras MULTILETRAMENTOS NO ENSINO DE INGLÊS: EXPERIÊNCIAS DA ESCOLA REGULAR CONTEMPORÂNEA Ouro Preto Instituto Federal de Minas Gerais 2016 Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 4 5 Copyright © 2016 dos autores Instituto Federal de Minas Gerais Reitor: Kléber Gonçalves Glória Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Ouro Preto Diretora-Geral: Maria da Glória dos Santos Laia Diretoria de Inovação, Pesquisa e Extensão Gislayne Elisana Gonçalves Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias Frederico Lamounier Ferrari Capa Luiz Carlos Santiago Lopes Diagramação Enio Barboza Revisão Valéria Rodrigues Castro Impressões/Setor Gráfico–IFMG Campus Ouro Preto Geovani José da Silva Multiletramentos no ensino de inglês : experiências da escola regular contemporânea / Shirlene Bemfica de Oliveira, Vanderlice dos Santos Andrade Sól, organizadoras. – Ouro Preto: Instituto Federal de Minas Gerais, 2016. 218 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-68198-05-6 1. Língua inglesa. 2. Inglês. 3. Ensino. 4. Comunicação oral e escrita. 5. Escola regular. 6. Ensino médio técnico tecnológico. I. Oliveira, Shirlene Bemfica. II. Sól, Vanderlice dos Santos Andrade. CDU 377=111 M961 Catalogação: Biblioteca Tarquínio J. B. de Oliveira - IFMG – Campus Ouro Preto Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 6 7 AGRADECIMENTOS Tecemos aqui nossas palavras de gratidão a tantas pessoas que foram essenciais para que esta obra se tornasse realidade. Primeiramente, agradecemos aos servidores e alunos do IFMG e aos membros da comunidade participantes das aulas e dos projetos de ensino, pesquisa e extensão relatados neste livro. Agradecemos enormemente aos autores por sua dedicação ao ensino, à pesquisa e à extensão e pelas contribuições para a construção desta obra. Às professoras Hilda Simone Henriques Coelho e Andrea Machado de Almeida Mattos pela leitura cuidadosa e pelas palavras de apoio atestando a qualidade da obra. Agradecemos ao Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Ouro Preto pelo apoio para a publicação da obra, principalmente à diretora-geral, Maria da Glória dos Santos Laia, à diretora de Inovação, Pesquisa e Extensão, Gislayne Elisana Gonçalves, e ao diretor de Relações Empresariais e Comunitárias, Frederico Lamounier Ferrari. Agradecemos aos servidores do IFMG Fabrícia Coelho de Freitas Zanetti, Geovani José da Silva, Ênio Barboza, Luiz Carlos Santiago Lopes e Valéria Rodrigues Castro, responsáveis pelo processo de editoração e publicação do livro. Por fim, agradecemos a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho! Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 8 9 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO-----------------------------------------------------------------------11 PREFÁCIO----------------------------------------------------------------------------------15 CAPÍTULO 1: O USO DE FILMES E SÉRIES NA SALA DE AULA: DA OPERAÇÃO "TAPA-BURACOS" AO DESPERTAR DO DESEJO DE FALAR INGLÊS-------------------------------------------------------------------------------------17 CAPÍTULO 2: CONVERSATION CLUB: ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DISCURSIVAS COMO FERRAMENTA PARA A REFLEXÃO E CRITICIDADE-----------------------------------------------------------------------------43 CAPÍTULO 3: APRENDER INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA: UMA QUESTÃO DE METÁFORA--------------------------------------------------------------------------------71 CAPÍTULO 4: O ENSINO DE ESCRITA DE ABSTRACTS PARA SERVIDORES DO IFMG: DESVENDANDO DIFERENÇAS----------------------------------------89 CAPÍTULO 5: O ASPECTO MOTIVACIONAL NO TRABALHO COM GÊNEROS PRODUZIDOS POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DURANTE AS AULAS DE LÍNGUA INGLESA---------------------------------------------------127 CAPÍTULO 6: LETRAMENTO CRÍTICO E O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA VIA LÍNGUA-ALVO EM ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS: UMA PROPOSTA VIÁVEL?-----------------------------------------------------------------151 CAPÍTULO 7: POR QUE ESCREVER COLABORATIVAMENTE NA AULA DE INGLÊS USANDO A TECNOLOGIA DO GOOGLE DOCS?-----------181 CAPÍTULO 8: VOZES NA SALA DE AULA DE LÍNGUA INGLESA: UMA EXPERIÊNCIA COM OS MULTILETRAMENTOS-------------------------215 Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 10 11 APRESENTAÇÃO Esta coletânea reúne trabalhos de professores-pesquisadores do ensino básico, técnico e tecnológico e tem como objetivo principal problematizar, discutir e refletir sobre diversas inquietações do dia a dia da sala de aula. Reconhecemos os avanços e contribuições das pesquisas em Linguística Aplicada ao ensino de línguas estrangeiras, no entanto percebemos que ainda há muito a ser compartilhado em termos de publicações de pesquisas nas quais os próprios professores são os protagonistas de suas histórias e trajetórias investigativas. Nessa perspectiva, os trabalhos reunidos nesta obra apontam para essa direção, vislumbrando a partilha de experiências e reflexões sobre o ensino e o aprendizado de língua inglesa na escola pública brasileira. Abrindo este volume, temos o capítulo intitulado "O uso de filmes e séries na sala de aula: da operação ‘tapa-buracos’ ao despertar do desejo de falar inglês", escrito por Vanderlice dos Santos Andrade Sól. O capítulo apresenta as contribuições de um projeto de extensão que utiliza o cinema como recurso didático-pedagógico no contexto de ensino e aprendizagem de língua inglesa. A autora apresenta estratégias para a utilização do cinema na sala de aula para a construção colaborativa do conhecimento, o desenvolvimento linguístico-comunicativo dos participantes, oportunidades para discutir valores culturais, atitudes e modos de ser/estar no mundo contemporâneo. O segundo artigo, "Conversation Club: análise das construções discursivas como ferramenta para a reflexão e criticidade", de autoria de Shirlene Bemfica de Oliveira, apresenta um projeto de extensão como uma possibilidade de promoção de multiletramentos e um espaço de interlocução no qual os participantes interagem em língua inglesa para a resolução de problemas, discussão de assuntos atuais e para compartilhar seus conhecimentos e habilidades acadêmicas, profissionais e pessoais. O projeto Conversation Club se revela como um espaço de ensino e aprendizagem de reconstrução identitária, de reposicionamento e empoderamento social. A autora apresenta os desafios e as contribuições metodológicas e sociais desse projeto. Ronaldo Corrêa Gomes Júnior, no capítulo seguinte, investiga as metáforas de estudantes de um curso técnico integrado em um Instituto Federal, no intuito de compreender as conceptualizações desses alunos-estudantes sobre o ensino e a aprendizagem de inglês na escola pública. O capítulo traz reflexões e contribuições reveladoras sobre o ensino e a aprendizagem de inglês nesse contexto. O autor Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 12 ressalta a importância de se investir em estudos que dão voz aos aprendizes para, a partir dessa escuta, pensar em novas abordagens e políticas educacionais que favoreçam o ensino e o aprendizado de línguas. No quarto capítulo, intitulado "O ensino de escrita de abstracts para servidores do IFMG: desvendando diferenças", Nara Nília Marques Nogueira e Annallena de Souza Guedes, ancoradas nos estudos sobre inglês para fins específicos, gêneros textuais e letramentos acadêmicos, apresentam o relato de uma experiência de um projeto interinstitucional de escrita de abstracts com servidores de dois institutos federais. As autoras ressaltam a necessidade de se voltar especial atenção para futuros estudos sobre o ensinode inglês para fins específicos bem como provocar reflexões sobre o ensino de escrita de abstracts em contextos educacionais. Na sequência, Gláucio Geraldo Moura Fernandes, no artigo "O aspecto motivacional no trabalho com gêneros produzidos por alunos do ensino médio durante as aulas de língua inglesa", analisa a relevância em se trabalharem determinados gêneros textuais e em se publicarem os gêneros desenvolvidos pelos alunos. O autor ancora-se nas teorias dos gêneros textuais e traz uma relevante discussão sobre aspectos motivacionais na sala de aula, apresentando a discussão sobre a prática pedagógica com gêneros textuais que fazem uso de textos reais com propósitos comunicativos específicos. No capítulo seguinte, "Letramento crítico e o ensino de língua estrangeira via língua-alvo em escolas públicas brasileiras: uma proposta viável?", Gabriela da Cunha Barbosa Saldanha traz reflexões sobre as contribuições do letramento crítico nas aulas de língua inglesa no contexto do ensino médio e técnico e mostra como a língua materna tem sido utilizada para mediar as interações entre alunos e professores no espaço da sala de aula. A autora se baseia nos estudos sobre novos letramentos, multiletramentos e letramento crítico para subsidiar suas reflexões. No capítulo intitulado "Por que escrever colaborativamente na aula de inglês usando a tecnologia do Google Docs?", Sérgio Gartner descreve e interpreta o fenômeno da escrita colaborativa em inglês desenvolvida em ambiente on-line, usando a tecnologia do Google Docs. O autor ressalta que a escrita colaborativa no meio digital pode trazer novos caminhos para a(s) teoria(s) de escrita em língua estrangeira e para o engendramento de projetos colaborativos na sala de aula. Finalizando, Gartner traz reflexões sobre as potencialidades e limitações dessa prática pedagógica para aqueles que desejam focar 13 no ensino da escrita em língua inglesa com apoio das ferramentas tecnológicas. Encerrando o volume, o capítulo "Vozes na sala de aula de língua inglesa: uma experiência com os multiletramentos", de autoria de Marden Oliveira Silva e Natália Costa Leite, ampara-se na perspectiva dos multiletramentos com o objetivo de analisar como alunos do ensino médio técnico se apropriaram criticamente de atividades didáticas de produção de gêneros textuais realizadas em aulas de língua inglesa. Os autores enfatizam a importância da construção de sentidos em colaboração e problematizam a preocupação com questões glocais, pois acreditam que a educação precisa intervir de forma a afirmar o lugar da diversidade e valorizar a identidade local de seus sujeitos. Consideramos esta coletânea uma forma frutífera de partilhar experiências bem-sucedidas que poderão contribuir para a desconstrução de discursos circulantes sobre o ensino e a aprendizagem de língua inglesa na escola pública. As discussões advindas desta obra, a partir de olhares e perspectivas diversas, revelam que os autores envolvidos nesta coletânea apostam na (re)invenção da sala de aula de língua inglesa e na possibilidade de se aprender esse idioma em quaisquer contextos. Agradecemos aos colegas que prontamente aceitaram partilhar suas reflexões e trajetórias nesta obra. Ao IFMG pelo incentivo ao crescimento profissional. Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o acontecimento deste livro. Shirlene Bemfica de Oliveira (IFMG - Campus Ouro Preto) Vanderlice dos Santos Andrade Sól (IFMG - Campus Ouro Preto/ICHS UFOP) Organizadoras Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 14 15 PREFÁCIO Ao ser convidada para escrever o prefácio do livro MULTILETRAMENTOS NO ENSINO DE INGLÊS: EXPERIÊNCIAS DA ESCOLA REGULAR CONTEMPORÂNEA, pude fazer uma retrospectiva dos "meus tempos" de escola enquanto estudante e professora, também, trazendo a alegria de verificar que estes são "novos tempos" para o ensino e a aprendizagem da língua inglesa. Tempos de perceber em sala de aula o trabalho da remessa mais recente de professores formados no período em que a Linguística Aplicada e a pesquisa ocupam espaço significativo na matriz curricular dos cursos de Letras. Tempos de ouvir recém-mestres e doutores apresentando suas releituras de pesquisas de teóricos renomados (LAKOFF; JOHNSON, 1980; VYGOTSKY, 1984; PÊCHEUX, 1988; FOUCAULT, [1969] 2009; OXFORD, 1990; SWALES, 1990; MORIN, 1990; BROWN, 2000; MARCUSCHI, 2002, entre outros) e colocando na "roda" as suas próprias investigações. Tempos de multiletramentos na escola! Inspiradas pela vivência de um trabalho colaborativo para a construção de conhecimento, Shirlene Bemfica de Oliveira e Vanderlice dos Santos Andrade Sól nos permitem acompanhá-las a adentrar as salas de aula de diferentes escolas públicas (IFMG - Campus Ouro Preto, Campus Betim; IFBA - Campus Ilhéus; CEFET-MG) para percebermos a unidade entre os pilares que compõem o tripé educacional: ensino, pesquisa e extensão. Via de mão dupla, sem dicotomias... se for de modo planejado, aprendemos enquanto ensinamos! Orientadas por uma relação professor-aluno que (re)cria identidade(s), desperta desejos e cuidados, questiona e coloca a caminho, as organizadoras reúnem pesquisas que nos cativam! Este livro é, portanto, a compilação de trabalhos positivos, experiências de ensino e de aprendizagem de sucesso. Sua leitura mostra a possibilidade de ensinar inglês fazendo uso das mais atuais e diversas metodologias, mostrando a "capacidade de subversão do professor, que, com base na sua experiência e intuição, acaba invertendo a ordem estabelecida e faz na sala de aula aquilo que rigorosamente tem condições de fazer" (LEFFA, 2012, p. 391). Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 16 Como ponto comum nos artigos apresentados, está a possibilidade de fazer pesquisa ensinando. Para você que é professor e pesquisador na escola, esta é uma oportunidade para a (re)construção de crenças que fortaleçam a certeza de que é possível falar inglês nesse contexto, realizando o desejo dos estudantes que lá estão cheios de "esperança no preenchimento de um vazio, em uma locomoção rápida, (…) em uma alimentação prazerosa, em uma aprendizagem de inglês na escola pública de qualidade" (GOMES JÚNIOR, 2016, p. 78). Boas leituras! Hilda Simone Henriques Coelho Universidade Federal de Viçosa 17 O USO DE FILMES E SÉRIES NA SALA DE AULA: DA OPERAÇÃO “TAPA-BURACOS” AO DESPETAR DO DESEJO DE FALAR INGLÊS Vanderlice dos Santos Andrade Sól1 IFMG - Campus Ouro Preto Universidade Federal de Ouro Preto Resumo O cinema é visto como uma forma de captação do mundo (CABRERA, 2006). Desse modo, vejo a necessidade de transcender o uso do cinema como veículo de entretenimento e incorporá-lo à prática educativa, no intuito de promover a interação a partir de atividades significativas, lúdicas, visando à negociação de sentidos (GARCIA-STEFANI, 2010). O presente artigo visa apresentar as contribuições de um projeto de extensão, desenvolvido em um Instituto Federal do Estado de Minas Gerais, que utiliza o cinema como recurso didático-pedagógico no contexto de ensino e aprendizagem de língua inglesa. A trajetória teórico-metodológica desse estudo está ancorada no atravessamento da teoria do cinema (CABEREA, 2006; GARCIA-STEFANI, 2010, entre outros) e discursiva (PÊCHEUX, 1988; FOUCAULT, [1969] 2009; ORLANDI, 2005, 2007 e outros). Esta é uma pesquisa de base qualitativa envolvendo 15 participantes de um projeto de extensão. O corpus foi formado por meio de questionários, gravações em áudio e notas de campo. Os resultados apontam para a importância do uso da língua inglesa em situações reais de comunicação; para a interculturalidade; negociação de sentidos; liberdade de expressão; construção conjunta do conhecimento e constituição subjetiva dos alunos; incentivo à responsabilidade e implicação no exercício de aprender a aprender uma língua estrangeira. Além disso, os resultados indicam que o uso de filmes naprática de sala de aula tem sido um forte elemento de motivação, proporcionando, além do desenvolvimento linguístico-comunicativo dos participantes, oportunidades para discutir valores culturais, atitudes e modos de ser/estar no mundo contemporâneo. Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Cinema. Língua inglesa. 1 Doutora em Estudos Linguísticos no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: vanderlicesolufop@gmail.com. Professora de Inglês do IFMG - Campus Ouro Preto na ocasião da organização desta obra. Capítulo 1 Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 18 Inicio minhas palavras a partir da citação de Federico Fellini, cineasta italiano, que ressalta a importância de se utilizar o cinema para abordar assuntos cotidianos, uma vez que a construção do conhecimento só se dá por meio das experiências significativas para o sujeito que aprende. Nessa perspectiva, o uso do cinema na sala de aula se apresenta como uma rica oportunidade de ensino e aprendizagem. Conforme demonstrado pela literatura especializada em cinema e educação, o trabalho sistemático e articulado com filmes em salas de aula ajuda a desenvolver habilidades e competências diversas, tais como leitura e produção de textos; aprimora a capacidade narrativa e descritiva; aguça a criatividade e a capacidade crítica sociocultural e político- ideológica (NAPOLITANO, 2009). Em se tratando de línguas estrangeiras (LE), nota-se que são escassos os trabalhos que investigam o uso do cinema como recurso didático-pedagógico mais sistematizado para o desenvolvimento da competência linguístico- comunicativa dos alunos e para o desenvolvimento como espectadores críticos. Pensando nas novas configurações da escola, vale ressaltar que esta deve assumir, juntamente com o professor, o papel de promover oportunidades para a construção de novos saberes e para o conhecimento e aproximação de outras culturas. Nesse sentido, pode- se pensar no cinema como um elemento facilitador dessas oportunidades, sobretudo se o professor, ao mediar a obra fílmica e os alunos, considerar a existência do potencial dos filmes para fomentar situações que dialoguem com as experiências desses sujeitos. Nesse sentido, podemos pensar, também, no uso do cinema como uma prática de letramento (MATTOS, 2015) para os alunos participantes, uma vez que envolve a (des)construção identitária constante nos modos de pensar e interagir a partir da discussão a partir da obra fílmica. E, assim, o aprendizado ocorre como resultado de uma prática socialmente construída. Nessa perspectiva, o objetivo deste artigo é compartilhar algumas experiências com o uso do cinema na sala de aula, a partir de um projeto de pesquisa e extensão2. A ideia de utilizar o cinema como recurso didático-pedagógico no contexto de ensino e aprendizagem de língua inglesa partiu da consideração de que o cinema pode atuar como propulsor da interação e de situações autênticas e significativas de comunicação na LE e fomentar o letramento. 2 Trata-se do projeto de pesquisa e extensão “Cinema e ensino-aprendizagem de língua inglesa: Movie Time”, desenvolvido no IFMG - Campus Ouro Preto sob minha coordenação. O uso do cinema no aprendizado de inglês: uma prática de letramento viável “Film is a divine way of telling about life.” Federico Fellini 19 Contextualizando o Movie Time Esta seção traz um breve histórico do projeto de pesquisa e extensão “Cinema e ensino-aprendizagem de língua inglesa: Movie Time”. Segundo Cabrera (2006), o cinema é visto como uma forma de captação do mundo. Diante disso, o uso de filmes e séries na prática de sala de aula é visto, no projeto Movie Time, como um forte elemento de motivação que tem propiciado, além do conteúdo linguístico, material para discutir valores culturais, atitudes e comportamento nas aulas de língua inglesa (ARAÚJO; VOSS, 2014). Desse modo, vemos a necessidade de transcender o uso do cinema como veículo de entretenimento e incorporá-lo à prática educativa, no intuito de promover a interação a partir de atividades significativas, lúdicas, visando à negociação de sentidos (GARCIA-STEFANI, 2010). Nesse projeto de extensão, propomos o planejamento e execução de oficinas para o desenvolvimento das habilidades orais em língua inglesa, utilizando o cinema como estratégia de ensino. Nessa perspectiva, nossa maior preocupação é associar o aprendizado da LE ao desenvolvimento de valores, responsabilidade e senso crítico dos alunos. Essa dimensão do aprender impõe a necessidade de se desenvolverem estratégias pedagógicas que visem à mediação entre o conhecimento construído socialmente e o sujeito, o qual é visto em oposição ao sujeito cartesiano (existe quando pensa), ou seja, é visto como sujeito barrado pelo inconsciente, movido pelo desejo, pela busca da completude, que tenta apagar as contradições e que é interpelado pela ideologia (SÓL, 2014). Desse modo, a subjetividade é compreendida como algo em construção e calcada no inconsciente. Frente ao que foi dito acerca da noção de sujeito, é mister lembrar que os ideais totalizantes e universalizantes não cabem mais na atualidade. Desse modo, “ser sujeito, pois, é ter de recomeçar insistentemente seu percurso singular, ter de lidar com seu desamparo em um mundo em que universalidade e totalidade não mais existem” (BIRMAN, 1999, p. 95). Mediante o exposto sobre sujeito e subjetividade, no que tange ao cinema, “identificar-se com a situação apresentada e reconhecer-se, de algum modo, nos personagens que a vivenciam é o que constitui o vínculo entre o espectador e a trama” (DUARTE, 2009, p. 59). Dessa forma, vale ressaltar a importância dos processos de identificação/projeção que envolve a relação espectador/personagem. Na perspectiva psicanalítica de Lacan ([1966] 1998, p. 98), vemo-nos pelo olhar do outro e somos constituídos por esse olhar. Dito de outra maneira, o imaginário é o lugar por excelência da identificação e das representações. Assim, o corpo vai sendo inscrito a partir do outro. Dessa forma, o sujeito se diz a partir do Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 20 olhar e da voz do outro, por meio de interferências da natureza e da cultura. Nessa perspectiva, Lacan (1995) retoma o termo “identificação” como sendo uma categoria de incorporação, do imaginário. A identificação é relevante porque é o lugar onde o sujeito é reconhecido. É importante retomar a definição de identificação discutida por Freud ([1921] 1996, p. 115-116): “a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa [...] é ambivalente desde o início; pode tornar-se expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do afastamento de alguém”. Considerando tais noções, podemos pensar o cinema como um espaço privilegiado de expressão do sujeito e produção de novos discursos sobre o que vimos. Há a instauração de um novo olhar para si e para o mundo. Sobre a experiência de usar o cinema como um recurso didático para a aquisição de línguas, vários autores apontam esse recurso como positivo (DONAGHY, 2014; URISMAN, 2014, entre outros). Esses autores afirmam que filmes podem ser usados para explorar questões culturais, mas também para contextualizar aspectos linguísticos, tais como expressões idiomáticas, vocabulário e a gramática em si. Nessa perspectiva, a motivação do aluno é um dos fatores mais importantes para determinar o sucesso na aquisição de uma língua estrangeira, conforme argumenta Donaghy (2014). E filmes e seriados, por exemplo, são bastante atrativos, pois trazem o inglês como língua em situação real de comunicação para além da sala de aula, sendo, portanto, um rico recurso para ajudar os alunos a desenvolver as quatro habilidades de maneira significativa e criativa. Trajetória Metodológica A trajetória teórico-metodológica deste projeto está ancorada no atravessamento da teoria do cinema (CABRERA, 2006; GARCIA- STEFANI, 2010, entre outros) e discursiva (PÊCHEUX, 1988;FOUCAULT, [1969] 2009, [1971] 1996; ORLANDI, 2005, 2007; AUTHIER-REVUZ, 1998; MARIANI, 2012 e outros). Esta é uma pesquisa de base qualitativa envolvendo 15 participantes da comunidade interna e externa ao campus do IFMG - Campus Ouro Preto. Os participantes são alunos dos cursos integrados e superiores do IFMG, professores do IFMG e da UFOP e também funcionários públicos da comunidade externa. O corpus foi formado por meio de questionários abertos, gravações em áudio, notas de campo e documentos do projeto. As gravações em áudio foram transcritas e analisadas juntamente com o 21 restante do corpus. O procedimento de análise utilizado foi o discursivo-interpretativista, que visa investir na compreensão dos processos de produção de sentidos e os mecanismos de funcionamento do discurso (ORLANDI, 2005, 2007). Dinâmica do Projeto O Movie Time é um projeto de pesquisa e extensão que vem sendo desenvolvido no IFMG - Campus Ouro Preto desde o ano de 2014, sob a minha coordenação e com a participação de quatro bolsistas, alunos do ensino médio e técnico, e com aproximadamente 25 alunos (pessoas da comunidade geral, comunidade escolar e/ou alunos do IFMG). As oficinas de cinema são realizadas em uma das salas do Pavilhão de Línguas Estrangeiras, equipada com aparelhos de som e data show. Os bolsistas PIBEX Jr. e PIBIC Jr. são alunos aprovados na prova de proficiência que ocorre anualmente no IFMG. Eles cumprem dez horas de trabalho como bolsistas3 as quais serão distribuídas semanalmente em seis horas para pesquisa e planejamento das oficinas (ANEXO A), três horas para leituras e uma para a condução das sessões de cinema. Os encontros ocorrem às terças-feiras, no Pavilhão de Línguas, no horário do almoço, entre 10h40 e 12h. As discussões sobre os filmes são feitas em língua inglesa, são presenciais e há também interações on-line, via redes sociais. Vale lembrar que as oficinas são planejadas com foco na oralidade em língua inglesa, mas buscando integrar as habilidades (speaking/listening/reading/writing). Para isso, vários procedimentos didático-pedagógicos são utilizados durante as oficinas, como, por exemplo: 1) Identificação de expressões usadas pelos personagens; 2) Previsão de acontecimentos seguintes aos da cena exibida; 3) Promoção de debates sobre assuntos polêmicos suscitados pelas cenas; 4) Analogia entre o ocorrido na cena e fatos da vida pessoal do aluno; 5) Organização de diálogos distribuídos em partes aleatórias; 6) Discussão sobre aspectos sociopolíticos no contexto histórico do filme em comparação com o contexto atual brasileiro; 7) Analogia entre imagens e textos; 8) Atividade com a trilha sonora do filme; 9) Elaboração de um texto sobre uma experiência pessoal, tendo o filme como motivador e 10) Elaboração e apresentação oral de uma crítica sobre o filme. Também foram criados vários mecanismos para motivar os participantes a usar o inglês. Um exemplo disso, foi a elaboração de uma atividade chamada Magic Bottle (uma garrafa pet na qual eram 3 Os bolsistas estão distribuídos em bolsas PIBEX Jr. e PIBIC Jr. devido ao fato de a pesquisa ser mista (Extensão e Pesquisa). Aproveito o espaço para agradecer aos ex-bolsistas do Movie Time (Jéssica Telles, Thaís Silva, Felipe Miranda, Helen Ferreira, Isadora Almeida) e aos atuais bolsistas (Alexia Nascimento, Paula Fernandez, Renan Moreira e Laura Ribeiro) pela dedicação e apoio constante. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 22 colocadas questões relacionadas aos filmes para fomentar as discussões e tornar a aula mais dinâmica e centrada no aluno). Em suma, a dinâmica das oficinas desenvolvidas até o presente momento se pautou nos aspectos elencados por Teixeira e Lopes (2003, p. 116): “assistir, sentir, pensar, discutir e escrever”. Esses aspectos são percebidos no projeto como “eventos de letramento”, pois, conforme ressalta Mattos (2015, p. 89), “constituem ações observáveis”. Nesse caso o projeto levou os participantes a representar o mundo, a se dizer a partir dos filmes e séries. A seguir, os procedimentos utilizados para analisar o corpus são apresentados com base nas marcas do intradiscurso (linearidade do dizer) e interdiscurso (já-dito esquecido). O despertar do desejo de falar inglês: vozes dos participantes Esta seção traz alguns gestos de interpretação que revelam os efeitos do projeto Movie Time na constituição identitária dos participantes e algumas tomadas de posição desses sujeitos rumo ao desenvolvimento linguístico-comunicativo. Foram realizadas no total 20 oficinas, sendo elas, semanalmente, às terças-feiras, com duração de uma hora e trinta minutos. As orientações aos bolsistas foram feitas semanalmente por meio presencial e virtual. Foram trabalhados os filmes The perks of being a wallflower (As vantagens de ser invisível), Law abiding citizen (Código de conduta), Faith like potatoes (O fazendeiro e Deus), Now you see me (Truque de mestre), The theory of everything (A teoria de tudo), Dead Poet Society (Sociedade dos Poetas Mortos), The notebook (Diário de uma paixão), Forrest Gump e as séries de TV norte-americanas Friends, How I met your mother e Modern family. Nesse bloco de oficinas abordaram-se temas como: timidez, bullying, preconceito, violência contra mulheres e homossexuais, relações familiares, abuso sexual, uso de drogas, amizade, amor, valores religiosos, ética, moral, etc. Vale destacar que todos os filmes foram exibidos com o áudio e a legenda em inglês. Foram feitas pela equipe do Movie Time várias postagens na rede social Facebook de atividades relacionadas a cada oficina (ANEXO B) e houve muita interação por parte dos participantes. Eles postaram, além de outros materiais, trailers de filmes escolhidos por eles e suas justificativas em inglês. Além disso, foram trabalhadas nas oficinas as diferenças entre os gêneros de filme (Movie Review e Trailer) e foram feitas avaliações escritas e orais dos participantes, tanto das habilidades orais quanto do projeto em si. 23 De janeiro a maio de 2015 ocorreram dez oficinas, durante as quais se discutiram os temas amor, fé, relacionamentos familiares, ciência, superação, entretenimento, filosofia, literatura, autoritarismo, idealismo, sexualidade, amizade e bullying, tomando-se como base os filmes, trabalhados com áudio e legenda em inglês, Faith like potatoes (O fazendeiro e Deus), Now you see me (Truque de mestre), The theory of everything (A teoria de tudo), Dead Poet Society (Sociedade dos Poetas Mortos), The notebook (Diário de uma paixão) e as séries Friends, Modern family e How I met your mother. Vale ressaltar que antes de cada oficina a coordenadora se reúne com os bolsistas, fazem o planejamento da oficina4 e elaboram as atividades. Para o trabalho com filmes, cuja duração gira em torno de 120 minutos, divide-se o filme em duas partes. Na primeira sessão é feita uma introdução rápida sobre o filme, normalmente com uma apresentação em PowerPoint, e assiste-se à primeira parte do filme, pausando em um momento estratégico dele, oportunidade rica para fomentar reflexões e discussões posteriores. Os ministrantes apresentam uma tarefa, chamada Break Reflection (ANEXO C), que normalmente pode ser de escrita e que o aluno pode postar no grupo do Facebook ao longo da semana e/ou levar para a próxima oficina para reintroduzir a segunda sessão. Às vezes são feitos jogos para instigar nos alunos reações sobre posturas dos personagens, posicionamentos, etc. Após a segunda sessão, os alunos vão embora com mais uma tarefa e, na terceira seção (Final Discussion), são feitas várias atividades com foco na oralidade (ANEXO D), nas quais os participantes debatem o filme de várias formas (em pares, grupos maiores e em círculo). Já as séries de TV e sitcoms são feitas em uma única sessão, mas com atividades semelhantes às dos filmes. Na seção a seguir serão apresentados alguns recortes discursivos (RD) e análise de alguns encontros de discussão dos filmes e séries, que evidenciam o desenvolvimento linguístico-comunicativo dos participantes e, consequentemente, da criticidade. Ao longo das oficinas podemos perceber que não somente os participantes mas também os bolsistas-monitores (chamados de TAs – Teaching Assistants) desenvolveram muito a pronúncia, ortografia e vocabulário, conforme demonstra o recorte discursivo (doravante RD) a seguir. 4 Tendo em vista o tempo estipulado para cada oficina (por volta de uma hora e meia), cada filme trabalhado é dividido em três seções (Section 1, Section 2 e Final Discussion). As seções 1 e 2 são intercaladas por atividades de debates mais curtos, já a final é uma seção dedicada somente ao debate, com atividades variadas. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 24 1. “Not ‘mendigos’, but (it’s like hippies), yeah hippies” (RD, dezembro/2014) 2. “Goodness. TA1- I think it’s ‘n’ ‘e’ ‘s’, that’s? TAV- Yes. ///P- Goodness. Goodness, double ‘Os’. Two ‘Os’ / Yes.” (RD, 20 de janeiro/2015) 3. “TAV- ‘Something’ is together. One ‘O’. It’s not separated. Something. It’s together.” (RD, 20 de janeiro/2015) 4. “A1- Maybe something about… hmm.. How can I say ‘plantar’?/ TAV- Grow. ((Grow, grow))” (RD, 20 de janeiro/2015) 5. “and It’s necessary to be very ‘habilidoso’ P- Skillful. AA- Yes, very skillful.” (RD, 03 de fevereiro/2015) Os participantes trabalharam de maneira coletiva, negociando sentidos e se engajaram bastante nas reflexões acerca dos temas que emergiram a partir do filme. As discussões giraram em torno de tópicos polêmicos, tais como religião, relacionamentos e conflitos familiares, etc., tratados nos filmes e séries, o que auxiliou no desenvolvimento de suas habilidades orais. 6. “TA1- And, still thinking about faith, have you ever lost your faith? P- In a difficult situation… TA1- In a hard situation, that you lost. Have you ever? // I think faith, we don’t lost. When you are in a hard situation maybe you… TAV- You have to find your faith…” (RD, 20 de janeiro/2015) 7. “C: I’d point points like… like family issues. Another family issues not ‘FAMILY’ but…behavior. (Yeah, but family to). (inc.) Tell anyone where he’s going. So, after that situation…During the movie I was thinking about the thing he should have done.” (RD, dezembro/ 2014) De um modo geral, as oficinas possibilitaram reflexões sobre a vida. 25 Nesses momentos, os participantes, ao se expressarem em LE, compartilharam experiências de vida, conhecimento linguístico e estranhamentos sobre a condição humana (conforme demonstra o recorte 8), pois, como afirma Marques (2012, p. 108), “a experiência é sempre um percurso do sujeito, a partir do qual se torna o que ele é”. 8. “A1: Why did you like this movie? L: Because it shows the … humans becoming animals. Just like animals. They lose the personality… L: We become blind but it shows for us another things of the life.” (RD, dezembro/2014) 9. PH: ‘Film is a divine way of telling about life’ (RD, dezembro/2014) Outro momento positivo das oficinas foi o Useful Vocabulary, em que foram abordadas diversas expressões idiomáticas e vocabulário novo, sempre relacionados aos filmes e séries trabalhadas. O recorte a seguir mostra que esse recurso foi de grande relevância para a aquisição de vocabulário/expressões. 10. T.AV- So, now some vocabulary. Control Freak. Do you guys know what is control freak? Anyone could describe what’s control freak? A2-Me. T.AV- You are a control freak? Yeah, so am I. A1- Control Freak? What is this? T.AV- A person that not /, lose control easily. In any situation. A1- Not lose?! T.AV-The person has to be in charge of anything. [inc] Coordinatior- This is a kind of disease! This is about mood. When you are freak, every time you put this word “freak” in front of a word, for example, “neat freak”: I am a neat freak person. I cannot see anything out of owner place, do you understand? A1 - Thanks A3- Not at all. Coordinator: Good for you. (RD, 03 de fevereiro/ 2015) Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 26 Os filmes trabalhados permitiram aos alunos expressar seus medos, desejos, expectativas e valores. As discussões possibilitaram aos participantes novas formas de “ser/estar entre línguas, pois aprender um novo idioma implica em (re)construção contínua da subjetividade e identidade” (CORACINI, 2007). Os recortes a seguir são exemplos das tomadas de posição dos sujeitos participantes do projeto. Nesses momentos os participantes estão apresentando uma roda de discussão sobre os trailers que eles levaram para a oficina e as suas justificativas de escolhas para os filmes em questão. Esses recortes ilustram esses modos de dizer dos sujeitos participantes no que tange à convivência com a LE. Nota-se que a discussão sobre o filme Ensaio sobre a cegueira levou os participantes a refletir sobre a condição humana, sobre quem somos para além da racionalidade. Mediante o exposto, vale considerar sobre o potencial que possui a obra fílmica para discutir questões existenciais, o reflexo dos medos do ser humano ao questionar quem é, para que existe e qual sua importância perante o universo. 11. A1: Why did you like this movie? L: Because it shows the … humans becoming animals. Just like animals. They lose the personality. L: AHH. Any other issue present besides the physical misery, we have different kinds of misery. When I read the book I was thinking about this. I’m still thinking about this book. This book makes me think a lot about life, about many things. Besides the physical (yes). Because we have different kinds of misery: ‘who we are?’, beside the physical part. (RD, dezembro/2014) No recorte 11 o aluno escolhe um filme que lhe faz meditar sobre a vida, sobre comportamento e sobre família, o que faz com que ele se coloque no lugar do personagem e se pergunte o que deveria ter sido feito. Para isso, o aluno recorreu a seus valores para refletir sobre o filme. 12. C: I’d point points like… like family issues. Another family issues not ‘FAMILY’ but…behavior. (Yeah, but family to). (inc.) Tell anyone where he’s going. So, after that situation…During the movie I was thinking about the thing he should have done. / (inc.).(RD, dezembro/2014) 27 No RD 13 a participante H, aluna do terceiro ano do ensino médio técnico, consegue expressar seus medos em relação à vida, como qual carreira seguir e suas preocupações em relação às pessoas ao seu redor. Tais sentimentos foram despertados a partir da análise do filme apresentado. 13. PH: (...) So, I like this movie because it call my attention about a lot of things, which career follow life. The woman, Halle Berry is a call operator. It’s a hard career because you have to / (help someone) help someone. And there are very hard cases like the girl. / The girl that was abducted had to make a hard call to try to help her in some way. And the responsibility that is in the movie makes me think about this. Bad people are in everywhere we go and /// is this I think. If we have another time, I chose other film. (RD, dezembro/2014) Segundo o participante PH (RD 14), ter fé é algo extremamente presente em sua vida, o que é algo pessoal e, para ele, essencial. O enunciador consegue se dizer na LE e expressar uma opinião sobre suas crenças e representações sobre o mundo e suas questões existenciais. 14. TA1- Yeah, you – you – this feeling never die. Inside of you have a little faith. Never… for me, I never lost, and probably will not. (RD, janeiro/ 2015) As discussões emergidas dos filmes possibilitaram abordar aspectos políticos, sociais, culturais, ideológicos, existenciais e linguísticos. E o mais gratificante desse projeto é presenciar o desenvolvimento dos participantes para além do aspecto linguístico. É possível notar, a partir do conjunto de RDs, os participante se posicionando discursivamente e (des)construindo suas identidades. No recorte 15, o participante relaciona o tema do filme com a atual sociedade e seus medos em relação a “encontrar alguém diferente”,pois, para ele, o filme apresentado consegue relacionar essa dificuldade com o contexto no qual ele vive. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 28 15. PJ: (…) Because nowadays we search and try to find some different person. So, this makes me think a lot. It’s a complicate thing in our society. And this is the ‘why’ I chose this film. Because it makes me think and this kind of…I forgot the name…this kind of drama with this end, this kind of film will be more /// ‘tipo’ // C: try an English Synonym PJ: More famous. More popular. Thanks! Bacause this was the best. A lot of films don’t show us the real and this was the real (yeah). (RD, dezembro/2014) No discurso a seguir, evidencia-se o uso da língua inglesa como um meio para a aprendizagem intercultural, pois a proposta apresentada visa utilizar de uma dinâmica tanto nacional quanto internacional, mas num contexto de uso da língua inglesa em situação real de comunicação. 16. L: How is the Secret Santa in English? V: In English? We describe the person in English! Everything in English, And we can play it different. We can refer the person to the personality… 'tem que ter esse trabalho'. Let's try to find. She is my Secret Santa; I have to describe her or describe (inc.) 'pra não ficar' so obvious. We can play something in English but don't worry about this a lot because we can do this in class. As a class, conversation class. Would you like to buy something chic, something representative. Something that is not related to money, something you make or (inc.). We can go to a store and buy. It's a challenge. For example, here we are playing… me and my students…we are playing who will gonna buy the most interesting thing and the (inc.). Doesn't mean useless, but useful. And this is a challenge. So, there're a lot of ways because they don't have 'Amigo oculto' in the U.S. or in England. They usually have exchanges games. They call this…in 29 Canada is very common call this Secret Santa when they play. Is not the same as we do but they play. In the company when they exchange, put something there with the name of the person. Something similar. (RD, dezembro/2014) Os participantes foram instigados a expor suas opiniões sobre temas diversos para que, por intermédio de suas representações, pudessem contribuir para a discussão sobre um tema cultural que, no caso, era sobre fé e crença. Os recortes 17 e 18 são exemplos do uso do cinema como expressão do sujeito na cultura. Expressar suas representações e crenças e (se) dizer utilizando a língua inglesa possibilitaram aos participantes encenar um lugar para si como aprendizes de uma LE que se autorizam, a partir do filme, a se expressar nessa língua. 17. A1- [Inc] to believe, right? /// For me, when I think "faith" come "God" in my mind. / "A2- Good." "A3- Pray." "A1- I don't know you, but I think, ahn, all we have do, ahn, wait, when you take [inc] , you wait something to, you believe, you wait. What do you think? P- Like Hope.A1- YES, HOPE. (RD, janeiro/2015) 18. A1: For me is the best series ever produced in the history of the tv because we don't know if it finished 10 years ago and all the subjects they discuss during the development of the TV show are still updated, so even if we're watching something from ten years ago can we still relate to the subjects discussed, especially because of the relationships between friends, girlfriends, boyfriends stuff like that. But really mature, it's a sitcom so that's [inc] and for sure the humor inside the production is really really light, is not something really heavy, you don't have to think a lot to understand the jokes, that's why I love Friends. (RD, março/2015) Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 30 Analisando conjuntamente os recortes citados anteriormente, percebe-se que o uso do cinema como recurso didático-pedagógico possibilitou aos participantes oportunidades de desenvolvimento linguístico-comunicativo e cultural que talvez não fossem possíveis sem a mediação fílmica. Com isso, pode-se afirmar que o projeto propiciou a eles oportunidades para vivenciar a LE sob a perspectiva discursiva. Nesse sentido, Brandão (2011, p. 26) salienta que: Ver a língua de um ponto de vista discursivo é, portanto, ir além dos horizontes dados pela gramática. Nos discursos produzidos pelo homem está toda a sua história, aquilo que foi dito e foi silenciado (que, entretanto, podemos recuperar pelas marcas, pistas deixadas), as relações de interação, de intercâmbio e também as relações de oposição, polêmicas e antagonismos estabelecidos. Enfim, as relações de poder, de dominação, de alianças, de silenciamentos. É de grande relevância fomentar reflexões sobre essas questões, pois a formação de cidadãos críticos passa pela compreensão de um discurso e seus silenciamentos. Finalizando os gestos de interpretação, o projeto permitiu aos alunos que construíssem discursos que relacionam o material visual apresentado com os temas sociais que lhes interessam e também aspectos linguísticos, já que o projeto possibilita ao aluno relacionar o material apresentado ao uso da língua estrangeira como ferramenta de aprendizagem. As oficinas foram avaliadas a cada encontro e os participantes sempre tiveram oportunidades para se manifestar sobre as atividades e dar sugestões de filmes, séries e documentários. Os diálogos possíveis entre o cinema e a educação mostram que quanto mais os participantes se inserem na cultura cinematográfica mais eles se sentem à vontade para se expressar na língua inglesa. Mesmo quando faltam as palavras em inglês, eles fazem uso de estratégias de compensação de vocabulário, motivados pelo desejo de expressar seu ponto de vista. Os recortes a seguir mostram o quanto o projeto motivou os participantes. Foi solicitado que relatassem sobre o impacto do projeto 31 no processo de ensino-aprendizado deles e quais foram os tópicos de que eles mais gostaram. It improved my English a lot when I had the chance to contribute/.../ ((Favorite Topics)) The honest discussions about polemic topics (faith; teen world; violence; magic; relationships; etc). Because now I have this urge to discover how different people think about all sort of subjects (R – Questionário). The Movie Time project has helped me as it teaches me while I’m having fun watching movies /series. Plus, movies are a good way to learn daily vocabulary, slangs, idioms… What we usually don’t learn in language schools. Both the movies and discussions are great, because it covers different subjects, so it’s a good way to expand my vocabulary. (C – Questionário). Movie Time helped me a lot, and I loved to be part of this group because I always learn in a cool way. The movies are well selected so we always learn something independing the kind of the movie, and it was so good to improve my vocabulary. The activities about the movies are well prepared, by this way I could practice a lot my writing and reading and also my speaking because all the discussions are dynamics so it’s a good way to interact, show my ideias about something and became a better speaker. For me the most important is the oral activities, the time we dedicate to discuss about something, because when we speak we have to think first about what we gonna say and with it we automatically think in a word and how we could pronounce it and write it Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 32 too, so speaking activities are the most important topic cause involve all abilities . (H – Questionário). Todos os recortes anteriores revelam que o projeto teve impacto positivo para o aprimoramento da língua inglesa por parte dos participantes. Os trechos em negrito como: “improved”, “teaches me while I’m having fun (...) movies are a good way to learn daily vocabulary, slangs, idioms…What we usually don’t learn in language schools”, “helped me a lot”, “movies are well selected”, “improve my vocabulary”, “well prepared”, comprovam as contribuições do projeto para os participantes. Os significantes que mais se repetem se referindo ao aprendizado do inglês são: “melhorou”, “ajudou”, “bem preparadas” (se referindo às atividades). As discussões possibilitaram a aquisição de “vocabulário, gírias, expressões idiomáticas, algo que não se aprende na escola”. No segmento “honest discussions about polemic topics (faith; teen world; violence; magic; relationships; etc). Because now I have this urge to discover how different people think about all sort of subjects(...)” , o participante R ressalta como aspectos relevantes as dinâmicas para as discussões e a variedade de tópicos trabalhados (“fé, adolescência, dilemas humanos, violência, mágica, relacionamentos, etc.”). A riqueza e a variedade dos tópicos foram ressaltadas pelos participantes na avaliação do projeto. Outro aspecto destacado pelos participantes foi quanto às habilidades mais enfatizadas e desenvolvidas durante as oficinas. H, que foi bolsista e, na ocasião da pesquisa atuava como participante, ressalta: “I could practice a lot my writting and reading and also my speaking” (...) ((I)) became a better speaker (...) important is the oral activities, the time we dedicate to discuss about something, because when we speak we have to think first (...) speaking activities are the most important topic cause involve all abilities”. Esse modo de dizer reverbera a satisfação e o desenvolvimento linguístico da participante no projeto, afirmando que as habilidades orais foram amplamente contempladas nas oficinas e a participante reitera a importância dessas habilidades, que foram fomentadas com as atividades e discussões. 33 Palavras Finais Os temas gerados pelos filmes trabalhados resultaram em discussões sobre diversos aspectos, proporcionando uma abordagem transdisciplinar do conteúdo ensinado e o desenvolvimento das habilidades orais, bem como das habilidades de leitura e produção escrita. Vale destacar, também, que os alunos participantes sempre se envolveram nas escolhas dos filmes/séries de TV trabalhados e que, justamente por isso, sempre manifestaram grande interesse na discussão dos temas/atividades elaborados. Outro apontamento é que, mesmo o foco sendo a oralidade em língua inglesa, houve a integração e o desenvolvimento das habilidades (speaking/listening/reading/writing) de maneira significativa. Esse aspecto foi apreendido por meio das produções/ participações dos alunos tanto nos momentos presenciais quanto virtuais. As oficinas demonstraram que o cinema é, realmente, uma forma de captação do mundo que pode expandir o olhar crítico do espectador sob o aspecto linguístico e, acima de tudo, aumentar as possibilidades do sujeito de (re)pensar sobre si e sobre o mundo. Nessa perspectiva foi possível refletir sobre os efeitos do cinema no sujeito em situação de aprendizagem de LE e perceber que "os sujeitos se oferecem como palco para a continuidade das reverberações que o filme produz e se implicam como espectadores e, no reverso da posição, falantes daquele fenômeno específico. O filme diz, o sujeito diz" (HOMEN, 2014, p. 60). O projeto Movie Time tem impactado no processo de ensino/ aprendizagem de línguas estrangeiras de várias formas. Primeiramente, propiciando à comunidade escolar e externa oportunidades de desenvolver um letramento crítico em LE. Além disso, esse projeto tem demonstrado grande relevância, uma vez que o cinema possibilita uma leitura crítica do mundo, o que nos tem permitido enlaçar ciência, valores e experiência. Nessa perspectiva, utilizar os filmes como ferramenta didático-pedagógica para o ensino e o aprendizado de língua inglesa tem permitido inscrever os participantes em outras discursividades, apontando vias de possibilidades para fazer brotar o desejo de se falar uma língua estrangeira de maneira dinâmica e significativa. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 34 Finalizando, o projeto Movie Time tem revelado que o uso de filmes no ensino e aprendizado da língua inglesa está além de uma ação meramente lúdica ou "tapa-buracos" na sala de aula; o aprendizado da LI se deu para além da comunicação, pois, conforme ressalta Revuz (1998, p. 217), toda tentativa para aprender uma outra língua vem perturbar, questionar, modificar aquilo que está inscrito em nós com as palavras dessa primeira língua. Muito antes de ser objeto de conhecimento, a língua é o material fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional. Se não se escamoteia essa dimensão, é claro que não se pode conceber a língua como um simples "instrumento de comunicação". Os resultados do projeto revelam que o cinema possibilita percepções em relação ao idioma que outros recursos não conseguem alcançar, pois corrobora, sobretudo, o aprendizado cultural, essencial para o aprendiz de língua estrangeira e a reinvenção como sujeito que se autoriza a falar uma LE . Outro apontamento relevante foi a intensa participação dos bolsistas durante esse período, com um desenvolvimento da competência linguístico-comunicativa deles e de todos os envolvidos. Enfim, os participantes foram carregados para dentro dos filmes e séries. E o que tem movido o Movie Time pode ser resumido em entusiasmo e dedicação tanto da equipe quanto dos participantes. 35 Referências ARAÚJO, A. R.; VOSS, R. C. R. Cinema em sala de aula: identificação e projeção no ensino/aprendizagem da língua inglesa. Conexão: Comunicação e Cultura, UCS/Caxias do Sul, v. 8, n. 15, p.119-130, jan./jun. 2009.Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revistas/ index.php/conexao/article/viewFile/117/108>. Acesso em: 05/06/ 2014. AUTHIER-REVUZ, J. Palavras incertas: as não-coincidências do dizer. Campinas: UNICAMP, 1998. BRANDÃO, H. H. N. Analisando o discurso. Disponível em: <http:// w w w . m u s e u d a l i n g u a p o r t u g u e s a . o r g . b r / colunas_interna.php?id_coluna=1>. Acesso em: 12 maio 2015. CABRERA, J. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de janeiro: Rocco, 2006. CORACINI, M. J. A celebração do outro: arquivo, memória e identidade. Campinas: Mercado de Letras, 2007. DUNKER, C. I. L.; RODRIGUES, L. A. A realidade e o real: verdade em estrutura de ficção. São Paulo: nVersos, 2014. v. 2, 133 p. (Coleção Cinema e Psicanálise). GARCIA-STEFANI, V. C. O cinema na aula de língua estrangeira: uma proposta didático-pedagógica para o ensino-aprendizagem de espanhol. 2010. 238f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP, 2010. FOUCAULT, M. (1969). A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. HOMEN, M. L. A escuta fílmica. In: DUNKER, C. I. L.; RODRIGUES, L. A. Montagem e interpretação: direção e cura. São Paulo: nVersos, 2014. v. 4, p. 41-66. (Coleção Cinema e Psicanálise) . MATTOS, A. M. A. Ensino de inglês como língua estrangeira na escola pública: letramentos, globalização e cidadania. Jundiaí: Paco Editorial, 2015. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 36 ORLANDI, E. P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. Campinas: Pontes, 2005. ORLANDI, E. P. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed. Campinas: UNICAMP, 2007. PÊCHEUX, M. (1988). O discurso: estrutura ou acontecimento? 5. ed. Tradução de Eni P. Orlandi. Campinas: Pontes Editores, 2009a. PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni P. Orlandi et al. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 2009b. REVUZ, C. A língua estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o risco do exílio. In: SIGNORINI, I. (Org.). Lingua(gem) e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras, 1998. p. 213-230. SÓL, V. S. A. Trajetóriasde professores de inglês egressos de um projeto de educação continuada: identidades em (des)construção. 2014. 259f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. SÓL, V. S. A. Educação continuada e ensino de inglês: trajetórias de professores e (des)construção identitária. Campinas, SP: Pontes Editores, 2015. 37 ANEXO A LESSON PLAN Movie: The Notebook - To celebrate Valentine's Day Topics: Love, romance and family relationships June 9th and 23rd A im s P ro c e d u re s In te ra c tio n S ta g e s T im in g M a te ria ls R e s p o n s ib le S e s s io n 1 W a rm u p D isc u s s io n G a m e 1 0 :4 5 D is c u s s L e a rn in g S tu d e n ts a re g o in g to ra ffle a " p ick u p lin e " fro m th e m a g ic b o ttle a n d re a d it. T h e y s h o u ld p re te n d th e y 're s o m e o n e e ls e tryin g to u s e th is p ic k u p lin e o n s o m e o n e e lse . S / A c tivity 1 F irs t p a rt o f A c tivity 2 B re a k R e fle ctio n W ritin g (H o m e w o rk) A c tivity 3 S e s s io n 2 H o m e w o rk co rre ctio n 11 :0 0 ' 11 :5 5 ' 11 .5 5 ' T h i n k W r i t e a b o u t a s t o r y T h i n k S tu d e n ts a re g o in g to w a tc h h a lf o f th e m o vie T h e s tu d e n ts a re g o in g to c h o o s e a s to ry th e y k n o w th a t's sim ila r to th e sto ry sh o w n in th e m o vie . T h e s to ry c h o s e n m u s t ta lk a b o u t lo v e , fa m ily T h e s tu d e n ts a re g o in g to re a d th e ir o w n h o m e w o rk a n d ta lk a b o u t it , te llin g u s w h y th e y c h o s e th a t s to ry. S tu d e n t- stu d e n t S tu d e n t - S tu d e n t - te a ch e r M a g ic B o ttle P a p e r E -m a il O r In c la s s P a u la P a u la a n d A le x ia T h a is Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 38 A im s P ro c e d u re s In te ra c ti o n S ta g e s T im in g M a te ri a ls R e s p o n s ib le S e ss io n 3 F in a l D is cu s si o n P o st A c tiv ity Ju n e 2 3 rd T h a is 's Q u e st io n s F in a l D is cu s si o n F ili p e 's W o rd se a rc h P P T a b o u t id io m s a n d lo v e d e fi n iti o n s M a g ic B o tt le 1 2 .0 0 ' F in a l H o m e w o rk W ri tin g . W h a t w o u ld b e th e c ra zi e st th in g y o u w o u ld d o f o r lo ve ? R e fe re n ce s S tu d e n ts w il l c o rr e c t O N E m is ta k e i n e a c h q u e st io n , re la te d t o t h e fir s t p a rt o f th e m o vi e . S tu d e n ts w ill a n sw e r th e w o rd se a rc h . p ic ku p -l in e s. n e t/ S tu d e n t- te a c h e r W h o le g ro u p In d iv id u a l In c la s s H W M o v ie T im e T e a m T h a is P a u la 39 ANEXO B EXEMPLOS DE ATIVIDADES Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 40 ANEXO C EXEMPLO DE BREAK REFLECTION COORDENADORIA DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS - CODALIN DIRETORIA DE INOVAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO - DIPE MOVIE TIME PROJECT Coordinator : Vanderlice Sól TAs: Alexia, Paula, Thaís and Filipe HOMEWORK Choose one of the three questions of the break reflection and write about it using arguments that you stand up for. Questions: Do you agree with Mr. Keating's methods of teaching? Why? Do you think the boys from that school are happy studying there? Why? If you were a student of Welton Academy, would you be part of the dead poets society? Why? ANEXO D EXEMPLO DE UMA DAS ATIVIDADES DA FINAL REFLECTION CODALIN – DIPE MOVIE TIME PROJECT Coordinator : Vanderlice Sól TAs: Alexia, Paula, Thaís and Filipe QUESTION GAME 01. Who will play the main character on the play "Puck"? 02. What was the gift that Todd's parents gave him? 03. Would you like to have a teacher like Mr. Keating? Why? 04. Where did the Dead Poets Society use to meet? 05. Why did everyone like Mr. Keating? 06. What's the name of the girl that Knox likes? 07. Did Neil's dad like his performance? 08. What's Charlie's codename? 09. Who pretends to call the principal? 41 10. When did the Dead Poets Society meetings happen? 11. How do the students use to call Mr. Keating? 12. What would you do if you had a father like Neil's? 13. What's the name of Chris's boyfriend? 14. What Neil wants to do for a living? 15. Would you rat out your friends as Cameron did? 16. How did Neil commit suicide? COMO JOGAR: O professor enumera outra página com 16 linhas; cada aluno preenche com seu nome à frente de um número. O professor vai passando a folha com as perguntas e cada aluno escolhe um número e faz a pergunta para o dono do número. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 42 43 CONVERSATION CLUB: ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DISCURSIVAS COMO FERRAMENTA PARA A REFLEXÃO E CRITICIDADE Shirlene Bemfica de Oliveira1 IFMG - Campus Ouro Preto Resumo As aulas de conversação em línguas estrangeiras se configuram por uma complexidade interacional, pois se trata de um ambiente institucional em que o professor e os alunos se encontram para ensinar e aprender uma língua (WEISS, 2009). Além disso, é um espaço de interações orais em que a língua-alvo é o meio de expressão de todos os participantes. O Conversation Club é uma oficina de conversação em que os alunos são os professores, as habilidades de compreensão e produção oral e escrita são desenvolvidas em aulas planejadas e ministradas por eles de forma colaborativa. Essa oficina se configura como um espaço de interlocução em que os participantes interagem na língua inglesa para a resolução de problemas, discussão de assuntos atuais e para compartilharem seus conhecimentos e habilidades acadêmicas, profissionais e pessoais. Esse é um ambiente no qual os alunos, servidores e pessoas advindas da comunidade externa podem socializar, interagir na língua inglesa de diversas formas, possibilitando tanto o desenvolvimento da interlíngua quanto o aprendizado de aspectos culturais diversos, ou seja, o espaço para a promoção de multiletramentos sociais (STREET, 1984). Além disso, o Conversation Club se revela como um espaço de ensino e aprendizagem de reconstrução identitária, de reposicionamento e empoderamento social. A língua inglesa nesse espaço é a própria “expressão das identidades de quem delas se apropria”, logo os alunos bolsistas, que são também os professores, aprendem a língua e se “redefinem como novas pessoas” (RAJAGOPALAN, 2003). A oficina é ministrada pelos alunos bolsistas, o que aumenta a proximidade deles com o meio acadêmico e profissional. O projeto tem grande impacto social, uma vez que utiliza o espaço público em benefício da sociedade, melhorando a formação geral do aluno e aumentando sua autonomia. A decisão pelas habilidades orais advém da necessidade manifesta do uso da língua inglesa em contextos globalizados, multilíngues e multiculturais. Este artigo visa apresentar os desafios e as contribuições metodológicas e sociais desse projeto de extensão desenvolvido em um Instituto Federal. Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Língua inglesa. Habilidades orais. Oficinas. Letramento crítico. 1 Doutora em Estudos Linguísticos pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais. Área de concentração: Linguística Aplicada. Linha de pesquisa: Ensino-Aprendizagem de Línguas Estrangeiras. E-mail: shirlene.o@ifmg.edu.br. Professora de Inglês do Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Ouro Preto. Capítulo 2 Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 44 Introdução O Conversation Club, ainda em desenvolvimento,foi uma solicitação dos alunos do ensino médio técnico em Automação Industrial, para terem um espaço para o uso efetivo da língua inglesa para a prática da conversação sem seguir os moldes de uma aula tradicional. O projeto nasceu a partir de uma reivindicação dos alunos no exercício de autonomia2 e, durante as discussões sobre o planejamento das oficinas, foi proposto um modelo de curso de extensão aliado à pesquisa. Em todo o processo de planejamento e desenvolvimento das oficinas, a participação do aluno bolsista é um meio de aprimoramento das habilidades linguísticas, acadêmicas e sociais com ênfase no desenvolvimento do conhecimento, baseado na experiência, na interação e colaboração que amplia e diversifica os horizontes dos participantes (OLIVEIRA, 2004). O Conversation Club tem os objetivos de ampliar o acesso à língua inglesa como língua adicional, utilizar o espaço público (sala de aula) em benefício dos alunos e da comunidade externa, contribuir para a formação geral do aluno enquanto sujeito, profissional e cidadão, desenvolver as habilidades de produção oral e incentivar e/ou desenvolver seu senso crítico por meio do uso da língua inglesa. Nesse projeto, as aulas são planejadas com base nos preceitos da Abordagem Comunicativa com a instrução baseada em tarefas. As atividades exigem compreensão, produção, manipulação ou interação na língua-alvo, enquanto a atenção está principalmente focada na função em vez da forma (NUNAN, 1989). Os trabalhos em pares e grupos são utilizados para aumentar a interação e a colaboração entre os alunos nos contextos presenciais e virtual. As tarefas são diversificadas para facilitar o gerenciamento das aulas com alunos de diferentes níveis de proficiência na língua e para a promoção de multiletramentos. Elas podem se tornar cada vez mais complexas, dependendo da proficiência dos participantes. Por exemplo, os alunos podem ser solicitados a discutir com os colegas do grupo no WhatsApp sobre os avanços da medicina com base em um hipertexto: 2 Autonomia é entendida como a capacidade que o aprendiz tem de tomar responsabilidade pela própria aprendizagem. É um processo pelo qual ele direciona o curso da própria aprendizagem, tomando decisões de acordo com seus próprios objetivos, o que não significa a ausência do professor (BENSON, 2001, p. 17). No processo de desenvolvimento da autonomia, o aprendiz aprende a gerenciar a aprendizagem, aprimora os processos cognitivos e os conteúdos da aprendizagem. Promover autonomia nos alunos é um ato político e social. Por meio da autonomia, segundo Benson (1997, p. 29-30), os alunos têm o reconhecimento de seus direitos dentro do sistema educacional e também do direito como não nativos dentro da ordem global do inglês. 45 FIGURA 1 - Medical and Scientific Progress Fonte: Interação via WhatsApp, julho de 2016. No mesmo encontro sobre os avanços da medicina, os alunos podem ser solicitados a acessar imagens, textos e vídeos para colocar seus posicionamentos em relação aos tópicos: MEDICAL AND SCIENTIFIC PROGRESS 1. Take a look at the references below, read the texts and watch the videos. Then answer the questions: a) Text: Strides in Medicine and Their Price http://www.nytimes.com/2012/10/09/science/a-century-of-progress-comes-with- complications-the-digital-doctor.html?_r=0 b) Getting better: 200 years of Medicine: https://www.youtube.com/watch?v=Qxx14RCxblg c) Boehringer Ingelheim Development of medicines: https://www.youtube.com/watch?v=bdBuWpJfZhc Questions: a) Which are the most important medical advances cited in the text? Why are they relevant? b) What is the price of these advances? c) To what extent can Medicine be improved in the future? d) How can medical advances help our society? Fonte: Aula sobre progresso médico e científico. Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 46 A oficina Conversation Club é o contexto propício para além do ensino e aprendizagem do inglês, pois os alunos são expostos a materiais autênticos e a desafios para que eles interajam naturalmente na língua (OXFORD, 1990, 2001), há desenvolvimento linguístico e o aprimoramento de habilidades interacionais, sociais e cognitivas. Dessa forma, os alunos ganham rapidamente uma imagem verdadeira da riqueza e da complexidade da língua empregada para a comunicação. Durante as aulas são ensinados e aprendidos “costumes culturais, modos de pensar, sentir e agir” (BROWN, 2000, p. 25). Além disso, como o inglês é uma língua mundial (RAJAGOPALAN, 2004), ensiná-la é um fazer político, e o desenvolvimento da consciência cultural crítica pode levar os participantes da oficina a ser sujeitos de transformação social. Sendo assim, a construção do conhecimento leva à constituição de novos sentidos sobre o “estar-no-mundo”, e novas narrativas sustentam novas formas de posicionar-se no mundo (SPINK; GIMENES, 1994, p. 167). No Conversation Club, os aspectos culturais não se restringem aos povos de língua inglesa, com suas bases sociais e políticas. A cultura é discutida por princípios e implicações relacionadas à condição do inglês como língua internacional. Referencial Teórico O aporte teórico que embasa o Conversation Club será desenvolvido em duas subseções: a primeira apresenta a abordagem de ensino e aprendizagem priorizada no projeto, e a segunda, aspectos específicos em relação ao papel das habilidades orais dentro da abordagem proposta. Habilidades integradas no ensino e aprendizagem da língua inglesa Propiciar o ensino da língua inglesa centrado no aluno, tendo o foco na comunicação mediada pela interação, é uma preocupação do projeto Conversation Club. A capacitação dos bolsistas e o planejamento das aulas consideram aspectos, tais como: as características dos alunos participantes, o contexto e as características da língua-alvo a ser aprendida. A língua-alvo, no caso, o inglês, é concebida como “um fenômeno interativo e dinâmico, que se volta para as atividades dialógicas que caracterizam a fala, que são as estratégias de produção textual em tempo real” (BOTELHO, 2012, p. 39). No projeto, a abordagem de ensinar tem ênfase na oralidade, mas se pauta pela integração das quatro habilidades principais de ouvir, ler, falar e escrever associadas ao conhecimento de vocabulário e ao 47 desenvolvimento da criticidade (OXFORD, 1990, 2001; BOTELHO, 2012). Essa abordagem promove o engajamento significativo com a aprendizagem do conteúdo, do desenvolvimento das habilidades de linguagem, cultura e tecnologia, transformando os alunos em cidadãos mais bem informados e conscientes de seu posicionamento no mundo. Além da integração das quatro habilidades principais, são desenvolvidas atividades contextualizadas, com materiais autênticos aliados ao uso de novas tecnologias, para o desenvolvimento da competência comunicativa3. A abordagem adotada justifica-se, pois há uma discussão sobre a eficácia do ensino de línguas adicionais4 ser pautada apenas pela integração das habilidades. Vernier et al. (2008) questionam se somente o ensino das habilidades é suficiente para capacitar os alunos a utilizar o sistema de linguagem apropriada em qualquer circunstância. Segundo os autores, uma vez que a competência comunicativa é o objetivo das aulas de línguas adicionais, a instrução precisa atender a todos os seus componentes: gramatical, discursiva, sociolinguística, pragmática, estratégica e até mesmo estratégias psicomotoras (BACHMAN, 1990; CELCE-MURCIA; DÖRNYEI; THURRELL, 1995). Para Brown (2000, p. 29), os objetivos comunicativos são atingidos mais facilmente se o professor consegue equilibrar sua abordagem dando atenção para o uso da linguagem com atividades que foquem tanto na fluência quanto na precisão; a língua em contextos não ensaiados para solução de problemas que os alunos poderão vivenciar no mundo real. Damen (1987, p. 12) sugere a inserção da aprendizagem da cultura em aulas de línguas adicionais como uma dimensão da linguagem a ser considerada. Segundo ele, devemosnos lembrar de que, sempre que ensinamos uma língua, estamos ensinando um sistema de costumes culturais, modos de pensar, sentir e agir (BROWN, 2000, p. 25). Além disso, no cenário atual, em que o inglês é uma língua mundial (RAJAGOPALAN, 2004), ensiná-la é também um fazer político, e o desenvolvimento da consciência cultural crítica pode levar o aluno a ser um sujeito de transformação. Quando se trata de ensinar a cultura, a abordagem do professor não pode restringir-se aos povos de língua inglesa, com suas bases sociais e políticas. A cultura deve ser ensinada por princípios e implicações relacionados à condição de 3 Competência comunicativa é o conhecimento consciente e inconsciente da língua- alvo e de outros aspectos referentes ao uso dessa língua, bem como a habilidade de utilizar esses conhecimentos em comunicação real (CANALE, 1983, p. 66). 4 Língua adicional “tendo em vista que essa língua é uma adição a outras que fazem parte do repertório dos alunos e está a serviço da interlocução entre pessoas de diversas formações socioculturais e de diversas nacionalidades sendo comum não se poder identificar nativos e estrangeiros” (SILVA, 2012, p. 29). Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 48 língua internacional. “A sala de aula precisa se transformar na arena onde tal discussão possa se realizar e a relação língua-cultura possa fluir de maneira dinâmica e significativa” (SIQUEIRA, 2005, p.16). Como enfatiza MENDES (2004), é preciso ensinar língua como cultura, de maneira ampla e crítica. O caminho que se abre nessa direção, sem que se abandone o exercício salutar de confronto entre culturas, converge exatamente para o desenvolvimento da consciência cultural crítica do professor que, ao exercê-la de forma sistemática, naturalmente, levará o seu aluno junto nessa viagem. Nesse pormenor, McKay (2003) salienta que o fato de o inglês ter se tornado uma língua transnacional, estudada por milhões de pessoas como uma língua adicional, com o objetivo de comunicar informações sobre sua própria cultura para participar ativamente dessa comunidade global, irá, necessariamente, demandar que várias práticas consagradas pela pedagogia do ensino de línguas adicionais sejam desafiadas. Menezes de Souza (2011, p. 1) menciona que “o mundo globalizado contemporâneo traz consigo a aproximação e justaposição de culturas e povos diferentes – muitas vezes em situações de conflito”. Levando em consideração os âmbitos pedagógico e cultural, o uso da tecnologia, principalmente a internet, possibilita novos meios de interação e colaboração entre os envolvidos no processo de aprendizagem de línguas adicionais, e também viabiliza o acesso à informação sobre a cultura de outros países, possibilitando o desenvolvimento dos alunos para lidar com as diferenças de uma forma mais dialógica, dependendo da proposta de ensino que o professor utilizar (SILVA-JÚNIOR, 2012, p. 1). O autor reforça que, no contexto escolar, para além do quadro-negro, gravadores de áudio, laboratórios de línguas e vídeo, a internet ganha destaque devido, entre outras razões, à velocidade, à acessibilidade e ao conforto oferecido aos seus usuários. No ensino de línguas, principalmente, observamos mudanças, pois a tecnologia é tida como uma ferramenta que possibilita o uso de materiais autênticos, oportunidades de comunicação com aprendizes de outras partes do mundo, mobilidade de utilização (escolas, cybercafés, casa, escritório), práticas de habilidades de leitura, escrita, fala e compreensão auditiva, além de proporcionar informações atualizadas a todo momento (SILVA-JÚNIOR, 2012, p. 1). 49 Paiva (2015) acrescenta que a prática de interação escrita e oral entre as pessoas se torna mais impulsionada com o desenvolvimento de recursos de comunicação instantâneos e com a possibilidade de contribuir em páginas de relacionamentos e redes sociais. O WhatsApp, Instagram, os blogs e os fotologs, os repositórios de vídeos como o YouTube, Zeus e Google Vídeos, além dos podcasts permitiram aos usuários da rede o uso efetivo da língua em situações diversificadas de comunicação e de multiletramentos (PAIVA, 2015, p. 14). Nesse sentido, o Conversation Club avança e inova por acompanhar essa evolução, pois, além de propor o desenvolvimento do conhecimento linguístico e pedagógico, também promove o aprimoramento do conhecimento tecnológico, multiletramentos sociais e digitais (STREET, 2014), uma vez que os participantes mantêm um canal de discussão no WhatsApp e no Facebook, onde outros participantes que não podem comparecer aos encontros presenciais têm a oportunidade de utilizar a língua inglesa fora do contexto escolar. O papel das habilidades orais nas teorias de aquisição de línguas A habilidade de produção oral sempre ocupou um lugar peculiar na história do ensino de línguas e, somente nas últimas décadas, ela emergiu como um ramo de pesquisa do ensino, aprendizagem e avaliação do inglês como língua adicional (BYGATE, 2001, p. 14). O autor afirma que nos anos setenta, o ensino de línguas foi influenciado pelas teorias de ensino e aprendizagem cognitivas e sociolinguísticas e, nessas perspectivas, a língua como veículo da expressão do significado passa a ser ensinada com um foco maior no uso do que na estrutura gramatical. Com o advento da Abordagem Comunicativa, segundo Bygate (2001), o ensino de línguas passou a ser desenvolvida de duas formas: primeiro com uma abordagem nocional-funcional que tentava ensinar gramática para incluir o ensino de noções interacionais (prestando atenção nos fatores de formalidade e função, tais como: fazer pedidos, pedir desculpas, convites e apresentações). Em seguida, uma abordagem mais centrada no aluno emergiu e enfatizava a importância da aprendizagem partindo da necessidade dos alunos para o desenvolvimento de sua competência comunicativa. Naquela época, segundo Brown (1994, p. 14), os linguistas estavam interessados em pesquisar a natureza da comunicação e da competência comunicativa e buscavam explicações para o processo interativo da linguagem. Houve, também, o reconhecimento de que fatores afetivos e cognitivos eram primordiais na aquisição de uma Multiletramentos no ensino de inglês: Experiências da escola regular contemporânea 50 segunda língua. O foco das abordagens de ensino passa a ser ensinar os alunos a se comunicarem espontaneamente e de forma significativa, desenvolvendo a competência comunicativa. Em outros termos, usar a língua de forma adequada, para uma determinada função e em um contexto apropriado (SAVIGNON, 1997, p. 25). Com isso, surgem técnicas de ensino de língua para o engajamento dos alunos nos usos pragmáticos, autênticos e funcionais da língua que devem ser praticadas de forma produtiva e repetida em contextos não ensaiados. O Conversation Club assume essa abordagem enquanto norte e planeja aulas que consideram as características do discurso falado, o desenvolvimento de habilidades de comunicação e as circunstâncias da produção (BYGATE, 2001). Em sala de aula, os bolsistas desenvolvem com os participantes atividades que consideram desde características da segmentação do discurso em atividades de pronúncia (os sons, as ênfases, as pausas e a entonação), a morfologia, até a organização do discurso, a sintaxe e o vocabulário, em situações de uso da linguagem formal e informal (UNDERWOOD, 1994, p. 9). Há uma preocupação em selecionar ou elaborar atividades colaborativas com ênfase tanto na precisão (accuracy) como na fluência (fluency), e a aula de conversação não é só um espaço para o debate de assuntos do cotidiano, mas um ambiente propício ao desenvolvimento da interlíngua dos aprendizes que praticam diferentes padrões do discurso ou rotinas interacionais, como mostra o exemplo a seguir: Rotinas interacionais Rotinas expositivas: narrativa, descrição, instrução, comparação Rotinas de avaliação: explicação, justificação, predição, decisão e preferências Rotinas situacionais ou interativas (de acordo com diferentes situações):
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